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    Princípios Físicos em

    Sensoriamento Remoto

    Copyright (c) 1997

    Rudiney Soares Pereira

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto  

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    SUMÁRIO

    Pág.

    LISTA DE FIGURAS.................................................................................................................................................... II

    1 INTRODUÇÃO AO SENSORIAMENTO REMOTO...........................................................................................1

    1.1 - A FERRAMENTA SR..............................................................................................................................................2

    1.1.1 - A Origem do SR Moderno..........................................................................................................................2

    1.2 - PRODUTOS E APLICAÇÕES...................................................................................................................................3

    1.3 - PRINCIPAIS PARÂMETROS DE DESEMPENHO DOS SISTEMAS SENSORES .....................................................5

    1.3.1 - Resolução Espacial.....................................................................................................................................6

    1.3.2 - Resolução Radiométrica............................................................................................................................7

    1.3.3 - Resolução Espectral e Faixa Espectral ..................................................................................................8

    1.3.4 - Reso lução Temporal (Repetitividade) .................................................................................................1 0

    2 RADIAÇÃO ÓPTICA ............................................................................................................................................12

    2.1 - FONTES DE R ADIAÇÃO ÓPTICA ........................................................................................................................12

    2.2 - O ESPECTRO ÓPTICO ..........................................................................................................................................12

    2.3 - GRANDEZAS DA R ADIAÇÃO ÓPTICA................................................................................................................15

    2.3.1 - A Energia Radiante e sua Dependência do Tempo e do Espaço .....................................................16

    2.3.2 - Grandezas da Radiação Relacionadas à Área e a Lei do Cosseno de Lambert ...........................2 1

    2.3.3 - Grandezas Radiométricas Relacionadas à Natureza do Material.................................................. 26

    2.3.4 - Grandezas Radiométricas Espectrais...................................................................................................28

    2.3.5 - Grandezas Radiométricas, Fotométricas e Quânticas ......................................................................28

    2.4 - CARACTERÍSTICAS DE FONTES DE R ADIAÇÃO ÓPTICA ...............................................................................29

    2.4.1 - Leis da Radiação de Corpo Negro........................................................................................................ 30

    2.4.2 - Emissores Espectralmente Seletivos ..................................................................................................... 37

    2.4.3 - Fon tes de Radiação Coerente ................................................................................................................38

    3 INTERAÇÕES DA REM COM A SUPERFÍCIE................................................................................................ 39

    3.1 - R EFLECTÂNCIA ESPECTRAL DA VEGETAÇÃO, SOLO E ÁGUA.....................................................................41

    3.2 - PADRÕES DE R ESPOSTA ESPECTRAL................................................................................................................46

    3.3 - I NFLUÊNCIA DA ATMOSFERA NOS PADRÕES DE R ESPOSTA ESPECTRAL ..................................................48

    4 INTERAÇÕES DA REM COM A ATMOSFERA..............................................................................................50

    4.1 - ESPALHAMENTO..................................................................................................................................................50

    4.2 - ABSORÇÃO ............................................................................................................................................................52

    5 AQUISIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE DADOS..............................................................................................54

    5.1 - DADOS DE R EFERÊNCIA.....................................................................................................................................58

    5.2 - O SISTEMA IDEAL DE SENSORIAMENTO R EMOTO .......................................................................................60

    5.3 - CARACTERÍSTICAS DE SISTEMAS R EAIS DE SENSORIAMENTO R EMOTO..................................................62

    5.4 - A CORRETA UTILIZAÇÃO DO SENSORIAMENTO R EMOTO.........................................................................64

    BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA .......................................................................................................................68

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto  

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    LISTA DE FIGURAS

    Pág.

    1.1 - Efeito da resolução espacial .................................................................................................................... 6

    1.2 - Imagens reproduzidas em diferentes resoluções radiométricas ......................................................... 71.3 - Fotografias aéreas oblíquas de baixa altitude, obtidas simultaneamente, ilustrando a diferença

    de comportamento espectral entre a grama natural, nos arredores do estádio, e a grama artificial, no

    interior do mesmo, em função da resolução espectral do filme utilizado .................................................... 9

    1.4 - Relação entre a natureza tático-estratégica dos alvos militares e as resoluções espacia l e

    temporal dos sistemas de SR............................................................................................................................. 11

    2.1 - Gráfico de propagação da luz, segundo a Teoria Ondulatória ............................................................. 14

    2.2 - O Espectro Eletromagnético...................................................................................................................... 14

    2.3 - Grandezas radiométricas ........................................................................................................................... 21

    2.4 - Lei do cosseno de Lambert para uma superfície difusa...................................................................... 232.5 - Fluxo radiante em um hemi sfério............................................................................................................. 24

    2.6 - Interação entre energia radiante e matéria ............................................................................................. 26

    2.7 - Tipos de fontes de radiação óptica ........................................................................................................ 29

    2.8 - Distribuição espectral da energia irradiada de corpos negros de várias temperaturas .................. 33

    3.1 - Interação entre a REM e feições na superfície terrestre ....................................................................... 38

    3.2 - Reflectância especular versus reflectância difusa................................................................................. 40

    3.3 - Curvas típicas de reflectância espectral para vegetação, solo e água ............................................... 42

    3.4 - Efeito atmosférico sobre medições da REM solar refletida .................................................................. 48

    4.1 - Características espectrais de (a) fontes de energia e (b) efeitos atmosféricos ................................. 525.1 - Características de uma imagem digi tal..................................................................................................... 55

    5.2 - Processo de conversão analógico-digital (A/D) .................................................................................... 57

    5.3 - Componentes de um sistema ideal de SR................................................................................................ 61

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    1 INTRODUÇÃO AO SENSORIAMENTO REMOTO

    “Sensoriamento Remoto é a ciência e a arte de obter informação acerca de um

    objeto, área ou fenômeno, através da análise de dados adquiridos por um dispositivo que não

    está em contato com o objeto, área ou fenômeno sob investigação”.

    Essa definição, apresentada por Lillesand e Kiefer (1994), basta para que o leitor

    tome consciência de que, no simples ato de ler este texto, ele está utilizando o Sensoriamento

    Remoto (SR). Nesse caso, os olhos atuam como sistemas sensores capazes de responder à

    luz refletida por esta página.

    Os “dados” adquiridos pelos olhos são, na verdade, impulsos correspondentes à

    quantidade de luz refletida das partes claras e escuras contidas no texto. Esses dados são

    analisados pelo cérebro do leitor, tornando-o capaz de entender as áreas escuras como uma

    coleção de letras que formam palavras que, por sua vez, formam frases. Ao final do processo,

    a leitura dessas frases possibilitará a interpretação da informação nelas contida.

    De certa forma, o SR pode ser entendido como um processo de leitura. Por meio de

    vários sensores, dados são coletados remotamente, para que sejam analisados no intuito de

    gerar informação acerca de objetos, áreas, ou fenômenos sob investigação.

    Esses dados coletados remotamente podem apresentar-se de muitas formas. Podem

    ser variações na distribuição de forças, distribuição de ondas acústicas, ou distribuição de

    ondas eletromagnéticas - percebida, em parte, pelo olho humano - por exemplo.

    Esta apostila discorre sobre sistemas sensores de energia eletromagnética empregados

    em plataformas aerotransportadas e orbitais e a interação desses com a superfície terrestre.

    Trata-se de sistemas que são adequados ao levantamento de dados que permitam a geração

    de informações acerca de alvos dispostos na superfície terrestre.

    Assim sendo, o SR eletromagnético também pode ser entendido como o conjunto de

    atividades que têm por objetivo determinar propriedades de alvos pela detecção, registro e

    análise da radiação eletromagnétca por eles refletida e/ou emitida.

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    Ainda que o registro da radiação possa ser feito de várias maneiras, esta apostila irá

    discorrer sobre sistemas, cujos dados registrados são apresentados sob forma de imagens.

    Em termos militares, o SR constitui um conjunto de atividades de apoio às atividades

    de Inteligência, particularmente a Inteligência de Imagens.

    1.1 - A FERRAMENTA SR

    Para que se possa fazer bom uso dos sistemas sensores, o planejador militar deve ser

    capaz de responder às seguintes perguntas:

    a) De que sistemas sensores disponho?

     b) Em que circunstâncias posso utilizá-los?

    c) Que informações eles são capazes de gerar?

    Os conhecimentos essenciais para responder a essas três perguntas são apresentados

    nos tópicos subseqüentes.

    1.1.1 - A Origem do SR Moderno

    O SR moderno é o “descendente” natural da fotografia convencional, tendo surgido

    com a evolução das técnicas que permitem detectar e registrar outras formas de radiação

    eletromagnética além da luz visível.

    O SR teve seu crescimento lado a lado com a ciência da computação, a partir do final

    dos anos 50. Isso se deveu a uma grande necessidade do programa espacial norte-americano

    nesse sentido. O desenvolvimento conjunto dessas tecnologias fez com que o SR viesse a

    englobar não apenas diferentes tipos de imagens e sensores, mas também, devido ao emprego

    de técnicas de processamento de imagens digitais, propiciar a geração de uma gama de produtos bem mais variada que a oferecida até então pelas técnicas e sensores fotográficos

    tradicionais.

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    1.2 - PRODUTOS E APLICAÇÕES  

    Existem várias formas de se caracterizar sistemas de SR. Podem ser discriminados

    quanto ao nível de aquisição (terrestre, aéreo e orbital), ou quanto ao processo de detecção

    (fotográfica ou eletrônica), por exemplo. A mais usual delas é dividindo-os em função dodomínio espectral (vide 1.3.3), ou seja, a porção do Espectro Eletromagnético por eles

    explorada (visível, infravermelho próximo, infravermelho médio, infravermelho distante ou

    termal, e microondas). Alguns sistemas, por operarem em mais de uma faixa espectral,

    recebem a denominação multiespectral , ou hiperespectral , em função do número de canais

    adotados.

    Qualquer que seja a caracterização dada, é possível verificar que todos os sistemas

    de SR podem apoiar, de alguma forma, as atividades de inteligência, sejam quais forem suas

    aplicações primárias. A Tabela 1.1 apresenta, sinteticamente, os principais sistemas e

     produtos de SR.

    TABELA 1.1 - PRINCIPAIS SISTEMAS E PRODUTOS DE SR

    SISTEMAS PRODUTOS/APLICAÇÕES

    Sistemas fotográficos Inteligência, Cartografia, restituição altimétrica,

    modelos para simulação de vôo

    Sistemas multiespectrais e hiperespectrais Inteligência, Cartografia (carta-imagem), restituição

    altimétrica (SPOT), modelos para simulação de vôo,

    estudos de comportamento espectral de alvos

    Imageadores infravermelho de visada frontal (FLIR) Imageamento noturno para f ins diversos

    (navegação, Busca e Salvamento, Esclarecimento

    Marítimo, designação de alvos)

    Imageadores termais de varredura de linha (IRLS) Inteligência, reconhecimento tático noturno

    Radares imageadores de visada lateral Inteligência, reconhecimento a qualquer hora e sob

    quaisquer condições meteorológicas, Cartografia,

    restituição altimétrica (Interferometria)

    A Tabela 1.2 ilustra as circunstâncias de utilização dos sistemas de SR, em função da

    faixa espectral na qual estiverem operando. Quando um sistema de SR utiliza radiação

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    refletida (visível e infravermelho próximo/médio), ele depende da iluminação solar e da

    transparência atmosférica, pois os comprimentos de onda envolvidos são relativamente

     pequenos (vide 4.1 - Espalhamento Atmosférico).

    Caso a radiação empregada pelo sistema se situe no infravermelho termal, tal sistemaindepende de iluminação solar (vide “espectro emitido” em 2.1 - Fontes de Energia e

    Princípios da Radiação). Entretanto, esse sistema ainda depende de transparência

    atmosférica, pelas mesmas razões mencionadas para sistemas que operam no espectro

    refletido.

    Finalmente, quando se trata de radares imageadores, há independência tanto da

    iluminação solar (são sistemas ativos, que emitem sua própria radiação), quanto da

    transparência atmosférica (as microondas possuem comprimento de onda relativamente

    longos, se comparados às partículas em suspensão na atmosfera terrestre).

    As considerações anteriores estabelecem algumas características que podem

    determinar a possibilidade, ou não, de utilização dos vários sistemas de SR. No entanto,

    existem outras características pertinentes a cada sistema, aqui não mencionadas, que os

    tornam mais ou menos adequados para determinado tipo de utilização, tornando a natureza

    dos dados de SR essencialmente complementar. Em outras palavras, sempre que praticável, é

    desejável a disponibilidade de dados dos vários sistemas existentes e, logicamente,

    disponíveis.

    Essa complementaridade entre os diversos sistemas de SR permite a extração de uma

    quantidade superior de informações para uma mesma cena, na medida em que cada faixa do

    Espectro Eletromagnético possui peculiaridades na forma de interagir com a matéria.

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    TABELA 1.2 - PERFIL DE OPERAÇÃO DOS SISTEMAS SENSORES EM FUNÇÃO

    DA FAIXA ESPECTRAL

    QUALQUER LUGAR

    (alcance físico)

    QUALQUER HORA

    (diurno-noturno)

    QUALQUER TEMPO

    (Meteorologia)

    VISÍVEL & IV

    REFLETIDO

    SIM  NÃO NÃO

    INFRAVERMELHO

    TERMAL

    SIM SIM  NÃO

    RADAR

    IMAGEADOR

    SIM SIM SIM

    1.3 - PRINCIPAIS PARÂMETROS DE DESEMPENHO DOS SISTEMAS SENSORES 

    Para fazer uso de um sistema de SR, o planejador deve estar apto a considerar os

    fatores que contribuem para a definição do sistema ideal para cada tipo de aplicação. Da

    mesma forma que, em função de uma série de parâmetros, um “Jeep” é um veículo mais

    adequado à prática do chamado “off-road” do que uma limusine, e uma aeronave do tipo C-5

    (“Galaxy”) é ideal para o transporte de grandes cargas, ao contrário de um F-5E (“Tiger II”),

     por exemplo, os sistemas de SR têm sua maior ou menor aplicabilidade em determinadas

    situações em função de alguns parâmetros do sensor, que serão abordados a seguir.

    Quando se fala em resolução, qualquer que seja, é preciso ter em mente que, nesse

    caso, os termos melhor resolução e  pior resolução são conceitos relativos e, portanto, não

    estão ligados a valores absolutos. Em outras palavras, se um sistema apresenta uma resolução

    espacial de 30 m., enquanto um outro possui 20 m., significa dizer que este último possui uma

    melhor resolução espacial do que aquele de 30 m.

    Caso haja interesse em adotar os termos maior  ou menor , deve-se ter o cuidado deacrescentar o conceito de  poder de resolução, a fim de se evitar uma inversão nos

     parâmetros considerados. Assim sendo, o sistema que possui 20 m. de resolução espacial, no

    exemplo acima citado, detém um maior poder de resolução espacial do que o de 30 m., e não

    uma resolução espacial maior.

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    1.3.1 - Resolução Espacial

    É definida como o menor elemento de área que um sistema sensor é capaz de

    distinguir. Ela determina se o alvo pode ser identificado na imagem, em função de seu

    tamanho.

    A Figura 1.1 ilustra uma mesma cena imageada com três resoluções espaciais

    diferentes. No caso, um “pixel” (“picture element” - menor elemento da imagem) é disposto

    de maneira exagerada para exemplificar os diferentes graus de abragência, em função da

    resolução espacial considerada.

     Na representação da direita, de resolução espacial mais pobre (pior), um pixel integra

    a informação disponível em dois tipos de cultura dispostas perpendicularmente uma à outra,

    além da influência do fundo (solo). Na representação central, de resolução espacial

    intermediária, um pixel integra a informação disponível em um tipo de cultura e no fundo à sua

    volta (solo). Finalmente, na representação da esquerda, de melhor resolução espacial, um

     pixel integra somente a informação disponível num tipo de cultura.

    Fig. 1.1 - Efeito da resolução espacial.

    Em outras palavras, no caso do imageamento de uma aeronave de transporte C-130

    Hércules (aproximadamente 40 m. de envergadura por 30 m. de comprimento) estacionadanum pátio, por exemplo, seria necessária, para uma identificação precisa, uma resolução

    espacial da ordem de centímetros. À medida que tal resolução for sendo degradada, o

    intérprete terá seu leque de informações reduzido progressivamente. Assim, com uma

    resolução de 2m., é possível determinar que se trata de uma aeronave quadrimotor de

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    transporte. Entretanto, no caso de uma resolução de 30 m., o C-130 estará praticamente

    contido num ponto, ou seja, num único pixel.

    1.3.2 - Resolução Radiométrica

    É definida como a menor diferença de brilho que um sistema sensor é capaz de

     perceber. Ela determina se o alvo pode ser visto na imagem, em função de seu contraste com

    os alvos vizinhos.

    A resolução radiométrica é dada pelo número de níveis digitais, representando níveis

    de cinza, usados para expressar os dados coletados pelo sensor. Quanto maior o número de

    níveis, maior é a resolução radiométrica.

     Na Figura 1.2, por exemplo, uma mesma cena é apresentada em 256 níveis de cinza

    (a) e em quatro níveis de cinza (b), variando do preto ao branco. A quantidade de detalhes

     perceptíveis na primeira é claramente maior que na segunda. Portanto a cena “a” possui

    melhor resolução radiométrica que a cena “b”.

    Fig. 1.2 - Imagens reproduzidas em diferentes resoluções radiométricas:(a) - 8 bits (28 = 256 níveis); e (b) - 2 bits (22 = 4 níveis).

    (a) (b)

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    O número de níveis é comumente expresso em função do número de dígitos binários

    (“bits”) necessários para armazenar em formato digital o valor do nível máximo. O valor em

     bits é sempre uma potência do número 2, o que faz com que “6 bits”, por exemplo,

    corresponda a 26 = 64 níveis.

    Os sistemas sensores mais comuns, como as séries Landsat e SPOT, possuem

    resolução radiométrica de 8 bits, o que significa 256 níveis de cinza. Já o olho humano, que é

     bastante sensível a variações espectrais (vide 1.3.3), não apresenta grande sensibilidade a

    variações de níveis de cinza (cerca de 30 níveis apenas). Por outro lado, o computador

    consegue diferenciar qualquer quantidade de níveis, o que torna mais desejável o emprego de

    imagens de melhor resolução radiométrica, nas aplicações de SR assistidas por computador.

    1.3.3 - Resolução Espectral e Faixa Espectral

    A resolução espectral é definida como a menor porção do Espectro Eletromagnético

    que um sistema sensor é capaz de segmentar. Ela determina se o alvo pode ser visto na

    imagem, em função de seu comportamento espectral.

    Trata-se de um conceito inerente às imagens multiespectrais de SR. Quanto mais

    estreitas, espectralmente falando, as bandas  (canais) de um dado sistema, maior é a

    capacidade desse sistema de discriminar variações no comportamento espectral do alvo a serestudado.

     Na Figura 1.3a, por exemplo, uma cena foi fotografada com filme pancromático (de

    0,4 µm. a 0,9 µm.), no qual, tanto a grama natural (fora do estádio), quanto a artificial (no

    interior do estádio), apresentam tonalidades fotográficas similares. A Figura 1.3b, no entanto,

    mostra a mesma cena fotografada com filme infravermelho preto e branco, atuando entre

    0,7 µm. e 0,9 µm. Nesse caso, a grama natural possui uma tonalidade fotográfica bastante

    clara (alta reflectância no infravermelho próximo), ao contrário da grama artificial, que possui

    tonalidade bastante escura (baixa reflectância no infravermelho próximo).

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    Fig. 1.3 - Fotografias aéreas oblíquas de baixa altitude, obtidassimultaneamente, ilustrando a diferença de comportamentoespectral entre a grama natural, nos arredores do estádio, e agrama artificial, no interior do mesmo, em função da resoluçãoespectral do filme utilizado. Em (a), uma foto pancromática

    (0,4 a 0,9 µm.); e em (b), uma foto infravermelho (0,7 a 0,9µm.), de melhor resolução espectral.

    FONTE: Lillesand e Kiefer, p. 91 (1994).

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    A faixa espectral, por sua vez, é definida como a região do Espectro Eletromagnético

    na qual um sistema sensor opera. Ela determina o domínio do sistema sensor utilizado, em

    função da característica da radiação por ele empregada.

    Via de regra, o Espectro Eletromagnético é dividido, para efeito de SensoriamentoRemoto, em 5 faixas espectrais, assim distribuídas do menor para o maior comprimento de

    onda: visível, infravermelho próximo, infravermelho médio, infravermelho distante (termal), e

    microondas.

    1.3.4 - Resolução Temporal (Repetitividade)

    A resolução temporal é definida como a freqüência com a qual um sistema sensor é

    capaz de imagear um mesmo alvo. Ela determina o período mínimo a ser aguardado para um

    novo imageamento de determinado alvo.

    Trata-se de um parâmetro somente aplicável aos satélites de SR, uma vez que estes

     possuem órbitas de períodos regulares como característica imposta pela Mecânica Orbital, ao

    contrário das aeronaves, por exemplo.

    Dois parâmetros relacionados à plataforma - o nível de emprego (orbital, aéreo e de

    superfície) e a capacidade de uso (posse e grau de imunidade à interceptação) - afetam a

    resolução temporal.

    O nível de emprego determina, de maneira geral, o alcance do sistema e sua

    manobrabilidade. A capacidade de uso determina a disponibilidade do mesmo para emprego

    durante um conflito armado.

    As informações apresentadas até aqui são de grande importância para o planejador

    militar não-especializado em SR, sendo adequado, portanto, tecer alguns comentários

    adicionais a respeito.

    Apesar de não constituir regra, em geral os alvos de valor estratégicos (usinas de

    energia, instalações portuárias, siderúrgicas, indústrias, entre outros) possuem dimensões

    maiores que os alvos de valor tático (uma aeronave pousada, ou uma coluna de blindados,

     por exemplo). Um sistema com elevado poder de resolução espacial pode “enxergar” ambos

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    os tipos de alvos, enquanto um sistema com resolução espacial relativamente limitada permite

    a identificação apenas dos alvos de grandes dimensões.

    Assim sendo, pode-se dizer que todos os sistemas imageadores podem ser usados

     para o reconhecimento estratégico, mas apenas os que possuem poder de resolução espacialelevado se prestam ao reconhecimento tático.

    Usando uma abordagem semelhante, em geral se pode dizer que os alvos de valor

    estratégico são imóveis e sujeitos a poucas alterações no decorrer do tempo (refinarias de

     petróleo, fábricas de armamentos, aeródromos), enquanto os alvos de valor táticos podem ser

    movidos (tropas, embarcações, aeronaves), ou modificados (defesas de um aeródromo,

     pontes móveis) com relativa rapidez.

    Dessa forma, qualquer que seja a resolução temporal do sistema, ele se prestará para

    o reconhecimento estratégico, mas somente os sistemas de alta resolução temporal poderão

    ser considerados para o reconhecimento tático. Os princípios abordados acima são

    sintetizados e esquematizados na Figura 1.4.

    E M P R E G O T Á T I C O

    E M P R E G O E S T R A T É G I C O

    b a i x a r e p e t i t i v i d a d e r e s o l u ç ã o e s p a c i a l

    p o b r e

    a l t ar e p e t i t i v i d a d e

    b o a r e s o l u ç ã oe s p a c i a l

     

    Fig. 1.4 - Relação entre a natureza tático-estratégica dos alvos militares eas resoluções espacial e temporal dos sistemas de SR.

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    2 RADIAÇÃO ÓPTICA

    2.1 - FONTES DE R ADIAÇÃO ÓPTICA  

    A radiação óptica proveniente de um objeto tem duas origens possíveis. Uma, a

    emissão, é a atividade interna dos átomos que constituem o objeto. Energias correspondentes

    aos comprimentos de onda do espectro óptico envolvem tipicamente transições de elétrons no

    átomo.

    À medida que esses elétrons mudam seus níveis de energia, eles absorvem e/ou

    emitem energia na forma de radiação eletromagnética. Os elétrons podem ser estimulados a

    fazer transições por meio de energia interna, reações químicas, ou fontes externas de energia,

    como campos eletromagnéticos, por exemplo. A intensidade e os comprimentos de onda da

    radiação emitida dependem da natureza da estimulação.

    A segunda fonte de radiação a partir de um objeto é a reflexão ou a transmissão de

    fontes radiantes no ambiente em que se encontra o objeto. A reflexão pode ocorrer em

    função de um simples espalhamento, ou pode envolver a absorção seguida de reemissão de

    comprimentos de ondas selecionados. Um comprimento de onda transmitido é aquele que

     passa através do objeto.

    2.2 - O ESPECTRO ÓPTICO 

    A luz visível é apenas umas das muitas formas de radiação eletromagnética (REM).

    Outras formas familiares são as ondas de rádio, raios-ultravioleta, raios-X e o calor. Todos

    esses tipos de REM são similares e são irradiadas segundo a Teoria Ondulatória.

    Conforme mostra a Figura 2.1, essa Teoria nos ensina que a REM se propaga

    segundo uma senoidal harmônica e à velocidade da luz (c). A distância entre dois picos de

    onda determina o comprimento de onda (λ) da REM, enquanto o número de picos a passar

    num determinado ponto fixo no espaço, por unidade de tempo, determina a freqüência ( ν)

    dessa mesma REM.

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   13

     

    Fig. 2.1 - Gráfico de propagação da luz, segundo a Teoria Ondulatória.

    FONTE: Adaptada de Lillesand e Kiefer (1994), p. 4.

    Das leis da Física, tem-se a seguinte equação geral para a REM:

    c =   ν λ.  (2.1)

    10 102 103 104 105 106 107 108 10910 -110 -210 -310 -410 -510 -6 1λλ µµ( )m   λλ µµ( )m

    Visível

    0,4 0,5 0,6 0,7   µµ( )m

    IVPUV R GB

    (1 mm) (1 m)

     

    Fig. 2.2 - O Espectro Eletromagnético.

    FONTE: Adaptada de Lillesand e Kiefer (1994), p. 5.

    Uma vez que a velocidade da luz é constante no meio em que se desloca (3 x 10 8 m/s

    , no vácuo), note-se, pela Equação 2.1 que, para qualquer que seja a REM considerada, a

    freqüência e o comprimento de onda serão sempre inversamente proporcionais. Em SR, a

    forma mais comum para se categorizar a REM, ao longo do Espectro Eletromagnético

    (EEM - Figura 2.2), é através do comprimento de onda. Entretanto, a partir das microondas

    (λ ≥ mm), o emprego da freqüência torna-se mais usual.

    distânciacampo

    ma nét ico

     E  

     M

    λ = comprimento de onda (distânciaentre dois picos de onda sucessivos) 

    velocidade da luzc

     ν= freqüência (número de ciclos porsegundo em relação a um ponto fixo)

    campoelétrico

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   14

    Embora as características da REM sejam mais facilmente entendidas através da

    Teoria Ondulatória, uma outra teoria, a Teoria Quântica, oferece outras abordagens para

    explicar como a energia eletromagnética interage com a matéria. Segundo essa Teoria, a REM

    é composta de partículas denominadas  fótons, cuja energia é discretizada em quanta. A

    energia de um quantum é dada por:

    Q h=   ν.  (2.2)

    onde:

    Q = energia de um quantum, em Joules (J)

    h = constante de Planck, 6,626 × 10-34 J⋅s

     ν = freqüência, em Hertz (Hz)

    Ao relacionarmos as Equações 2.1 e 2.2, obtemos:

    Qh

    =c

    λ.  (2.3)

     Note-se, portanto, que a energia de um quantum é inversamente proporcional ao seu

    comprimento de onda. Ou seja, quanto maior for o comprimento de onda, menor será a

    energia nele contida. Essa asserção tem implicações importantes para o SR, uma vez que

    radiações emitidas que possuam comprimentos de onda maiores, como emissões na faixa das

    microondas por objetos, ou feições, da superfície terrestre, são mais difíceis de detectar do

    aquelas emitidas em comprimentos de onda menores, como no infravermelho termal. Significa

    dizer que, de maneira geral, sistemas operando em comprimentos de onda maiores necessitam

    “enxergar” áreas maiores para obter um sinal detectável.

    A Seção 2.3 define grandezas e unidades radiométricas úteis para descrever a

    radiação óptica em termos quantitativos.

    Embora determinadas faixas do EEM tenham sido “batizadas”, por conveniência,

    com termos tais como ultravioleta, infravermelho, microondas etc, não há, no EEM, uma

    separação clara entre essas faixas. Na verdade, termos foram sendo atribuídos muito mais em

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   15

    função da maneira utilizada para perceber a REM, do que por quaisquer diferenças inerentes

    às características dos diversos comprimentos de onda.

    Pode-se notar, ainda na Figura 2.2, que o EEM estende-se num contínuo

    caracterizado por mudanças de magnitudes1

      da ordem de várias potências de 10. Assimsendo, o uso de representações logarítmicas em gráficos é bastante comum.

    Dessa forma, tendo uma amplitude de apenas 0,3 µm, a porção relativa ao Espectro

    Visível2, nele representada, é extremamente pequena e é dividida, uma vez mais por

    conveniência, em três faixas, que são as cores primárias. A cor azul ocorre entre 0,4 e

    0,5 µm, a verde entre 0,5 e 0,6 µm e a vermelha entre 0,6 e 0,7 µm.

    Já fora do Espectro Visível, a radiação ultravioleta avizinha-se imediatamente antes da

    azul, enquanto a radiação infravermelho, situada imediatamente após a vermelha, também

     pode, a exemplo das cores primárias, ser dividida em três faixas. O infravermelho próximo, de

    0,7 a 1,3 µm, o infravermelho médio, de 1,3 a 3 µm e o infravermelho termal, além de 3 µm.

    Com comprimentos de onda bem maiores, a faixa das microondas estende-se de 1 mm a 1 m.

    Os sistemas mais comuns de SR operam em uma ou mais porções das faixas que se estendem

    do visível até as microondas.

    2.3 - GRANDEZAS DA R ADIAÇÃO ÓPTICA  

    Da definição de sensoriamento remoto, depreende-se que a essência dessa tecnologia

    é a detecção das alterações sofridas pela REM na interação desta com a superfície terrestre.

    Para se discutir a radiação óptica em termos quantitativos, torna-se necessário definir

    um sistema de grandezas da radiação (grandezas radiométricas). As definições e unidades

    utilizadas, nesta apostila, estão de acordo com o Sistema Internacional de Medidas (SI).

    1 - A unidade mais freqüentemente utilizada em SR para exprimir comprimentos de onda é omícron - µm - que equivale a 10 -6 m.

    2 - Parte do EEM que contém a radiação que o olho humano é capaz de detectar (aproximadamente de 0,4 a0,7 µm).

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   16

    Outro conjunto de grandezas, conhecidas como fotométricas, é definido por causa de

    seu uso na caracterização de alguns dispositivos eletro-ópticos3 disponíveis comercialmente.

    Entretanto, grandezas fotométricas são baseadas na resposta espectral de um observador

     jovem padrão. Em outras palavras, as grandezas fotométricas são ponderadas para a curva

    de resposta espectral do olho humano considerado padrão.

    Essa restrição provoca dois grandes problemas quando grandezas fotométricas são

    utilizadas para descrever dispositivos eletro-ópticos. Primeiro, o conceito de “observador

     padrão” traz consigo incertezas na quantificação das medidas. Segundo, vários dispositivos

    eletro-ópticos atuam numa faixa mais abrangente que aquela utilizada pelo olho humano. Não

    faz sentido, por exemplo, caracterizar um sensor infravermelho, utilizando-se grandezas

    fotométricas.

    Grandezas radiométricas, por outro lado, provêm uma caracterização precisa de

    todas as aplicações eletro-ópticas, incluindo as respostas visuais do olho humano. Para

    caracterizá-las em termos de grandezas radiométricas, basta a inclusão da curva de resposta

    espectral adequada. Embora as grandezas fotométricas sejam apresentadas, a título de

    comparação, esta apostila enfatizará as grandezas radiométricas.

    Definições e relações entre as várias grandezas radiométricas serão apresentadas a

    seguir. A Tabela 2.1 apresenta, de forma resumida, essas grandezas, enquanto a Tabela 2.2

    fornece os seus correspondentes fotométricos, além de descriç ões e símbolos formalmente

    adotados4.

    2.3.1 - A Energia Radiante e sua Dependência do Tempo e do Espaço

    Energia Radiante  

    3 - Uma definição bastante simplificada para o termo eletro -óptica   é “o estudo dos efeitos de camposelétricos em fenômenos ópticos”.

    4 - Esses símbolos e unidades já eram utilizados anteriormente à adoção do SI e aparecem na maioria dostrabalhos científicos da área de SR.

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   17

    A grandeza fundamental da radiação óptica é a energia radiante. É caracterizada pelo

    símbolo Q e é dada em joules (J). É a partir dessa grandeza fundamental que derivam todas

    as outras grandezas radiométricas usadas para descrever a radiação óptica.

    A energia radiante geralmente apresenta uma complexa dependência de inúmerasvariáveis, incluindo tempo, comprimento de onda e coordenadas espaciais. Além disso, se a

    fonte da energia radiante é considerada, então Q  possui também dependência das

     propriedades do material, sua temperatura, área superficial e orientação relativa. A

    dependência dessas variáveis forma a base para as grandezas radiométricas aqui definidas.

    F luxo Radiante  

    O fluxo radiante é definido como a derivada parcial da energia radiante em função do

    tempo. É caracterizada pelo símbolo Φ e é dada em watts (W).

    Φ =  δ

    δ

    Q

    t W ( )   (2.4)

    Densidade Radiante  

    A densidade radia nte nada mais é do que a concentração de energia por unidade de

    volume (derivada parcial da energia radiante - Q - em função do volume - V). É caracterizada pelo símbolo w e é dada em joules por metro cúbico (J/m3).

    wQ

    V  J m=

      δ

    δ( )3   (2.5)

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   18

    TABELA 2.1 - DEFINIÇÕES DE GRANDEZAS RADIOMÉTRICAS

    GRANDEZA

    RADI OMÉTRICASÍMBOLO EQUAÇÃ O UNI DADE DE MEDI DA CONCEI TO

    Energia Radiante Q  joule (J); erg (erg); ekilowatt-hora (kWh)

    Energia transmitida em forma de ondaseletromagnéticas.

    Fluxo Radiante Φ  δ

    δ

    Q

    Werg/s

    Taxa de variação de energia radiante notempo

    Densidade Radiante ω  δδ

    Q

    J/m3 erg/cm3 

    Taxa de variação de energia radiante por unidade volumétr ica.

    Intensidade Radiante I δ

    δ

    ΦΩ

      watt por esferorradiano (W/sr)Fluxo deixando uma fonte por unidadede ângulo sólido numa dada di reção.

    Exitância Mδ

    δ

    ΦA

     W/m2 W/cm2 

    Fluxo deixando uma superfície porunidade de área.

    Irradiância Eδ

    δ

    ΦA

     W/m2 W/cm2 

    Fluxo incidente sobre uma superfície por unidade de área.

    Radiância L δ

    δ δ θ

    δ

    δ θ

    2 Φ

    Ω ( cos ) ( cos )A

    I

    A= 

    W/srm2 

    W/srcm2 

    Intensidade radiante por unidade de

    área normal à fonte numa dada direção.

    Emissividade ε    M  M 

    CR

    CN 

      adimensionalRazão entre a exitância de um material ea exitância de um corpo negro à mesmatemperatura.

    Absortância α  ΦΦ

    a

    i

      adimensional Razão entre o fluxo absorvido e o Fluxoincidente numa superfície.

    Reflectância ρ  ΦΦ

    i

      adimensionalRazão entre o fluxo refletido e o fluxoincidente numa superfície.

    Transmitância τ ΦΦ

    i

      adimensional Razão entre o fluxo transmitido e o fluxoincidente numa superfície.

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   19

    TABELA 2.2 - DEFINIÇÕES DE GRANDEZAS FOTOMÉTRICAS

    GRANDEZA

    RADI OMÉTRICASÍMBOLO EQUAÇÃ O UNI DADE DE MEDI DA CONCEI TO

    Energia Luminosa(quantidade de luz)

    Qv   K Q d e( )λ   λ λ380760

    ∫    lumen (lm)Energia na faixa do visível em função daeficácia luminosa da radiação

    Fluxo Luminoso Φ v δ

    δ

    Q

    tv

     lumen-segundo ou talbot (lms)

    lumen-hora (lmh)

    Taxa com a qual a energia luminosa étransferida de um ponto a outro dasuperfície.

    Densidade Luminosa ωv δ

    δ

    Q

    Vv

      lm/m3 Taxa de variação de energia luminosa por unidade volumétr ica.

    IntensidadeLuminosa

    Iv δ

    δ

    ΦΩ

    v  candela (cd) ou lm/sr

    Fluxo luminoso deixando uma fonte porunidade de ângulo sólido, numa dadadireção.

    Exitância Luminosa Mv δ

    δ

    Q

    Av

      lux (lm/m2 ou lx)Fluxo luminoso deixando uma superfície por unidade de área.

    Iluminância Ev δ

    δ

    Q

    Av

      lux (lm/m2 ou lx)Fluxo luminoso incidente sobre umasuperfície por unida de de área.

    Luminância Lv  δ

    δ δ θ

    δ

    δ θ

    2 ΦΩ

    v

    ( cos ) ( cos )A

    I

    Av=   cd/m

    2  Intensidade luminosa por unidade deárea normal à fonte, numa dada direção.

    Eficácia Luminosa K ΦΦ

    v  lm/W

    Razão entre o fluxo visível e o fluxoradiante.

    Eficiência Luminosa V K 

    K max  adimensional

    Razão entre a eficácia luminosa naregião visível pela eficácia luminosamáxima.

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   20

    Ângul o Sól ido  

    Uma superfície com área “∆ A”, situada a uma distância “r ” de uma fonte pontual,

    define com esta uma direção e um ângulo sólido, caracterizado pela letra Ω. Sua unidade é o

    esferorradiano5

     ou esterradiano (sr).

    14

    42 2

    2

    2 sr unidade A

    r esfera

     A

    r  sr = = ⇒ = = =δ

      δ ππΩ Ω( ) ( ) ( )   (2.6)

    δδΩ  Ω  

    r δδA

    FONTE

    ESFERA

     

    Fig. 2.3 - Conceito de ângulo sólido (Ω).

    I ntensidade Radiante  

    É o fluxo por unidade de ângulo sólido irradiado numa certa direção a partir de uma

    fonte pontual. É caracterizada pelo símbolo I e é dada em watts por esferorradiano (W/sr). A

    Figura 2.4a ilustra uma fonte pontual irradiando energia num ângulo sólido.

    5 - Grandeza correspondente ao ângulo sólido que, projetado em uma superfície esférica, cujo centro

    encontra-se no vértice desse ângulo, forma uma área igual ao quadrado do raio, ou seja,1

    4π da área total

    da esfera. Em outras palavras, como a área da esfera é dada por A = 4πr 2, conclui-se que esta possui 4πr 2/r 2 

    esferorradianos, ou seja, 4π esferorradianos (vide Equação 2.6).

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   21

     I Q

    t W sr = =

    δ

    δ

    δ

    δ δ

    ΦΩ Ω

    2

    ( )   (2.7)

    2.3.2 - Grandezas da Radiação Relacionadas à Área e a Lei do Cosseno de Lambert

    Densidade de F luxo Radiante  

    Ex itância Radiante (Emi tância Radiante - M). É o termo usado para definir a

    densidade de fluxo radiante emitida por uma superfície. É dada pelo fluxo radiante

     por unidade de área da superfície considerada (W/m2).

    Irradiância (E).  Quando o fluxo radiante incide na superfície, ele é chamado

    irradiância. Da mesma forma que a exitância, é dado em watts por metro

    quadrado.

    A Equação 2.8 define, ao mesmo tempo, exitância e irradiância. A diferença entre

    essas grandezas é ilustrada nas Figuras 2.4b e 2.4c como o fluxo radiante emitido por uma

    superfície ou incidente sobre ela.

     M E  A

    Q

    t AW m, ( )= =

    δ

    δ

    δ

    δ δ

    Φ 2 2   (2.8)

    Radiância  

    É o fluxo radiante numa certa direção, a partir de uma superfície normalizada com

    respeito à área da superfície e unidade de ângulo sólido. Para um ângulo de visada normal à

    superfície emissora, conforme mostrado na Figura 2.4d, a radiância, caracterizada pelo

    símbolo L, é dada por:

     L I 

     A

    Q

     A

    Q

    t AW m sr  = = = ⋅

    δ

    δ

    δ

    δ δ

    δ

    δ δ δ

    2 32

    Ω Ω( ) (2.9)

    Para direções outras que não a normal à superfície, vale ressaltar o fato de que a

    superfície aparente é proporcional ao cosθ  e inversamente proporcional a θ , onde θ é o

    ângulo formado entre a normal à superfície e a linha de visada, que estabelece a superfície

    aparente (Figura 2.4e).

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   22

    ( ) I W sr =  δ

    δ

    ΦΩ

    /

    Fonte pontualΦ  (W) Ângulo sólido

    δΩ  (sr)

    (a) 

     M  A

    W m=  δ

    δ

    Φ( )2

    Φ (W): Fluxo total da superfície

    Área da superfície δA (m2)

    (b) 

     E 

     A

    W m=  δ

    δ

    Φ( )2

    Φ (W): Fluxo total para a superfície

    Área da superfície δA (m2)

    (c) 

     L

     A

    =  δ

    δ δ

    Φ

    Φ (W): Fluxo total da superfície

    Área da superfície δA (m2)

    (d) 

    (W/m2 - sr)Ângulo sólidoδΩ  (sr)

    θ

    Área da superfície δ A (m2)

    δS 

    Linha de visada

    (e)

    δS =δ A cos θ

     

    Fig. 2.4 - Grandezas radiométricas. (a) Intensidade radiante. (b) Exitância

    radiante. (c) Irradiância. (d) Radiância. (e) Relação entre a

    superfícieδ

     A e a superfície aparenteδ

     S .

  • 8/18/2019 Principios Sr

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   23

    Lei do Cosseno  

    Para a energia radiante emitida por uma superfície plana, a intensidade radiante I  

    (W/sr) varia com o cosseno do ângulo entre a linha de visada e a superfície normal.

    Superfícies para as quais essa relação é válida são chamadas de superfícies lambertianas  (oudifusas). Considerando-se a geometria apresentada na Figura 2.5a, a intensidade radiante é

     plotada no gráfico em 2.5b. Definindo-se  I θ  como a intensidade radiante para o ângulo θ, e

     I n como a intensidade radiante normal à superfície, a Lei do Cosseno de Lambert  é dada por:

     I I W sr nθ   θ= cos ( )   (2.10)

    O efeito da Lei do Cosseno na radiância de uma superfície como função do ângulo de

    visada merece destaque. Uma vez que a radiância é definida como  L I A= δ δ ,  a radiância, para o ângulo de visada θ, conforme mostra a Figura 2.5c, é dada por:

     L I 

     A

     I 

     I 

     A L W m sr nθ

    θδ

    δ δ

    θ

    δ θ= = = = ⋅

    cos

    cos( )2   (2.11)

    Assim sendo, a radiância de uma superfície lambertiana é independente do ângulo de

    visada. Essa relação pode ser verificada experimentalmente. Além disso, verifica-se essa

     propriedade na grandeza fotométrica luminância  (também conhecida como brilho). Isso

    explica, por exemplo, porque o brilho emitido por uma superfície lambertiana não se modifica

    com o ângulo de visada (a tela de cinema se aproxima dessa condição).

  • 8/18/2019 Principios Sr

    27/72

    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   24

     Normal

    θ

    Direção de visadaIθ , Lθ

    (a)

    − π2

    π

    2

    In

    Iθ = In cos θ  (W/sr)

    0   θ

    (b)

     L I 

     A

     I 

     I 

     A L Ln nθ

    θ

    δ δ δ= = = = =

    θ

    Área da superfície δ A (m2)

    δS = δ A cos θ

    (independente de θ)

    (c) 

    Fig. 2.5 - Lei do Cosseno de Lambert para uma superfície difusa. (a)

    Superfície lambertiana. (b) Intensidade radiante a partir de uma

    superfície lambertiana. (c) Radiância a partir de uma superfície

    lambertiana.

  • 8/18/2019 Principios Sr

    28/72

    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   25

    Caso Parti cular - Radiância de uma Fonte Lambertiana  

     Na Figura 2.6, a intensidade radiante  I θ  (na direção θ  em relação à normal da

    superfície de área δA) é dada pela Lei do Cosseno como:

     I I W sr nθ   θ= cos ( )  

    A partir da definição de intensidade radiante, temos  I  = δ δΦ Ω   e considerando

    ainda a Figura 2.6, temos que:

    δ δ θ θ δθ δθΦ Ω Ω= = I I n cos sen  

    Ao se integrar o fluxo radiante total num hemisfério, tem-se:

    Φ Φ= ∫ ∫ d d I nθ θ θπ π0

    202 cos sen  

    ou Φ =  π  I n .  Uma vez que a radiância é independente de orientação, para uma superfície

    lambertiana, temos que:

     L I 

    dA dA

     M W m sr  n= = = ⋅

    Φπ π

    ( )2  

    Esse resultado provê relações simplificadas entre radiância ( L), fluxo radiante (Φ),

    exitância radiante ( M ) e intensidade radiante ( I ), para uma dada fonte lambertiana.

    area r d d  =2sen θ θ φ

    r  senθ

    θ

    r d sen θ φ

    φ

    d  φd θ

     I θ

    rd   θ

    Su erfície radiantedA

     

    Fig. 2.6 - Fluxo radiante em um hemisfério.

  • 8/18/2019 Principios Sr

    29/72

    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   26

    2.3.3 - Grandezas Radiométricas Relacionadas à Natureza do Material

    As propriedades básicas na interação dos materiais com a radiação óptica são a

    emissividade (ε), reflectância (ρ), absortância (α ) e a transmitância (τ). Variações dessas

    grandezas básicas são encontradas em certas áreas específicas de eletro-óptica, comocoeficiente de retroespalhamento e coeficiente de absorção, utilizados na caracterização das

     propriedades de propagação óptica da atmosfera.

    A energia radiante incidente sobre a superfície de dado material pode ser absorvida,

    refletida, ou transmitida através do material. O Princípio de Conservação de Energia requer

    que a soma das energias absorvida, refletida e transmitida seja igual à energia incidente.

    Entretanto, como resultado da energia absorvida pelo material, há um incremento no estado

    energético interno desse material. Uma vez que, em equilíbrio, qualquer material possui uma

    energia interna constante, conclui-se que deve haver outro mecanismo pelo qual parte da

    energia é perdida pelo material na mesma razão em que é absorvida.

    Em 1860, Kirchhoff demonstrou que radiadores térmicos devem emitir e absorver

    radiação na mesma proporção, independentemente do comprimento de onda e da natureza da

    superfície do radiador   (Lei de Kirchhoff ). Assim, bons radiadores são também bons

    absorvedores. Materiais que tenham alta reflectância ou transmitância, por outro lado, são

    maus emissores ou absorvedores.

    A Seção 2.4 mostra que todos os materiais emitem energia, por causa de seus

    estados internos de energia. Da Figura 2.7, podem ser extraídas as seguintes relações:

    Qincidente = Qabsorvida + Qtransmitida + Qrefletida   (2.12)

    Qemitida = Qabsorvida (em equilíbrio) (2.13)

    As definições apresentadas a seguir são dadas em termos relativos de grandezas

    radiométricas. Mais especificamente, são dadas em termos de energia radiante (Q).

    Entretanto, são aplicáveis a relações de fluxo radiante (Φ), exitância radiante ( M ), irradiância

    ( E ), intensidade radiante ( I ), bem como radiância ( L).

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   27

    Absorvida

    Refletida

    Incidente

    EmitidaTransmitida

     

    Fig. 2.7 - Interação entre energia radiante e matéria.

    Absortância  

    A absortância é definida como a razão entre a energia radiante absorvida e a energia

    radiante incidente.

    α =Q

    Qabsorvida

    incidente(adimencional)   (2.14)

    Reflectância  

    A reflectância é definida como a razão entre a energia radiante refletida e a energiaradiante incidente.

    ρ =Q

    Q

    refletida

    incidente(adimencional)   (2.15)

    Transmitância  

    A transmitância é definida como a razão entre a energia radiante transmitida e a

    energia radiante incidente.

    τ =Q

    Qtransmitida

    incidente(adimencional)   (2.16)

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   28

    Emissividade  

    A emissividade é definida como a razão entre a energia radiante emitida pelo material

    considerado e a energia radiante emitida por um corpo negro6 à mesma temperatura.

    ε =Q

    QCR

    CN 

    (adimencional)   (2.17)

    Assim sendo, para qualquer material que seja considerado um radiador térmico,

    temos:

    α ρ τ α ε+ + = =1   (2.18)

    2.3.4 - Grandezas Radiométricas Espectrais

    Todas as grandezas radiométricas já definidas dependem, em geral, do comprimento

    de onda da radiação óptica. Dessa forma, cada grandeza apresenta uma dependência

    funcional do comprimento de onda. Essa dependência do comprimento de onda é

    especificada por meio do acréscimo do termo “espectral” à frente de cada grandeza

    empregada (por exemplo, densidade de fluxo radiante espectral). Grandezas radiométricas

    espectrais são identificadas pela adição do símbolo “λ” subscrito aos símbolos definidos para

    cada grandeza e do termo “por mícron” às unidades. O mícron (µm) é usado para medir o

    comprimento de onda porque é uma unidade conveniente para a maioria das aplicações

    eletro-ópticas. O nanometro é outra unidade conveniente para comprimentos de onda ópticos

    e poderá ser visto em muitas aplicações.

    2.3.5 - Grandezas Radiométricas, Fotométricas e Quânticas

    As grandezas radiométricas foram definidas, até aqui, no sistema de unidades MKS.

     Na Seção 2.2, foi mostrado que fótons têm sua energia dada por hc   λ , donde se concluique grandezas radiométricas espectrais podem ser expressas em termos de fluxo de fótons

    (fótons/s). Essa alternativa para grandezas radiométricas é útil na avaliação de sistemas eletro-

     6 - Corpo negro é a expressão utilizada para definir um radiador hipotético ideal que absorve e reemitecompletamente toda a energia nele incidente. Objetos reais apenas se aproximam deste ideal teórico.

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   29

    ópticos, nos quais efeitos quânticos são importantes. Por exemplo, vários tipos de ruído em

    detectores quânticos são descritos em termos de fluxo de fótons. Uma prática comum para se

    distinguir representações de fluxo de fótons de grandezas radiométricas é a utilização de um

    “e” subscrito em cada um dos símbolos previamente definidos.

    2.4 - CARACTERÍSTICAS DE FONTES DE R ADIAÇÃO ÓPTICA  

    Um fator fundamental para qualquer sistema eletro-óptico é a radiação com a qual

    esse sistema interage. Para melhor entender e quantificar o desempenho de um sistema desses

    é necessário entender, primeiramente, a natureza da radiação óptica. Utilizando as grandezas

    radiométricas definidas há pouco, é possível observar os vários tipos de fontes de radiação

    óptica e caracterizar suas medições.

    Fontes de radiação óptica podem ser classificadas genericamente em três tipos, de

    acordo com o comprimento de onda presente na radiação. Os tipos são os seguintes:

    1. Discreto;

    2. Banda estreita;

    3. Banda larga.

    Esses três tipos são ilustrados graficamente na Figura 2.8, que mostra o fluxo radiante

    em função do comprimento de onda.

    A fonte discreta é caracterizada por energia radiante concentrada em um ou poucos

    comprimentos de onda individuais (vide Figura 2.8a). O laser é o melhor exemplo de uma

    fonte discreta.

    Fontes de banda estreita, como os LED (“Light-Emitting Diodes”), têm a maior parte

    de sua energia radiante confinada a uma faixa relativamente curta de comprimentos de onda

    (vide Figura 2.8b). A distribuição é considerada como sendo tipicamente contínua ao longo

    da faixa, em contraste aos comprimentos de onda individuais de uma fonte discreta.

    Fontes de banda larga (vide Figura 2.8c) incluem essencialmente todas as outras

    fontes de radiação óptica. Uma subclasse de fonte de banda larga, o radiador de corpo

    negro, será examinado em detalhes a seguir. Ele irradia em todos os comprimentos de onda,

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   30

    de zero a infinito, com uma distribuição particular que é função do comprimento de onda e

    tem um formato fixo para uma dada temperatura de fonte.

    Φ (λ)

    (c) 

    Φ (λ)

    λ

    (a) 

    λ1   λ2

    λ(b) 

    Φ (λ)

    λ

     

    Fig. 2.8 - Tipos de fontes de radiação óptica. (a) Monocromática -

    discreta. (b) Espectralmente seletiva - banda estreita. (c) Banda

    larga.

    2.4.1 - Leis da Radiação de Corpo Negro

    O Sol é a mais óbvia fonte de energia para SR. Entretanto, toda matéria, cuja

    temperatura exceda o Zero Absoluto (0 K, ou -273° C), emite radiação continuamente.

    Assim sendo, todos os objetos dispostos na superfície terrestre são também fonte de

    radiação, embora de magnitude e composição espectral consideravelmente distintas da

    radiação solar.

    A intensidade espectral da radiação depende primariamente da temperatura do objeto

    e das propriedades radiantes do material de que esse objeto é feito (em particular, a

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   31

    emissividade espectral do material). Já foi mencionado, no corpo desse trabalho, que

    absortância e emissividade são iguais para um mesmo objeto. Assim sendo, um objeto com

    alta emissividade deve possuir, igualmente, uma alta absortância. Portanto, nunca é demais

    relembrar a Lei de Kirchhoff, segundo a qual um bom emissor é também um bom absorvedor.

    Pode-se definir um absorvedor perfeito como sendo aquele que absorve toda a

    radiação incidente sobre ele. Esse objeto será, obrigatoriamente, um emissor perfeito. Um

    corpo com essas características é chamado de corpo negro  e possui emissividade e

    absortância igual a 1 em todos os comprimentos de onda, de zero a infinito. Um absorvedor-

    emissor não tão perfeito, mas que possua uma absortância-emissividade constante e menor

    que a unidade em todos os comprimentos de onda é chamado de corpo cinza.

    Uma definição mais formal do radiador de corpo negro é “um radiador hipotético

    (emissividade = absortância = 1; reflectância = transmitância = 0) que emite isotropica e

    aleatoriamente energia radiante numa distribuição contínua de comprimentos de onda que

    varia de zero a infinito. A exitância radiante, função da temperatura e do comprimento de

    onda, é dada pela Lei de Distribuição de Planck”.

    Lei de Planck  

    Os primeiros esforços para descrever experimentalmente a radiação emitida por umobjeto, numa dada temperatura, eram baseados na Eletrodinâmica Clássica. Um resultado

    desses esforços foi a Lei de Stefan-Boltzmann (a ser apresentada nesta Seção), que mostra

    que o fluxo total radiante proveniente de um corpo negro é proporcional à quarta potência de

    sua temperatura absoluta. Entretanto, outros esforços na caracterização de uma dependência

    espectral da exitância radiante de um corpo negro resultou em equações de aplicações

    limitadas. Max Planck realizou um desenvolvimento teórico que gerou resultados consistentes

    com dados experimentais, assumindo que o corpo negro emite e absorve energia em valores

    discretos (quanta), chamados fótons, cada qual com a energia definida por “h ν”, conforme

    foi visto na Seção 2.1. 

    Baseado nessa abordagem da Teoria Quântica, Planck desenvolveu sua lei de

    radiação, que fornece a exitância radiante espectral para um radiador de corpo negro.

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   32

    Detalhes dessa teoria podem ser encontrados em diversos textos de Física Moderna. A

     precisão dessa lei de radiação foi verificada experimentalmente e é dada por:

     M T c

    e

    W m mc T λ   λλ

    µ( ) ( )=

     

     

       

     

        −1521

    12

      (2.19)

    onde:

    c1 = 2πc2h = 3,7413 × 108 (W-µm4/m2)

    c2 = hc/k  = 1,4388 × 104 (µm-K)

    As constantes c1  e c2  são chamadas constantes da radiação de Planck, e Mλ 

    (Equação 2.19) fornece a exitância radiante num ângulo sólido de 2π  radianos (um

    hemisfério). Uma vez que um radiador de corpo negro é lambertiano (difuso), sua radiância éconstante em todas as direções e pode ser obtida pela substituição de c 1 = 2π c2h na Equação

    2.19, tendo em mente que L = M/ π .

     L T c h

    eW m m sr  c T λ   λλ

    µ( ) ( )=−

      

         

      ⋅ ⋅2 11

    2

    52

    2  (2.20)

    As fórmulas clássicas anteriores para a exitância radiante espectral são deriváveis

    como casos limites da Lei de Distribuição de Planck, ou simplesmente Lei de Planck, e sãomostradas, nesse contexto, nos próximos parágrafos.

    Lei da Radi ação de Wien  

    Se e c T 2   λ   for maior do que 100, então o termo 1 2( )ec T λ   é aproximado, numa

    margem de erro de 1%, para e c T − 2   λ , de forma que:

     M T c

    e W m mc T λλ

    λµ( ) ( )≈ ⋅−1

    5

    22   (2.21)

    A Equação 2.21 é chamada de Lei da Radiação de Wien. É interessante notar que

    Wien desenvolveu esse resultado antes de Planck, utilizando uma abordagem de “tentativa-e-

    erro” com formas de curvas de corpos negros experimentais, aliado ao conhecimento da Lei

    de Stefan-Boltzmann.

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   33

    Para se resolver a inequabilidade condicional apresentada acima, a Lei de Wien

    requer, para ser precisa numa margem de erro inferior a 1%, que λ T   seja menor que

    0,31 cm⋅K. Em outras palavras, para uma dada temperatura T , a Lei de Wien pode ser usada

     para representar, com precisão, a exitância radiante espectral para comprimentos de onda

    variando de 0 a 3100 µm.

    Lei de Deslocamento de Wien  

    A Figura 2.9 mostra uma série de curvas de distribuição de corpos negros em várias

    temperaturas. Essas curvas mostram que, à medida que a temperatura aumenta, há um desvio

    na direção daquelas curvas com menor comprimento de onda situado no pico de distribuição

    da radiação do corpo negro, que determina o comprimento de onda dominante. Esse

    comprimento de onda, no qual uma curva de radiação de corpo negro atinge o seu máximo de

    emissão, está relacionado à sua temperatura através da Lei de Deslocamento de Wien, que

    estabelece o seguinte:

    λ m3c

    T = .   (2.22)

    onde:

    λm = comprimento de onda de máxima exitância espectral, em µm

    c3 = 2898 µm⋅K

    T  = temperatura absoluta (K) do corpo negro

    Assim sendo, para um corpo negro, o comprimento de onda, no qual ocorre a

    máxima exitância espectral, varia de forma inversamente proporcional à temperatura absoluta

    do corpo negro. Tal relação pode ser constatada, quando se aquece um pedaço de metal,

    como o ferro, por exemplo. À medida que esse metal se torna progressivamente mais quente,

    ele começa a incandescer e sua cor vai adquirindo tonalidades de cores que caminham no

    sentido dos comprimentos de onda menores - de um vermelho opaco para o laranja, depois

     para o amarelo, e assim prossegue sucessivamente.

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   34

    Comprimento de Onda (µm)

       E  x   i   t   â  n  c   i  a   E  s  p  e  c   t  r  a   l   (   W   m  -   2      µ

      m  -   1   )

     

    Fig. 2.9 - Distribuição espectral da energia irradiada de corpos negros de

    várias temperaturas. (Note-se que a exitância espectral M λ é a

    energia emitida por unidade de intervalo de comprimento de

    onda. A exitância total M  é dada pela área sob as curvas de

    exitância espectral).

    FONTE: Adaptada de Lillesand e Kiefer (1994), p. 8.  

    O Sol emite radiação da mesma forma que um corpo negro cuja temperatura é de

    cerca de 6.000 K (Figura 2.9). Muitas lâmpadas incandescentes emitem radiação similar à de

    um corpo negro à temperatura de 3.000 K. Conseqüentemente, elas apresentam baixa

    emissão de radiação azul  e não possuem a mesma constituição espectral da luz solar.

    Em função disso, filmes fotográficos são manufaturados de formas diferentes, de

    modo a permitir um balanço apropriado de cores sob diferentes condições de iluminação.

    Filmes para tomadas externas são balanceados para a luz solar. Se esse tipo de filme é

    empregado em ambientes iluminados artificialmente - com lâmpadas incandescentes - as

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   35

    fotografias resultantes do processo terão uma coloração amarelada. A solução para tal é a

    utilização de um “flash” com alta emissão de radiação azul, a fim de compensar o efeito

    indesejado. Uma outra solução aplicável é a adoção de filmes balanceados especialmente

     para ambientes fechados, com iluminação artificial.

    A temperatura de superfície da Terra (solo, água, vegetação etc.) é de

    aproximadamente 300 K (27 °C). Isso significa, do ponto de vista da Lei de Deslocamento

    de Wien, que a máxima exitância espectral ( M λ) de feições da superfície terrestre ocorre na

    radiação cujo comprimento de onda é de aproximadamente 9,7 µm.

    Pelo fato de corresponder ao calor da superfície terrestre, essa radiação é conhecida

    como infravermelho termal. Trata-se de uma radiação que não pode ser vista ou fotografada,

    mas que pode ser detectada através de dispositivos, tais como radiômetros e “scanners7”.

    O Sol possui um pico de energia bem superior ao da Terra. Esse pico ocorre a

    aproximadamente 0,5 µm e o olho humano, da mesma forma que os filmes fotográficos, são

    sensíveis a essa radiação. Portanto, somente podemos observar objetos na superfície

    terrestre em virtude da radiação solar nelas refletida, obviamente quando há iluminação solar.

    Por essa razão, nunca é demais repetir, comprimentos de onda maiores emitidos por

    objetos na superfície terrestre só podem ser observados por sistemas de SR não-fotográficos.A “linha divisória” entre o infravermelho refletido e o emitido localiza-se em torno de 3 µm.

    Abaixo desse comprimento de onda, predomina a radiação refletida, enquanto acima dele,

     prevalece a radiação emitida.

    Determinados sistemas sensores, como os radares, trazem consigo sua própria fonte

    de energia para “iluminar”  os alvos de interesse. São denominados  sistemas ativos, em

    contraste com os  sistemas passivos, descritos anteriormente, que detectam a energia

    naturalmente disponível.

    Lei de Rayleigh -Jeans  

    7 - Os scanners, ou dispositivos imageadores por varredura, geram imagens através da aquisição desegmentos do campo de visada do sistema sensor, ou seja, “varrendo” a cena, uma vez que não sãocapazes de imageá-la de uma só vez.

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    A Lei de Rayleigh-Jeans foi desenvolvida a partir da Teoria Clássica de

    Eletrodinâmica para predizer a exitância radiante espectral de um radiador de corpo negro.

    Ela é dada por:

     M T  c T c ckT  W m mλ λπλ

    µ( ) ( )= = ⋅12

    4 422   (2.23)

    A maior dificuldade com a Equação 2.23 é que ela se torna insolúvel à medida que λ 

    tende a zero. Uma análise mais detalhada mostra que essa Equação é derivável como um caso

    limite da Lei de Planck. A partir da Equação 2.19, ao se expandir o termo exponencial do

    denominador, obtém-se o seguinte:

     M T  c cT 

    cT λ λ λ λ

    ( )!

    =         

       +    

         

        + ⋅⋅⋅ + ⋅⋅⋅

    15

    2 2

    2 1

    12

      (2.24)

    Se c T 2   λ  for muito menor que 1, então os termos de ordem igual ou superior a 2

     podem ser ignorados, gerando a seguinte aproximação:

     M T c c

    c T 

    cλ λ λ λ( ) ≈

        

            =

    15

    2

    1

    1

    24

      (2.25)

    Assim, a Lei de Rayleigh-Jeans também é mostrada como uma aproximação da Lei

    de Planck, onde a condição é que λ T  seja muito maior que c2. Para uma margem de erro

    máxima de 1%, a inequabilidade começa com λ T  maior que 7,2 × 105 (µm⋅K).

    Lei de Stefan -Boltzmann  

    Conforme já foi mencionado, a quantidade de energia que um objeto irradia é função,

    entre outras coisas, da temperatura de superfície desse objeto. Baseado em argumentos

    termodinâmicos e num tratamento, onde a radiação era o “carro-chefe” de um motor de ciclo

    Carnot , Ludwig Boltzmann desenvolveu uma expressão que fornece a exitância radiante total

    de um corpo negro. Seu trabalho verificou, teoricamente, uma relação da ordem de quarta

     potência para a temperatura que havia sido afirmada anteriormente por Josef Stefan.

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   37

    Essa propriedade, expressa pela Lei de Stefan-Boltzmann, estabelece:

     M T 4=   σ   .  (2.26)

    onde:

     M  = exitância total da superfície de um corpo, em Watts por metro quadrado (W ⋅m-2)

    σ = constante de Stefan-Boltzmann, 5,6697 × 10-8 W⋅m-2⋅K -4 

    T  = temperatura absoluta (K) do corpo emitente

    Antes do trabalho de Planck, o valor de σ  teve de ser determinado

    experimentalmente. Obviamente, não é absolutamente necessário ao leitor memorizar valores

     particulares desta ou aquela constante. No entanto, é extremamente importante notar que a

    energia total emitida por um objeto é diretamente proporcional a T 4 . Em outras palavras, à

    medida em que a temperatura desse objeto aumenta, a energia total emitida aumentará muito

    rapidamente. Também deve-se ter mente que a Lei de Stefan-Boltzmann é válida somente

     para fontes de energia que se comportam como um corpo negro.

    Sempre que a energia total emitida por um objeto varia em função de mudanças na

    sua temperatura, a distribuição espectral da energia emitida por esse objeto também irá variar.

     Na Figura 2.9, que mostra curvas de distribuição de corpos negros com temperaturas

    variando entre 200 e 6.000 K, as unidades no eixo das ordenadas (W⋅m-2⋅µm-1) expressam a

     potência radiante emitida por um corpo negro, em intervalos espectrais de 1µm.

    A área sob cada uma das curvas de distribuição, portanto, é equivalente à exitância

    total ( M ). Dessa forma, as curvas ilustram graficamente aquilo que a Lei de Stefan-Boltzmann

    expressa matematicamente: quanto maior a temperatura do radiador, maior quantidade de

    radiação ele emite.

    Da mesma forma que as anteriores, a Lei de Stefan-Boltzmann também é derivável a

     partir da Lei de Planck, como uma integração de todos os comprimentos de onda na

    Equação 2.19.

    2.4.2 - Emissores Espectralmente Seletivos

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   38

    Fontes de radiação óptica seletivas espectralmente são aquelas cuja exitância

    espectral radiante não coincidem com uma curva de corpo negro. Mais precisamente, fontes

    de radiação óptica seletivas espectralmente possuem, genericamente, uma exitância radiante

    confinada a uma faixa relativamente estreita de comprimentos de onda e de freqüências. Um

    exemplo típico é o diodo emissor de luz (LED).

    Os LED são semi-condutores que emitem radiação óptica, quando são induzidos por

    corrente elétrica. A radiação óptica é de faixa estreita (normalmente alguns décimos de

    mícrons) e a largura de faixa se modifica em função da magnitude da corrente. O domínio de

    comprimentos de onda depende primariamente do material semi-condutor.

    2.4.3 - Fontes de Radiação Coerente

    Antes do desenvolvimento do laser , fontes ópticas coerentes eram obtidas por meio

    de filtragens de fontes seletivas espectralmente. Filtros ópticos passivos com largura de faixa

    relativamente estreita já estavam disponíveis então.

    Certamente, as aplicações mais significantes de óptica coerente se utilizam de lasers.

    Para o nível de detalhamento desta apostila, é suficiente afirmar que a pureza espectral

    alcançável por meio de lasers não pode ser obtida por nenhuma outra fonte óptica. Uma série

    de aplicações eletro-ópticas atuais seriam impossíveis antes do desenvolvimento do laser .

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   39

    3 INTERAÇÕES DA REM COM A SUPERFÍCIE

    Quando a REM incide sobre qualquer superfície, pode interagir com esta de três

    modos: refletindo-se na superfície, sendo absorvida pela superfície e transmitindo-se através

    da superfície. Tais interações podem ocorrer simultaneamente como ilustra a Figura 3.1.Aplicando-se o princípio da conservação de energia, pode-se estabelecer a relação entre

    essas três interações como sendo:

    Qi = Qr (λ) + Qa (λ) + Qt (λ) . (3.1)

    onde Qi representa a energia total incidente, Qr a energia refletida, Qa a energia absorvida e Qt

    a energia transmitida, todos os componentes sendo função do comprimento de onda.

    Q i (λλ) = Energia incidente

    Q r (λλ) = Energia refletida

    Q a (λλ ) = Energia absorvida Q t ( λλ) = Energia transmitida

    Q i (λλ) = Q r (λλ) +Q a (λλ) +Q t (λλ)

     

    Fig. 3.1 - Interação entre a REM e feições na superfície terrestre.

    FONTE: Adaptada de Lillesand e Kiefer (1994), p. 12.

     No que concerne a essa relação, dois pontos devem ser notados. Em primeiro lugar,

    as proporções de energia refletida, absorvida e transmitida irão variar para diferentes objetos,

    dependendo do tipo e das condições do material de que são compostos. São essas variações

    que permitem distinguir diferentes feições numa imagem.

    Em segundo lugar, a dependência com relação ao comprimento de onda significa que,

     para um mesmo tipo de material, as proporções de energia refletida, absorvida e transmitida

    irão variar para diferentes comprimentos de onda. Assim sendo, dois materiais diferentes

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    Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto   40

     podem ser indistiguíveis numa determinada faixa espectral e serem completamente diferentes

    noutra faixa.

     No Espectro Visível, tais variações espectrais resultam no efeito visual chamado cor .

    Por exemplo, chamamos de azuis objetos que possuem alta reflexão na porção azul doespectro. O mesmo ocorre com o verde e assim sucessivamente. Portanto, o olho humano

    utiliza variações espectrais, na magnitude da energia refletida, para discriminar os vários

    objetos.

    Como muitos sistemas de SR operam em faixas do espectro nas quais predomina a

    energia refletida, as propriedades de reflectância de feições na superfície terrestre são muito

    importantes. Assim sendo, é comum pensar no balanço energético expresso pela Equação 3.1

    na seguinte forma:

    Qr (λ) = Qi - [Qa (λ) + Qt (λ)] . (3.2)

    ou seja, para um dado objeto, a energia refletida é igual à energia incidente, reduzida das

    energias absorvida e transmitida por aquele objeto.

    A maneira como um objeto reflete energia é um fator importante que deve ser levado

    em consideração. Esse fator é função primária da rugosidade8 superficial do objeto.

    Refletores especulares  são superfícies lisas que manifestam comportamento

    semelhante ao do espelho em relação à luz visível. Neles, o ângulo de reflexão da REM é igual

    ao de incidência. Já os refletores difusos, ou lambertianos , são superfícies rugosas que

    refletem uniformemente em todas as direções.

    8 - Eletromagneticamente, uma superfície é considerada lisa quando obedece o critério de Rayleigh, ou

    seja, quando a irregularidade média de sua superfície, de magnitude h, é dada por h8cos

    ≤   λθ  , onde

    λ  é o comprimento de onda e θ  o ângulo de incidência da REM. Uma superfície assim, é chamadaespecular. Quando ocorre o oposto, a superfície é considerada rugosa (Ulaby et al ., 1981). Em outras

     palavras, uma superfície é especular quando ∆h é muito menor que o comprimento de onda (∆h > λ).

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    A maioria das superfícies presentes na Terra, entretanto, não são nem perfeitamente

    especulares, nem perfeitamente difusas. Suas características se encontram, via de regra, numa

     posição intermediária àqueles dois extremos.

    A Figura 3.2 ilustra as características geométricas de refletores especulares, quase-especulares, quase-difusos e difusos. A categoria que caracteriza qualquer superfície é

    determinada pela rugosidade dessa superfície em comparação ao comprimento de onda da

    energia nela incidente.

    Fig. 3.2 - Reflectância especular versus reflectância difusa.

    FONTE: Adaptada de Lillesand e Kiefer (1994), p. 14.

    Por exemplo, para as ondas de rádio, de comprimentos de onda relativamente longos,

    terrenos rochosos podem parecer suaves (especulares ou quase-especulares) à energia

    incidente. Por outro lado, para a faixa do visível, mesmo a areia mais fina se apresenta rugosa

    (difusa ou quase-difusa). Em outras palavras, quando o comprimento de onda da energia

    incidente é muito menor que as variações de altura da superfície, essa superfície é difusa.

    Quando ocorre o contrário, a superfície é especular.

    As reflexões difusas, ao contrário das reflexões especulares, contêm informação

    espectral acerca da “cor” da superfície refletora. Portanto, em SR, as atenções estão quase

    sempre concentradas na medição das propriedades de reflectância difusa dos objetos.

    3.1 - R EFLECTÂNCIA ESPECTRAL DA VEGETAÇÃO, SOLO E ÁGUA 

    As características de reflectância de objetos na superfície terrestre podem ser

    quantificadas, medindo-se a porção de energia incidente que é refletida. Tal medição é feita

    como função do comprimento de onda e é chamada de reflectância espectral  - ρλ.

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    Um gráfico da reflectância espectral de um objeto, em função do comprimento de

    onda, é conhecido como curva de reflectância espectral . A configuração dessa curva

    denota as características espectrais do objeto e exerce forte influência na escolha da região

    espectral na qual os dados de SR deverão ser coletados, visando alguma aplicação em

     particular.

    A experiência tem mostrado que muitas feições de interesse na superfície terrestre

     podem ser identificadas, mapeadas e estudadas, tomando-se por base suas características

    espectrais. A experiência também tem mostrado que algumas feições de interesse não podem

    ser separadas espectralmente. Assim sendo, para uma efetiva utilização dos dados de SR,

    torna-se necessário conhecer e entender as características espectrais das feições sob

    investigação, bem como os fatores que influenciam tais características.

    A Figura 3.3 ilustra curvas de reflectância espectral típicas para as três feições básicas

    encontradas na superfície terrestre: vegetação verde sadia, solo exposto seco e água lacustre

    limpa. As linhas apresentadas no gráfico da Figura 3.3 constituem a média da medição de

    várias amostras e são representativas das três classes consideradas. Embora a reflectância das

    feições, individualmente, varie bastante em torno da média, essas curvas denotam alguns

     pontos fundamentais no que diz respeito à reflectância espectral.

    Por exemplo, curvas de reflectância espectral de vegetação verde sadia quase sempre

    manifestam a configuração de “vales” e “picos” ilustrada na Figura 3.3. Os vales no visível

    decorrem dos pigmentos das folhas. A clorofila, por exemplo, aborve fortemente nos

    comprimentos de onda de 0,45 e 0,67 µm. Dessa forma, o olho humano percebe a vegetação

    sadia como sendo de cor verde, por causa da alta absorção de radiação azul e vermelho,

    aliada à forte reflexão da radiação verde pelas folhas.

    Se uma planta é submetida a alguma forma de estresse que interrompa seu

    crescimento e produtividade normais, isso poderá reduzir ou mesmo cessar a produção de

    clorofila. O resultado imediato será a redução da absorção nas bandas azul e vermelho.

    Freqüentemente, a reflectância do vermelho cresce ao ponto de tornar a coloração da planta

    amarela (combinação de verde e vermelho).

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       R  e   f   l  e  c   t   â

      n  c   i  a   (   %   )

     

    Fig. 3.3 - Curvas típicas de reflectância espectral para vegetação, solo e

    água.

    FONTE: Adaptada de Lillesand e Kiefer (1994), p. 18.

    À medida que se prossegue em direção ao infravermelho próximo, a partir de

    aproximadamente 0,7 µm, a reflectância da vegetação sadia aumenta bastante. Na faixa entre

    0,7 e 1,3 µm, uma folha reflete 40 a 50% da energia incidente sobre ela. A maior parte da

    energia remanescente é transmitida, uma vez que a absorção nessa faixa espectral é mínima

    (menos de 5 %).

    A reflectância das plantas na faixa entre 0,7 e 1,3 µm resulta basicamente da estrutura

    interna das folhas. Pelo fato dessa estrutura sofrer grandes variações de espécie para espécie,

    medições de reflectância nessa faixa possibilitam a discriminação entre diferentes espécies

    vegetais, mesmo que pareçam iguais no visível. Do mesmo modo, várias formas de estresse

    afetam as plantas nessa faixa espectral e sistemas sensores podem ser utilizados para a

    detecção desses fenômenos.

    Após 1,3 µm, a energia incidente na vegetação é essencialmente aborvida ou refletida,

    com pouca ou nenhuma transmissão. Depressões na curva de reflectância espectral ocorrem a

    1,4; 1,9 e 2,7 µm, devido à forte absorção por parte da água nesses comprimentos de onda

    que, por essa razão, são chamados de bandas de absorção d’água. Os picos de reflectância

    ocorrem aproximadamente em 1,6 e 2,2 µm, entre as bandas de absorção. Por toda essa

    faixa, que se estende após 1,3 µm, a reflectância das folhas está aproximadamente

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    Várias condições dos corpos d’água, entretanto, se manifestam, acima de tudo, no

    visível. As interações energia/matéria nessa faixa espectral são muito complexas e dependem

    de inúmeros fatores interrelacionados. A reflectância de um corpo d’água, por exemplo, pode

    se originar da interação com a superfície do corpo d’água (reflexão especular), com material

    suspenso na água, ou com o fundo do corpo d’água. Me