Povos e Linguas-Num7

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8/18/2019 Povos e Linguas-Num7 http://slidepdf.com/reader/full/povos-e-linguas-num7 1/68 Povos e Línguas • ATEÍSMO UNIVERSITÁRIO O Reino e o reinado Pág. 20 Ariovaldo Ramos Fundamentos da jornada Ronaldo Lidório  A Missão e a glória de Deus Igor Miguel Disponível em:  ANO 2 • Nº 7 • POVOSELINGUAS.COM.BR POR UM BRASIL MISSIONÁRIO

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Povos e Línguas •

ATEÍSMOUNIVERSITÁRIO

O Reino e o reinado

Pág. 20

Ariovaldo Ramos

Fundamentosda jornada

Ronaldo Lidório

 A Missão ea glória de Deus

Igor Miguel

Disponível em:

 ANO 2 • Nº 7 • POVOSELINGUAS.COM.BRPOR UM BRASIL MISSIONÁRIO

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 2 • Povos e Línguas

Asas de Socorro conta com seu apoio para

fazer muito mais! CONTRIBUA! 

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Povos e Línguas • 3

  246  ultrassons (novidade)

  415  cortes de cabelo

 1360  consultas médicas

 1820  procedimentos de enfermagem

 1947  procedimentos odontológicos

  429  Bíblias distribuídas

  431  visitas às casas

 715

  crianças e adolescentes ouviramhistórias bíblicas

 2125  pessoas assistiram ao Filme Jesus

 Este sorriso tão bonito...

é para te dizer

obrigada

Os ribeirinhos agradecem a sua oferta!

www.asasdesocorro.org.br/tamojunto | (62) 4014-0323

EVANGELIZAÇÃO | SAÚDE | MOBILIZAÇÃO DA IGREJA

O Projeto IDE 2015 aconteceu entre os

dias 14 e 24 de Julho, na pequena cidade

de Prainha, às margens do Rio Amazonas,

Região Oeste do Pará. Mais de 200

pessoas vestiram a camisa em

benefício dos ribeirinhos.

ESTE ANO O PROJETO IDE REALIZOU:

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 4 • Povos e Línguas

“Pede-me e eu te darei as nações por herança e os conns da Terra por tua posses-são.” (Salmos 2:8)

EQUIPEBreno Vieitas | Direção-Geral | [email protected] Pimenta (MTb 19117 MG) | Diretora Executiva | [email protected] Rocha | Assistente de redação | [email protected] Ferraz | Relacionamento institucional | [email protected] Matos | Diagramação e Arte

REVISÃOVersão Final

CORRESPONDENTES INTERNACIONAISDavi Pezzato (Tailândia) | Maurício Carvalho (Alemanha) | Klaus Shönberg (Alemanha)

COLUNISTAS:Ariovaldo Ramos | Igor Miguel | Luís Fernando Nacif Rocha | Ronaldo Lidório

PARTICIPAM DESTA EDIÇÃOBárbara Helen Burns | Breno Vieitas | Davidson Henrique Estanislao | Durvalina B.Bezerra | Gustavo de Souza Borges | Jessé Fogaça | Lyndon de Araújo Santos | PauloCapellete | Paulo dos Santos Rodrigues | Pedro Miguel A. Castillo Díaz | RosifranMacedo | Rita Mucci Santos | Raquel Chaves Guerreiro | Zé Bruno

CONSULTORESPaulo Bottrel | Jeremias Pereira | Luís Fernando Nacif Rocha | Ariovaldo Ramos |Ronaldo Lidório | Paulo Mazoni | Cassiano Luz

A Revista POVOS E LÍNGUAS é uma publicação do Grupo Povos e Línguas.Todas as matérias assinadas são de inteira responsabilidade de seus autores.

Editorial

á épocas que parecem requerer de nós um tom mais reflexivo e um

caminhar mais atento. Ao comemorarmos nosso primeiro aniversá-rio vimos que este é o tempo oportuno para ampliar algumas pers-

pectivas e amadurecer ideias que temos gestado ao longo do último ano.

Esta edição traz um novo projeto gráfico, agora mais leve e interativo.E tem outra novidade: a seção “Campos Brancos” nasce do nosso an-seio como mobilizadores de ampliar o alcance das informações sobre asdemandas do campo missionário. Contamos com agências missionáriasque são referência em suas áreas de atuação para nos ajudar a compor aseção. Cada edição vai mostrar, de forma pontual as demandas e a novoscampos sendo abertos para a ceifa. (Jo 4.35).

Ao longo deste segundo ano, nossas capas serão estampadas por gran-des temas que marcam os desafios missionários desta geração. A pro-blemática do ateísmo universitário inaugura a série abordando questõescomo o ateísmo histórico, o avanço da indiferença pautada pelo agnosti-cismo e a vulnerabilidade de jovens cristãos “superprotegidos”.

Até hoje temos trabalhado para ampliar o alcance da voz dos mestres,pastores, evangelistas, apóstolos e profetas. Assim não ficamos maiscomo crianças, levados de um lado para o outro pelas ondas, nem jogadospara cá e para lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza dehomens que induzem ao erro. ” (Ef 4.11,14).

Estamos certos de que ao passar pelas próximas páginas com umaleitura atenta, você vai receber informações de diferentes realidades, veráfrutos gerados por meio da obediência, da prontidão e da fé simples da-

queles que ouvem e obedecem.

Tempo oportuno

H

O Reino eo reinado

Ariovaldo RamosPág. 10

O aspectohumano da missão

Luís Fernando Nacif RochaPág. 30

Fundamentosda jornada

Ronaldo LidórioPág. 40

A Missão ea glória de Deus

Igor MiguelPág. 64

Colunistas

Jullyana Pimenta | Diretora Executiva

Fale ConoscoCentral de [email protected](31) 3657-9054

povoselinguas .com.br

youtube.com/povoselinguas

twitter.com/povoselinguas

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Povos e Línguas • 5

ATEÍSMOUNIVERSITÁRIO 20

História dasmissões cristãs 12As grandes navegações e o avanço missionário

Cuidado Integral 16Como lidar com o estresse e evitar o burnout

Povos nãoalcançados 18Como ouvirão?

Escuta missionária 34Terra dos livres: Uma tolerância plástica

Terrorismo na Tunísia

Pág. 8Circular

Encontros inusitados

Pág. 26Mídia e Reino

O que temos sido?

Pág. 38Missão e adoração

Fundamentos da jornada

Pág. 40Coluna

E eu com isso?

Pág. 42Missões Urbanas

O fazedor de tendas

Pág. 46Profissionais em Missão

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 6 • Povos e Línguas

Quem Somos

 Grupo Povos e Línguas é formado por pessoas de diversos ministérios. É um

espaço aberto interdenominacionalmente para refletir sobre o Evangelho no

aspecto missionário, tendo Jesus Cristo e sua Grande Comissão como o centro

dos interesses e a condição básica para firmar parcerias entre as igrejas e as agên-

cias missionárias; entre pessoas que compreendem que, juntos, podemos ir mais

longe pelo objetivo de levar o Evangelho de Jesus Cristo aos confins da Terra.

Investimos esforços na dinâmica de relacionamento entre pastores, igreja local,

vocacionados, agências e campo missionário. Dispomos de diversas estruturas

de comunicação e, especialmente, de cinco ferramentas utilizadas no processo

de mobilização da Igreja Brasileira: Escuta Missionária, Programa de TV, Revista,

Treinamentos em Vídeo e Workshops Estaduais. Por meio desses recursos, o Grupo

trabalha para promover a mobilização e, definitivamente, ver o Brasil se posicionan-

do como uma verdadeira plataforma de envio missionário, contando com mais de

40 milhões de evangélicos.

Temos a visão de missões tradicionalmente compreendida e a mentalidade da mis-

sionalidade entre diversos atores. São empresários, profissionais liberais e outros que

compreendem que, ocupados ou não com um ministério eclesiástico, temos o único

chamado de fazer com que o nome de Jesus Cristo seja anunciado a toda criatura,

bem como de implantar o seu Reino entre nós.

Da mesma maneira, nossos conselhos de referências teológicas e de agência tra-

zem a segurança de sempre avançarmos com a certeza de que todas as etapas estão

sendo cumpridas. Enquanto isso, trabalhamos dentro do alvo coletivo, respeitando

sempre a realidade de cada ministério e sua visão missionária.

Povos e Línguas

O

A Revista Povos e Línguas não é produzida como objetivo de obtenção de lucros. Toda a sua pro-dução é custeada por parceiros que fazem partedo Grupo e acreditam na relevância dessa inicia-tiva. Grande parte dos exemplares produzidos édoada para líderes brasileiros e distribuída gra-tuitamente em eventos relacionados ao universomissionário. Caso deseje ser um patrocinador ou um parceiroentre em contato conosco pelo telefone (31) 3657-9054.

Juntos podemos ir mais longe, por um Brasil missionário!

acesse com seu smartphone

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Povos e Línguas • 7

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 8 • Povos e Línguas

Terrorismo na TunísiaUma nação que resiste ao caos

Circular

m julho, o Parlamento da Tunísiaaprovou a legislação que permite

a pena de morte para os conde-

nados por acusações de terrorismo.

A ação ganhou força após os ataquesde militantes islâmicos que mataram

dezenas de turistas estrangeiros no

primeiro semestre de 2015.

No mês de junho, o jovem estudanteSeifeddine Rezgui matou 38 pessoasno resort turístico Imperial Marhaba,

localizado na cidade costeira de Sousse,na Tunísia. De acordo com informações

oficiais, Rezgui recebeu treinamentomilitar em campos jihadistas, na Líbia.

Em março, outro atentado gerou pânicoentre os cidadãos: dois homens armados

abriram fogo contra 21 turistas estran-

geiros e um policial no Museu do Bardo,na capital tunisiana. Ambos os ataques

foram reivindicados por jihadistas dogrupo Estado Islâmico. O ministro de

relações exteriores da Tunísia disse queos terroristas estão encontrando “territó-

rio fértil” na vizinha Líbia, onde o EstadoIslâmico também vem agindo.

Tunísia e Líbia são exemplos opos-

tos do sucesso da Primavera Árabe.

À medida que a Tunísia progredia no

sentido da democratização no pós-BenAli, aprovava uma nova Constituição e

organizava duas eleições livres, a Líbia setransformava num Estado ingovernável e

num foco de instabilidade política. A Líbiatem dois “governos” que disputam o país,

vários grupos extremistas e tribos. Nessadisputa, inserem-se os jihadistas do Es-

tado Islâmico e do Ansar al-Sharia.

As autoridades tunisianas anunciaram

o início da construção de um muro nafronteira com a Líbia. A iniciativa visa

controlar o contrabando e a infiltração de jihadistas, como anunciou Habib Essid. O

muro vai ter cerca de 170 quilômetros decomprimento, e as obras devem ser con-

cluídas até o final deste ano. A barreiracomeça no posto fronteiriço de Ras Jedir,

na costa do país, e termina no posto deDehiba. A área representa mais de um

terço dos 460 quilômetros de fronteira.

Depois do ataque em Sousse, a Tunísiavem utilizando vários meios para tentar

impedir que os turistas abandonem o

país. O setor é vital para a economia dopequeno país africano. “Quaisquer que

sejam os sacrifícios, nós vamos superar

o terrorismo”, assegurou Habib Essid,primeiro-ministro tunisiano.

As pessoas temem pelo futuro de

seus filhos e do país. Elas receiam quea Tunísia se torne uma nova Síria ou umIraque. Por isso, a maioria aprova uma

lei antiterrorista repressiva. O que todos

querem é segurança. Apesar da tensão,

a vida continua para os tunisianos, aspraias estão cheias de famílias aprovei-

tando as férias escolares, todas as noitesouvem-se músicas e fogos de artifício

das festas de casamentos e os cafésficam cheios de pessoas aproveitando asnoites cálidas do verão tunisiano.

As diversas associações locais

buscam alternativas ao integrismo

promovendo democracia, consciência,envolvimento e diálogo social entre os

 jovens . É uma resistência proati va de

uma sociedade que rejeita a ideia de

ser engolida pelo caos e que ama e pre-

serva uma ideologia moderada em que

todos podem ter o seu lugar.

E

Informações da Reuters com a colaboração deuma fonte local

   F   o   t   o   :   B   B   C   N   e   w   s   /   E   P   A

Membros das forças armadas da Tunísia, na cidade costeira de Souss

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Povos e Línguas • 9

 R  A  Z  Õ  E  

 S  

   p ar  a  e  s  t   u d   ar  n

 o

 B  E   T   E  

 L  

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 10 • Povos e Línguas

A boa notícia

Coluna

ós orareis assim: Pai nosso, que

estás nos céus, santificado seja

o vosso nome, venha a nós o

vosso reino, seja feita a vossa vontade,

assim na terra como no céu. O pão nosso

de cada dia dai-nos hoje. Perdoa-nos as

nossas dívidas assim como nós perdo-

amos aos nossos devedores. E não nosdeixeis cair em tentação, mas livrai-nos

do mal. Pois vosso é o reino o poder e a

glória para sempre, amém!” (Mt 6.9-13).

A palavra reino aparece duas vezes

na oração de Jesus. Na segunda fra-

se: “Pois vosso é o reino […]”, ela tem a

conotação de tudo o que existe, isto é,

de tudo o que é sustentado pelo DEUS,

que tudo sustenta, pois só Ele (a TRIN-

DADE) existe. Tudo mais subsiste nEle.

Na primeira frase: “Venha a nós o vosso

reino […]”, a palavra reino traz o conceito

de reinado. É o pedido para que o reinado

da TRINDADE seja estabelecido na Terra.

É um pedido, o que pressupõe o desejo

voluntário de quem pede.

Por que a um ser todo-poderoso de-

ve-se pedir, na realidade que Ele mesmo

sustente, a feitura de sua vontade? ODEUS, que por definição tudo pode, con-

cedeu temporariamente a possibilidade

da rebelião. E ao permitir, continua a

sustentar a existência dos rebelados.

O Senhor de toda a criação tem todo o

poder, mas não é possuído pelo poder.

Daí cede espaço para a existência de

consciências arbitrárias.

O DEUS decidiu que, preferencialmente,

reinaria sobre os que desejassem estar sob o

seu reinado. Nesse tempo, que chamamos de

hoje, o Senhor está a recrutar os que que-

rem sobre si o reinado da TRINDADE. Oram,

conforme essa oração, os que voltaram do

estado de rebelião para o estado de adoração,

que é a maneira adequada de relacionar-secom o DEUS do Universo. Não há, entretanto,

à primeira vista, nessa fase da história, boas

notícias para os que zeram essa opção.

O Novo Testamento começa com DEUS

sendo expulso do templo e termina com

Jesus do lado de fora da igreja. No início

do relato da Nova Aliança está registrado

que João, o Batista, é sacerdote da família

de Arão (Lc 1.5-13), e que, portanto, se

tudo estivesse sob o reinado do DEUS,

estaria como sumo-sacerdote. Porém está

no ermo, dizendo ser a voz daquele que

fala do deserto (Jo 1.23), do DEUS que

sofreu a defenestração com a assunção

do sumo sacerdócio pelos lacaios dos

romanos (Lc 3.1,2 - Hendriksen – Ed.

Cultura Cristã - comentários de Lc 3.1 e Jo

11.49-52; 18.13, 19-28).

No nal do Novo Testamento, na carta àIgreja em Sardes, Jesus, o Cristo, está do

lado de fora, batendo à porta, na expecta-

tiva de ser ouvido (Ap 3.20). Além disso,

o próprio Cristo levantou a questão e se

Ele, em sua vinda, em glória, acharia fé na

Terra (Lc 18.8). Ele falava dos seus, uma

vez que fé é dom de Deus (Ef 2.8).

“V

O Reino eo reinado

O DEUS, que por deni -ção tudo pode, concedeu

temporariamente a pos -sibilidade da rebelião. E aopermitir, continua a sustentara existência dos rebelados.O Senhor de toda a criaçãotem todo o poder, mas nãoé possuído pelo poder 

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Povos e Línguas • 1

Pedir o reinado do Pai é submeter-se ao dolo-

roso trabalho de transformação protagonizado

pelo Espírito Santo que se utiliza, inclusive, das

lutas diárias (Rm 5.3-5; 2Co 3.18; Col 1.11,12;

2Tm 3.10-13). Sujeitar-se ao reinado do Pai é

passar pelo sofrimento resultante da rebelião que

se manifesta na história e nos enfrentamentos

espirituais, políticos e econômicos (Mt 5.11,12;

10.16-39; Mc 10.29, 30; Jo 15.20; 2Co 12.10;

2Ts 1.4, 5; 2Tm 3.12; Ef 6.10-13; 1Pe 4.12-19).

Submeter-se ao reinado do Pai é perseverar

diante do engano dos falsos profetas, discernin-

do os seus desvios e, diante do esfriamento do

amor em quase todos, dos que se deniam como

seguidores do Cordeiro (Mt 24.11-13).

O povo de Israel, no Antigo Testamento, tinha

uma missão na história para o bem da humani-

dade; o Israel, no Novo Testamento, a Igreja (Rm

11.17), tem uma missão na humanidade para o

bem da história. O objetivo do DEUS, ao formar

Israel, era trazer a criança prometida no Jardim

(Gn 3.15, 12.1-3; Gl 3.16). O Israel, no Antigo Tes-

tamento, deveria trazê-la para a história. Nessa

fase, as recompensas eram históricas. O Senhor

prometeu que, se cooperassem com Ele nessatarefa, comeriam do melhor da Terra (Is 1.19). O

Israel, no Antigo Testamento, tinha de chegar à

terra prometida e lá car porque a criança tinha

lugar certo para nascer (Mq 5.2).

O papel do Israel, no Novo Testamento, é anun-

ciar a criança para todas as famílias da Terra.

Assim, ao contrário do que perseguia no Antigo

Testamento, é uma terra que mana o leite e o

mel. Nessa fase, Israel tem que sair de qualquer

terra o tempo todo para ir a toda a Terra. No

Novo Testamento, a amplitude e a recompensa

do Israel são uma comunidade solidária e

planetária (Mc 10.29,30; 1Pe 5.9) e uma história

de glória na eternidade (Mt 5.12). O Israel, no NT,

não pode prender-se à história como a vivemos

para que a história da humanidade se torne bem-

aventurada na dimensão da eternidade.

No NT, Israel ou a Igreja como comunidade

sob o reinado do DEUS vive nessa história e nela

sinaliza o reinado do Senhor, que já está presen-

te em si e influencia a sociedade para que, na

medida do possível, experimente os padrões do

reinado, implantando a justiça onde conseguire o faz para que mais da humanidade sobreviva

pelo debelamento da pobreza e de toda a sorte

de opressão do homem pelo homem. Mas jamais

perde o foco na eternidade porque hoje é tempo

de arrependimento. Toda a rebelião será debela-

da, o reinado do DEUS será estabelecido e só os

arrependidos nele viverão.

Ora, “venha o vosso reino” é o clamor de quem se

arrependeu de estar em estado de rebelião; quem

entende que a sociedade também deve se arre-

pender pelo estado de rebelião que se manifesta

no pecado estrutural; quem crê que Jesus é Deus

e Cristo (Mt 16.16); quem crê que virá o reinado

eterno do DEUS (Mc 1.14-15); quem reconheceu

ser um privilégio estar em comunidade sob o

reinado; quem reconhece que só há comunidade

onde há justiça; quem sabe que só pela ecácia

do sacrifício do Deus Filho, manifesto na cruz (1Pe

1.18-20) e na sua ressurreição, é possível partici-

par do reinado; quem entende que a dor da cruz épequena diante da vida abundante da Ressurrei-

ção e que é possível desfrutar, desde agora, de tal

realidade como pessoa e como sociedade.

Ariovaldo Ramos

Filósofo, teólogo e escritor. Pastor e membro da dire-toria da Visão Mundial, a maior organização cristã nãogovernamental do mundo

O DEUS decidiu que, preferen-

cialmente, reinaria sobre os quedesejassem estar sob o seureinado. Nesse tempo, que cha-

mamos de hoje, o Senhor está arecrutar os que querem sobre sio reinado da TRINDADE 

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 12 • Povos e Línguas

As grandes navegaçõese o avanço missionário

História das Missões Cristãs

ários historiadores do cristianismo católicoe protestante reconhecem que entre os

séculos XV e XVIII, a expansão da fé cristã

foi favorecida pela época das grandes navega-

ções. Novas rotas marítimas foram possíveis porcausa do aprimoramento das técnicas náuticas.

Esse fator contribuiu para que o cristianis-

mo (europeu e ocidental) alcançasse todas asregiões da Terra durante três séculos. Foi umperíodo singular na história da humanidade que

marcou, particularmente, o Ocidente.

Os avanços técnicos que impulsionaram as

navegações e a conquista dos mares explicama ida de milhares de missionários cristãos para

as fronteiras mais distantes do mundo de então.

Outras forças atuaram de fora para dentro e dedentro para fora do cristianismo. A religião con-

dicionava as relações sociais, culturais e políti-

cas nesse período. Portanto, é preciso identificaressas forças para compreender as direções, ossentidos e as formas que as missões cristãs as-

sumiram desde o ocidente europeu. Pelo menos

três fatores atuaram dentro e fora do cristianis-

mo da época: a expansão comercial, a moderni-

dade e a divisão da cristandade.

A EXPANSÃO COMERCIAL

Os europeus deram início a uma expansão

comercial durante uma sangrenta disputa pelahegemonia dos oceanos e das terras desco-

bertas. Eles eram ameaçados pelos turcos

otomanos nas fronteiras do Oriente. A América,a África e a Ásia foram regiões conquistadas esubmetidas a um sistema de colonização voltado

para a extração de riquezas, como ouro, prata,

especiarias e até exploração de vidas humanasprovocada pelo tráfico escravo. Muitas popula-

ções com diferentes línguas, culturas, crenças e

costumes passaram a fazer parte de um domíniopolítico, tecnológico e militar. Os colonizadores

viriam a subjugar esses povos durante séculos, àcusta de conflitos e resistências, com consequ-

ências visíveis até hoje. Impérios como Portugal,Espanha, Holanda, França e Inglaterra se lança-

ram aos mares e aos oceanos para conquistarterras, ampliar seus domínios e obter riquezas.Os ganhos ficaram concentrados nas mãos de

uma aristocracia aliada aos altos comerciantes e

à divisão da cristandade.

A MODERNIDADE

Os antigos medos e as superstições foramdominados por uma mentalidade que supera-

va a ordem medieval. O uso da razão, por um

lado, e do experimentalismo, por outro, serviu

como base para aferir a verdade e estabeleceuoutras formas de produção do conhecimentooriundo da observação empírica dos fenô-

menos naturais. Colocavam-se em xeque osdiscursos oficiais da Igreja, da teologia, da re-

velação e da tradição no conteúdo e na forma.Os posicionamentos da Igreja normalmente

eram impositivos e dogmáticos. Surgiram os

questionamentos relativos ao lugar da Igreja e

da teologia nos âmbitos do saber, da cultura e

da política, em contraste com os tempos mais

efervescentes e sombrios das perseguições àsheresias e aos hereges pela inquisição do San-

to Ofício. Essa modernidade teve como base o

surgimento de pensamentos críticos sobre opoder dos reis em relação ao poder do papado.

O debate em torno da soberania dos reis sobre

o papado e a Igreja foi decisivo para a concepçãomoderna de estado como entidade autônoma

V

Motivações obscuras e consequências históricas

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Povos e Línguas • 13

A religião condicionava asrelações sociais, culturais epolíticas nesse período. Por -

tanto, é preciso identicaressas forças para compreen-der as direções, os sentidose as formas que as missõescristãs assumiram desde oocidente europeu 

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 14 • Povos e Línguas

para gerir a sociedade à parte dos inte-

resses e das pressões da religião.

A DIVISÃO DA CRISTANDADE

A cristandade atravessava uma aguda

crise interna no alvorecer do século XVI:enfrentava as questões referentes às in-

vestiduras e ao conciliarismo*, a dúvidaquanto à (in) eficácia da Igreja ante o

terror da Peste Negra, o desgaste moraldo clero católico romano e as angústiasespirituais com relação à salvação e à

 justif icação. As tensões em torno da Re-

forma Protestante cindiram a cristanda-

de em termos políticos e religiosos, com

a reação católica a partir do Concílio deTrento, a Contrarreforma.

As novas ordens religiosas, comoa dos jesuítas, fundada por Inácio de

Loyola, incorporaram o espírito triden-

tino à missão, constituindo um modelode cristianização atrelado aos interesses

das conquistas comerciais, sob a bên-

ção papal. Os reis ibéricos de Portugal

e Espanha foram confirmados pelo pa-

pado como reis missionários da Igreja e

responsáveis pela expansão da fé cristã

aos novos territórios, como o Brasil.

Movidos pela força da Reforma, diver-

sos missionários protestantes saírampela Europa proclamando a salvação

pela fé. Muitos foram perseguidos e

martirizados, vindo para o novo mundo,como o Brasil. Foi isso que aconteceu

com Jean de Léry, enviado pelo próprioCalvino para a invasão francesa no Rio

de Janeiro. Nos seus domínios e nasfronteiras, as missões protestantes

e católicas reproduziram o clima dedisputas e de antagonismos de uma

cristandade cindida. A consequência da

Reforma e da Contrarreforma foram asguerras religiosas. Houve grande des-

gaste e a frustração de um cristianismotomado pelo ódio e pela intolerância.

Aquele momento transformou o cristia-

nismo em refém dos interesses políticosdas monarquias insurgentes.

Essas forças teceram um cenáriorepleto de contradições e de avanços

para as missões. Por um lado, cr istãosse lançaram à empresa missionária

aliada às conquistas territoriais, indi-

ferentemente de estarem cientes dosprejuízos e comprometimentos dessa

aliança. Nesse sentido, o cristianismoserviu como elemento civilizador do

outro estranho que deveria ser evange-

lizado, mas que se apropriou da nova

fé ante uma dominação imposta. Esseoutro era visto como ser de condição

inferior em termos culturais, religiosos eétnicos. Os modelos estabelecidos para

a cristianização desses bárbaros, comoos aldeamentos e as reduções na Améri-

ca Latina, foram enclaves religiosos vol-

tados para a conversão dos indígenas,mas que resultaram num processo de

aculturação e de violência simbólica.

Mas dentro e fora desse modelo,

vozes e experiências apontaram paraas outras formas de fazer missão emcontraste com a da conquista. Assim o

dominicano Bartolomeu de Las Casas,na América Central, incidiu contra o ge-

nocídio indígena nas cortes espanholas,

denunciando o que a conquista coloni-

zadora tinha trazido para os nativos em

termos de morte. Por sua vez, o estra-

nhamento dos missionários diante da

linguagem, dos costumes, dos rituais

e das crenças dos indígenas levou aos

questionamentos sobre os própriosdogmas, os modelos da missão e a ci-

vilização “superior” que representavam.

A partir de outra região de transição no

Leste Europeu, os cristãos morávios

experimentaram o fervor missionário àmargem desses modelos baseados na

conquista e no espírito bélico. Movidospor um intenso amor e pela paixão às

pessoas de outras terras, os moráviosrumaram para destinos desconhecidos

sabendo que nunca mais retornariam.

O legado desse tempo oriundo das

Grandes Navegações pode ser identi-

cado na permanência e na insistência

no modelo da missão como conquista e

dominação. Esse sentido perpassou os

séculos XIX e XX, quando novos ciclos deexpansão missionária aconteceram. E, da

mesma forma, estavam eles atrelados àexpansão econômica e civilizacional, comas denominações protestantes sendo as

estruturas eclesiásticas a seu serviço.

Por fim, é preciso identificar histori-camente sempre a Missão dentro da

missão. A Missão deve ser vista como

o serviço desinteressado e movido pela

paixão, pelo amor ao outro, visando atransformação das relações sociais a

partir do poder do Evangelho. A segundaa missão como modelo de conquista e

dominação, nega ao outro sua identida-

de como pessoa e se alia aos grandessistemas que reproduzem a injustiça.

Lyndon de Araújo Santos

Pós-doutor pelo Programa de Pós-Graduação emHistória da Universidade Federal Fluminense (UFF).Atua nas áreas de História e Ciências Sociais. Foipresidente da Associação Brasileira de História dasReligiões (ABHR) de 2006 a 2012

O legado desse tempo

oriundo das Grandes Navega-ções pode ser identicado napermanência e na insistênciano modelo da missão comoconquista e dominação 

*Doutrina teológica defendida por Marsílio de Pádua e seguida por Jean Gerson, segundo a qual a auto-

ridade dos concílios gerais é superior à dos papas. Considera-se que, tal como na cidade a autoridade

deriva do povo, na Igreja ela deve derivar dos fiéis. Reflete-se no Concílio de Constança de 1414 a 1418 e

que acabou com o Grande Cisma do Ocidente. (iscsp.utl.pt)

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 16 • Povos e Línguas

té certo ponto, o estresse épositivo e necessário para a

sustentação da vida. Alguns

autores1 afirmam que não podemos

viver sem ele, pois o estresse nos

auxilia em todos os momentos deadaptação de que necessitamos. Pre-

cisamos aprender a lidar de maneira

saudável com ele para evitarmos

chegar ao estágio do burnout. A sín-

drome de burnout é caracterizada por

exaustão emocional, despersonaliza-

ção e baixa realização pessoal.2 Esse

estágio é o resultado de um estilo de

vida dominado por fatores desgas-

tantes e prejudiciais.

Alguns tipos de estresse prejudiciais:

1.Tensão além da capacidade de suportar;

2. Estímulo contínuo prolongado: des-

confortável ou prazeroso;

3. Emoções desagradáveis contínuas:ansiedade, medo e raiva.

Quando as pessoas se referem aoestresse, normalmente elas pensam

em situações extremas: uma notíciatrágica, uma doença crônica ou a

morte de um ente querido. Tais situa-

ções são estressantes, mas esse nãoé o pior tipo de estresse.

Esses momentos são pontuais,facilmente identificados e, quase

sempre, de duração limitada. Passa-

mos um período turbulento até que

nós, finalmente, conseguimos ajustarnossa vida à nova situação.

O PERIGO DOS ESTÍMULOSPROLONGADOS

Portanto, o estresse mais prejudicial

é o do segundo grupo, proveniente deestímulos contínuos e prolongados.

A Quando as pessoas se refe-rem ao estresse, normalmen-te elas pensam em situaçõesextremas: uma notícia trágica,uma doença crônica ou amorte de um ente querido.Tais situações são estres-santes, mas esse não é o piortipo de estresse 

Como lidar com o estressee evitar o burnout

Cuidado Integral

1 RODRIGUES & GASPARINI, 1992. 2 Estudos de Psicologia, Campinas, 24(3), 325-332, julho -.setembro 2007, M.S.

Carlotto & S.G. Câmara 3 HART, Archibald, Adrenaline and Estresse; W Publishing, USA, 1999. 4 Hart, pg. 88-89

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Povos e Línguas • 17

Muitas vezes, a rotina é de estresse cons-

tante. A repetição contribui até mesmo

para que o estresse não seja percebido de

forma clara. Além das atividades estres-

santes, temos de enfrentar situaçõescomo o trânsito desgastante, uma relação

irritante, a crise nanceira, impostos injus-tos, a ameaça de doenças e de violência.

O médico cristão Dr. Hart afirma que o

maior perigo nesse grupo são os estí -

mulos contínuos prazerosos.3 O estilo

de vida moderno, de muita competição,recompensa e premiação pode nos levar

a desenvolver a mentalidade de que

o nosso valor está relacionado com a

nossa produtividade.

Muitos se tornam viciados no própriotrabalho devido à recompensa finan-

ceira ou ao reconhecimento público. E

a nossa espiritualidade acaba sendo

definida por nosso ativismo religioso. O

culto é definido pelo nível de “emoção”que causa nos partipantes. Para os mis-

sionários, há a cobrança contínua porresultados “visíveis” por parte da igreja,dos mantenedores e da agência.

O Dr. Hart aponta para o perigo dedesenvolvermos um estilo de vida sempre

sob o estresse e nos tornarmos depen-

dentes da adrenalina, ou seja, de estí -

mulo contínuo. Quando isso acontece,perdemos a capacidade de reflexão e de

relaxamento, meditação e autoanálise, ede gastar tempo sozinhos diante de Deus.

Se vivermos por muito tempo dependen-

tes do excitamento, podemos desenvolveruma crise de estresse crônico. Se não for

tratada adequadamente, essa crise podenos levar ao burnout.

ALGUNS SINTOMAS DO ESTRESSE CRÔ-

NICO:4

LIDANDO COM O ESTRESSE CRÔNICO

Não basta apenas resolver as situa-

ções estressantes. É preciso reavaliar oseu sistema de valores que o leva a uma

rotina de estresse agudo e de cansaço.

Quais são suas crenças acerca do seu

valor? Será que ele depende da sua pro-

dutividade e da aceitação dos outros?

Se não refletirmos sobre os valoresbásicos, não adianta muito mudar as

atividades, pois vamos apenas substi-tuí-las. Afinal, a causa comum de umarotina estressante é a motivação errada

e o equívoco acerca nosso valor.

É necessário também tomar algumasmedidas práticas para modificar o estilode vida estressante. Quais atividades na

sua rotina podem ser modificadas? O

que você pode parar de fazer? O que pode

ser deixado para mais tarde? É necessá-

rio reconhecer que Deus é soberano (Rm

5.1-5) e que, se a situação não for de fácil

mudança, é preciso aprender a aceitá-la elidar com ela de maneira criativa.

Muitas vezes, Deus nos coloca e m

situações difíceis justamente paratratar aspectos do nosso caráter que

nos trazem dificuldades e infelicidadePrecisamos crescer! Às vezes, nãosão as situações que nos causam

tanta frustração e estresse, mas a

maneira como as vemos. Portanto,precisamos mudar nossa percepção

da realidade e além disso, é funda-

mental aprendermos a lidar positi-

vamente com emoções estressantes

como o medo, a ansiedade e a raiva.A partir daí, é preciso desenvolver um

estilo de vida que inclua exercíciosfísicos, práticas de relaxamento ealimentação saudável.

Rosifran Macedo

Pastor presbiteriano, missionário da OitavaIgreja Presbiteriana de Belo Horizonte - MGe da WEC Brasil (Missão AMEM). Casado comAlicia Bausch Macedo. Trabalham há mais de15 anos no Missionary Training College (MTC)Latino-Americano e nove anos como diretoresda WEC Brasil, atuando na área de cuida-do integral do missionário e de sua família.Atualmente é diretor do MTC e trabalha nacoordenação do PHILHOS

Não basta apenas resol -ver as situações estres -santes. É preciso rea-

valiar o seu sistema devalores que o leva a umarotina de estresse agudoe de cansaço. Quais sãosuas crenças acerca doseu valor?

Dificuldade anormal de começar o

dia com disposição pela manhã;

Exaustão que ocorre facilmente

ou com frequência;

Estranhas sensações no corpo,

como formigamento nos braços,

no peito, ou dor estranha nas

 juntas e nos músculos;

Tensão muscular crônica no

pescoço e nas costas e dor de

cabeça por tensão;

Distúrbio do aparelho digestivo; 

Insônia crônica, difculdade para

dormir ou despertando muito cedo; 

Fadiga crônica, especialmente

acordando cansado;

Perda de entusiasmo pela vida e

ansiedade crônica.

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 18 • Povos e Línguas

Como ouvirão?Um povo que tem as mãos como voz e símbolo de luta

Povos Não Alcançados

 fé vem pelo ouvir (Rm 10.17).Essa é uma verdade tão cla-

ra e simples que pode parecer

óbvia para muitos. Mas como é o“ouvir”? A linguagem é tão inerente

que, podemos viver despercebidos detoda a c omplexidade envolvida nosprocessos de comunicação interpes-

soal. Porém, para quase 10 milhõesde brasileiros declarados deficientes

auditivos no Censo 2010, ouvir não étão natural e simples.

Essa deficiência ocorre em diferentes

momentos, circunstâncias e níveis. Porexemplo: alguns idosos perdem parte

da audição e, até recorrer à prótese,precisam lidar com a falta de paciência

própria e dos outros. Há pessoas queficam surdas de apenas um dos ouvi-

dos e ficam literalmente às voltas para

escutar do lado que funciona.

A surdez pode ter causas genéticas ou

ambientais, como meningite, rubéola ou

lesões. Muitos têm uma perda auditiva

leve e ainda há aqueles que perderam a

audição após o período de aquisição delinguagem. Nesses casos, quando sãobem assistidos por médicos otorrinos

e fonoaudiólogos, é possível que eles

nem sejam facilmente percebidos pela

sociedade como deficientes auditivos.Seguindo o exemplo de Jesus, precisa-

mos nos colocar ao lado deles e fazero exercício de nos colocar, também,

no lugar deles a fim de entender suasnecessidades especiais tão diversas.

Precisamos ser sensíveis, se quisermosincluir essas pessoas em nossos rela-

cionamentos, programas e cultos.

É importante ressaltar que, dentroda população de deficientes auditivos,

mais de 2 milhões foram declaradosaos recenseadores do IBGE como pes-

soas que têm grande dificuldade para

ouvir ou que não conseguem ouvir de

 jei to nenhum. Est ima-se que esse seja

o número aproximado da populaçãoque forma a comunidade surda usuária

da Língua Brasileira de Sinais (Libras).

Desde 2002, quando o PresidenteFernando Henrique Cardoso sancionou

a Lei Nº 10.436 que reconhece a Libras,os surdos têm conquistado mais e

mais espaço. Eles estão celebrando as

vitórias e buscando avançar cada vezmais em busca de novas conquistas e

de reconhecimento, principalmente naárea da educação.

Há quem diga que o Evangelho

chega para os surdos com 100 anosde atraso em relação aos ouvintes. O

primeiro ministério com surdos de que

se tem notícia no Brasil começou emCampinas (SP), no final da década de70. Na década de 90 ainda existiam

algumas capitais, e talvez estadosinteiros, sem nenhuma igreja evangé-

lica tendo seus cultos traduzidos para

a língua de sinais.

Esses ministérios têm se multiplicado

mas ainda é certo que menos de 1% dacomunidade surda brasileira frequentaalguma igreja evangélica. Atenção e

apoio são importantes para que não

ofereçamos apenas tradução nos cul-

tos, mas uma real inclusão, respeitandoas diversas identidades dos surdos.

Eles também são crianças, jovens, sol-teiros, casais e idosos e cada espaço

da Igreja deve incluir os que ouvem

com os olhos e falam com as mãos.

Davidson Henrique Estanislao

Missionário na JOCUM em Belo Horizonte - MG. Diri-ge a Casa Semear, que atende crianças e adolescen-tes surdos carentes e em situação de risco

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Povos e Línguas • 19

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 20 • Povos e Línguas

Ateísmouniversitário

Capa

á pouco mais de três anos, eu me juntei aum grupo acadêmico de aproximadamente

40 estudantes da Universidade de Hambur-

go. O grupo é composto por brasileiros, alemãese estrangeiros representantes de diversas áreas

do conhecimento: sociologia, filosofia, psicologia,

direito, ciências políticas e, no meu caso, teologia.Nós promovemos encontros regulares para discu-

tir temas brasileiros atuais.

Nossos encontros começam com uma pales-

tra de um dos membros do grupo, e o momentoé seguido de uma discussão a respeito do tema

abordado. Assuntos teológicos fazem parte danossa agenda. Em dezembro darei minha segun-

da palestra. O grupo é caracterizado pelo interes-

se de analisar temas por vários pontos de vista,

aprofundando assim o próprio conhecimento.Outra característica é que a maioria dos partici-

pantes não acredita em Deus. O ar que se respiradentro das universidades parece ignorar a exis-

tência de Deus. Aqui segue uma análise pessoal

da ligação entre o contexto universitário do século

XXI e o ateísmo, assim como possíveis reflexõese atitudes que, como igreja, deveríamos extrairdesse momento.

Poucas semanas depois de ter me tornado

cristão em uma Igreja Metodista de Belo Horizonte

(MG), ouvi vários comentários a respeito de um jo-

vem que acabara de se matricular em um seminá-

rio teológico, em São Paulo. Tudo que ouvi sobre a

iniciativa dele me deixou confuso. Muitas pessoasdiziam que o seminário teológico seria, na verda-

de, um cemitério da fé! Seminário-cemitério: um jogo de palavras de mau gosto. Após sofrer tantas

pressões e fazer diversos questionamentos, valelembrar: hoje esse rapaz é um conhecido pastor de

uma Igreja Presbiteriana na capital mineira. E a fédele continua inspirando muita gente.

Depois de mais de uma década e a mais de 14mil quilômetros da minha cidade natal, escutei

algo parecido, mas dessa vez a meu respeito.Recebi um chamado pastoral após uma pregação

do Bill Hybels, durante um congresso da Willow-

-Creek Comunion Church em Hamburgo, na Ale-

manha. Na ocasião, Hybels comparou o ministériopastoral na Alemanha com o ministério profético

de Jeremias, afirmando que não existe nenhumpaís em que seja tão difícil ser pastor como na

Alemanha. Após a preleção, ouvi o Espírito Santome dizer que eu deveria estudar teologia.

Ao conversar com o meu pastor sobre o desejo de

ingressar no seminário, sua primeira reação foi tentar

me impedir. Ele tentou argumentar dizendo que o

estudo da teologia iria abalar a minha fé. Confesso

que, quanto à última questão, ele tinha razão. Duranteos cinco anos de estudos, fui confrontado com o

método histórico-crítico. Com a abordagem de certaslinhas da losoa e da psicologia, experimentei várias

fases em que a minha fé foi profundamente abalada.Isso ocorreu com vários colegas. Alguns deles che-

garam a abandonar o estudo e até mesmo a fé.

Então a armação do meu pastor sobre como aminha fé jamais seria a mesma se cumpriu, mas

graças a Deus de uma maneira positiva. Por um lado,depois das minhas crises, Deus continuou insondávele inexplicável, mas, por outro, tornou-se ainda mais

profundo, e a sua graça e o seu amor, mais claros doque nunca. Quem cruzou um deserto pode entender

a ansiedade e a sede dos que enveredam por cami-

nhos áridos. E, com a experiência, pode até mesmoguiar o caminhante para um oásis.

ATEÍSMO HISTÓRICO

O termo ateísmo vem do grego antigo átheos,que signica “sem Deus”. A palavra descreve a

H

Mais do que lsoas anti-Deus

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Povos e Línguas • 2

A armação do meu pas -

tor sobre como a minha féjamais seria a mesma secumpriu, mas, a graça deDeus, de maneira positiva.Por um lado, depois das mi -nhas crises, Deus continuouinsondável e inexplicável,mas, por outro, tornou-seainda mais profundo, e a sua

graça e o seu amor, maisclaros do que nunca

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 22 • Povos e Línguas

convicção de que Deus e deuses não exis-

tem. Em outro sentido, o conceito descre-

ve também o modo de se distanciar da

fé, dizendo ser impossível saber se essas

entidades existem ou não. Essa forma échamada de agnosticismo. O ateísmo é

tão antigo quanto o próprio teísmo.

Há evidências históricas sobre ateísmoem antigas culturas, encontrado em siste-

mas losócos, como Jainismo, Vaisheshi-

ka, Nyaya e Samkhya na Índia do século VIa.C. Essas correntes incluem o budismo,

iniciado no século V a.C. O Daoísmo daChina do século IV a.C. também nega a

existência de um Deus criador. Na Pérsiado século V a.C. há evidências de corren-

tes ateístas no Zervanismo. A questãosobre se o povo hebreu conheceu ou não

o ateísmo é um ponto de discórdia entreteólogos. No entanto, o salmo 10.3 aponta

a existência de pessoas que não acreditamna existência de Deus. Em Efésios 2.12

encontra-se o termo “ateísta”.

No Mundo Antigo e na Idade Média, a vidaprivada e a pública eram determinadas por

ideias religiosas. Ceticismo e dúvidas com

relação à existência de Deus eram questões

de uma minoria e de intelectuais que nãose atreviam a pensar em voz alta. Chamar

alguém de ateísta era uma forma de ofendere até de acusar judicialmente. Durante gran-

de parte da história, até meados do século

XVII, ateístas foram presos e executados. Oateísmo começou a fazer escola durante o

Iluminismo e trouxe consigo o Secularismo.Assim houve a separação entre Estado e

Igreja em muitos países. Nos séculos XIXe XX, o ateísmo foi colocado como pensa-

mento fundamental na losoa marxista

e existencialista. Desde então, esse termodescreve a inexistência de Deus e a com-

pleta negação do sobrenatural. Esse é o

chamado “Novo Ateísmo”.

Pesquisas feitas em 20101, na Europa,revelaram a existência de 20% de ateus –

pessoas que não acreditam em Deus nem

em uma forma espiritual. Os resultados

trouxeram também: 51% acreditam emDeus, 26% creem em alguma forma de

força espiritual e 3% não se manifesta-

ram. É interessante observar a diferença

desses dados em relação aos de outrospaíses: o maior número de teístas se

encontra em Malta (94%) e na Romênia(92%). O menor número está na RepúblicaTcheca (16%) e na Estônia (18%). Na Ale-

manha, Áustria e Suíça, 44% da populaçãocrê em Deus. O número de pessoas que

não acreditam em Deus foi maior na Fran-

ça (40%) e na República Tcheca (37%).

Na Alemanha, esse número é de 27%,na Áustria, 12% e na Suíça, 11%. 2 Outra

pesquisa de 2005 revelou que dentre os

teístas se encontram 55% de mulherescontra 45% de homens. Boa parte dos te-

ístas é composta por idosos, pessoas deorientação política da direita e de poucaescolaridade. Nos Estados Unidos vive o

maior número de teístas: 91%.3 

Entre 2011 e 2012, o Worldwide Inde-

pendent Network e a Gallup InternationalAssociation zeram uma pesquisa com

quase 52 mil pessoas de 57 países. Os

resultados revelam uma diminuição nonúmero de religiosos no mundo. Entre

2005 e 2012 houve uma queda de 9%, en-

quanto que o número de ateístas cresceu

3%. Em alguns países, esse crescimentofoi extremo. Os mais expressivos são Viet-

nã (23%), Irlanda (22%) e Suíça (21%). 4 O

número de ateístas nos Estados Unidosé maior entre cientistas. Somente 7% dosmembros da associação cientíca ameri-

cana acreditam em um Deus pessoal.5 

O mundo está passando por mudanças

radicais na área intelectual. O cotidiano

em uma universidade é permeado pela

forte confrontação com losoas anti-

-Deus. Especialmente nas ciências huma-

nas, o jovem estudante é confrontado em

uma fase delicada. Nesse período, o seu

caráter e intelecto estão sendo moldados.

Eles são obrigados a se posicionar diante

de questões para as quais não têm opi-

nião formada. Professores são sinônimo

de autoridade. É preciso haver cristãos nocorpo de professores universitários assim

como um acompanhamento de estudan-tes por cristãos acadêmicos.

FILOSOFIAS ANTI-DEUS

Não há meios empíricos em que se pos-

sa explicar ou comprovar a existência divi

na e suas implicações. No entanto, muitosdefendem a tese de que a existência deum Deus traz consigo consequências

morais. Mas pensadores como Immanuel

Kant declaram que elementos moraissão inerentes à natureza humana. Para o

lósofo, esses princípios existem mesmosem a consciência de um ser superior.

A história humana mostra claramen-

te que a fé em um deus não é nenhuma

garantia contra o uso de violência nem de

atos criminosos. Segundo Kant, a obriga-

ção de um ser humano agir moralmente

em prol de outra pessoa não pode ser ba-

seada na fé em um deus. Após os atos deviolência em nome de Deus que ocorreram

nos últimos anos, Dalai Lama escreveu umapelo ao mundo, defendendo uma ética

O ateísmo começou a fazerescola durante o Iluminismo etrouxe consigo o Secularis -mo. Assim houve a separação

entre Estado e Igreja emmuitos países. Nos séculosXIX e XX, o ateísmo foi colo -cado como pensamento fun-

damental na losoa marxistae existencialista

1 Special Eurobarometer, biotechnology report. 2 Eurostat poll on the social an religious beliefs of europeans 3 BBC UK among most secular nations 4 Global index of

religions and atheism 5 Edward J. Larson, Larry Witham: Correspondence: Leading scientists still reject God. In: Nature. 394, Nr. 6691, 1998.

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Povos e Línguas • 23

livre da religião. Ele compara ética e religião

como água e chá: “A água existe sem o

chá, mas o chá jamais vai existir sem aágua”. Para ele, a religião gera violência epara salvar nosso mundo precisamos da

ética em vez das religiões. Nas comissões

éticas da Europa há um grande número depessoas que defendem o ateísmo huma-

nista no lugar das religiões tradicionais

como base da ética moderna.

A lista de nomes de ateístas famosos,como Nietzsche, Marx, Freud e Sartre, que

influenciaram todas as cadeiras universitá-

rias, é longa. O existencialismo arma que

somente um mundo sem Deus, onde tudoé permitido, leva o homem a assumir a ver-dadeira responsabilidade pelos seus atos.

Nos primeiros anos pós-Segunda Guerra

Mundial surgiu uma ligação entre ateísmoe cristianismo destacada pelo silêncio de

Deus diante do assassinato de milhões de

 judeus durante o Holocausto. Nesse perí -

odo, a declaração de Nietzsche, datada de1882, tornou-se uma bandeira: “Deus estámorto!”. Para os adeptos dessa linha de

pensamento, naquele momento nalmenteocorria a libertação do mundo das mãos de

um deus tirano. Esse foi o pano de fundo

do nascimento de um ateísmo cristão.

Essa linha ateísta dentro da teologia

europeia exalta Jesus como o libertadorda verdadeira ética e moral cujas conse-

quências se limitam a esta existência. Ateóloga alemã Dorothee Sölle é um dos

nomes mais famosos na chamada “Te-

ologia da Morte de Deus”. Ela fala sobre

crer em Deus de maneira ateísta. Nessavertente, o ateísmo significa uma novapercepção a respeito de Deus: o Deus

onipotente e onipresente, mesmo po-

dendo interferir na história, permite todo

tipo de miséria e sofrimento e admiteaté mesmo os fatos que culminaram noHolocausto. Como consequência dessa

linha teológica, esses líderes admitem apossibilidade de ser pastor na Alemanha

sem a fé em Deus. Para eles, religião é

algo mais profundo que Deus.

INDIFERENÇA

Voltando aos encontros regulares na

Universidade de Hamburgo, perceboque algo mudou. Há algumas décadas,

o ateísta tentava convencer o teísta da

sua ignorância por crer na existência deum deus. O ateísmo era militante e tinhaum quê de religião. Eles faziam partede comunidades que se juntavam para

alcançar mais e mais espaço na socieda-

de. A lista dessas sociedades na Europa

e nos Estados Unidos é longa.

Percebe-se que o ateísmo tem dado

cada vez mais espaço para o agnosti-cismo. O agnóstico não brada por todo olado que Deus não existe. Ele não milita

contra a ideia da divindade, não acha quereligiosos são ignorantes por denição

nem considera que a religião seja a fontede todo o mal. Ele segue a própria vidaconvencido de que Deus não é uma ques-

tão. O agnóstico plenamente indiferente

pode apreciar um culto como expressãocultural, sem nenhum valor transcen-

dental, mas é valoroso do ponto de vistahumano. Para ele, o cristianismo é um im-

portante movimento histórico-cultural que

legou para o Ocidente um dos mais valio-

sos conceitos que temos: o da dignidade

humana. No entanto, também é uma fontede culpa e sofrimento para seus éis, que

tentam apaziguar seus dramas na gurade Cristo. Para o agnóstico, a mensagem

de Jesus é uma losoa estoicista que

convida as pessoas a deixarem de viverpara si em prol dos benefícios que vãoobter em outra existência.

Uma das frases mais conhecidas de

Friedrich der Große, Frederico o Grande,

(17 12-1786), é ainda um dos ditadosmais citados quando se diz respeito à to-

lerância religiosa na Alemanha. Esta frasedescreve a postura do homem moderno:

“Cada um deve ser salvo da sua própria

maneira” (jeder soll nach seiner façon se-

lig werden). Sendo assim, cada um segue

o próprio caminho em direção àquilo queconsidera a sua salvação. Se um cristão

quer ser “salvo” por Jesus ou um muçul-

mano por Allah, se alguém arma queDeus não existe, cada um tem o próprio

caminho. Vivendo em um continente com

o convívio de representantes de todas

as religiões e doutrinas deste mundo,somente a tolerância, o respeito mútuo

e o diálogo impedem que os conflitos seintensiquem. Para o europeu moderno, aquestão religiosa não tem nenhuma rele-

vância. O que eles desejam é paz.

CRISTÃOS SUPERPROTEGIDOSE VULNERÁVEIS

Diante do chamado “ateísmo universitá-

rio”, como devemos nos posicionar como

Igreja e como indivíduo para seguir emfrente com uma mensagem de salvação pormeio do sacrifício do Senhor Jesus Cristo?

Em primeiro lugar, há muitos cristãos

que veem no crescimento do desinteresse

geral sobre a existência ou não existência

de Deus nas universidades como um tipo

de conspiração contra o cristianismo.

Muitos creem em um plano denido parabanir Deus da sociedade. Está claro que as

trevas avançam e que a batalha espiritual

é uma realidade. Todavia, se nos atermos

apenas a essa questão, a resposta auto-

mática seria a oração. Orar é dever de todo

cristão. No entanto, não dá para estagnarnesse ponto. Nossas atitudes devem ser

um reflexo da nossa vida de oração.

Ele compara ética e religiãocomo água e chá: “A águaexiste sem o chá, mas ochá jamais vai existir sem aágua”. Para ele, a religião geraviolência e para salvar nossomundo precisamos da éticaem vez das religiões 

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 24 • Povos e Línguas

A oração de Jesus por nós não foi paraque Deus nos tirasse deste mundo, maspara que o Senhor nos livrasse do mal.

Parece que nós, cristãos, estamos ten-

tando “sair” do mundo em vez de preparar

nossos jovens para que eles possam viver

e se tornar testemunhas aqui e agora. Umaconfrontação com a realidade externa e

suas losoas, muitas vezes, só ocorreatravés das janelas do nosso carro. Será

que essa é a melhor maneira de prepa-

rá-los para o futuro? Quanto mais osafastamos do mundo, maior será o choque

cultural ao entrarem em uma universidade.

Os resultados de uma hiperproteção

podem ser desastrosos para o preparo dos

 jovens. Fiz uma pesquisa com cerca de 20 jovens que cresceram em um lar cristão,em um ambiente totalmente protegido do

chamado “mundo”. Os resultados mos-

traram que 80% deles tinham se desviadoou se tornado ateístas. O que eu constateisobre a educação cristã que eles recebe-

ram me abalou profundamente. Muitosdeles se sentiram oprimidos pela fé dos

pais. Não podiam falar sobre suas dúvi-das nem de pontos de vista diferentes em

relação à fé que a família professava. O que

não foi discutido em casa foi respondidopor professores ateus. O que muitos delesperceberam foi que o chamado “mundo”não era tão mal quanto seus pais pintaram.

ÊNFASE

A segunda posição a ser observada é se

a nossa mensagem tem se restringido a

questões morais. É preciso assumir que,aos olhos de muitos, crente é aquele que

não pode beber, não pode fumar, não podementir nem pode ter sexo antes do ca-

samento. A lista de proibições é enorme.

Essa denição de crente como moralistaconduz a uma deformação da percepção

do que, de fato, Cristo comunicou. Esseestereótipo de crente distorce a ênfase da

boa–nova, que é o Evangelho. A mensa-

gem do Evangelho tem consequências

morais. Mas é somente isso que temos

a oferecer? Essa é a ênfase de Jesus aolongo dos evangelhos?

Nós pregamos que Deus liberta o pecador,mas o cristão vive em uma cadeia religio-

sa. Essa é uma realidade parecida com a

dos fariseus na época de Jesus. A lista dasproibições impostas por eles registrava

mais de 3 mil pontos. A ênfase coloca Deus

como um estraga-prazeres. Sendo assim,como podemos ser felizes? Muitos armam

que crentes vivem com um sorriso forçadono rosto. Será que essa é a nossa forma decompensar esse monte de não-pode que

a moralidade exige? Tentamos convencer

as pessoas de que, apesar de tudo, somosrealmente felizes? Em vez de pregar o quenão podemos, deveríamos falar sobre o que

temos e somos em Deus.

Um terceiro aspecto precisa da nossa

atenção: é necessário parar de pensar

que sempre temos razão. Confesso que

uma discussão sobre temas teológicoscom meus amigos na universidade é

mais proveitosa e agradável do que

uma discussão com muitos cristãos.

O respeito mútuo e a disposição de

ouvir, que pode levar a um denominadorcomum ou à possibilidade de pensar

a respeito, que é verificada na univer-

sidade, quase não encontro no meio

evangélico. Talvez tenhamos medo de“perder” uma discussão ou de não ter

respostas para tudo.

QUEBRA DE PARADIGMAS

Precisamos de uma mudança de pa-

radigma. Muitas vezes, lutamos contra omundo. Essa declaração é totalmente ne-

gativa, e o termo “mundo” se tornou pejo-

rativo. Em João 3.16, esse termo se referea pessoas pelas quais Jesus deu sua vida

para que elas pudessem ser salvas. Que

tal se trocássemos a luta contra o mundo

por um trabalho em prol das pessoas?

Precisamos amar essas pessoas como

Cristo as amou. Há alguns meses, estiveem uma palestra de Floyd McClung. Ao ser

questionado sobre o que mudaria no seu

ministério, caso tivesse a oportunidade decomeçar tudo novamente, ele respondeu:“Eu amaria mais as pessoas e buscaria um

verdadeiro relacionamento com elas em

vez de vê-las como objetos de missão”.

É preciso trabalhar em prol das pessoasenquanto é dia, pois a noite vem (Jo 9.4).Qual será a mensagem que vai reluzir nas

trevas deste século? Somente o amor deJesus refletido em nossas vidas e uminteresse verdadeiro pelas pessoas ao

nosso redor vai abrir os olhos dos cegos e

fazê-los ver Deus. Nossas vidas e nossos

atos sempre vão falar mais alto do quenossas palavras (1Jo 3.18).

Dados aqui citados conrmam que omundo caminha em direção a um futuro

ateísta. Como cristãos, somos chamadosa viver entre aqueles que andam sem Deus

neste mundo (Ef 2.12). Apesar de toda acrítica, eu creio na Igreja como luz e sal daTerra; na mensagem de amor que, pelo Es-

pírito Santo, tem o poder de abrir os olhosdos cegos. Cristo em nós é, e sempre será,

a esperança deste mundo (Cl 1.27).

No Mundo Antigo e na Ida-

de Média, a vida privada e apública eram determinadaspor ideias religiosas. Ceticis -mo e dúvidas com relaçãoà existência de Deus eramquestões de uma minoria ede intelectuais que não seatreviam a pensar em voz alta

Maurício da Silva Carvalho

Mestre em Teologia pelo Theologisches SeminarElstal - Fachhochschule em Berlim – Alemanha.Palestrante e pastor titular da Josua-Gemeinde,Igreja Batista Alemã localizada em Hamburgo.Natural de Belo Horizonte – MG. Casado comUlrike. Pai de Leo (16) e Nicolas (14)

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Povos e Línguas • 25

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 26 • Povos e Línguas

Encontros inusitadosA arte a serviço do Rei

Mídia e Reino

uma tarde ensolarada, eu estavasozinha numa sala de cinema, emuma grande capital do Brasil. Na

época, eu era mais jovem, solteira, nãotinha filhos. Estava em uma tarde livre

assistindo a um filme belga, Le Huitiè-

meJour. De repente, tudo fez sentido.A mensagem do Evangelho de Jesus

Cristo, que eu tinha ouvido de um pastor,tornou-se mais clara.

Ali mesmo decidi seguir Jesus comomeu Senhor e Salvador. Saí do cinemaconvicta de que a vida sem amor não fazia

o menor sentido. No entanto, para amarverdadeiramente, eu precisava de Jesus

Cristo. Anal, era Ele quem arma ser oCaminho, a Verdade e a Vida (Jo 14.6).

Dentro de uma sala de cinema, sozinha,entreguei-me ao Salvador.

E com você: como aconteceu? Onde ecomo você percebeu que precisava de

um Salvador? Talvez, para você, essemomento tão importante tenha aconte-

cido em um culto, em um acampamentode jovens ou até mesmo ouvindo uma

pregação pelo rádio ou assistindo à TV,mas nem sempre é assim.

Para me tocar e levar-me a uma decisão

importante, Deus usou um lme que nemde longe é classicado como cristão ou

evangelístico. Diante da minha história,

percebo que Deus usa diferentes maneiraspara falar conosco. E uma delas pode seruma tela de cinema ou uma exposição fo-

tográca. Em um dia, o que está desviadopode retornar; o que está sem esperança

pode encontrar o consolo; quem precisa

de amor pode ouvir um chamado.

Para o meu marido, foi também de umaforma inusitada que Deus o tocou. Após

assistir a palestra de um fotógrafo famosoe não declaradamente cristão, meu maridofoi tocado ao ver fotos de refugiados ao

redor do mundo. A exposição fotográcao fez chorar e o ajudou a perceber que a

grande resposta para todo aquele sofri-

mento seria Jesus Cristo ressurreto.

Após aquela sessão de cinema e a

exposição fotográca, Deus nos levou pormuitos caminhos. Levou-nos à Inglaterra,

onde realizamos sonhos prossionais. Eu,de fazer um mestrado em cinema docu-

mentário e meu marido, de trabalhar com

cinema de animação na Aardman Anima-

tions (produtora inglesa).

De volta ao Brasil, continuamos a

perceber o agir de Deus, superandoas nossas expectativas. Para nosso

privilégio, estamos servindo em umamissão que apoia logisticamente mis-

sionários no interior da selva Amazôni-

ca: a Asas de Socorro. Nosso sonho éservir ao Reino com nossas provisões,vídeos, fotos, textos e depoimentos.Que Deus, em sua infinita misericórdia,

use o trabalho de nossas mãos para

tocar os outros, assim como ele usou a

arte de outros para nos tocar.

Talvez Ele também possa usar a suafala, o seu agir, a sua arte para consolar,alegrar e dar esperança para quem está

desanimado. O Evangelho de Jesus Cristoé poder para salvar (Rm 1.16). Isso podeacontecer em qualquer lugar, até mesmodentro de uma sala de um cinema.

N

Rita Mucci Santos

Jornalista, casada com Rodrigo Fraga Santos, mãede três filhos e missionária da Asas de Socorro

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Povos e Línguas • 27

DEPASTOR PARAPASTOR 

 A escola da vida e a vida da escola

Pág. 32 Raquel Chaves Guerreiro

CADERNO ESPECIAL Nº 7 | POVOSELINGUAS.COM.BR

VOCAÇÃO

E OBEDIÊNCIAO aspecto humanoda missão

Pág. 30 Pastoral

Terra dos livres:Uma tolerância plástica

Pág. 34 Escuta Missionária

Foto: Maycon Wesle

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 28 • Povos e Línguas

Vocação e obediênciaA dinâmica missionária da igreja local

Igreja Missionária

 Primeira Igreja Presbiteriana de

Vitória (1ª IPB) nasceu missioná-

ria. Após 87 anos de existência, a

igreja tem diversas frentes de trabalho

em missões urbanas e já plantou 20

igrejas pelo estado do Espírito Santo e

na região da Grande Vitória. A 1ª IPB

também ajudou a construir três tem-

plos, sendo um no Chile. Em missões

transculturais, a igreja desenvolve

trabalhos na Amazônia Legal e nos

cinco continentes, apoiando 23 mis-

sionários em 17 países.

Compreendemos a importância deinvestir tempo e recursos principalmen-

te em projetos de médio e longo prazo.

Portanto, missionários credenciados apre-

sentam seus planos de trabalho e buscam

parceiros para completar seu orçamento.

Nessa etapa, um grupo de irmãos

vocacionados em obediência à Pala-

vra forma um conselho d e missões

local. Esse conselho analisa projetos,

entrevista candidatos, apresenta a

igreja e, debaixo de oração, encami-

nha os projetos analisados para a

avaliação dos conselheiros.

O regimento interno do Conselho de

Missões foi produzido para nortear a

abrangência de ações. Os conselheiros

se reúnem ordinariamente uma vez por

mês e estão sempre a postos para se

reunir e prestar socorro ou ajuda emer-

gencial a seus apoiados.

Com base nessa dinâmica, os

missionários da IPB atuam em paí -

ses, como Austrália, Espanha, Portu-

gal, Romênia, Albânia, Bolívia, Chile,

Senegal, África do Sul, Líbano, Síria,

Curdistão/Iraque, Guiné-Bissau, Índia,

e no mundo árabe, além da Amazônia

Legal, entre os Quilombolas.

A Não apenas é possível comonecessário que organizemdepartamentos ou conselhosmissionários em suas igrejas,identicando membros vo -cacionados que assumam umpapel mobilizador sob orien-

tação de líderes conscientese obedientes ao Ide de Jesus

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Povos e Línguas • 29

O avanço missionário é acompanhado

por meio de relatórios per iódicos, e-mail,

blogs, telefonemas, redes sociais e até

visitas ou convites dos missionários

para irem à igreja local, com custeio

integral das despesas.

Pedidos de socorro financeiro são

frequentes, devido às circunstâncias

vividas nos campos. As demandas são

atendidas de forma extraordinária pelo

envolvimento dos membros da igreja.

Por meio de suas sociedades inter-

nas, Sociedade Auxiliadora Feminina

(SAF), União Presbiteriana de Homens

(UPH), União Presbiteriana de Ado-

lescentes (UPA), União da Mocidade

Presbiteriana (UMP) e União Presbite-

riana de Crianças (UCP), os membros

promovem “cantinas missionárias”

com doações simbólicas ao consumir

comidas típicas de diversos países. Os

recursos captados são revertidos para

o atendimento de demandas emergen-

ciais do campo missionário.

Anualmente a 1ª IPB de Vitória rea-liza uma Conferência Missionária. Em

2015 acontece a sexta edição. Essa é

uma oportunidade para abordar diver-

sos temas que estão em voga. Neste

ano, o tema escolhido é “Missões

versus Estado Islâmico”. Na ocasião

serão apresentados relatórios de

campo e a vivência dos missionários

enfatizando a postura dos cristãos

diante das perseguições e das amea-

ças nesse contexto.

A divulgação de algumas atividades

precisa ser mais cuidadosa, uma vez

que não se podem expor nomes, locais

de atuação nem contatos de alguns

obreiros que atuam em regiões onde a

perseguição religiosa é mais intensa.

Contudo, a 1ª IPB de Vitória vem edi-tando boletins informativos e usando

as mídias digitais para apresentar o

trabalho de obreiros que estão em

campos livres de perseguição.

A maioria das ações missionárias da 1ª

IPB está dirigida ao mundo árabe, seguido

de revitalização e reevangelização da Euro-

pa e da África. A Igreja também dá atenção

especial ao trabalho com alguns grupos

minoritários: Índios, Ciganos (na Romênia)e Quilombolas.

Diante do chamado original da Igreja

de Cristo, é preciso lembrar uma coisa

a todos os pastores que ainda não es-

tejam envolvidos de forma perene na

obra missionária: esse é o sentido da

permanência da Igreja na Terra.

Não apenas é possível como neces-sário que organizem departamentos ou

conselhos missionários em suas igrejas,

identicando membros vocacionados que

assumam um papel mobilizador sob orien-

tação de líderes conscientes e obedientes

ao Ide de Jesus (Mt 28:19-20; Mc 16:15).

Abraçar desaos de sustentar parcial

ou totalmente projetos missionários ou

obreiros é fundamental para o avanço do

Reino de Deus. Essa é uma marca dos cristãos que vivem com ousadia e intrepidez o

Evangelho do Senhor Jesus Cristo.

Pedro Miguel A. Castillo Díaz

Presbítero Presidente do Conselho Missionário daPrimeira Igreja Presbiteriana de Vitória - ES

Culto Convite aos Konkombas da Africa com o Rev. Ronaldo Lidorio e Hernandes Dias Lopes

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 30 • Povos e Línguas

A perspectiva de Deus

Pastoral

asa de ferreiro, espeto de pau”.

“Santo de casa não faz milagre”.

Os ditados populares nem sempre

refletem verdades bem-fundamentadas, mas

esses dois expressam muito bem a experi-

ência cotidiana, seja ela alimentada por fatos,

seja por preconceitos. E aquele que é alvo

desses preconceitos logo se identica com

outro texto bíblico, dizendo: “O profeta não

tem honra na própria casa” (Mc 6:4). Com

isso, todos perdem, tanto o que não dá honra,

quanto o que se faz de vítima.

Quando lidamos com o processo missioná-

rio – vocação, preparo, envio e manutenção –,

muitas vezes esbarramos em obstáculos logo

no início. Isso acontece muito provavelmente

devido às barreiras que nós mesmos criamos.

Quando lemos as biograas de grandes

homens e mulheres de Deus que dedicaram

suas vidas ao Senhor em missões, encon-

tramos nomes como Charles Studd e Sophia

Müller e muitos outros. Diante dos registros

históricos e de tudo que se pode encontrar

nos livros, pensamos logo no estereótipo da

pessoa madura, solidamente espiritual, sem

medos, dúvidas nem mesmo pecados.

Precisamos admitir que muitas vezes

passa pela nossa mente aquela visão do

missionário com padrões nórdicos, alto, si-

camente forte para enfrentar as intempéries

do campo e emocionalmente estável a ponto

de só chorar de quebrantamento diante das

almas perdidas. Se solteiro, não sofre com

carências nem desejos sexuais. Se for casa-

do, é extremamente amoroso com o cônjuge,

e os lhos são protótipos melhorados do

famoso “Bebê Johnson”. Esses missionários

concebidos no consciente coletivo de boa

parte da Igreja naturalmente são evangelis-

tas, pastores, mestres e servos prontos para

destilar uma renadíssima espiritualidade em

cada ato ou palavra. A verdade é que esses

“supermissionários” só existem em nossa

imaginação e por um motivo simples: não

existe crente nenhum que seja assim.

O Senhor chama para o campo missionário

gente como os demais. Portanto, considerar

que cristãos mais espirituais sejam separa-

dos por Deus para tarefas mais complexas

é separar o povo de Deus em castas; é dizer

que alguns foram chamados para o campo

transcultural porque Deus os aprovou por se-

rem mais capacitados. Não há nada menos

bíblico e mais nocivo ao conceito da graça

de Deus e ao processo de lapidar aquele

que tem chamado, pois ninguém recebe um

pacote de “unção missionária” ao sentir de

Cristo um chamado para o campo.

Como crentes normais, os vocacionados

convivem na dualidade de se verem cheios do

Espírito Santo e, ao mesmo tempo, sentirem

desejos pecaminosos completamente contrá-

rios a essa realidade espiritual de que somos

habitação do Espírito Santo (1Co 6.19). Essas

tensões tendem a se potencializar à medida

que se afastam da proteção do ambiente da

igreja local para viver em campos com um

clima que mais agride que incentiva sua espi-

ritualidade. Por isso, os missionários precisam

ser bem preparados espiritual e emocional-

mente para enfrentar essas situações. Se en-

cararmos os chamados e vocacionados para

“C

O aspecto humanoda missão

A questão maior não estáem achar o crente que seencaixe em nossa ideia demissão, mas em deixarmos

a graça de Deus uir porintermédio de nossas vidas,permitindo que Deus use aigreja local como ambientede preparo e plataforma delançamento daqueles quesão chamados para longe 

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Povos e Línguas • 3

missões como sendo automaticamente ungidos

para isso, deixaremos de lado a importante tarefa de

preparo que é, antes de tudo, da igreja local.

A visão distorcida do chamado missionário é

evidenciada quando se compara à usual preparação

para o trabalho pastoral com a do missionário trans-

cultural. Quando uma pessoa procura a liderança

de sua igreja dizendo que deseja “ser pastor”, um

processo é iniciado. Logo o “candidato” é analisa-

do, arguído e encaminhado para um envolvimento

ministerial parar ser observado e posteriormente

enviado para um seminário. Depois de graduada,

a pessoa ainda é colocada ao lado de outro pastor

para ser acompanhada até a sua ordenação (com

certeza, esse processo é mais curto em algumas

denominações). Se o preparo de alguém que vai

pastorear um rebanho em sua cultura dura váriosanos, por que nós nos achamos no direito de pensar

que o missionário pode ir para um campo transcul-

tural sem um profundo e extensivo treinamento?

Uma consequência direta desse bom acompanha-

mento do vocacionado por parte de sua liderança

pastoral é a quebra do estereótipo do missionário

“supercrente”. Ao olhar para o vocacionado como

alguém que também carece de preparo, a liderança

se coloca nas mãos de Deus para ser a ferramenta

de lapidação desse líder em treinamento. Diferen-temente do que muitos acham, não existe gênero,

idade nem conguração familiar ideal para o traba-

lho missionário. Assim como há inúmeros tipos de

campos missionários, são inúmeras as possibilida-

des para diferentes pers. Alguns campos precisam

de jovens solteiros, ao passo que outros carecem

de casais com boa vivência conjugal. Uns campos

precisam de missionários de carreira em tempo in-

tegral enquanto outros só podem ser acessados por

bivocacionados com boa formação prossional.

Alguns são chamados para o campo com um

histórico de vivência evangélica, lhos de diversas

gerações de crentes maduros. Outros, no entanto,

são resgatados das drogas, da vida underground

com tatuagens e piercings, ou de famílias desajus-

tadas para servir a Deus neste mundo globalizado

e pós-moderno igualmente desajustado. A questão

maior não está em achar o crente que se encaixe

em nossa ideia de missão, mas em deixarmos

a graça de Deus fluir por intermédio de nossas

vidas, permitindo que Deus use a igreja local como

ambiente de preparo e plataforma de lançamento

daqueles que são chamados para longe.

Como uma vez disse um amigo: todo preconceito

é um pré-conceito, que é um pré-juízo, que é um

prejuízo. Como liderança pastoral, nós nos aproxi-

mamos daqueles que se entendem chamados por

Deus para a obra missionária. Lançamos sobre eles

olhos preconceituosos, excluindo das leiras dos vo-

cacionados, pessoas que achamos novas ou velhas

demais, que não apresentam certos traços de perso

nalidade que entendemos que todo missionário deve

ter ou alguns dons espirituais que entendemos ser

condição básica para o trabalho transcultural. Assim

acabamos excluindo por nossa conta pessoasgenuinamente vocacionadas e enviando outros sem

o devido preparo, por acharmos que já reúnem os

requisitos que julgamos “espirituais”. Em vez de nos

enchermos do Espírito Santo para nessas decisões,

acabamos agindo em seu lugar.

Cristo, nosso modelo para todo tempo e qualquer

situação, ensina-nos muito quanto ao preparo do

vocacionado. O fato de Jesus ter formado o corpo

apostólico de 12 discípulos da forma como o fez le-

va-nos a crer que sua escolha foi meticulosamenteplanejada. Ele envia uma mensagem aos seus

sucessores ao chamar pessoas com experiências,

histórias familiares, posições políticas, prossões,

idade e temperamentos tão diversos. Cristo nos

comunica que não utiliza parâmetros humanos.

Ao gastar tempo com os 12, ensinando-os com

seu exemplo como deveriam agir em missão,

Cristo deixou para eles e para nós o mais frutífero

modelo. Como bem disse Deus a Samuel quando

se achou com a vista embotada de preconceitos

para a escolha do novo rei: “O Senhor não vê comoo homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor

vê o coração” (1 Sm 16:7).

Luís Fernando Nacif Rocha

Pastor de missões da Oitava Igreja Presbiteriana deBelo Horizonte - MG

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 32 • Povos e Línguas

A escola da vida e a vida da escolaEsperança e transformação

Artigo

 Teologia da Missão Integral estáinspirando e desaando a IgrejaBrasileira a aplicar os princípios do

Evangelho na vida cotidiana. O objetivo é

promover uma atuação mais expressiva navida social e espiritual das pessoas. O proje-

to Escola da Vida foi lançado em 2009 pelaMocidade Para Cristo (MPC). A iniciativa é

inspirada na perspectiva expressa no Pacto

de Lausanne – “O Evangelho todo para ohomem todo e para todos os homens”.

O projeto prevê diversas atividades nas es-

colas. Durante uma semana, os alunos parti-

cipam de palestras que tratam de assuntos,como violência, caráter, família e sexualidade.

A abordagem engloba a realidade social da

comunidade. A construção das palestras se

fundamenta nos princípios bíblicos, e a equi-

pe utiliza uma linguagem contextualizada ecriativa na sua reprodução. O tema da última

palestra é o amor. A programação inclui

muita música, teatro, vídeos e a proclamaçãodo Evangelho. Ao longo desses cinco anos,

foram mais de 20 mil decisões por Cristo e200 mil alunos alcançados.

Você já escreveu uma carta para Deus?Esse é o tema do concurso de redação

lançado durante a semana para os alunos.

Para muitos, foi a primeira oração; paraoutros, uma oportunidade de desabafare tirar dúvidas. As redações são respon-

didas pela equipe da MPC, e as melhores

são premiadas na sexta-feira. Já forammais de 23 mil oportunidades de falar doEvangelho por meio das cartas.

Muitas esferas de atuação da escola

são contempladas. Antes da semana de

palestras começar, a equipe organizadora

tem um momento especial com os profes-sores. Eles fazem um lanche e, na ocasião,a equipe ministra uma palavra de esperan-

ça em meio a ações de atenção e carinho

para cada professor. Outro momento-cha-

ve é o encontro com os pais dos alunos.

Em uma sociedade em que cada vez mais

se terceiriza o cuidado, lança-se um desa-

o: adote o seu lho, ame-o com todas assuas forças assim como Jesus amou você.

Essas ações promovem o evangelismo

natural e relacional porque as pessoas são

mais importantes do que o programa. O que

se deseja é estar nas escolas para passar a

semana com esses alunos, sentar, conversar,brincar, descobrir quem eles são, quais sãoos seus medos e suas angústias e comparti-

lhar a esperança, que é Cristo. Mas e depois?

Em cada escola do Brasil existe pelo me-nos um cristão que quer falar de Jesus para

os seus amigos, e não sabe como. A missãoda MPC é compartilhar essa chama e dizer

que isso é possível, mostrar as ferramentase ensinar cada aluno cristão a montar um

clube bíblico na sua escola.

Depois que o projeto acontece, a gura deum capelão escolar é o ideal para a conti-

nuidade dos trabalhos. A equipe da MPC

mantém contato com os alunos através dasredes sociais e prepara um site especialmen-

te para os estudantes, com material dinâmi-co e um curso bíblico on-line.

Ao longo da semana, a frase “Tudo muda

quando você muda” é enfatizada em váriosmomentos. Quando cada Igreja no Brasil de-

cidir entrar nas escolas de maneira efetiva econsciente, haverá uma “manifestação histó-

rica do Reino de Deus” (Pacto de Lausanne).

Raquel Chaves Guerreiro

Integrante da Mocidade Para Cristo (MPC) desde janeiro de 2009. Líder da MPC de Brasília e doProjeto Escola da Vida Brasil. É casada com JúlioGuerreiro e mãe da Lara

 32 • Povos e Línguas

   F   o   t   o   s   :   M   P   C

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Povos e Línguas • 33

WEC BrasilMissão AMEM

Alcançando povos.

Plantando igrejas.

Mobilizando para missões.

O nosso sonho é ver Cristo conhecido,

amado e adorado pelos povos menos

evangelizados do mundo.

R. Carlos Monte Verde, 35 Boa Vista Belo Horizonte / MG (31) 3489-1800

Alcançando os não alcançados

W E CInternacional

desde 1913

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 34 • Povos e Línguas

Terra dos livres:uma tolerância plástica

Escuta Missionária

m 1939, o país conhecido como

o Reino de Sião alterava o nome

de sua nação para Thailand.

Literalmente “Terra dos Livres”, a terrado povo Thai, que nas últimas décadas

tem se tornado um dos países maisvisitados do mundo. A Tailândia é uma

nação com praias paradisíacas, mon-

tanhas e paisagens exóticas, culinária

refinada e, especialmente, um povo ale-

gre e hospitaleiro. Essas característicasmarcantes fazem do país um dos cinco

destinos mais procurados por turistas

da Europa e dos Estados Unidos.

Entretanto, esse fenômeno não é re-

sultado apenas do esforço e do desen-volvimento da indústria internacional

do turismo. O crescente interesse da

mídia pelo universo oriental e pelas

bandeiras da filosofia asiática teminfluenciado o Ocidente de maneira

 jamai s v ista. Um reflexo evi dente dessemovimento é o fato de que o budismo

conquista cada vez mais adeptos fa-

mosos e anônimos. A Tailândia tem um

papel histórico fundamental na manu-

tenção e na propagação do budismo.

Principal promotora da corrente do

budismo Theravada, a Tailândia tem

sua história atrelada a diversos movi-mentos budistas. Essa condição con-

fiou ao budismo boa parte do processode formação da identidade cultural do

país. Mais de 90% dos tailandeses sãobudistas. A história indica a presença

dos primeiros cristãos chegando ao

Sudeste Asiático no século XVI, com o

movimento dos Nestorianos. Mas foisomente no século XIX que a Tailândiapassou a receber missionários cristãos

de forma sistemática.

Mesmo depois de mais de 180 anos

de história, a Tailândia permanececomo um dos países menos evangeli-

zados do planeta. Questões históricas,culturais e religiosas embasam esse

fato. Há que se reconhecer a história

milenar que envolve a formação da na-

ção Thai no Sudeste Asiático. Principal-

mente na Era do Império de Ayutthaya

(1351-1767), os princípios do budismoforjaram os conceitos morais, políticos,

culturais, sociais e familiares do povo.Tendo no monarca a figura do defensor

e representante supremo do budismo.

Essa filosofia transcendeu o caráterreligioso para forjar o próprio senso deidentidade nacional.

Na história moderna, alguns autoresapontam para o fato de que grandeparte das ações missionárias esteve

atrelada aos movimentos de navega-

ção e colonização promovidos pelos

países europeus. Em especial, a histó-

ria das colônias inglesas e francesasestabelecidas em territórios ao redorda Tailândia – hoje Malásia, Myanmar

Vietnã, Laos e Camboja – contribuiupara o fortalecimento d a xenofobia.

A rejeição da cultura e da religião

estrangeiras consolidou o budismo

como uma das colunas da autoafir-

mação da nação. A história nacional

reconta com orgulho, o fato de que a

E

Tailândia

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Povos e Línguas • 35

Tailândia jamais se submeteu a outra

nação e, por isso, até hoje é “livre”.

Muitas vezes, o cristianismo foidivulgado entre os tailandeses sem

a devida contextualização e baseadono triunfalismo moderno. Isso gerouainda mais rejeição quando comparado

com o budismo. Há relatos de grandes

debates públicos em que missionários

foram convidados para expor as basesdo cristianismo diante dos monges e

do público local. Os cristãos acabavam

saindo derrotados desses debates, e

os mensageiros reforçavam a ideia desupremacia da filosofia local. Entretan-

to, essa rejeição não é sentida pelosestrangeiros. Pelo contrário. Todos sãorecebidos de braços e com sorrisos

abertos. O pluralismo/universalismo, a

tolerância e a paz estão entre os funda-

mentos da filosofia local. Essas carac-

terísticas budistas pressupõem que opovo local receba pessoas e permita a

presença dos visitantes e de seus pen-

samentos. Em quase todos os estra-

tos sociais, os tailandeses reagem deforma plástica diante da pregação de

outras crenças, mas eles não se deixaminfluenciar. Talvez seja este o cerne doproblema: uma sociedade de sorrisos

abertos, mas de coração fechado.

Os desafios se tornam ainda maiscomplexos diante dos problemas

sociais que têm ocorrido no Sudeste

Asiático: tráfico de humanos, turismo

sexual, prostituição, tráfico de drogas,pobreza, povos étnicos não reconhe-

cidos, migração forçada e um grandenúmero de refugiados, além de catás-

trofes naturais, como o Tsunami em

2004, e as enchentes que ocorreram em2011. Somam-se a isso as turbulênciasda política interna. Nos últimos oito

anos, a Tailândia passou por dois gol-

pes militares que destituíram o governoe reeditaram a constituição.

Mesmo diante de um cenário deli-

cado, há muitas portas abertas pelaglobalização e pela compreensão das

novas gerações de conceitos de socie-

dade, vida e filosofia que abrem portase renovam a esperança de um futuro

distinto para o povo Thai. O país temapenas 0,6% de cristãos, o que coloca a

nação entre as mais carentes de envio

de missionários e de apoio institucio-

nal e espiritual no plano estratégico de

missões transculturais.

Há grandes oportunidades para o

desenvolvimento de ministérios entre

povos tribais, missões urbanas, minis-

térios de desenvolvimento, plantação

de igrejas, treinamento de lideranças,projetos de educação e misericórdia. Oro

para que você seja desafiado e guiadopor Deus. Assim, de alguma forma, quecada um também se envolva na tarefa

de alcançar esse querido povo.

Davi Pezzato

Missionário na Tailândia. Membro da Missão Evan-gélica Avante

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 36 • Povos e Línguas

Missão reversaPor que a Europa deveria receber missionários de todo o mundo?

Artigo

ara boa parte da Igreja Euro-

peia e durante centenas de

anos, o termo “missão” signi-

ficou missionários do Leste Europeu

seguindo para o Hemisfério Sul paralevar o Evangelho. Missão Inversa

(ou Reversa) significa missionários

do Hemisfério Sul indo em direção apaíses do Leste Europeu para levaresse Evangelho de volta. Igrejas jovens

e instituições missionárias cheias de

vigor percebem o crescente secularis-

mo europeu e querem colaborar para

uma reevangelização da Europa. No

contexto alemão, as opiniões são con-

troversas sobre se a Europa precisa ou

não de missionários do Hemisfério Sul.

APARENTE FRACASSO

O início da segunda viagem mis-

sionária de Paulo é marcado por

várias dificuldades e por um fracassomissionário. Em Atos 16.6-8, Lucas

descreve como Paulo e Timóteo per-

correram aproximadamente 2 mil qui-

lômetros de um lado para o outro daregião onde fica a Turquia. Vez apósvez, eles se encontraram diante de

portas fechadas. O aparente fracassoé também algo comum no dia a dia de

um missionário. Ao ler os evangelhos,percebemos que Jesus normalmente

não dá as coordenadas geográficasexatas para onde seus discípulos de-

vem ir. Ele se refere a todas as naçõescomeçando por Jerusalém (Lc 24.47;

Mt 28.19; Mc 16.15).

A missão tem perspectivas naturais

e sobrenaturais. O lado natural se

reflete na obediência: “Ide e fazei dis-cípulos de todas as nações [...]” (Mt28.19; Mc 16.15), independentemente

se a mensagem será aceita ou não. A

dimensão sobrenatural se reflete em

visões, curas e experiências com aação do poder de Deus. Após vários

meses de aparente fracasso missio-

nário, Paulo teve uma visão quando

PObservando a realidadeespiritual da Europa, perceboque a sociedade europeiaem geral e a alemã estão setornando cada vez mais ido -sas e miscigenadas. Migra-

ção e globalização trazemconsigo mudanças no grá-

co etnológico social 

Marktforschung em Hamburgo - Alemanha

   F   o   t   o   :   D    i   v   u    l   g   a   ç    ã   o

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Povos e Línguas • 37

estava na cidade portuária de Troas. “E

de noite, Paulo teve uma visão em quese apresentou um homem da Mace-

dônia e lhe rogou, dizendo: Passa àMacedônia e ajuda-nos. E, logo depois

dessa visão, procuramos partir para aMacedônia, concluindo que o Senhornos chamava para anunciarmos o

evangelho para eles.” (At 16.9-10).

A visão sobrenatural que Paulo teve

foi um marco apontando que um novocírculo cultural seria cruzado. Ele deve-

ria ir à Macedônia, hoje uma região daEuropa. Em Atos 1.8, o Evangelho deve-

ria partir da Judeia, passando por Sa-

maria até alcançar os confins da Terra.Vale lembrar que, ao adentrar um novo

círculo cultural, evidências poderosasdo Evangelho se manifestam por meio

de sinais e de milagres (Mc 16.17).

Observando a realidade espiritual

da Europa, percebo que a sociedadeeuropeia em geral e a alemã estão

se tornando cada vez mais idosas e

miscigenadas. Migração e globalização

trazem consigo mudanças no gráficoetnológico social. Um em cada cinco

alemães vêm de famílias miscigena-

das. Em grandes cidades, esse número

chega a 50%. As Nações Unidas reco-

nhecem 193 nações no mundo intei-

ro. As metrópoles europeias reúnemrepresentantes de mais de cem dessas

nações. Em outras palavras, a metade

do mundo envia seus representantes

para a Alemanha.

FORMAÇÃO DE GUETOS

A maior parte das igrejas europeias ealemãs é composta de pessoas idosas.

Isso nos leva a armar que sua capaci-

dade física e missionária é limitada. Pormeio da migração de cristãos do mundo

inteiro surgem centenas de igrejas de

migrantes na Europa, principalmente

nas grandes cidades. No entanto, essesmigrantes vêm normalmente de classes

que não tiveram acesso à educação e, por

isso, eles acabam tendo um alcance so-

cial limitado. O movimento não influencia

outros fora desse contexto e esse proces-

so culmina na formação de guetos.

Para alcançarmos alemães e outros euro-

peus cultos de forma efetiva, precisamos deevangelistas bem-formados e de missio-

nários que estejam dispostos a trabalhar

em parceria com líderes europeus. Pessoascom essa disposição são bem-vindas para

trazer sua espiritualidade, sua fé inspiradorasua paixão por Cristo e seu Evangelho de

amor. A esses, vai aqui um convite: Kommherüber nach Europa und hilf uns! (Venham

à Europa e ajuda-nos!).

Klaus Schönberg

Formado em Teologia (1984-1988) pelo SeminárioBatista de Hamburgo e mestre em Teologia pelaUniversity of South Africa. É escritor e foi pastor prin-cipal em duas igrejas entre os anos de 1988 e 2004,quando iniciou seu trabalho como palestrante daJunta Batista Alemã na área de plantação de igrejas

   F   o   t   o   :   A   r   q   u    i   v   o   P   e   s   s   o   a    l

Klaus Schönberg

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 38 • Povos e Línguas

O que temos sido?Missão e Adoração

antamos o que cremos. Cantamos oque sentimos. Cantamos o que prega-

mos. Cantamos a vida da maneira como

a vemos. Afinal, cantamos o que somos. A

música talvez seja, de todas as artes, a mais

presente no cotidiano do ser humano. Começa

com o toque dos nossos aparelhos celulares,

passa pelo caminhão do gás, está presente nas

mensagens de facebook que recebemos a cada

segundo, está nas rádios que ouvimos no car-

ro, em nossos aparelhos eletrônicos e deságua

nas nossas igrejas.

Deus nos criou com a capacidade de nos

expressar de múltiplas formas. Ele n os deu

a musicalidade. Nós sentimos o mundo ao

nosso redor no ritmo da criação. Os sons

da natureza, a música dos pássaros, toda

percussão e toda harmonia dos timbres da

criação envolvem a vida do homem desde o

princípio. A música nos comove, estimula,

acalma e nos empolga. Den tro dela vai tudo

o que pensamos. Nossas palavras são em-purradas para fora de nós com harmonia,

melodia e ritmo. É c omo um míssil teleguiado

pronto para explodir dentro do coração de

quem ouve. Deus nos deu a música para que

pudéssemos, de forma mais completa, dizer

a Ele tudo o que sentimos e tudo que nossa

emoção e a fé carregam de dentro de nós até

a Sua presença. Melodias, harmonias e ritmos

expressam sentimentos que, com palavras,

talvez não possamos revelar por completo.

Ao mesmo tempo que temos essa força a nos-

so favor na missão, temos um desafio em nos-

sas comunidades: o desafio do entendimento da

cosmovisão cristã e da teologia da missão entre

músicos e compositores. Mesmo com todos os

esforços em congressos, cursos, palestras e com

o material que circula pela internet, é notório que

há muito a ser feito. A infantilidade artística, o

despreparo teológico, os apelos do mercado eo narcisismo não resolvido têm transformado

nossa música num rascunho e numa caricatura

do que Deus realmente criou.

O momento que vivemos no país e na Igre -

 ja clama por uma revolução. Esta é a hora de

pastores e líderes locais voltarem os olhos

para a identidade da Igreja em Cristo, para a

missão da igreja em sua comunidade e para a

oportunidade de usar a arte num mundo que

carece de conteúdo e apela às redes sociais. Omundo pede pela conversão da igreja. Preci-

samos redescobrir o papel da música dentro

e fora das quatro paredes da igreja e admitir

que ainda somos preconceituosos no desen-

volvimento da arte cristã. Temos facilidade de

encontrar pecado nas diversas expressões ar-

tísticas, mas dificuldade em reconhecê-lo nas

transações comerciais que sustentam essas

expressões na mídia cristã desnorteada e sem

senso de missão.

Nunca houve tanta facilidade para produzir mú-

sica. Nossos lares se transformam em estúdios

com um simples toque da varinha de condão da

tecnologia e dos softwares. Fazemos filmes com

nossos aparelhos celulares! Está fácil!

Difícil tem sido encontrar conteúdo e paixão

no que se produz hoje. Há um movimento de

exceção que se soma a uma história recente

de compositores brasileiros que influenciaram

a minha geração, mas não há dúvida de queexiste muito trabalho a ser feito. Cantamos o

que somos. O que temos sido?

C

O caos da infantilidade artística e o despreparo teológico

Zé Bruno

Pastor da Casa da Rocha em São Paulo e vocalista dabanda Resgate

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Povos e Línguas • 39

A infantilidade artística, o

despreparo teológico, osapelos do mercado e onarcisismo não resolvidotêm transformado nossamúsica num rascunho enuma caricatura do queDeus realmente criou 

   Z    é   B   r   u   n   o   |   F   o   t

   o   :   B   a   n    d   a   R   e   s   g   a   t   e   O    f   c    i   a    l

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 40 • Povos e Línguas

O aprendizado do cristão

Coluna

eus não chama os fortes e prontos,

mas os fracos e inadequados. E Eleos fortalece ao longo do caminho.

Essa é a minha impressão ao ler, nos evan-

gelhos, os encontros, diálogos e ensinos de

Jesus aos seus discípulos. Em um ambien-

te orientado intelectualmente pelos brilhan-

tes gregos, comandado politicamente pelospoderosos romanos e guiado espiritual-

mente pelos religiosos judeus, Jesus nãoescolheu como discípulos os brilhantes, ospoderosos nem os religiosos.

Talvez pudéssemos argumentar que

as virtudes e os talentos identificadospor Jesus nos discípulos fossem invisí -veis aos olhos comuns. Mas a verdade

é que eles não tinham a natureza de

ser grandes líderes, influenciadores de

multidões nem eram habilidosos em re-lacionamentos humanos. Pelo contrário:

eram temerosos, confusos, lentos paraaprender e duros de coração.

É impressionante notar que foramexatamente esses os homens que Jesus

escolheu. Foi a eles que Cristo conou amissão de liderar a igreja na comunhão,oração, diaconia, pregação da Palavra

e evangelização de todos os povos. Ele

parece frequentemente chamar os fracose inadequados para fortalecê-los aolongo da caminhada. É na caminhada que

passamos de servos a lhos e deixa-

mos de ser orientados pelo serviço para

sermos guiados pelo amor. Ao m do dia– na caminhada – percebemos que não

fomos chamados para cumprir uma listade tarefas, mas para um relacionamento

profundo e eterno com o Pai.

Esse parece ser um padrão de Deus

ao chamar seus servos. Ele chamou um

homem gago para liderar um grande

povo, um jovem franzino para enfren-

tar um gigante enfurecido e um profetadeprimido para uma grande missão. Ele

chama perseguidores para sofrer por seu

nome, altivos de coração para servir hu-

mildemente, endinheirados para aprendercom a pobreza, incertos de alma para

ensinar sobre a fé, mentes lentas paraserem grandes mestres e corpos fracos

para enfrentar circunstâncias inóspitas. Amensagem por trás de todo esse para-

doxo é que na caminhada nunca vamosestar sozinhos – Jesus está conosco!

Em Mateus 28 lemos que Jesus armouter toda a autoridade e comissionou os

discípulos para levarem o Evangelho a todasas nações. Essa seria uma tarefa impossívele impensável, se não fosse sua armação

nal: “[...] e eis que estou convosco todos osdias até a consumação dos séculos” (v. 20).

Por isso, a gura do caminho é tão im-

portante na Palavra de Deus. Ao caminhar

com Cristo, passamos a conhecê-lo melhore experimentamos episódios inesperados,

porém transformadores. Por vezes, algumas

circunstâncias parecem não fazer sentido,mas conferem sentido à vida. Esses episó-

dios não são impressionantes aos olhos do

mundo, mas são verdadeiramente libertado-

res para a Igreja. Lembremo-nos de que Je-

sus era um andarilho, estava em constantemovimento. Um dos verbos mais repetidos

sobre a dinâmica de Jesus e seus discípulosé que eles “percorriam...”. E é nessa estrada

que Cristo nos lança o mais fascinante con-

D

Fundamentosda jornada

Ele chama perseguidorespara sofrer por seu nome, al -tivos de coração para servirhumildemente, endinheirados

para aprender com a po -breza, incertos de alma paraensinar sobre a fé, menteslentas para serem grandesmestres e corpos fracospara enfrentar circunstânciasinóspitas 

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Povos e Línguas • 4

vite: siga-me! Não é um convite solto no ar nema palavra de um guia que simplesmente aponta o

rumo. É um chamado ao relacionamento, a seguira estrada – sempre com Ele.

Os salvos em Cristo são chamados por Deus.

Aos que Deus tem chamado para ser sal e luzem variados contextos, lembrem-se de que em

meio ao testemunho, à vida e ao trabalho, aprincipal razão de estarem nessa caminhada é

para conhecer mais o Cristo.

Em meio a todos, Deus também chama algunspara ministérios especícos. Aos que Deus temvocacionado para o trabalho pastoral ou missio-

nário, estejam certos de que vocês não foramchamados apenas para cumprir uma lista de ta-

refas na igreja ou no campo, mas principalmentepara um relacionamento mais próximo com

o Pai. Na caminhada dos discípulos podemosaprender um pouco sobre a maneira de Deus nos

conduzir. Três verdades parecem fundamentais:

1. Deus geralmente só mostra o próximo passo.Os discípulos chamados por Cristo não tinham

ideia do m daquele caminho. Jamais imaginaramser colocados em posições de grande liderança e

desao. Foram chamados para ser éis um passopor vez. Portanto, pare de nutrir ansiedade pelo

que há de acontecer ao longo da vida e do traba-lho. Deus, que o chama, guia, guarda e continuacom você muito além daquela curva mais fecha-

da. Seja el no próximo passo que Ele vai mostrara você. Talvez esse passo para você seja reformar

a sua vida devocional, servir com mais delidadeem sua igreja local e desenvolver sua vocação

cristã na universidade ou ir para um seminário.

Seja el no próximo passo e siga caminhando...

2. Mais importante do que conhecer o cami-

nho é compreender o seu signicado. Além demostrar o caminho aos seus discípulos, Jesus

desejava que eles compreendessem o signi-

cado da caminhada. É no caminho que nossosolhos se abrem e um relacionamento muito além

das nossas limitadas percepções se apresenta.

Além de saber aonde estamos indo, vamos saber

por que estamos aqui. Em Lucas 9 lemos: “Jesusdizia a todos: [...] Quem quiser salvar a sua vida,

vai perdê-la. Mas quem que, por amor de mim,

perder a sua vida, vai salvá-la” (v. 22-23). É se-

guindo Cristo de perto que vamos compreender

que nossa vida não tem sentido sem Ele, que háum preço a pagar para segui-lo, que somos cha-

mados em missão e, na lógica do Reino, ganhar

signica perder e perder é ganhar.

3. Para seguirmos até o m, é necessário levarapenas o essencial. Na caminhada com Cristo, os

discípulos aprenderam a renunciar. Ao longo desuas vidas, eles abriram mão da segurança, do

conforto e de desejos pessoais. Para completar acaminhada, precisamos saber o que é essencial e

não devemos carregar inutilidades. Muitos fardosde estilo próprio, preferências pessoais e infantis

exigências do coração podem atrasar, e muito, anossa caminhada seguindo o Mestre.

O povo Fulani do Oeste africano é conhecido por

ser um povo andarilho e nômade. São percebidosao longe por sua silhueta alta e esguia e conse-

guem caminhar, sem grandes intervalos, durante

longos períodos, às vezes por semanas. Um dossegredos para eles conseguirem perseverar nas

longas caminhadas é a ausência de pesados

fardos sobre seus ombros. Diferentemente dos de-

mais grupos da região, eles carregam pouquíssimacoisa, sabendo bem identicar o que é essencial.

Talvez você se sinta desanimado pela durezada caminhada, confuso pelas portas que aindanão se abriram ou inquieto por considerar-se

inadequado para a missão. Lembre-se de que é

na caminhada que Ele anima, conrma e fortalece

você. Sirva ao Senhor conforme as forças quevocê tem. Entre pelas portas que estão abertas.

Ensine de acordo com a sua fé. Na caminhada,

lembre-se de que aqueles discípulos fracos,temerosos e incrédulos foram transformados em

pregadores de Deus, exemplos de fé, missionáriosem terras distantes e mestres dedicados. Eles

usaram os seus talentos e foram éis até o últimodia, quando nalmente se encontraram – face a

face – com aquele que é o próprio Caminho.

Ronaldo Lidório

Missiólogo e pastor presbiteriano ligado às agênciasAPMT e WEC

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 42 • Povos e Línguas

E eu com isso?A crise da Igreja e a injustiça social

Missões Urbanas

oje são produzidos cerca de 10%mais alimentos do que o neces-

sário para alimentar a população

mundial.1 No entanto, morre de fomeuma criança a cada três segundos. Isso

signica que morrem 28,8 mil crianças pordia. De acordo com órgãos de pesquisa,

1,8 bilhão de pessoas não têm acesso àágua potável no planeta. A economia está

organizada de forma que haja 70 mil mor-

tos por dia. Isso prova que o pobre não é

considerado de forma digna.

Para denir justiça e direitos humanos,é necessário estabelecer conceitos claros

sobre a pessoa, sua natureza e a dignida-

de. Essa é a proposta de Jacques Maritain,

quando arma: “As concepções do mundoe da vida de tipo materialista, as losoasque não reconhecem o elemento espiritual

e o elemento eterno no homem são inca-

pazes de evitar o erro na construção de

uma sociedade verdadeiramente humana,porque são incapazes de dar direito às

pessoas e, por isso mesmo, de compreen-

der a natureza da sociedade”. 2 

DESIGUALDADE SOCIAL

Pode-se dizer que este século está

matando mais do que as duas guerras

mundiais juntas. Nota-se que não houve

guerra com tal crueldade como esta, mes-

mo quando se pensa no Holocausto. A

disparidade social e econômica entre ricos

e pobres é maior a cada ano. Para armaressas diculdades relatadas, Enrique

Dussel nos diz: “Aos 500 anos do começoda Europa Moderna, lemos no Relatóriosobre o Desenvolvimento Humano de

HPode-se dizer que este sécu -lo está matando mais do queas duas guerras mundiaisjuntas. Nota-se que não hou -ve guerra com tal crueldadecomo esta, mesmo quandose pensa no Holocausto 

“....morre de fome uma cri ança a cada três segundos. Isso signica que morrem 28,8 milcrianças por dia. De acordo com órgãos de pesquisa, 1,8 bilhão de pessoas não têm acesso

à água potável no planeta.” 

1 Para saber mais sobre as pesquisas acima citadas, leia o livro Ética da Justiça, do autor Adriano Sella; 2 MA-

RITAN, Jacques A pessoa e o bem comum, Livraria Morais Editora, Lisboa, 1962, pg. 105.

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Povos e Línguas • 43

1992 (UNDP, 1992:35) que os 20% maisricos da humanidade (principalmente na

Europa Ocidental, nos Estados Unidose no Japão) consomem 82% dos bensda Terra. Enquanto isso, os 60% mais

pobres (a “periferia” histórica do “SistemaMundial”) consomem 5,8% desses bens.

Jamais foi observada uma concentraçãocomo essa na história! E a injustiça es-

trutural aqui relatada nunca foi imagina-

da em escala mundial”. 3 

As pesquisas demonstram a cres-

cente desigualdade mundial. Os dados

são incontestáveis. Desde a década de

80, o abismo da desigualdade entre ospobres e ricos cresce sem parar. Tal

desigualdade nos leva necessariamente

ao pensamento nessa cena como frutoda injustiça. Nota-se que a desigualdade

não é natural, nem mesmo moralmente

neutra, senão histórica e carregada de

culpa e de responsabilidade. Como de-

clara Reyes Mate: “As injustiças não são

fruto do ciclo natural, não são produto do

azar, senão causadas e/ou herdadas pelohomem, ou seja, o pobre não pode ser

culpado da sua pobreza”. 4 

A CRISE

A cristandade está sofrendo uma sériacrise que percorre as modalidades da

Igreja e está revelada em todas elas. As

inquietações e as incertezas nos quais

está mergulhada profundamente a vida depessoas que se dizem cristãs é preocu-

pante. Cada vez mais indivíduos se apre-

sentam de forma pessimista. De alguma

maneira, essa postura contaminou aprópria fé que declaram ter.

O signicado de muitos aspectosimportantes da cristandade tem sido colo-

cado em xeque – o ensinamento moral

da Igreja, a natureza absoluta de seuspronunciamentos dogmáticos, sua prática

sacramental, a presença real de Cristona ceia ou na eucaristia católica, a Bíblia

como palavra de Deus, a Igreja como umainstituição séria, a historicidade de Cristo

e agora, nalmente, a existência de Deus.

Pode haver futuro para um mundoassim? Podem os cristãos, que se dizem

representantes de Cristo na Terra, caremindiferentes a esses fatos, aceitandocom frieza uma sociedade organizada

para produzir morte e sofrimento? Sãoquestões que ecoam pelas ruas e pe-

los templos das cidades cada vez mais

cinzentas. Não há respostas prontas, masum caminho a ser trilhado e uma porta

pela qual devemos passar: Cristo.

Paulo Capellete

Mestre em Ciências da Religião pela UniversidadeMetodista de São Paulo (2012), professor da Facul-dade Latino-Americana de Missão e professor daFaculdade Teológica Sul-Americana

+10%

“...são produzidos cerca de 10 % mais alimentos do que o necessário paraalimentar a população mundial” 

20% 82%

“...20% mais ricos da humanidade (principalmente na Europa Ocidental, nosEstados Unidos e no Japão) consomem 82% dos bens da Terra.” 

3 DUSSEL, Enrique. Europa, modernidade e eurocentrismo, in A Colonialidade do saber: eurocentrismo e

ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Edgardo Lander (org). Colección Sur Sur, CLACSO, Ciuda-

do Autónoma de Buenos Aires, Argentina. Setembro 2005. pp.55-70 4 MATE, Rayes Tratado de la injusticia,

Editora Antrophos, Rubi, 2011. pg. 10.

CONSOME

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 44 • Povos e Línguas

Um único propósitoe uma só prioridade

Artigo

á mais de 2 mil anos foi-nosdada a ordem de pregar o Evan-

gelho para todas as pessoas

(Mc 16.15) e fazer d iscípulos de todasas nações (Mt 28.18), porém, essaainda é uma tarefa inacabada.

A Igreja se institucionalizou, o cristia-

nismo nominal se tornou apenas mais

uma religião dentre tantas outras evem perdendo a credibilidade. É neces-

sário voltar os olhos para os campos

que já estão prontos para a ceifa (Jo4.35). A Missio Dei é a Missão de Deusdada à Igreja para que o Criador seja

revelado à sua cr iatura, e o Salvador,àqueles por quem Ele morreu.

O Movimento Moraviano do século

XVIII fez com que o Evangelho che-

gasse a muitos povos não alcança-

dos. Sob o lema: “Nosso Cordeiro

venceu: vamos segui-lo!”. “Em duas

décadas, os morávios enviaram maismissionários do que todos os pro-

testantes tinham enviado nos dois

séculos anteriores”.¹

Sabemos que houve um mover do

Espírito Santo naquela comunidadee um fato inédito: uma reunião de

oração ininterrupta que durou cem

anos. Cada cristão era um missionário

e todos tinham um único propósito: oministério era prioritário!

Estamos atrasados na evangeli-

zação mundial por muitos fatores, àluz do Movimento Moraviano. Va-

mos refletir onde temos falhado. AIgreja Brasileira tem se eximido daresponsabilidade de alcançar os

povos, transferindo o mandato divinopara alguns. No livro “Chamados por

Deus – resgatando os princí pios davocação hoje”, encontramos diver-

sos profissionais testificando que “aprática profissional se relaciona como chamado divino para servir.”²

Todos os salvos são chamados paraservir, seja qual for sua área profissio-

nal ou seu campo de atuação. Recebi

um e-mail do diretor de uma missão

no qual ele expõe uma lista de pro-

fissionais necessários para atender àdemanda dos campos missionários.

Jovem, o Reino de Deus é prioridade!

Você vai prestar vestibular? Antes depensar no status social, no poder aqui-

sitivo e na estabilidade para o futuro,peça direção ao Senhor para saber

com qual capacitação Ele quer usá-lo.

Como cristãos, devemos ter umúnico propósito – consagrar a nossavida, os dons e os talentos ao Senhor

para servir aos povos com o Evangelho

integral (Kerigma), a pregação, o ensi-no (didaquê) e o serviço (diaconia). E

uma só prioridade: “O Reino de Deus e

a sua justiça” (Mt 6. 33). Com certeza,o Evangelho, na linguagem de John

Stott – um “Cristianismo autêntico”alcançará os povos, línguas e nações,trazendo redenção aos homens e

transformações às comunidades para

o louvor e a glória do Cordeiro que foimorto, mas vive para sempre (Ap 5.14)

H

Durvalina B. Bezerra

Diretora do Seminário Betel Brasileiro em São Paulo

1 Tacker. Ruth. “Até aos confins da terra”. Ed. Vida Nova. 1983. P. 74 2 Chamados por Deus – resgatan-

do os princípios da vocação hoje. Durvalina Bezerra; Joyce Every-Clayton; Jorge Noda. (organizadores)

Betel Publicações. João Pessoa. PB

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 46 • Povos e Línguas

O fazedor de tendasA aplicabilidade do modelo de Paulo

Profissionais em Missão

azedor de Tendas é a expressão

moderna usada para se referir ao mis-

sionário que, inspirado no exemplo do

apóstolo Paulo, trabalha para se sustentare criar oportunidades de estabelecer pontes

com o contexto local. Já que a prossão dePaulo era a de fazedor de tendas, conformeAtos 18.3, adotou-se essa expressão como

referência a esse tipo de missionário.

Durante boa parte do seu ministério,Paulo se “autossustentou”. Ele explica esse

sustento da seguinte forma: “Porque vos re-

cordais, irmãos, do nosso labor e da fadiga.

E de como, noite e dia labutando para nãovivermos à custa de nenhum de vós, procla-

mamo-vos o evangelho de Deus.” (1 Ts 2.9).

Em Atos 28.30-31 tem-se mais clara-

mente o modelo de atuação do fazedor detendas: “Por dois anos permaneceu Paulo

na própria casa, que alugara, onde recebiatodos que o procuravam, pregando o reino

de Deus e, com toda a intrepidez, semimpedimento nenhum, ensinava as coisas

referentes ao Senhor Jesus Cristo”.

Vale considerar o período que Pauloesteve em Roma: “dois anos”. Além de

uma marca de seu ministério, esse curtoperíodo é uma estratégia muito interes-

sante, pois gera no missionário um sensode urgência e faz com que ele precisese organizar e trabalhar para divulgar o

Evangelho mais rapidamente.

Em seguida vê-se que Paulo vivia em uma

casa alugada. Isso o ajudava a não se esta-

belecer denitivamente. Ele estava semprepronto a ir adiante, a buscar o próximo

destino. Semelhantemente os fazedores de

tenda de hoje buscam estar sempre prontosa ir para a próxima oportunidade de empre-

go ou o próximo povo a ser alcançado.

A descrição do modelo continua com a

hospitalidade: “recebia todos que o pro-

curavam”. Ser hospitaleiro é algo particu-

larmente difícil. Normalmente o missio-

nário vive em um contexto transculturalem que sua casa tem a tendência de se

tornar um refúgio; é o cantinho onde ele

pode viver a própria cultura, os hábitosde seu povo e onde ele se sente literal-

mente em casa. Acontece que é justa-

mente no abrir das portas desse refúgioque a efetividade do trabalho começa. Oestrangeiro entra na casa do missionário

hospitaleiro cheio de curiosidade sobre

a cultura e a sua forma de vida. Ali elecomeça a perceber, de forma prática, oque é o cristianismo.

E o modelo termina mostrando que,“com toda a intrepidez, sem impedimento

nenhum, ensinava as coisas referentes aoSenhor Jesus Cristo”. No contexto de seu

lar é sempre possível falar de Cristo, mesmoem países onde fazer isso publicamente

seja proibido. Os fazedores de tenda explo-

ram o exemplo de Paulo ao máximo sendoecazes na pregação do Evangelho mesmo

em contextos reconhecidamente fechados.

Ser um fazedor de tendas hoje é ser umcristão que, atendendo ao chamado da Gran

de Comissão, se dispõe a usar sua prossãopara se sustentar conseguindo oportunida-

des de trabalho que o colocam por um curto

período em um contexto transcultural. Sendo

ele hospitaleiro, tem a oportunidade de pre-

gar e viver o Evangelho para impactar aquele

povo e aquela nação. Com isso, ele conseguelevar o nome de Cristo adiante.

F

Gustavo de Souza Borges

Membro da equipe de coordenação do de-partamento Profissionais em Missão (PEM) daAssociação de Missões Transculturais Brasileiras(AMTB). Bacharel em Ciências da Computaçãocom pós-graduação em Matemática e Estatística. ÉGerente de Novos Negócios em uma multinacionalde Seguros e editor do site fazendotendas.org. Par-ticipou do Tentmaking Business as Mission Coursena Global Opportunities, EUA

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 48 • Povos e Línguas

EssencialO chamado incontestável

Artigo

m toda a história da Era Cristã,a mulher tem participado inte-

gralmente do cumprimento da

Grande Comissão de Jesus (Mt 28.18-20). Além das missionárias enviadas a

diversos povos e terras, há um grandenúmero de mulheres indispensáveis

que despertam vocações missionárias

nas suas famílias e em igrejas. Elasajudam no preparo de pessoas para a

missão transcultural, encorajam, sus-

tentam financeiramente e em oração erecebem muitos de volta dos campos

com alojamento, festas, bolos, sorri-

sos, carinho e muita alegria.

MULHERES QUE SÃO MISSIONÁRIAS 

Começando com o relato bíblico, as mu-

lheres não são deixadas de fora da missãode Deus no Antigo Testamento nem noNovo. Jesus as incluiu de forma extraor-

dinária no seu ensino e no cumprimento

de seus propósitos. A mulher samaritana

foi a primeira pessoa a ouvir de Jesus queEle era o Messias que dava perdão e vida.

Foi a primeira missionária. E ela ganhou

muitas pessoas na sua cidade (Jo 4.1-42)

Acabo de ler um livro sobre duas mu-

lheres iranianas, pegas pelas autorida-

des com muitas Bíblias, folhetos e CDsque distribuíam secretamente. Levadasà prisão terrível de Evin, enfrentaram

todo tipo de indignação, privação, faltade comida e de higiene, interrogatóriose ameaça constante de morte. Mas elas

se alegraram porque não precisavam

mais agir secretamente. Falaram com

todas as letras que foram presas por

causa de Jesus! Na prisão, muitas mu-

lheres creram no Evangelho antes que

elas deixassem o cárcere.

Entre a mulher samaritana e as duas

iranianas há milhares de mulheres fiéisà chamada de levar o Evangelho até os

confins da Terra. Dois terços da forçamissionária são mulheres. Os traba-

lhos que fazem nos campos são dosmais variados: pioneiras, evangelistas,

tradutoras, discipuladoras, plantadoras

EHá um ditado popular(“evangélico”) que diz: “Noscampos missionários há maismulheres do que homensporque Deus chamou oshomens, e eles nãoobedeceram”. Não acreditenisso nem por um instante!Deus chama mulheresporque tem um papel essen-

cial para elas 

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Povos e Línguas • 49

de igrejas, líderes, escritoras, doutoras,professoras e apoiadoras. Sabemos so-

bre algumas delas, mas a vasta maioriasão esposas ou solteiras que não tiveram

suas histórias registradas aqui na Terra.Esperamos conhecê-las no futuro!

Há um ditado popular (“evangélico”)

que diz: “Nos campos missionários há

mais mulheres do que homens porque

Deus chamou os homens, e eles nãoobedeceram”. Não acredite nisso nem

por um instante! Deus chama mulheres

porque tem um papel essencial para

elas. Basta ver o filme “Terra Selva-

gem” ou ler livros como “Através dos

Portais de Esplendor” (Edições Vida

Nova) de Elizabeth Elliot ou a históriade Ana Judson, Amy Carmichael, Lottie

Moon, Mary Slessor ou Sophie Muller.

Uma amiga que esteve durante 24anos em Serra Leoa trabalhou com

muito êxito entre três tribos não alcan-

çadas em lugares onde os homens não

conseguiram permanecer. Da mesma

forma, quantas missionárias brasileirasDeus tem chamado? Sônia, Analzi-

ra, Nájua, Maria Pires, Tonica, Rosa e

aquela querida irmã de sua igreja unemforças a esse sem-número de mulheresque fizeram diferença no mundo.

MULHERES QUE DESPERTAM

VOCAÇÕES E AJUDAM NO PREPARODE MISSIONÁRIOS

Deus tem usado mães, professoras

de Escola Bíblica, amigas, tias, avós eesposas de pastores para conscientizar,

desafiar e ensinar crianças e jovens aservir ao Senhor na Grande Comissão. Na

Bíblia há exemplos, como a mãe e a avóde Timóteo, elogiadas como importantesno seu preparo (2 Tm 1.5; 3.14-17).

A mãe de Mary Slessor, missionária

que lutou contra a escravidão na África,ensinou a Bíblia à filha. Falou também

sobre a necessidade das nações, apesar

das severas dificuldades com o maridoalcoólatra e abusivo. Duas mulheres na

minha igreja foram especiais em meupreparo missionário. Elas me empurra-

ram para a responsabilidade, o conheci-

mento, o compromisso bíblico, a oração e

a fidelidade. Desafiaram todos os jovenspara serem missionários transculturais.

Também me ajudaram em alguns mo-

mentos difíceis, sem desistir. Dou graçasa Deus por elas e por muitas outras mu-

lheres que cumprem esse papel, dentreelas, minha mãe, que se dedicou muitopara que eu me tornasse missionária.

MULHERES QUE ORAM

Mulheres foram mencionadas especi-ficamente no livro de Atos por estarem

entre os discípulos, reunidos para orar,até receber o poder do Espírito Santo

para levar o Evangelho até os confinsda Terra (At 1.1-14).

Além disso, a Bíblia mostra a impor-

tância da oração pelas missões. Pauloescreveu para a Igreja de Éfeso pedindooração pela ousadia de abrir a boca

diante das autoridades em Roma (Ef

6.18-20). Mesmo sendo missionárioexperiente e bem-sucedido, ele sabiaque precisava da ajuda dos irmãos em

oração, inclusive das irmãs.

Na história das missões cristãs hámulheres como a irmã de Hudson Taylor

– el correspondente e intercessora – e amãe de J. O. Fraser, que reuniu centenasde mulheres em grupos de intercessão em

toda a Inglaterra, resultando no resgate de

milhares de chineses da idolatria, misériae condenação eterna. Na minha vida, uma

mulher, Ma Kuhn, foi importante na oraçãoEla tinha uma caixa de mais ou menos mil

chas de missionários. Ela se lembravadeles toda semana e, de uma parte deles, alembrança era diária. Tenho certeza de que

em muitas situações, Deus estava respon-

dendo às orações dela.

MULHERES QUE SUSTENTAMMISSIONÁRIOS

Mulheres hospedaram e sustentaram

financeiramente Jesus (Lc 8.3) e os

discípulos, especialmente Paulo (At16.15). Também foi assim na h istória

das missões. Mulheres levantam ofer-

tas missionárias, como Ana Judson e

Lottie Moon, e contribuem sacrificial-

mente para todo o envio e o trabalho

de missionários na história. No século

XIX, mulheres doaram “centavos”

das suas mesadas. A doação somoualguns milhões de dólares, na épocaem que o dólar valia muito. As primei -ras pessoas a darem uma herança

para missões foram uma empregada

doméstica, que doou R$345,00, e outramais rica, que doou R$30 mil. Entre

1840 e 1900, as mulheres doaram 70%de todo o sustento missionário.

É notória a maneira como Deus usa mu-

lheres para falar, preparar, sustentar orar e irservindo, proclamando e fazendo discípulosde Jesus Cristo. Isso precisa continuar!

Na história das missões cris -tãs há mulheres como a irmãde Hudson Taylor – el cor -respondente e intercessora– e a mãe de J. O. Fraser, quereuniu centenas de mulheresem grupos de intercessãoem toda a Inglaterra, resul -tando no resgate de milha-

res de chineses da idolatria,miséria e condenação eterna

Bárbara Helen Burns

Doutora em Missiologia pela Trinity EvangelicalSchool. Coordenadora acadêmica da Escola de Mis-sões JUVEP. Conferencista e professora em escolas eseminários do Brasil

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 50 • Povos e Línguas

Entende o que lê?O desao contemporâneo de tradução da Bíblia

Linguística

 ministério de tradução da Bíbliaainda é uma necessidade real e

urgente. Mesmo depois de mais

de 2 mil anos de esforços missionáriosda Igreja, aproximadamente 1,8 mil

línguas não têm sequer um versículo bí -blico traduzido. No entanto, os últimos

anos têm evidenciado uma crescente

aceleração nesse processo. Avanços

recentes nos estudos de tradução e

de ciências afins tornam realidade a

possibilidade de, em nossa geração,ver todas essas línguas sendo alcan-

çadas pelas Escrituras Sagradas. E

isso vai acontecer, se a Igreja continuarcumprindo o seu chamado.

Sendo assim, iniciamos aqui umasérie de textos que vão discutir oprocesso de tradução das Escrituras

Sagradas como frente missionária.Esse trabalho deve ser realizado até que

todos os povos etnolinguísticos tenhamlivre acesso à Palavra do nosso Deus

em suas mãos de forma inteligível, pormeio de recursos impressos, visuais,

audiovisuais, etc. Também ousarei a meaventurar no emaranhado de tradução

da bíblia e no envolvimento de ciênciasque são aplicadas nesse ministério.

Mas antes de adentrar esse labirinto,é preciso assegurar que o solo a ser

pisado esteja firme porque sobre ele

serão estabelecidos os principais fun-

damentos. O propósito de traduzir as

Escrituras Sagradas para todas as lín-

guas naturais faladas no mundo está

firmado na crença inabalável da Bíbliacomo revelação infalível, inerrante einspirada da Palavra de Deus. Também

é responsabilidade de todo cristão

trabalhar para tornar a Palavra acessí -

vel aos diversos povos etnolinguísticos,possibilitando que eles tenham livre

acesso ao Senhor da Palavra.

ALICERCE

A tradução da Bíblia também surte oefeito necessário para que seja possíve

a realização de evangelismo, ensinos

ONa verdade, é difícil pensarna plantação, no fortaleci -mento, na multiplicação oumesmo na sobrevivência deuma igreja saudável sem quea Bíblia esteja nas mãos dosseus membros 

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Povos e Línguas • 5

bíblicos, discipulado e plantação de igre-

 jas. Na verdade, é difícil pensar na planta-

ção, no fortalecimento, na multiplicaçãoou mesmo na sobrevivência de uma igreja

saudável sem que a Bíblia esteja nasmãos dos seus membros. A importância

dada por cada um ao ministério de tradu-ção da Bíblia é proporcional ao valor que ocristão dá às Escrituras Sagradas em sua

vida. A Palavra é o alimento, o sustento eo fundamento espiritual. Por meio dela, a

pessoa encontra respostas para suas in-

dagações existenciais e sacia sua fome e

sede de ouvir a voz de Deus. Portanto, sea Palavra do Senhor é o seu prazer e sobre

ela você medita dia e noite, então vocêestá plenamente consciente da relevânciadesse ministério entre todos os povos.

É possível estar de acordo com o que foidito, mas ainda não estar convencido da

necessidade de caminhar nessa direção. Épreciso passar pelos difíceis e demorados

processos de tradução para línguas aindapouco ou não estudadas. Esse pensa-

mento acaba se fortalecendo ainda mais

à medida que vêm à mente pequenos

grupos linguísticos, como os indígenas do

Brasil ou os grupos da Papua-Nova Guiné.

O pensamento também prevalece diantede alguns países africanos ou asiáticosque têm diversos grupos linguísticos

no mesmo território. Há muitos dessesgrupos debaixo de uma língua majoritária,

geralmente europeia, como o francês, oinglês ou mesmo o português.

COMUNICAR

A melhor forma para comunicar verda-

des espirituais é usando a língua maternado grupo que se pretende alcançar por

meio da comunicação do Evangelho. É

importante reconhecer a coexistência daslínguas locais e nacionais e a diferença do

papel de cada uma. Na busca pela comu-

nicação de verdades profundas e trans-

formadoras não há atalhos. A língua quefala íntima e efetivamente ao coração do

homem é aquela pela qual ele foi moldado

intelectualmente. Ela constitui suas estru-

turas emocionais desde os seus primeiros

momentos de existência. Essa é a língua

com que a criança ouve e interage com a

mãe, antes mesmo de saber falar. É com

essa linguagem que a criança expressa

sentimentos, angústias, frustrações, rai-vas e é por meio dela que ela brinca com

seus irmãos, joga bola com os colegas

e manifesta os seus mais profundospensamentos. Essa é a chamada língua

materna: a que fala ao coração.

FERRAMENTAS

Acontece que o desao das línguasmaternas dos grupos minoritários sempre

foi, é e continuará sendo um obstáculolinguístico. Quem deseja transmitir umamensagem a outro grupo linguístico pre-

cisa superar as adversidades. No caso de

muitos dos missionários, especialmente

os tradutores da Bíblia, esses grupos sãofrequentemente falantes de uma língua

que foi pouco estudada ou não chegou aser documentada nem linguisticamente

analisada. Essas línguas não têm uma or-

ganização formal de escrita entre grupos

de pequeno nível de escolaridade. Assim

há a necessidade de um preparo nosinstrumentos de análise linguística. Esse éum dos primeiros pilares na formação deum tradutor da Bíblia.

Uma vez que o processo de tradução

é um trabalho altamente técnico, eleexige um apurado preparo no estudo

dos vários níveis de análise de umalíngua. Normalmente esse processo se

inicia na descoberta dos sons da línguade estudo, na relação dos sons dentro

da formação das palavras, no compor-

tamento delas dentro das frases, noprocesso de construção de enunciados

e no meticuloso tear de ideias formadaspela linguagem que permitem comuni-

car uma mensagem completa.

Mas a comunicação não é restrita ape-

nas à língua. Cada povo etnolinguístico tem

recursos e estratégias extralinguísticas que

fazem parte do seu processo de entendi-

mento mútuo. Muito do que se fala nesses

idiomas não está dito em palavras, masem elementos e informações previamentecompartilhadas entre os membros daquele

processo de interação. Para observar oselementos portadores de sentido e inte-

grantes da comunicação de determinado

grupo, a análise antropológica tem sidouma das melhores ferramentas aplicadasa essa tarefa. O trabalho missionário trans-

cultural sempre caminhou de mãos dadas

com a antropologia. E essa parceria tem

sido profícua para ambos os lados.

Outra grande área de destaque no

universo da tradução está diretamente

ligada a recentes avanços nos estu-

dos e instrumentos oferecidos pelas

ciências e pela tecnologia da informa-

ção. Como foi mencionado, os últimos

anos ofereceram uma significativaaceleração no trabalho de tradução das

Escrituras. Com isso, resultados mais

rápidos e precisos podem ser obti-

dos em menos tempo do que há uma

década. Novos programas, softwaresou mesmo aplicativos de smartphones

estão cada vez mais facilmente dispo-níveis e são ferramentas que muito têm

auxiliado nesse processo.

Enfim, tradução, linguística, antropolo-

gia, tecnologia e outras áreas serão alvo

deste espaço de discussão nos próximosencontros. Tudo isso vai ser usado para

falarmos sobre a nossa amada EscrituraSagrada, tornando-se disponível de for-ma inteligível a todos os povos para que

se encontrem com Cristo e vidas sejam

transformadas, e o Senhor, adorado.

Jessé Fogaça

Pastor presbiteriano, linguista e tradutor da Bíblia.Membro da Agência Presbiteriana de MissõesTransculturais (APMT), Associação LinguísticaEvangélica Missionária (ALEM), Australian Societyfor Indigenous Languages (AuSIL) e Summer Insti-tute of Linguistics (SIL Internacional)

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 54 • Povos e Línguas

A complexidade do envioO investimento e o preparo para cada nível

Grupo Povos e Línguas

o decorrer do tempo em que o

Grupo Povos e Línguas está sedesenvolvendo e mobilizando

outros para a demanda da Grande Co-

missão, encurta a distância entre a igreja

local e o campo missionário. Duranteesse tempo, alguns detalhes aparente-

mente simples se transformam numa

importante direção para a jornada.

É possível notar uma crescenteiniciativa de pastores e líderes que,

havia alguns anos, não tinham expe-

riência com missões transculturais

nem incluíam esse conhecimento nouniverso das “coisas que um pas-

tor precisa saber”. Esse interessesurgiria graças ao tempo natural de

amadurecimento ministerial. Essa

inclinação decorre também do surgi-

mento de frentes de mobilização per-

correndo as igrejas locais e devido ao

amplo acesso às redes sociais e às

notícias sobre o que ocorre em voltado mundo. Diante dessa convergên-

cia, há uma forte impressão de que

esteja ocorrendo um “encontro das

águas”, como acontece no Norte doBrasil, onde dois rios se encontram e

correm juntos em direção ao mar. O

fenômeno natural pode ser compa-

rado ao que acontece com as frentesevangelísticas das igrejas locais e as

frentes missionáriaos transculturais.

A figura do missionário estásendo cada vez mais difundida,e as oportunidades de se envol-

ver em uma iniciativa miss ionária

está paulatinamente chegando ao

alcance de toda a Igreja Brasileira.

Quanto mais a igreja desmitificar a

figura e a vida do missionário, maisela vai se envolver com ele e, de

fato, fazer parte do “ide por todo omundo” (Mt 28.19).

É importante que formas enges-

sadas de fazer missões transcul-turais sejam revistas. É tempo de

agir de maneira mais desafiadora.Talvez seja preciso lançar mão de

NSempre é tempo para

perguntar: o que posso

fazer para me tornar ummelhor comunicador doEvangelho? Do mesmojeito, não devemos permitirque sejamos tomados pororgulho, altivez ou insegu -rança. Assim a gente evitauma análise mais profundada nossa dinâmica

Alta Complexidade

Média Complexidade

Baixa Complexidade

Congura-se por exigências pró-

prias do campo e da necessidadede desenvolver projetos de médio elongo prazo, investindo na forma-ção de uma liderança autóctone

Categoria de envio que exige menos

tempo de especialização. Normal-mente é necessário que o missioná-rio seja um cristão genuíno e domineo idioma local.

A dinâmica desse tipo de envio émarcada pela especialização e pelodesenvolvimento de habilidades quesão peculiares às exigências do campomais ermo ou hostil.

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Povos e Línguas • 55

métodos mais práticos para fazerdiscípulos, desmitificando algumasquestões relacionadas com os cam-

pos e aceitando sugestões. Sempre

é tempo para perguntar: o que posso

fazer para me tornar um melhor co-

municador do Evangelho? Do mesmo je it o, não de vemos pe rm it ir que se ja-

mos tomados por orgulho, altivez ouinsegurança. Assim a gente evita uma

análise mais profunda da nossa di-

nâmica. É preciso orar ao Senhor quenos enviou ao campo e nos dispor a

rever nossa rota e o plano de ação,sem abrir mão, é claro, da substância.

Uma questão sobre o “encontro das

águas” é levantada entre pastores e

missionários do nosso grupo: uma

vez que a igreja local está se inte-

ressando cada vez mais pelo campo

transcultural, algo vai ser criado paraatender a essa demanda. Tudo o que

existe tornou-se obsoleto? Será quea “antiga” visão de missões vai ser

tragada da nossa teologia prática de

missões? Creio que não. Pelo contrá-

rio: vai ser potencializada. Há varia-

das frentes no universo missionário

que são autoridades em sua esfera deatuação e, de uma forma bem clara,as ações de uma não interferem no

desenvolvimento da outra. Antes,contribuem para o resultado final.

Quando se pensa no envio missio-

nário a partir da Igreja Brasileira, épossível dividi-lo em três níveis de

complexidade (entende-se como“missionário” aquele que prioriza a

oportunidade de se fazer discípulo de

Jesus Cristo, independentemente dequanto tempo tenha para isso).

A) Baixa complexidade:  Missioná-

rios que vão a trabalho, cursar umapós-graduação na Europa, aprender

outro idioma, mas que, ao mesmotempo, desejam compartilhar o amorde Deus por meio de um estilo de vida

missional. Eles não têm a obrigato-

riedade da escolha de um método

preestabelecido; podem usar células,

artes, música e outros. Geralmentevão para locais onde há globalização

nas relações comerciais e se fala o

inglês ou outro idioma predominantenas relações comerciais.

Há aqueles que dedicam suas fériaspara realizar atividades como uma

viagem missionária a um país africano,ao sertão brasileiro ou marcam visitas

em um hospital infantil para desenvol-

ver dinâmicas para comunicar o amor,a misericórdia e a graça de Deus. Exigese pouco dessas obras missionárias,

pois são seguras para seus participan-

tes. Nesses locais há plena liberdade

para falar de Jesus. Esse tipo de açãogera frutos positivos, pois é uma forma

de levar a igreja a olhar para fora dasquatro paredes, despertando pessoas

que, no primeiro momento, eram indi-

ferentes a missões.

B) Média complexidade: São mis-

sionários que partem para iniciar

algum projeto exclusivo da igreja

local, como plantar hospitais, tem-

plos, escolas, pastorear, ensinar emum seminário, fixar uma base mis-

sionária para receber outros para

um treinamento de médio e longo

prazo. Esses missionários necessi-

tam de maior preparação teológica etranscultural. Eles moram em lugares

privados de grande conforto ou vivemsob forte pressão cultural e precisam

de vistos específicos; movimentamgrandes valores financeiros de igrejas

e organizações missionárias; desper-tam menos interesse e curiosidade

da parte dos que enxergam missões

como algo contagiante e romântico.Geralmente são missionários que têm

uma forte habilidade de esperar compaciência o mover de Deus.

Na maioria dos casos, são os que

semeiam, mas nem sempre serão osque vão colher. Preparam a terra para

outros que virão. Um bom exem-

plo são os pioneiros que amargam

difíceis começos. Além de venceras etapas básicas de aproxima-

ção, evangelização e discipulado, o

pioneiro tem a tarefa de estabelecerlogísticas adequadas para família,

novos obreiros e consequentemente a

criação de estruturas para educação,saúde e desenvolvimento social em

favor do povo local.

C) Alta complexidade: Outro perfil deenvio é o de missionários que moram

em tribos indígenas distantes, tra-

duzem a Bíblia para a língua local ouvão para países com altos índices de

perseguição religiosa, como Irã, Egito,Índia e Sudão. São profissionais emmissão com técnicas de empreende-

dorismo comercial, fazem transporte(ilegal) de bíblias ou se infiltram em

corporações internacionais com o

objetivo de levar o Evangelho.

Esse nível exige um condicionamento

até mesmo da própria igreja local. Sãomissionários que podem ser chamados

de ousados ou até irresponsáveis aos

olhos humanos. Contudo, são envia-

dos por Deus aos povos não alcan-

çados. Alguns irmãos estão nesses

países como fabricantes de sapatos ou

Há variadas frentes no uni -verso missionário que sãoautoridades em sua esfe -ra de atuação e, de uma

forma bem clara, as ações

de uma não interferem nodesenvolvimento da outra.Antes, contribuem para oresultado nal 

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 56 • Povos e Línguas

trabalham com o desenvolvimento de

tecnologia da informação. Caso sejam

descobertos, são lançados em camposde concentração e fuzilados.

Os níveis não estão relacionados

com a qualidade, já que a alma quese alcança por meio do envio de

baixa complexidade tem o mesmovalor que uma vida salva por meio do

envio de alta complexidade. Nessecaso, o que varia são as problemáti-cas envolvidas. O sistema que rege

cada atuação é diferente. Depois deidentificar em qual nível de complexi-

dade o enviado está, torna-se pos-

sível entender o tipo de capacitaçãonecessário para o desenvolvimento

de um trabalho eficaz.

No caso do envio de baixa comple-

xidade, é importante se submeter auma liderança local: a igreja com a

qual o missionário vai estar l ig ado

para poder levar os novos conver-

tidos para um pastore io seguro. O

missionário precisa compreender

os rudimentos do Evangelh o para

responder a todos os que o arguírem

sobre a razão da sua fé, ser batiza-do, dar bom testemunho entre fami-l iares e amigos, na empresa e entreos irmãos da igreja que o enviou.

Esse missionário vai ter diver sas

oportunidades de comunicar o amor

do Senhor a tod os os que cruzarem

seu caminho.

Se o envio é de média complexida-

de, o missionário deve ter a perícianecessária para conseguir concluir

a missão. Ele precisa passar por um

excelente treinamento teológico, do-

minar dois ou mais idiomas, perten-

cer a uma junta ou a uma agência de

missões e ter apurado tino de l ide-

rança. Ele deve trabalhar por uma li-

derança autóctone em um projeto delongo prazo elaborado com a igreja.

Ele precisa ser acompanhado, reco-

nhecido e legitimado pela igreja local

e ser uma voz audível entre os anciãos.

Nos casos em que for necessário, omissionário deve receber um salário

digno para se manter em atividade.

Nas questões familiares, é precisoajustar a escola dos filhos e mantervínculos familiares no Brasil. Devecultivar uma rede de relacionamentos

proporcional à segurança que precisa

ter. É fundamental que o missionárioconheça as leis do país. Outro fatorimportante é a construção de relacio-

namentos com outras instituições e a

geração de pontes para arregimentar

a ação de agências missionárias. Nes-

se nível, os missionários são capazes

de sustentar uma plataforma paraque outros, em curto ou médio prazo,

possam ir e pregar o Evangelho.

Na alta complexidade, as qualifi-cações transcendem o aspecto da

exposição da Palavra ou até mesmoa determinação de viver longos anos

distante da sua nação. Convive-se

com o inesperado, a tensão de serdescoberto, de colocar a família emrisco e de expor companheiros no

campo. Há muitas exigências téc-

nicas para um tradutor de Bíblia ouum missionário que deve liderar uma

rede internacional de missionários

em dezenas de campos de refugia-

dos. Existem lugares em que sermissionário implica andar por um fio

todos os dias. Isso é muito diferen-

te de abrir grupos domésticos em

países da Europa. Não são melhoresmissionários. O que os diferencia é acomplexidade do envio.

Os níveis de complexidade estão mais

ligados aos perfis de campo, às oportu-

nidades de interação e aos eventos que

sejam necessariamente compatíveis ao

perfil do missionário. Afinal, ele pode

transitar de um nível para o outro de

acordo com sua caminhada ministerial.

Nesses casos, a diferença se dá notreinamento do missionário diante da

complexidade do envio. É fundamental

o trabalho em parceria com a liderança

da igreja enviadora.

Para os pastores e l íderes que re -

presentam variadas formas de evan-

gelização e de missão, é necessáriocompreender a multiforme sabedoria

de Deus. Essa sabedoria divina gera

a qualidade e a capacidade que omensageiro precisa ter para poder

permear as culturas e as sociedades

por meio de pequenos grupos, porações na área da saúde, por meio

de ajuda humanitária, pelo comba-

te à exploração sexual infantil, pela

construção de escolas confessionaispela plantação de igrejas, pela influ-

ência acadêmico-universitária, pela

tradução ou pelo comércio i legal de

bíblias. Se entendermos que juntos

vamos mais longe, com certeza estageração não vai passar até que, da

parte do Senhor, aconteça a maiorcolheita que o mundo já viu.

Os níveis não estão relacio -nados com a qualidade, jáque a alma que se alcançapor meio do envio de baixa

complexidade tem o mes -mo valor que uma vida salvapor meio do envio de altacomplexidade. Nesse caso,o que varia são as proble -máticas envolvidas 

Breno Vieitas

Grupo Povos e Línguas

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Povos e Línguas • 57

Com mais de 10 anos de história, o ministério

Nívea Soares tem alcançado pessoas em diversas

nações com uma declaração de amor e exaltação

a Jesus em forma de canções. Sua visão é

anunciar as boas-novas do evangelho de Cristo

trazendo despertamento à igreja em relação ao

seu lugar em Deus e na sociedade

Seu chamado é ser facilitador para que mais e

mais pessoas se acheguem ao único Deus e

sejam cheias do Seu Espírito

Então conheçamos e prossigamos em

conhecer ao Senhor; a sua saída, como a alvaé certa; e Ele a nós virá como a chuva, como

chuva serôdia que rega a terra. Oséias 6:3

ESTES E OUTROS PRODUTOS ESTÃO DISPONÍVEIS EM

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 58 • Povos e Línguas

Missão KairósAssociação para Treinamento Transcultural

Como Irão?

oi a bordo de uma embarcação

que o Espírito Santo falou altoe claro ao coração do pastor

Waldemar Carvalho. Era o início da

década de 80, e ele estava em Santos(SP), quando foi tocado para sabercomo fazer o Evangelho chegar aon-

de Cristo ainda não fora anunciado.Naquela manhã fria de julho de 1981,o administrador de uma escola ame-

ricana e bem-sucedido plantador de

igrejas em bairros e favelas da cidadede São Paulo participava de uma

conferência missionária da OperaçãoMobilização (OM). O evento acontecia

no navio Doulos, quando o pastor sesentiu desafiado a, daquele momentoem diante, dedicar a sua vida e o seu

ministério às missões transculturais.

Ali nascia um projeto missionário

que acabou se efetivando plena-

mente em 1988 para logo florescerforte e produzir muitos frutos. O

movimento recebeu o nome de Kai-

rós – Associação para TreinamentoTranscultural, também conhecido no

meio evangélico brasileiro simples-

mente como “Missão Kairós”.

A palavra Kairós vem do grego e

quer dizer “tempo oportuno”. Total-

mente adequado para nomear uma

organização que nascia empenhada

em levar auxílio espiritual e socialàs pessoas num momento em que

o mundo tem se mostrado cada vez

mais necessitado.

Em seu estatuto, a Missão Kairós

se autodefine como uma missãoevangélica brasileira interdenomi-

nacional criada principalmente para

levar o Evangelho aos povos pouco

alcançados e aos ainda não alcan-

çados. Os povos pouco alcançados

são aqueles que contam com menos

de 5% de evangélicos praticantes emsua população e precisam de ajuda

para alcançar o próprio povo. Por sua

FOs povos pouco alcança-dos são aqueles que con-tam com menos de 5% deevangélicos praticantes emsua população e precisamde ajuda para alcançar opróprio povo 

Presidente Ariovaldo Ramos, no fundo e ao centro, com equipe de missionários e gerentes da Missão Kairós no Encontro de Guarulhos/SP

   F   o   t   o   s   :   D    i   v   u    l   g   a   ç    ã   o

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Povos e Línguas • 59

vez, a expressão “não alcançado” se

refere aos países muçulmanos. Nes-

sas regiões é proibida a pregação do

Evangelho aos povos isolados onde a

Palavra ainda não chegou.

Para desempenhar adequadamente

essa função, a Kairós atua como umdepartamento das igrejas a ela vincu-

ladas, auxiliando-as com treinamento,envio e supervisão de missionários no

campo. A Kairós respeita plenamente a

autoridade das igrejas locais no envio

e no sustento dos missionários e não

aceita candidatos que não estejam for-

malmente ligados a uma igreja.

Apenas 28 anos depois daquele cha-

mado especial que o pastor Waldemarrecebeu a bordo do Doulos, a Kairós

cresceu e se orgulha de ter missioná-

rios por ela formados atuando na Euro-

pa, África, Ásia e nas Américas do Nortee do Sul. Outro motivo de orgulho para

a Kairós são as mais de 600 pessoasque passaram pelos treinamentos para

cumprir essa missão.

Desde a morte do seu fundador, emdezembro de 2014, a Missão Kairóspassa por um processo de renova-

ção em sua estrutura. Agora Kairós épresidida pelo pastor Ariovaldo Ramos.

A nova direção investe em moderni-

zação, contratando profissionais nas

áreas administrativas e de comunica-

ção, e trabalha para promover maior

integração entre a base operacional de

São Paulo e os missionários no campo

Exemplo disso foi a realização do I

Encontro de Líderes da Missão Kai-rós. O evento aconteceu entre 15 e19 de junho de 2015, num hotel em

Guarulhos (SP). Profissionais e líderesmissionários dos cinco continentes

puderam receber orientações, interagire alinhavar um plano de ação para nor-

tear os caminhos e as estratégias da

Missão Kairós nos próximos anos. Foi

um encontro muito profícuo que deveproduzir ainda mais frutos no nobre

esforço de a Missão Kairós alcançaraqueles que ainda não tiveram oportu-

nidade de ouvir a maravilhosa palavra

de salvação em Cristo Jesus.

www.missaokairos.com.br

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A Kairós respeitaplenamente a autoridadedas igrejas locais no envio eno sustento dos missionáriose não aceita candidatos quenão estejam formalmenteligados a uma igreja

Senegal é um dos países onde a Missão Kairós atua Paulo Ruiz, missionário de Cabo Verde no Encontro de Pastores e Líderes, em Guarulhos/SP

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 60 • Povos e Línguas

Nova FlorOs não alcançados ao alcance

Indo

 Chifre da África revela uma dasregiões mais fascinantes da Terra.

A região também conhecida como

Nordeste da África inclui Somália, Dji-

bouti, Quênia, Uganda e Etiópia. É lá ondeestão os registros mais antigos da civili-

zação. O local é considerado o berço da

humanidade, com uma extensa riquezacultural composta por diversos costu-

mes milenares. A Etiópia, por exemplo,

foi o único país africano não colonizado.Formado por mais de 80 tribos que con-

servam sua língua e cultura unidos pelonome Etíope, o país é conhecido desdeos tempos bíblicos como terra de Cuxe.

Mesmo com sua grande riqueza

histórica, essa é uma região ainda a seralcançada. Inúmeras catástrofes natu-

rais e constantes guerras étnicas trazem

profundas marcas sociais, econômicas

e psicológicas para seus habitantes.Conforme dados de 2011 da World

Food Programme (WFP), cerca de 13,04milhões de pessoas foram afetadas pela

seca e por conflitos sociais, étnicos,

políticos e religiosos. Os problemas pro-

vocaram um grande fluxo de migrações.Em uma busca desesperada por sobre-

vivência, vários tentam chegar à Europa.Muitos deles acabam se tornando víti-

mas do tráfico humano. Outros iniciamuma jornada perigosa pelo deserto do

Saara. Os que conseguem atravessá-lo

seguem tentando ultrapassar o Mar

Mediterrâneo. Na chegada, deparam-secom a dura realidade dos emigrantes

africanos em países europeus, frustran-

do as expectativas de encontrar a Thedream land (A terra dos Sonhos).

O ESPORTE

Nesse contexto, uma real e digna formade ascensão social tem sido o atletismo,

símbolo da prova de resistência dessepovo, refletida no Ouro Olímpico. Sem

apoio, poucos atletas do Chifre da Áfricaconseguem vencer as barreiras e trilhar

uma carreira de sucesso no esporte.

Quando o fazem, conseguem isso de for-

ma individual, o que não produz mudan-

ças sociais signicativas em suas nações

Na busca por respostas para tãogrande desafio, surge o projeto Nova

Flor – uma iniciativa que visa daroportunidades a atletas em potencial

e promover a unidade em meio a tanta

diversidade, utilizando como ferramen-

ta a linguagem peculiar e inerente aos

povos dessa região: o atletismo.

A ação inicial do projeto é o desenvol-

vimento de um trabalho com um grupo

de atletas em Addis Abeba, capital daEtiópia. Os atletas recebem suporte em

treinamento desportivo, na busca depatrocinadores, orientação nutricional,ganham o translado das viagens para a

participação em competições esporti-

vas e contam com apoio para resolver

questões relacionadas ao visto e a hos-

pedagem. O projeto promove também o

discipulado pessoal de cada participante

O

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Povos e Línguas • 6

O próximo alvo do projeto Nova Flor éa criação do Centro de Treinamento em

âmbito comunitário. A filosofia que vainortear o funcionamento desse espaço

é a de agregar valores, como unidadee responsabilidade social, com abran-

gência interdisciplinar para a formaçãode jovens cidadãos. Entre as ações

também serão disponibilizados cursos

de capacitação em nutrição, ensino da

língua inglesa, fisioterapia, humanizaçãoe convívio social. O objetivo é fornecer

subsídios para que o indivíduo estejaapto para se desenvolver com ou sem

o atletismo. A iniciativa promove uma

nova perspectiva sobre a realidade dosparticipantes, tornando-os agentes de

transformação social.

As ações do projeto Nova Flor possi-

bilitam maior entrada nas comunida-

des de onde esses atletas se originam.

Normalmente eles vêm das regiões mais

distantes e pobres do país. A experiên-

cia tem levado os membros do projeto

a conhecer diversas realidades e, com

isso, estabelecer vínculos com outrasinstituições para, juntos, contribuírem

para a transformação local.

Outra iniciativa é dar oportunidades aos

que têm potencial de elite para compe-

tirem no Brasil e em outras nações. O

intercâmbio é muito importante, pois per-

mite a esses atletas um convívio diferen-

te. As viagens a outros países, no meiode familiares, amigos e igreja, promovem

o impacto do ensino por meio de pala-

vras e ações, o que leva outros irmãos a

experimentar a influência transcultural.

A experiência coloca os não alcançadosao alcance da Igreja. Os que estão dentro

são chamados para fora a fim de conhe-

cer os que estão longe.

O projeto Nova Flor almeja conscien-

tizar cada cidadão da importância de

se tornar um agente de transformaçãosocial. Essa transformação só é pos-

sível, caso seja iniciada no interior de

cada um. O verdadeiro empoderamento

ocorre pela ação transformadora de

Cristo em cada pessoa. É quando a pes-

soa deixa o individualismo e o egoísmo

e pensa no todo, no coletivo e no gruposocial a que pertence.

“Ide, portanto, fazei discípulos de todasas nações [...]” (Mt 28.19). Faça parte do

cumprimento do Ide do Senhor à região

do Chifre da África. Todos podem fazer a

diferença, seja como pessoa física, jurí -dica, seja como instituições não gover-

namentais ou religiosas. Contribua para

o desabrochar dessa “Nova Flor” que não

é o atletismo, mas o florescer da espe-rança, que é a semente de Cristo em nós

Regue você também essa semente!

Paulo dos Santos Rodrigues

Fundador e presidente do Projeto Nova Flor, membroda Comunidade Evangélica Reviver em Cristo. Traba-lhou no Oriente Médio com a missão JOCUM e no Riode Janeiro com projetos de desenvolvimento comunitário e assistência a crianças em situação de risco

 Paulo com os atletas etíopes experimentando açaí pela primeira vez Atletas do projeto na Volta Internacional da Pampula em Belo Horizonte, MG.Paulo (esq.), Yonas, Getu e Menfs

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 62 • Povos e Línguas

Agência Missionária de MobilizaçãoEvangelística – AMME

Como irão?

m 15 anos de existência, 130

milhões de brasileiros foram

alcançados com a mensagem

do Evangelho. Essa é a marca que a

AMME atingiu em janeiro de 2015.A instituição foi fundada no início

do ano 2000 para chamar as igrejas

evangélicas brasileiras ao primeiro

amor e ajudá-las nas prioridades

estabelecidas pelo Evangelho.

A AMME foi fundada e é presidi-

da pelo pastor José Bernardo. Sua

equipe ministerial é formada por

um pequeno núcleo administrativo,

composto por missionários dedica-dos à motivação, ao treinamento,

suprimento e ao apoio às igrejas na

evangelização. A equipe também

conta com o apoio de intercessores,

mantenedores e voluntários.

A agência já ajudou mais de 50 mil

igrejas no cumprimento da missão

bíblica de evangelizar todo o mun-

do. Agora está construindo sua base

missionária às margens da represa de

Paraibuna (SP). Atualmente a agên-

cia está localizada em um escritóriocentral, em Santo André (SP), e conta

com estruturas de apoio em diversos

pontos do país. A ajuda às igrejas na

evangelização transcultural faz parte

dos serviços da AMME e é uma área

em constante desenvolvimento.

Quatro diretrizes orientam as

ações desenvolvidas pela AMME:

motivação, treinamento, suprimen-

to e apoio estratégico. Quanto àmotivação, a AMME trabalha para

despertar vocações e restaurar a ca-

pacidade evangelística das igrejas.

Os treinamentos envolvem meto-

dologias de estudo bíblico que pas-

sam pela capacitação da liderança

e abrange o con hecimento dos

EEvangelizar é amar! É assimque se divulga a principalrazão para que jovens voca-cionados escolham a AMMEcomo sua agência de minis -tério. Se você ama a Igreja deCristo e quer vê-la dedicada àmissão bíblica de evangelizartodo o mundo, envolva-se 

Participantes da Escola Intensiva de Liderança para Adolescentes e Jovens – Pacifcadore

   F   o   t   o   s   :   A   M   M   E

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Povos e Línguas • 63

diversos públicos e as melhores práti-

cas de comunicação do Evangelho.

Entre as iniciativas duas escolas se des-

tacam: Pacicadores, a escola intensiva de

liderança, e Força Extra, a escola modular de

liderança em comunicação do Evangelho,

ambas dirigidas a adolescentes e jovens.

No suprimento são feitas muitas pesquisas

e desenvolvem-se materiais e programas,

além de uma extensa logística para atender

à diversidade da Igreja Brasileira. O apoio

estratégico consiste em orientação para a

organização interna, desenvolvimento deparcerias e outros modos para aumentar a

efetividade das ações de evangelização.

Baseada em pesquisas que realizou

sobre o crescimento da Igreja, a AMME

prioriza o envolvimento de crianças,

adolescentes e jovens e pessoas de até

24 anos de idade como alvos e agentes

da evangelização. As pesquisas apon-

tam claramente que 77% dos evangéli-

cos brasileiros se converteram em umadessas faixas etárias. Enquanto mantém

o apoio à pregação do Evangelho a toda

criatura, a AMME estimula e for talece

a evangelização estratégica para esse

grupo denominado SUPER20.

Evangelizar é amar! É assim que se

divulga a principal razão para que jovens

vocacionados escolham a AMME como

sua agência de ministério. Se você ama

a Igreja de Cristo e quer vê-la dedicada à

missão bíblica de evangelizar todo o mun-

do, envolva-se. Se gosta de desenvolver aevangelização criativa, entende que crian-

ças, adolescentes e jovens devem ser alvo

prioritário da evangelização e do pastoreio

ou se gosta de ensinar, a AMME é uma

ótima plataforma ministerial para você.

O vínculo com os obreiros é aquele pra-

ticado também pela maioria das agências

missionárias. O candidato deve levantar o

seu sustento com mantenedores pessoais

para, então, receber uma designação quevai combinar os dons e o projeto pessoal de

ministério com as necessidades e as opor-

tunidades nas Igrejas servidas pela AMME.

www.evangelizabrasil.com

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Escola Intensiva de Liderança - Pacifcadores Entrega da porção bíblica de número 130 milhões em janeiro deste ano

As pesquisas apontam clara-

mente que 77 %dos evangéli -cos brasileiros se converteramem uma dessas faixas etárias.Enquanto mantém o apoio àpregação do Evangelho a todacriatura, a AMME estimula efortalece a evangelização estra-

tégica para esse grupo denomi -nado SUPER20 

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 64 • Povos e Línguas

A Missão ea glória de Deus

Coluna

eus está reconciliando o mun-

do consigo na pessoa de seu

filho Jesus Cristo (II Co 5.19). Averdade cristã não é necessariamen-

te um conceito, uma ideologia nem

uma crença científica: é uma pessoa.Cristãos insistem na verdade de que

o universo é uma resposta a um ato

deliberado de criatividade inteligentee pessoal. Nesse caso, a sabedoria e

pessoalidade de Deus.

O Senhor se volta para suas criatu-

ras em amor incondicional por uma

única razão: sua glorificação. O termo“glória” nem sempre é claro, mas

implica essencialmente a exposiçãode quem Deus é . Todas as vezes queolhamos e notamos algo que nos

comove e nos leva a um senso de

gratidão inexprimível, estamos, de al-

guma forma, maravilhados com o quepodemos chamar de Mistério Profun-

do, a glória de Deus. Essa experiência

é singular. Parece que alguém está

permitindo ser visto e e stá se expondo

para que nos maravilhemos. E, de fato,é exatamente isso! As obras de Deussão maravilhosas (Sl 19; 104) e toda a

Terra está cheia de sua glória (Is 6).

O cristão não foi apenas reconciliado

com Deus. Ao crer, ele é imediata-mente convocado para exibir a glóriado Pai por meio d e palavras e ações.

Ele é alvo e cooper ador da missão de

tornar Deus conhecido. Afinal, o Deus

da Bíblia é o Deus de Abraão, Isaquee Jacó (Ex 3.15), ou seja, o Senhor

é conhecido e identificado por meiodaqueles com quem se relaciona.

Deus rejeita toda tentativa de ser

representado por imagens, pois Eleescolheu se revelar ao mundo por meio

de relações pessoais, não na impessoa-

lidade dos ídolos. A relação é baseadana graça. Ídolos são baseados em

obras. A comunhão é uma dádiva. Ela

não pode ser controlada nem requeri-

da. A comunhão é fruto de um eventopascal em que o próprio Deus chamaseus eleitos do Egito. A missão cristã

se funda na libertação, reconciliação ecomunhão que temos com o Soberano

Deus por meio de seu Único Filho.

Definitivamente o propósito da mis-

são é a glorificação de Deus. Um dosmeios que Ele utiliza para esse fim éo testemunho que emerge da união

do cristão com Cristo. Timothy Kellerassevera: “Cristo não é um argumento

D

1 http://ultimato.com.br/sites/guilhermedecarvalho/2015/07/16/1026/

Deus rejeita toda tentativade ser representado porimagens, pois Ele escolheuse revelar ao mundo por

meio de relações pessoais,não na impessoalidade dosídolos. A relação é baseadana graça. Ídolos são basea-

dos em obras 

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Povos e Línguas • 65

irrefutável; ele é uma pessoa irrefutável”.Mais do que argumentar, nossa apologética

e evangelização se fundam na pessoalidadede Deus que se fez carne em Jesus Cristo.

Bem situado no tempo e no espaço, o Verbose fez carne. Por isso, Ele se fez história

e virou gente. Agor a, em vez de ficarmosansiosos tentando projetar em imagens

nossas expectativas ou nossos conceitossobre quem é Deus, Ele mesmo, na pessoa

de seu Filho, projeta-se em nós, como dizPaulo: somos transformados na imagem deseu Filho de glória em glória (II Co 3.18).

Não seria exagero nenhum alegar que a

missão cristã é fundamentalmente esca-

tológica. Cristãos não são apenas espec-

tadores de um evento fu turo, pois eles jávivem a consumação pela esperança. Todocristão deveria viver sob o grito do Cristo

na cruz: “Está consumado!” (Jo 19.30).

Não temos nada a conquistar que Cristo

não tenha conquistado. Apenas proclama-

mos que Deus já reconciliou o mundo, já

venceu em Cristo, que Ele é vitorioso, e omal foi derrotado. Naturalmente as pessoas

olharão com desdenho ante a tal alegação,porém sabemos que “a ovelha conhece a

voz de seu pastor” (Jo 10.16) e coraçõesperegrinos serão atraídos irresistivelmente aesse testemunho. Magneticamente con-

duzidos pelo Espírito Santo, eles vão ouviruma música familiar, o canto d e Moisés edo Cordeiro: “Grandes e admiráveis são as

tuas obras, Senhor Deus Todo-Poderoso!

Justos e verdadeiros são os teus caminhos,ó Rei das nações! Quem não temerá e não

glorificará o teu nome, ó Senhor? Pois só tués santo. Por isso, todas as nações virão e

adorarão diante de ti, porque os teus atos de justiça se fizeram manifestos.” (Ap 15.3-4).

Como cristãos, não precisamos criar umatensão entre a proclamação do Evangelho e

os serviços que derivam dele. Não preci-

samos criar uma tensão en tre a Grande

Comissão e o Grande Mandamento. Há

uma clara integração bíblica e ntre a obra

de Cristo e as obras que realizamos em

Cristo. Não somos salvos por o bras, mas

para obras (Ef 2.10). Fomos salvos paraexibir quem é Deus por ações, serviço ecriatividade. Que nossa mensagem seja pa-

vimentada por obras graciosas e que obras

graciosas legitimem nossas palavras.

Recentemente asseverou Guilherme de

Carvalho: “Ações cristãs no mundo precisam

ser tratadas como sinais subescatológicos”1,

ou seja, sinais da obra consumada, sempretensões de serem a consumação. Que

missionários estejam fielmente presentes no

mundo, porém livres da ansiedade de arroga-rem para si um papel que pertence a Cristo.

Enfim, o missionário não pode ser umtriunfalista nem um romântico ingênuo. Antesdeve ser um servo esperançoso que caminha

olhando para o horizonte da história, sabendoque Deus está lá e aqui, em Cristo, reconci-

liando consigo mesmo o mundo. O missioná-

rio sabe que sua vida aponta para uma única

tarefa: a glorificação de Deus. Não há espaço

para utopias, ufanismos nem planos de car-reira nas palavras de nossos reformadores:Soli Deo Gloria! (Somente a Deus a glória!).

Igor Miguel

Casado com Juliana Miguel e pai de João Miguel.Teólogo, pedagogo e mestre em Letras pela USP. Coor-denador pedagógico da ONG OMCV e pastor da IgrejaEsperança em Belo Horizonte - MG

Não temos nada a con-

quistar que Cristo não te -nha conquistado. Apenasproclamamos que Deus járeconciliou o mundo, já

venceu em Cristo, que Ele évitorioso, e o mal foiderrotado 

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 66 • Povos e Línguas

Missão AME

Local: Egito

Campo: Periferia do Cairo. 

Projeto/ação: Trabalhar com esporte (escola de futebol).

Público-alvo: Crianças, adolescentes e jovens.

Formação: Educação física.

Idioma: Inglês e árabe.

Habilidade: Resiliência, pedagogia infantil e liderança.Tempo de execução: 1 ano (mínimo).

Contato: [email protected]

Missão JUVEP

Local: Continente asiático

Campo: Regiões carentes.

Projeto/ação: Treinamento de obreiros para plantação de igrejas.

Público-alvo: Adultos e crianças.Formação: O candidato deve ser formado em Teologia e deve passar

pelo centro de trenimanto da Juvep.

Idioma: Inglês

Habilidade: Resiliência, trabalho com crianças e liderança.

Tempo de execução: 10 anos (mínimo).

Contato:  juvep.com.br

Wec Internacional (Missão AMEM)

Local: Moçambique

Campo: Grupos étnicos do norte do país, onde há apenas 1% de

cristãos e 0,03% de evangélicos.

Projeto/ação: Plantação de pequenos projetos com impacto

comunitário e social.

Público-alvo: Povos não alcançados (adultos e crianças).

Formação: Teologia

Idiomas: Inglês

Habilidades: Liderança, evangelismo pessoal e perseverança.

Tempo de execução: Indeterminado

Contato: www.wecbrasil.com.br

Campos Brancos

INF - International Nepal Fellowship

Local: Nepal

Campo: Pequena cidade localizada a oeste do país, ponto de referência emsaúde e educação para vilas e comunidades de quatro estados ao redor.

Projeto/ação: Ensino primário para filhos de missionários quetrabalham no hospital da cidade, nas igrejas e no Instituto Bíblico.

Público-alvo: Diretamente, lhos dos missionários estrangeiros em nívelde educação primária e indiretamente, a comunidade local e vilas vizinhas

Formação: Pedagogia, Magistério, Artes, Educação ou qualquer for-

mação que o capacite para o trabalho com crianças.

Idioma: Inglês para o local de trabalho e nepalês para a vida na

comunidade (pode ser aprendido no local).

Habilidade: pedagogia infantil, flexibilidade, adaptabilidade, resiliênciacriatividade e capacidade de trabalhar com poucos recursos.

Tempo de execução: 1 ano (mínimo)Contato: [email protected]

Entenda nossa nova seção

Este espaço é destinado às agências missionárias que são refe-

rência no desenvolvimento de projetos nacionais e transculturais.

Nesta seção são publicadas informações relacionadas à abertura

de projetos e demandas de campos existentes que precisam de

missionários.

Centro de Missões Urbanas (CEMU)

Local: Brasil

Campo: Bolsões de pobreza localizados nas periferias das principaismetrópoles com alto índice de violência e vulnerabilidade social.Projeto/ação: Trabalhar na criação de escolas confessionais edesenvolvimento de projetos na área do esporte, idiomas e música.Público-alvo: Crianças, adolescentes e jovens.

Formação: Pedagogia, Educação Física, Música ou Letras (com ênfa-

se em inglês, francês, alemão ou espanhol).

Idioma: Português

Habilidade: Resiliência, pedagogia infantil e liderança.

Tempo de execução: 5 anos (mínimo).Contato: [email protected]

Agemiw - Agência Missionária Wesleyana

Local: ArgentinaCampo: Periferia, bairros carentes e com índices sociais baixos emcidades onde a agência desenvolve trabalhos.

Projeto/ação:Trabalhos de apoio, evangelização e discipulado.Público-alvo: Crianças, adolescentes, jovens e adultos.

Formação: Pedagogia, Enfermagem, Educação Física, Arte Circense,Informática, Corte e Costura, Marcenaria e Solda.

Idioma: Espanhol.

Habilidade: Ensino, ajuda e cuidado.

Tempo de execução: Indeterminado

Contato: (24) 2246-4672

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