Patologia do câncer do trato genital feminino · representa mais de 90% das neoplasias malignas...
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FIGO CANCER REPORT 2015
Patologia do câncer do trato genital feminino
Jaime Prat
Department of Pathology, Hospital de la Santa Creu i Sant Pau, Autonomous University
of Barcelona, Espanha
1. Introdução
Laudos anatomopatológicos incluem não somente diagnósticos histopatológicos,
mas também, informações específicas relacionadas com prognóstico e tratamento;
assim, patologistas devem possuir familiaridade suficiente com a classificação do
Estádio e tratamento de cânceres ginecológicos para garantir que os seus relatórios
transmitam informações clinicamente relevantes. Por outro lado, a integral compreensão
do laudo anatomopatológico pelo oncologista ginecológico requer familiaridade com a
terminologia utilizada na patologia ginecológica e também com o procedimento técnico
do exame macroscópico. Este capítulo resume as características anatomopatológicas dos
tumores malignos ginecológicos mais comuns e também aborda o processamento de
biópsias e peças cirúrgicas ginecológicas.
2. Vulva
2.1. Tumores malignos e condições pré-malignas
2.1.1. Carcinoma de células escamosas
O carcinoma da vulva é responsável por 4% de todos os cânceres genitais
femininos e ocorre, principalmente, em mulheres com idade superior a 60 anos. O
carcinoma de células escamosas é o subtipo mais comum (86%). Estes tumores são
divididos em dois grupos: carcinomas de células escamosas queratinizantes não
relacionados ao HPV (>70% dos casos), carcinomas basalóides e carcinomas
verrucosos, os quais estão fortemente relacionados aos HPV de alto risco oncogênico
(<25% dos casos), destacando-se o HPV16 [1,2].
Fatores etiológicos e lesões precursoras: carcinomas de células escamosas
queratinizantes acometem, frequentemente, mulheres idosas (idade média de 76 anos),
por vezes associados a um líquen escleroso de longo tempo de evolução. A lesão
precursora é denominada neoplasia intraepitelial vulvar (NIV) diferenciada ou NIV
simples (Fig. 1A), com alto risco para o desenvolvimento de câncer. Em contrapartida,
carcinomas verrucosos e basalóides, menos frequentes e relacionados ao HPV,
desenvolvem-se a partir de uma lesão precursora chamada NIV clássica ou
indiferenciada. NIVs relacionadas ao HPV têm baixo risco de progredir para carcinoma
invasivo (cerca de 6%), excetuando-se mulheres idosas e imunossuprimidas [1,2].
Patologia: NIVs podem ser únicas ou múltiplas e apresentar-se como uma mácula,
pápula ou placa. Os graus histológicos da lesão são designados NIV I, II e III,
correspondendo à displasia leve, moderada e grave, respectivamente. No entanto, o grau
III ou NIV III, que inclui o carcinoma espinocelular in situ [CIS] – é o mais comum.
Carcinomas de células escamosas queratinizantes normalmente precedem uma
NIV diferenciada (NIV simples). A maioria dos tumores é exofítica, mas alguns podem
ser ulcerativos. Microscopicamente, o tumor é composto por ninhos invasivos de
epitélio escamoso maligno com pérolas centrais de queratina (Fig. 2). Os tumores
crescem lentamente, estendendo-se para órgãos adjacentes tais como pele, vagina e reto.
Metástases acometem primariamente a cadeia linfonodal inguinal superficial e
secundariamente as cadeias linfonodais inguinal profunda, femoral e pélvica.
Características clínicas: O estádio da FIGO para câncer vulvar define tumores de
quaisquer tamanhos limitados à vulva como carcinomas Estádio I; tumores que se
estendem até as estruturas perineais (terço inferior) como Estádio II; tumores com
metástase para cadeias linfonodais inguinofemoral como Estádio III e tumores
estendendo-se para estruturas perineais (terço superior) ou com metástases à distância
como Estádio IV. O grau histológico do tumor e número, tamanho e localização de
metástases linfonodais determinam o tempo de sobrevida da paciente. Tumores bem
diferenciados têm melhor taxa de sobrevida, próxima a 90% na ausência de metástase
linfonodal. Dois terços das mulheres com metástases inguinais sobrevivem por cinco
anos, mas apenas um quarto das que apresentam metástase pélvica sobrevive ao mesmo
intervalo de tempo [3].
O prognóstico correlaciona-se com o estádio da doença e com o
comprometimento metastático linfonodal. O número de linfonodos inguinais com
metástases é o fator isolado mais importante. O prognóstico de pacientes com câncer
vulvar é geralmente bom, com uma sobrevida global em cinco anos de 70% [1].
2.1.2. Carcinoma verrucoso
O carcinoma verrucoso vulvar é uma variante do carcinoma de células escamosas
que se manifesta como uma grande massa úlcero-necrótica, assemelhando-se a um
condiloma acuminado gigante. O HPV, geralmente os tipos 6 ou 11, é comumente
identificado. Este tumor apresenta amplas áreas de invasão estromal. Carcinomas
verrucosos raramente metastatizam. A excisão cirúrgica ampla local é o tratamento de
escolha.
2.1.3. Carcinoma basocelular
Os carcinomas basocelulares da vulva são idênticos aos seus homólogos na pele.
Não se associam com o HPV, raramente metastatizam e a excisão cirúrgica é, em geral,
curativa.
2.1.4. Melanoma maligno
Embora raro, o melanoma maligno é o segundo câncer mais frequente da vulva
(5%). Acomete, em geral, indivíduos entre a sexta e sétima décadas de vida, mas
ocasionalmente, ocorre em mulheres jovens. É altamente agressivo cursando com mau
prognóstico. A conduta de escolha deve respeitar as diretrizes para tratamento de
melanoma em geral.
2.1.5. Doença de Paget extra-mamária
Esta alteração geralmente acomete os grandes lábios de mulheres idosas. É uma
lesão grande, vermelha, úmida e com limites bem definidos. A origem das células
diagnósticas (células de Paget) é controversa: podem surgir na epiderme ou em
estruturas anexiais derivadas da epiderme. A doença de Paget intraepidérmica pode
desenvolver-se ao longo de muitos anos e é frequentemente mais extensa do que
indicado pela biópsia pré-operatória. Ao contrário da doença de Paget da mama, que é
quase sempre associada com carcinoma ductal subjacente, a doença de Paget extra-
mamária é raramente associada com câncer de anexos cutâneos. Invasões e metástases
raramente ocorrem, portanto, o tratamento geralmente requer apenas uma ampla excisão
local ou vulvectomia simples [1,2].
2.2. Descrição macroscópica e processamento de amostras
2.2.1. Biópsias excisionais
As biópsias da vulva devem ser conduzidas como biópsias de pele. Deve-se
avaliar as margens de ressecção profunda e laterais.
2.2.2. Excisão local ampla
No geral, a excisão local ampla é a terapia de escolha para neoplasias não-
invasivas como NIV III ou a doença de Paget vulvar, como também para carcinomas
Estádio I superficialmente invasivos (profundidade de invasão inferior a 1 mm). A
orientação anatômica é fundamental nestas amostras. Deve-se descrever e medir as
lesões, bem como suas distâncias em relação às margens de ressecção e as estruturas
anatômicas envolvidas. Como as lesões intra-epiteliais são frequentemente multifocais e
de difícil distinção macroscópica, todas as margens de ressecção cirúrgica (laterais e
profunda) devem ser avaliadas microscopicamente [1].
2.2.3. Vulvectomia simples (ou total)
Este procedimento envolve a ressecção de toda a vulva e gordura subcutânea
adjacente (dissecção da fáscia profunda). É o procedimento de escolha para neoplasias
não invasivas que envolvem extensamente a vulva. As margens de ressecção devem ser
cuidadosamente avaliadas [1].
2.2.4. Vulvectomia radical
A vulvectomia radical envolve a ressecção da vulva estendendo-se até as fáscias
profundas da coxa, periósteo do púbis e fáscia inferior do diafragma urogenital. É
geralmente realizada em conjunto com a dissecção de ao menos um nódulo linfático, o
qual pode ser incluído em bloco com a peça de vulvectomia. A vulvectomia total radical
vem sendo amplamente substituída por excisões mais limitadas, mas suficientes para
extirpar completamente o tumor primário com uma margem cirúrgica de segurança
mínima de 1cm. A descrição macroscópica deve incluir tamanho, localização,
profundidade de invasão, e todas as margens de ressecção, incluindo as margens
perianal e vaginal. A profundidade de invasão deve ser medida a partir da junção
epitélio-estromal (membrana basal) da papila dérmica adjacente até o ponto mais
profundo de invasão tumoral. Os linfonodos dissecados devem ser discriminados em
cadeia superficial ou profunda e submetidos integralmente para exame histológico [1].
3. Vagina
3.1. Tumores malignos da vagina
Os tumores malignos primários da vagina são incomuns, constituindo cerca de 2%
de todos os tumores do trato genital. A maioria (80%) dos tumores malignos vaginais
tem origem metastática. Tumores confinados à parte superior da vagina são geralmente
tratados com histerectomia total e vaginectomia. O carcinoma de células escamosas
representa mais de 90% das neoplasias malignas primárias da vagina. O prognóstico
relaciona-se com a extensão da disseminação do tumor no momento de seu diagnóstico.
A sobrevida em cinco anos para tumores confinados à vagina (Estádio I) é de 80%,
sendo de apenas 20% para aqueles com disseminação extensa (Estádios III / IV) [1].
3.1.1. Rabdomiossarcoma embrionário (sarcoma botrióide)
O rabdomiossarcoma embrionário acomete quase exclusivamente meninas com
menos de 4 anos de idade. Esta lesão surge na lâmina própria da vagina e caracteriza-se
por rabdomioblastos primitivos, fusocelulares, alguns dos quais apresentam estriações
transversais no citoplasma. Tumores com menos de 3 cm de maior diâmetro tendem a
ser localizados e podem ser curados por excisão ampla associada à quimioterapia.
Tumores maiores muitas vezes se disseminam para estruturas adjacentes, linfonodos
regionais ou locais distantes. Mesmo em casos avançados, metade dos pacientes
sobrevive com cirurgia radical associada à quimioterapia [1,2].
4. Colo
4.1. Neoplasia de células escamosas
O rastreio citológico em países desenvolvidos diminuiu a frequência de
carcinomas do colo uterino de 50% a 85%; entretanto, em todo o mundo, o câncer de
colo uterino permanece como o segundo mais comum em mulheres.
4.2. Neoplasia intraepitelial cervical
Neoplasia intraepitelial cervical (NIC) corresponde a um espectro de alterações
intraepiteliais do epitélio escamoso que começam com atipia celular mínima
perpassando por estágios de maiores anormalidades intraepiteliais até progredir para o
carcinoma invasivo de células escamosas. Os termos NIC, displasia, carcinoma in situ
(CIS) e lesão intraepitelial escamosa (LIE) são comumente utilizados alternadamente
[1,2] (Fig. 3).
Epidemiologia e patogênese molecular: a infecção pelo HPV leva à NIC e ao
câncer cervical (Fig. 4). A NIC de baixo grau é uma infecção produtiva (i.e., o HPV está
no núcleo na forma epissomal e se replica livremente provocando a morte celular). Um
grande número de vírus se acumula na célula antes de se tornar visível como um
coilócito (Fig. 3). Na maioria dos casos de NIC de alto grau, o DNA viral integra-se ao
genoma da célula. As proteínas codificadas pelos genes E6 e E7 do HPV 16 se ligam e
inativam, respectivamente, as proteínas p53 e Rb da célula hospedeira, invalidando
assim as suas funções supressoras tumorais. Depois de se integrarem ao DNA do
hospedeiro, as cópias do HPV não se proliferam mais e os coilócitos encontram-se
ausentes na maioria dos casos de NIC de alto grau e em todos os cânceres invasivos. As
células com NIC de alto grau geralmente contêm HPV dos tipos 16, 18, 31, 33, 35, 39,
45, 51, 52, 56, 58, 59, e 68. Os HPV dos tipos 16 e 18 são encontrados em 70% dos
cânceres invasivos; os outros tipos virais de alto risco oncogênico contribuem com 25%
dos cânceres invasivos [4].
Patologia: a NIC é quase sempre uma doença do epitélio escamoso metaplásico da
zona de transformação do colo uterino. O processo de maturação normal do epitélio
escamoso cervical está perturbado na NIC, o que se evidencia morfologicamente por
alterações de celularidade, diferenciação, polarização, morfologia nuclear e atividade
mitótica. NIC 3 é sinónimo de displasia grave e CIS. A sequência de alterações
histológicas da NIC 1 a NIC 3 pode ser vista na Fig. 3 [1,2].
Características clínicas: a idade média de desenvolvimento de NIC em mulheres
é de 24-27 anos para NIC 1 e NIC 2 e de 35-42 anos para NIC 3. Com base em critérios
morfológicos, metade dos casos de NIC 1 regride, 10% evolui para NIC 3 e menos de
2% torna-se câncer invasivo. O tempo médio para todos os graus de displasia evoluirem
para CIS é cerca de 10 anos. Ao menos 20% dos casos de NIC 3 progridem para
carcinoma invasivo neste mesmo período [1].
Quando a NIC é diagnosticada, colposcopicamente, em conjunto com o teste de
Schiller, delimita a lesão e indica áreas favoráveis para realização da biópsia. A
citologia cérvico-vaginal também ajuda a determinar a extensão de acometimento
endocervical pela neoplasia. Mulheres com NIC 1 normalmente recebem tratamento
conservador (isto é, repetição do Papanicolau e retorno da consulta em menor intervalo
de tempo). Lesões de alto grau são tratadas de acordo com a extensão da doença. LEEP
(do inglês loop electrosurgical excision procedure - procedimento de excisão
eletrocirúrgica com alça), conização cervical (remoção de um cone de tecido ao redor
do orifício externo do colo uterino), ablação a laser, eletrocoagulação diatérmica,
criocirurgia, e (raramente) histerectomia podem ser feitos [1].
4.3. Carcinoma de células escamosas microinvasivo (superficialmente invasivo)
Este é o primeiro Estádio (Ia) do câncer cervical invasivo. Neste caso, a invasão
estromal geralmente apresente uma NIC adjacente (Fig. 5). O Estádio do carcinoma
microinvasivo é baseado na profundidade da invasão e na extensão lateral da lesão,
assim definidos:
• Profundidade de invasão estromal em relação à membrana basal do epitélio de
até 3 mm (Estádio Ia1) ou até 5 mm (Estádio Ia2).
• 7mm de extensão lateral máxima.
A invasão estromal precoce (ESI, em inglês) aparece como pequenas projeções
irregulares de células epiteliais que infiltram a partir da base de lesões classificadas
como NIC 3. Estas pequenas (<1 mm) projeções de células epiteliais neoplásicas não
afetam o prognóstico de lesões classificadas como NIC 3; assim, ambas podem ser
tratadas de forma semelhante através da cirurgia conservadora. Na classificação de 2009
da FIGO, a invasão estromal precoce foi excluída do Estádio IA1. Alguns
ginecologistas oncológicos limitaram a definição de carcinomas microinvasivos a
tumores sem invasão angiolinfática (LVI, em inglês). Tumores com Estádio IA2
associam-se a metástases linfonodais em cerca de 8% dos casos, enquanto que aqueles
com componente invasor menor ou igual a 3mm (Estádio IA1) têm risco de apenas 1%-
2% de metástases linfonodais. Conização ou histerectomia simples são tratamentos
geralmente curativos em casos de carcinomas microinvasivos com profundidade de
invasão inferior a 3 mm [1-3].
O papel da invasão vascular linfática como fator prognóstico é mais controverso
do que os parâmetros de profundidade e a extensão lateral do componente invasivo
tumoral. O estroma que circunda os focos de invasão pode sofrer retração ao longo do
processamento histológico para exame microscópico. Este artefato de processamento
pode ser facilmente confundido com invasão vascular. Enquanto alguns estudos
defendem que a presença de tumor em espaços linfáticos não tem relação com a
presença de metástases linfonodais, outros estudos apontam que a presença de invasão
vascular linfática é um fator prognóstico importante [1].
4.4. Carcinoma invasivo de células escamosas
Patologia: estágios iniciais do câncer cervical apresentam-se muitas vezes como
lesões mal definidas ou massas nodulares exofíticas. Se o tumor está dentro do canal
endocervical ele pode ser uma massa endofítica que pode infiltrar o estroma e causar
alargamento difuso do colo uterino. A maioria dos tumores é queratinizante, com ninhos
sólidos de grandes células escamosas malignas apresentando queratinização celular
individual. A maioria dos outros carcinomas apresenta ninhos de células queratinizadas
em espirais concêntricas, designadas como pérolas córneas.
O câncer cervical se dissemina por contiguidade, ou através de vasos linfáticos e
raramente por via hematogênica. A extensão local para tecidos circundantes
(paramétrio) resulta em compressão ureteral (Estádio IIIB), cujos correspondentes
clínicos são: hidroureter, hidronefrose e insuficiência renal secundária à obstrução
ureteral – a causa mais comum de morte (50% dos pacientes). O envolvimento da
bexiga e do reto (Estádio IVA) pode levar à formação de fístula. Metástases para
linfonodos regionais envolvem as cadeias linfonodais paracervical, hipogástrica e ilíaca
externa. Em geral, o crescimento e propagação tumorais são relativamente lentos uma
vez que a idade média de pacientes com NIC 3 é de 35-40 anos, com carcinoma Estádio
IA, 43 anos, e com Estádio IV, 57 anos [1-3].
Características clínicas: O exame citológico de Papanicolau permanece o teste de
triagem mais confiável para a detecção de câncer cervical.
O Estádio clínico do câncer cervical é o melhor preditor de sobrevida. A taxa de
sobrevida em cinco anos é de 60%, e por Estádio é: I, 90%; II, 75%; III, 35%; e IV,
10%. Cerca de15% das pacientes desenvolvem recidivas na parede vaginal, bexiga,
pelve, ou reto nos primeiros 2 anos de terapia. A histerectomia radical é indicada em
carcinomas invasivos localizados, especialmente em mulheres jovens; radioterapia,
quimioterapia, ou combinações de ambas é utilizada para tumores mais avançados [1-3].
4.5. Adenocarcinoma endocervical
Estes tumores perfazem até 20% dos cânceres cervicais. A incidência de
adenocarcinoma cervical aumentou recentemente com idade média de apresentação aos
56 anos. A maioria dos tumores é do tipo células endocervicais (mucinoso). Estes
tumores associam-se frequentemente com adenocarcinoma in situ e são frequentemente
infectados pelo HPV dos tipos 16 e 18 [1,2].
O adenocarcinoma in situ (AIS) geralmente surge na junção escamocolunar e se
estende para o canal endocervical. Em 40% dos casos de AIS observa-se associação
com NIC de alto grau. O adenocarcinoma invasivo tipicamente se apresenta como uma
massa polipoide ou papilar. O adenocarcinoma da endocérvice se dissemina através de
invasão local e metástases linfáticas, mas a sobrevida global é um pouco pior quando
comparada a do carcinoma escamoso.
4.6. Descrição macroscópica e processamento das amostras
4.6.1. Biópsias por punção (ou punch)
As biópsias são normalmente guiadas pela colposcopia. Os melhores espécimes
possuem, pelo menos, vários milímetros de comprimento com estroma subjacente com
profundidade de 2-4 mm.
4.6.2. Curetagem endocervical
A curetagem endocervical é realizada para avaliar a presença de neoplasias
glandulares, neoplasias epiteliais cervicais envolvendo o canal endocervical, ou para
determinar se o carcinoma endometrial se espalhou para o colo uterino.
4.6.3. Biópsia/excisão de cone do colo uterino e traquelectomia
A biópsia de cone de colo uterino é o procedimento padrão realizado em mulheres
com NIC de alto grau e/ou lesões glandulares (Fig. 6). A biópsia de cone de colo uterino
do tipo convencional é realizada com bisturi ("cone a frio"), mas hoje muitas vezes é
realizada com corte a laser ou corrente de baixa voltagem, métodos de alça diatérmica
(LEEP).
Traquelectomia pode também ser realizada como um processo terapêutico para
carcinoma invasivo do colo uterino em Estádio inicial. A traquelectomia é uma versão
mais extensa de uma excisão de cone uma vez que todo o colo do útero é removido,
com ou sem a cúpula vaginal.
A biópsia de cone do colo uterino é uma excisão com formato semelhante ao de
um cone que inclui uma porção da ectocérvice, o orifício externo, toda a zona de
transformação e o canal endocervical com quantidades variáveis de tecidos profundos.
O cirurgião deve identificar a posição de 12 horas com fio cirúrgico. No caso de uma
traquelectomia, a presença de um segmento de vagina deve ser documentada e medida.
A fixação do espécime cirúrgico por três horas antes dos cortes seriados é
geralmente suficiente. Os cortes seriados devem ser processados em sequência
(mantendo-se a relação anatômica). Deve-se submeter o espécime cirúrgico por
completo respeitando-se a sequência anatômica dos cortes, tendo como referencial os
ponteiros do relógio e começando a partir de 1 hora (Fig. 6). Ambas as margens
ectocervical e endocervical do espécime cirúrgico devem ser avaliadas e
identificadas[1].
4.6.4. Histerectomia em casos de doença cervical maligna
A histerectomia simples é indicada em casos de neoplasia intraepitelial de alto
grau e de carcinomas microinvasivos. A histerectomia radical (remoção de partes moles
paracervicais) é indicada para carcinomas escamosos Estádio I e para alguns tumores
em Estádio 2A.
Em caso de úteros removidos para o tratamento de NIC, no processamento do
recorte da peça cirúrgica, deve-se amputar o colo uterino ao menos 1,0 cm acima do
nível do orifício externo e processá-lo totalmente, da maneira descrita anteriormente no
tópico sobre cone de colo uterino. Frequentemente uma secção de cada quadrante é
suficiente. Cada secção deve conter representação da mucosa endocervical, junção
escamo-colunar, ectocérvice e adventícia externa. Submeter todo o tecido parametrial
uma vez que este corresponde à margem de ressecção lateral, sendo ainda a margem
mais significativa. Dissecar e discriminar os linfonodos à direita e à esquerda,
especificando sua localização (ilíaca interna, ilíaca externa, obturador, etc.) [1].
5. Corpo uterino
5.1. Hiperplasia endometrial
A hiperplasia do endométrio forma um contínuo morfológico de proliferações
anormais variando de aglomerados glandulares focais ou hiperplasia simples até o
adenocarcinoma bem diferenciado.
Patologia: a nomenclatura da OMS de 2014 distingue apenas duas dentre as
categorias de hiperplasia endometrial: (1) hiperplasia sem atipia e (2) hiperplasia atípica
/ neoplasia intra-epitelial endometrial (do inglês EIN) [1,2].
5.1.1. Hiperplasia sem atipia
Proliferação exagerada de glândulas, com arranjo frequente lado a lado, com
pouco estroma de permeio e sem atipias nucleares significativas. Fatores de risco
incluem: obesidade, doença do ovário policístico e diabetes. Hiperplasia sem atipia é o
resultado da estimulação estrogênica sem oposição da progesterona. As pacientes tem
risco de três a quatro vezes maior de desenvolver carcinoma endometrial, aumentando
para dez vezes após 10 anos do diagnóstico. A progressão para carcinoma endometrial
ocorre em apenas 1% a 3% das mulheres com hiperplasia sem atipia.
5.1.2. Hiperplasia atípica / neoplasia intra-epitelial do endométrio (NIE)
Esta lesão caracteriza-se histologicamente pelo aumento da densidade glandular,
muitas vezes com uma disposição glandular lado a lado (“back-to-back”, em inglês),
com pouco estroma de permeio e com atipias citológicas epiteliais. Os núcleos das
células epiteliais são grandes e hipercromáticos com nucléolo proeminente. Um quarto a
um terço destas mulheres será diagnosticada com carcinoma endometrióide à
histerectomia imediata ou durante o primeiro ano de seguimento. [2].
O conceito de Neoplasia Intraepitelial Endometrial (NIE) refere-se a um
crescimento neoplásico monoclonal de células geneticamente alteradas com maior risco
de evoluir para o adenocarcinoma endometrióide do endométrio. O principal critério
diagnóstico da NIE é o aumento da densidade glandular (volume percentual do estroma
<55%). Hiperplasia atípica / NIE contém muitas das alterações genéticas vistas no
carcinoma endometrióide do endométrio, isto é, a instabilidade de microssatélites,
mutações nos genes PTEN, KRAS e CTNNB1 (β-catenina) [1,2].
Características clínicas: A histerectomia é geralmente o tratamento de escolha se a
mulher não deseja filhos. Mulheres que desejam ter filhos ou aquelas com altos riscos
cirúrgicos podem ser tratados com progestágenos.
5.2. Adenocarcinoma endometrial
O carcinoma endometrial é o sexto tipo de câncer mais frequente no mundo em
mulheres, com taxa de incidência global de 8,2 a cada 100000. É o quarto câncer mais
comum em mulheres em países industrializados e o câncer ginecológico mais comum.
Três-quartos das mulheres com câncer de endométrio estão na pós-menopausa. A média
de idade no momento do diagnóstico é de 63 anos [1,2]. Os carcinomas endometriais
são classificados em dois tipos diferentes (Fig. 7 e Tabela 1). Tumores tipo I (Fig. 7A)
(cerca de 80%) são carcinomas endometrióides e possuem muitas vezes diagnóstico
prévio de hiperplasia endometrial ou NIE e estão associados à estimulação estrogênica.
Eles ocorrem principalmente em mulheres na pré ou perimenopausa e associam-se com
obesidade, hiperlipidemia, anovulação, infertilidade e menopausa tardia. Tipicamente, a
maioria dos carcinomas endometrióides está confinada ao útero e apresenta prognóstico
favorável. Em contraste, tumores tipo II (Fig. 7b) (cerca de 10%) são carcinomas não-
endometrióides, em sua maioria serosos, originando-se, ocasionalmente, de pólipos
endometriais ou de lesões pré-cancerosas no endométrio atrófico (carcinoma
"intraepitelial" endometrial). Tumores do tipo II não estão associados à estimulação
estrogênica ou hiperplasia, rapidamente invadem o miométrio e os espaços vasculares, e
são altamente letais [1]. O câncer endometrial é o câncer extracolônico mais comum em
mulheres com síndrome de Lynch ou câncer colorretal hereditário não polipóide, um
defeito no gene de reparo do DNA que também está associado com cânceres do ovário
[5].
Patogênese molecular: um modelo dualista da carcinogênese endometrial tem sido
proposto. De acordo com este modelo, células endometriais normais transformam-se em
carcinoma endometrióide através de erros de replicação, assim chamada "instabilidade
de microssatélite", com subsequente acúmulo de mutações em oncogenes e genes
supressores de tumor. Nos carcinomas não-endometrióides as alterações no gene p53 e
perda de heterozigosidade em vários cromossomos levam à transformação maligna [5].
Cinco alterações moleculares principais são descritas em carcinomas endometrióides do
tipo I: instabilidade de microssatélites (25-30% dos casos); mutações nos genes PTEN
(30-60%), PIK3CA (26-39%), ARID1A (20%); K-ras (10-30%) e CTNNB1 (β-
catenina) com acúmulo de proteína nuclear (25 -38%). Em contraste, a maioria dos
carcinomas não-endometrióides do tipo II têm mutações no gene p53, amplificação do
Her-2 / neu e perda de heterozigosidade em vários cromossomos. Carcinomas não-
endometrióides podem também derivar do carcinoma endometrióide com instabilidade
de microssatélites através da progressão tumoral e subsequente mutação do gene p53
[5].
O Atlas Genômico do Câncer / The Cancer Genome Atlas (TCGA) conduziu a
análise genômica mais abrangente de carcinomas do endométrio relatada até o momento
[6]. TCGA expandiu a classificação morfológica dualista do carcinoma endometrial
(tipos I e II) para quatro subgrupos moleculares distintos: (1) POLE ultramutado; (2)
instabilidade de microssatélites hipermutada; (3) baixo número de cópias/ estabilidade
de microssatélites; e (4) alto número de cópias/ seroso-símile. Mesmo diante da
sobreposição de achados genéticos moleculares é difícil separar categorias prognósticas
significantes. Mutações POLE predizem prognóstico favorável, particularmente em
tumores de alto-grau. Por outro lado, pacientes com carcinomas endometrióides serosos-
símile ao nível molecular podem se beneficiar de tratamentos tipicamente usados para
carcinomas serosos [6].
Patologia:
Adenocarcinoma endometrióide do endométrio: este tipo de câncer endometrial é
inteiramente composto por células glandulares e é a variante histológica mais comum
(80% -85%). O sistema FIGO divide este tumor em três classes com base na proporção
entre áreas glandulares e sólidas, estas pouco diferenciadas. Variantes histológicas
menos comuns incluem: adenocarcinoma endometrióide com diferenciação escamosa e
os tipos mucinoso e secretor, ambos associados com bom prognóstico [1-3].
Carcinomas não-endometrióides do endométrio: São um grupo de tumores
agressivos e a graduação histológica não é clinicamente útil, sendo todos os casos
considerados de alto grau.
• O adenocarcinoma seroso se assemelha histologicamente e se comporta como um
adenocarcinoma seroso de alto grau do ovário (Fig. 8B). Frequentemente apresenta
propagação transtubária para a superfície peritoneal. A forma intraepitelial é
designada "carcinoma intraepitelial endometrial seroso" (serous EIC, em inglês) e
não deve ser confundida com a Neoplasia Intraepitelial Endometrial (EIN, em
inglês), descrita anteriormente como precursora do carcinoma do tipo
endometrióide. Pacientes com carcinoma seroso precisam ser estadiadas e tratadas
como se tivessem câncer de ovário.
• O adenocarcinoma de células claras é um tumor comum em mulheres idosas. Ele
contém células grandes com glicogênio citoplasmático abundante ("células claras")
ou células com núcleos grandes e salientes revestindo o lúmen glandular
("hobnail”, em inglês). Carcinomas de células claras têm um mau prognóstico.
• Carcinossarcoma (tumor mesodérmico misto maligno): neste tumor altamente
maligno, as células epiteliais pleomórficas misturam-se com áreas exibindo
diferenciação mesenquimatosa. Estas neoplasias mistas são derivadas de um clone
comum que se acredita ter origem epitelial. A sobrevida global em cinco anos é de
25% [1,2].
Características clínicas: ao contrário de câncer do colo uterino, o câncer
endometrial pode se espalhar diretamente para linfonodos para-aórticos, ao invés dos
linfonodos pélvicos. As pacientes com cânceres avançados também podem desenvolver
metástase pulmonar (40% dos casos com metástases). As mulheres com carcinoma
endometrióide bem diferenciado confinado ao endométrio são geralmente tratadas
através de histerectomia simples. Radioterapia pós-operatória é considerada se: (1) o
tumor é pouco diferenciado ou do tipo não-endometrióide; (2) o miométrio é
profundamente invadido; (3) o colo do útero é envolvido; ou (4) os linfonodos contêm
metástases.
A sobrevida no carcinoma do endométrio se relaciona com vários fatores: (1)
Estádio da doença ao diagnóstico, tipo histológico e, para os carcinomas
endometrióides, o grau histológico do tumor; (2) idade; e (3) outros fatores de risco, tais
como expressão de receptor de progesterona na neoplasia, profundidade de invasão
miometrial e extensão da invasão linfovascular [7]. A sobrevida documentada de todos
os pacientes com câncer endometrial submetidos a tratamento é de 80% após 2 anos,
diminuindo para 65% após 10 anos. Tumores com invasão miometrial ou linfática são
mais propensos a disseminação além do útero. Cânceres endometriais envolvendo o
colo uterino têm pior prognóstico. A disseminação extra-uterina implica em pior
prognóstico [3,7].
5.3. Sarcomas endometriais
Atualmente, sarcomas endometriais são classificados em três categorias: (1)
sarcoma do estroma endometrial de baixo grau (LG-ESS, em inglês); (2) sarcoma do
estroma endometrial de alto grau (HG-ESS, em inglês); e (3) sarcoma endometrial
indiferenciado (UES, em inglês) [2]. O SEE-BG representa menos de 2% dos cânceres
uterinos. Eles podem ser polipóides ou podem invadir difusamente o miométrio. As
células do tumor assemelham-se às células estromais do endométrio proliferativo. A
atipia nuclear pode ser mínima ou severa e a atividade mitótica pode ser pouco marcada.
A expressão de CD-10 e de receptores de estrógeno e progesterona ajudam a confirmar
o diagnóstico. A anomalia citogenética mais comum do SEE-BG é uma é uma
translocação recorrente envolvendo os cromossomos 7 e 17 t(7; 17) (p15; q21), o que
resulta em uma fusão entre JAZF1 e SUZ12 (designado como JJAZ1) [1,2].
O recentemente re-estabelecido sarcoma do estroma endometrial de alto grau tem
características intermediárias entre sarcoma do estroma endometrial de baixo grau e
sarcomas indiferenciados. Pode aparecer como um pólipo intracavitário ou uma massa
intramural. Microscopicamente, consiste predominantemente de células redondas de
alto grau que são por vezes associadas com um componente de células fusiformes de
baixo grau, geralmente fibromixoide. A atividade mitótica é muito marcante e
usualmente maior do que 10 mitoses por 10 campos de grande aumento (CGA). Necrose
é geralmente presente. O sarcoma do estroma endometrial de alto grau tipicamente
contém a fusão genética YWHAE-FAM22 como resultado da t (10; 17) (Q22; p13)
[1,2].
Sarcomas pouco diferenciados de alto grau são designados como sarcoma
endometrial indiferenciado [1,2].
Características clínicas: muitos anos podem decorrer antes do sarcoma do estroma
endometrial de baixo grau recidivar, e metástases podem ocorrer mesmo se o tumor
estiver confinado ao útero no momento da cirurgia inicial. As recorrências geralmente
envolvem a pelve em primeiro lugar, seguido de metástases pulmonares. Sobrevida
prolongada e até mesmo cura são possíveis, apesar das metástases. Por outro lado, o
sarcoma endometrial indiferenciado apresenta recidiva precoce, geralmente com
metástases generalizadas. Comparando com sarcoma do estroma endometrial de baixo
grau, pacientes com ) sarcoma do estroma endometrial de alto grau ou sarcoma
endometrial indiferenciado têm recorrência mais precoce e mais frequente (muitas vezes
em menos de 1 ano) e tem maior probabilidade de morrer pela doença. O sarcoma do
estroma endometrial de baixo grau pode ser tratado com sucesso com cirurgia e terapia
progestacional, com sobrevida de 90% 10 anos após o diagnóstico [1,2].
5.4. Adenossarcoma uterino
Adenossarcoma uterino (mülleriano) é um tumor de baixo grau com epitélio
glandular benigno e estroma maligno. Deve ser distinguido do carcinossarcoma, no qual
ambos os elementos epitelial e estromal são malignos e apresenta comportamento
altamente agressivo. Um quarto dos pacientes com adenossarcoma, particularmente
casos com invasão miometrial e supercrescimento sarcomatoso, eventualmente evoluem
com recorrência local ou metástase [1,2].
5.5. Leiomiossarcoma
O leiomiossarcoma é neoplasia maligna originada em células musculares lisas
cuja incidência é de apenas 1/1000 leiomiomas. É responsável por 2% das neoplasias
malignas do útero. Sua patogênese é incerta. Mulheres com leiomiossarcoma são em
média, no mínimo, uma década mais velhas (idade acima de 50 anos) do que aquelas
com leiomiomas e os tumores malignos são maiores (10 a 15cm x 3 a 5cm) [1,2].
Patologia: deve-se suspeitar de leiomiossarcoma se um aparente leiomioma for
macio, exibindo áreas de necrose no exame macroscópico, ou tiver contornos
irregulares (invasão do miométrio adjacente). A atividade mitótica (10 ou mais mitoses
por 10 campos de grande aumento/CGA), atipia nuclear e necrose geográfica são os
melhores critérios diagnósticos (Fig. 8A e B). Leiomiossarcomas mixóide e epitelióide
podem conter apenas cinco mitoses por 10 CGA. O tamanho é importante uma vez que
tumores com menos de 5 cm de diâmetro dificilmente recidivam.
A maioria dos leiomiossarcomas é grande e está em estádio avançado quando
detectado. Eles são geralmente fatais apesar da combinação terapêutica entre cirurgia,
radioterapia e quimioterapia. A sobrevida em cinco anos é de cerca de 25% [1,2]. Quase
todos os leiomiossarcomas são tumores de alto grau e, geralmente, o seu diagnóstico é
direto; no entanto, uma pequena fracção de tumores uterinos de músculo liso mostra
características histológicas atípicas que são insuficientes para o diagnóstico de
malignidade ou tem um comportamento clínico imprevisível. Estes tumores são
designados como tumores de músculo liso de potencial maligno incerto (do inglês
STUMP), mas o termo tumor de músculo liso atípico, introduzido pela última
classificação de tumores da OMS de 2014 [2] parece preferível, tendo em vista o seu
comportamento favorável na maioria dos casos. O último termo simplesmente descreve
os achados morfológicos evitando as palavras "incerto" e "maligno", que criam
preocupação desnecessária para a paciente.
Em dois estudos recentes de 41 e 16 casos de "STUMP," apenas 3 (7%) e 2(12%)
pacientes manifestaram recidiva tumoral, respectivamente [8,9]. A recidiva ocorreu
vários anos após a histerectomia, sob a forma de "STUMP" em três casos e como
leiomiossarcoma nos outros dois. As cinco pacientes estavam vivas e livres de doença
após acompanhamento prolongado. Como indicado anteriormente, quando se considera
contagem mitótica, invasão miometrial, atipia nuclear, necrose de células tumorais,
tamanho do tumor e idade do paciente, os tumores podem ser classificados como
benignos ou malignos com maior segurança e o termo "de malignidade incerta" pode ser
evitado na maioria dos casos.
5.6. Descrição macroscópica e processamento de amostras
5.6.1. Biópsia do endométrio
O tecido de uma biópsia do endométrio (por curetagem ou coleta ambulatorial)
deve ser analisado em sua totalidade. Uma única lâmina de hematoxilina e eosina é
muitas vezes suficiente para fins de diagnóstico.
5.6.2. Doença maligna uterina
Avaliar todos os espécimes com um diagnóstico pré-operatório de tumor maligno
residual. Se presente, determinar a profundidade máxima de invasão do miométrio e
envolvimento cervical (da mucosa ou do estroma).
A descrição macroscópica deve incluir tamanho, localização, distribuição (focal
ou difusa) e profundidade de invasão do miométrio (Fig. 9). Amostrar o endométrio não
tumoral, inclusive a margem inferior da neoplasia (Fig. 10). Ao menos uma lâmina
microscópica deve representar a área com maior profundidade de invasão tumoral.
Linfadenectomia pode ser incluída no Estádio do carcinoma endometrial. A
dissecção cuidadosa do produto de linfadenectomia, com representação de todos os
gânglios linfáticos dissecados é necessária [1]. Uma representação por linfonodo é
adequada, a menos que seu tamanho seja muito grande.
6. Trompa de Falópio
Tumores da trompa de Falópio são raros. A maioria dos tumores malignos
primários são adenocarcinomas, com pico de incidência em mulheres com idade entre
50-60 anos. Estudos recentes sugerem que alguns casos de carcinomas serosos de alto
grau do ovário (ver abaixo) podem surgir a partir da região da trompa de Falópio rica
em fímbrias. Carcinomas tubários se comportam de forma semelhante a carcinomas
ovarianos e frequentemente aparecem como uma massa sólida na parede de uma tuba
macroscopicamente dilatada, mas às vezes podem ser apenas identificados após exame
microscópico. O tumor é bilateral em 25% dos casos. O prognóstico é ruim, uma vez
que a doença quase sempre é detectada em fase avançada [1,2].
6.1. Salpingooforectomia com risco reduzido
Uma indicação cada vez mais comum de salpingectomia é a profilaxia em
pacientes que tenham mutação BRCA1/2, história pessoal de câncer de mama, ou
história familiar forte de câncer de mama ou tubo-ovariano. Tipicamente a amostra é
macroscopicamente normal, no entanto, as trompas de falópio, juntamente com os
ovários correspondentes, devem ser enviadas integralmente para exame histológico
(Fig. 11) [1,2].
O protocolo para seccionar e examinar extensivamente a porção terminal rica em
fímbrias (do inglês SEE-FIM protocol) foi desenvolvido para processamento de
espécimes de salpingo-ooforectomia de baixo risco oncológico [10]. A tuba uterina
permanece em solução fixadora por, pelo menos, 4 horas para evitar desnudamento das
células epiteliais da mucosa. Em seguida, a porção terminal rica em fímbrias é separada
da porção tubária proximal e seccionada longitudinalmente em múltiplos (pelo menos
quatro) secções e toda a tuba uterina é submetida à análise histológica.
7. Ovário
7.1. Tumores de ovário
Existem muitos tipos de tumores ovarianos incluindo os tipos: benigno,
“borderline” e maligno. Cerca de dois terços ocorrem em mulheres em idade
reprodutiva. Cerca de 80% dos tumores ovarianos são benignos. Quase 90% dos
tumores malignos e “borderline” do ovário são diagnosticados após os 40 anos [1,11].
Neoplasias de ovário são classificadas pelo tipo de célula ovariana de origem. Em
sua maioria são epiteliais (cerca de 60%). Outro importante grupo é de tumores de
células germinativas (30%), dos cordões sexuais/estroma (8%) e neoplasias metastáticas
para o ovário. As neoplasias epiteliais representam cerca de 90% das neoplasias
malignas do ovário, sendo mais comum o adenocarcinoma seroso de alto grau (70%).
O câncer de ovário é a segunda neoplasia ginecológica mais frequente depois do
câncer endometrial e apresenta taxa de mortalidade maior do que todos outros cânceres
genitais femininos combinados. Como é difícil a detecção precoce quando ainda é
curável, mais de três quartos das pacientes já tem disseminação extraovariana do
carcinoma para pelve ou abdômen no momento do diagnóstico [1,11].
7.2. Tumores epiteliais
Neoplasias de origem epitelial podem ser classificadas de acordo com a
proliferação celular, o grau de atipia nuclear, e a presença ou ausência de invasão
estromal em: (1) benigna; (2) malignidade “borderline” e (3) carcinoma.
Neoplasias epiteliais comuns afetam principalmente mulheres nulíparas e ocorrem
menos frequentemente nas mulheres em que a ovulação foi suprimida (por exemplo, por
gravidez ou contraceptivos orais). O risco de desenvolver câncer de ovário na população
em geral é de 1,6%, enquanto que em mulheres com parente de primeiro grau com
câncer de ovário, é de 5%. Além disso, mulheres com história familiar de carcinoma de
ovário tem maior risco de desenvolver câncer de mama e vice-versa. Defeitos em genes
de reparo relacionados com cânceres da mama hereditários, BRCA-1 e BRCA-2, são
também relacionados com cânceres de ovário familiar. Assim como para o carcinoma
do endométrio, mulheres com câncer hereditário de cólon não relacionado à polipose
(do inglês HNPCC) também tem maior risco de desenvolver câncer de ovário [1,11].
Neoplasias epiteliais do ovário são classificadas de acordo com o tipo celular em:
serosas, mucinosas, endometrióides, células claras, células transicionais e tumores de
células escamosas [1,2,11]. No entanto, nenhuma destas células é encontrada no ovário
normal e o seu desenvolvimento tem sido atribuído à “neometaplasia mülleriana” do
epitélio de superfície ovariano (mesotélio). Durante o período embrionário, a cavidade
celômica é revestida por mesotélio, o qual também recobre a crista gonadal. O mesmo
mesotélio dá origem aos ductos Müllerianos, a partir dos quais surgem as tubas de
Falópio, útero e vagina (Fig. 12). Assim, as células tumorais se assemelham
morfologicamente aos epitélios das tubas de Falópio, endométrio ou endocérvice [1,11].
Recentemente, foi levantada a hipótese de que as células tronco embrionárias, que
expressam citoqueratina-7 dariam origem a progênies neoplásicas
imunofenotipicamente distintas [12], o que corrobora o velho conceito de
"neometaplasia Mülleriana". Além da origem mesotelial existem evidências
convincentes de que alguns dos cânceres que se pensavam ser primários do ovário, de
fato se originam de outros órgãos pélvicos e envolvem o ovário secundariamente. Na
verdade, estudos apontam que alguns carcinomas serosos de alto grau surgem a partir de
lesões epiteliais precursoras da porção distal da trompa de Falópio, rica em fímbrias,
enquanto que os carcinomas endometrióides e de células claras originam-se de
endometriose ovariana [11].
7.3. Tumores “borderlines”
Tumores “borderlines” apresentam maior proliferação epitelial do que os
correspondentes benignos e atipia nuclear variável; contudo, diferente dos carcinomas,
há ausência de invasão estromal e seu prognóstico é muito melhor quando comparado
ao de carcinomas.
Tumores serosos “borderline” geralmente ocorrem em mulheres com idade entre
20-50 anos (média, 46 anos). Os serosos são mais comumente bilaterais (34%) do que
tumores mucinosos (6%) ou de outros tipos. Os tumores variam em tamanho, embora os
mucinosos possam ser gigantescos. Tumores serosos “borderline” têm um ou mais
cistos revestidos por projeções papilares, variando de fina e exuberantes a agrupamentos
em forma de uva. Estas estruturas apresentam: (1) estratificação epitelial; (2) atipia
nuclear moderada; e (3) atividade mitótica. Por definição, a presença de mais do que
microinvasão focal (i.e. discretos ninhos de células epiteliais menores que 3mm
invadindo o estroma ovariano) caracteriza o tumor como carcinoma seroso de baixo-
grau (do inglês LGSC), ao invés de tumor “borderline” [1,2].
Apesar da falta de invasão destrutiva do estroma ovariano, tumores serosos
borderline, particularmente aqueles com crescimento para a superfície externa do
ovário, podem implantar na superfície peritoneal (Fig. 13A) e, raramente (cerca de 10%
dos implantes peritoneais), evoluem para um LGSC e invadem os tecidos subjacentes
(Fig. 13B). Histopatologicamente, implantes peritoneais invasivos e LGSC são
idênticos e só se distinguem pelo tempo de desenvolvimento da doença e volume do
tumor. Enquanto que os implantes invasivos são lesões superficiais precoces de
tamanho microscópico ou macroscópico pequeno (≤1-2 cm), o LGSC frequentemente se
apresenta como uma doença extensa (carcinomatose peritoneal) [1,2,11].
A cura cirúrgica ocorre se o tumor seroso borderline se limitar ao ovários. Mesmo
que o tumor tenha se espalhado para a pelve ou abdômen, 90% dos pacientes estarão
vivos após 5 anos. Embora não haja uma taxa significativa de recidiva tardia, os
tumores raramente recidivam após 10 anos. A progressão tardia para carcinoma seroso
de baixo grau foi referida em cerca de 7% do casos [1,2,7]. Após cirurgia com
preservação da fertilidade, tumores mucinosos borderlines podem "recorrer" como
carcinomas no ovário contralateral; contudo, tais tumores devem ser considerados
tumores primários independentes [13,14].
7.4. Tumores epiteliais malignos (carcinomas)
Carcinomas do ovário são mais comuns em mulheres com idade entre 40-60 anos
e são raros em mulheres com menos de 35 anos. Com base em microscopia óptica e
Genética Molecular, carcinomas ovarianos são classificados em cinco subtipos
principais, que, por ordem decrescente de freqüência são: carcinomas serosos de alto
grau (>70%), carcinomas endometrióides (10%), carcinomas de células claras (10%),
carcinomas mucinosos (3% -4%), e carcinomas serosos de baixo grau (<5%) [11]
(Tabela 2). Estes subtipos, que respondem a 98% dos carcinomas ovarianos, podem ter
diagnóstico reprodutível e são doenças inerentemente diferentes, tais como indicadas
pelas diferenças de fatores de risco epidemiológicos e genéticos, lesões precursoras,
padrões de propagação, eventos moleculares durante oncogênese, respostas à
quimioterapia e evolução. Com o progresso no tratamento do câncer de ovário subtipo-
específico, a acurada definição do subtipo é cada vez mais importante.
7.4.1. Adenocarcinomas serosos
Patogênese molecular: carcinomas serosos de baixo e alto grau são tumores
essencialmente diferentes. Enquanto que tumores de baixo grau são frequentemente
associados aos tumores serosos borderlines e têm mutações nos oncogenes KRAS ou
BRAF, carcinomas serosos de alto grau não se relacionam a lesões ovarianas
precursoras e têm alta freqüência de mutações no p53, mas não nos oncogenes KRAS
ou BRAF. Curiosamente, carcinomas que se desenvolvem em pacientes com mutações
germinativas nos genes BRCA1 ou BRCA2 (cânceres ovarianos hereditários) são quase
sempre do tipo seroso de alto grau e comumente têm mutações no gene TP53.
Patologia: carcinomas serosos de alto grau (comumente chamados
"cistadenocarcinomas") são os cânceres de ovário mais comuns e a maioria das
pacientes apresenta-se com doença avançada (aproximadamente 80%). Dois terços dos
carcinomas serosos com propagação extraovariana são bilaterais. São massas
predominantemente sólidas, geralmente com necrose e hemorragia e tipicamente
mostram invasão estromal óbvia. A maioria dos tumores tem alto grau de pleomorfismo
nuclear com papilas com alta celularidade e áreas sólidas (Fig. 14A). A taxa mitótica é
muito alta. Corpos psamomatosos estão frequentemente presentes [1,2,11].
Carcinomas serosos de baixo grau apresentam invasão estromal irregular
caracterizada por ninhos pequenos e estreitos de células tumorais com desmoplasia
variável. A uniformidade nuclear é o principal critério para distinguir carcinomas
serosos de baixo e alta grau (Fig. 14B). Carcinomas serosos de baixo grau raramente
progridem para tumores de alto grau [1,2,11].
7.4.2. Adenocarcinomas mucinosos
Patogênese molecular: tumores mucinosos do ovário são muitas vezes
heterogêneos. Componentes benignos, borderlines, não-invasivos e invasivos
carcinomatosos podem coexistir dentro do mesmo tumor. Tal espectro morfológico
sugere que a progressão do tumor ocorra a partir de cistadenoma e tumor borderline
para carcinoma não invasivo, microcarcinoma e carcinoma invasivo. Esta hipótese é
apoiada por mutações no gene KRAS em tumores mucinosos: 56% de cistadenomas e
85% dos carcinomas expressam mutação no gene KRAS, sendo os tumores borderlines
intermediários (Tabela 2) [1,11].
Patologia: carcinomas mucinosos são massas císticas geralmente grandes,
unilaterais, multiloculares contendo fluidos mucinosos. Geralmente exibem arquitetura
papilar (Fig. 14C). Uma vez que componentes benignos e malignos podem coexistir em
um único espécime, estes tumores devem ser amostrados extensivamente. Tumores
mucinosos são bilaterais em apenas 5% do casos; assim, encontrar tumores mucinosos
bilaterais ou unilaterais menores que 10cm deve levantar a suspeita de metástase de
carcinoma mucinoso proveniente de outro local (por exemplo, trato gastrointestinal).
A categoria tumor mucinoso borderline com carcinoma intraepitelial é reservada
para tumores que não tenham características arquiteturais de carcinoma invasivo, mas,
focalmente, mostrem células malignas inequívocas revestindo os espaços glandulares.
Tumores borderlines mucinosos com carcinoma intraepitelial têm mínima probabilidade
de recidiva [1,2,11].
Adenocarcinomas mucinosos mostrando crescimento glandular expansivo ou
confluente parecem ter um prognóstico mais favorável do que carcinomas mucinosos
com invasão estromal destrutiva. A combinação de invasão estromal infiltrativa extensa,
alto grau de pleomorfismo nuclear e lise tumoral deve ser considerada um forte preditor
de recidiva para adenocarcinomas mucinosos em Estádio 1 [1,2,11].
Pseudomixoma peritoneal é uma condição clínica de ascite mucinosa gelatinosa
abundante no peritônio, associada a aderências fibrosas, e com envolvimento frequente
dos ovários por tumores mucinosos. O apêndice também é envolvido por semelhante
tumor mucinoso em 60% dos casos ou aparece sem alterações nos 40% dos casos
restantes. Os dados atuais sugerem que, na maioria dos casos os tumores do ovário são
metástases de lesões originadas no apêndice [1,2].
7.4.3. Adenocarcinoma endometrióide
O adenocarcinoma endometrióide histologicamente se assemelha ao do útero (Fig.
14D), pode ter áreas de diferenciação escamosa, e é o segundo adenocarcinoma seroso
mais frequente. É responsável por 10% de todos os cânceres do ovário. Estes tumores
ocorrem mais comumente após a menopausa. Até metade destes cânceres é bilateral e,
no momento do diagnóstico, a maioria dos tumores é confinada ao ovário ou à pelve
[1,2].
Patogênese molecular: acredita-se que carcinomas endometrióides surjam
através de transformação maligna da endometriose, e não do epitélio de superfície
ovariano. As anormalidades genéticas mais comuns no carcinoma endometrióide
esporádico do ovário são: mutações somáticas dos genes ARID1A, β-catenina
(CTNNB1), PTEN e instabilidade de microssatélites. Tumores borderlines
endometrióides também têm mutações no CTNNB1 (gene da β-catenina) (Tabela 2)
[11].
Patologia: Embora possam ser císticos, a maioria dos carcinomas endometrióides
é em grande parte sólida com áreas de necrose. Estes tumores são classificados como os
seus homólogos uterinos. De 15% a 20% das pacientes também apresentam um
carcinoma endometrióide uterino. Dados consistentes sugerem que a maioria destes
casos surge independentemente, embora alguns possam ser metástase proveniente de
um ou de outro. Esta distinção tem implicações prognósticas importantes [1,2].
7.4.4. Adenocarcinoma de células claras
Esse tipo de câncer de ovário enigmático está intimamente relacionado com
adenocarcinomas endometrióides e, muitas vezes, ocorre em associação com a
endometriose. Constitui 5% a 10% de todos os cânceres de ovário ocorrendo geralmente
após a menopausa. As anormalidades genéticas mais comuns são as mutações somáticas
dos genes ARID1A, PTEN, e PIK3CA [1,11].
Embora as pacientes geralmente apresentam-se no Estádio I ou II, carcinomas de
células claras têm um mau prognóstico em comparação aos outros carcinomas de ovário
de baixo Estádio. Carcinomas de células claras do ovário assemelham-se a seus
homólogos na vagina, corpo e colo uterinos; eles mostram ninhos ou túbulos de células
malignas com citoplasma claro (Fig. 14E).
Características clínicas: Até o momento muitos cânceres de ovário quando
diagnosticados apresentam implantes metastáticos para a superfície da pelve, para
órgãos abdominais ou bexiga. Tumores de ovário têm tendência a implantar na cavidade
peritoneal no diafragma, goteiras parieto-cólicas e omento. A disseminação linfática é
preferencialmente para linfonodos para-aórticos próximos à origem das artérias renais e,
em menor extensão para as cadeias ganglionares ilíaca externa (pélvica) ou inguinal
[1,2].
A sobrevida de pacientes com tumores ovarianos malignos é geralmente baixa. O
índice prognóstico mais importante é o Estádio cirúrgico do tumor [15]. No geral, a
sobrevida em cinco anos é de apenas 35%. Índices prognósticos para tumores epiteliais
também incluem o tipo e o grau histológicos e o tamanho da neoplasma residual.
A cirurgia, que remove o tumor primário, estabelece o diagnóstico e determina a
extensão da disseminação, é o cerne da terapia. As superfícies peritoneais, omento,
fígado, recessos subdiafragmáticos e todas as regiões abdominais devem ser
visualizadas, assim como tumores metastáticos devem ser removidos sempre que
possível. A quimioterapia adjuvante é utilizada para tratar locais distantes ocultos de
disseminação tumoral.
7.5. Tumores de células germinativas
Os tumores derivados de células germinativas representam um quarto dos tumores
ovarianos. Em mulheres adultas, tumores de células germinais do ovário são
virtualmente benignos (teratoma cístico maduro, cisto dermóide), mas em crianças e
adultos jovens, eles são em grande parte malignos. Em crianças, os tumores de células
germinativas são o câncer de ovário mais comum (60%); eles são extremamente raros
após a menopausa. Raramente os tumores de células germinativas podem surgir a partir
de neoplasias somáticas pré-existentes do trato genital feminino. Nestes casos, os
tumores do grupo do teratoma derivam provavelmente de uma população de células
tronco pluripotentes de neoplasias somáticas [1,2].
Tumores de células germinativas podem se diferenciar em muitas variantes
produzindo:
• Disgerminomas: são compostos por células germinativas primordiais
neoplásicas, semelhante às ovogônias de ovários fetais.
• Teratomas: diferenciam-se em tecidos somáticos (embrionários ou do adulto).
• Tumores do saco vitelino formam endoderma extraembrionária e mesênquima e,
menos frequentemente, derivados endodérmicos embrionários (intestino e fígado).
• Células com características de Coriocarcinoma semelhantes àquelas que
recobrem as vilosidades placentárias.
Tumores de células germinativas malignos em mulheres com mais de 40 anos
normalmente resultam da transformação de um dos componentes de um teratoma cístico
benigno. Tumores de células germinativas malignos tendem a ser altamente agressivos;
no entanto, com a quimioterapia atual, as taxas de sobrevida para muitos excedem 80%
[1,2].
Uma pesquisa recente com células-tronco tem demonstrado vários marcadores
diagnósticos acurados pluripotencias, incluindo fatores de transcrição (SALL4, LIN28,
OCT3 / 4, e SOX2) e as proteínas citoplasmáticas / de membrana (glypican-3) que são
expressas sequencialmente em tumores malignos de células germinativas de acordo com
a sua diferenciação [1,2].
7.5.1. Disgerminoma
Disgerminoma é o homólogo ovariano do seminoma testicular, e é composto por
células germinativas primordiais. É responsável por menos de 2% dos cânceres de
ovário em todas as mulheres. A maioria das pacientes tem entre 10 e 30 anos. Os
tumores são bilaterais em cerca de 15% dos casos.
Patologia: Os disgerminomas são frequentemente grandes e firmes e têm
superfície externa bosselada. A superfície de corte é macia e carnuda. Eles contêm
grandes ninhos de células tumorais uniformes, monótonas, com citoplasma claro rico
em glicogênio e núcleos centrais irregularmente achatadas. Septos fibrosos contendo
linfócitos atravessam o tumor [1,2].
Os disgerminomas são tratados cirurgicamente; a sobrevida em 5 anos para
pacientes em Estádio I é próxima a 100%. Uma vez que o tumor é altamente responsivo
à quimioterapia, mesmo para os tumores em Estádio avançado, a sobrevida em 5 anos é
superior a 80%.
7.5.2. Teratoma
O teratoma é um tumor de origem em células germinativas que se diferencia em
estruturas somáticas. A maioria dos teratomas contem tecidos de pelo menos dois e,
geralmente, de todos os três folhetos embrionários. Teratomas imaturos contêm
elementos derivados das três camadas germinativas. No entanto, ao contrário dos
teratomas maduros císticos, teratomas imaturos contêm tecidos embrionários. Estes
tumores são responsáveis por 20% dos tumores malignos em mulheres com idade
inferior a 20 anos. Microscopicamente, eles mostram vários componentes, tais como
tecido neural imaturo (rosetas neuroepiteliais e células da glia), glândulas, e outras
estruturas encontradas em teratomas císticos maduros. A classificação baseia-se na
quantidade de tecido imaturo presente. A sobrevida correlaciona-se com o grau do
tumor [1,2].
7.5.3. Tumor do saco vitelino
Tumores do saco vitelino são neoplasias altamente malignas de mulheres com
menos de 30 anos de idade que histologicamente se assemelham à endoderme e ao
mesênquima do saco vitelino primitivo (estrutura extra-embrionária) e a tecidos
somáticos embrionários (intestino e fígado). Eles são geralmente grandes, com ampla
necrose e hemorragia. O histotipo mais comum é a forma reticular. Corpos de Schiller-
Duval são característicos e consistem de papilas que se projetam em espaços revestidos
por células tumorais, assemelhando-se a espaços glomerulares. As papilas são
recobertas por um manto de células embrionárias e contêm eixo fibrovascular e vaso
sanguíneo central.
Tumores do saco vitelino secretam α-fetoproteína a qual deve analisada em todos
os tumores de células germinativas. Detecção de α-fetoproteína no sangue é útil para o
diagnóstico e para monitorar a eficácia da terapia. Desde que é invariavelmente fatal,
cinco anos de sobrevida com quimioterapia para tumores do saco vitelino em Estádio I é
superior a 80% [1,2].
7.5.4. Coriocarcinoma
Coriocarcinoma do ovário é um tumor raro que mimetiza o epitélio que recobre as
vilosidades placentárias, designados citotrofoblasto e sinciciotrofoblasto. O teste de
gravidez é positivo e o nível sérico elevado de hCG pode levar à estimulação do ovário
e desenvolvimento sexual precoce em meninas ou alterações menstruais em pacientes
mais velhas. Em mulheres em idade reprodutiva, no entanto, deve ser descartada a
possibilidade de ser uma metástase a partir de um coriocarcinoma gestacional intra-
uterino. O tumor é unilateral, sólido, e amplamente hemorrágico. Embora altamente
agressivo, responde bem à quimioterapia [1,2].
7.6. Tumores dos cordões sexuais.
Estas neoplasias representam 10% dos tumores de ovário, variando de benigno a
maligno de baixo grau, e podem se diferenciar em estruturas do sexo feminino (tumor
de células da granulosa e células da teca) ou masculino (tumor de células de Leydig e de
Sertoli) [1,2].
7.7. Tumor de células da granulosa
Tumores das células da granulosa são as neoplasias funcionais do ovário mais
associadas à secreção estrogênica. Devem ser considerados tumores malignos de baixo
grau devido ao seu potencial de disseminação local e rara ocorrência de metástases à
distância.
A maioria dos tumores de células da granulosa ocorre após a menopausa (forma
adulta) e são incomuns antes da puberdade. A forma juvenil ocorre em crianças e
mulheres jovens e tem características clínicas e patológicas distintas (hiperestrenismo e
puberdade precoce).
Patologia: tumores das células da granulosa do tipo adulto são grandes e
focalmente císticos a sólidos. A superfície de corte mostre áreas amarelas, devido às
células da granulosa luteinizadas ricas em lipídios, zonas brancas de estroma e
hemorragias focais. O arranjo nuclear ao redor de um espaço degenerativo central
(estruturas chamadas de corpos de Call-Exner) resulta em um padrão folicular
característico. As células tumorais secretam α-inibina, uma proteína que suprime a
liberação pituitária do hormônio folículo-estimulante (do inglês FSH). Além de α-
inibina, calretinina, e FOXL2 são os marcadores imunoistoquímicos positivos mais
importantes [1,2].
Características clínicas: Três quartos dos tumores de células da granulosa
secretam estrogênios. Assim, a hiperplasia endometrial é um sinal de apresentação
comum. Adenocarcinomas do endométrio podem se desenvolver se um tumor de células
da granulosa funcionante permanecer não-detectado. No momento do diagnóstico, 90%
dos tumores de células da granulosa estão dentro do ovário (Estádio I). Mais de 90%
destes pacientes sobrevivem 10 anos. Os tumores que se estenderam até a pelve e
abdome inferior apresentam um pior prognóstico. A recidiva tardia após a remoção
cirúrgica não é incomum após 5-10 anos e é geralmente fatal [1,2].
7.8. Tumores de células de Sertoli-Leydig
Os tumores de células de Sertoli-Leydig ovarianos são neoplasias raras do estroma
ovariano, secretoras de esteroides, de baixo potencial maligno e que se assemelham ao
testículo embrionário. As células tipicamente secretam androgênios fracos
(desidroepiandrosterona). Os tumores de células de Sertoli-Leydig podem ocorrer em
todas as idades, mas são mais comum em mulheres jovens em idade fértil. Eles variam
de bem a pouco diferenciados e alguns têm elementos heterólogos (por exemplo
glândulas mucinosas e, raramente, músculo esquelético e cartilagem).
Quase metade de todos os pacientes com tumores de células de Sertoli-Leydig
exibem sinais de virilização. Os sinais iniciais são muitas vezes desfeminização, que se
manifesta como a atrofia das mamas, amenorréia e perda de gordura do quadril. Uma
vez que o tumor seja removido, estes sinais desaparecem ou pelo menos diminuem.
Tumores bem diferenciados são quase sempre curados por ressecção cirúrgica, mas
aqueles mal diferenciados podem metastatisar [1,2].
7.9. Tumor de células esteróides
Tumores de células de esteróides do ovário, também chamados de tumores de
células lipídicas, são compostos por células que se assemelham a células luteínicas,
células de Leydig, e células da cortical da adrenal. A maioria dos tumores de células
esteroidais são hormonalmente ativos, geralmente com manifestações androgênicas.
7.10. Tumores metastáticos ao ovário
Cerca de 3% dos cânceres encontrados nos ovários surgem em outros lugares,
principalmente intestino grosso, mama, endométrio, e estômago, em ordem decrescente.
Estes tumores variam de lesões microscópicas a grandes massas. Tumores metastáticos
grandes o suficiente para causar sintomas originam-se mais frequentemente no cólon e
podem ser secretores de estrogênio.
Tumores de Krukenberg são metástases para o ovário, compostas de ninhos de
células ricas em mucina "células em anel de sinete" infiltradas no estroma celular do
ovário. O estômago é o sítio primário em 75% dos casos e a maioria do restante deriva
do cólon [1,2].
Envolvimento ovariano bilateral e multinodularidade sugerem carcinoma
metastático carcinoma, e ambos os ovários são macroscopicamente envolvidos em 75%
dos casos.
7.11. Descrição macroscópica e processamento de amostras
7.11.1. Ovários císticos grandes ou neoplásicos
Documentar se o tumor do ovário é recebido intacto ou roto e verificar se a
ruptura ocorreu no intra-operatório. Muitos tumores ovarianos são císticos e todos os
lóculos devem ser abertos. Incluir a cápsula do tumor e tumor com parênquima normal
adjacente. Geralmente, cerca de um bloco para cada 2cm de maior dimensão tumor é
suficiente. Procurar a trompa de falópio, que pode estar incorporada ou esticada sobre a
massa tumoral ou cisto. A neoplasia pode coexistir na tuba. Tumores de células
germinativas devem ser amostrados extensivamente [1].
7.11.2. Sistematização para o Estádio
É necessária uma estreita cooperação entre o cirurgião e o patologista. Diretrizes
gerais para o cirurgião incluem:
• avaliar a massa do ovário para excluir metástase de cólon, estômago ou outro
lugar. Notar invasão através da cápsula do tumor e biopsiar áreas de adesão.
• Obter líquido ascítico ou lavado peritoneal para citologia.
• Inspecionar todas as superfícies peritoneais. Provar que os implantes
aparentemente malignos sejam positivos na congelação ou submeter múltiplas
amostras para os cortes permanentes, ou ambos. Inspecionar o diafragma, com
biópsia de lesões visíveis ou raspados para citologia.
• (4) Confirmar acurácia de doença em aparente Estádio I e II, através de
biópsia generosa de omento, de linfonodos das cadeias ganglionares pélvica e
para-aórtica.
• (5) Após a excisão, marcar o espécime indicando para o patologista o local de
ruptura e / ou área (s) de aderência. Registrar se há doença local residual e
estimar sua extensão.
Espécimes submetidas ao exame patológico devem incluir:
• útero com anexos ligados ou submetidos separadamente; de preferência
entregue frescos para o patologista imediatamente. Antes de fixação, abra a
cavidade uterina, mantendo em mente a possibilidade de um carcinoma
endometrial coexistente ou hiperplasia. Verificar a presença de depósitos
tumorais na superfície serosa uterina e amostrar cada seção de qualquer adesão
para excluir metástases microscópicas (uma vez que estes irão aumentar o
estágio da FIGO de Estádio I para Estádio II, pelo menos).
• Omento: Fatiar finamente, à procura de depósitos tumorais e isolá-los. Se nada
for encontrado, representar todas as áreas firmes não usuais. Um a dois blocos
são suficientes. Em mais de 20% dos casos, o omento grosseiramente normal
divulgará focos microscópicos de tumor.
• Linfonodos pélvicos e / ou para-aórticos. Dissecar todo o tecido linfóide.
• Biópsias de peritônio: estas são, frequentemente, muito pequenas e devem ser
tratadas em conformidade.
• Lavagem peritoneal: o cirurgião recolhe o líquido obtido por irrigação salina
das calhas paracólica esquerda e direita, região subdiafragmática, e fundo de
saco de Douglas. Estes fluidos devem ser processados por citologia e
emblocado do sedimento celular (cell block). O fluido ascítico é tratado de
modo semelhante [1,15].
8. Doença trofoblástica gestacional
O termo doença trofoblástica gestational corresponde a um espectro de alterações
com proliferação trofoblástica e maturação anormal, assim como neoplasias derivadas
do trofoblasto.
8.1. Mola hidatiforme completa
Mola hidatiforme completa é constituída por com vilosidades coriônicas
edematosas macroscopicamente, assemelhando a cacho de uvas, e demonstrando
proliferação trofoblástica em graus variáveis. Os vilos são alargados, geralmente
excedendo 5mm de diâmetro.
Fatores etiológicos e patogênese molecular: mola completa normalmente resulta
da fecundação de um óvulo vazio que carece do DNA materno funcional. Mais
comumente, a mola é monoespérmica, ou seja, um conjunto haploide de cromossomos
paternos (23, X), sofre a duplicação para 46,XX, porém mais raramente podem
acontecer molas diespérmicas resultando em 46, XX ou 46, XY. Molas
caracteristicamente não possuem cromossomos maternos. Genes paternalmente
impressos, tais como p57, no qual apenas o alelo materno é expresso, não são expressos
nas células trofoblásticas das vilosidades de molas completas, pois são de derivação
androgenética. Como o embrião morre em um estágio muito precoce, antes da
circulação placentária ter se desenvolvido, algumas vilosidades coriônicas desenvolvem
vasos sanguíneos, mas partes fetais são ausentes. Mulheres com história de mola
hidatiforme prévia tem risco 20 vezes maior de uma gravidez molar subsequente do que
a população em geral [1,2].
Patologia: Microscopicamente, muitas vilosidades individuais têm cisternas. O
trofoblasto é hiperplásico e composto por sinciciotrofoblasto, citotrofoblasto e
trofoblasto intermediário. Atipias celulares consideráveis estão presentes.
Características clínicas: níveis séricos de hCG estão marcadamente elevados e
aumentam rapidamente. Complicações da mola completa incluem hemorragia uterina,
coagulação intravascular disseminada, perfuração uterina, e embolia trofoblástica. A
complicação mais importante é o desenvolvimento de coriocarcinoma, que ocorre em
cerca de 2% dos pacientes.
O tratamento consiste na curetagem do útero, de preferência sob a orientação do
ultra-som e acompanhamento posterior dos níveis séricos de hCG. Até 20% das
pacientes necessitam de quimioterapia adjuvante para a doença persistente, mas uma
taxa de cura de 100% é esperada, mesmo nestas circunstâncias.
8.2. Mola hidatiforme invasiva
As vilosidades de uma mola hidatiforme podem entrar no miométrio ou invadir o
útero até a serosa, atingindo até mesmo o ligamento largo. Os vilos tendem a invadir
canais venosos dilatados do miométrio e um terço se dissemina para locais distantes,
sobretudo para os pulmões. Perfuração uterina é uma das principais complicações, mas
ocorre em apenas uma minoria de casos [1,2].
8.3. Coriocarcinoma gestacional
O Coriocarcinoma ocorre em 1 dentre 160 000 gestações normais; em 1 dentre 15
000 abortos espontâneos; em 1 dentre 5000 gravidezes ectópicas, e em 1 dentre 40
gravidezes molares completas. Diferente da maioria dos outros cânceres, os
coriocarcinomas não apresentam vasculatura tumoral própria. Assim, os tumores são
tipicamente muito necróticos e hemorrágicos e, encontra-se tumor viável apenas às
margens da neoplasia. Há uma população dimórfica, constituída por citotrofoblasto e
trofoblasto, com diferentes graus de trofoblasto intermediário.
O hCG localiza-se no sinciciotrofoblasto. Por definição, os tumores contendo
todas as estruturas vilosas, mesmo se metastáticos, são considerados molas hidatiformes
e não coriocarcinomas [1,2].
O coriocarcinoma invade principalmente através de seios venosos no miométrio e
metastatisa amplamente através da corrente sanguínea, especialmente para os pulmões
(mais de 90%), cérebro, trato gastrointestinal, fígado e vagina. Com a quimioterapia
atual, o reconhecimento de fatores de risco (altos níveis de hCG e intervalo prolongado
desde a gravidez antecedente), e tratamento precoce, a maioria das pacientes fica
curada.
8.4. Tumor trofoblástico do sítio de implantação
são os menos comuns, e compostos principalmente de células trofoblásticas
intermediárias. Trofoblastos mono e multinucleados podem estar presentes como células
intercaladas entre as células do miométrio. Não há vilosidades coriônicas. O tumor
trofoblástico do sítio de implantação distingue-se do coriocarcinoma por sua
proliferação trofoblástica monomórfica (trofoblasto intermediário), ao contrário do
padrão dimórfico do trofoblasto no coriocarcinoma (cito e sinciciotrofoblasto). A
maioria das células expressa lactogênio placentário humano (do inglês hPL) mas poucos
expressam hCG [1,2].
O local do tumor trofoblástico do sítio de implantação deve ser completamente
exterminado (histerectomia) para prevenir a recorrência local. Por vezes, podem causar
metástases e podem ser fatais. Tumores grandes e com índice mitótico maior que 5
mitoses / 10 campos de grande aumento estão associados a pior prognóstico.
Conflito de interesses
O autor não tem conflitos de interesse a declarar.
Referências
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Figura 1. Neoplasia intraepitelial vulvar (NIV) . (A) subtipo bem diferenciado (simples).
Atipia é acentuada nas camadas basais e parabasais . Há acentuada maturação epitelial
nas camadas superficiais . (B) NIV relacionada ao HPV (clássica), com células menos
diferenciadas. Abaixo de uma superfície hiperqueratótica, as células epiteliais são
atípicas. Existem numerosas mitoses .
Figura 2. carcinoma de células escamosas queratinizantes da vulva. Ninhos de células
escamosas neoplásicas, alguns com pérolas córneas evidentes.
Figura 3. Inter-relações dos sistemas de nomenclatura e classificação das lesões
cervicais precursoras. Este gráfico integra vários aspectos da doença. Ilustra as
mudanças da doença em sua progressão e fornece terminologia para a classificação em
displasia / carcinoma in situ (CIS), neoplasia intra-epitelial cervical (NIC) e o sistema
de Bethesda. O esquema também ilustra o esfregaço citológico resultante da esfoliação
das células mais superficiais bem como as lesões histopatológicas equivalentes (na parte
superior) correspondentes. Abreviatura: LIE, lesão intraepitelial escamosa.
Figura 4: Papel do HPV na patogênese da neoplasia cervical
Figura 5. Carcinoma de células escamosas microinvasor. A invasão tumoral mede 5 mm
de profundidade e 4 mm de extensão lateral. Este tumor é Estádio IA2, de acordo com a
classificação da FIGO .
Figura 6. Biópsia / excisão de cone cervical. O comprimento crânio-caudal (A) e o
diâmetro (B) devem ser medidos; além disso as margens radial (A) e endocervical (C)
precisam ser avaliadas (identificadas com tinta). Use um ponto para designar 12h, abra
o cone, o fixe e em seguida, processe todo o material em sequência (Figura reproduzida
com gentilmente cedida por BE Howitt e GL Mutter, Boston, MA , EUA).
Figura 7. Adenocarcinoma do endométrio. (A) Carcinoma endometrióide. Tumor
polipóide com invasão miometrial superficial (à esquerda). Adenocarcinoma bem
diferenciado (grau 1). As glândulas neoplásicas assemelham-se a glândulas
endometriais normais (à direita). (B) Carcinoma não-endometrióide. Tumor necrótico e
amplamente hemorrágico com invasão miometrial profunda (esquerda). Carcinoma não-
endometrióide (seroso) exibindo estratificação de células tumorais anaplásicas e mitoses
anormais (intensa atipia citológica) ( à direita).
Figura 8. Leiomiossarcoma uterino. (A) Uma zona de necrose tumoral coagulativa
aparece bem demarcada do tumor viável. (B) O tumor mostra atipia nuclear
considerável e abundante atividade mitótica.
Figura 9. Carcinoma endometrial. Medições de profundidade da invasão tumoral. (A)
Espessura completa da parede miometrial, medida a partir do endométrio normal (ou
hiperplásico) adjacente ao tumor. (B) Componente tumoral exofítico elevando-se acima
da linha imaginária traçada em relação ao endométrio normal. (C) Profundidade da
invasão. (D) Zona livre de tumor. (E) Largura de tumor. Um tumor é geralmente
descrito por medir n x n x n e invadir 'C'cm em uma parede com 'A' cm de espessura.
Reproduzido com permissão de Mutter e Prat [ 1 ] .
Figura. 10. Técnica para secção uterina. A amostragem inclui colo do útero (A, I);
margens adjacente e profunda do tumor (C, D); segmento inferior uterino e porção
proximal da endocérvice (como em B, H), por exemplo, para determinar se um câncer
endometrial envolve o colo do útero, mudando o seu estádio; fragmento de parede para
avaliar adenomiose (como em D, F) ; e endométrio com áreas aparentemente livres de
tumor (como em C, G) . Reproduzido com permissão de Mutter e Prat [1] .
Figura 11. Seccionar e examinar extensivamente a porção terminal com fímbrias
(protocolo SEE- FIM) para corte do espécime de trompa de falópio. Secções
transversais cortadas em intervalos de aproximadamente 3mm no comprimento da tuba,
e a extremidade com fímbrias cortadas no sentido longitudinal em intervalos de 1-2 mm
( Figura reproduzida gentilmente cedida por BE Howitt e GL Mutter , Boston, MA ,
EUA).
Figura 12. Histogênese de tumores epiteliais ovarianos
Figura 13. Implantes peritoneais de tumor seroso borderline. (A) Implante desmoplásico
não invasivo. O implante invagina entre os lóbulos adjacentes de gordura do omento.
Alguns ninhos de células tumorais estão presentes dentro de um estroma fibroblástico
frouxo. (B) Implante invasivo em omento. As glândulas tumorais e papilas aparecem
distribuídas desordenadamente dentro de um estroma fibroso denso e lembram um
carcinoma seroso de baixo grau.
Figura 14. Exemplos representativos dos cinco tipos de carcinoma ovariano, que juntos
respondem a 98% dos casos: (A) carcinoma seroso de alto grau; (B) carcinoma seroso
de baixo grau; (C) carcinoma mucinoso; (D) carcinoma endometrióide; e (E) carcinoma
de células claras.
Tabela 1. Características clinicopatológicas do carcinoma endometrial
Tipo I: Carcinoma
Endometrióide
Tipo II: Carcinoma Seroso
Idade Pré e perimenopausa Pós-menopausa
Estrogênio sem oposição da
progesterona
Presente Ausente
Hiperplasia Precursora Presente Ausente
Grau Baixo Alto
Invasão miometrial Superficial Profunda
Padrão de crescimento Estável Progressivo
Alterações genéticas Instabilidade de
microssatélites, PTEN,
PIK3CA, beta-catenina
Mutações no p53, perda da
heterozigosidade
Tabela 2. Principais tipos de carcinomas ovarianos
Seroso de Alto Grau Seroso de Baixo
Grau
Mucinoso Endometrióide Células Claras
Estádio usual ao
diagnóstico
Avançado Precoce ou avançado Precoce Precoce Precoce
Tecido presumível de
origem / lesão
precursora
Metaplasia tubária e
inclusões epiteliais
superficiais ovarianas
ou trompa de Falópio
Tumor seroso
borderline
Sequência adenoma-
borderline-
carcinoma; ou
teratoma
Endometriose,
adenofibroma
Endometriose
adenofibroma
Risco genético BRCA 1/2 ? ? HNPCC ?
Anormalidades
genéticas significantes
vias p53 a pRB BRAF ou K-RAS K-RAS PTEN, B-catenina,
ARID1A, PIK3CA,
K-RAS, MI
HNF-1B, ARID1A,
PIC3CA
Proliferação Alta Baixa Intermediária Baixa Baixa
Resposta à
quimioterapia primária
80% 26%-28% 15% ? 15%
Prognóstico Pobre Favorável Favorável Favorável Intermediário
HNPCC: câncer colorretal hereditário não polipoide.