Pressupostos Da Identidade Popular- Aspectos Reflexivos

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Artigo cientifico

Transcript of Pressupostos Da Identidade Popular- Aspectos Reflexivos

  • Revista Simbitica vol. 2, n. 1, jun., 2015

    Revista Simbitica - Universidade Federal do Esprito Santo - Ncleo de Estudos e Pesquisas Indicirias. Departamento de Cincias Sociais - ES - Brasil - [email protected]

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    Pressupostos da identidade popular: aspectos reflexivos

    Supuestos de la identidad popular: aspectos reflexivos

    Assumptions of the folk identity: reflective aspects

    Recebido em 12-09-2014 Aceito para publicao em 16-03-2015

    Moiss dos Santos Viana1 Renata Coppieters Oliveira de Carvalho2

    Resumo: O objetivo deste ensaio refletir sobre aspectos identitrios na cultura popular,

    sob o pressuposto de que tal tema atual e necessrio para compreenso das identidades,

    bem como a sua formao e qualificao como metfora: deixa de ser slida e passa pela

    fragmentao da contemporaneidade. Assim, tendo como mtodo a reflexo em um estilo

    ensastico, observa-se que a identidade popular parece tomar uma compreenso

    momentnea de resistncia em um contexto cultural tpico.

    Palavras-chave: cultura popular; identidade; contemporaneidade.

    1 Mestre em Cultura e Turismo pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Graduado em Jornalismo por Faculdades Integradas Alcntara Machado/Faculdades de Artes Alcntara Machado (FIAM-FAAM). Docente na Universidade do Estado da Bahia (UNEB/ CAMPUS XIV). Grupos de Pesquisa FEL/MEL (UNEB). Bahia, Brasil. Email: [email protected] 2 Doutoranda em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Mestre em Cultura e Turismo (UESC). Docente na Universidade do Estado da Bahia (UNEB/ CAMPUS XVIII). Grupos de Pesquisa - MEL (UNEB). Bahia, Brasil. Email: [email protected]

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    Resumem: El propsito de este ensayo es reflexionar aspectos de la identidad en la cultura

    popular, bajo el supuesto de que un tema tan es actual y es necesario para la comprensin

    de las identidades, as como su formacin y cualificacin como una metfora: ya no slido y

    pasa por la fragmentacin de la sociedad contempornea. Por lo tanto, con el mtodo de la

    reflexin sobre un estilo ensaystico, se observa que la identidad popular parece tener una

    comprensin momentnea de la resistencia en un contexto cultural tpico.

    Palabras claves: cultura popular; identidad; contemporaneidad.

    Abstract: The aim of this assay is to reflect aspects of identity in folk culture, under the

    assumption that theme and need to be current understanding of identities, as well as their

    training and qualification as a metaphor: which is no longer solid and passes by the

    fragmentation of contemporary. So, as a method using reflection in an essayistic style, it is

    noted that folk identity seems to take a momentary understanding of resistance in a typical

    cultural context.

    Keywords: folk culture; identity; contemporaneity.

    1. Introduo

    O grau de integrao dos sujeitos sociais estrutura social e cultural que os cercam define

    sua identidade (Bauman, 2003a). Nessa perspectiva, observa-se o avano da modernidade

    capitalista globalizada sobre os saberes tradicionais, que influenciam no desaparecimento de

    vises de mundo e suas contribuies originais, por no mais se adequarem s necessidades

    da vida moderna ou mesmo por no estarem em consonncia com a lgica de produo

    cultural na atualidade. Tais saberes tradicionais no faz parte das identidades modernas,

    mas encontra-se em situao de contraposio ao mecanismo moderno de produo

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    cultural, pois possuem certas caractersticas pr-modernas: ritualidade, religiosidade e

    festividade (Giddens, 1991).

    Por isso, a questo da cultura popular nas manifestaes especficas como geradora e matriz

    de identidades se torna um evidente problema do tempo hodierno, que para Bosi (2007)

    evidenciado por conta da ordem socioeconmica que contextualiza a histria, formando

    uma noo de identificao, metfora de pertena comunidade, que liga os sujeitos sociais

    produo cultural.

    O objetivo deste ensaio analisar os aspectos identitrios na cultura popular, sob o

    pressuposto de que tais aspectos so compreensveis como metfora: reflexividades. Nesse

    caso, trata-se de um questionamento a respeito do exerccio de reflexo sobre o fenmeno

    da cultura. O mecanismo de autorreflexo parte da cultura e do seu processo de

    identificao, renovao da ideia e dos conceitos sobre identidade (Giddens, 1991).

    A identidade, na contemporaneidade, toma um aspecto peculiar esttico, intersubjetivo,

    interculturalizado, relativo e fragmentado. Parece no haver identidade uniforme,

    determinada, mas identidades perpassadas pelas variaes contextuais, como narrativas

    sobre si e seu estado de vida. Neste contexto Viana (2011. p.176) identifica que: Desse

    modo, a identidade construda historicamente por memrias, smbolos e sempre aponta

    para um determinado agir, descrevendo como o indivduo pode ser e como a comunidade

    deve se constituir estruturalmente.

    Com base nessa prerrogativa, o presente ensaio se divide em duas partes: a primeira

    chamada Reflexividade 01, em que destacamos como a cultura se relaciona na concepo

    das identidades; e Reflexividade 02, em que buscamos compreender como essa mesma

    identidade se conecta produo cultural, entendida como popular em oposio s

    posies hegemnicas capitalistas.

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    2. Reflexividade 01: formao das identidades

    A formao do mito (narrativa) sobre quem sou, fortalecido na tipicidade sociocultural no

    tempo e no espao, alarga-se e toma seu lugar na cultura e, por isso, torna-se uma espcie

    de ligamento entre sujeito e estrutura, constituindo-se enquanto discurso peculiar ao

    contexto social e formador de identidades. Segundo Martino:

    A produo social da identidade na medida em que passa pela definio das

    expresses orais e escritas como forma de medir a relao do ser humano com a

    natureza e consigo mesmo, um dos elementos de ao poltica para delinear a

    prpria construo de sentidos de uma comunidade e, de certa forma, o prprio

    sentido de ser uma comunidade (MARTINO, 2010, p.101).

    Da um universo de smbolos como um todo, com as manifestaes culturais e

    representaes que se expressam muito alm de uma identidade subjetiva (...) um sujeito

    nico e que , ao mesmo tempo, o reconhecimento individual dessa exclusividade. A

    conscincia de minha continuidade em mim mesmo (Brando, 19--, p.327). Entretanto,

    mister fundamentar a impresso acerca da identidade, pois as inter-relaes socioculturais

    acontecem no contexto da sociedade, ou seja, o sujeito se identifica nos sistemas

    construdos a partir de uma dialtica histrica com seu meio. Abordando essa problemtica

    Stuart Hall afirma que:

    Usar o conceito identidade refere-se ao ponto de convergncia, encontro, o ponto

    de sutura entre, por um lado, os discursos e prticas que tentam interpret-los,

    falamos e o pomos em nosso lugar como sujeitos sociais com discursos particulares

    e, por outro lado, os processos que produzem subjetividades, que nos constituem

    como sujeitos susceptveis de dizer-se (HALL, 2003, p. 20. Traduo nossa).

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    Por isso, importante salientar que a identidade constituda no grupo, pertence ao grupo

    e, atravs do sujeito, de forma dialtica, cristaliza-se como elemento que assegura a

    sobrevivncia do ser humano. O Outro determina o reconhecimento do sujeito enquanto

    detentor de uma identidade pessoal. A comunidade funciona como um mecanismo de

    encontro para o autorreconhecimento dos sujeitos membros da sociedade. Os discursos,

    enquanto modos de apresentao subjetiva fazem a ponte na relao identitria, tornando-

    se uma expresso da identidade da comunidade no resto da sociedade, que nesse sentido:

    A identidade, ento, costura (ou, para usar uma metfora mdica sutura) o sujeito

    estrutura. Estabiliza tanto os sujeitos quanto os mundos culturais que eles habitam,

    tornando ambos reciprocamente mais unificados e predizveis (Hall, 2000, p.12).

    Conforme destaca Hall (2000), a identidade na contemporaneidade parece manifestar-se

    sob a fragmentao da ps-modernidade, pois reflete uma realidade sem contexto e sem

    expresses slidas, que garantam uma segurana ao sujeito. Apesar do rompimento de

    barreiras de tempo e espao, que eram determinantes para a permanncia das culturas

    tradicionais e suas identidades, as relaes sociais continuaram com suas interaes e

    reestruturaes de forma fluida, exigindo adaptaes constantes. Bauman (2003a) salienta

    tambm que a identidade reafirmada comunitariamente quando h o temor e o perigo,

    diante das incertezas, portanto, na adversidade ontolgica. Por isso, recorre-se aos

    smbolos, casa metafrica da cultura, ao ethos, enquanto uma construo de sentidos para

    compor a identidade. Segundo Bauman:

    Pensamos a identidade quando no estamos seguros do lugar a que pertencemos;

    dizer, quando no estamos seguros e como nos situamos na evidente variedade

    de estilos e formas de comportamentos e fazer com que as pessoas que nos

    rodeiam aceitem nosso comportamento como correto e apropriado, a fim de que

    todos saibam como atuar na presena do outro. Identidade um nome dado a

    busca de sada dessa insegurana (BAUMAN, 2003a, p.41. Traduo nossa).

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    Assim, a tradio cultural proporciona uma dialtica no processo de identidade dos sujeitos,

    os quais, imersos no contexto da sua comunidade, veem sua realidade se transformar

    drasticamente e com ela as certezas e estruturas de outrora, porto seguro da identidade

    (Bauman, 2003b). Desse modo, o universo das construes dessa identidade tpica da

    contemporaneidade foi-se fragmentando. Em meio a migrao do campo para cidade, por

    exemplo, desraigou os sujeitos que deixaram seu lar e se deslocaram para o ambiente onde

    a tradio cultural rural marginalizada. Tal como seus produtores e usurios, se tornaram:

    (...) estados de conscincia dispersos, fragmentados, em que coexistem elementos

    heterogneos e diversos estratos culturais tomados de universos muito diferentes.

    O folclore mantm certa coeso e resistncia em comunidades indgenas ou zonas

    rurais, em espaos urbanos de marginalidade extrema, mas mesmo ali cresce a

    reivindicao de educao formal. A cultura tradicional se encontra exposta a uma

    interao crescente com a informao, a comunicao e os entretenimentos

    produzidos industrial e maciamente (GARCIA CANCLINI, 2000, p.253).

    Esse contraste da periferia, a fronteira do campo pr-moderno, com a cidade moderna,

    causa perplexidade e uma marginalidade instabilizadora (Trigueiro, 2007). Na perspectiva de

    Giddens (1991), o pr-moderno apresenta caractersticas especficas que foram esquecidas,

    rompidas e negadas na modernidade, tais como as relaes de parentesco, a comunidade

    local, as cosmologias, e a tradio. O socilogo destaca que as relaes de parentesco e de

    valores familiares, marcam a estabilidade diante do caos da natureza e do mundo dos

    homens. Por sua vez, tambm a comunidade local onde as relaes macrossociais so

    construdas, indo alm do cl, mas dentro de uma perspectiva comunitria localizada e

    pontual, pois, apesar de no local haver segurana e cobranas, ainda existiam formas de

    proteo para os sujeitos da localidade.

    Para o pensador ingls, outra caracterstica que diferencia o moderno do pr-moderno so

    as vises cosmognicas religiosas. Ou seja, as crenas, que proporcionam moralmente

    coordenadas para as prticas sociais e pessoais, direcionando os efeitos de sentido sobre o

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    mundo e a natureza (ideologia), representa uma segurana para o fiel: E o que mais

    importante, as crenas religiosas tipicamente injetam fidedignidade na vivncia de eventos e

    situaes e formam uma estrutura atravs da qual eles podem ser explicados e respondidos

    (Idem, p.94). Por fim, outra dimenso da pr-modernidade a tradio, que no se

    assemelha religio enquanto corpo especfico, mas est direcionada para a composio

    tempo-espao, pois orienta o presente e o futuro a partir do passado. Em outras palavras, o

    passado posto como rotina nas atividades praticadas e intrinsecamente vividas pelos

    sujeitos. Essas prticas no so meras repeties, trazem em si elementos significativos e

    interpretativos da realidade, tornam-se um ritual, o qual:

    (...) tem freqentemente um aspecto compulsivo, mas ele tambm

    profundamente reconfortante, pois impregna um conjunto dado de prticas com

    uma qualidade sacramental. A tradio, em suma, contribui de maneira bsica para

    a segurana ontolgica na medida em que mantm a confiana na continuidade do

    passado, presente e futuro, e vincula esta confiana a prticas sociais rotinizadas

    (GIDDENS, 1991, p.95).

    Giddens (1991), analisando o contexto moderno, identifica que h um desequilbrio nas

    relaes espao-tempo na modernidade. Aquilo que recebia o nome de lugar no mais

    reconhecido enquanto prtica de vivncia, pois no o local da origem dos sujeitos que a

    moram. Os sentimentos de pertena e identificao esto desencontrados e a comunidade

    no mais apresentam as fortes relaes das condies de parentesco. A comunidade no

    mais a famlia, as pessoas que se relacionam no mais tm ligaes ntimas, fato que

    desarticula as identidades. As tradies rompidas e o passado no mais direcionam o

    presente e o futuro na constituio do sujeito. Advm da uma instabilidade e insegurana.

    No h mais a estabilidade, a confiana no outro, mas sim a ameaa que se faz no tempo e

    no espao (Giddens, 1991).

    Desse modo, o discurso de pertena e seus smbolos so ressignificados dialeticamente de

    forma que novas identidades sejam (re)construdas com relao s aes de liquidez da

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    contemporaneidade, as quais se impe sobre a comunidade que constantemente nega e

    afirma os grupos que nela esto inseridos, desenvolvendo um aspecto de insegurana, que

    ameaa a vida e a integrao do sujeito estrutura (Bauman, 2003b). O reconhecimento de

    si no semelhante tora-se o porto seguro diante das dificuldades contemporneas. Segundo o

    estudioso:

    Como observou recentemente Eric Hobsbawm, a palavra comunidade nunca foi

    utilizada de modo mais indiscriminado e vazio do que nas dcadas em que as

    comunidades no sentido sociolgico passaram a ser difceis de encontrar na vida

    real; e comentou que homens e mulheres procuram por grupos a que poderiam

    pertencer, com certeza e para sempre, num mundo em que tudo se move e se

    desloca, em que nada certo (BAUMAN, 2003b, p.20).

    Assim como a cultura funciona como uma espcie de proteo do Homem, numa

    perspectiva de sobrevivncia diante das ameaas da natureza, a comunidade tambm

    protege o indivduo dos diversos problemas e ameaas sociais que possam desintegrar o que

    j est fragilizado. A mutao do tempo das estruturas sociais, simblicas e referenciais

    causa perplexidade e medo. No entanto, a cultura em seu vis aconchegante e seguro, de

    maneira geral, e a cultura popular, de forma mais especfica, apontam para uma

    reflexividade (a prpria cultura), a narrao sobre si e sobre o mundo, resgatando novas

    perspectivas de sobrevivncia e de resposta os anseios identitrios.

    3. Reflexividade 02: cultura popular

    As identidades (re)construdas dialeticamente entre o sujeito e a comunidade fazem-se

    presentes sob a perspectiva da cultura. Da as grandes teorias em diversas reas do

    conhecimento, que tentam explicar o conceito de cultura. Dentre todas, optamos por

    trabalhar a partir do conceito antropolgico de Clifford Geertz (1989), que afirma que a

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    cultura seria como uma teia construda pela humanidade, um mecanismo de inter-relaes

    textuais que prendem e que devem ser interpretadas como tal. No seu entendimento:

    (...) o homem um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu,

    assumo a cultura como sendo essas teias e a sua anlise; portanto no como uma

    cincia experimental em busca de leis, mas uma cincia interpretativa procura de

    significado (GEERTZ, 1989, p.15).

    Para entender a cultura, podemos elencar e selecionar informaes, transcrever textos,

    interpret-los enquanto esquemas de estruturas e significantes, exatamente como reafirma

    o referido autor, como conjunto sistemtico de signos interpretveis, que se expressam

    atravs de smbolos a serem lidos sob vrios olhares. Do ponto de vista de Drawin:

    Cultura um sistema transmitido socialmente (aprendizagem) capaz de prover

    a adaptao e a assimilao do Homem ao meio ambiente e de interpret-lo

    (Natureza) que se desdobra nas dimenses material (tcnica) e simblica

    (linguagem). A cultura possui uma funo significante, constitui redes simblicas

    que, do ponto de vista normativo cria padres de comportamento e do ponto de

    vista cognitivo cria um conjunto de crenas e representaes que possibilitam a

    compreenso e justificao da experincia humana (ethos/mytos). Estas redes,

    simblicas incluem a prpria cultura (reflexividade), se inscrevem

    inconscientemente nos indivduos e comunidades e transformam historicamente3.

    Desse modo, possvel concordar com o antroplogo quando esse diz que cultura significa

    apoiar amplas afirmativas sobre o papel da cultura na construo da vida coletiva,

    empenhando-as exatamente em especificaes complexas (Geertz, 1989, p.38). A

    complexidade emerge da necessidade humana e nela se faz presente, nutrindo a resposta

    3 DRAWIN, Carlos Roberto. O conceito de cultura. In: Antropologia Filosfica I. Bacharelado em Filosofia ISI-FAJE, Belo Horizonte, Minas Gerais, 2006 (Notas de aula no publicadas).

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    que temos sobre a cultura e sobre as inter-relaes entre o sujeito e o contexto em que ele

    vive, formando um discurso, que na verdade no dele, mas da comunidade onde ele est

    inserido. Assim que cada sociedade tece a teia da cultura em que viver, no pode mais

    viver sem ela, pois elas transformam-se em: (...) sistemas de significados criados

    historicamente em termos dos quais damos forma, ordem, objetivo e direo nossa vida

    (Geertz, 1989, p. 64). Por isso, o processo cultural seria ento dialtico, histrico e varivel

    em diversos aspectos contextuais. Para cada tempo e espao, tem-se um modelo especifico

    de cultura, um modelo antropolgico a ser seguido, que vai de encontro concepo

    moderna de cultura, matematicamente determinada e conceitualmente ocidental. Hall

    (2005) destaca a universalidade da cultura na vida das pessoas e na sociedade - desde as

    atividades mais cotidianas at as mais complexas atividades humanas -, universalidade que

    est em conflito, por representar uma relao de contrates, que se inscreve nas

    transformaes postas pela modernidade e pelo capitalismo. Nesse sentido:

    Elas mostram uma curiosa nostalgia em relao a uma comunidade imaginada, na

    verdade, uma nostalgia das culturas vividas de importantes locais que foram

    profundamente transformadas, seno totalmente destrudas pela mudana

    econmica e pelo declnio industrial (HALL, 2005, p.1).

    A partir daqui podemos considerar a perspectiva de que que existem diversas culturas,

    inclusive na sociedade brasileira - com suas peculiaridades e especificidades dspares, ricas -

    abrangente e contraditria em seu aspecto dialtico. No entanto, essa variao se contrasta

    com o repetido, o mesmo, o material e historicamente determinado. A cultura, dessa forma,

    insere-se numa perspectiva de condies de produo determinadas e, assim, toma um

    escopo prprio, a partir do qual produzida e vivenciada.

    Na perspectiva de Bosi (2007, p.19), existem duas culturas em dilogo na comunidade

    ocidental moderna: uma aquela idealizada atravs da erudio; a outra a que se vive na

    realidade. Empobrecedora para a nossa cultura ciso com a cultura do povo: no

    enxergamos que ela nos d agora lies de resistncia como nos mais duros momentos da

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    histria da luta de classes (Bosi, 2007, p.28). As perspectivas referentes ao ponto de vista

    da cultura popular emergem junto cultura erudita a partir do sculo XVI, com a ascenso

    do conhecimento instrumentalizado e dicotomizado pela cincia moderna. Foi a partir do

    sculo XVI, com a cincia moderna, que houve o rompimento com o modo de explicar o

    mundo por meio das narrativas mticas. A matemtica se fortaleceu ao mostrar-se como

    resposta nica e verdadeira (metafsica do mundo). Tal paradigma inspirou uma separao

    entre mundo ideal (matemtico) e o mundo natural e transitrio (emprico).

    A cultura popular (dinmica, orgnica e expressiva) surge paralela cultura erudita (modelos

    rgidos e matematicamente construdos para ordenar o mundo), produzindo, para alm de

    suas contradies, uma produo de sentidos e de conhecimentos situados. Garcia Canclini

    (2000) destaca que a cultura popular est imersa na tradio pr-moderna, mas presente na

    contemporaneidade. Ele identifica que a mesma se apresenta sob trs aspectos

    estruturantes de formao e causa: a populao no absorve a produo cultural urbana; os

    meios massivos de comunicao so oxigenados pela cultura popular, a qual negada e

    aproveitada como bem simblico a ser reelaborado e depois consumido pelas classes no

    integradas elite e sua cultura (legitimadora poltica dos processos de dominao de classe);

    a dinmica vital dos processos de construo, apresentao, retroalimentao da cultura

    popular. Todavia, ainda segundo Canclini:

    (...) com frequncia, sobretudo nas novas geraes, os cruzamentos culturais que

    vinham descrevendo incluem uma reestruturao radical dos vnculos entre o

    tradicional e o moderno, o popular e o culto, o local e o estrangeiro (GARCIA

    CANCLINI, 2000, p.241).

    Isso acontece em virtude do fato de a cultura popular se apresentar enquanto vivncia

    emotiva, mutante, integral, cujas partes no se desvinculam do todo. Ela gerada a partir

    das narrativas identitrias, que celebram o passado glorioso, em que a memria, no campo

    psicolgico, cria valores de alegria, bondade e celebrao (Viana; Mesquita Filho, 2012). A

    cultura popular desproporcional s formas rgidas da intelectualidade ocidental cartesiana

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    que fragmenta e logo depois sintetiza (induo e deduo), limitando todo tipo de anlise

    racional ao lgico-matemtico-fsico. Ento, a compreenso da educao se limita a esse

    processo moderno, indo de encontro ao saber amplo das comunidades que no se inserem

    completamente nesse modelo gnosiolgico4. Neste sentido, Bosi (2007, p.79) identifica que

    (...) o folclore consiste em uma educao informal, a qual se d ao lado da sistemtica,

    uma educao que orienta e revigora comportamentos, faz participar de crenas e valores,

    perpetua um universo simblico.

    Folclore, na perspectiva de Ayala e Ayala (2006), sinnimo de cultura popular. Alguns

    autores destacam que tais manifestaes culturais esto num processo dialtico de

    transformao, ou seja, ora se tornam uma reorganizao de algumas determinaes

    culturais vigentes, ora so usadas como forma de enfrentamento aos padres estabelecidos

    pela cultura dominante urbana e moderna. Tais manifestaes culturais determinam, ento,

    o carter popular, observando como a produo dessa cultura tipificada pelas condies

    sociais e econmicas de sua produo: As prticas culturais s se mantm, desaparecem ou

    se modificam medida que os homens, vivendo sob certas condies econmicas e sociais,

    realizam ou deixam de realizar aquelas prticas (Ayala; Ayala, 2006, p.33).

    As manifestaes de muitos destes grupos, inseridos em uma perspectiva marginal, tornam-

    se culturas de resistncia: Entre os ltimos, esto as camadas populares urbanas e rurais e

    as comunidades indgenas (Ayala; Ayala, 2006, p.41). Assim sendo, aps a contextualizao,

    pode-se apresentar uma definio para Cultura Popular, enquanto:

    (...) criada pelo povo e apoiada numa concepo do mundo toda especfica e na

    tradio, mas em permanente reelaborao mediante a reduo ao seu contexto

    das contribuies da cultura erudita, porm, mantendo sua identidade (XIDIEH

    apud AYALA; AYALA, 2006, p.41).

    4 A Gnosiologia parte da filosofia que se preocupar com problema de apreenso do conhecimento e como ele se d no ser humano.

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    Assim, a produo da cultura popular no est desvinculada dos processos de contradio

    histricos, antagnicos e dinmicos. Historicamente, a cultura popular parece refletir a

    determinao das lutas de classes populares. Desse modo, pode-se perguntar: quem so os

    produtores dessa cultura e quais so suas articulaes, realizaes e prticas? Importa ainda

    destacar os sentidos construdos por tais sujeitos, os quais no esto isolados, pelo

    contrrio, esto construindo sua identidade em meio ao contexto social de valores, critrios

    e manifestaes, que se do em meio aos elementos materiais populares, excludos e

    marginalizados (Ayala; Ayala, 2006).

    A cultura popular criada s margens dos processos hegemnicos do capital, tambm pode

    ser legitimadora das estruturas de poder, medida que tomada pela ideologia dominante

    e, muitas vezes, usada por esta para confirmao do status quo e negao das

    contradies, pois, mesmo funcionando como embate e subsdio para resistncia, tambm

    pode ser cooptada enquanto uma forma de cooperao, alimentando as forma de

    dominao das classes dominantes, e, tudo isso, numa circularidade dinmica. Todavia, em

    seus contornos, ela pode se transformar em uma forma de sobrevivncia contida e circular

    em jogos, estratgias e tticas de sobrevivncia. justamente nesse sentido que se

    contextualiza a identificao de Certeau ao identificar que:

    A distino estabelecida por Michel de Certeau entre estratgias e tticas constitui

    um recurso precioso para se pensar esta tenso (e evitar a oscilao entre as

    abordagens que insistem no carter dependente da cultura popular e aquelas que

    exaltam sua autonomia). As estratgias supem a existncia de lugares e

    instituies, produzem objetos, normas e modelos, acumulam e capitalizam. As

    tticas, desprovidas de lugar prprio e de domnio do tempo, so modos de fazer

    ou, melhor dito, de fazer com (CHARTIER, 1995, p.7).

    As estratgias e tticas para uma produo popular, que serve como mecanismo de

    sobrevivncia, no longe de serem conflituosas, s vezes apresentam-se de forma evidente,

    outras vezes de maneira opaca, e muitas outras vezes ainda de forma invisvel. Tais

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    estratgias e tticas tambm tm se revelado enquanto fontes criativas e teis, uma vez

    que, em seus interstcios, seus poderes de resistncia se manifestam para alm das capturas

    da cultura popular e para alm dos contextos de reproduo da produo capitalista. A

    partir dessas percepes Duarte afirma que:

    A reciprocidade existente dentro desses dois conceitos no anula suas

    peculiaridades, ao contrrio, as evidenciam sem a necessidade de subestim-las ou

    reduzi-las a um s ponto de vista. Interessante e perceber que diferenas existem,

    se cruzam e podem resultar em benefcios mtuos (DUARTE, 2008, p.9).

    Desse modo, mais uma vez, Certeau (1998) esclarecedor ao identificar que: (...) a Cultura

    Popular no um corpo considerado estranho, estraalhado a fim de ser exposto, tratado e

    citado por um sistema que reproduz, com os objetos, a situao que impe aos vivos (1998,

    p.89). Ela, ento, est em processo de inter-relao com as camadas de classes

    erudita/dominante, popular/subalterna, com fronteiras no perceptveis. Em outras

    palavras:

    (...) cultura de um lado aquilo que permanece; do outro aquilo que se inventa.

    H por um lado, as lentides, as latncias, os atrasos que acumulam na espessura

    das mentalidades, certezas e ritualizaes sociais, via opaca, inflexvel, dissimulada

    nos gestos cotidianos, ao mesmo tempo os mais atuais e milenares. Por outro lado,

    as irrupes, os desvios, todas essas margens de uma inventividade de onde as

    geraes futuras extrairo sucessivamente sua cultura erudita (CERTEAU, 1998,

    p.239).

    Apesar de a passagem afirmar que as ditas culturas opostas influenciam-se mtua e

    constantemente o popular e o erudito constituem uma circularidade , Chartier (1995)

    destaca que, ao compreendermos o conceito de cultura popular enquanto elemento de

    contradio histrica, corremos o risco de neutralizar as diferenas, por identificarmos, a

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    partir da, uma equivalncia de valores, inevitavelmente equivocada. Em outras palavras:

    Adotar tal perspectiva significaria esquecer que tanto os bens simblicos como as prticas

    culturais continuam sendo objeto de lutas sociais onde esto em jogo sua classificao,

    hierarquizao, consagrao (Chartier, 1995, p.184), ou, ao contrrio, sua desqualificao.

    Neste sentido, a compreenso dos contextos das culturas populares dever estar situada:

    (...) neste espao de enfrentamentos as relaes que unem dois conjuntos de

    dispositivos: de um lado, os mecanismos da dominao simblica, cujo objetivo

    tornar aceitveis, pelos prprios dominados, as representaes e os modos de

    consumo que, precisamente, qualificam [ou antes desqualificam] sua cultura como

    inferior e ilegtima, e, de outro lado, as lgicas especficas em funcionamento nos

    usos e nos modos de apropriao do que imposto (CHARTIER, 1995, p.184-5).

    Com este entendimento, a dinmica da cultura popular deve ser contextualizada em suas

    manifestaes para que seja possvel compreender seus diversos significados. Afinal, ela no

    se estabiliza num passado negado pela modernidade e socialmente marginal. Pelo contrrio,

    constri-se paralelamente ao moderno, dialogando com diversas temporalidades. Conforme

    acentua Garcia Canclini (2000), tal processo centrpeto, isto , o excludo se expressa de

    forma a evidenciar e apresentar seu pensamento, seu modo de vida, seu valor de identidade

    na sociedade que exclui, marginaliza e destri as identidades formadas historicamente.

    Segundo ele:

    O popular nessa histria o excludo: aqueles que no tm patrimnio ou no

    conseguem que ele seja reconhecido e conservado; os artesos que no chegam a

    ser artistas, a individualizar-se, nem a participar do mercado de bens simblicos

    legtimos; os espectadores dos meios massivos que ficam de fora das

    universidades e dos museus, incapazes de ler e olhar a alta cultura porque

    desconhecem a histria dos saberes e estilos (GARCIA CANCLINI, 2000, p.205).

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    Assim sendo, diante das caractersticas expostas acima, as manifestaes culturais

    expressivas apresentam-se como forma de construo e reconstruo de identidade.

    Portanto, mister salientar suas potencialidades enquanto manifestaes culturais humanas

    elementares, pois atravs delas que percebemos o mundo, transformando-o.

    4. Consideraes finais

    A definio de identidade, que pode ser feita sob diversas perspectivas, necessita de

    parmetros reflexivos fundamentais, para analis-la no s como conceito formal pensado

    por diversas cincias da humanidade, mas tambm enquanto construo contextual e

    mediadora da cultura popular.

    A identidade do ponto de vista scio-antropolgico um amalgama de relaes que passa

    pela anlise reflexiva da contemporaneidade, que de alguma maneira representa uma crise

    de definies, ou seja, crises identitrias. Dizer o que somos tambm dizer o que

    fomos, j que estamos situados diante da impossibilidade de compreender o que

    seremos, haja vista a instabilidade com que o tempo presente se mostra. Nesse sentido, a

    cultura popular pode ser compreendida como uma construo aberta e flexvel, cujas

    interfaces esto situadas em contextos culturais particularizados e sujeitos formas e

    elementos de diferenciao.

    Com base nesse entendimento e diante de uma produo progressiva de um popular

    massivo do popular capturado enquanto mercadoria , as culturas populares, em seus

    movimentos de resistncia, destacam-se enquanto metforas, isto , alternativas de

    resistncia frente s dinmicas mercadolgicas.

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