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  • LETRAS|9

    PRAGMTICA DA LNGUA PORTUGUESA

  • LETRAS|10

  • LETRAS|11

    PRAGMTICA DA LNGUA PORTUGUESA

    LUCIENNE C. ESPNDOLA

    INTRODUO

    Este captulo objetiva situar a disciplina Pragmtica nos estudos da linguagem e introduzir aimportnciadousurio(interlocutor)edocontextonasprticasdeleituraedeproduodetexto.

    Isso equivale a ir alm do significado das palavras e da estrutura sinttica e do valor deverdade das sentenas para incluir os elementos contextuais que fazem com que osignificado,emumaacepopragmtica,dcontademaisdoqueexplicitamenteditonainterao lingsticae tornepossvelaanlisedosatos realizadospormeioda linguagem.(MARCONDES,2005,p.27)

    Para alguns filsofos o contexto e o usurio passaram a ser componentes imprescindveis para aconstruodosentido.Assim,despontaaPragmticanoseiodaFilosofiaealgunsfilsofos,eposteriormente,linguistas,passaramainvestigarcomoalinguagempodedizermaisdoquedizatravsdaestruturalingusticodiscursiva, negando (opondose) concepo de linguagem que postulava ser a linguagem espelho dopensamento. As teorias que sero abordadas aqui, desenvolvidas inicialmente no seio da Pragmtica,consideram,dealgumamaneira,ousurioeocontextonasinteraesverbais.

    Dascal(1982)propeduasorigensparaaPragmtica,sendoqueaprincipaldiferenaentreasduasa concepo de Pragmtica: subordinada Lingustica e, consequentemente, Semitica como umadisciplinaresponsvelpeloterceironveldeanlise lingustica;ouoriundadosescritosdeSaussure (1916)comoumacinciaautnoma.

    A concepo moderna de uma disciplina com o nome de pragmtica est intimamenteligada idia de uma outra disciplina, com o nome de semitica ou semiologia, quesurgiuporvoltado inciodestesculo.Asemiticaousemiologia tem,comosesabe,umaduplaorigem:osescritosdeCharlesSandersPeirceedeFerdinanddeSaussure.Deummodogeral,elapodesercaracterizada,segundoambos,comoateoriageraldossinais.Aelaficamassimnaturalmentesubordinadastodasasdisciplinasqueseocupamdeumtipoparticulardesinais,comoocasodalingstica.aessaduplaorigemdasemiticaeinflunciadesigualdeseusfundadoressobreodesenvolvimentodalingsticacontemporneaque[...]remonta,

  • LETRAS|12

    pelo menos em parte, o problema da incluso de um componente pragmtico na teorialingstica.(p.8)

    APragmtica,originriadosestudosdePeircenofinaldosculoXIX,concebidacomoumnvelde

    anlisedalingusticaetemcomoobjeto[...]ofuncionamentodealgocomosignoenvolveosigno,aquiloqueosignorepresentaeaqueleparaquemosignorepresentaalgo.(p.16)DeacordocomGuimares(1983),osestudospautadosnessafonteapontamtrsdireesparaaPragmtica.

    Umaqueconsideraousuriosomenteparadeterminararelaodalinguagemcomomundo(referncia),outraqueconsideraousurioenquantotalnasuarelaocomalinguagem.[...]eumaterceiraqueseconfiguraapartirdalinguagemordinria.(ibid.,p.1617)

    Aprimeiravertente,tambmdenominadadepragmticaindicial,

    [...]subordinaousurioaoproblemadareferncia.[...]EssetipodePragmticaseriadotipoque teriacomo fonteosigno indicialdePierceeumcompromissocomasemntica lgica,ocupandose, como esta, do problema da referncia de proposies, ou seja, do valor deverdadedeproposies.(ibidem.,p.17)

    Filiados a essa vertente encontramos os filsofosBarHillel (1954), Stalnaker (1972) e os linguistas

    Jakobson(1963)eBenveniste(1966).Salientesequeessavertente,tradicionalmenteconhecidacomosendoobjetodaSemntica,portercomoobjetodepesquisaareferncia,noserabordadanesteespao1.

    A segunda vertente est centrada no intrprete (usurio da linguagem) e o uso que este faz dalinguagem.Ouseja,essaPragmticafocalizaanecessidadedeseconsiderarousuriodosignoformuladoporPeirce(p.19);ouseja,comointrprete.Morris(1976)representaessavertente.

    AterceiravertentedaPragmticaoriundadePeirceaqueconcebeousuriocomo interlocutor.Enessavertente,Guimaresinclui:aPragmticaConversacionalGrice(1982[1967]);APragmticaIlocucionalAustin (1990 [1962]) e Searle (1981 [1969], 2002 [1979]) e a Semntica da Enunciao Ducrot (1972,1987,1988)eVogt(1980).

    AsegundaorigemdaPragmtica,propostaporDascal(1982),soosescritosdeFerdinanddeSaussure(1916),que,aoestabelecercomoobjetodaLingusticaa langue, deixouaparoleparaoutrascincias,entre1Essasquestes foramabordadasnadisciplinade Semntica. Alguns conceitos,porm, sero retomadosnomomentoem foremrequeridos.

  • elas a Pragperspectiva

    Lingustica.

    Indenovoolharcontexto iobjetodein

    Nes

    algumas daIlocucionalGrice(1982tericaspod

    Asresponder,

    gmtica, qua, a Pragmt

    ependentedsobrealnguimpulsiona,nvestigao,

    ste espao,as teorias d

    Austin (1[1967]);edemnosser

    linhas escodealgumafo

    e tem comtica passa a

    daorigemdauapropostoapartirdadasvariveis

    no h condesenvolvida

    1990 [1962]aSemnticateisnopro

    olhidas paraorma,sperx Oquefax As inte

    acontecx Almdaelement

    suficienx Como

    RESUMO

    dePeirceanlised

    de

    LEITUR

    GUIMARpragmtEstudos

    mo objeto d ter status

    aPragmticapelaPragmdcadade l9usurioeco

    dies de ss na terceir) e SearleadaEnunciaocessodeleit

    esta abordrguntas:

    azemosquandraes, atravcemassistemaaestruturalintos (fatores)teparasediz

    possveldize

    O:APragmeoudeSaudaLingustiestudo).A

    RA

    RES,Eduardica,Revista 9,1983.

    e investigade cincia,

    ,seadvindaticaarela970,pesquisontexto.

    e ver todasra vertente(1981 [1969aoDucroturaeprodu

    dagem, a p

    dousamosalvs da modaaticamente?

    ngusticautilizdevem (prec

    zeroqueseprmaisdoque

    ticatem,peussure.Aprica(mas,pasegundaco

    doR.J.SobrdasFaculd

    o o uso dno podend

    dosescritosaodosusuasnaread

    as vertenteda Pragm9], 2002 [1ot(1972,198uodetexto

    partir dos s

    inguagem?Solidade falada

    zada,nafalacisam) ser coretendeemtoeestliteralm

    elomenos,imeiracolocraisso,aLioncebeaPra

    reoscaminadesIntegr

    da lngua pdo ser consi

    sdePeirceorioscomadaLingustica

    es da Pragmtica oriunda979]); a Pra87,1988).Acos.

    eus pressup

    omentedescra e da escrit

    ounaescrita,nsiderados?odasassituamenteditolin

    duasorigencaaPragmngusticateagmticaco

    hosdapragadasdeUb

    LETRAS|1

    elos interloiderada com

    uosescritoslnguaemuaasquais in

    mtica, entoa de Peirce:agmtica Cocreditamosq

    postos teri

    revemosomuta, seguem a

    ,paraseinteO texto, falaes?nguisticament

    ns:advindaticacomoerdereveromoumaci

    gmtica.Soeraba FIU

    13

    cutores. Nemo um nvel

    sdeSaussuremdeterminancluem,em

    o selecionam: A Pragmtonversaciona

    queessas lin

    icos, procur

    undo?alguma regra

    ragir,queoutdo ou escrito

    e?

    dosescritoumnvelderseuobjetoncia.

    breBE,Srie

    essada

    e,oadoseu

    mosticaal has

    ram

    ou

    troso,

    oseo

  • LETRAS|14

    Estecaptuloconstituisedeumaintroduoequatrounidades:

    1.AtosdeFala(AustineSearle)

    2.Implcitoslingusticosepragmticos:implicaturasconversacionais(Grice)

    3.Implcitoslingusticosepragmticos:AtosdelinguagemIndiretos(Austin/Searle)

    4.Implcitoslingusticosepragmticos:Pressupostosesubentendidos(Ducrot)

  • Ateinteressars

    Aus

    reflexesqesse filsofamericanas

    reunidasnadogrupoinSpeechActsaclassificaAustin,foid

    Sali

    funcioname

    resultadecfoirealizada

    eoriadosatosepelofunci

    stin,umdosueapresentfo na unive,cujotemaaobraHowntituladoFilos(1981[196odosatosdesenvolvido

    entesequeento,necessconsultasnaemHarvard

    OS A

    osdefalafonamentod

    x Alinguax Todosox Queout representaaremosaquersidade decentralfoiatoDoThingsosofiaAnalti69])eExpresss ilocucionro.otextoqueariamente,nnotaselaborad,bemcomo

    LEITURA

    ARMENG121.

    MARCONdeJaneir

    UN

    ATOS D

    filiadaFilosalinguagem

    agemusadaosenunciadostrasaes,al

    ntesdessegiestopreseOxford nolinguagemeswithWordca,JamesOpsionMeaninrioseoconc

    enosrevelanoconstituadaspeloproanotaes

    AS:

    GAUD,Fran

    NDES,Danilro:JorgeZa

    NIDAD

    DE FALA

    sofiaAnalticmordinria(d

    asomenteparpodemsersumdedescrev

    grupo, comeentesemcuincio da d

    eosatosqueds(1990[196pieUrmson.g(2002[197ceitodeato

    opontodeicadaconfeprioAustinparaoscurs

    oise.(2006

    o.(2005)AaharEditor.

    DE I

    A (AUST

    casurgequdocotidiano)

    rafazerdeclarubmetidosnveromundo,r

    ea suas inversos intituladcada de 1eelanosper62]),organizAobradeA79]),ealgunindireto,qu

    vistadeAurnciaipsisl,utilizadascsosanteriore

    6)Apragm

    APragmticap.1629.

    TIN/SEA

    uandoumgr),levantando

    raes?oodeverdarealizamsea

    estigaesndosWordsa1950 e mairmiterealizazadapostumAustin(1962)nspontosrefue ficouape

    ustinsobrealitteris,poiscomoesbooes.

    tica.SoP

    anafilosof

    LETRAS|1

    ARLE)

    upodefilsooquestesc

    ade?travsdaling

    nadcadadeandDeeds,mis tarde emr.Essascon

    mamentepor)retomadaformulados,enasalinhava

    a linguagemotextopstoparacadac

    aulo:Parb

    fiacontemp

    15

    ofoscomeoomo:

    guagem?

    e1940,masministrados

    m universidanfernciasesrum integraaporSearleprincipalme

    adonaobra

    ordinriaetumopublicaconfernciaq

    bola.p.99

    pornea.Rio

    oua

    saspordesstonteemntede

    seuadoque

    o

  • LETRAS|16

    A primeira conferncia iniciase com Austin declarando que, por um tempo maior do que onecessrio, os gramticos, atravs de critrios gramaticais, classificaram uma sentena como declarativa,interrogativa,negativa,queexpressadesejo,ordemouconcesso,enquantoqueosfilsofosacreditavamterasentenaafunodedescreveroudeclararumfato.

    Recentemente, porm, muitas das sentenas que antigamente teriam sido aceitasindiscutivelmente como declaraes, tanto por filsofos quanto por gramticos, foramexaminadascomumnovorigor.Esteexamesurgiuaomenosemfilosofia,deformaumtantoindireta. De incio, apareceu, nem sempre formulada sem deplorvel dogmatismo, aconceposegundoaqual todadeclarao (factual)deveriaserverificvel,oque levouconcepo de quemuitas declaraes so apenas o que se poderia chamar de pseudodeclaraes.(AUSTIN,1990,p.22)

    Nesse contexto, um grande nmero de sentenas seria considerado sem significado (vazias designificado) se submetidas ao critrio de verdade ou falsidade. A partir dessa constatao, Austin (1962)prope sua teoriadosatosde falaemquedizernem sempre somente descrevere/oudeclarar sobreomundo.Dizer,emmuitassituaes, fazer;realizarumaaoaomesmotempoemquesedizessaao.Nessa perspectiva, uma grande parte dos enunciados no passveis de serem submetidos s condies deverdade (valordeverdade) teriamseusignificadoexplicadoatravsdocontextoemquedesempenhamumdeterminadoato.

    Eu aposto 10 reais com voc que o Corinthians vai ser campeo.

    Eu batizo este carro de Julio.

    Eu declaro guerra ao cigarro.

    Confiro-lhe o ttulo de bacharel em Direito.

    Eu o condeno a 1 ano de trabalhos comunitrios.

    Dou minha palavra como Joo chegar na hora estipulada.2

    Austin,ento,passaainvestigarosenunciadosque,paraele,noresistiamscondiesdeverdade,

    enquanto atos de fala. E concebendo a linguagem como forma de ao que, inicialmente, esse filsofoseparaosenunciadosdeumalnguaemdoisgrandesgrupos:

    2ExemplosadaptadosdeLevinson(2007.p.290).

  • Enu

    deafirma

    Enu

    realizaroat

    Parverdadeiros

    verificarqufelicidade.

    3Encontramos

    Caroaparam

    unciadosCones.

    unciados Pertodescritop

    rtindo, iniciasnemfalsosuando esses

    sapalavracon

    luno,consmaisesclar

    nstatativos3:

    O curso de Pr

    rformativos:

    peloenunciad

    Eu declaro en

    almente, daspornoseenunciados

    (A.1) Deve h

    convencional

    e, alm disso

    (A.2) as pess

    especfico inv

    (B.1) O proce

    (B.2) complet

    nstatifcomdua

    sulteoDicrecimento

    :aquelesato

    ragmtica est s

    : aqueles cudo.

    ncerrada esta se

    a tese deprestaremano seriam

    haver um proc

    l e que inclua o

    o, que

    soas e as circu

    vocado.

    edimento tem de

    to.

    astradues:co

    cionrioEossobrea

    osqueserve

    sendo elaborado

    uja realiza

    esso. (enuncia

    que os enuadeclararo

    m adequados

    cedimento conv

    proferimento d

    nstncias partic

    e ser executado

    onstatativoeco

    scolardenoode

    emparades

    o pela professor

    o resulta em

    do proferido pe

    unciados peudescreversou felizes,

    vencionalmente

    de certas palavr

    culares, em cad

    o por todos os pa

    onstativo.

    Filosofia(valordev

    creveromu

    ra Lucienne.

    m um fazer;

    elo sndico em u

    erformativos

    omundo,Aosquaisde

    aceito, que a

    as, por certas p

    da caso, devem

    articipantes, de

    (http://wwverdade.

    LETRAS|1

    undo,falamd

    ; dizer sim

    uma assembleia

    s no podeAustinpropenominou de

    apresente um d

    pessoas, e em ce

    m ser adequada

    e modo correto e

    ww.defnar

    17

    dealgoatra

    multaneame

    a de condomnio

    eriam ser necritriospe condies

    determinado ef

    ertas circunstnc

    as ao procedime

    e

    rede.com)

    vs

    nte

    o)

    nemparade

    feito

    cias;

    ento

    )

  • LETRAS|18

    (.1) Nos casos em que, com freqncia, o procedimento visa s pessoas com seus pensamentos e sentimentos, ou visa instaurao de uma conduta correspondente por parte de alguns dos participantes,

    ento aquele que participa do procedimento, e o invoca deve de fato ter tais pensamentos ou sentimentos,

    e os participantes devem ter a inteno de se conduzirem de maneira adequada, e, alm disso,

    (.2) devem realmente conduzir-se dessa maneira subseqentemente. (AUSTIN, 1990, p. 131)

    Austinpreviuquenemtodososatosdefalacumpremrigorosamentetodasascondiesdefelicidade

    (A,Bou )equeonocumprimentodealgumasdessascondiesnoconstituiviolaesdemesmonvel.ParaeleaviolaodeumadascondiesdogrupoAeBgerainfelicidadesdotipofalhasaaopretendidapelaenunciaoperformativanoserealizadeformaeficaz;edenominaabusosasinfelicidadesgeradaspelasviolaesdascondiesdogrupo.

    Consideremosanotciaabaixo.

    Igreja probe padre casado de celebrar casamentos em Goinia (GO)

    Extrado de: Folha Online - 10 de Novembro de 2008

    A Igreja Catlica em Goinia (GO) e em outras 26 cidades divulgou, na missa do ltimo domingo, uma

    carta da arquidiocese dizendo que Osiel Santos, 62, est demitido da funo de padre desde maio e no

    pode mais celebrar casamentos. Ele abandonou a batina h 20 anos para se casar, mas continuou exercendo

    o sacerdcio.

    O Tribunal Eclesistico da Arquidiocese de Goinia decidiu nesta segunda-feira tambm invalidar os cerca

    de 400 matrimnios celebrados por Santos depois de casado, que eram feitos em casas e clubes.

    Os batizados, no entanto, ainda valem --apesar de terem sido feitos por quem comportou em "persistente

    escndalo" e "gravssima ofensa a Deus", segundo a carta assinada pelo arcebispo dom Washington Cruz,

    que ainda ser lida nas missas por duas semanas.

    Em nota, a arquidiocese disse que nenhum outro sacramento recebido por meio de Santos ter validade e "o

    fiel que o procurar com esse propsito torna-se cmplice de seu ato irregular diante da igreja".

    Disponvel em:< http://www.jusbrasil.com.br/noticias/167660/igreja-proibe-padre-casado-de-celebrar-casamentos-em-goiania-go>. Acesso em: 01 jul. 2009.

    (Texto adaptado)

    Essa notcia publica um ritual social o casamento religioso que se realiza atravs de um atoperformativo em que o padre (na Igreja Catlica) deveria estar investido da autoridade necessria paraproferiroenunciadoEuvosdeclarocasados.Esseenunciadomaisqueumdizer,umfazer,tornarasduaspessoasquealiesto,peranteaigreja,casados.Noentanto,deacordocomanotcia,emtodososatos

  • (casamento

    tinhaautori

    A ccasamentos

    ouforamdeaumdossadoato.Port

    Nes

    queaigrejadaviolaooquecarcitadofilso

    Nescumpridastambmsecastidade.AnaTeoriad(.1)tamb

    Almenunciados

    ativas,indic

    os)realizadoidadeparare

    condio (A.seoutrossaeformaincoacramentostanto,tudoi

    ssecontextoapretendeade(A2),abrracterizaocaofo.

    ssamesmanas condiesubmeteuaAquebradoosAtosdeFmforamvio

    mdascondiperformativcativas,depr

    spelopadreealizartodos

    1) foi satisfacramentosfompleta(B1erealizadospndicaqueas

    ,deacordocdotar:anulareespaopaasamentore

    notcia,podees dos constaumritualpvotodecastFala,scondoladas.

    esdefelicvos.Essascarimeirapess

    R

    de

    pr

    co

    ecitado,housosatosrelig

    feita, pois nforamrealize2).Tambmpeloreferidoscondies(

    comAustin(aroscasamearaasanulaeligiosoque

    emostambantes de (.performativo

    tidadeconstidiesconst

    cidadeproporactersticas

    oa,noprese

    RESUMO:Auquepostu

    eclararsobrumaaoaropedoisaomundo,fujarealizaoatodescri

    dosatos

    uveviolaogiososques

    no h qualqados,muitomnosetemopadreters(1e2)tam

    (1990[1962]entosrealizades.Comesenocumpr

    m identifica.1) e (.2).Ooaordenaituiaquebraantesde(.2

    ostas,Austinssoresumidentesimples.

    ustin(1990ulaquedizereomundoaomesmotatosdefalafalamdealgoresultaetopeloenusperformat

    c

    dacondiooprerrogat

    quer questiomenosque

    mnotciadeecomportadbmforams

    ]),constatasdospelorefessasobservariutodasasc

    raviolaoO padre quaaoemqadapromess2),sendoqu

    elencoualgudasporLevin..

    [1962])proernemsemo.Dizer,emtempoemqa:osconstagoatravsdemumfazeunciado.Partivos seuocondiesd

    o(A.2),umativasdossac

    onamento qossacramenalgumquedo inadequasatisfeitas.

    seumafalhaeridopadre.aes,verificcondiesde

    caracterizad

    ando foi ordque fazvotosaobservadauesepode in

    umascaractenson(2007,

    opesuateompresomemuitassituquesedizetativos,quedeafirmaer;dizersimraverificaroobjetivopriefelicidade

    LETRAS|1

    avezqueopcerdotes.

    quanto aosntosnoforparticipouoadamenteap

    a,corroboraEssafalha,e

    camosumatefelicidade

    dacomoabudenado pelasdeobediapsato,qunferirqueas

    ersticaslingp.294):[...

    oriadosatoentedescreuaes,fazssaao.Ineservempaes;eospermultaneamosucessonmeiro proe.

    19

    padrenom

    locais onderamexecutadousesubmepsarealiza

    dapelaposiemdecorrntoperformatpropostasp

    uso:no forIgreja Catncia,pobrezuecorresponsconstantes

    gusticaspara]sosenten

    osdefalaemevere/ouzer;realiznicialmente,aradescrevrformativos

    menterealizanarealizaoopsseis

    mais

    osdosteuo

    onciativopelo

    ramlicazaende,sde

    aosnas

    mar,ers

    aro

  • LETRAS|20

    Considerandoessascaractersticas,oenunciadoabaixo,originalmenteclassificadocomoperformativo,aoserreescritocompropriedades(gramaticais)lingusticasnoprevistasparaosperformativos,deixadeserum enunciado performativo; e os enunciados resultantes dessa reescritura so considerados comopertencendoaogrupodosconstatativos.

    EU DECLARO GUERRA AO CIGARRO. Eu declarei guerra ao cigarro.

    Guerra ao cigarro foi declarada por mim.

    Ele declara guerra ao cigarro.

    AreescrituradoenunciadoEudeclaroguerraaocigarro.,commudanadevozverbal,detempoedepessoa,mostraqueoscritriosfuncionamcomesseenunciado,salientese,emumcontextoemqueoverbodeclararestejasendoutilizadopararealizaraaoqueaenunciaoveicula.Ouseja,esseenunciadoserperformativo, se, em uma assembleia de condomnio, o sndico, aps consultar os condminos e ter aaprovaodosmesmos,paraproibirquesefumenasdependnciascomunsdocondomnioqueadministra,disser:Declaroguerraaocigarro..

    No entanto, em um contexto em que a enunciao de Eu declaro guerra ao cigarro. no estejarealizandooatodefalaperformativo,massomenteorelatodeumaaohabitual, esseenunciado,mesmoapresentandoascaractersticaspropostasporAustin,nopodeserconsideradoperformativo.

    Pensemosessecontexto:oproprietriodeumbar,aoserperguntadocomotemsidoaposiodoseuestabelecimentocomrelaoaocigarro,respondecomoenunciado:

    Eu declaro guerra ao cigarro.

    Nessecontexto,odonodoestabelecimentonoest,aomesmo tempo,enunciandoe realizandoaaodedeclararguerra.Constatamossomenteadeclaraodecomotemsidosuaatitudefrenteaocigarro.

    Esseexemplo revelaqueessas caractersticaselencadasporAustinmostraramse insuficientesparacaracterizarumenunciadoperformativo,poishmuitosoutrosenunciadoscomessascaractersticasquenorealizamumaaoaoseremproferidos;constituemsimplesmentedeclaraes,relatosetc.

  • LETRAS|21

    Eu compro po na padaria do seu Joo.

    Com essa constatao, ficou evidente que outros critrios mais seguros so necessrios paracaracterizarumenunciadoperformativoque segueopadro formalpropostopela teoria.Austinconstatoutambm que h outras formas de enunciados performativos que no seguem os padres descritos acima:Culpado, Inocente, porm permitem que sejam recuperadas as formas lingusticas equivalentes:Eu odeclaroculpado,Euodeclaroinocente.respectivamente.

    Emboraascaractersticasgramaticaistenhamsemostradopoucoeficientesparadizer,comcerteza,seumenunciadoperformativoouno,deacordocomAustin,nodevemserabandonadasparaidentificarosperformativos explcitos, mas associadas ao critrio lexical (alguns verbos apresentam a propriedade derealizaremaesaoseremenunciados).

    Nessadireo,outrocritriofoiapresentado,paradistinguirosenunciados,nopresentedoindicativo(emprimeirapessoa),querealizamperformativosdosqueservemaoutrasfunes:ousodasexpressespormeiode/pormeiodapresente,paraisolarosverbosperformativos.

    Utilizandoseumadessasexpresses,para testarosenunciadosEudeclaroguerraao cigarro.eEucomproponapadariadoseuJoo.,teremososeguinteresultado:

    Eu, por meio da presente, declaro guerra ao cigarro.

    Eu, por meio da presente, compro po na padaria do seu Joo.

    A expresso por meio da presente, nessas duas situaes, foi produtiva para revelar que o verbo

    declarar,nocontextodeassembleiadeumcondomnio,performativoenquantoqueoverbocomprarno.Noentanto,um recursoqueno serprodutivoemoutras situaesemque se constataumatoperformativonorealizadopelasformascannicas.

    Essaconstatao levouAustin(1990[1962])aproporenunciadosperformativosexplcitosaquelesque se comportam conforme os critrios j estabelecidos anteriormente (sentenas ativas, indicativas, deprimeirapessoa,nopresentesimples),

    Eu os declaro marido e mulher!

    eosenunciadosperformativosimplcitos(ouprimrios)aquelesrealizadosporoutrasformaslingusticasquenoseguemasnormasdosexplcitos.

    Amanh estarei no lugar combinado. (ato de promessa)

    SegundoLevinson(2007),

  • LETRAS|22

    Dessa maneira, o que Austin sugere que, na realidade, as performativas explcitas soapenas maneiras relativamente especializadas de algum ser inequvoco e especfico arespeitodoatoqueestexecutandoaofalar.(p.296)

    Osenunciadosperformativosimplcitos,porsuavez,poderoserrealizadosatravsdevriosrecursos

    lingusticodiscursivos ou suprassegmentais: atravs domodo imperativo do verbo (Devolva o dinheiro! aoinvsdeEuordenoquedevolvaodinheiro.);advrbios (Vocviajaramanhsem falta!)emquea locuoadverbialsemfaltaaumentaaforadoqueforaenunciado;usodecertaspartculasconectivasgera,deformasutil,oefeitodeumperformativo(portantocomaforadeconcluoque,contudocomaforade insistoqueetc.);recursossuprassegmentais(tomdevoz,nfaseemdeterminadosegmentodoenunciadoetc.);recursosnoverbais(gestos,sinaisetc.)eascircunstnciasdosproferimentos.

    As formas primitivas ou primrias dos proferimentos conservam [...] a ambigidade, ouequvoco,ouocartervagoda linguagemprimitiva.Tais formasno tornamexplcitaaforaexatadoproferimento[...]Masdecertomodo,taisrecursossoexcessivamentericosemsignificado.Prestamseaequvocosedistineserrnease,almdomais,soutilizadostambmparaoutrospropsitos,como,porexemplo,a insinuao.Operformativoexplcitoexcluiosequvocosemantmarealizaorelativamenteestvel.(AUSTIN,1990,p.69e72)

    Aconstataodequeasenunciaespodem serperformativas semestaremna formanormaldasperformativas explcitas (LEVINSON, 2007, p. 296) gerou dois desdobramentos: o abandono da dicotomiaentreperformativose constatativoseaadoodeuma teoria completadosatos fala;eadmissodeduascategoriasdeatosdefala:oreconhecimentodosatosdefaladiretosedosindiretos,classificaoquevaiserabordada(revista)porSearle(1981[1969],2002[1979]).

    Nessa nova direo de investigao, Austin (1970 apud LEVINSON, 2007, p. 297298) assim seposiciona:

    Alm da questo, que foi muito estudada no passado e que diz respeito ao que certaenunciao significa, h uma outra questo que diz respeito a qual era a fora, como achamamos,daenunciao.Podemos terabsoluta clarezadoque significaa frase Fecheaporta e ainda assim no ter clareza sobre a questo adicional de determinar se, quandoenunciadaemdeterminadaocasio,foiumaordem,umapeloousabeseloqu.

    Searle(2002[1979])assimseposicionasobreessanovadireodadaTeoriadosAtosdeFala:

  • LETRAS|23

    A distino original entre constativos e performativos pretendia ser uma distino entreemissesqueconsistememdizer (constativos,enunciados,assertivos,etc.)eemissesqueconsistem em fazer (promessas, apostas, advertncias,etc.). [...]Oprincipal temadaobramaduradeAustin,How toDoThingswithwords,a falnciadessadistino.Assimcomodizercertascoisascasarse(umperformativo)edizercertascoisasfazerumapromessa(outro performativo), dizer certas coisas fazer um enunciado (supostamente umconstativo). [...] Qualquer emisso consistir na realizao de um ou mais atosilocucionrios.(p.27)

    E,para explicar como fazemos coisas ao enunciar sentenas,Austin (1990 [1962])prope a TeoriaGeraldosAtosdeFala,cujoobjetivodemonstrarquequandoenunciamos,simultaneamente,realizamostrsatos:

    1) Atolocucionriooatodedizeralgo;ousodeumasentenaemdeterminadaocasio.

    2) Ato ilocucionriooatoaodizeralgo,ou seja,aoproferiruma sentena (ato locucionrio),realizamosatoscomoinformar,avisar,prevenir,acusar,prometer,descreveretc.

    3) Atoperlocucionriooatodeproduzirefeitosouconsequnciasnoouvinte/leitor;emoutraspalavras, o efeito que produzimos no leitor/ ouvinte ao realizar um ato ilocucionrio; hsituaes em que se pretende estar realizando um ato do tipo prevenir e podese confundir ooutro ao invs de previnilo. Ao realizarmos um ato locucionrio do tipo ordenar, informar,prometer,declarar,encerrar,podeseproduzirnoleitoratos(perlocucionrios)dotipoconvencer,intimidar,persuadir,surpreender,confundiretc.

    Porexemplo,asentenaabaixo,mesmonosendodogrupodasexplicitamenteperformativas (pornoapresentarascaractersticasdessaclasse),

    Amanh ser o dia grande dia!

    ao ser enunciada, seja em que contexto for, na modalidade falada4 ou na escrita, caracterizar um atolocucionrio,ou seja o atodedizer a sentena,de enuncila. Esse atopoder realizar,dependendodaintenodolocutoredocontexto,umatoilocucionriodeadvertir,comunicar,intimidaretc.algum.Porm,ointerlocutorpoder,comoefeitoperlocucionrio,sentirseintimidado,desafiado,amedrontado,irritadoetc. O interesse de Austin era explicitamente os atos ilocucionrios, mais especificamente os verbosperformativos, no entanto, com a constatao de que todos os enunciados so utilizados com uma

    4ATeoriadosAtosdeFala,comooprprionomediz,originalmentefoicriadaemfunodamodalidadefalada;hojesuaaplicaofoiampliadaparaaescrita.

  • LETRAS|24

    determinada fora ilocucionria, a distino entre atos performativos e constatativos foi revista, mas ointeresse pelos performativos explcitos foi mantido, inclusive com uma proposta de classificao para osverbosilocucionrios(performativos).

    Searle(2002[1979])revessaclassificao,adotando,comocritriobaseparaasuaclassificaodosusosdalinguagem,opropsitoilocucionrio5,comoelemesmojustifica:

    Seadotamosopropsito ilocucionriocomoanoobsicaparaaclassificaodosusosdalinguagem, h ento um nmero bem limitado de coisas bsicas que fazemos com alinguagem: dizemos s pessoas como as coisas so, tentamos levlas a fazer coisas,comprometemonosafazercoisas,expressamosnossossentimentoseatitudes,eproduzimosmudanaspormeiodenossasemisses.(p.46)

    Searle(2002[1979])apresentasuaclassificaodosatosilocucionrios,sendoqueosprimeirosquatroatos(assertivos,diretivos,compromissivoseexpressivos)foramassimclassificadoscombaseemalgum(uns)doscritrios:opropsito ilocucionrio,adireodoajuste(palavramundooumundopalavra)ascondiesde sinceridade expressas; por outro lado, as declaraes no foram definidas utilizando nenhum dessescritrios, mas, segundo Searle (2002 [1979], p.25), por considerar que em que o estado de coisasrepresentadonaproposioexpressarealizadooufeitoexistirpelodispositivodaforailocucionria..

    1) Assertivos O propsito dos membros da classe assertiva o de comprometer o falante (emdiferentes graus) como fatode algo sero caso, com a verdadedaproposio expressa. Todososmembros da classe assertiva so avaliveis na dimenso de avaliao que inclui o verdadeiro e ofalso.(p.19)concluir,deduzir,gabarse,reclamar,constataretc.

    Situao1:emumcontextodesaladeaula,oprofessor,aoanalisarasatividadesdesenvolvidasporumalunoduranteoano,assevera:

    A partir de anlise minuciosa do desempenho de x, concluo que x no tem condies de ser aprovado.

    2) DiretivosSeupropsitoilocucionrioconsistenofatodequesotentativas(emgrausvariveis[...])dofalantelevaroouvinteafazeralgo.Podemsertentativasmuitotmidas,comoquandooconvido

    5 De acordo com Marcondes (2005, p. 59), A classificao das foras ilocucionrias e os critrios para isso so retomados eaprofundados em A taxonomy of illocutionary forces (in Expression and Meaning, Cambridge University Press, 1979) eposteriormenteossetecomponentesdasforasilocucionriassoapresentadosemJohnSearleeDanielVanderveken,FoudationsofIllocucionaryLogic(CambridgeUniversityPress,1985)..

  • LETRAS|25

    afazeralgoousugiroquefaaalgo,oupodemsertentativasmuitoveementes,comoquandoinsistoemquefaaalgo.(p.21)pedir,convidar,mandar,suplicar,rogar.

    Situao2:emumapartidadefutebol,umjogadorcometeumafaltacujapunioaexpulso,entoo rbitro naturalmente ergue o carto vermelho, ao que pode vir acompanhada de um dosenunciadosabaixo:

    Convido-o a sair do campo!

    Saia do campo!

    3) CompromissivosOscompromissivosso[...]osatosilocucionrioscujopropsitocomprometerofalante(tambmnestecaso,emgrausvariveis)comalguma linhafuturadeao.(p.22)prometer,jurar.Situao3:emumcerimniadecolaodegraudecursosdegraduao,umdosformandosfazojuramentorelativoprofissoescolhida:

    Juro acreditar no direito como a melhor forma para a convivncia humana. Juro fazer da justia uma consequncia normal e ... (juramento do curso de Direito)

    4) Expressivos O propsito ilocucionrio dessa classe o de expressar um estado psicolgico,especificadonacondiodesinceridade,arespeitodeumestadodecoisas,especificadonocontedoproposicional.(p.23)agradecer,congratular,darpsames,darboasvindas.

    Situao4:navoltaparacasadeumaviagemlonga,Joanarecebidanoaeroportocomumafaixaquedizia:

    Boas-vindas, Joana!

    Joo,filhodeJoana,nopdeirrecepoporestardeplanto,entoenviouumamensagemparaocelulardame:

  • 5) Dec

    me

    suc

    em

    Situ

    LETRAS|26

    claraesmbrosproduedidagarantrealizaroat

    uao5:emu

    6

    Me, desculp

    Acaractersuzacorrespteacorrespotodedesign

    umaempres

    Voc est dem

    pe a minha aus

    ticadefinidopondnciaenondnciaenlopresiden

    sa,apsdese

    mitido!

    RESUMO

    caracterstumasenteisso,fico

    caracterizapela

    enunciaeEssasconsentreper

    atosfala;eatosdefala

    ncia, a vejo mai

    oradessaclantreocontentreocontente,entovo

    entendiment

    O:Comoavanticasparaosaenacomascuevidentequarumenunciateoria.Austinesperformativstataesgeraformativosecadmissodeadiretosedo

    por

    is tarde!

    ssequeardoproposidoproposicocopresi

    toentrechef

    noemsuaspatosperformacaractersticasueoutroscritadoperformatn(1990[1962]vasquenosaramdoisdesconstatativosduascategor

    osindiretos,clSearle(1981

    realizaobecionalearecionaleomudente;(p.26

    feefuncion

    pesquisas,prinativos,Austinspropostasriosmaissegtivoquesegu])constatouteguemopadsdobramentoseaadoodiasdeatosdelassificaoqu[1969],2002

    emsucedidaealidade,arundo:sesou6).

    rio,aquele

    ncipalmenteaconstataque,umatoperfogurossoneceeopadrofoambmquehroformalpros:oabandonoeumateoriaefala:oreconuevaiserabo[1979]).

    adeumdesrealizaobeubemsuced

    assevera:

    aoinvestigar,nemsemprermativo.Comessriosparaormalpropostohoutrasopostoporeleodadicotomiacompletadosnhecimentodoordada(revista

    eusemdido

    e,moe.asosa)

  • IMPLC

    Freq

    sobreoquporquehfazermosou

    Para

    ouemnvecoloca emsignificao

    Pau

    sentido liteparaqueoqueaintera

    Para

    inicialmente

    quandoess6[...]linfrencpragmatiques,

    CITOS

    quentement

    e est sendsituaesemutrasleituras

    achegarmoslcontextualrelao en

    o6.(SEARLE,

    ulGrice (198eralveicula,falantedigaaoveicula.

    a construire,estabelecesprincpioscesedfinitco,afindeconstr

    LINGUCO

    te,ao interao comunicamqueo conssemqueum

    saumadas(enunciao

    unciados datraduono

    82 [1967]), inlevantaahimaisdoqu.

    a sua teoe (prope)ossoviolado

    ommeuneoprruireunesignifi

    LEITURA

    GRICE,Hmetodol

    http://ww_Lgica_e_

    LEVINSOPaulo,M

    UN

    STICOONVERS

    agirmosem sdo almdontextonospmasemostr

    possveis leo).Otermoiados, contexossa)

    ntrigado comptesequeeestditol

    oria das imosprincpiosos,easconserationlogiquedcation.(SEARLE

    AS:

    erbertPaul.Lgicosdalingww.4shared._Conversao.h

    N,StephenCaryinsFontes

    NIDAD

    S E PRASACION

    situaesasque est lit

    permiteumaepredomina

    eituras,recornfernciasextuais, conv

    mapossibilidirecionaaiteralmente

    mplicaturassque regemequnciasdademiseemrelaE,apudBLANCH

    Lgicaeconvgstica v.Icom/file/133html.

    C.(2007)Prags,p.121152

    DE II

    AGMTNAIS (G

    smaisdiversteralmenteda s leitura,ante.

    rremosa inferentendidvencionais e

    idadedeumsuapesquiseparaque

    conversacio

    m (ouquedeanoobediationdedonnHET,1995,p.95

    versao.In:IV:Pragmtic3960193/9db

    gmtica.(trad.

    TICOS: RICE)

    sas, ficamosdito (linguistmasoutras

    fernciasemoaquicome pragmtico

    menunciadosae teoriapoouvinteca

    onais, inferevem reger)ncia,(in)voluesnonces,c5)

    DASCAL,M(1ca.Campinasbf8d81/H_P_G

    .LusCarlosB

    LETRAS|2

    IMPLICA

    commuitasticamente as vezeso co

    mnvel lingumoumaoperaos, visando

    o comunicarproposta:deapteainform

    ncias contumaconveruntria,aescontextuelles,c

    1982).Funda.DisponveleGrice_

    Borges,Aniba

    27

    ATURAS

    s interrogatualizado). Intextoperm

    sticodiscursaolgicaqconstruir u

    maisdoquevehaver remaoadicio

    extuais, Grrsao,comsasregras.conventionnelle

    amentosem:

    alMari).Sso

    S

    essso

    mite

    sivoqueuma

    eoegraonal

    ice,oe

    eset

    o

  • LETRAS|28

    A teoriapropostaporGrice (1982 [1967]),no artigo Logic andConversation,nousou apalavraimplcito,noentanto,hoje,podesedizerqueGrice,comadescriodasregrasqueregem(oudevemreger)umaconversaoeasconsequnciasdonocumprimentodessasregras,ofereceunosumaperspectivaparaolhar (investigar/compreender/descrever) os implcitos lingusticos e os pragmticos: implicaturasconvencionaisenoconvencionais.

    Para estabelecer (descrever) as regras que regem o dilogo, Grice parte da hiptese de que osparticipantes de uma interao fazem esforos cooperativos; se no inicialmente, mas no decorrer dainteraoessesesforos soverificados,casocontrrionohcomunicao. Essahiptesedeuorigemaoprincpiogeraldaconversao:oPRINCPIODACOOPERAO.

    Almdesseprincpio,Grice(1982,p.8688)postulaquatrocategorias,commximasesubmximas,asquaisdevemsercumpridasparaqueumainterao(conversao)sejabemsucedida.

    I) Categoriadaquantidadeestrelacionadacomaquantidadedeinformaoaserfornecidaeaela

    correspondemasseguintesmximas:1. Faacomquesuacontribuiosejato informativaquantorequerido(paraopropsitocorrente

    daconversao).2. Nofaasuacontribuiomaisinformativadoquerequerido.

    II) Categoriadaqualidadeencontramosasupermxima:Tratedefazersuacontribuioquesejaverdadeira.,comduasmximas:

    1. Nodigaoquevocacreditaserfalso.2. Nodigasenoaquiloparaquevocpossafornecerevidnciaadequada.

    III)Categoriadarelaoamximaproposta:Sejarelevante.

    IV) Categoriadomodorefereseacomooqueditodeveserdito.Asupermxima:Sejaclaro,comvriasmximas:

    1. Eviteobscuridadedeexpresso.2. Eviteambigidades.3. Sejabreve(eviteprolixidadedesnecessria).4. Sejaordenado.

  • LETRAS|29

    Essasquatrocategorias,comsuassupermximas,mximasesubmximas,forampropostas,para,comoprincpiodacooperao,regeremumconversao(interao)bemsucedida.Ento,paraquesetenhaumainterao feliz preciso que essas categorias sejam observadas em toda interao. Sendo que a noobservncia,deformanointencional,deumdessespreceitospoderacarretarrudosemalentendidos.

    Portanto, conhecer essas categorias que podem garantir uma interao satisfatria pode ser uminstrumentoparaoprofessorde lnguamaternautilizartantonaproduoquantonacorreodetextosdegnerostextuaisosmaisdiversos.Comasdevidasadequaesaogneroemquesto,possvelutilizaressascategoriascomocritriosconcretosparaensinaraproduzirtextosetambmavaliartextosproduzidosemsaladeaula,comomostraremosposteriormente.

    Primeiramente, nos deteremos no objetivo de Grice (1982 [1972]) oferecer subsdios pararesponderpergunta:Comopossveldizermaisdoqueestliteralmenteditolinguisticamente?,atravsdaquebrade,pelomenos,umadessascategorias.Emoutraspalavras,ointeressedofilsofoeraverificarcomo,respeitando oprincpioda cooperao,masquebrandoumadessasmximas,o locutor conseguedizer aointerlocutormaisoualmdoqueestdito;eporoutrolado,comoointerlocutorconseguetambmlermaisdoqueestditonaestruturalingusticodiscursiva.

    AS IMPLICATURAS

    Inicialmente,Griceintroduzoconceitodeimplicaturaasinformaesimplicitadas,propositalmente

    pelolocutor(falante/escritor),comoobjetivodetransmitiralgomaisaointerlocutor(ouvinte/leitor).

    Dois tipos de implicaturas so estabelecidos porGrice (1982): a implicatura convencional e a noconvencional(aimplicaturaconversacional):

    Implicaturaconvencionalumainfernciaresultantedosignificadoconvencionaldaspalavras.

    Ele um ingls; ele , portanto, um bravo. (GRICE, 1982, p. 84.)

    Nesseexemplo,constatamosqueainfernciadequeofatodeserbravoumaconsequnciadeseringls advm da presena do termo lingustico portanto. Ou seja, a inferncia aqui no estritamentecontextual,elapossibilitadapelapresenadeumtermoquetemcomosignificadoconvencional introduzirumaconclusoouconsequncia.

  • LETRAS|30

    Implicaturano convencional (doravante implicatura conversacional) inicialmenteaomenos,osimplicitadosconversacionaisnosopartedosignificadodasexpressescujousoosproduz. (GRICE,1982,p.103)

    Emboratenhapropostodoistiposdeimplicaturasasquaiscorrespondem,grossomodo,aosimplcitoslingusticos e aos pragmticos, Grice estava interessado, como confessa, somente nas implicaturasconversacionaisadvindasdaquebrapropositaldeumadasmximaspropostasporele.Salienteseque,nascondies estabelecidas por Grice, a quebra de uma das mximas acontece em um contexto em que oprincpiodacooperaoestsendoobservadopelosparticipantes.

    Segundo Levinson (2007, p. 140), possvel derivar um padro geral para o clculo de umaimplicatura:

    (i) Fdissequep(ii) no h razo para pensar que F no est observando as mximas ou, pelo menos, o princpio

    cooperativo(iii) paraqueFdigaquepestejarealmenteobservandoasmximasdoprincpiocooperativo,Fdevepensar

    queq(iv) Fdeve saberque conhecimentomtuoqueqdeve ser supostoparaque se considereque F est

    cooperando(v) Fnofeznadaparaimpedirqueeu,odestinatrio,pensassequeq(vi) portanto,Fpretendequeeupensequeqe,aodizerquepcomunicouaimplicaturaq

    Nessas condies, Grice, segundo Levinson (2007), isola as cinco propriedades essenciais dasimplicaturasconversacionais:

    a) Cancelveis (ouanulveis) uma infernciaanulvel sepossvel cancellaacrescentando

    algumas premissas adicionais s premissas originais. (p.142) As implicaturas, de acordo comLevinson,seriamsemelhantesaosargumentosindutivos.

    b) NodestacveisGricequerdizerqueaimplicaturaestligadaaocontedosemnticodoquedito, no forma lingstica, e, portanto, as implicaturas no podem ser retiradas de umenunciadosimplesmentetrocandoaspalavrasdoenunciadoporsinnimos[...]comexceodasquesurgematravsdamximademodo.(p.144145)

    c) Calculveis [...] deve ser possvel construir um argumento, demonstrando que, a partir dosignificado literal ou do sentido da enunciao, por um lado, e do princpio cooperativo e das

  • d)

    TEXTOS CO

    Vejadasmximaoutra(s);ouconsiderada

    Mximadainformao

    quantidade

    ea(s)inten

    mximas,pcooperao

    No convelingsticas.

    OM QUEBR

    amos,agoraas.precisoumuitas veza,naqueleco

    quantidade,oumenos,deinformao(es)do

    oroutro,seopresumida.

    encionais (p.145)

    RAS DE M

    ,situaesdosalientarqzes aquebraontexto,am

    e:nosexempdoquerequesconsidelocutor.

    guesequeu(p.145)

    [...] no

    XIMAS I

    deinteraoue,emmuitadeumam

    maisimportan

    plosabaixo,ueridonaqueerandoogn

    RESUMO:

    enunciahiptese

    regraparqueoo

    EssaPRINCquatrocumpridGriceaindaqualge

    umdestinat

    fazem par

    MPLICATU

    oemquecontassituae

    mximaefente.

    constataseelasituao.nerotextual,

    :PaulGrice(docomunicaequedirecioraqueofalanouvintecaptehiptesedePIODACOOcategorias,casparaquedainvestigaraasimplica

    riofariaai

    rte do sign

    URAS CONV

    nstatamosas,aquebraetuadapara

    aquebrada.Respeitara,oobjetivod

    (1982[1967]armaisdoqonaasuapentedigamaieainformauorigemaoPERAO.Acommximaumainteraosefeitosdaaturasconve

    prag

    nfernciaem

    ificado con

    VERSACION

    quebra,intedeumampreservaro

    mximadamximadedainterao

    ),intrigadocueosentidosquisaeteosdoqueestoadicionalprincpioge

    Almdessepsesubmximo(conversaaquebravolersacionaisgmtico.

    LETRAS|3

    mquestop

    vencional d

    NAIS

    encional,deximaacarreoutramxim

    quantidadequantidade

    o,ointerlocu

    comapossiboliteralveicuriapropostatditoliteralqueainteraraldaconverincpio,Gricmas,asquaiao)sejabeuntriadessumdostipo

    31

    arapreserva

    das express

    uma(oumtaaquebra

    ma,por sere

    porhavermsaberdosautor,oconte

    bilidadedeuula,levantaa:devehavermenteeparaoveicula.ersao:ocepostulousdevemseremsucedidasascategoriaosdeimplcit

    ara

    es

    ais)deesta

    maisaraexto

    marra

    .s,to

  • LETRAS|32

    E* Por que o senhor no estudou?

    I* : :: num estudei porque num num de:u, sabe? Num quis, n? Num gostava mesmo, :: porque s s queria trabalhaO mesmo e brincaO :: e minha me era do interioO, fic grvida de mim, n? :: a veio pra c. pa capital, n? A agente era era era do Catol do Rocha. A: :: nasci, n? quando eu tinha nove anos ela morreu. :: A eu s criado [P-] fui criado tambm como como se da famia mesmo{inint}onde eu moro l. Gente muito boa l, muito boa pa mim. (01.AFD.M)

    Arespostado informante,docorpusdoVALPB7,apresenta informaesqueultrapassamocontedo

    esperadocomo resposta.Noentanto,constatasequeessas informaesadicionaissoapresentadascomojustificativaparaa interrupodosestudos. Ento,aquebradamximadaquantidadeconscienteecomobjetivososquaisoinformanteesperasejamcaptadospeloentrevistador.

    A) - Joo um bom aluno?

    B) - o melhor jogador de futebol da escola.

    Situemosa interaoacima: Joocandidataseaumabolsanoprogramadebolsasdaescolaoqualtemcomorequisitos,paraseleodealunos,obomdesempenhoemsaladeaula.A(presidentedacomissodebolsas)fazaperguntaacimaaB(professordeMatemticadeJoo).ComarespostadadaporB,Aprecisafazeralgumasinfernciasparachegaraumapossvelleitura:BestsendocooperativoquandodissequeJooomelhor jogadorde futeboldaescola;portantoAprecisa inferirqueBestdizendomaisdoqueestliteralmenteexpresso(p)equeBpretendequeAidentifiqueoqueGricechamoudeq(ainfernciaimplicitadapelaquebradamxima).Umadaspossveis inferncias,apartirdocontextodescrito,que Joonoumbom aluno, considerando os parmetros exigidos para ser bolsista. Nessa interao, alm da quebra damxima da quantidade, foram fornecidos menos informaes do que se esperava, podese dizer que htambmaquebradamximadarelao,poispodesepensarquearespostadadaporBnorelevanteparaaperguntafeitaporA.

    Oexcessode informaestambmafetaocritrioderelevncia,poisdizermaisdoquerequeridonoadequado,excetoseoobjetivodizermaisdoqueaparentementedito.

    Asfrasesconhecidascomotautolgicastambmpodemfigurarcomoexemplosdetextosqueviolamamxima da quantidade, sendo, por um lado, circulares, redundantes e, por outro, dizem menos do quedeveriamdizer,ouseja,somenosinformativasdoqueorequerido.7ProjetodeVariaoLingsticadoEstadodaParaba,coordenadopeloprofessordoutorDermevaldaHoradeOliveira.

  • LETRAS|33

    Criana Criana!

    Guerra guerra!

    Surpresa inesperada!

    Acabamento final!

    Elo de ligao!

    Os dois primeiros exemplos Criana Criana! eGuerra guerra! podem tambm aparecer emcontextosqueestejam sendoutilizadospara responderaperguntasdo tipoDefinaoque sercriana?ouDefinaotermoguerra.Nessesdoiscontextos,desdequesesuponhaqueolocutordessesenunciadosestejasendo cooperativo, haver a quebra da relevncia cuja inteno caber o interlocutor buscar identificar.Nessesdoiscasos,teramosaquebradeduasmximas:adaquantidadeeadarelevncia.

    Mximadaqualidade:aquebradasupermximaTratede fazersuacontribuioquesejaverdadeira. fazcom que o interlocutor identifique no texto uma incoerncia, caso no se ressalte que essa declaraoaparentementefalsatemcomoobjetivo,porpartedolocutor,dizeralgomais,podendofazer,inclusive,comquesurjamasironias.

    A Voc est horrvel com esse vestido!

    B - Eu tambm amo voc!

    Levinson(2007)fazoseguintecomentrioparaumainteraosemelhanteaessa:

    Qualquer participante razoavelmente informado saber que a enunciao de B escandalosamentefalsa.Sendoassim,BnopodeestartentandoenganarA.AnicamaneirapelaqualasuposiodequeBestcooperandopodesermantidaseinterpretarmosqueBquerdizeralgoum tantodiferentedaquiloqueefetivamente foidito.Aoprocurarmosporuma proposio relacionada, mas cooperativa, que B pode estar pretendendo comunicar,chegamosaooposto,ounegao,doqueBformulou[...].(p.136)

    Nonossoexemplo,provavelmenteBestquerendodizeraA:Eu tambm odeiovoc!.Masparaque se possa chegar a essa inferncia, conhecimentos partilhados e culturais precisam ser recuperados,partindoinicialmentedasuposiodequeBestsendocooperativo.

  • LETRAS|34

    VejamosmaissituaesemqueasupermximaTratedefazersuacontribuioquesejaverdadeira.estsendovioladaintencionalmente:

    Um edifcio estava pegando fogo, e todos corriam para a sada de emergncia. Algum pergunta: A - um incndio?

    B - No, a minha mulher que est assando uma pizza!

    OpresidenteLula,aoserperguntadoporumjornalista:A - O senhor acha que a CPI da Petrobrs vai terminar em pizza? Ele respondeu:

    B - Todos eles so bons pizzaiolos. (15/07/09)

    Nasduasinteraesacima,aprimeiradognerotextualpiadaeasegundafragmentodeumaentrevistafeitaporumreprterdetelevisocomopresidenteLusInciodaSilva(Lula),constataseque,mesmo em gneros diferentes, h a quebra damxima da qualidade, porm com objetivosdiferentes.

    Napiada,aquebrada supermxima Tratede fazer sua contribuioque seja verdadeira.funciona como desencadeador (ativador) da ironia que gera o riso, pois a uma pergunta norelevantecabeumarespostatambmnoverdadeira,que,porsuavez,tambmsecaracterizacomouma resposta no relevante. Essa caracterstica permite observar que a quebra da mxima daqualidade, nessa situao, tambm gera a quebra da mxima da relevncia. Como j foi ditoanteriormente,h situaesemqueaquebradeumamximadesencadeiaaquebradeoutra(s),sendoque,svezes,tornasedifcilenquadraraquebraemumaouemoutracategoria.

    Naentrevista,constatasequehouvetambmaquebraTratedefazersuacontribuioqueseja verdadeira., porm com objetivos diferentes daqueles que constatamos na piada. Nessaentrevista, o presidente talvez por no ter condies de, com certeza, dar uma resposta para aperguntafeitapeloreprter,resolveironizar,aparentementesendoirrelevante,pormpoderestardizendoqueosparlamentaresno sopizzaiolos,embora saibaseque,metaforicamente, asCPIsterminamem pizza. Salienteseque, subsequentementeaesseepisdio, ao serquestionadoporessa resposta,opresidentedissequenopretendiaofenderningum.Nessa interao, comoemoutras jmostradas,poderseiaapontaroutraquebrademxima,ada relevncia,provandoque

  • LETRAS|35

    quasesempreanoobservnciadeumamximaacarretaadeoutraouconsequnciadeoutraquebra.

    Emboraosdoistextospertenamadoisgnerostextuaisdiferentes,deacordocomLevinson(2007,p.136),Senohouvessenenhumasuposiosubjacentedecooperao,osreceptoresdasironiasdeveriamsimplesmenteficarperplexos;nenhumainfernciapoderiaserextrada..

    Mximadarelao:nostextosabaixo,constataseaquebradamximasejarelevante,pormressaltandoqueessaquebraproposital,portantoointerlocutorprecisapartirdapresunodequeolocutorestsendocooperativo,entoestdizendoalgoamaisdoqueestditoliteralmenteecabequelebuscar,atravsdeinferncias,essainformaoextra.

    Inicialmente, apresento duas perguntas com as respectivas respostas de uma entrevista feita pelaRedeGlobodeTeleviso como candidatoaPresidentedaRepblica, Luiz Incio Lulada Silva.pocadaentrevista,LulaeracandidatoaosegundomandatopresidnciadoBrasil,porissoestavasendoquestionadosobreoescndalodomensalo,colocadoapbliconoseuprimeiromandato.

    Ftima Bernardes: O senhor acha ento que o senhor tambm errou, presidente, no caso dessas denncias, o senhor tambm teria errado? O que o senhor poderia fazer de diferente no caso de um novo mandato?

    Lula: Eu s poderia fazer diferente se eu soubesse antes. Eu soube depois que aconteceu. O dado concreto, Ftima, que muitas vezes, ou por uma f, ou quem sabe at porque estamos vivendo uma guerra poltica, as pessoas ousam dizer o seguinte: "olha, mas o presidente deveria saber de tudo". Ora, vamos ser francos, vamos ser honestos entre ns. Est cheio de famlias que tm problema dentro de casa e a familia no sabe. Est cheio de pai e me que ficam sabendo que o seu filho cometeu um delito pela imprensa, ou quando a policia prende. Como que pode algum querer que o presidente da Repblica, embora tenha que assumir responsabilidade por todos os lados, saiba o que est acontecendo agora na Secretaria da Agricultura do Estado de So Paulo ligada ao Ministrio da Agricultura. Como que eu posso saber agora o que est acontecendo com os meus ministros que no esto aqui? (entrevista 10/08/06 na Rede Globo)

    Ftima Bernardes: Mas o fato dele (Paulo Okamoto), de aliados dele, terem tentado tanto bloquear aquela quebra de sigilo, no pode levar o eleitor a pensar que havia algo a esconder?

    Lula: um direito dele no querer quebrar o sigilo dele. um direito de qualquer cidado. Amanh, isso pode estar acontecendo com voc, pode estar acontecendo comigo, pode estar acontecendo com o William e ns vamos utilizar todos os mecanismos que o direito nos d para que ns possamos nos defender. (entrevista 10/08/06 na Rede Globo)

    Analisandoasrespostasdopresidencivel,luzdamximas,constatasequeasduasperguntasfeitaspelaentrevistadoraficaramsemrespostasadequadasparaasituao,porm,partindodapresunodequeo

  • LETRAS|36

    locutor (Lula) estava sendo cooperativo, ou seja, que o candidato entendeu a pergunta, e que respondeudessaformaintencionalmente,cabeentrevistadora,comoaosouvintes(leitores),buscarainformaoextraque estava sendo comunicada pelo candidato. Da forma como as perguntas foram respondidas, opresidencivelnosecomprometeuliteralmentecomoescndalovivenciadopeloPT,pormdeixoumargemparajulgaremnoculpadoouinocente.

    Nessecontexto,amximasejarelevantefoivioladadeliberadamentepelo locutor(candidatoLula)por, sabermos, naquele contexto ter de agradar gregos (seu partido) e troianos (oposio solidria) eprincipalmente no poder se comprometer perante seus milhes de eleitores que assistiam entrevista.Salientesequeaquebraquechamaaatenoadarelevncia,noentanto,paraquebraressa,outramximatambmfoiquebrada:adaquantidadenaprimeirapergunta;nasegunda,podeseconstatarqueaquebradamximadarelevnciapodetertidoafunodepreservarasupermximaTratedefazersuacontribuioquesejaverdadeira.. A seguir apresentaremos aquebradamxima seja relevante em charges, emque a quebra temfuno semnticodiscursivadiferenteda constatadanaentrevistaanterior.Ognero textual charge temafunosocialdecriticarsituaescotidianasasmaisdiversas,atravsdohumorgeradoporvrios recursoslingusticodiscursivos.Apresentamosaquialgumaschargescujorecursogeradordorisoaquebradamximadarelao.

    (Disponvelem:Acessoem:04jul.2009)

    Nessacharge,abordadoumtemadocotidiano,salienteseatemporal,e,parasechegarumdospossveissentidos,precisoqueoleitoridentifique:

  • LETRAS|37

    1) Ospersonagensouos fatosaqueo texto faz referncianaperspectivapolifnica,ostextoscomosquaisessetextodialoga;

    2) o contexto sciohistricoe/oupoltico e as circunstncias emqueo fato referenciadoaconteceu;ouseja,recuperaodaenunciao;

    3) oselementoslingsticos,quandohouver;4) as possveis intenes do chargista, considerando o lugar de onde ele enuncia (se

    atravsde jornal,revista,ousemvnculocomnenhummeiodecomunicao,produoindependente).(ESPNDOLA,2001,p.110111).

    Aps,seremrecuperadasessas informaes,constatase,nacharge,queaspalavrasdamenosoadequadassituaoqueo textonoverbalrevela (mostra).Verificasequeoqueditopelamenorelevanteparaasituaoemqueseencontrammeefilho.

    Considerando o texto no verbal (ancoragem da charge), constatase que o chargistaapresentadoispersonagens (mee filho) interagindo,pormamedirigindoseao filho comumenunciadoquasequeabsurdoparaocontexto.Porm,comonosoutrosgnerosapresentados,osleitores da charge precisam partir da presuno de que o chargista, ao apresentar esse dilogoanormalemum lixo,estsendocooperativocomseus leitores,portantoestaria,comessetexto,veiculandouma informaoextra,almdodito.Aquebradamximasejarelevante levao leitorabuscar a inteno do locutor, aqui o chargista, que poderia ser uma crtica aos governantes, porpermitiremquepessoastenhamderecorrerao lixoparasobreviverem.Aquebrageraoriso,mas,nacharge,geralmenteumaformadecrtica.

    Disponvelem:.Acessoem:05jul.2009.

    Nessacharge,comojcolocadoanteriormente,tambmprecisoquesejamrecuperadosos

    conhecimentosprviosnecessriosparaquesepossafazerumadas leituraspossveis.Aquebrada

  • LETRAS|38

    mximada relevncianovamenteutilizadaaquipelo locutor (chargista),agorana respostadadapelo entrevistado a um programa de televiso. Aparentemente, dirseia que o entrevistado noentendeuaperguntadoentrevistador,porm,essa infernciafica invalidadaaoserecuperarnossahistria,principalmente,operododeditaduraporqueosbrasileirospassarameafaseatualemqueaditaturatemsidoreconhecidapelosgovernantes.

    A partir dessa constatao, resta ao leitor fazer suas inferncias, considerando que opersonagem colocado no papel de entrevistado (provvel ator do perodo da ditadura por suascaractersticas fsicas), est sendo cooperativo na entrevista, portanto, se deu uma respostainadequadaofezcomuma inteno.Nessecaso,precisobuscaruma infernciaquetraduzaessapossvelinteno.

    Achargeabaixotambmumacrtica,atravsdohumor,utilizandosedorecursodaquebrada mxima da relevncia. Constatase, no texto, uma resposta, aparentemente, inadequada pergunta feita pela pessoa que est sendo detida por um policial da Polcia Federal. O ttulo dacharge faz referncia aescndalo fiscaldeuma empresabrasileira.Novamente,para se chegar informaoextraqueo locutor (chargista)pretendedivulgar,precisopartirdapresunodequeele est sendo cooperativo e de que a quebra da mxima por um dos personagens da charge intencional.

    Disponvelem:http://www.chargeonline.com.brAcessoem:05dejul.2009.

  • LETRAS|39

    precisosalientarqueaquebradamximadarelao feitadeliberadamente,para,muitasvezes,preservarasupermximaTratedefazersuacontribuioquesejaverdadeira..

    (A) - Que significa "pressuposio"?

    (B) - Consulte uma obra de semntica.

    (A) - Que horas so?

    (B) - J tarde.

    (A) - Voc me ama?

    (B) - Eu gosto de estar em sua companhia.

    Nastrsinteraesacima,constatasequetodasasrespostasnoso,aparentemente,adequadassperguntas, porm percebese que o locutor atravs dessa quebra (estratgia) est sendo cooperativo eprotegese para no ser acusado de no ter dito a verdade. Porm, constatase que, em cada uma dassituaes,asinformaesintencionalmenteveiculadassoasmaisdiversas,ficandoacargodosinterlocutores(leitores)identificlas.

    Mximademodo:quebraressamximasignificanoseguirumdessespreceitos:

    1. Evite obscuridade de expresso.

    2. Evite ambigidades.

    3. Seja breve (evite prolixidade desnecessria).

    4. Seja ordenado.

    Muitasvezes,quandoconstatamosaquebradeumadas trsoutrasmximas,emdecorrnciadaquebradeumdospreceitosdacategoriadomodo.Porexemplo,aquebradamximadaquantidade,nosdoisexemplos tratados naquele espao, est diretamente ligada ao fato de o informante no ter respeitado opreceitosejabrevenainterao:

    E* Por que o senhor no estudou?

    I* : :: num estudei porque num num de:u, sabe? Num quis, n? Num gostava mesmo, :: porque s s queria trabalhaO mesmo e brincaO :: e minha me era do interioO, fic grvida de mim, n? :: a veio pra c. pa capital, n? A agente era era era do Catol

  • LETRAS|40

    do Rocha. A: :: nasci, n? quando eu tinha nove anos ela morreu. :: A eu s criado [P-] fui criado tambm como como se da famia mesmo{inint}onde eu moro l. Gente muito boa l, muito boa pa mim. (01.AFD.M)

    Ainteraoabaixo,poroutrolado,cujamximadaquantidadetambmfoiquebradapordizermenos

    doquedeveriaterditoparaasituao,quebra,tambm,amximadarelao.

    A) - Joo um bom aluno?

    B) - o melhor jogador de futebol da escola.

    Submetendoas implicaturasconversacionais levantadasnos textosaoscritriospropostosporGrice

    (1982), possvel verificar que todas as quebras de mximas geradoras de implicaturas denominadasconversacionais so: cancelveis, pois no esto previstas na significao das expresses que compem aestrutura lingustica;nodestacveis,poisas implicaturasesto ligadasaosentidoeaocontexto,portantomudaraestruturanoaselimina;calculveis,socalculadas,poisapartirdapresunodequeolocutorestsendo cooperativo, est dizendo algo atravs da quebra; portanto, cabe ao interlocutor calcular qual ainformao extra que lhe est sendo enviada; no convencionais, pois todas os exemplos de implicaturasacimanoestoprevistosnosignificadoconvencionaldasexpresseslingusticas.

    AS MXIMAS CONVERSACIONAIS E O ENSINO DE PRODUO TEXTOS

    Aviolaointencionaldasmximasconversacionaisgeraasimplicaturasconversacionaisprivilegiadasataqui,asquais constituemum implcitopragmtico.Noentanto,amximaspropostasporGrice (1982)tambmpodem ser violadasno intencionalmente,pordesconhecimentodas regrasde construodeumtexto de determinado gnero. Nesse contexto, quero fazer algumas ponderaes sobre a quebra dessascategorias, aqual geraum texto comdeterminada incoernciaou geraum rudono intencional emumainterao.

    AsmximasconversacionaisdeGrice,emboratenhamsidopensadasparaocontextodaconversao,podem ser utilizadas para o ensino de produo textual, bem como critrios para a correo de textos,considerandoascaractersticasmacroemicrodogneroaqueotextopertence.

  • LETRAS|41

    Paraexemplificarmosessepossvelusodateoria,tomamosapropostadaprimeiraquestodaprovaderedaodoPSS2009daUniversidadeFederaldaParaba,queapresentouafotodeummeninoquebrandopedraeoseguintecomando:

    Imaginesenopapeldeumreprterquecompareceao localondeocorreuofatoretratado.Redijaumtextoparaserpublicadonojornalemquevoctrabalha,noticiandoessefato.Paratanto,observeasseguintesorientaes:

    Sigaaestruturadeumanotcia;

    Redijaseutextocom,nomnimo,12linhas,e,nomximo,com15linhas;

    Useanormapadrodalnguaescrita.

    Observemosasmximas:dequantidade,qualidade,relaoemodonotextoabaixo,considerandoogneroquefoisolicitado:umanotcia.

    Se aplicarmos essas mximas, para verificarmos se esse texto atende ao mnimo que requer umainteraoescritaemformadenotcia,podese,deformabastantesuperficialnesteespao,fazerasseguintesobservaes.

    Para verificar se a mxima da quantidade satisfeita, inicialmente, preciso observar quaisinformaessorequeridaspelogneronotcia,econsultandooslivrosdarea,constatamosquealgunsitensprecisamestarpresentes:quem,onde,quando,oquecomo(sepossvel),osquaisdeterminaro,inclusive,aquantidade de informaes. Constatase que os quatro primeiros itens aparecem no primeiro pargrafo,mesmoqueoquestejarelatadodeformabastantesuperficial.Nosegundopargrafo,esperavaseummaiordetalhamentodofatonoticiado,pormoqueseencontraumpontodevistadoredatorsobreoassunto.Onvelinformativoedeargumentividade,deacordocomgnero,poderiaseravaliadonessamxima.

  • LETRAS|42

    Amximadaqualidadepareceestarsendosatisfeita,poisoproblemanoticiadono textoadvmdeoutras notcias e reportagens veiculadas em meios de comunicao do estado. E, nesse ponto, precisotrabalhar com os alunos o fato de que h gneros, por exemplo, a notcia, que requerem que os fatosdivulgadospossam serprovadosporaquelequeosdivulga.Ou seja,diga (escreva)Nodiga senoaquiloparaquevocpossafornecerevidnciaadequada..Porm,amodalizaoumrecursomuitousadonessegneroquandonosetemtodasasevidnciasdeumfatoqueestsendodivulgado,ounosetemacertezadaautoria.

    Noseconstatanenhumafaltaderelevnciaentreoquefoisolicitadopeloenunciadodaquestoeoque foi produzido pelo candidato. Teramos aqui um caso de no relevncia, caso o candidato escrevessesobreumoutroassunto,diferentedosolicitado.

    Comrelaomximadomodo,precisoaquiparareverificarotexto,considerandoanormapadrodalnguaportuguesanoquedizrespeitoaoselementosdecoesoemnvelmacroemicrodiscursivotextual,deacordocomasexignciasdognerosolicitado.

    Obviamente,asmximasserviriamdenorteparaoprofessorquetrabalhacomproduodetextoemsaladeaulaenoparacomporemgradesdecorreode textosemconcursosdegrandespropores.Noentanto,conhecerasmximaseaspossibilidadesdeaplicaopodeservirdesubsdioparaprofessoresquetrabalhamcomleituraeescritaemtodososnveisdeensino.

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    43

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    umas situanunciado.

    uma sentenodososcasosqueles em quersignificaragnificaroquete.(p.4748)

    am:

    significla, mecompreendemais;(p.49)

    e779.

    es

    aesdeue oalgodiz,

    masero

  • LETRAS|44

    Eparatentarresponder(resolver)aessesdoisproblemas,Searle(2002[1979])identificadoisatosemum ato indireto: um ato primrio e um ato secundrio.O primeiro (primrio) seria a inteno que tem olocutorcomdeterminadoenunciado,independentedeestarexplcitoouno;osegundo(secundrio)oatousadopara realizaroprimrio,o sentido literalda sentena.E,para seentendere chegaraoatoprimriopretendido/realizadopelaenunciaodex,Searle (2002),p.5354)apresentaumabreve reconstruodasetapas,que,segundoele,oouvinte(leitor)realiza,mesmoqueautomaticamente,paraderivaroatoprimriodosecundrio.

    DeacordocomSearle(2002),parasebuscaroatoprimrioqueestsendorealizadoatravsdeumatosecundrio,lanasemodeumprocessoinferencialqueestdescritoem10passosnessaobra.

    Eassimresumeessetrabalhodointerlocutor(leitor).

    Aestratgiainferencialestabelecer,primeiramente,queopropsitoilocucionrioprimriodivergedoliterale,emsegundolugar,qualsejaopropsitoilocucionrioprimrio.[...]Esseaparato inclui informaes de base compartilhadas, uma teoria dos atos de fala e certosprincpiosdeconversao.(p.53)

    Analisemos a situao a seguir, em que A recebe um convite para ir ao cinema e B responde,

    aparentemente,deformairrelevante.

    A Vamos ao cinema hoje tarde?

    B Tenho de terminar o material de Pragmtica para a EAD.

    OlocutorAfazumconvite,emformadeatodireto,esuapropostarejeitadaporBdeformaindireta.

    Ento, como A entende que sua proposta est sendo rejeitada ou que a enunciao de B deve ser lida(entendida)comoumarejeio?Searle(2002)dizqueA,parachegarleituradequeoenunciadodeBumarejeioaoseuconvite,primeirorealizarrealizaralgumasetapas lingusticocognitivas,asquaisresumireiaseguir.

    Asabeque,aofazerumconviteaB,estedeveraceitloouno.AtambmsabequeBestsendocooperativo(princpiopropostoporGrice),portantosuarespostadeveserrelevante.Noentanto,aoobservarliteralmenteoqueforaditoporB,Aconstataquearespostaesperada aceitao,recusaoupropostaparadiscutiroconvitenorelevanteparaoconvitefeito.Mas,recuperandoapresunodequeBestsendorelevante,Aprecisabuscaroque estdito almdo sentido literal expressona sentenadeB,portantoopropsito ilocucionrio (atoprimrio)deB diferentedoexpresso literalmente (ato secundrio).Apartir

  • LETRAS|45

    dessaetapa,Abuscarumaconcluso(inferncia)probabilsticaenquantopropsitoprobabilsticodeB.Essainfernciasserpossvelconsiderandoosaspectos j levantadoseoque foradito literalmente:Tenhodeterminar o material de Pragmtica para a EAD. A partir desses dados, podese concluir que terminar omaterial e ir ao cinema constituem duas aes que no podem ser realizadas simultaneamente; aceitar apropostadeA,tendoessatarefaaser,comcerteza,realizada,caracterizariaumaincoernciadeB.

    ParaSearle (2002),huma incidnciamaiordeatos indiretosnogrupodosdiretivos,em funodapolidez,umavezque,emnossasociedade,muitomaiseficienteumaordemcamufladadepedidodoquedeformaliteral.

    A polidez a mais proeminente das motivaes para pedidos indiretos e certas formastendem naturalmente a tornarse os meios polidos convencionais de feitura de pedidosindiretos.(p.81)

    Assim,muitomais,socialmente,simpticoeaceitvelpedirquesefecheaportaatravsdaforma

    indiretaVocpodefecharaporta?,doqueaformadiretaFecheaporta!.Oscompromissivostambmso,emmuitassituaes,realizadosatravsdeformasindiretas,comoosexemplosaseguir:

    Posso levar voc ao cinema?

    Entregarei os dados a voc na sua prxima visita.

    AcrescentoaospostuladosdeSearle(2002)quetodososatosilocucionriospodemserrealizadospor

    meiodeumato indireto;ascondiesenunciativaseoprincpiodapolidezquedeterminaroseumatoilocucionrio,quersejaassertivo,diretivo,compromissivo,expressivooudeclarativo,serrealizadodeformadiretaouatravsdeumatoindireto.

    DeacordocomLevinson(2007),seroconsideradosatosindiretosoutrosusosdalinguagemquenoestejamemconformidadeoqueestprevistoabaixo:

    (i) Asperformativasexplcitastmaforaquenomeadapeloverboperformativonaoraomatriz(ii) Ou ento, os trs tipos principais de sentenas em ingls, isto , as imperativas, interrogativas e

    declarativas,possuemasforasqueatradioassociouaelas,asaber,ordenar(oupedir),interrogareafirmar,respectivamente(naturalmente,comaexceodasperformativasexplcitas,queestejamemformatodeclarativo).(p.335)

  • LETRAS|46

    H pessoas que tm dificuldade de pedir desculpas utilizando a forma direta Desculpeme, masrealizamoatoutilizandooutras formas indiretasque surtemomesmoefeito:Eunoqueria termagoadovoc!.Issonovaiserepetir!(estepodeserclassificadotambmcomoumcompromissivo).Parecemequeatumadeclaraopodeserfeitadeformaindireta,observeaseguintesituao.

    O diretor de uma empresa, ao constatar que um dos funcionrios responsveis pela segurana daempresanoestavacumprindoasnormasdesegurana,chamouoemseuescritrioeodemitiudizendo:Apartirdehojevocnotrabalhamaisnestaempresa!.Houveumadeclaraocomopropsitodedemitirofuncionrio;odiretor temaautoridadepara realizaresseato;o localeraadequado;enfimascondiesdefelicidadeforamsatisfeitaseoatoconsumado.Porm,opropsitodedemitirfoirealizadoatravsdeumatoindireto.

    Osatosassertivos,pelomenosalguns,tambmpoderoserrealizadosatravsdeatosindiretos.Porexemplo,possoestarfazendoumareclamaodeformaindireta.Observeasituao.Contratoumafirmadevigilnciaparaaseguranademinhacasa,nosatisfeitacomodesempenhodosfuncionriosdestacadosparafazer a referida segurana, ligo para o diretor da firma e digo: A firma no tem funcionrios mais bemtreinados para me enviar?. Nesse contexto, no estou querendo uma resposta pergunta, mas estouregistrandoquenoestousatisfeitacomodesempenhodosfuncionriosquetmvindofazeraseguranadaminhacasa.Assim,oato ilocucionrioprimrioquealmejo,reclamao,estsendorealizadoatravsdeumsecundrio,umapergunta.Odiretor,seperspicaz,tomarasdevidasprovidncias.

    Uma outra situao que ilustra um ato assertivo realizado de forma indireta. Em um noticiriotelevisivo,umreprtervisitaumafeiracomobjetivodeverificarumaumentodepreosdefrutaseverdurasqueestariasendopraticadoapartirdodiadavisita.Aoverificarqueospreospraticadosnodiavisitanoeramosmesmosdodiaanterior,estavammajorados,perguntaaumdosfeirantes:

    Reprter: Os preos hoje esto mais altos do que estavam ontem?

    Feirante: Olha, os preos hoje no so os mesmos de ontem.

    Nessa situao, constatamosqueo feirantenodissedeclaradamentequeospreosdas frutaseverdurasaumentaram,recorreaumadeclaraoque,pelocontextoeconmicoemquevivemos,dificilmenteoatoindiretorealizadopelaasseroacimaseriaOspreosbaixaram,masOspreossubiram.Paraofeiranteno simptico assumir a majorao dos preos, ento recorre a um ato indireto, que, sabese, nessasituao,podesernegado,poisnohnenhumamarca lingusticaquedeixeessa informao registradana

  • LETRAS|47

    estrutura lingusticodiscursiva.Juntoaosconsumidoresofeirantenofoiantiptico,assumindo,oaumento,comotambmsepreservoujuntoaosoutrosfeirantes.

    Umaltima ilustraode interaoemqueumatoassertivopodetersidorealizadoatravsdeumatoindireto.

    Emumaempresa, aspessoasquepor l transitam realizandodeterminadas atividades agendampreviamente suas idas a essa empresa. Em determinada situao, duas funcionrias, ao verificarem sedeterminadoprofissionalestariaounonaempresaemumhorrioX,constataramquehaviaumamarcao,masoprofissionalnoestavanorecinto.Nessecontexto,tiveramoseguintedilogo:

    A: No fui quem agendou a vinda de fulano.

    B: , a letra est bem direitinha.

    A: Voc disse que minha letra ruim?

    B: Eu no disse nada.

    Nessa,situao,sabesequehumatoindireto,porquehumainformaopartilhadaentreAeB,Adiz teruma letra ruim.Essa informaono sdeconhecimentodeB,como tambmparece seraceitacomoverdadeiraporB.Porm,Bnoassumedeclaramente,mas,portodasasinformaes,possvelinferirquerealmenteBpretendeudizerquealetradeAnotolegvel.

    A partir da exposio dos atos indiretos e do princpio da polidez que permeia nossas relaessociais,profissionaisepessoais,huma tendncia,pelomenosemnossacultura,deusarmos,maisdoqueimaginamos,atossecundrioscompropsitosdeatosprimrios.

    Transcrevo, aqui, uma lista de como pedir indiretamente para fechar a porta apresentada porLevinson(2007,p.336337).

    Quero que voe feche a porta.

    Eu ficaria muito grato se voc fechasse a porta.

    Voc pode fechar a porta?

    Por acaso, voc tem como fechar a porta?

    Voc fecharia a porta?

    Voc no vai fechar a porta?

  • Ou

    LETRAS|48

    utrasformas

    8

    Voc se impo

    Voc estaria

    Voc devia fe

    Poderia ser

    No seria me

    Posso pedir-l

    Voc ficaria m

    Sinto ter de d

    Voc se esque

    Faa-nos um

    Que tal um p

    slingusticas

    Est muito fri

    Na sua terra

    A sua casa n

    RESUM

    pragmsitua

    ortaria de fechar

    disposto a fecha

    echar a porta.

    til fechar a por

    elhor voc fecha

    lhe que feche a

    muito chateado

    dizer-lhe para fe

    ecer de fechar p

    favor com a por

    ouco menos de

    aindapoder

    io com a porta a

    no se fecha a p

    o tem porta?

    MO:Osatosmtico conesumain

    estru

    r a porta?

    ar a porta?

    rta.

    ar a porta?

    porta?

    se eu lhe pediss

    echar a porta.

    porta?

    rta, amor.

    brisa?

    riamseracre

    aberta!

    porta?

    delinguagenstituemounformaotuturalingus

    se que fechasse

    escentadas,c

    emindiretosutraformadtotalmentesticodiscurs

    a porta?

    como:

    s umadasdedizermadiferente,dsivadoenu

    sformasdeis,ouemadoqueestnciado.

    eimplcitolgumasditona

  • IMPLC

    Osiconsiderado

    participante

    contexto,o

    Poralgumassitdeelementdonvelpra

    Seg

    CITOS L

    implcitosatos pragmties do princquefacilita

    m, nem touaes,mesto lingusticoagmtico.

    gundoDucrot

    LINGUSE SU

    tentodestcos, pois aspio de coopaointerlocu

    odos os impsmoquenoopresentene

    t(1987),pre

    Dizer queadmitir X,subentendi

    processo,afala.(p.42)

    LEITURA

    Pontes.(

    MOURAaquest1999.(c

    UN

    STICOSUBENTE

    tacadosims informaeperao, dotoridentifica

    plcitos sooestejaafirmessaestrutu

    essupostoes

    pressuponhosem por issido,aocontrao terminodo

    AS:DUCRO(p.1343)A,Heronideesdesemcap.I)

    NIDAD

    S E PRAENDIDO

    mplicaturasces extras (inconhecimen

    arainteno

    estritament

    madonaestra.Osubent

    subentendid

    X, dizer qo darlhe orio,diz respeoqualdeves

    OT,Oswald.

    esM.(1999mnticaep

    DE IV

    GMTIOS (DUC

    conversacion

    nferncias)nto entre osodolocutor

    e pragmtictrutura lingutendido,por

    osodoistip

    ue pretendodireito de peitomaneirsedescobrira

    (1987)Od

    9)Significaragmtica.

    COS: PCROT)

    naiseatosdepossveis ads participantcomdeterm

    cos, h umausticodiscurroutrolado,

    posdeefeito

    obrigar o derosseguir o drapelaqualea imagemqu

    dizereod

    aoecont.Florianp

    LETRAS|4

    PRESSUP

    elinguagemdvm da obtes da intera

    minadoenunc

    a categoriarsiva,recu,pareceser

    osdesentido

    estinatrio, pdilogo a proessesentidoepretendo lh

    ito.Campi

    texto:umapolis:Editor

    49

    POSTO

    indiretosservao peao, enfimciado.

    deles que,peradoapaumainfern

    o:

    or minha falaopsito de Xmanifestadohedardemi

    inas,SP:

    aintroduraInsular,

    OS

    soelosdo

    emartirncia

    a, aX. Oo,onha

    o

  • LETRAS|50

    O PRESSUPOSTO UM IMPLCITO LINGUSTICO OU PRAGMTICO?

    Antesde comearumapossibilidadede respostaaessapergunta, situo rapidamente asorigensdapressuposio,comotambmolugardeondeabordareioessefenmeno.

    AteoriadapressuposiosurgiunaFilosofia,comduascorrentes,segundoKoch(1987):ogrupoqueconcebe a pressuposio em termos das condies de verdade das proposies, situandose, assim, nocamponalgica(oudasemnticapura)(p.50);eogrupodefilsofosqueconcebemapressuposiocomocondiodeempregodosenunciados(p.51).

    Neste espao, no abordarei a pressuposio em nenhuma das perspectivas da Filosofia, centrareiminhaabordagemnaperspectivadeDucrot (1987),salientandoqueateoriadesenvolvidaporesse linguistapassou por vrias etapas que no sero aqui abordadas, mas que podero ser conhecidas com a leiturasugerida.

    Para responder pergunta o pressuposto um implcito lingustico ou pragmtico? , tomamos aseguintesituao.

    Osenhorx,porteirodeumcondomnio,acusadopeloscondminosdeterdeixadooportoabertoemdeterminadodia.O sndico, ao tomar conhecimento, chamouoporteiropara averiguar aocorrnciaeobteve deste a negao de que havia deixado o porto aberto. Depois de muita discusso com algunsmoradoresqueacusavamoporteiro,osndico resolvedarporencerradaaconversaesedirigeaoporteirodizendo:

    Episdio encerrado, mas voc no deixa mais o porto aberto!

    Todosficaramsatisfeitos,inclusive,oporteiro,pormestenopercebeuqueestavasendoperdoado

    poralgoquealegavanoseroresponsvel.Eareuniofoiencerrada.Na faladosndicohuma informao implicitadaquesa recuperamosatravsdeuma inferncia,

    pormessainformaoativadaporumelementolingustico:omais.Apresenadessetermoregistraessainformaoquenoestnonvel superficial:vocdeixouoportoaberto.Essa infernciaspossvelserresgatadaconhecendoseofuncionamentosemnticodiscursivodaexpressomaiseosimplcitoslingusticosqueficamregistradosemnossostextos,osquaispodem,emalgumassituaes,noscomprometer.

    Analisemosagoraoproferimentodosndico,luzdateoriadeDucrot(1977,1987),comeandopeladefiniodoquesejaumpressuposto.Deacordocomomesmoautor,pressupornodizeroqueoouvintesabe ou o que se pensa que ele sabe ou deveria saber, mas situar o dilogo na hiptese de que ele j

  • LETRAS|51

    soubesse.(1977,p.77)Nessaconcepo,apressuposioaparececomoumatticaargumentativa(1987,p.40).

    Nessaperspectiva,Ducrot (1987) diz que [...]opressuposto apresentado comopertencendo aons, enquanto o posto reivindicado pelo eu, e o subentendido repassado para o tu.(p.20).Retomandooproferimentodosndico,teramos:

    Posto: Episdio encerrado, mas voc no deixa mais o porto aberto!

    Pressuposto: Voc deixou o porto aberto!

    Subentendido: Da prxima vez no haver perdo! (uma das possveis inferncias)

    O pressuposto aqui identificado caracterizase como lingustico, porque ativado por um termo

    lingustico presente na estrutura discursiva do texto. Segundo Ducrot (1987), esse tipo de pressupostopertenceantesdetudofrase:eletransmitidodafraseaoenunciadonamedidaemquedeixaentenderque esto satisfeitas as condies de emprego da frase da qual ele a realizao. (p.33), ou seja, opressupostoestinscritonalngua.

    No proferimento em anlise, a inferncia voc deixou o porto aberto colocada com sendopartilhadaeaceitaportodososintegrantesdainterao,inclusiveoporteiro.Porm,oquenosparecequeoempregadonocaptouessainformaoqueforacolocadapelosndicodeformatticaparalevaraqueleaassumir a falha. Caso o porteiro tivesse contestado o pressuposto, a interao seria bloqueada, pois acontinuaodaconversadeveserencadeadaaopostoenoaopressuposto.

    CRITRIOS PARA VERIFICAO DE UM PRESSUPOSTO E CONTEXTO

    Oscritriosclssicospropostospelos filsofossoosdanegaoeda interrogao.Deacordocomesses critrios,uma fraseque contenhaumpressuposto (doravantepp.), se transformada emnegativaouinterrogativa,conservarainformaopressuposta.

    Noentanto,hfrases(textos)quenoadmitemanegao(nossoexemplo)ouainterrogao.

    Episdio encerrado, mas voc no deixa mais o porto aberto?

    Submetidainterrogao,constatamosqueainfernciaquedenominamospressupostoVocdeixouoportoaberto!mantida,confirmandoanossahiptese.Ducrotnonegaessesdoiscritrios,pormprope

  • LETRAS|52

    um terceiro, que, segundo ele, o mais importante, impondo, inclusive, um certo modo de continuar odiscurso(DUCROT,1987,p.40).Ocritriopropostoodoencadeamento,assimdescrito.

    Seuma frasepressupe X, eum enunciadodessa frase utilizado emum encadeamentodiscursivo,porexemplo,quandoseargumentaapartirdele,encadeiasecomoquepostoenocomoquepressuposto.(p.37)

    Almdofatodeanegaonoseraplicvelatodasasfrases,tantoanegaoquantoainterrogaosoaplicveis,segundoDucrot,sfrasesenoaenunciados.Socritriodoencadeamentovaiseradequadopara testar os pressupostos de frasesque requeiram o contexto para determinlos. Tomemos o seguinteenunciadoqueadmiteduasinterpretaesemdoiscontextosdiferentes:

    Posto: Esta manh o caf estava quente!

    pp1: Agora o caf est frio!

    pp2: Em outras manhs o caf estava frio!

    Aplicandooscritriosda interrogaooudanegao, impossvelvalidarpressupostosdo tipoEm

    outras manhs o caf estava frio! e Agora o caf est frio!, pois negando Esta manh o caf no estavaquente! e/ou interrogando Esta manh o caf estava quente? nenhum dos dois possveis pressupostoslevantadosmantido.

    Paravalidarumdosdoispressupostosacima,precisorecuperarocontextoondetextofoiutilizado,poisconstatamosquecadapressupostorequerumcontextodiferente.ValidaseopressupostoAgoraocafestfrio!,seotextoEstamanhocafestavaquente!foiproferidoporumapessoa,emumdiatarde,comapossvel inteno de reclamar do caf que est tomando subentendido. E o encadeamento possvel queconservaevalidaopressupostolevantadopoderiaser:

    Esta manh o caf estava quente, mas nem sempre tudo perfeito!

    Observemosqueoencadeamentofeitocomoposto,quedizrespeitoaofatodepelamanhocaf

    estar quente. Por outro lado, s validado o pressuposto Em outras manhs o caf estava frio!, se oenunciado Estamanh o caf estava quente! for proferido por algum no final do caf damanh, com apossvelintenodereclamardocafdasmanhsanterioressubentendido.

  • LETRAS|53

    Esse exemplo nos mostra que, nesse caso, os critrios clssicos no dariam conta dos diferentespressupostos dependendo da inteno do locutor, alm da necessidade de (re)construir o contexto daenunciao,umavezqueessespressupostosnoestononvelda frase, linguisticamentemarcados.Nessecaso,constatase,segundoMoura (1999),queadeterminaodopressupostodependedocontexto (maisprecisamente,dorepertriodeconhecimentoscompartilhadosdos interlocutores)(p.29).E,comoentoseposicionaDucrot(1987)[...],hdoismodosdedefinirapressuposio,sejaanveldoenunciado,sejaanveldafrase(p.39).

    Opressupostodeexistnciatambmrequerocontextoparaqueointerlocutorverifiquearefernciaativadapeloexpressesdefinidasounomesprprios.Somenteocontextoeoconhecimentopartilhadoentreosparticipantesdainteraovalidaroocontextoativadoporumdesseselementos.

    A Polcia Federal no fez a segurana das provas do ENEM aps material deixar grfica.

    pp: Existe uma instituio chamada Polcia federal.

    Lula brinca e j fala em ganhar a Olmpiada de inverno.

    pp1: Existe um homem chamado Lula.(Presidente)

    pp2: Existe uma competio chamada Olmpiada de inverno.

    EXPRESSES LINGUSTICAS QUE ATIVAM PRESSUPOSTOS

    Apresentamosumarelaodeexpresses lingusticas(MOURA,1999)qualacrescentamosoutrasexpressesquepodemativarpressupostos,salientando,porm,quenemtodosospressupostossoativadosporexpressesemesmososqueso,emalgunscasos,requeremareconstruodaenunciao.DescriesdefinidasSoexpressesquefazemumacertadescriodeumserespecfico.Essessintagmasnominais (que, na terminologia de Frege (1978), indicam o sentido de um referente) servem para fazer areferncia,assimcomoosnomesprprios.(MOURA,1999,p.17)

    Lula desconsidera custos para Rio-2016 e nega preterir problemas sociais.

    Pp: Existe um homem que se chama Lula (presidente).

  • LETRAS|54

    Data do Enem 2009 deve ser anunciada na tera-feira.

    pp: Existe um processo seletivo chamado Enem.

    TADOTADOENEM2009DEVESERANUNCIADANATERAFEIRADATADOENEM2009DEVESERANUNCIADANATERAFEIRAVerbosfactivossoosqueprecisamsercomplementadospelaenunciaodeumfato(geralmenteatravsdasoraessubordinadas)equerevelamestadospsicolgicos.

    Lamentamos no ter vagas.

    pp: No h vagas

    Verbosimplicativosverboemqueaaoexpressaporesseverbopressupeumaaoanterior.

    Joo acordou s 7 horas.

    pp: Joo estava dormindo antes desse horrio.

    Verbosdemudanade estado expressamuma aoque apermannciaou amudanadeum estadoanterior.

    Maria deixou de ir praia.

    pp: Maria antes ia praia.

    Maria continua uma linda mulher!

    pp: Maria era bonita.

    Iterativoselementoslingusticosqueindicamqueumaao(pressuposta)jaconteceuanteriormente.

    O preo da gasolina subiu novamente.

    pp: O preo da gasolina j subiu antes.

  • LETRAS|55

    Expresses temporais elementos lingusticos que expressam a ideia de tempo e, ao mesmo tempo,pressupeumaaoacontecidaanteriormente.

    Jooagoraestestudando.pp:Jooantesnoestudava. Jooaindaestuda! pp:Joojestudavaanteriormente.Sentenas clivadas Elas tm a forma: (No) foi o X que (orao). Semanticamente, a segunda oraocontmumfatopressuposto.(MOURA,1999,p.21)

    NofoiJooqueescondeuolivro.pp:Algumescondeuolivro.Prefixo re : alguns verbos iniciados com o elemento RE ativam informao pressuposta.De acordo comBezerra (2004,p.67), [...]osverbos iniciadospeloelementoRE (reavaliar, reafirmar, renovar, reforar,erevelar)ativampressupostos.

    Joo reafirmou sua inocncia.

    pp: Joo j afirmou sua inocncia anteriormente.

    Algunsconectorescircunstanciaisalgunsconectorescircunstanciaisintroduzemumaoraoquepressupeumainformao:desdeque,antesque,depoisque,vistoqueetc.

    Joo passar no vestibular desde que estude.

    pp: Joo no estuda.

    Algunsadvrbiosousodealgunsadvrbiosdeixaregistradaumainformaopressuposta:mais,tambm,j(emalgunscontextos)etc.

  • LETRAS|56

    FUNO DA PRESSUPOSIO NA INTERAO

    Apressuposioexerce,pelomenos,trsfunes,naatividadelingustica:funcionacomoelementodecoernciaecoeso,pelofatodeevitararepetionoencadeamentodiscursivo,aomesmotempoemquefazcomquehajarecorrnciasemntica;umacondiodeprogresso,quesedviaposto;porfim,aparececomoevidncia,verdadebviaquenopodeserquestionada.

    Essa no possibilidade de contestao se concretiza pelo fato de que a informao pressuposta colocadacomosendopartilhadaentre locutore interlocutor,comosendouma informao jconhecida;noentanto, emmuitas situaes, como jmostramos neste captulo, a informao nova, de conhecimentosomentedolocutor.

    Nessecaso,podesedizerqueapressuposioumaformadeobrigar(persuadir)ointerlocutor,commeudiscurso,aadmitiroqueestnelepressuposto,sem,contudo,permitirlhequeprossigaainteraoemcimadopressuposto.Oumelhor,utilizarsedapressuposionaconstruodiscursivadispordeumadasestratgiasargumentativasdequealnguadispe.

    Ducrot (1987, 1988) coloca a pressuposio como um dos recursos da polifonia atravs do qual olocutordoenunciadonoseexpressanuncadiretamente,maspeemcena,nomesmoenunciado,umcertonmerodepersonagens.Nessaperspectiva,osentidodoenunciadonascedaconfrontaodessesdiferentessujeitos.Osentidodoenunciadonadamaisdoqueoresultadodasdiferentesvozesquealiaparecem.

    Esses personagens lingusticos dos quais fala Ducrot so o locutor responsvel lingustico pelodiscurso e o enunciador as origens dos diferentes pontos de vista que se apresentam no enunciado"(Ducrot,1988)almdosujeitoemprico(SE)produtorefetivododiscurso(noobjetodeinvestigaodeum linguista semanticista, segundoDucrot),poisnem sempre locutore sujeitoemprico coincidememumdiscurso.

    O locutorpode colocarem cena,no seudiscurso,outros locutoresouenunciadorespara comelesdialogar (aprovandoos,rechaandoos,assimilandoseou ficando indiferenteaeles).Se recorrerprimeiraopo(locutores),estarutilizandoapolifoniadelocutores,seoptarpelasegundapossibilidade,apolifoniadeenunciadorescasodapressuposio.

    Independentedaformadepolifoniautilizadaemumdiscurso,precisobuscaridentificaraposiodolocutor responsvel lingusticopelodiscurso em relaoaospersonagens lingusticoscolocadosemcena(locutoresouenunciadores).DeacordocomDucrot(1988),asrelaesqueolocutorpodeestabelecercomospersonagens trazidosparaoespaodiscursivo soas seguintes:de aprovao,denegao,de assimilao(identificao)oudedistanciamento.

  • O fexplicitame

    aprovaoprpeloposto.pontodevi

    Veja

    Na

    horasde(sensocomcomo seoencadearo

    UM FECHA

    Elegmuitodoqatravsdealinguisticam

    Cadpodeconstiaspectoeviabordadas.

    fato de aprenteeutilizressuposto(EO termo idsta.amosoexem

    perspectivaresponsabili

    um).Olocutinterlocutor

    seudiscurso

    AMENTO N

    gemos,nestuesediz,ouatosindiretomente:ospre

    daumadasituirumcursdenciaanec

    ovar um polocomoargE1)masencaentificarse

    mplo:Maria acordo pp: Maria es

    dateoriadaidadedoE2;tor,responsr tambmooseguinte.

    ECESSRIO

    eespao,osutemsea inos:implicaturessupostos.

    Pragmticas

    socomcargacessidadede

    RESUMO

    pressupo

    a partirem outraimplicitaduma infe

    onto de visgumentoparadeiacomoutilizadon

    ou s 9 horas!

    tava dormindo

    apolifonia,o;2)Mariaesvelpelotexaprovasse,

    O

    s implcitosntenodedrasconversa

    s aqui abordahorriasemeleiturasext

    O: Ducrot (osto: em algde elemenas, mesmoda, requerrncia do n

    ta trazido praumaconclposto(E2),anaTeoriada

    antes das 9 hor

    olocutorpestavadorminxto(discursomasassimil

    lingusticosedizer,noacionais,sub

    dadas superfmelhanteaqrasparaque

    (1977, 198gumas ocoto lingusticom um eo contextovel pragm

    para o espalusor.ocassimilandoaPolifonian

    ras.

    eemcenadundoantesdao),aprovaopase (respon

    epragmticoditodepelen