PREÇOS. N. 315.ANNO. CORTE.PROVÍNCIA....

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t^^L^wv i T-^sf=ss^^v3S^^_^^K^s0alPI^__w* "*'*- v3c $&J fwW m Jffi y IIV^^^^^flR9SSa0^9 I casti qa ti W%íié^_Wyé^Ê_áS_^_iJÈ m Os senhores, que nos quizerem honrar com artigos e desenhos,terãp a bondade de remettél- ds em carta fechada, áredaccão da SEMANA ILLUSTRADA, no Imperial Instituto Artis- tico, iargo de S. Francisco de Paula n. 16, onde tambem se assigna. SÉTIMO ANNO. N. 315. PUBLICA-SE TODOS OS DOMINGOS. PREÇOS. CORTE.PROVÍNCIA. Trimestre. . 5$000 Semestre . . 9$0Ó0 Anno .... 16^000 Trimestre. ... '. 6SO0O Semestre .... 11§000 Anno18Ç000 Avulso 500 rs. ~'' ti ___M______P-:' ___m f á______f ^ ______________*u__WÍ_Íi%i^Z______<fíf-- ^*V^<Ià9_r4__ [t^ssaad ^^^^^^^^BMBHB_-SÍ6lB-S____Í5í^^ ,^^___it"" ^ "^*"B____r""'" ²Ah! que regalo ! Não se pôde passar sem banho nesta estação. Ha falta d'agua, moleque? A_ ²A agua para beber é difficil, para banhos impossivela quem não tiver mil réis pop dia so para se lavar, ou então commodidades, que não ha na casa do pobre. ²Ma? podia haver banhos publicos. Tiverão-os os Romanos, e os Árabes na Hespanha.... ²Mas nisso nao somos nós Romanos, nem Árabes, posto que sejamos das arábias. ²You pedil-os á Illma. Câmara. Banhos publicos e grátis.

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IIV^^^^^flR9SSa0^9 I casti qa ti W%íié^_Wyé^Ê_áS_^_iJÈ m

Os senhores, que nos quizerem honrar comartigos e desenhos,terãp a bondade de remettél-ds em carta fechada, áredaccão da SEMANAILLUSTRADA, no Imperial Instituto Artis-tico, iargo de S. Francisco de Paula n. 16,onde tambem se assigna.

SÉTIMO ANNO.

N. 315.PUBLICA-SE

TODOS OS DOMINGOS.

PREÇOS.CORTE. PROVÍNCIA.

Trimestre. . 5$000Semestre . . 9$0Ó0Anno .... 16^000

Trimestre. ... '. 6SO0OSemestre .... 11§000Anno 18Ç000

Avulso 500 rs.

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Ah! que regalo ! Não se pôde passar sem banho nesta estação. Ha falta d'agua, moleque? _A agua para beber é difficil, para banhos impossivel a quem não tiver mil réis pop dia so para se lavar, ou então

commodidades, que não ha na casa do pobre.Ma? podia haver banhos publicos. Tiverão-os os Romanos, e os Árabes na Hespanha....Mas nisso nao somos nós Romanos, nem Árabes, posto que sejamos das arábias.You pedil-os á Illma. Câmara. Banhos publicos e grátis.

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2514 SEMANA ILLUSTRADA.

SEMANA ILLÜSTEAM

Rio, 23 de Dezembro de 1866.

Carros e carretas.

Quem não conhece a antiga phrase portugueza — dei-xarpassar carros e carretas?

E' o que vou íazer hoje.Novidades da Semana é um titulo já tão conhecido

dos meus leitores, e exprime, ás vezes, tanta cousa velhaque resolvi atiral-as para um canto e offerecer cousa demais fino quilate áquelles, que tem, até hoje, protegidoo meu interessante jornal.

Pontos e vírgulas já tambem mostrão alguns cabelli-nhos brancos, e com medo que venhão a tornar-se deadmiração e reticências, apartei-os para outras occa-siões em que tivessem cabimento em escriptos, que peçãomais virgulação.

Assim, portanto, não se espantarão os meus leitorespor encontrarem hoje carros e carretas.

Ir pelo caminho das carretas é um annexim, acceitopor todos os clássicos, e significa—seguir o fio da gente,fazer como os mais fazem, navegar pelos rumos do povo.E o que mais faz o meu interessante e espirituosojornalzinho ?

Acharáõ, pois, muita razão no titulo que hoje dou ásrevistas da Semana. Seja elle comprehendido e aprecia-do por todos os que me procurão e a minha vaidade dejornalista ficará satisfeita.

Para cavaco, tenho dito.

Fechou-se a Exposição Nacional.Não pôde passar desapercebido o encerramento da

festa brasileira da industria e da agricultura.Lá estiverão os Imperantes e Seus Filhos, a corte e

as pessoas mais distinctas desta capital.Quando qualquer povo civilisado vê abrirem-se as

portas do Palácio de uma exposição, onde vão todos des-putar as glorias, que, por ventura, merecem os traba-

; lhos, a que se entregão, exulta de prazer, porque essecertame é de vantagem civilisadora para o adiantamen-vO &cl pcluVlâ.

Ahi está o exemplo vivo e palpitante na Exposição,que acaba de encerrar-se.

Reconhecerão todos o grande progresso em que vai oBrasil nos seus diversos ramos ; e ninguém poderá fallarnessa Exposição sem encher-se de orgulho, porque dei-

, xará ella, em todos os espirites, uma doce recordação

dessa festa nacional, que servirá de estimulo para osdescrentes, que, como S. Thomé, desejão primeiramentever realisadas as grandes idéas e verificadas as promes-sas, que fazem áquelles que encarão o engrandecimentõdo paiz como a mais bella aspiração de todos os povosmodernos.

A Exposição Nacional, como já tivemos occasião dedizer, foi digna do Império do Cruzeiro, e não é possiveldeixar de dirigir palavras de agradecimento ao Alto Pro-tector, Que a Presidio, e aos distinctos cavalheiros quetanto contribuirão para o seu brilhantismo e aformosea-mento. Um voto de admiração a todos os expositores.Um parabém de coração aos 52,000 visitantes, que pro-curarão animar esse grande torneio, em que desputavãoos bymnos da victoria, a intelligencia, o bom gosto otrabalho e a perseverança. °

'Festas destas sempre são merecedoras dos eloo-ios daminha penna. b

Não se pôde, hoje, negar que a marinha brasileiraestá se tornando imponente e magestosa, digna do res-peito dos povos estrangeiros.

O conselheiro Pinto Lima, que tão habilmente dirigioo respectivo ministério, foi o primeiro que levantou ogrito para o engrandecimentõ da nossa esquadra. O con-selheiro Silveira Lobo, e actualmente o joven e pátrio-tico ministro, seguirão a esteira luminosa, deixada naságuas brasileiras pelo distincto bahiano.

Seis novos encouraçados irão, dentro em pouco tempo,juntar-se aos outros, que sulcão as águas do Paraguay.

Deus os proteja e torne invulneráveis essas machinasde guerra.

Póde-se, agora, dizer, erguendo a cabeça com altivez:le monde marche.

Durante a semana, que hoje finda, um dos factos, quemais occupou a attenção publica, foi o encerramento daAssembléa Legislativa Provincial do Rio de Janeiro.

Até agora, não tenho querido apresentar >i minhaopinião franca e desinteressada a respeito da vereda queseguio a muito honrada salinha ; mas dizem-me que de-sejão conhecer o meu modo de pensar, e, por isso, vejo-me forçado a dizer alguma cousa para não passar porexquisito.

Eis o que penso a respeito de tudo o que se passou:Dkfmbdjv ugrt sbrzkuqac cxfndju er bfmcztikr, ok-

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SEMANA ILLUSTRADA. 2515

Ouvi tocar, hoDtem, uma linda polka do Sr. JoaquimGonçalves Flores Horta, intitulada: Capengando entraem fôrma.

E' uma bella composição, que honra o joven artista.Continue elle a mostrar talento e terá sempre os meuselogios.

A mão da fatalidade pezou, esta semana, sobre as ta.boas de um dos mais sympathicos theatros do Rio deJaneiro.

A morte — Protheu horroroso— que, para buscar asvictimas,. reveste-se dé tantos sudarios, acaba de trans-formar-se em destruidoras chammas para envolver, emseus braços de extermínio, uma pobre artista e arreba-tal-a para o mundo das sombras e da immortalidade.

Infeliz Chatenay ! Acabaste na primavera da existen-cia, quando a vida aindo te promettia tantas scenas etantos episódios para o coração de vinte e quatro annos!Mal tinhas desabroxado nas matas dos prazeres da ju-ven tu de, tombas te na haste e cahiste carbonisada pelaqueimada, que devora os mais rijos troncos seculares!Quem sabe se não estás gozando mais delicias no Em-pyrio, para onde subiste, metamorphoseada em uma coltimna de espirito, do que neste mundo torpe, e cheio deafflicções, onde te vias exposta aos juizos parciaes e pir-racentos de uma platéa caprichosa, para ganhares oalimento de tua velha mãi e de teus innocentes e tenrosfilhinhos ?!

Morreste, pobre menina, em cima do palco, no thro-no das tuas glorias, envolta nas cinzas das gazes trans-parentes da sylpbide, que imitavas na arte ! Possa o teutriste exemplo lembrar ás tuas companheiras que a arteofferece coroas de triumpho, que encobrem espinhos, queas devem fazer tremer.

Adeus, Chatenay! Descansa o martyrisado corpo noleito do cemitério, e esvoaça, ligeira e subtil, entre osespíritos, que procuraste....Se commetteste peccados em tua curta vida (e quemos não commette?), o martyrio, em que morreste, serábastante para que tua alma suba purificada e angélicaá presença do Supremo Julgador da humanidade.

Bose, elle a vecue ce que vivent les roses,L'espace d'un matin.

0 reclamo da pátria não tem encontrado surdez entreos filhos do Janeiro.

Entre as diversas províncias do Império, a briosa epatriótica província do Rio de Janeiro, o enthusiasta edistincto Município Neutro, derão e continuão a darexuberantes proyas de que sabem presar, no mais altográo. os fóros da livre e independente nação brasileira.

Quantos bravos fluminenses não têm ido, de espingar-d» em punho, regar com seu sangue as estéreis campi-

nas do Paraguay, para .livrar o solo brasileiro das ou-sadastentativas do déspota da Assumpção ?

E' justo, portanto, que esses cidadãos beneméritos re-cebão um prêmio pelos relevantes serviços que prestão ápátria.

O cofre das graças acaba de abrir-se para os fluminen-ses, e todos os que forão verdadeiros patriotas encontra-ráõ nelle uma remuneração justa e animadora.

O Imperador, Galârdoando os Seus subditos, Mostraaos outros Povos que o exemplo de patriotismo devepartir da Cúpula social.

Viva o Imperador !Vivão os bons e verdadeiros patriotas do Brasil!

Morreu, em terras da Allemanha, um dos descendeu-tes da casa Bragantina.

D. Miguel de Bourbon,o filho de reis portuguezes,ex-pitou longe da pátria e daquelles que ainda hoje lhe vo-tavão amor e dedicação.

Não me é dado, como estrangeiro, tratar dos direitosque legou a seus filhos na dymnastia do throno portu-guez.

Como brasileiro,cabe-me apenas lamentar a morte dessepríncipe desventurado, que era Tio do Chefe da nação.

Seja-lhe leve a terra estrangeira, onde encontrou des-canso.

E não morreu Napoleão.Os novelleiros da meia-noite, aproveitando a chega-

da do paquete de Liverpool, espalharão a morte do Car-los Magno deste século.

Felizmente, para todos os Povos,Luiz Napoleão aindanão foi deitar-se, nos Inválidos, ao Ldo de seu tio.

Não pensem os meus leitores, porém, que pretendealguma cousa desse Bltonaparte quem só tem o costumede admirar os grandes vultos e de assignar-se, comosempre, simples e singelamente, o

Dr. Semana.

Moxinifadas.

Houve um dia um philosopho, que escreveu as se-guintes máximas, e morreu depois. Nada mais se lheencontrou entre os papeis:

I. Quando chove, as ruas ficão molhadas.II. Quem não comer vinte e quatro horas deve ter

fome por força.III. .0 sahio, que só conhecer-a lingua pátria, não

pôde entender as línguas estrangeiras.IV. Na humanidade, ha homens e mulheres; os ho-

mem são homens e as mulheres são mulheres.

^

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LA MODE.Religion á part, si Ia famille tout entière est à Ia Benoiton, que deyiendra là peopeiété?

Sou moço; deponho a seus pés muito amor, e dizem aue algum — Se continuas a gritar, Arthur, o Sr. Maia lova"*^a^ „u mod0talento. A vida é fácil para os que pouco desejão. Dou-lhe o" mea co- — E' para isso que me chamou ?1 Pois.minha senno">" "L , des.ração. de vida não é carregar crianças, é carregar fardos, (apane) v.""' _.Sou rico....dou-lhe os meus milhões.Em que peusa D. Anninhas? tes será mais pesado ....ao dono da casa?Na fôrma de addicionarosseus milhões ao coração....do outro.

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s». ;va?tt ^í..^ 7-iA.-w;|BÍK Jf- 4X %-^^Br\ :Mátí$fc? Vhr ~ '• - ' ¦' *~-, iBWfifci^'?

Com bom tempoA escola de marinha.

e Com máo tempo."¦—yy-th u. ;'.,—?—;—¦ rir. "vir—fh ^r

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^^ -'- ¦* -' *' :",**-íí«^Wjfl!fí<l{.ll lLUMkMaant^.*A ~~l-*taBBj^^^^A '^SI^mJÉBBBBB»SÍ5^C '¦¦ 'SBBí^ ""*¦*

O commendador Mathias Roxo e seus filhos Augusto e Frederico, fazem de seus escravos cidadãos edos cidadãos soldados. . ,r\ , < f\O coração do Imperador e a voz da pátria, os apontão como exemplo a seguir. \J v; -yyy •

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2518 SEMANA ILLUSTRADA.

V. Quem dá corda no seu relógio é porque deseja vel-otrabalhando.

VI. A lagrima brota dos olhos como a saliva doslábios.

Depois de bons cincoenta annosVer o demo Jonio quer,Olha pva porta do quarto,E app ce-lhe a mulher.

Conversavão dous médicos a respeito de um doenteem estado grave e melindroso.

Creio, collega, que perco o meu doente Vieira;soffre de mal, que não tem cura.

E' triste, porque, nesse caso, perdes essa freguezia-

Annuncio encontrado em um jornal desta corte :" Aluga-se um lindo pardo de 22 annos, robusto e de

bella presença, próprio para ser mandado como substi-tuto para o exercito. Dirijão-se em carta fechada a estatypographia, com as iniciaes Y. Z. "

Cada qual procurava mostrar mais espirito e fazermaior numero de trocadilhos.

Infelizmente o Visconde do Trocadilho não se achavapresente.

Passou um grupo de moças a Benoiton.Sabes o motivo porque todos os cabellos das nos-

sas rigoristas se achão doentes ?Não.Nem eu, e, no entanto, andão de rede pelas ruas.

A resposta foi uma apupada.

Myosotis.

LENDA

EM UMA LAPIDA.

Aqui jaz um bom esposo,Que me deu muita pancada,P'ra não mais erguer o braçoSeja-lhe a terra pesada.

Perguntarão, um dia, a Luiz de Camões se encontrouoitavas difticeis de escrever, apezar do seu grande estropoético.— Encontrei, as de ouro, que nunca pude rithmal-asna minha algibeira.

ADVINHAÇAO.

Domingo, forão á missaDuas mais e duas filhas,Formando só tres pessoas,Cobertas com tres mantilhas.

Quem são essas tres pessoas ?

Dous amigos n'uma esquina:Vês aquella bonita mulher naquelle sobrado ?Vejo.E eu tambem.

Era uma roda de espirituosos na rua do Ouvidor.

Estava eu em Nova Friburgo.Era uma dessas tardes doces e suaves do mez de Maio.Uma brisa, fagueira e suave, soprava, brandamente, e

mal balançava as empallidecidas folhas dos arvoredos,Tinhão de cahir, dentro em pouco, açoutadas pelos ven-tos frios do inverno, que se approximava.

O sol escondera a face de fogo por entre as cinco mon-tanhas, que ornâo, por um lado, a pitoresca villa deFriburgo.

O crepúsculo ainda não havia desdobrado o seu man-to de trevas, mas conhecia-se, pelo silencio da natureza,que se avisinhava a noute.

Uma estrella, guarda avançada de todas as constella-ções, que adiamantão o nosso firmamento, começava adardejar argentinos raios na azulada abobada, que nosservia de docel.

Quanto é magestoso contemplar uma tarde, ao des-cambar, se estamos solitários e propensos á melancolia!

Quantas idéas não se nos cbocâo no cérebro, quantasrecordações saudosas não nos arrebatão oespirito paraum mundo de chimeras e de phantasias !

E ha quem se ria e zombe quando o campanário soa,ao longe, marcando o cahir do dia e o surgir da noute!

Ave-Maria ! E' a saudação de todos os corações, op-primidos pela dor, pela saudade, pela descrença ou peloinfortúnio.

Mas eu não estava só.Sentado em cima de uma pedra, com os braços apoia-

dos nos joelhos e a cabeça cahida nas mãos, pensava epensava, tristemente, diante do quadro angélico, que ti-nha diante dos olhos.

O que tinha eu ido fazer a Friburgo?Nem sei. Buscar saúde talvez, ou procurar uma dis-

tracção para as afflcções, que me confrangtão o coração.Mas eu ahi estava sentado, diante de uma cobre me-

nina de quinze annos, que principiava a respirar a ju-ventude nas bordas do sepulchro.

Coitada!Chamava-se Julia.Pallida, de cabellos negros e espadanados sobre as es-

J

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SEMANA ILLUSTRADA.

V

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paduas, estava reclinada em uma poltrona, donde a| custo tentaria levantar-se.

De olhos fechados, sorria-se esse anjo como quem se, embriaga com um sonho que lhe amortece o cérebro.1 Estava phtysica.

Infeliz menina, que começava a syllabar a primeira; pagina da vida! A sorte arrancava-lhe o livro das mãos| e nas outras paginas em branco escrevia a sua sentençaj de morte!j Ninguém sabia qual a duração daquella existência.

E, no entanto, se outro fosse o seu destino, poderiagozar tantas venturas na vida....

Eu não ousava perturbar aquelle doce colloquio, quese passava entre esse anjo, que desdobrava as azas paraesvoaçar, e essas recordações, que se desfazião em sor-risos.

Erão os sorrisos dos moribundos.Parece que os que se dirigem para o céo participão.

com antecedência, na terra, dessa luz divina, que illumi-na os escolhidos por Deus.

Julia, conhecia-a eu desde os seus mais tenros annos.Quantas e quantas vezes essa creança não adormeceu

nos meus braços, emquanto eu lhe contava alguma len-da, que aprendera tambem creança!

Estimava-me como se estima a um irmão mais velho,adorava-a eu como se adora uma creança, que poderiaser nossa filha.

Daria a minha vida para ver aquelle pallido arbustovicejar e esgalhar os rebentões, que murchavão.

Fatalidade! Tinha de morrer.Não ousava despertal-a, mas contemplava aquelle

semblante, que o véo da morte tornava opaco e desfigu-rado.

Ninguém tambem ousava vir despertar-nos.Schismavamos ambos. Eu por ella e ella quem

sabe ?De repente, um cavallo, a todo o galope, parou á por-ta do jardim.üm cavalleiro apeiara-se e corria para nós.Ella abrio os olhos.Dir- se-hia que uma sceutelha de existência galvani-

sara aquelle corpo, que jazia prostrado pelo soffrimento.Levantou-se e cahio nos braços do mancebo.

Eduardo!Julia !

Amavâo-se e amavão-se muito.Não é possivel dizer o tempo que durou esse abraço

longo e. muito longo; porém bem curto-para sabe o queé amor.Vieste ver-me afinal! Já era tempo, só esperava

por ti. Não podes avaliar como tenho soffrido; mas nãoas dores da enfermidade, as dores da ausência, as doresdo coração. Chegaste ainda a tempo. Tremia todas asvezes que me lembrava que podias vir muito tarde. MasDeus não qniz, sou feliz, posso ir vêl-o, radiante dealegria, porque já te vi.

Oh ! Julia, para que dizes tantas loucuras ? Tens

ainda muita vida, has de viver muito tempo só paramim, sóNas tuas recordações, não ? Obrigada. Mas escu-

ta: a morte vai-me apertando nos seus braços geladose pardacentos. Sinto o frio do sepulchro porém aindanão no coração. Chegaste a tempo! Bem dito seja Deus...

Julia, o que tens ? Vacillas ? ....Não, é o prazer de ver-te.

Uma golfada de sangue disprendera-se-lhe dos lábiose desenrolara-se no regaço do roupão.

Dir-se-hia um fio de coraes, que rebentava.Não te assustes; já estou acostumada a este mur-

char de esperanças E' o sangue que me foge dasveias, é a vida que se esvae com elle. Amanhã .... Masnãò, quero ainda dar-te uma prova de amor; dá-me obraço, e vem commigo.

E lá se afastarão elles.Fiquei immovel no logar em que assistira a toda essa

scena de amor.i E são tão poucas !

Passados alguns instantes, uma voz sonora e repas-sada de uma ternura como nunca ouvira, cantava o ro-mance melancólico da Martha.

D'onde vinha essa voz ? Da terra? Do céo?Nem eu podia conhecel-a.A lua começava a despontar no horisonte.De repente, ouvi um grito agudo e suffocado.Levantei-me e corri.Julia estava morta nos braços de Eduardo, que so-

luçava, de joelhos.

Levarao-a para o cemitério e eu plantei-lhe uma cruzsobre a sepultura.

Era a expressão da saudade que sentia.

Quando voltei a Friburgo, o ineu primeiro cuidadofoi visitar a única mulher, que amara, santamente, nes-te mundo.

Era noute.Entrei no cemitério e procurei-lhe o jazigo.A ci uz lá estava e ao pé delia um pequenino arbusto

com uma flor,.que se dobrava á brisa.Era uma myosotis.Quiz colhel-a para guardal-a no coração, mas ouvi

uma voz sonora e repassada de ternura como só tinhaouvido uma vez, antes da morte de Julia, repetir—Eduardo.

A alma angélica da infeliz menina se transformaranessa flor mimosa das nossas campinas.

Nunca murchou essa flor; lá existe ainda hoje e nin-guem se anima a colhel-a.

Av.

lens Typ. do Imp. Inst. Artístico — Largo de S. Francisco n. 16.

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Os beneméritos construetores Level e Bbaoonnot offerecem os planos de seis novos encouraçacos

uo Sr. ministro da Marinha, que por seu turno os offerece á pátria. Honra aos tres distinetos brasileiros