O Pedroso nº 37

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O Pedroso entrevista Lara Barros Alfaro Responsável do local comarcal do Sindicato Labrego Galego de Compostela Análise: Normalizaçom do galego em Compostela: O puro folclorismo das aparências s o Pedro o vozeiro comarcal de NÓS-Unidade Popular da comarca de Compostela Ano X • nº 37 • Abril, Maio e Junho de 2009 No último ano o número de pessoas desempregadas re- gistadas na nossa cidade aumentou até alcançar o núme- ro de 7.210. Umha cifra muito elevada e preocupante, especialmente se temos em conta que há um ano os da- dos oficiais falavam de 5.542. Assim num período de 12 meses o número de desocupados reconhecidos polas instituçons públicas aumentou em quase dous mil efec- tivos numha cidade que nom chega aos 100.000 habi- tantes. A situaçom nom é melhor nas localidades da área metro- politana, assim Teio passou no mesmo período de 831 a 1.103 pessoas desempregadas, Ames de 1.597 a 2.144, Oroso de 306 a 425, Boqueixom de 180 a 261, Briom de 344 a 451, Vedra de 253 a 315. O aumento dos níveis de desemprego está a afectar es- pecialmente os sectores ligados às actividades produti- vas, destacando a construçom, embora nos números ab- solutos continue a ter um maior peso o chamado sector serviços. Este aumento do desemprego na indústria e a constru- çom é o que explica a tendência ao equilíbrio entre as ta- xas de desempregoo masculino e feminino. Reparemos que se em Março de 2008 o diferencial entre homens e mulheres no desemprego na cidade de Compostela era de 2.185 frente a 3.615, um ano depois a distáncia redu- ziu-se consideravelmente passando a ser 3.245 e 3.965 as cifras de homens e mulheres sem emprego na nossa cidade. Continua na página 2 www.nosgaliza.org Mais 3.000 desempregad@s na comarca de Compostela no último ano

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Publicaçom trimestral da Assembleia Comarcal de NÓS-Unidade Popular em Compostela (Galiza)

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Page 1: O Pedroso nº 37

O Pedroso entrevista

Lara Barros Alfaro

Responsável do local comarcal do Sindicato Labrego Galego de Compostela

Análise:

Normalizaçom do galego em Compostela: O puro folclorismo das aparências

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2009

No último ano o número de pessoas desempregadas re-gistadas na nossa cidade aumentou até alcançar o núme-ro de 7.210. Umha cifra muito elevada e preocupante, especialmente se temos em conta que há um ano os da-dos oficiais falavam de 5.542. Assim num período de 12 meses o número de desocupados reconhecidos polas instituçons públicas aumentou em quase dous mil efec-tivos numha cidade que nom chega aos 100.000 habi-tantes. A situaçom nom é melhor nas localidades da área metro-politana, assim Teio passou no mesmo período de 831 a 1.103 pessoas desempregadas, Ames de 1.597 a 2.144, Oroso de 306 a 425, Boqueixom de 180 a 261, Briom de 344 a 451, Vedra de 253 a 315.

O aumento dos níveis de desemprego está a afectar es-pecialmente os sectores ligados às actividades produti-vas, destacando a construçom, embora nos números ab-solutos continue a ter um maior peso o chamado sector serviços.Este aumento do desemprego na indústria e a constru-çom é o que explica a tendência ao equilíbrio entre as ta-xas de desempregoo masculino e feminino. Reparemos que se em Março de 2008 o diferencial entre homens e mulheres no desemprego na cidade de Compostela era de 2.185 frente a 3.615, um ano depois a distáncia redu-ziu-se consideravelmente passando a ser 3.245 e 3.965 as cifras de homens e mulheres sem emprego na nossa cidade.

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Mais 3.000 desempregad@s na comarca de Compostela no último ano

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Fica pois fora de qualquer discussom a dúvida de se a crise mundial tem umha repercusom directa nas nossas vidas. É evidente que no nível mais próximo, na realidade económica da nossa comarca, estamos a sofrer um forte impacto da retracçom embora nom se estejam a dar ainda casos de conflituosidade laboral a um nível importante.

Ausência de conflituosidadePara entendermos a ausência de con-flitos, até a altura, há que atender a particular realidade dos sectores mais afectados pola crise no nosso contorno.Temos que ter em conta que os sec-tores da indústria e a construçom na área de Compostela integram-nos em boa parte pequenas e medianas empresas com quadros de pessoal relativamente reduzidos. Aliás estas empresas, que nos últimos anos de expansom se virám obrigadas a au-mentar a sua capacidade produtiva, recorrêrom na maioria dos casos à contrataçom temporária por via di-recta ou a través de ETT. Recurso empregado com assiduidade tam-bém por aquelas poucas fábricas de um tamanho maior.Assim neste tempo de queda da de-manda as primeiras pessoas afecta-das polos despedimentos fôrom as integrantes desse grupo de traba-lhadoras/es de carácter temporário. Medida lógica segundo os paráme-tros dos empresários enquanto os custos de botar fora do trabalho estes é muito menor que o de despedir tra-balhadoras/es com contratos indefi-nidos.Porém devemos reparar em que as denúncias sindicais sobre o emprego abusivo das formas de contrataçom de carácter temporário estavam ple-

namente justificadas à luz do volu-me de despedimentos que estamos a ver.Neste mesmo caminho há que va-lorizar a outra medida que estám a tomar as direçons das empresas para enfrentarem a crise, a suspensom das horas extras. Facto que demonstra que até a altura o patronato estava a recorrer às extras de forma sistemá-tica para poupar custos de contrata-çom, violando de um jeito descarado a legislaçom laboral.Deste modo até o momento a maior parte das empresas da comarca de Compostela afectadas pola crise iludem o problema reduzindo a per-centagem de trabalho temporário e eliminando as horas extraordinárias. Com estas medidas o núcleo de tra-balhadoras/es sujeitos a contratos de carácter indefinido continua nos seus postos de trabalho, mas sob umhas condiçons de incerteza que podem servir como trava para evitar mobi-lizaçons.Reparemos que a escusa da crise também está a ser empregada polo patronato para levar avante despedi-mentos de trabalhadoras/es especial-mente “molestas/os”. Assim o medo serve como instrumento de controlo.

Situaçom nas principais empresasOutro facto destacável, e que nos tem que levar a reflectir, é a relativa dis-creçom com a que crise está a afectar as principais empresas da comarca. É vox populi que a prática totalidade das empresas de construçom e indus-triais de Compostela estám a passar por um mal momento e que na sua totalidade estám a praticar despedi-mentos e reduzir consideravelmente as sobrejornadas que se realizavam habitualmente. Porém apenas umha delas reconheceu publicamente, e

tam só de umha maneira indirecta, a nefasta situaçom pola que passa.Trata-se neste caso da principal fá-brica da cidade, a da madeireira FINSA, que reconheceu junto às demais empresas que integram o pa-tronato da madeira na Galiza que a crise está a afectar duramente e que pode fazer perigar por volta de 3.000 postos do trabalho no país. Porém, é sabido que nom só a FINSA está numha situaçom precária mas outras indústrias da cidade passam por situ-açons semelhantes.Lamentavelmente a duraçom da actual conjuntura é incerta e nom se pode descartar nem o seu alon-gamento nem a sua agudizaçom. O que faria insuficientes as medidas aplicadas até a altura e levaria a um aumento dos despedimentos e mes-mo ao fechamento de algumhas das empresas da cidade.

O sindicalismo fora de jogoPerante tal contexto a atitude passiva que estamos a sofrer neste momento por parte das organizaçons sindicais passaria a rebelar-se como autentica-mente suicida, se nom o é já agora mesmo.A táctica de deixar fazer ao patrona-to para salvar os postos de trabalho ligados a um contrato indefinido tam só está a servir para fomentar no seio da classe operária o divisionismo, ao tempo de animar ao patronato a recorrer à contrataçom temporária num volume ainda maior.A ampla maioria das trabalhadoras/es temporários percebem que os co-mités de empresa estám a utilizá-las como moeda de cámbio com as di-recçons das empresas, o que nom fai mais que aumentar a desconfiança deste sector da classe operária com os sindicatos.

Aliás o patronato valoriza que o au-mento do volume de contratos tem-porários vai no seu favor enquanto os despedimentos som muito mais baratos e a incerteza da continuida-de é um freio na capacidade de rei-vindicaçom operária. Desta maneira as diferentes organizaçons patronais estám a insistir, com a escusa da con-juntura, na necessidade de que o go-verno “flexibilize” os despedimentos implantando um modelo de “contrato de crise”. Assim o patronato pretende aproveitar a situaçom para enfraque-cer ainda mais as condiçons laborais para a mao de obra assalariada.

A classe trabalhadora deve recu-perar iniciativaDiante desta realidade nom é possí-vel continuar a ficar paradas e para-dos sendo obrigado que a classe ope-rária compostelana passe à ofensiva. A crise económica é um terrível pro-blema que afecta fundamentalmente as trabalhadoras e trabalhadores, as operárias e operários que carecem de recursos para enfrentar longos períodos de desemprego. Por isso nom podemos permitir que sejamos nós quem paguemos o preço mais elevado por um problema que nom geramos.É preciso tomar a iniciativa e actu-armos unidas para evitar que as con-diçons laborais que temos que sofrer nas empresas da nossa comarca se vejam ainda mais degradadas.

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Nom passou mais de umha semana da der-rota eleitoral do bipartido para que o pre-sidente da nossa cidade, o senhor Sanches Bugalho, saísse à cena para reclamar do

novo governo autonómico a derogaçom das “Normas do hábitat galego”. As directrizes autonómicas sobre edificaçom que estabele-ciam um série de requerimentos para a cons-truçom de novos prédios.Bugalho exercia deste modo de porta-voz

das empresas imobiliárias, que tam bons ne-gócios fam na nossa cidade, que rechaçarom estas normas ao considerar que a sua aplicaçom

supunham umha trava excessiva para o desen-volvimento da sua actividade. “Também é que só faltaria que umha administraçom pública puides-se entremeter-se em como cada quem constrói”

ou “isso é um ataque a liberdade de empresa”, devêrom pensar as imobiliárias.

Mas o que resulta mais intrigante é que o senhor presidente, recordemos que é militante do PSOE e governa graças a umha coligaçom formada polos mesmos partidos despejados

de Sam Caetano, faga as suas pri-meiras declaraçons em relaçom ao resultado eleitoral nesses

termos. Acaso o senhor Bugalho tem algum interesse especial em fa-vorecer as empresas imobiliárias?Pois supomos que sim, já que em caso contrário estamos perante um agudo caso de esquizofrenia. Porque nom é muito normal mostrar alegria pola der-rota dos teus próprios companheiros e companheiras e sócios de governo.Mas nom som estas declaraçons o único que nos leva a especular neste sen-tido. Também há outros indícios bastante evidentes que nos fam crer que o governo municipal está especialmente interessado em manter o favor das imobiliárias.

A fim de contas, se bem é certo que a crise também se fijo evidente neste sector na nossa cidade, o certo é que um simples passeio por algumhas zonas de Compostela mostram-nos que a dinámica construtora nom está parada.A pergunta que nos assalta a este respeito é so-bre quem vai morar em todo esse lote de novos prédios que se estám a construir no norte e sul da cidade. Acaso nom é certo que a populaçom de Compostela leva anos estancada ou que na actual situaçom de crise é muito estranho que a gente compre nova vivenda.Poderíamos perguntar também porque o gasto destinado à urbanizaçom dessas novas áreas nom se destina à melhoria das dotaçons infra-estrutu-rais da área urbano já consolidado e das áreas rurais do concelho, as eternas marginalizadas.Será que na Cámara Municipal tenhem mais inte-resse em fazer bons negócios com a concesom de novas licenças de construçom? O certo é que o caso resulta bem estranho, ou se calhar nom tanto, mas de qualquer forma nom parece umha situaçom lógica nos tempos que correm. Pode ser que o senhor Bugalho simplesmente tenha a apetência de ser presidente de umha grande cidade, embora as casas fiquem vazias. Mas, do nosso modesto ponto de vista, parece-nos que o de estabelecer uns mínimos de habitabilidade como requerimento para a concessom de licenças nom é em modo algum exagerado. Mais se tivermos em conta que as normas de hábitat distam muito de satisfazer os requerimentos mínimos das viven-das que ocupam os membros do governo municipal compostelano.Eis umha proposta interessante. Que tal se os requisitos mínimos para edifi-car umha vivenda em Compostela fossem os das vivendas de Bugalho e dos seus companheiros e companheiras de governo? A fim de contas parece que som eles quem melhor sabem quais som as demandas da sociedade.

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Há umhas se-manas foi a Páscoa cristá. Compostela tor-nou-se lúgubre, tétrica, perigosa. Soubem depois que fora cousa do

machismo e o se-xismo que andavam à solta e tomaram as ruas agasalhados pólo seu séquito. À tomada chamá-rom-lhe “procissom”No início, ingénua eu, nom tinha medo, porque pensei que era um teatro de brincadeira para as crianças. Velas, música, gente muito séria e tris-te a caminharem muito devagar, como zombies. Algumha disfarçada com uns lençóis mui gran-des de cores que acabavam num bico e que só deixavam ver os olhos. “Pois essas simularám fantasmas, digo eu...” Mas a seguir chegárom o que chamam “imagens”: Mulheres angustiadas a chorarem, homens a matarem outros homens, um rosto de dor num pano, um senhor a dessan-grar cravado numha cruz... Que medo! Agoro entendo todo! Esta é a mesma gente que fai publicidade com crianças já de infantário para falarem do aborto e arrebatar-lhes os direitos às

mulheres. A mesma que predica contra o pre-servativo e logo dá palmadinhas no lombo às pessoas doentes de sida. A que fala de necessi-dade e das bondades do amor mas chama doen-ça ao amor entre pessoas do mesmo sexo. A que condena a quem solicita a morte porque morre em vida de dor e sofrimento. A que afirma que a mulher é inferior ao homem, deve servi-lo e queimou tantas de serviço duvidoso. A que se apodera do ensino como do anel do Senhor dos Anéis. A que nos degrada, humilha-nos, despre-za-nos, psiquiatriza-nos, condena-nos, teme-nos, odeia-nos...Nom ficava outra que organizar-se. E a isso cha-mamos-lhe “contraprocissom”, Maricrista.Mas a polícia estava do lado deles, porque nom eram quatro loucas e loucos aos que lhe dera umha volta. O machismo e a a homofobia som as raízes desta grande árvore em que vivemos, e toda essa gente som ramos pontiagudos cheios de espinhas e enredadeiras que nos retenhem e afogam. Porém, o quadro de fora até parece “natural” e “progre”, artístico...Assim esses corpos que nos ham de dar “segu-rança” tratárom-nos como delinquentes, porque estávamos a atentar contra a liberdade de culto. Que o nom-culto vê-se que nom é liberdade, e o

ridiculismo e as palavras de ordem som armas de destruiçom massiva, e a polícia de choque ham de duplicar as manifestantes. A árvore apodrece e afoga. Deixemos de umha vez de acreditar na inocência religiosa, ou de pensar que avançamos “tanto” que o único po-der que lhe resta é o simbólico. Na nossa cida-de, Compostela, o poder de uns serviços sociais controlados por Cáritas (com o que isto impli-ca em termos de objecçom de consciência por exemplo para nós como LGBT) é muito mais que simbólico. O maioritário controlo dos cen-tros de ensino (e todos os nomes conformam umha longa lista mental) nom é casual e muito menos inocente. Conforma um perfeito meca-nismo institucional para manter as cousas como estám, assim de bem feitinhas, assim de patriar-cais.Que esta cámara municipal que se di aconfissio-nal deixe já de amancebar a Igreja e utilize os nossos quartos para cobrir as nossas necessida-des, que nom som religiosas, mas sociais. Nom imos pensar às vossas igrejas, nom venha-des rezar às nossas instituiçons públicas

o p i n i o mLaicidade na Compostela jacobeia de hábito e sotaina

Mai Cambeiro

Mai Cambeiro forma parte de Panteras Rosa GZ e da Frente de Combate contra a LGBTfobia

Page 4: O Pedroso nº 37

Num concelho como Compostela, a capital do país, semelha que o rural nom existe. Qual é a sua dimensom e quantas pessoas tenhem na activida-de agropecuária o seu principal meio de vida?Efectivamente, ao rural no concelho de Compostela nom se lhe dá importáncia e passa quase desapercebido, mas basta com sair um pouco da cidade para dar-se conta do presente que está e a releván-cia que tem. Na cidade vive-se de costas ao rural, e se se pensa nel é muitas vezes como segunda vivenda ou como “ócio”. É dizer, sem deixar atrás umha vissom urbana que produz certos conflitos; por exemplo, vamos ao rural pero despois cheira-nos o esterco, molesta-nos o galo quando canta ao mencer... A importáncia temos que analisá-la a nível qualitativo, nom a nível de quan-tidade. Se analisamos hoje o rural en termos de mercado, com critérios capi-talistas, podemos chegar à conclussom de que o melhor é que desapareza to-talmente, porque supom muitas vezes serviços mais caros, pola disperssom, pola orografia etc. Mas… temos que aceitar que Compostela fique reduzida à cidade? Aceitamos que o demais fique ermo, e que fiquem só as urbanizaçons de chalets?Nom temos que valorizar só quantas pessoas tenhem que viver da activida-de agropecuária, senom que também é necessário que nos perguntemos sobre quantas pessoas tenhem que viver no rural para que este se mantenha vivo. E se pensamos assim, damo-nos conta que nom podemos diminuir a activida-de agropecuária en números de pessoas, porque senom morre. Seja esta activida-de a tempo principal, parcial, comple-mentária, ou de autoconsumo.

Tradicionalmente, Compostela, a di-ferença de outras cidades do que hoje é chamado o Eixo Atlántico, parecia ter umha permeabilidade visível ao ambiente rural e à actividade eco-nómica mais directamente relacio-nada, como o mercado de gado em Salgueirinhos e as lojas de ferramen-tas e outros produtos, o mercado. Que tem mudado?As feiras e os mercados mudam de fun-çom ao diminuir a actividade agrária, isto é assim e se calhar seja irremedi-ável, pero o que temos que pergunta-nos é como adaptamos estas feiras e mercados aos novos tempos do rural. Se pensamos num rural que mantenha as pequenas exploraçons, que mantenha

o autoconsumo, para tê-lo vivo, as fei-ras tenhem que se artelhar em funçom disso. Nom nos vale um mercado de exportaçom, para nós o prioritário é o mercado local, de proximidade. Isto nom quer dizer que há que desfa-zer o mercado de gado. A sensaçom en Compostela é que, como desde a políti-ca institucional se ignora o rural, parece que molestam as vacas e há que afastá-las o mais possível.

Quais som os efeitos da transferência do mercado de gado para Ámio?O País necessita pequenos mercados locais, pero nom é incompatível com um mercado de referéncia, um mercado importante também para as transacçons além a Galiza. Este mercado, por lógica, ubicou-se na capital, em Compostela.

Mas ao perder peso o rural, e, sobre todo, ao asimilá-lo com atraso, os políti-cos fôrom dando-lhe as costas e afastan-do-se dele. Assim historicamente passou da Alameda a Salgueirinhos e depois a Ámio. Como resultado a cidade fica sem vínculos históricos, passa a despre-zar o passado labrego, o presente e um fututo alternativo para a cidade e para o País. Agora já nom lhes vale Ámio e querem trasladá-lo para Silheda. Digam o que digam, politicamente há umha ob-sessom com desprender-se do rural. Como valorizades o trato específico que recebem as paróquias rurais por parte do concelho?A sensaçom é que o trato cada vez é máis como lugares de segunda vivenda e nom como lugares com a especifici-dade própria do rural. A nível agrário nom se fai nada, e os poucos labregos e labregas que ficam sentem-se margi-nalizad@s e com muito pouco prestígio social. Actualmente se trabalhas a terra apenas consegues subsistir, pero se es-peculas e vendes um solar fas-te rico. Isto é o que há, polo tanto a paróquia tal como a entendemos está a desaparecer e se transformar num achegado da cidade, num rural cada vez máis “jardim” e me-nos produtivo.

O Pedroso entrevistou

Lara Barros Alfaro Responsável do local comarcal do Sindicato Labrego Galego de Compostela

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“Digam o que digam, politicamente

há umha obsessom com desprender-se

do rural”

Que grau de implantaçom tem o SLG no rural de Compostela e que políticas e acçons específicas ou gerais levades a cabo?O SLG tem pouca implantaçom en Compostela, pero as demais organiza-çons agrárias tampouco tenhen muita mais. Isto deriva do que acabamos de descrever anteriormente. Cada vez é me-nos rural, polo tanto e mais dificil que os labregos e labregas, a base imprescindí-vel do SLG, tenham presença e capaci-dade organizativa. Agora mesmo está a ser muito importante a luita que estamos a manter no sector do leite polo preço e polas ameaça que a indústria está supon-do para os produtores e produtoras. Mas as luitas e acçons som as mesmas que no resto do País, a luita polo reconheci-mento do nosso trabalho, a luita por uns preços que nos permitam viver. O funda-mental é dar valor social ao nosso traba-lho. Nós pensamos que se estamos perto de um núcleo importante de populaçom como é a cidade de Compostela, temos que aproveitar as vantagens que isto nos dá. Pensamos que com programas de apoio, com vontade política podemos abastecer a populaçom de Compostela com alimentos frescos, de proximida-de, de temporada... Desta maneira, por umha banda nós teriamos reconheci-mento e saída como trabalhadores e tra-balhadoras do campo, e a cidadania teria alimentos sans e de qualidade, e como resultado geral estaria-se contribuíndo a manter um rural vivo.

A vossa organizaçom é abandeirada na Galiza em reivindicar a necessida-de de procurar a soberania alimentar, e na luita contra as culturas (cultivos) trasgénicas. Como está a situaçom e que iniciativas desenvolvedes nestes eidos na Comarca?Quanto à soberanía alimentar movemo-nos en duas esferas de actuaçom; por unha banda, na esfera da política institu-cional, estamos reclamando medidas que protejam os labregos e labregas locais, a nossa produçom, frente às multinacio-

nais da distribuiçom; por outra banda, na esfera social, tentamos plasmar no dia a dia pequenos projectos para alimentar a populaçom de Compostela e ir bus-cando transformaçons desde a base. E aínda poderiamos por um terceiro frente de luita, que é o da conscientizaçom da gente para que se achegue aos labregos e labregas, para que reflicta sobre a reper-cusons do seu consumo e procure redes de consumo mais curtas e directas. O dos cultivos transgénicos é algo que estamos a trabalhar a nível local sempre que temos oportunidade, num primeiro lugar conscientizando-nos nós mesmos como labregos e labregas, e analisan-do a ruína que suporia para nós a sua implantaçom, mas também com a pre-ocupaçom posta nos riscos que podem

comportar a nível de saúde e do incre-mento da dependência alimentar. Neste sentido, dizer que somos a única organi-zaçom agrária actuante no País com esta batalha aberta, presente activamente na Plataforma Galega Antitransgénicos. No SLG pensamos que a nossa luita pola soberania alimentar, a luita, por tanto também contra os transgénicos, é unha luita de toda a populaçom. Como habi-tantes de umha cidade temos que pensar que queremos comer, quem queremos que produza a nossa comida e em que condiçons. Ou conseguimos implicar toda a gente ou nós sós nom imos conse-guir a soberania alimentar.

“Desde a política institucional

ignora-se o rural, parece que

molestam as vacas e há que afastá-las o

mais possível”

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Normalizaçom do galego em Compostela: O puro folclorismo das aparências

É largamente estendido o mito de Compostela ficar um bocado de lado do processo desgaleguizador e de alarmante subtituiçom lingüística que cada vez está mais agudizado no nosso país. Os dados falam por si sós, o número de falantes da nossa língua diminui ano após ano sem fa-zer qualquer excepçom na capital do país. O desleixo por parte de uns políti-

cos e politicas mais interessadas em transformarem a cidade num parque de divertimentos hiperturistificado, de mausoléus milionários da cultu-ra enlatada e jacobeus. Um plano de normalizaçom linguística precária e superficialmente aplicado. Eis os principais motivos que tenhem rele-gado a presença do galego ao puro folclorismo das aparências.Um panorama muito negro para a nossa máxima expressom e elemen-to identitário, a língua que durante 500 anos sobreviveu a mais crua imposiçom e proibiçom. Encontra-se agora em perigo de sobrevivên-cia pola primeira vez graças a umha política lingüística nefasta da qual nom escapam as instituiçons muni-cipais compostelanas. É tristemente paradoxal que nem a mais férrea di-tadura tenha conseguido acabar com a nossa língua e que agora que temos instrumentos para travar o processo, agora seja precisamente o momento em que a situaçom do galego é mais dramática.

Essa aparente normalidade de Com-postela vem definida principalmente por umha normalizaçom precária do galego na administraçom e de umha maneira mais ou menos uniforme e com maior ou menor correcçom na sinaléctica. Um uso que bem podia corresponder com o do latim no Va-ticano, umha língua morta.As aparências como é bem sabi-do enganam. Na nossa cidade por

exemplo, onde a educaçom pública se encontra quase absolutamente em maos da Igreja, nom há nem umha escola infantil ou primária onde se poda estudar em galego. Esta é a realidade da presumível imposiçom do galego que ladrárom nas nossas ruas no dia 8 de Fevereiro o grupo de radicais antigalegos comandados por “Galicia Bilingüe”, orquestrados polo fachario mais rançoso do país. Esse panorama de ciência ficçom que apresentavam de GB e do qual o Partido Popular soubo tirar bene-fícios afasta-se absolutamente da re-alidade. Os quase 30 anos de Junta da Ga-liza tenhem sido nos quais a perda de falantes tem sido mais dramática até chegarmos a ficar por baixo dos falantes monolingues de espanhol. Políticas linguísticas e Planos de Normalizaçom que ficárom em pa-pel molhado e nom detivérom mas propiciárom o declínio da nossa lín-gua. Folclorismo e aparências, a isso se reduz a política lingüística muni-

cipal. A concelheira Guadalupe Ro-drigues está mais interessada em es-banjar o dinheiro público destinado à normalizaçom da língua em ceias no Aragüaney. Nomeadamente na pa-rafernália do prémio Manuel Beiras que premia as empresas que utilizam o galego na nossa cidade. Isto quan-do nom existe nemgumha campanha que promova e ajude à galeguizaçom dos estabelecimentos comerciais da

cidade. Quantos comércios conhece-mos que usem o galego?Parece que vivermos acomplexadas e acomplexados e a forma de fazer política neste país. E nom falamos só do Partido Popular que por fim tem mostrado sem disfarces qual é a sua verdadeira face. Nom esqueçamos o apoio a GB ou a cruzada de Conde Roa contra os Centros Sociais da ci-dade e a Sala Nasa, espaços nom só normalizados mas dinamizadores da língua. O mais triste é que quem se diz progressista e o que ainda é pior quem se di nacionalista participa dos complexos, olha para o outro lado e nom encara o problema. O BNG en-tregou a nível local da mesma ma-neira que fijo na Junta a normaliza-çom linguística em maos do PSOE. Em concreto em maos de duas pes-soas que nom só nom estám interes-sadas na língua galega mas que nom tenhem os mínimos conhecimentos nem capacidades para desenvolver o que a nossa língua precisa, um aco-metimento sério e urgente.

Em Compostela possuímos uns mo-vimentos sociais que na sua imensa maioria utilizam o galego como lín-gua veicular, com umha universida-de como a USC, sede do Instituto da Língua Galega, a existência de cen-tros sociais autogeridos e projectos culturais e artísticos mais ou menos consolidados. Os instrumentos som privilegiados se compararmos com outras cidades galegas, no entanto isto nom só nom é aproveitado mas é desprezado e até atacado por par-te das instituiçons municipais. Nom esqueçamos os impedimentos que todos os anos tenhem associaçons como A Gentalha do Pichel para re-alizar o que é a única festa polo Dia das Letras que se realiza na cidade. E assim poderíamos dar exemplos e exemplos contínuos da incompetên-cia de umha concelharia com recur-sos internos e externos mais do que suficientes. Também nom podemos obviar que o concelho de Compos-tela é um dos poucos e o primeiro da Galiza que dispom de um Plano municipal de normalizaçom e um Departamento de língua galega. De-partamento com umha técnica espe-cializada e 3 vagas de bolseiras/os que vem o seu trabalho limitado dia-riamente polos desígnios da politica aos burocráticos trabalhos de revi-som de textos.Devemos portanto deixar de pensar que Compostela seja umha excep-çom no caminho da desgaleguiza-çom. Exijamos compromissos re-ais mais do que “boas intençons” e planificaços que ficam em águas de bacalhau. Neste sentido a organizaçom em entidades sociais que fam, em cer-to sentido, o trabalho que a Cámara Municipal nom desenvolve é funda-mental. As aparências como já foi dito en-ganam e para isto confrontar a rea-lidade dos dados de uso do galego é revelador. Os dados correspondentes ao segundo volume do Mapa Socio-lingüístico de Galicia, que realiza a Real Academia Galega, revelam que o número de falantes monolingues em galego baixou em 2004 a 16% da populaçom frente a 30,5% de 1992. Paralelamente o número de falantes monolingues de espanhol passárom de 13 a 25,8%.

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Tempos de crise para a imensa maioria socialTodos os índices socioeconómicos som claramente alarmantes. Os letais efei-tos da crise estrutural capitalista estám golpeando com força as condiçons laborais e de vida da classe trabalhadora e dos sectores populares galegos. A realidade é tam diáfana que o regime já nom se esforça em negá-la. Dúzias de empresas estám a fechar ou a reduzir quadros de pessoal, aplican-do eufemisticamente EREs; o desemprego bate recordes; a congelaçom dos salários e a queda do consumo evidencia as dificuldades do presente para o povo trabalhador; mulheres, juventude e pensionistas som os sectores mais afectados; a pobreza e a exclusom social atinge níveis já esquecidos; o dra-mático êxodo que nos acompanhou inexoravelmente nos mais recentes capí-tulos históricos adopta agora a forma de emigraçom maciça entre a juventu-de com formaçom académica e técnica numha autêntica fuga de cérebros; a precariedade e o incumprimento generalizado da legislaçom laboral na con-trataçom está a converter-se em norma; a submissom e a obediência laboral que provoca o medo vai acompanhada polo endurecimento das condiçons de trabalho; o patriarcado avança sem complexos; a alienaçom embrutecedora dificulta organizar a resistência. Som tempos de crise e turbulências. Duros, cinzentos e tristes. A incerteza e o fatalismo semelham ganhar adeptos.

Tempos de suculentos negóciosMas, como historicamente tem acontecido, também som tempos onde o ca-pitalismo aplica com ferocidade e de forma descarnada, sem aditivos, nem eximentes, a sua doutrina predadora e especulativa, que nom duvida em in-crementar as taxas e os níveis de empobrecimento, exploraçom e alienaçom para assim garantir e perpetuar os seus lucros. Bancos, companhias de se-guros, grandes e medianas empresas, multinacionais, nom estám dispostas a recuar nos seus obscenos benefícios.Em aras da competitividade e do progresso que afronte a crise a burguesia, desprovista de complexos e escrúpulos, por meio do patronato, pressiona a casta política que a representa e os sindicatos corruptos a negociar um novo “Pacto da Moncloa” para aplicar excepcionais medidas de choque, endurecer a legislaçom laboral, flexibilizar ainda mais as leis do mercado, aproximan-do-nos assim dos parámetros decimonónicos que tantos sacrifícios e sangue custou superar. Querem que a sua crise a paguemos os de baixo, as trabalha-doras e os trabalhadores, os que vivemos do nosso esforço. Para que isto seja factível, os seus eficazes aparelhos de dominaçom ide-ológica intimidam com virtuais ameaças globais, bombardeam sem trégua com patranhas, criminalizam as organizaçons revolucionárias, o movimento popular, @s que simplesmentem resistem e luitam, levantando cortinas de fumo, promovendo a amnésia, para despistar e amortecer os efeitos reais e tangíveis de umha crise à que já ninguém pode escapar. Procuram justificar a supressom de direitos e liberdades individuais e co-lectivas a bem da sua segurança e privilégios, procurando a inconsciente cumplicidade dos sectores populares desorganizados e desarmados da cons-ciência operária e nacional que pretendem definitivamente aniquilar.

Crise nacional. A Naçom pode desaparecerEstes fenómenos tenhem lugar numha adversa conjuntura de ofensiva glo-bal espanhola contra as naçons submetidas nesse cárcere de povos chamada Espanha. A endémica e estrutural crise do estado-naçom espanhol tenta ser novamente superada implementando agressivas políticas recentralizadoras

contra o projecto nacional galego e do resto das naçons oprimidas.Décadas de políticas assimilacionistas democráticas no ensino e nos meios de comunicaçom de massas, aparentemente inócuas para as amplas maiorais sociais, dam como resultado que a Galiza afronte o início do século XXI à beira da indefensom, de um precipício letal que nos pode fazer cair irreme-diavelmente na maré uniformizadora a que nos quer conduzir o capitalismo espanhol e transnacional. A acelerada perda de falantes do nosso idioma nacional, a lamentável norma-lizaçom de hábitos e condutas intoleráveis há poucas décadas atrás, a metó-dica e paulatina socializaçom dos símbolos e imaginário espanholista entre a juventude, a trivializaçom e desprezo dos sinais medulares dumha Naçom trabalhadora forjada numha dilatada história, é também resultado dos banais e irresponsáveis comportamentos do autonomismo de prática regionalista na última década, e da fragmentaçom e debilidade da esquerda independentista e do movimento cultural normalizar articulado à volta dos centros sociais. Os que podiam frear os sintomas optárom por subestimá-los, e quem com lu-cidez diagnosticava estes fenómenos carece de capacidade real de os afrontar para além da denúncia.As enormes dificuldades e vulnerabilidade que atravessa a Naçom permitem explicar a crise demográfica que ano após ano gera umha preocupante queda de habitantes só compensada com o novo fenómeno da imigraçom para o que o movimento de libertaçom nacional ainda carece de umha estratégia definida que permita integrar este contingente de povo trabalhador na Galiza que queremos construir.Após mais de 150 anos de construçom do movimento nacional, a ameaça do abismo a que nos conduz Espanha continua sem ser superado.

Crise ecológicaA grave crise ambiental é sem lugar a dúvidas mais profunda e preocupante do que nos querem fazer acreditar. Pola primeira vez, a sobrevivência da espécie humana acha-se em perigo. É tangível um enorme holocausto global derivado do esbanjamento de recursos e a implementaçom a escala planetá-ria de um modelo de desenvolvimento antagónico com o equilíbrio e respeito ecológico.Embora persista a marginalizaçom e o empobrecimento secular que a Galiza padece na divisom internacional do trabalho, o nosso país nom é alheio a estes fenómenos. Todo o contrário. Temos uns índices de contaminaçom su-periores o de sociedades mais industrializadas e urbanizadas que a nossa. Os infames planos do capitalismo espanhol e da Uniom Europeia que reduzírom à mínima expressom o sector primário inviabilizando assim a imprescindível soberania alimentar, pretendem seguir sobreexplorando os nossos recursos. As coordenadas criminosas baseiam-se na implantaçom com absoluta im-punidade de indústrias de enclave, de insensatas reflorestaçons de monocul-tivos de espécies foráneas, dum modelo energético alheio às necessidades endógenas, destruindo as costas e espaços naturais protegidos com portos desportivos, construindo urbanizaçons, campos de golfe, vias de transporte que desvertebram o País e o incomunicam, no quadro de umha estratégia turistificadora que pretende inviabilizar economicamente a Galiza até lograr convertê-la numha simples reserva de matérias-primas, energética e de mao de obra barata.

Manifesto à Pátria e ao Povo Trabalhador Galego

CHEGOU A HORA DA UNIDADE PARA RESISTIR E LUITAR

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Protesto contra o papel da banca em plena crise capitalista

Membros da Assembleia Comarcal de NÓS-Unidade Popular em Compostela realizárom umha concentraçom às portas da sucursal principal de Caixa Galicia da cidade, para denunciar o papel usurário da banca e a extorsom a que se vê sub-metida a maioria da populaçom polas suas actuaçons.Num momento em que as classes popu-lares atravessam crescentes dificuldades laborais e económicas, a banca, com a

cumplicidade dos governos, continua a garantir os lucros, fruto das ajudas pú-blicas e da concessom de todo o tipo de vantagens e negócios.A acçom fai parte da campanha “Que os ricos paguem a crise”, que NÓS-UP vem desenvolvendo nos últimos meses, e incluiu o reparto de informaçom sobre a campanha e as alternativas anticapita-listas à crise estrutural do sistema.

PP quer fechar os centros sociais autogeridos

NÓS-Unidade Popular apresentou denúncias contra a polícia espanhola e Galicia Bilingüe

O PP de Compostela, liderado por Gerardo Conde Roa, insiste em continu-ar os seus ataques contra os movimentos populares na nossa cidade. Mais umha vez o alvo principal conti-nuam a ser os centros sociais, acusados e acosados polo grupo municipal da di-reita espanholista, obsessa por conseguir que o Governo municipal feche estes lu-gares. A paranóia repressiva do senhor Conde Roa assinala o CS Henriqueta Outeiro e o CS O Pichel, como ninhos de dissidência a erradicar.Para o PP, que a vizinhança de Compostela se organize é um grave pro-blema de ordem pública. Nom se pode permitir que em locais autogeridos se articulem perigosíssimas actividades como confrências, cursos ou actividades gastronómicas. Todas elas sem o contro-lo directo da autoridade competente.Resulta especialmente vergonhoso que do grupo municipal do PP afirmem que o governo municipal aplique um trato de favor a estas entidades sociais, quan-do na realidade tanto o CS Henriqueta Outeiro como a AC a Gentalha do Pichel

venhem desenvolvendo as suas activi-dades à margem de qualquer influência institucional, quando nom sorteando nu-merosas travas impostas polo governo que lidera Sanches Bugalho.De NÓS-Unidade Popular queremos manifestar a nossa total solidariedade com as entidades afectadas pola obses-som criminalizadora da direita espanho-lista.Ao nosso entender, a existência dos cen-tros sociais nom supom qualquer pro-blema. Muito pola contra, som umha magnifica amostra da vitalidade social necessária para o desenvolvimento de umha autêntica participaçom democráti-ca na nossa sociedade.Se ao PP lhe incomodam os centros so-ciais nom é porque estes locais careçam ou nom de licença de abertura, mas por-que neles a gente participa, debate e cria alternativas reais a umha sociedade hie-rarquizada. Porque nos centros sociais as pessoas abandonam o seu papel de consumidoras para se tornarem activas criadoras de ócio e cultura.

Bruno Lopes Teixeiro e Maurício Castro Lopes em representaçom de NÓS-Unidade Popular apresentárom umha denúncia contra a junta directiva de Galicia Bilingüe por delitos contra o exercício de direitos fundamentais reco-lhidos nos artigos 510 e 515 do Código Penal, incluindo a induçom à discrimi-naçom, ao ódio e à violência contra as pessoas, como se recolhe nos documen-tos audiovisuais existentes da manifesta-çom convocada pola entidade antigalega no passado dia 8 de Fevereiro.Gritos chamando à violência policial contra defensores da língua, insultos e provocaçons constantes fam parte de umha estratégia denunciável em termos de ódio étnico contra os galegos e as ga-legas, o que NÓS-Unidade Popular de-nunciou no Julgado de Instruçom nº 1 de Ferrol para que se tomem medidas legais contra a impunidade com que vem actu-

ando a associaçom Galicia Bilingüe.Por outra parte, o companheiro Carlos Morais, membro da Direcçom Nacional de NÓS-Unidade Popular, formalizou 27 de Fevereiro no Julgado de Instruçom nº 1 de Compostela umha denúncia contra os elementos da Polícia espanhola que participárom na agressom e detençom de que foi vítima na referida manifestaçom, no dia 8 de Fevereiro, quando de manei-ra pacífica se manifestava em defesa do galego e acabou no hospital com trau-matismo cránio-encefálico pola violenta actuaçom policial. Junto à denúncia o nosso companheiro aportou diverso ma-terial gráfico e audiovisual.Os métodos da Polícia na referida jor-nada constituem, em opiniom do serviço jurídico de NÓS-Unidade Popular, um delito contra o exercício de direitos cívi-cos e de lesons.

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7Refundaçom do obsoleto nacionalismo ou recomposiçom da esquerda independentista?Os três últimos quinquénios fôrom espectadores de um progressivo pro-cesso de aggiornamento da principal estrutura defensiva que os sectores populares galegos tenazmente erguérom desde meados da década de ses-senta do século XX até atingir a sua actual plena integraçom no sistema político espanhol. A direcçom e imensa maioria dos quadros da esquerda nacionalista optou por capitular frente Espanha e o Capital adoptando um inofensivo e contraditório perfil centrista e regionalista que lhes permitiu saborear as migalhas que o regime lhe condece pola sua lealdade. O autonomismo logo da nefasta experiência do bipartido pretende aplicar de forma oportunista e a marchas forçadas um giro à esquerda para re-compor-se, ganhar tempo, evitando assim um maior descalabro eleitoral e retrocesso nos espaços de poder institucional atingidos. Porém, este mo-vimento nom passa de ser algo meramente virtual. O actual autonomismo nom se pode regenerar. O pactismo, a adulteraçom ideológica, a cumpli-cidade com os inimigos de classe e nacionais, a renúncia estratégica ao exercício do direito de autodeterminaçom e à transformaçom social estám plenamente inoculadas no seu seio, fam parte do seu ADN. Só pessoas bem intencionadas, ingénuas e incautas podem acreditar ho-nestamente nas possibilidades reais de voltar a fazer do BNG umha fer-ramenta útil para defender Galiza desde os interesses das camadas popu-lares. O seu ciclo está esgotado. Inexoravelemente o BNG caminha a ser um espectro mais da velha esquerda desnutrida e anémica, estrategica-mente derrotada e imbricada na lógica do parlamentarismo burguês.Este processo enquadra-se na mais que provável mudança de ciclo que após o parêntese do zapaterismo levará a direita tradicional a voltar a ocupar o governo espanhol.

É hora de avançarmos na reformulaçom do independen-tismo socialistaA grave e profunda crise social e nacional colhe-nos a contrapé. Porém nom é o momento de inclinar bandeiras, de resignaçom e desencanto. Todo o contrário! É imprescindível dar passos firmes e claros face à recomposiçom socio-política da esquerda independentista e socialista galega. A reorganizaçom deste espaço é urgente, nom pode seguir dilatando-se sine die. É hora de adoptar com valentia e coragem a grande matéria pendente. A indecisom, a comodidade e o conformismo nom tenhem cabimento. Nom existem muros infranqueáveis.As responsabilidades colectivas desta lamentável situaçom nom podem seguir condicionando a actual divisom e fragmentaçom que impossibili-tam sermos um projecto útil para defender a naçom galega e os interesses de classe e de género da imensa maioria social. É necessário visibilizar mudanças de atitudes. Há que mover ficha. As experiências falhadas que arrastamos tampouco podem continuar a ser umha lousa inamovível que condiciona e negue antidialecticamente o futuro. Com modéstia revolucionária, sem falsos protagonismos, sem condicio-nantes prévios, nem modelos preestabelecidos, apelamos o conjunto de agentes políticos e sociais de carácter nacional e local, de activistas do movimento popular e operário, que nos enquadramos nos parámetros da esquerda independentista, a iniciar um processo de diálogo tendente a superar este mal endémico que nos consome e esteriliza para organizar a resistência, injectar moral, frear a ofensiva do Capital e do projecto espanhol, como objectivos imprescindíveis que posteriormente permitam sentar as bases de umha vitória estratégica da Naçom Galega, da emanci-paçom social de género.

Com total honestidade, estamos plenamente convencidas de que é possí-vel com generosidade e olhar de futuro iniciar a imprescindível transfu-som de ideias, de projectos, de modelos que permitam elaborar sínteses de mínimos colectivamente aceitáveis que possibilitem a convergência para, com iniciativa, impulso, inconformismo, e intransigência, dotar o País e a nossa classe do baluarte organizado que demandam amplos sec-tores populares.

Galiza, Maio de 2009

Page 8: O Pedroso nº 37

soPedro ovozeiro comarcal de NÓS-Unidade Popular da comarca de Compostela www.nosgaliza.org

Conselho de Redacçom: Anjo Paz, José Dias Cadaveira, César Campos, Carlos Morais, Jacobe Ribeiro, Maria Sanches, André Seoane Antelo, Patrícia Soares Saians.

Imprime: Tameiga • Edita: NÓS-Unidade Popular da Comarca de Compostela. Rua Quiroga Palácios, 42, rés-do-chao, Compostela · Galiza Tels. 881 979 561 · 609 338 370 • e-mail: [email protected] • Correcçom lingüística: galizaemgalego

Publicaçom trimestral de NÓS-UP da Comarca de Compostela • Distribuiçom gratuita.Permite-se a reproduçom total ou parcial dos artigos e informaçons sempre que se citar a fonte.

O Pedroso nom partilha necessariamente a opiniom dos artigos assinados.

O Pedroso nº37 · Abril-Junho 2009 • Tiragem: 5.000 exemplares • Depósito Legal: C-1002-01 • Encerramento da ediçom: 20 de Abril de 2009

Propostas para evitar seguir perdendo poder aquisitivo

NÓS-UP exige ao governo espanhol e a Junta da Galiza umha mudança radical na política socioeconómica, mediante a imple-mentaçom de medidas de choque com base na:-Nacionalizaçom dos sectores estratégicos e intervençom pública impulsionando empresas mistas.-Constituiçom de um Sector Lácteo Galego de carácter misto.-Restituiçom do carácter público de todos os serviços autonómi-cos privatizados polo PP-PSOE-BNG.-Aumento da pressom fiscal sobre os ricos e reduçom entre as rendas mais baixas.-Subsídio dos produtos alimentares básicos, transporte, consumo energético e acesso às novas tecnologias de todas as trabalhadoras e traablhadores com rendas inferiores os 8.000€ anuais.-Incremento salarial garantindo aumento do IPC.-Salário Mínimo Interprofissional de 900€.-Aumento das pensons de jubilaçom superior ao IPC.-Reduçom da jornada laboral.-Supressom das ETTs e da precariedade laboral no emprego pú-blico.-Retirada de ajudas e subsídios a todas aquelas empresas privadas que nom tiverem o conjunto de pessoas assalariadas com contrato estável e indefinido.-Eliminaçom das horas extras.-Implantaçom do salário social.-Plano Galego de Emprego (PGE) para atingir o pleno emprego.-Medidas excepcionais de discriminaçom positiva no PGE à ju-ventude, mulheres e maiores de 40 anos. -Anulaçom dos reformas laborais das últimas duas décadas.-Modificaçom da legislaçom laboral para evitar despedimentos.-Supressom do IVA.-Criaçom do Banco Nacional Galego da fusom das Caixas de Aforro e dos fundos autonómicos para dinamizar a economia me-diante juros testemunhais.

NÓS-Unidade Popular apoia a mobilizaçom nacional em defesa da nossa lín-gua da ‘Plataforma Galego sempre Mais’. Esta iniciativa unitária que parte da proposta inicial do Centro Social Baiuca Vermelha de Ponte Areias conta com o apoio do conjunto das entidades nor-malizadores de base do País, para dar resposta à imposiçom do espanhol num momento de mudança institucional que ameaça com maiores agressons contra os direitos lingüísticos colectivos do nosso povo. ‘Galego sempre Mais’ fai do reintegracionismo um sinal de identidade e nasce

com vocaçom unitária e mobilizadora. Mas também com umha posiçom crítica da acçom de governo do bipartido PSOE-BNG nos últimos anos.

A intençom dos colectivos integrados na plataforma era fazer umha convocató-ria totalmente unitária no Dia das Letras, o que nom foi possível devido à po-siçom intransigente da Mesa, empenhada em submeter a interesses puramente partidistas a crítica ao novo governo.

Manifestaçom nacional • 17 de Maio às 12.15 horas Alameda de Compostela

Galego sempre Mais

Contra a crise capitalista: greve geral!

Nom nos enganemos!! Som tempos duros. Sabemos que nom som momentos de vinho e rosas, mas tampouco de resignaçom e fra-queza. Toca defender com decisom e firme-za o nosso presente e o nosso futuro. A classe operária e o conjunto do povo tra-balhador galego nom pode continuar a de-positar confiança nas promessas incumpri-das das forças políticas burguesas, nem nas de ámbito espanhol nem nas autonomistas, tampouco nos seus sindicatos entreguistas e vende-operárias/os. Resulta significativa a falta de disponibilidade para convocar urgentemente umha jornada nacional de luita, umha greve geral, quando enfrenta-mos umha das maiores agressons à classe trabalhadora das últimas décadas.

É necessário deter a voracidade ilimitada da burguesia. O patronato só pode ser frea-

do mediante a luita unitária e organizada da nossa classe.

As trabalhadoras e trabalhadores galegos, o conjunto dos sectores populares, nom podemos continuar impassíveis e anco-rados na resignaçom paralisante. Há que mobilizar-se, protestar, reivindicar, exigir responsabilidades. Há que participar acti-vamente nas luitas das empresas e centros de trabalho, implicar-se nelas, evitar que sejam instrumentalizadas polas burocracias sindicais para favorecer interesses políticos espúreos.

Chegou pois a hora de luitar. É o momen-to da unidade de classe, de confiar na nos-sa imensa força e potencialidade. Adiante com a greve geral!

1º de Maio, Dia do internacionalismo proletário