Pão por Deus

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Divulgação dos museus açorianos inter museus Comunicar iM iM iM iM iM Museu da Horta Espaço Museu Espaço Museu Espaço Museu Espaço Museu Dezembro 2006 nº 7 PRESIDÊNCIA DO GOVERNO REGIONAL DOS AÇORES Editorial Direcção Regional da Cultura Luís Meneses, Luís Meneses, Luís Meneses, Luís Meneses, Luís Meneses, Director do Museu Maria Manuel Velasquez, Chefe de Divisão do Património Móvel e Imaterial Destaques Destaques Destaques Destaques Destaques Pág. 05 Festival de Moscovo “Mediating Camera” Pág. 04 Antonieta Costa Antonieta Costa Denominado com o nome da cidade açoriana que o alberga, o museu foi criado em 1977 (Decreto Regulamentar Re- gional nº 21 de 18 Julho), sendo constituído pelo núcleo sede e pelo Núcleo Museológico dos Capelinhos, afecto ao mesmo no ano de 1997. No acto da fundação do Museu da Horta, foi-lhe atribuído para a sua instalação o antigo Colégio dos Jesuítas, que em conjunto com a Igreja Matriz, é o mais amplo e rico edifício que a Companhia de Jesus construiu nos Açores, estando classificado como Monumento Regional (Resolução nº 41/80 de 11 de Junho). Nesta edição, o Espaço Museu é de- dicado ao Museu da Horta, repositório de um conjunto heterogéneo de colecções, datadas do século XVI até à actualidade. Este número dedica, também, especial atenção à cultura imaterial, neste caso o cerimonial “Pão–por-Deus”, um peditório ritual executado por crianças no dia 1 de Novembro (início da época dedicada ao Culto dos Mortos). Destacamos, igualmente, nesta edição a Antropologia Visual como disciplina que re- corre a tecnologias e métodos de comu- nicação visual, que poderá promover a animação dos objectos disponíveis nos es- paços museológicos, enquadrando-os nas respectivas vivências, ou então documentando os sistemas de valores, crenças e folclore que presidiram à sua época. Esta nova disciplina, através da comunicação por imagens, permite reproduzir uma imagem viva da cultura e enriquece o processo de musealização dos museus. Esperamos que, de alguma forma, esta informação possa contribuir para o enrique- cimento dos trabalhos de inventariação e documentação em curso nos museus. O “Culto dos Mortos” base das religiões indo-europeias Editor: Coordenação geral: Coordenação editorial: Design: Paginação: Colaboradores nesta edição: E-mail: Presidência do Governo Regional dos Açores Direcção Regional da Cultura Maria Manuel Velasquez João Paulo Constância Rosa Veloso Carlos Sousa Rui Marques Antonieta Costa Isabel Feijão Luís Meneses Mercês Meneses [email protected]

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Divu lgação dos museus aço r i anos

intermuseusComunicariMiMiMiMiM

Museu da Horta

Espaço Museu Espaço Museu Espaço Museu Espaço Museu

Dezembro2006nº 7

PRESIDÊNCIA DO GOVERNOREGIONAL DOS AÇORES

Editorial

Direcção Regionalda Cultura

Luís Meneses, Luís Meneses, Luís Meneses, Luís Meneses, Luís Meneses, Director do Museu

Maria Manuel Velasquez,Chefe de Divisão do Património Móvel e Imaterial

DestaquesDestaquesDestaquesDestaquesDestaques

Pág.

05

Festival de Moscovo“Mediating Camera”

Pág.

04

Antonieta Costa

Antonieta Costa

Denominado com o nome da cidadeaçoriana que o alberga, o museu foi

criado em 1977 (Decreto Regulamentar Re-gional nº 21 de 18 Julho), sendo constituídopelo núcleo sede e pelo Núcleo Museológico dosCapelinhos, afecto ao mesmo no ano de 1997.

No acto da fundação do Museu da Horta,foi-lhe atribuído para a sua instalação o antigoColégio dos Jesuítas, que em conjunto com aIgreja Matriz, é o mais amplo e rico edifício quea Companhia de Jesus construiu nos Açores,estando classificado como MonumentoRegional (Resolução nº 41/80 de 11 deJunho).

Nesta edição, o Espaço Museu é de-dicado ao Museu da Horta, repositório de umconjunto heterogéneo de colecções, datadasdo século XVI até à actualidade.

Este número dedica, também, especialatenção à cultura imaterial, neste caso ocerimonial “Pão–por-Deus”, um peditório ritualexecutado por crianças no dia 1 de Novembro(início da época dedicada ao Culto dosMortos).

Destacamos, igualmente, nesta edição aAntropologia Visual como disciplina que re-corre a tecnologias e métodos de comu-nicação visual, que poderá promover aanimação dos objectos disponíveis nos es-paços museológicos, enquadrando-os nasrespectivas vivências, ou então documentandoos sistemas de valores, crenças e folclore quepresidiram à sua época. Esta nova disciplina,através da comunicação por imagens, permitereproduzir uma imagem viva da cultura eenriquece o processo de musealização dosmuseus.

Esperamos que, de alguma forma, estainformação possa contribuir para o enrique-cimento dos trabalhos de inventariação edocumentação em curso nos museus.

O “Culto dos Mortos” basedas religiões indo-europeias

Editor:

Coordenação geral:

Coordenação editorial:

Design:

Paginação:

Colaboradoresnesta edição:

E-mail:

Presidência do GovernoRegional dos AçoresDirecção Regionalda Cultura

Maria Manuel Velasquez

João Paulo ConstânciaRosa Veloso

Carlos Sousa

Rui Marques

Antonieta CostaIsabel FeijãoLuís MenesesMercês Meneses

[email protected]

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Espaço Museu Espaço Museu Espaço Museu Espaço Museu

Museu da Horta

Exposição permanente “Miolo de Figueira”

Espaço Museu Espaço Museu Espaço Museu

Museu da HortaExposições

O Colégio dos Jesuítas, é um edifíciodo século XVIII, que após o terramoto

de 1926, que destruiu grande parte da cidadeda Horta, foi reconstruído com a finalidade dealbergar serviços administrativos. Mantendo-seainda hoje com a mesma configuraçãoespacial, o museu apenas ocupa uma parte doque lhe fora destinado, vivendo paredes meiascom repartições na dependência do Ministériodas Finanças.

Quanto ao Núcleo Museológico dosNúcleo Museológico dosNúcleo Museológico dosNúcleo Museológico dosNúcleo Museológico dosCapelinhosCapelinhosCapelinhosCapelinhosCapelinhos, está albergado num edifício deconstrução de pedra basáltica, típico dearquitectura popular rural das ilhas, nafreguesia do Capelo, concelho da Horta.

Instituído o Museu da Horta com amissão genérica de preservar o património deuma comunidade, foi em substância o espíritocoleccionista que o foi recheando, tendo-se àposteriori, determinado a sua vocação de âm-bito regional, em matéria de política de aqui-sições, conservação e investigação.

O Museu da Horta, espelha hoje aquelanecessidade inicial de uma política deincorporação de acervo de natureza diversa,que corria o risco de se perder, quando àpartida, já era herdeiro de um espólio decarácter etnográfico e de história natural, deum anterior museu do município faialense,que funcionara entre 1943 e finais da décadade 60.

Já o Núcleo Museológico dos Capeli-nhos, foi de raiz projectado para a instalaçãode uma exposição documental sobre aerupção do Vulcão dos Capelinhos, ocorridano ano de 1957.

O museu como uma organização cultural,procura no âmbito da sua vocação históricapré-definida, sem uma especialidade objec-tiva dentro daquela linha, dar resposta à suamissão: a incorporação, a investigação, aconservação, a exposição e o relacionamentocom outras instituições.

Não beneficiando ainda de instalaçõesadaptadas à sua vocação, o que leva a quecom frequência muitas exposições tempo-rárias se organizem em espaços exteriores aomuseu, procura desempenhar um papel depólo aglutinador e difusor de preservação damemória colectiva da comunidade insular,cujo trabalho museográfico se pauta por serdidáctico e objectivo, perante a diver-sidade dos seus públicos.

No museu, encontramos duas pequenasexposições de longa duração e, três

espaços destinados a exposições temporárias:-Memória de um Espaço, que identifica o

imóvel onde o visitante se encontra, sendoilustrada com documentação gráfica, foto-gráfica, epigráfica, imaginária sacra e mobi-liário, organizada de forma evolutiva.

-Miolo de Figueira, que constitui umacolecção de um só autor, que é constituídapor peças feitas a partir da extracção da seivados ramos adultos da figueira brava, e que

ainda hoje é uma das poucas produções arte-sanais e tradicionais, que se mantém comalguma regularidade na ilha do Faial.

No Núcleo Museológico dos Capelinhos,pólo agregado ao Museu da Horta, contémuma exposição permanente relativa ao fenó-meno vulcânico ocorrido em 1957, compostapor documentação gráfica, fotográfica e fra-gmentos de rochas e escórias, dispondo aindade uma apresentação de fotografias por meioinformático e de um documentário mul-timédia.

Cutty SarkEuclides Rosa (1910 - 1979)

Miolo de Figueira41, 5 cm X 13, 5 cm

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Espaço Museu Espaço Museu Espaço Museu

Participantes

Notícias Notícias

Notícias

Divulgação

Concepção de sítiosConcepção de sítiosConcepção de sítiosConcepção de sítiosConcepção de sítiosde Internet em museusde Internet em museusde Internet em museusde Internet em museusde Internet em museus

Nos últimos anos, a Divisão do PatrimónioMóvel e Imaterial (DPMI) da DirecçãoRegional da Cultura dos Açores (DRaC) temvindo a desenvolver projectos que visam adivulgação do património móvel existente nosmuseus, utilizando os meios promocionaistradicionais e/ou recorrendo às novastecnologias de informação e de comunicação.Atendendo às necessidades de formaçãonesta área, e no âmbito do protocolo firmadoentre o IPM/ RPM e a DRaC, entidade quetutela os museus da Rede Regional deMuseus dos Açores, realizou-se na ilhaTerceira o curso Concepção de sítios deInternet em museus.A formação decorreu no Palacete Silveira ePaulo, situado na cidade de Angra doHeroísmo, de 6 a 8 de Novembro. Ocoordenador deste curso foi o Dr. AdolfoSilveira, técnico superior do Museu Nacionalde Arqueologia, responsável pelo siteinternacionalmente premiado do citadomuseu.Participaram nesta formação técnicos devários museus da Região Autónoma dosAçores bem como técnicos da DPMI.

Adolfo Silveira, coordenador do curso

Museu da HortaColecções

Exposição temporária: Expressões e objectos cultuais

O Museu da Horta é formado por umconjunto heterogéneo de colecções,

abrangendo um vasto campo disciplinar.Resultante de depósitos públicos e privados,doações e aquisições, e compreendo umperíodo cronológico que vai do século XVI àactualidade, o acervo distribui-se pelasseguintes colecções, de forma genérica:etnografia, objectos e engenhos ligados aantigos ofícios e às tecnologias tradicionaisagrícola, do linho, da lã e cerâmica; objectostecnológicos, relacionados com a história doPorto da Horta e a cabo-telegrafia; artesplásticas; documentos fotográficos; docu-mentos impressos e manuscritos; exemplaresde história natural, mineralogia e geologia.

Do núcleo de arte, destacam-se aspinturas do séc.XVII e XVIII da escola

portuguesa, de Bento Coelho da Silveira eVieira Lusitano, e de arte contemporânea, deSousa Pinto, Domingos Rebelo, Manuel Lapa,António Dacosta, Mário Cesariny, GuilhermeParente, Graça Coutinho, Carlos Carreiro, JoséNuno da Câmara Pereira, José França Machadoe Luís França Machado.

À parte do espólio descrito, é de realçara colecção de manufactura executada em miolode figueira, que o integra desde 1980, e que,sendo única, está instalada como exposição delonga duração.

Por último, registe-se que desde afundação do museu, tem-se vindo a incorporardocumentação de apoio ao estudo dascolecções e, uma biblioteca especializada emhistória local e regional e, história dearte.

Exposição permanente do NúcleoMuseológico dos Capelinhos

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Notícia

Festival de Moscovo“Mediating Camera”

Antonieta Costa

Notícias Notícias Notícias

Divulgação

Inventariação do espólio doInventariação do espólio doInventariação do espólio doInventariação do espólio doInventariação do espólio doPPPPPalácio dos Capitãesalácio dos Capitãesalácio dos Capitãesalácio dos Capitãesalácio dos Capitães-----GeneraisGeneraisGeneraisGeneraisGenerais

Sob este título aconteceu entre 8 e 14de Outubro de 2006, na Universidade

Lomonosov de Moscovo, um importante Con-gresso com mostra de documentários de An-tropologia Visual. Cerca de 107 trabalhosforam visionados fornecendo uma vasta pano-râmica da morfologia da nova disciplina (subdisciplina da Antropologia Social), agoradenominada Antropologia Visual.

Aparentemente, e segundo a perspectivaali apresentada, a produção do documentárioantropológico (neste conceito incluindo o et-nográfico e o etnológico) contém um potencialque, devidamente utilizado, poderá fazerdeslocar uma parte do foco de interesses dogrande público, dos factos (na sua maior par-te relatados em reportagens de “notícias”) para as“pessoas”. Esta prevista viragem, a ter lugarno que constitui a base do discurso dos mediavisuais, poderá (segundo as conclusões do Con-gresso), passar a focar mais o “acto cultural” eseus sentidos (que assim passarão a ganharuma maior visibilidade), contrapondo-se aosaspectos exteriores, actualmente abordadosapenas como “notícia”.

Esta faceta ilustra resumidamente a ca-pacidade pragmática contida no novo instru-mento disponibilizado pela disciplina, que aorecorrer a tecnologias e métodos da comuni-cação visual, registando em filmes, fotografia,vídeos e outras representações pictóricas ouimagéticas os seus conteúdos, consegue a-presentar um diferente atractivo à informaçãopública. O segredo estará em saber utilizar oque na Antropologia Visual pode abrir um novodomínio prático, patenteando, através do pro-duto final e da sua posterior análise, os modoscomo as pessoas estruturam a “realidade”. Osresultados são a criação de uma plataforma decomunicação sobre cultura e sua percepçãopictórica/imagética, que agora despertam in-teresse numa grande variedade de públicos, osquais mesmo que apenas focados na super-fície do conteúdo (como anteriormente), passama absorver a natureza mais profunda da mensagem,graças à utilização de um meio comum aosdois processos.

Este instrumento ganhou portanto, pre-sentemente (2006), como abordagem antro-pológica, possibilidades de uma grande expansão,quer em Escolas, para documentar qualquerdomínio da investigação/recolha, quer em Mu-seus, onde o efeito pedagógico dos conteúdospode ser potenciado, quer ainda na sociedade

de consumo. Conjugando investigação e cons-trução fílmica da realidade remete as questõesda teoria antropológica para um segundo plano,fixando-se no nível da comunicação prática, decampo, embora as formas de simbologia pictóricaa que recorre exijam um enquadramento his-tórico e cultural.

Tendo em consideração que as teorias re-ferentes à comunicação por imagens (pic-tórica) dependem também das tecnologias edos métodos de gravação disponíveis, a dis-ciplina facilita a possibilidade de recorrer afórmulas práticas para o seu ensino e futurautilização, por exemplo, nos espaços museoló-gicos, onde pode promover a animação dosobjectos ali disponíveis, enquadrando-os nasrespectivas vivências, ou então documentandoos sistemas de valores, crenças e folclore quepresidiram à sua época, etc. Todas essas emuitas outras abordagens à cultura imaterial,que subjaz ao contexto museológico, podemusufruir da Antropologia Visual como forma deconjugar esforços no sentido de reproduziruma imagem viva da cultura, enriquecendotodo o seu processo de musealização.

Mas este uso implica investir seriamentena representação (filmes, vídeos, fotos, etc.)do modo como estão estruturadas as interrelações que compõem cada sistema social,nomeadamente nas suas bases e escalas devalores, matéria que irá emergir através da Antro-pologia Visual, como suporte aos objectos da culturamaterial que compõem os conteúdos museo-lógicos.

O que, em última análise, resulta num acrés-cimo de conhecimento sobre o ser humano, apa-rece nos documentários produzidos sob a égide daAntropologia Visual numa mais valia que, su-bitamente, se vê atirada para primeiro plano.

O confronto com a variedade de modosde pensar, de comportamentos e de sistemassociais, submetidos à apreciação pública, alertapara os princípios que gerem o multicul-turalismo e a diversidade cultural, podendodizer-se deste modo que, mesmo docu-mentando situações de ordem prática, autilização da Antropologia Visual conduzsempre ao conhecimento do homem (naturezahumana) através da Cultura (material eimaterial) e das suas formas decomunicação.

Prato raso do serviço de mesa da Vista Alegre.Porcelana branca decorada com esmaltes policromos eouro.D. 25,8 cmPCG 25

A Divisão do Património Móvel e Imaterial(DPMI) da Direcção Regional da Cultura emparceria com a Coordenação dos Palácios daPresidência do Governo Regional, deu inícioao trabalho de inventariação, no passado mêsde Outubro, do espólio do património móveldo Palácio dos Capitães-Generais em Angrado Heroísmo. Este trabalho encontra-se a serexecutado utilizando a aplicação Docbase, talcomo todos os museus da Rede Regional.Desta forma, estes elementos tambémficarão disponíveis na base de dados emconstrução.O espólio comporta uma grande quantidade evariedade de peças, tendo-se optado porcomeçar pela inventariação do materialcerâmico, devido à grande quantidadeexistente. Por exemplo, o serviço de mesa daVista Alegre e o conjunto de copos em cristaldo século XVIII, que ostentam a inscrição dobrasão da Região Autónoma dos Açores,possuem aproximadamente 620 e 370 peças.Existem outros exemplares de grandeinteresse, como são o caso do grandenúmero de porcelanas chinesas de exportação(algumas brasonadas) e faiança inglesa.Levado a efeito pela técnica superior IsabelFeijão, da DPMI, o trabalho de inventáriodecorrerá durante o ano de 2007.

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Divulgação

O “Culto dos Mortos”, base das religiões Indo-Europeias

Antonieta Costa

Muito anteriormente à era Cristã (oumesmo à Hebraica), o “culto dos

antepassados” terá sido a forma religiosautilizada pelo homem no seu contacto com osobrenatural.

Monumentos megalíticos, como Menires,Dólmenes, Cromelechs, etc. tornaram-se re-cintos privilegiados, onde os mortos (muitasvezes aí sepultados) eram invocados, paraprotecção dos vivos.

Embora características de um passadomuito distante, as marcas dessa cultura me-galítica (como ficou conhecida), estão aindapresentes entre os habitantes actuais.Nomeadamente nos Açores, cujas populaçõesnunca vivenciaram tais situações, é comum oconfronto com os seus vestígios, expressosem formas de pensar e em comportamentos,seus indicadores.

Está neste caso o cerimonial do Pão-por-Deus, um peditório ritual (dos vários distribuí-dos pelo ano agrário), executado por crianças,no dia 1 de Novembro (início da época dedi-cada ao Culto dos Mortos). Aparentementeuma simples brincadeira, sem outras impli-cações, na realidade assenta no pressupostode que as dádivas (doces, rebuçados, “cas-piadas”, castanhas, laranjas, etc.), seriamapreciados pelos mortos (em nome de quemsão oferecidos) ao serem saboreados pelascrianças. As “caspiadas”1 têm ainda a ênfasecolocada na configuração (que deveria lem-brar o topo de um caveira), sendo claramenteum manjar ritual. A sua forma invertida sim-boliza a “calote tântrica”, taça indispensávelaos rituais dos mortos Tibetanos. No México(talvez resíduos de algum hábito Espanhol

para lá levado) esses bolinhos “dos Mortos”,têm mesmo a forma de pequenas caveiras,sendo comercializados apenas nesse dia (1.ºde Novembro, dia dos Mortos), com grandeprocura.

Uma outra dádiva ritual deste dia é a depequenas moedas, de cêntimos, que vão sen-do guardadas com essa finalidade. Emborapareça estranha a oferta de dinheiro a crian-ças, o seu significado porém justifica-o: sim-bolizava o dinheiro necessário ao pagamentodo barqueiro na travessia do “rio da morte” (o“Styx” Grego). Caso não fosse cumprida estadádiva, dizia-se que o morto ficaria impos-sibilitado de passar o rio, permanecendoassim no mundo dos vivos, incomodando-os einquietando-os. Era então hábito meter moe-

das nos bolsos dos mortosantes do seu enterro. Poressa razão é muito comumencontrar moedas nas se-pulturas antigas.

O peditório ganhoucolorido local com o usode pequenas saquetas deretalhos (patchwork), comas quais são criadas ver-dadeiras mostras de arte-sanato.

Por outro lado, um há-bito mais usual em Portu-gal continental2, embora semanifeste também em al-gumas Ilhas, é o de “cas-

Saquetas para o peditório

Peditório Ritual executado por crianças no dia 1 de Novembro

tigar” quem se recusa às dádivas, comcantigas ofensivas. Em alguns locais (i.e. Bis-coitos, Terceira), as cantigas servem as duassituações: para agradecer e para pe-nalizar.

Caspiadas (ou Escaldadas)

1 ReceitaCaspiadasCaspiadasCaspiadasCaspiadasCaspiadas (ou Escaldadas)8Kg. de farinha de milho amarela (a amarela é mais macia e mais doce doque a branca), coada, ou passada em peneira fina.2kg. de farinha de trigo2 dúzias de ovos2 kg. de açúcar2 litros de leite500grs. de manteigaCanela em cascaErva doceFolhas de laranjeira azedaErva de Nossa Senhora

Fervem-se os ingredientes no leite e escalda-se a mistura das duasfarinhas, à noite, ficando de um dia para o outro em repouso. Na manhãseguinte amassa-se a mistura com os ovos, açúcar e manteiga. Deixa-selevedar.Fazem-se bolinhos do tamanho de uma mão fechada, que vão ao forno delenha.São mais apreciados os que ficam com a superfície rugosa, ‘arreganhada’.Na Bélgica diz-se que assim deixam ver as costuras dos ossos dacaveira…

2 Oliveira, Ernesto Veiga de, Festividades Cíclicas em Portugal, D. Quixote,Lisboa, 1984

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Comunicarintermuseus

Dezembro2006nº 7

Direcção Reg iona l da Cu l tu ra6

Web Links

http://wwwhttp://wwwhttp://wwwhttp://wwwhttp://www.metmuseum.org.metmuseum.org.metmuseum.org.metmuseum.org.metmuseum.org

Espaço Museu Espaço Museu Espaço Museu Espaço Museu

Museu da Horta

Exposições temporárias

http://wwwhttp://wwwhttp://wwwhttp://wwwhttp://www.guggenheim.org.guggenheim.org.guggenheim.org.guggenheim.org.guggenheim.org

Exposição temporária “Expressões contemporâneas”

iMiMiMiMiM

Comentário:Comentário:Comentário:Comentário:Comentário: Fundado em 1870, a colecçãodo Metropolitan Museum of Art, localizadoem New York, possui hoje mais de 2 milhõesde obras de arte de todas as partes domundo, desde a pré-história até àactualidade. Recomendamos uma visita aosite deste museu não só pelo interesse dainformação que disponibiliza on-line comotambém por ser um bom exemplo deconstrução de um sítio de Internet de ummuseu.

Comentário:Comentário:Comentário:Comentário:Comentário: Este site dá acesso a 5 dos maisfamosos museus de Arte Moderna eContemporânea, localizados nos EstadosUnidos da América (New York e Las Vegas);em Espanha (Bilbao), na Alemanha (Berlin) eem Itália (Venezia).

http://wwwhttp://wwwhttp://wwwhttp://wwwhttp://www.museumwnf.museumwnf.museumwnf.museumwnf.museumwnf.org.org.org.org.org

ComentárioComentárioComentárioComentárioComentário: Museu sem Fronteiras é aentidade responsável pela criação eimplementação de um museu virtual. Aindaem construção já se encontra disponível o sitededicado à Arte Islâmica: http://www.discoverislamicart.orgEm preparação encontra-se o site dedicado àArte Barroca – Museu Virtual à Descoberta daArte Barroca. Este museu tem comoobjectivo, através de prestigiadas colecçõesexistentes em museus europeus, funcionarcomo porta de entrada de um verdadeiromuseu sem fronteiras. Portugal é um dospaíses envolvidos neste projecto.

Pode ser vista no Museu da Horta, até10 de Dezembro, uma exposição tem-

porária de pintura e escultura contemporânea,do acervo à guarda do Museu da Horta, emque constam os seguintes autores: DimasSimas Lopes, Eduardo Carqueijeiro, José Fran-ça Machado, Luís França Machado, JoséNuno da Câmara Pereira e Tomás Vieira.

Entre 12 de Dezembro de 2006 e 31 deJaneiro de 2007, será instalada uma novaexposição sob o título, João José da Graça -o introdutor da imprensa escrita no Faial

O aparecimento da imprensa na Hortacoincide com o aparecimento do primeiro

jornal entre os faialenses, dado à estampacom o nome de O Incentivo, a 10 de Janeirode 1857. O seu introdutor, João José da Gra-ça, nasceu na cidade da Horta a 15 de Abrilde 1836, e era professor do Liceu Nacional daHorta, leccionando as disciplinas de Inglês eFrancês.

A introdução de um periódico noticioso eliterário na Horta, foi a seu tempo um actoousado a que os influentes locais nãodeixaram de hostilizar, habituados à fórmulamanuscrita e, à inexistência de opiniãopública crítica.

Espaço Museu Espaço Museu Espaço Museu Espaço Museu

Museu da Horta

Notícia

Sendo um dos problemas estruturais doMuseu da Horta, com maior urgência de

resolução, a infiltração de água das chuvas,procede-se neste momento à reparação detoda a cobertura, com uma área de 1 180.00

m2, cujo valor de adjudicação da empreitada foide 107.580,32 euros (cento e sete milquinhentos e oito euros e trinta e doiscêntimos), com prazo de execução de trêsmeses.