o Povo e o Mito Da Liberdade e Da Igualdade

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    http://www.comunidadestalin.blogspot.com.br/

    Enviado para comunidade Josef Stlin pelo

    camarada Muri de Carvalho.

    O POVO E O MITO DA LIBERDADE E DA IGUALDADE NA CIDADE DO CAPITAL

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    O POVO E O MITO DA LIBERDADE E DA IGUALDADE NA CIDADE DO CAPITAL

    Muri de Carvalho1

    A aristocracia operria e a intelligentsia universitria procuram por caminhos enviesadosjogar na lixeira da historia as seguintes categorias de anlise: modo de produo, relaesde produo, base e superestrutura ideolgica, luta de classes, revoluo, ditadura doproletariado dentre outras.

    Quando as utilizam o fazem como se elas fossem a grande novidade do marxismo. Por isto possvel deduzir sem sombra de dvida que eles (1) preferem o vcuo existencial dosubjetivismo pfio das filosofias idealistas e reacionrias; (2) preferem a inpcia crnica, aincapacidade estrutural que os condena agnosia em relao a historia e seus processos

    contraditrios; (3) preferem a iluso mistificando o reino da burguesia, hoje ornada comos ornamentos neoliberais; (4) enfim, abnega o reino da liberdade, o comunismo.

    Mais ainda. Negam que nas ltimas dcadas no Brasil ao lado do desenvolvimentoinaudito da indstria e uma expanso nem sequer sonhada das exportaes e dasimportaes, ocorreu o aumento de riqueza e de poder, restringido exclusivamente sclasses possuidoras tem sido na realidade embriagador (MARX, K. y ENGELS, F. Manifestoinaugural da associao internacional dos trabalhadores. Obras Escolhidas em trs tomos,t. 2. Moscou: Progresso, 1981. p. 9).

    Neste sentido, intenciona-se obstruir a compreenso histrica de que a emancipao daclasse operria deve ser obra da prpria classe operria; que a luta pela emancipao da

    classe operria no uma luta por privilgios e monoplios de classe, seno peloestabelecimento de direitos e deveres iguais, e pela abolio de todo o domnio declasses (Idem, p. 14).

    Observa-se, ainda, a inteno de escamotear e afirmar que o submetimento dotrabalhador ao monoplio dos meios de trabalho, isto , das fontes de vida, a base daservido em todas as suas formas, de toda a misria social, degradao intelectual edependncia poltica (Idem, ibidem).

    Esse retrocesso um retorno Kant medida que a soluo das antinomias apresentado como algo que estaria situado alm da razo humana, ou seja, algopermanece obscuro ao entendimento humano, pelo menos ao entendimento do homemoperrio em sua permanente imaturidade ou menoridade de que ele prprio culpado(KANT, I.A paz perptua e outros opsculos. Lisboa, Edies 70, 1992. p. 11).

    Apesar de se pretenderem como o farol a iluminar o caminho o esclarecimento, essesintelectuais iluministas [eles detm a verdade, a luz], esquecendo que um dia foramalunos, consideram que por preguia e covardia que os estudantes [homens e mulheres]em to grande parte, aps a natureza os ter h muito liberado do controlo alheio

    1Professor Doutor Associado do Departamento de Desportos do Centro de Educao Fsica e Desportos da

    Universidade Federal do Esprito Santo.

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    [naturaliter maiorennes] continuem, no entanto, de boa vontade menores durante toda avida (Idem, ibidem).

    Essa argumentao, nem sempre explcita nos pedantes intelectuais da nova direita, tempor pano de fundo o assumir o controle da situao como seus tutores [dos imaturos oumenores]. Kant a propsito diz: to cmodo ser menor, isto porque, no me foroso pensar, quando posso simplesmente pagar; outros empreendero por mim essatarefa aborrecida (Idem, p. 11-12).

    Deve ser gostoso ser tutor, receber, e muito bem, por tal funo. Ao longo da histria, osintelectuais, mesmos os mais progressistas, tm produzido laudas e laudas para afirmar/ considerar a passagem maioridade muito difcil e tambm muito perigosa. Por isto, debom grado tomam a seu cargo a superintendncia dos educandos. Depois, obviamente,de primeiro terem embrutecido seus animais domsticos e evitado cuidadosamente que

    as crianas e adolescentes pacificamente ousam de mote prprio dar um passo, mostram-lhes o perigo que as ameaa, se tentarem andar sozinhas.

    fundamental combater os epgonos pretensiosos que, hoje, se ufanam ao falar de Marxe Engels, sem os conhecerem, tratando-os como ces mortos; e o marxismo comoindignao histrica manipulada por intelectuais sectrios perdidos em utopiascondenadas e enterradas pela prpria histria.

    A propsito, Lenin, acerca do sectarismo, diz o seguinte:

    No pode haver sectarismo quando a tarefa se reduz a contribuir para a organizao doproletariado, (da mesma forma) no pode haver dogmatismo ali onde o critrio supremo enico da doutrina a sua conformidade com o processo real do desenvolvimento scio-

    econmico (LENIN, V. I. A aliana da classe obreira e do campesinato. Moscou: Progresso,1981. p. 20).

    Os marxlogos, sob a prdica de que o drago capitalista morrer por si mesmo, trocarama prtica revolucionria por simples teorias. As dificuldades do pensamento e da lgicadialtica foram trocadas por doces canes que enlevam os incautos e os marinheiros deprimeira viagem que sempre fomos. Muitos de ns ao se desiludirem com o socialismoreal (e no aquele projetado por sua fantasiosa imaginao de pequeno burgus) e sedecidiram viver no mundo de iluso e aparncia criadas por desejos irrealizveis, cujoresultado a narcose e dissoluo de quaisquer valores ticos.

    A democracia apregoada como recurso retrico contrape-se aos princpiosrevolucionrios da possibilidade e necessidade histrica de destruio do capitalismo, porser este empecilho nico transformao do reino das necessidades em reino daliberdade. Neste caso, a real democracia2 ou a democracia em geral so falas utilizadaspelos intelectuais orgnicos da burguesia para enganar as massas [e estudantes]ocultando-lhes o carter burgus da democracia contempornea e, obviamente,

    2Sobre o conceito real de democracia sugiro a leitura de LENIN, V. I. Como enganar o povo com as

    consignas de liberdade e igualdade. Obras Completas em cinquenta e cinco tomos, t. 38. 5.ed. Moscou,

    Progresso: 1986, p. 356.

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    Apresent-la como democracia em geral ou como democracia pura. Falar de democraciapura, de democracia em geral, de igualdade, de liberdade quando os operrios e todos ostrabalhadores esto famintos, desnudos, arruinados e torturados pela escravido

    assalariada capitalista, enquanto os capitalistas e especuladores continuam possuindo apropriedade roubada e a mquina existente do Estado enganar os trabalhadores eexplorados (LENIN, V. I. Democracia x ditadura. Obras Completas cinquenta e cinco tomos, t.37. 5.ed. Moscou: Progresso, 1984. p 403).

    Observando o quotidiano com um determinado rigor intelectual, conseguimos, semsombra de dvida, ver a falcia da democracia pura predicada pela nova direita medidaque a burguesia liberal ou neoliberal ao conceder reformas com uma mo, a retirar com aoutra, ou seja: as reduz a nada ou as utiliza para subjugar os operrios, para dividi-los emgrupos, para eternizar a escravido assalariada dos trabalhadores (LENIN, V. I. Marxismoe reformismo. Obras Completas em cinquenta e cinco tomos, t. 24. 5.ed. Moscou:

    Progresso, Moscou, Progresso, 1984. p. 1).Na Academia a ao deletria dessas aristocracias sobre os comunistas revolucionrios, osmarxista-leninistas um neomacartismo que nos remetem uma clebre declarao doConde Jaubert, Hiplito Francisco3 no ano de 1835, citada por Marx: o extermnio daInternacional4 o grande problema de todos os governos civilizados (MARX, K. Guerracivil na Frana. In KARL, M. e ENGELS, F. Obras escolhidas em trs tomos, t. 2. Moscou:Progresso, 1981. p. 255).

    A rigor, o terreno de onde brotam os revolucionrios o da prpria sociedade moderna.No sendo possvel, pois extermin-los, por maior que seja a carnificina. Para faz-los, hque se exterminar o despotismo selvagem do capital sobre o trabalho, base da sua prpria

    existncia parasitria; h que se suprimir o capital enquanto o nico mal da produocapitalista (MARX, K. O capital, livro 1, v. 2. So Paulo: Difel, 1981. p. 653).

    Sob essa apologia a burguesia russa acompanhada por suas congneres do mundointeiro procurava ocultar um fato incontornvel, os trabalhadores e camponeses pobresrussos estavam a repelir a ltima forma de escravido: a escravido capitalista, isto , aescravido assalariada. Assim se manifesta Lenin no texto A Terceira Internacional e seulugar na histria, s se libertando da escravido assalariada, a humanidade adquire pelaprimeira vez a verdadeira liberdade (LENIN, 1986, t. 38, p. 324).

    A liberdade nas repblicas democrticas burguesas, sem exceo, foi sempre a liberdade

    para os ricos, contudo no se deve imaginar a existncia de liberdade para todos mesmonuma Repblica sob o Poder Sovitico, mormente nela fora coartada, reduzida a limitesmais restritos, a liberdade dos exploradores e de sues auxiliares, ou seja, foram privadosda liberdade de explorar, de lucrar com a fome, de lutar pela restaurao do capitalismo,de organizar conspiratas com a burguesia estrangeira, contra os operrios e camponesespobres de seu pas.

    3Cmplice de Adolfo Thiers presidente do Conselho de Ministros em 1871 e Presidente da Repblica

    francesa de 1871 a 1873; verdugo da Comuna de Paris.4

    A Associao Internacional dos Trabalhadores representava a contra-organizao internacional do trabalho

    frente a conspirao cosmopolita do capital.

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    No I Congresso Nacional de Educao extra-escolar, notadamente no Discurso acerca decomo se engana o povo com as consignas liberdade e igualdade, proferido em 19 de Maiode 1919, est lavrada a seguinte concepo de liberdade: se a liberdade no estiver sujeita tarefa de emancipar o trabalho do jugo do capital, um engano. Por isto, diz Lenin:lutamos contra o capitalismo em geral, republicano, democrtico e livre, sabendo que oscapitalistas hastearo contra ns a bandeira da liberdade (LENIN, 1986, t. 38, p. 370).

    Sabemos que por trs de belas palavras os intelectuais da ordem iludidos com a liberdadee a igualdade, no vislumbram que o existente de fato a liberdade dos donos demercadorias e os interesses da liberdade do capital usada para oprimir os trabalhadores. Arigor, ainda hoje um paradoxo proclamar a liberdade numa Constituio que ampara elegitima a propriedade privada, de modo que, a liberdade ao lado da propriedade privadasobre os meios de produo liberdade apenas no papel e no na prtica. Insolentes, osintelectuais da ordem diziam: Perdoem, por favor, mas h que respeitar a propriedadeprivada, se na a respeitam porque so bolcheviques, criminosos, bandidos, assaltantes etrapaceiros (LENIN, 1986, t. 38, p. 372).

    A resposta imediata aos intelectuais da burguesia, partidrios da democracia purafoi a seguinte:

    Mentem quando nos acusam de que violamos a liberdade! (...) A revoluo francesase chama Grande revoluo precisamente porque no adoeceu de abrandamento,nem de meias tintas, nem da verborragia de muitas revolues, seno porque foiuma Revoluo enrgica que, quando derrubou a monarquia a esmagou porcompleto (LENIN, 1986, t. 38, p. 373)

    Diante das palavras ocas da intelectualidade partidria da democracia pura, imprescindvel seguir a trilha de Robespierre5, Saint-Just6 e Marat7. Destarte, para libertaro trabalho do jugo do capital necessrio privar / restringir os limites da liberdade doscapitalistas e dos latifundirios. Com isto, o que se est querendo dizer que acabou a

    5Maximilien Franois Marie Isidore de Robespierre, nascido em 6 de maio de 1758, em Arras e assassinado

    em 28 de julho de 1794, na cidade de Paris, foi advogado e poltico francs, e, qui, a personalidade mais

    importante da Revoluo Francesa.6

    Louis Antoine Lon de Saint-Just nasceu em 25 de agosto de 1767, Decize (Nivre) e assassinado em 28 de

    julho de 1794, Paris, foi um poltico revolucionrio francs. Na Conveno de 1792 votou pela execuo do

    Rei. Toda a sua ao poltica visava criar uma democracia de pequenos proprietrios, de trabalhadores e

    artesos, fiis Repblica. Foi guilhotinado em 28 de julho de 1794. Por sua intransigncia durante o perodode Terror, foi apelidado "arcanjo do Terror" e "arcanjo da Revoluo".7

    Jean-Paul Marat, nascido em 24 de Maio de 1743 e assassinado em 13 de Julho de 1793, mdico, filsofo e

    cientista poltico, era mais conhecido como jornalista radical e poltico da Revoluo Francesa. Conhecido e

    respeitado por seu carter impetuoso e sua postura compromissada diante do novo governo com as reformas

    bsicas para os mais pobres membros da sociedade francesa. Sua persistente perseguio, voz consistente,

    grande inteligncia e seu incomum poder preditivo o levaram obter a confiana do povo tornando-o a

    principal ponte entre os operrios franceses e os jacobinos que tomaram o poder em Junho de 1793. Marat

    era um dos trs homens mais importantes na Frana, ao passo com Georges Danton e Maximilien

    Robespierre. Ele foi apunhalado uma vez no corao com uma lmina de seis polegadas enquanto estava

    dentro de sua banheira pela simpatizante girondina Charlotte Corday. Foi ele quem cunhou o uso moderno da

    frase "inimigo do povo" e publicou extensas listas de tais inimigos em seu jornal, chamando-os para serem

    executados.

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    poca do socialismo cndido, utpico, fantstico e mecanicista dos intelectuais. Socialismo emque as coisas so apresentadas de tal maneira que basta:

    Persuadir a maioria e pintar um formoso quadro da sociedade socialista para que essamaioria optasse pelo socialismo. Passou o tempo em que era possvel entreter-se e entreteros demais com esses contos infantis. O marxismo, que reconhece a necessidade da luta declasses, afirma: a humanidade chegar ao socialismo s passando pela ditadura doproletariado. Ditadura uma palavra rgida, pesada, cruenta e dolorosa, palavras como estano se bradam ao vento (LENIN, 1986, t. 38, p. 374).

    Os bolcheviques proclamavam esta certeza porque sabiam que os capitalistas noabdicariam do poder e no se renderiam, mas travariam uma luta intensa e cruenta semquartel contra os operrios e camponeses pobres, tratando de encobri-la com belas frasessobre democracia, liberdade e igualdade. Todavia, no se tratava naquele momento dademocracia pura e nem da liberdade em geral, mas da liberdade e da democracia que

    permitiam a uma insignificante minoria manter seus privilgios, enquanto milhes detrabalhadores permaneceriam acorrentados aos rochedos do capitalismo. Por isto, osbolcheviques insistiam, para que todos compreendessem que quem se manifestava contraeles fazendo uso das palavras liberdade e igualdade, de fato estava ou tinha se passadopara o lado das classes possuidoras, alm de enganar o povo, medida que nocompreendia que a liberdade e a democracia historicamente tm sido a liberdade e ademocracia para os ricos e apenas migalhas das orgias do capital para os despossudos.

    Estava cada vez mais claro que na moderna repblica democrtica burguesa aigualdade era uma mentira, pois nela no havia e nem poderia haver igualdade, pois o queimpedia os trabalhadores de fazer uso dela (da igualdade) a propriedade privada sobre

    os meios de produo, sobre o dinheiro, sobre o capital enquanto trabalho socialcondensado no pago. Citando Engels, Lenin faz a seguinte aluso:

    Tomado margem da supresso das classes, o conceito de igualdade (e liberdade) o maisnscio e absurdo dos preconceitos. Os catedrticos burgueses tentaram imputar-nos,escudados co conceito de igualdade, que queramos tornar iguais todos os homens.Pretendiam culpar desta necedade, urdida por eles mesmos, os socialistas. Porm, dada asua ignorncia, no sabiam que os socialistas, concretamente os fundadores do socialismocientfico contemporneo, Marx e Engels haviam dito que a igualdade uma frase vazia sepor ela no se entende a supresso das classes. Queremos suprimir as classes adianta

    Lenin e, neste sentido, somos partidrios da igualdade (LENIN, 1986, t. 38, p. 377).

    So os democratas burgueses que, desde 1789, proclamam a igualdade entre todos,independentemente de sexo, religio, etnia, nacionalidade, condio scio-econmica,etc. (Art. 5 da CRFB de 1988), porm o capitalismo em nenhuma parte deste planetapossibilitou o exerccio da igualdade na prtica, at porque, em sua fase imperialistaterminal tem levado s ltimas conseqncias (a guerra de destruio em massa) oracismo, as guerras inter-tnicas (rabes contra rabes), o nacionalismo exacerbado e opreconceito religioso com o qual procura encobrir seus interesses econmicos. Penso quesobre isto no sero preciso mais detalhes, pois com um pouco de acuidade poltica possvel perceber claramente quais interesses movem a guerra do Iraque e as ameaasimperialismo yankee contra a soberania do Iran e da Coria do Norte.

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    No Prefcio ao texto Acerca de como se engana o povo com as consignas deliberdade e igualdade, Lenin dizia que os intelectuais russos militantes, aos democratas,aos socialistas, etc., de palavra todos admitiam a luta de classes, porm, de fato,esqueciam dela no preciso momento em que mais agrava. Esquecer a luta de classessignifica passa ao lado do capital, ao lado da burguesia, contra os trabalhadores (LENIN,1986, t. 38, p. 400).

    Lenin fazia essa afirmao apenas para retomar a questo da igualdade e daliberdade, de maneira que, para ele, quem admite a luta de classes deve reconhecer que jamais numa repblica burguesa, nem ainda na mais livre e democrtica, puderam ser,nem tm sido, seno a liberdade e a igualdade do capital (Idem, ibidem).

    Nas sociedades burguesas, a liberdade e a igualdade so apenas meros formalismosque implicam e ocultam a realidade econmica na qual, de um lado, est a escravido

    assalariada, onde os escravos so livres e iguais apenas no papel, e, do outro lado, o poderabsoluto e omnimodo da burguesia, isto , a opresso incontida e expansionista do capitalsobre o trabalho.

    Hoje o vaticnio leninista lavrado no texto Os pr-homens da internacional de Berna,est rigorosamente correto medida que o capitalismo deixaria de ser capitalismo seno mantivesse milhes de trabalhadores, a imensa maioria dos trabalhadores, naopresso, no embrutecimento, na pobreza, e na ignorncia. O capitalismo s pode serderrubado mediante uma revoluo que ponha de p no curso da luta as massas (LENIN,1986, t. 38, p. 418).

    Por isto no Programa do Partido Comunista (bolchevique) da Rssia PC(b)R, duas

    questes, dentre outras, que ainda no estavam bastante esclarecidas, foram abordadas,a saber: o imperialismo e a democracia burguesa. Quando primeira, ela s pode serentendida a partir das seguintes anotaes: a poca onde predomina o capital financeiro,grosso modo, especulativo e voltil, e que leva inelutavelmente guerra entre as Naescapitalistas, a poca do imperialismo. As guerras nessa poca sculos XX e XXI soguerras de conquista e de rapina, so guerras de controle sobre as fontes de matriasprimas (petrleo, madeira, minerais, gua, etc.) e sobre a fora de trabalho, ou seja, oimperialismo a dominao mundial econmica e militar de sete grandes potnciascapitalistas e o estrangulamento das Naes pobres e militarmente fracas.

    Quando questo da democracia burguesa, tratada no mbito poltico geral,

    sublinha-se que essa forma de democracia continua sendo, em virtude da existncia dapropriedade privada da terra e de outros meios de produo, uma ditadura da burguesia,mquina para a explorao e o esmagamento da imensa maioria dos trabalhadores porum punhado de capitalistas. Por isto, a crtica leninista refere que apenas a revoluosocialista pode tirar os trabalhadores das cidades e do campo do pntano criado pelocapitalismo e sejam quais forem suas dificuldades, sejam quais forem as seqelas deixadaspela revoluo, elas sero mais superveis que as seqelas produzidas por uma vida deeterna escravido assalariada. Enfim parece ser melhor um fim espantoso, que umespanto sem fim!

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    Retomando essa delicada discusso sobre a ditadura do proletariado, devo assinalarque na crtica leninista a luta de classe do proletariado pode ser dividida em cinco frentestticas:

    1. Demolio da resistncia dos exploradores capitalistas e latifundirios.

    2. Neutralizao da pequena burguesia.

    3. Atrao dos intelectuais burgueses (os tais especialistas e cientistas) paraparticipar na edificao da sociedade socialista.

    4. Construo e inculcao de uma nova disciplina, via uma nova educao.

    5. Guerra civil como manifestao (s em casos extremos) de a luta de classes levadas suas ltimas conseqncias.

    Lenin chamava ateno para um singelo fato, os amigos do povo, inimigos doproletariado e advogados do capital e os mais diferentes revisionistas do marxismo,desvirtuaram e continuam desvirtuando a essncia da ditadura do proletariado,reduzindo-a to somente violncia. Esse fato pode ser configurado como projeo, eisque os adeptos ou advogados do capitalismo atribuem ao poder do proletariado ascaractersticas histricas e indelveis do poder burgus: iniciado com o terrortermidoriano e continuado com as I e II Grandes Guerras Imperialistas, com a Guerra doVietnam e, contemporaneamente com a invaso e (quase) destruio do Iraque.

    Contrariando essa projeo enquanto mecanismo psicanaltico de defesa, possvel, pois denotar que para alm da violncia revolucionria, a democracia proletriaradica em levar ao fim e ao cabo tarefas criativas necessrias edificao de uma formamais elevada de organizao social do trabalho no mais encimada na explorao dohomem pelo homem. Questionando a projeo, denota-se tambm que o capitalismoquando comparado com o feudalismo, apenas modificou a forma de explorao da forade trabalho, mas em nada modificou a essncia de uma sociedade de classes.

    No de estranhar, pois, que os intelectuais burgueses, os social-democratas, osrevisionistas (marxlogos e ps-marxistas) e reformistas apresentem, ainda hoje, ademocracia burguesa como democracia pura, situada sobre as lutas de classe contraclasse. Por isto, insistimos em afirmar que nesta sociedade o sufrgio universal e oparlamentarismo so formas que em nada alteram o pano de fundo da questo poltica eeconmica: o poder continua nas mos de um punhado de capitalistas.

    EmA grande iniciativa, Lenin (1986, t. 39, p. 14) repete que:

    A organizao capitalista do trabalho social se baseia na disciplina da fome e aimensa maioria de trabalhadores, apesar de todos os progressos da cultura e dademocracia burguesas, continua sendo, inclusive nas repblicas mais avanadas,mais civilizadas e mais democrticas, a massa obscura e oprimida de escravosassalariados ou de campesinos esmagados, espoliados e humilhados por umpunhado de capitalistas.

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    Do ponto de vista histrico e poltico era absolutamente necessria a luta implacvelcontra o capital para a criao de uma nova organizao social e econmica, politicamentecorreta, o socialismo, fato este encimado na completa supresso da propriedade privada edas classes sociais.

    Vale acrescentar que segundo a tradio leninista, a diferena entre socialismo ecomunismo, consiste unicamente que o primeiro termo designa a primeira fase da novasociedade que brota do capitalismo, enquanto que o segundo termo significa uma fasesuperior e mais avanada dessa sociedade. Mas o que significa dizer ou o que se entendepor supresso das classes sociais colocada como expresso do objetivo final dosocialismo?

    Na perspectiva leninista, classes sociais

    so grandes grupos de homens (e mulheres) que se diferenciam entre si pelo lugar

    que ocupam num sistema de produo social e historicamente determinado, pelasrelaes em que se encontram a respeito dos meios de produo (relaes que emsua grande parte as leis referendam e formalizam), pelo papel que desempenham naorganizao social do trabalho e, conseqentemente, pelo modo de obteno epelas dimenses da parte da riqueza social de que dispem. As classes so gruposhumanos, um dos quais pode apropriar-se do trabalho de outro por ocupar postosdiferentes num regime determinado de economia social (LENIN, 1986, t. 39, p. 16).

    Mas como suprimir as classes sociais, sem o que no se consegue instalar a primeiraetapa da sociedade comunista?

    A anlise leninista prope e propaga que no basta derrotar a burguesia e oslatifundirios, os exploradores, no basta suprimir a sua propriedade, pois imprescindvel suprimir toda propriedade privada sobre os meios de produo, necessrio suprimir a diferena entre a cidade e o campo, assim como entre ostrabalhadores manuais (braais) e os intelectuais, faanha que demanda um longo tempo.Ora, diante da magnitude dessa tarefa, supor que todos os trabalhadores manuais e todosos intelectuais esto igualmente capacitados para realiz-la uma frase vazia e uma ilusode socialista antediluviano, porque esta capacitao no se d por si mesma, seno que seforma historicamente e s nas condies materiais da grande produo capitalista.

    Sobre esta assertiva, Lenin (1986, t. 39, p. 17), ao coment-la o fez sintonizado com

    outra situao comentada anteriormente:Quem intentar resolver os problemas da transio do capitalismo para o socialismocom generalidades sobre a liberdade, a igualdade, a democracia em geral, aigualdade da democracia do trabalho, etc., unicamente conseguir revelar suanatureza de pequeno burgus, de filisteu, de esprito mesquinho que se arrastaservil atrs da burguesia no plano ideolgico.

    E mais ainda. Uma questo salta aos olhos por continuar ainda hoje na pauta do dia,se era vlida para a Rssia nos anos 10 e 20 do sculo XX, sem medo de reprimendasentendemos que sua validade permanece para o Brasil no sculo XXI: se os intelectuais

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    burgueses ajudassem os trabalhadores e campesinos pobres com seus conhecimentos emlugar de colocar-se a servio dos capitalistas nacionais e estrangeiros para consolidar seupoder, a transformao social poderia ser mais rpida e pacfica. Porm, aceito ser essapossibilidade um sonho utpico, pois a questo decidida pela luta de classes e, nestaluta, a maior parte dos intelectuais inclina-se para a burguesia (LENIN, 1986, t. 39, p. 20).

    Os intelectuais, ontem na Rssia e hoje no Brasil, permanecem fiis a si mesmosservindo ao capital com uma falsa argumentao. No se pode esquecer, nem deixar decompreender o quo difcil a empreitada de reeducao desses intelectuais educadosnos mais terrveis preconceitos e atormentado pelas sobrevivncias ideolgicas de umpassado escravista e feudal. Ora, divididos em corporaes de estilo medieval, nada maisfazem seno ratificar a estruturao desta sociedade em classes no comunicantes entre

    si. As reminiscncias ideolgicas do passado sobreviveram e sobrevivero por um tempoindefinido nos costumes do presente. Mesmo depois da revoluo, elas influem sobre osrebentos do novo, pois quando o novo acaba de nascer, tanto na natureza como na vidasocial, o velho segue sendo mais forte durante certo tempo.

    Para alm do ceticismo barato e do dogmatismo cnico dos intelectuais burgueses,Marx no O Capital zomba, por exemplo, da pompa das constituies democrticasburguesas de liberdade e direitos do homem, de toda essa fraseologia sobre a liberdade, aigualdade e a fraternidade em geral, que deslumbra os pequenos burgueses e filisteus detodos os pases (LENIN, 1986, t. 39, p. 24).

    Nas frases empoladas est a astcia desses intelectuais facilmente identificada,mormente quando se referem liberdade, igualdade, fraternidade e a soberania dopovo em geral (conceito que inclui os exploradores) e outras frases desse estilo. Vejamosum exemplo, na democracia burguesa h uma questo que, luz da contemporaneidade,apesar de uma srie de discursos eloqentes parece ter sido resolvida, mas que, naverdade, no est resolvida.

    As mulheres dos trabalhadores e as mulheres da classe mdia permanecem comoescravas do lar, oprimidas, embrutecidas e humilhadas pelos afazeres domsticos que asconvertem em cozinheiras, babs e modernas mucamas, que desperdiam sua atividadeem trabalho absurdamente improdutivo, mesquinho, irritante e fastidioso (LENIN, 1986,t. 39, p. 25).

    Na perspectiva leninista a verdadeira emancipao da mulhere o comunismo serofruto da luta das massas contra a pequena economia domstica ou, mais exatamente, suatransformao massiva em economia socialista. Entretanto, a edificao dessa novaeconomia tem no Estado burgus seu mais ferrenho obstculo e nele as formas e mtodosde represso mudam, contudo continua existindo um pequeno grupo de burocratas ou deintelectocratas que governam, mandam, dominam e que, para conservar o poder vicrio,tem em suas mos um aparato de coero fsica e intelectual, um aparato de violnciaexplcita e simblica, usado sempre que algum ou algum grupo se insurge contra aordem e o progresso.

  • 8/2/2019 o Povo e o Mito Da Liberdade e Da Igualdade

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    fato. O Estado um a mquina para manter o domnio do capital sobre o trabalho.Todavia, o Estado tal como conhecido de todos ns, nem sempre existiu, mesmo porqueele surge,pari passu com o surgir das classes sociais e o estabelecimento da propriedadeprivada sobre os meios de produo.

    Lenin, como Plato, Aristteles, Montesquieu, Espinosa e Hobbes, deixou lavrado notexto Acerca do Estado que a monarquia o poder de uma s pessoa; a aristocracia, opoder de uma minoria; e a democracia, o poder do povo em seu sentido literal. Essasdiferenas surgem na Grcia clssica e sob a escravido, contudo o Estado da pocaescravocrata era um Estado escravista sob qualquer uma das suas formas: monarquia,repblica aristocrtica ou repblica democrtica (LENIN, 1986, t. 39, p. 79).

    Teoricamente podem ser diferentes, assumindo aqui, ali e acol, formas variadas degoverno, mas em sua essncia so uma nica e a mesma coisa, posto que nelas os

    escravos careciam de todos os direitos formais, constituam em seu conjunto uma classeoprimida, e no eram reconhecidos como seres humanos. Mutatis mutandis, tanto nosistema feudal quando no sistema capitalista, permanece a essncia daquela antigasociedade de classes: a explorao da fora de trabalho alheia por um minsculo einsignificante grupo de capitalistas e latifundirios.

    Ainda nesse texto, Lenin (1986, t. 39, p. 85) dedica algumas linhas para afirmar, oumelhor, para confirmar o que vinha dizendo ao longo dos anos sobre o Estado nosocialista: O Estado proclama o sufrgio universal e por intermdio dos seus partidrios,predicadores, sbios e filsofos declara que no um Estado de classe, [mas] um Estadode todo o povo, um Estado democrtico.

    Diante disto, no se pode cair na esparrela de acreditar que, num pas capitalista,numa repblica democrtica a mais livre possvel, o Estado seja a livre expresso davontade nacional, no o ! O Estado uma mquina destinada aos capitalistas dos maisdiversos pases para manter seu poder sobre a classe operria e os campesinos pobres.Segundo Lenin, apenas

    Os hipcritas conscientes, intelectuais e padres apiam e defendem esta mentira burguesade que o Estado livre e est convocado para defender os interesses de todos (...), repetemsinceramente (...) os velhos preconceitos de que o Estado a igualdade para todos, isto um engano, pois enquanto existir a explorao no pode haver igualdade (LENIN, T. 39,1986, p. 88-89).

    Vale repetir at todos entendam que o capitalismo o obstculo mais reacionrio aodesenvolvimento humano que a humanidade j conheceu. Este modo de produo daexistncia foi convertido no poder onmodo de um punhado de multimilionrios que, comum nico intuito, empurram os povos ao matadouro: resolver o problema para qual grupode piratas o americano, o francs, o ingls, o alemo, o japons, etc. deve ir parar obutim imperialista, o produto do roubo e da pilhagem e o poder sobre as colnias, esferasde influncia financeira, etc.

    Enfim, nada mais a dizer! Este o quadro no qual se delineia o capitalismo do sculoXXI.