Moses Hess Como Espectro

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    ARTIGO ORIGINAL DOI:

    PHILSOPHOS, GOINIA, V.18, N. 1, P. 191-218, JAN./JUN. 2013 191

    MOSES HESS COMO ESPECTROFEUERBACHIANO DEM ARX 1

    Jos Crisstomo de Souza (UFBA)[email protected]

    Resumo:O artigo oferece elementos para uma reveladora genealogia dasconcepes tericas do Marx maduro, atravs de um reexame das posiesfilosficas de seu aliado Moses Hess, bem como das estreitas relaes tericasentre ambos. Vale-se primeiro do modo narrativo para evidenciar o papel e olugar de Hess naquele desenvolvimento, aproximando o pensamento de am-bos, e, ao mesmo tempo, aproximando os dois de Feuerbach e do jovem he-gelianismo de onde procedem. A companhia de Hess aparece ento comouma espcie de sombra permanente desse passado filosfico feuerbachiano,uma assombrao a denunciar pressupostos filosficos normativos, umtanto ocultados, que acompanham Marx no desenvolvimento da teoria

    alem at crtica da economia poltica e concepo materialista da hist-ria - da teologia antropologia e ao materialismo, mais como um continuumdo que como uma ruptura. Nessa evoluo de ambos Hess e Marx - estenvolvida a sustentao de uma posio crtica positiva, por uma transfor-mao do fundamento filosfico do socialismo oferecido por Feuerbach: ohomem como ser genrica, como dotado de uma essncia universal objetiva,agora, em Marx, o conjunto das relaes sociais. Por trs disso, ainda, aidia do cristianismo como suposta expresso distorcida dessa essncia real, eo mundo religioso como reflexo ilusrio do mundo terreno.

    Palavras-chave:Marx; Hess; hegelianismo; humanismo real; materialismohistrico.

    Tanto Moses Hess (1812-1875) quanto Karl Marx (1818-1883) integram o movimento filosfico constitudo em tor- 1

    Recebido: 20-09-2012/Aprovado: 21-05-2013/Publicado on-line: 29-09-2013.2 Jos Crisstomo de Souza professor Titular do Departamento de Filosofia da UniversidadeFederal da Bahia, Salvador, BA, Brasil.

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    no de 1840 pelos hegelianos de esquerda, crticos do arcai-co status quo social e poltico prussiano, da religio e da filo-

    sofia a ele ligadas, tanto quanto da Modernidade burguesaque se anunciava como sua problemtica alternativa. Na-queles anos, o chamado movimento jovem hegeliano, doshegelianos de esquerda, radicalizava-se cada vez mais, noplano das idias, e, no processo, esses precursores da teoriacrtica acabaram por dividir-se, basicamente em duas alas.Uma, em torno de Ludwig Feuerbach (1804-1872), comu-

    nitarista-altrusta, que se concebia como crtica positiva,filosoficamente construtiva, da religio, de incio em nomeda essncia genrica do homem. Outra, em torno deBruno Bauer e Max Stirner, caracterizada por uma negati- vidade sem peias, mais inclinada a posies liberais e, porfim, individualistas extremas - filosoficamente dissolvedora,embandeirada das prerrogativas e poderes da subjetividade

    livre (a autoconscincia), em nome da qual negava tanto areligio quanto a comunidade.3 Moses Hess e, depois dele,seus parceiros mais jovens, Karl Marx e Friedrich Engels, namedida em que a distino entre as duas alas se acentuava,a pelos anos 1843-5, ficaram com a primeira, a de Feuer-bach.4 Da o subttulo daSagrada Famlia, de Marx e Engels,de 1845, uma obra que espelha e defende o humanismo

    real feuerbachiano, ser Crtica da Crtica Crtica, ContraBruno Bauer e Consortes.5 De outro lado, no mesmo ano,O nico e Sua Propriedade, de Max Stirner, e os posterioresartigos dele e de Bauer e seus aliados naRevista Trimestral deWigand, de Leipzig, constituram-se, conjuntamente, num

    3 Sobre essa bifurcao, ver (SOUZA, 2001)4

    Para uma introduo a Feuerbach, ver (SOUZA 1994 )5 Para conhecer Bauer para alm da caricatura feita por Marx na Sagrada Famlia, ver(MOGGACH2003)

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    ataque no menos frontal a Feuerbach e consortes. A es-ses materiais Marx procurou responder de uma vez por to-

    das, em parceria com Engels, com A Ideologia Alem (1845-46), considerada com razo a primeira obra em que apareceesboada sua teoria social da maturidade: a denominadaconcepo materialista da histria.

    Creio que se pode dizer, por outro lado, que Stirner es-creveu sua ideologia alem antes de Marx e Engels, por-que, com suas posies nonico e Sua Propriedade, tentou

    deixar para trs, alm de seus adversrios no campo hegeli-ano, da ala do humanista Feuerbach, tambm seus correli-gionrios mais prximos, concorrentes, como o crticocrtico Bruno Bauer. E porque, tal como Marx naIdeologia Alem, tratou sua maneira de, nesse movimento, rompercom o prprio campo da filosofia tradicional (melhor di-zendo, da filosofia clssica alem), em que se confronta-

    vam inicialmente todos eles. No nico, Stirner faz umacrtica s concepes de Feuerbach que alcana tambm asconcepes filosfico-sociais de Hess e Marx, bem como de Weitling e Proudhon (que Marx defendera naSagrada Fam- lia). Ora, alm de representar o partido oposto, o cenriono lado de Bauer e Stirner apresenta certa simetria com ocenrio no partido de Feuerbach, no qual Marx, depois

    da Ideologia Alem, vai aos poucos passar a ocupar uma posi-o, anloga de Stirner, de distanciamento e de rupturacom o contexto terico-filosfico anterior (o hegelianismo eo humanismo), e de afastamento dos seus prprios aliados.Seu novo posicionamento terico, porm, como mostrarei,no ocorre de forma to rpida, decidida e completa, comoalguns poderiam pensar. Pode-se argir que a prpriaIdeo- logia Alem tem ainda o sentido de uma defesa da platafor-ma filosfica de Feuerbach e consortes, o que inclui

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    Moses Hess, contra o outro partido, rival, da teoria crticahegeliana, dividido entre Bauer e Stirner.6 E isso apesar do

    que sugere seu subttulo: Crtica da Filosofia Alem MaisRecente na Pessoa de Seus Representantes Feuerbach, Bau-er e Stirner..., e apesar de tambm Moses Hess ser objetode crtica nessa obra.7 O que nos permite supor que mesmoa concepo terica madura de Marx, que ele formula pelaprimeira vez, de modo sistemtico, justamente naIdeologia Alem, continuou a ter ainda significativos elementos em

    comum com o feuerbachianismo de Moses Hess, que repre-sentaria, ento, o que chamo aqui de seuespectro, em doissentidos, correlatos. O primeiro, o de que Hess (que foiquem converteu Marx e Engels ao comunismo) teorica-mente uma espcie de rplica relativamente tosca e esmae-cida de Marx; seu smile sem a mesma nitidez decontornos, algo como seu rascunho e sua sombra. O segun-

    do sentido, o de que ele sua sombra tambm de outromodo: de que algo do passado filosfico de Marx, que de-le no desgruda como um encosto. Talvez mesmo umaespcie de assombrao com alguma revelao perturba-dora a fazer - sobre Marx e a concepo materialista da his-tria. Seno vejamos.

    I -HESS EM ARX COMO(PS-)FEUERBACHIANOS Os desenvolvimentos contidos naIdeologia Alem, de Marx

    6 Sobre a participao de Moses Hess naIdeologia Alem, ver (MNKE1963). Para uma introdu-o geral a Hess, ver, p. ex., de (BERLIN1959), ou (AVINIERI1985) .Sobre sua relao com aesquerda hegeliana, ver, (CORNU1934). Para os dados completos de referncia bibliogrfica,tambm das prximas notas, ver lista ao final do artigo.7

    O subttulo completo daIdeologia Alem : Crtica da mais recente filosofia alem nos seus represen- tantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemo nos seus diversos profetas. Entre taisprofetas est, com destaque, Moses Hess.

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    e Engels, podem ser lidos como uma resposta aos artigos daRevista Trimestral de Wigand e aonico, e vrios indcios su-

    gerem que a obra no propriamente um ataque contraFeuerbach nem contra o feuerbachiano Moses Hess - pelomenos no do tipo do que conduzido contra Stirner eBauer. Marx e Engels iniciam o Conclio de Leipzig (que o ttulo original daIdeologia Alem, sem a seo Feuer-bach, que no constava do seu plano inicial) denunciandoum processo inquisitorial aberto contra Feuerbach pelos

    Padres da Igreja. So Bruno (Bauer) e So Max (Stirner),processo que se estende tambm a M. Hess e aos autoresda Sagrada Famlia (IA 111-2, d79-80).8 O primeiro trechoda seo So Bruno leva o ttulo de Campanha contraFeuerbach, e a Marx, juntamente com Engels, embora s vezes avanando algumas reservas, procura defender o autorda Essncia do Cristianismo da curiosa acusao de cava-

    leiro da substncia (116ss, d81ss).9

    Eles tratam de tomar ascrticas do anti-substancialista Bauer ao chamado sensua-lismo feuerbachiano como condenaes moralistas a umpensador materialista quase libertino (121ss), e de minimi-zar as denncias do carter ainda religioso e ambguo domaterialismo feuerbachiano (124). Apenas na medida emque a obra avana, Marx e Engels vo procurando distanci-

    ar-se mais claramente de seu mestre humanista, como tam-bm de Moses Hess e do socialismo verdadeiro que nelesse inspirava.10

    8 Usarei IA como abreviatura paraIdeologia Alem, no texto. A indicao da pgina refere-se edi-o francesa de BADIA, G. Paris: Paris: ditions Sociales, 1968. Em vrios casos, remeto adicio-nalmente edio alem, da Dietz Verlag, indicada por d (Marx und Engels Werke, v. 3), qualinfelizmente faltam vrios trechos que aparecem na edio francesa.9

    Para entender essa acusao e a concepo de Bauer, ver (SOUZA2004).10 Para uma apresentao mais completa das posies filosficas da esquerda hegeliana em seu de-senvolvimento, ver SOUZA, J.C., Ascenso e Queda do Sujeito no Movimento Jovem Hegeliano, emCont.

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    Naquele perodo, Engels, de comum acordo com Marx,ainda tentava comprometer Feuerbach mais ativamente

    com o comunismo como movimento social e poltico alm de filosfico. Procurava at mesmo convenc-lo a mu-dar-se para Bruxelas, onde j se reuniam, exilados, Hess eeles prprios, em torno do Comit de CorrespondnciaComunista.11 Pouco antes de comear a redao daIdeolo- gia Alem, os jovens Marx e Engels, na esteira de MosesHess, ainda acreditavam que Feuerbach oferecia nada me-

    nos que o fundamento filosfico para o socialismo, o conceitodo homem como Essncia Genrica ou Ser Genrico(Gattungswesen).12 Na Sagrada Famlia, obra imediatamenteanterior Ideologia Alem, Marx e Engels colocam-se comentusiasmo ao lado de Feuerbach, declarando sua profissode f no seu humanismo real. E uma leitura atenta pode ve-rificar que, tal como no caso de Hess, no foi bem o mate-

    rialismo feuerbachiano que atraiu suas simpatias.Feuerbach, alis, a considerado no exatamente comoum materialista, mas como o filsofo que superou definiti- vamente a velha contradio espiritualismo vs. materialismo(SF 117).13 Ele antes quem estabeleceu o homem realcomo slido princpio, como fundamento normativo lti-mo, quando a crtica destruidora [de Bauer]buscava liquidar

    que o presente artigo em boa medida se baseia, e A Questo da Individualidade.11 Ver, sobre isso, por exemplo, (MEHRING1961).12 Ver carta de 11/08/1844, emMarx und Engels Werke, (M.E.W.), Berlim, Dietz, v. 26, em queMarx tambm anuncia a Feuerbach seu plano de desenvolver uma crtica ao outro partido filos-fico (de Bruno Bauer e correligionrios) e uma defesa do seu humanismo real, que resultaramna Sagrada Famlia, e pede, como extremamente preciosa, a opinio de Feuerbach a respeito. Aindaa, Marx trata de testemunhar sua mais alta considerao e afeio para com o nosso humanista, einforma que, em Paris, os trabalhadores alemes emigrados acompanham cursos sobre vossaEssn-

    cia do Cristianismo, dados por seus dirigentes clandestinos.13 No texto, usarei SF para me referir Sagrada Famlia, de Marx e Engels, citada a partir da ediofrancesa das ditions Sociales.

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    toda coisa determinada e todo o existente atravs da autoconscin- cia (50) isto , atravs de sua (de Bauer) verso da subje-

    tividade livre (universal), para Hegel o princpio daModernidade.14 Assim, Feuerbach no tanto a influnciaque levou Engels e Marx e Hess - a deixarem o idealismo(como Engels sugere, muito tempo depois, noFeuerbach e oFim da Filosofia Clssica Alem), mas, sobretudo, quem inici-almente lhes ofereceu um fundamento para o ideal [Sollen]comunista, para a superao do dissolvedor e anti-

    comunitrio individualismo/subjetivismo moderno.Marx, no seu ensaio Para uma Crtica da Filosofia doDireito de Hegel Introduo, j havia adotado a mximafeuerbachiana, tambm favorita de Hess, segundo a qual ohomem para o homem o Ser Supremo. Publicado nos AnaisFranco-Alemes, em fins de 1844, Marx enviara previamenteo ensaio a Feuerbach, como testemunho de afeio e alta con-

    siderao.15

    Tambm nosManuscritos Econmicos e Filosfi- cos, de 1844, que, tal como A Ideologia Alem,permaneceram inditos durante sua vida, Marx deixavaperceber a forte marca da antropologia feuerbachiana,16 etomava entusiasticamente o partido de Feuerbach e de Hesscontra Bauer.17 Por essas e outras razes, no deve surpre-ender que, no momento da publicao dos artigos de Leip-

    zig, e donico, Marx fosse considerado, publicamente,14 Entre outras faanhas, Ludwig Feuerbach, com seu novo princpio, teria a glria de ter aniqui- lado a dialtica dos conceitos (SF, p. 115), - cuja capacidade crtica dissolvedora o que mais desa-grada a Karl Marx.15 Ver a mencionada carta de Marx a Feuerbach, de 10/08/1844.16 Nos Manuscritos de 44, a marca feuerbachiana de Marx aparece, por exemplo, na sua adeso in-tegral concepo do homem como ser genrico, ou essncia genrica, denunciada por Bauercomo substancialista e dogmtica. E tambm no fato de ele tomar a noo feuerbachiana de ali-enao como o conceito central daquela obra.17

    A perspectiva filosfica mais geral esboada por Feuerbach na Contribuio Crtica da Filo-sofia de Hegel, de 1839, antecipa aquela que Marx vai assumir depois, e prefigura o divisor deguas com a outra parte da esquerda hegeliana, a de Bauer e Stirner.

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    como um seguidor de Feuerbach, tanto quanto Hess, e qui- at um seguidor tambm deste ltimo. Marx mesmo vai

    admitir, mais de vinte anos depois, que o culto de Feuer- bach da essncia genrica do homem estava bem presentena Sagrada Famlia, a qual, no obstante, no traria nada deque seus autores devessem envergonhar-se.18 No de admirarque um aliado de Bauer, Gustav Julius, tratasse Marx nosidos de 1845 como um feuerbachiano dogmtico, em suarplica Sagrada Famlia.19 E que, no Caracterizao de

    Feuerbach, artigo de Bauer naRevista Trimestral de Wigand,de 1845, esse sugerisse queO nico de Stirner uma refu-tao do pensamento de Feuerbach tal como representado porseus discpulos comunistas Hess, Marx e Engels, tratados os trscomo conseqncias de Feuerbach.20 A Sagrada Famlia ser- viria, segundo Bauer, para mostrar a que conduz necessari-amente o pensamento de Feuerbach, e o que este diria se

    tivesse de lutar diretamente contra a Crtica pura baueri-ana - aquela que, para Marx, ao colocar a Autoconscincia(individual, ainda que elevada universalidade) no lugar doHomem (como ser social, circunstanciado), tornara-se omais perigoso inimigo do humanismo real na Alemanha.21

    Na Ideologia Alem, Marx e Engels continuam a dar tes-temunho de uma significativa proximidade com o feuerba-

    18 Carta de Marx a Engels, de 24-04-1867, M.E.W., v. 31. 19 (JULIUS1845). NaSagrada Famlia, segundo Julius, Marx ope um humanismo catlico, realista,ao humanismo protestante de Bauer, idealista. Julius considera Marx como o profeta feuerbachia-no de uma igreja visvel, que anatemiza o egosmo em nome da noo religiosa de ser genrico(de uma essncia humana comunitria) e abraa a concepo dualista do homem, de Feuerbach,que para ele imporia uma essncia como medida universal e objetiva, em certo sentido opostaaos indivduos.20 Nesse mesmo artigo, Bauer estima que cabe sua Crtica pura (a Crtica Crtica) a supera-o de ambas as posies - a doegosmo de Stirner e a dos comunistas feuerbachianos - como dog-

    mticas. o carter liberal-dissolvedor, no-comunitrio, do alegado anti-dogmatismo baueriano,que irrita Marx.21 com essa afirmao que Marx abre o prefcio daSagrada Famlia.

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    chianismo (compartilhada por Hess), ao tempo em que deleprocuram distinguir-se. No apenas no tratam Feuerbach

    ironicamente deSo Ludwig (como fazem com Stirner eBauer), como deixam claro que no o consideram um opo-sitor, mas antes um aliado. Ao criticar na seo Feuer-bach a noo do mundo como algo dado de todo o sempre(em oposio idia do mundo como atividade sensvel),Marx e Engels declaram que trata-se de um erro que Feuer- bach continua a compartilhar com os nossos adversrios (IA 74) -

    do que se depreende que Feuerbach, apesar de tudo, noera um deles. Mas isso no ainda o mais importante; En-gels e Marx, naIdeologia Alem, tratam de assumir sem rega-tear a crtica feuerbachiana da religio - a tese geral daEssncia do Cristianismo - como premissa de seu prprio de-senvolvimento terico e da sua prpria crtica, e isso comtodas as letras. Eles reconhecem que foi o autor daEssncia

    do Cristianismo quem abriu caminho para a Teoria alemchegar a uma concepo materialista do mundo, sendo que oavano nessa direo se consumaria, por sua vez, dizem eles,nos artigos de Marx nos Anais Franco-Alemes - embora, a,ainda, com a ajuda do vocabulrio filosfico tradicional, isto ,na linguagem do nosso humanista comunitrio Feuerbach.E como que este preparou o caminho para tal avano ma-

    terialista? Simplesmente mostrando que o mundo religioso oreflexo ilusrio do mundo terrestre - e que Deus a essnciagenrica do homem, hipostatizada. Diante do que, dizMarx, cabe passar grande questo remanescente: Comoacontece que os homens tenham essas iluses? (e, entendamos,percam-se, assim, da sua essncia genrica, terrena, objeti- va), questo que, segundo ele, remete diretamente ao estu-

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    do do real material (IA 268, d217).22 Como veremos, reco-nhecimento comparvel eles poderiam ter prestado ao

    feuerbachiano Moses Hess, que, para alm de Feuerbach,abriu caminho para mais de um dos desenvolvimentos in-troduzidos por Marx na Teoria alem. de se notar, almdisso, que a clara aceitao, pelo Marx maduro, da tese cen-tral de Feuerbach, como premissa de seu novo desenvolvi-mento terico, significa avanar para a crtica materialistado capitalismo, carregando nas costas o humanismo feuer-

    bachiano, ou seja, o ser-genrico, ainda que reinterpreta-do.23 O comunismo criticado por Bruno Bauer e Max Stirner

    tanto o de Moses Hess como o de Karl Marx, compreen-dendo ainda o de Wilhelm Weitling e o do utpicoEtienne Cabet. Alguns estudiosos entendem que no as-sim, que aquele comunismo nada tem a ver com as concep-

    es prprias de Marx, que as crticas de Bauer e Stirnerconstituem uma refutao apenas do socialismo de inspira-o abertamente hegeliano-feuerbachiana, e hessiana, ochamado socialismo verdadeiro, que Marx pode ter esposa-do muito inicialmente mas que abandonou por completo,junto com Engels, muito antes de escreverem aIdeologia Alem.24 E afirma que os equvocos de Moses Hess e do so-

    22 interessante observar como essa notvel passagem de Marx anloga a outra encontrada noPara uma Crtica da Filosofia do Direito de Hegel - Introduo, um dos artigos dos Anais a queele se refere naIdeologia Alem. Nesse artigo Marx afirma que, superada a crena no que est alm daverdade, a misso histrica consiste em averiguar a verdade daquilo que nos circunda (p. 257). E adianta: A crtica da religio desemboca na idia do homem como ser supremo para o homem; com a conseqnciado imperativo categrico de mudar todas as relaes em que o homem um ser humilhado, subjugado, aban- donado e desprezvel (p. 262). Ver MARX, Zur Kritik der hegelschen Rechtsphilosophie. Einlei-tung, em LWITH, Karl,Die hegelsche Linke.23 o que procuro estabelecer em Marx and Feuerbachian Essence: Returning to the Question ofHuman Essence in Historical Materialism, de 2006.24 (ARVON1978). Outros autores chegam ao ponto de afirmar que, j naQuesto Judaica,Marxno tem nada a ver com as concepes de Feuerbach - por exemplo,( THOMAS1975). Mas issoCont.

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    cialismo verdadeiro representam, no mximo, momentos daconscincia passada de Marx e Engels bem anteriores a

    1845, Ideologia Alem.25

    Mesmo se for assim, Hess, consi-derado o pai do socialismo alemo, pode ainda representarum elo de Marx com seu passado, com a filosofia alem e ohegelianismo de esquerda, de sorte que uma olhada evo-luo das concepes tericas de Hess e de Marx, e s rela-es entre eles, permitiria compreender melhor o lugar deMarx no interior desse desenvolvimento. No entanto, como

    vimos sugerindo, possvel que tal recapitulao mostretambm, no exatamente um passado superado, mas deixeantes apreender, na expresso menos elaborada e sempremais ingnua de Hess, um conjunto de referncias que semantm, apesar de tudo, no pensamento de Marx, de 1845em diante. Um exemplo significativo disso que Hess en-tendeu - e Engels confirma esse entendimento - que sua

    prpria crtica aonico de Stirner coincidia inteiramentecom a que Marx formulou logo de sada.26 Entretanto, a cr-tica de Hess ao livro de Stirner faz restries a Feuerbachpor sua posio intermediria, no entre materialismo eidealismo, como Marx vai-se exprimir naIdeologia Alem,mas entre, de um lado, o individualismo e as pretenses dasubjetividade, e, de outro, o socialismo e a comunidade

    como ser e dever-ser para os homens.27

    Ora, no podera-mos entender que essa tambm a questo principal para

    me parece, como procuro mostrar, muito pouco plausvel.25 (BOTTIGELLI1974, p. 213).26 Hess refere-se rplica de Marx carta de Engels de novembro de 1844, em que este mostrasimpatia pelonico e por Stirner. A carta seguinte de Engels a Marx confirma a coincidncia ale-gada por Hess ( M.E.W., v. 27).27 HESS, Die letzten Philosophen, publicado como um opsculo, em Darmstatt, 1845. Ver ree-dies contemporneas, em LWITH,Die hegelsche Linke, p. 50-51, e, em ingls, The RecentPhilosophers, em (STEPELEVICH1983, p.363).

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    Marx?O fato que, ademais de sua extraordinria capacida-

    de terica, Marx tinha uma habilidade polmica muito su-perior de seu companheiro de comunismo, Moses Hess,que no passou pela sofisticada formao acadmica de umdoutor em filosofia. Acrescente-se que Marx teve o benef-cio de formular, tanto seu contra-ataque a Stirner e Bauer,como sua crtica defensiva a Feuerbach (que, somados,constituem o principal daIdeologia Alem), com mais tempo

    e sobre um material de ataques e respostas que lhe propici-ou desenvolver seu pensamento um passo adiante, e res-guardar ou mesmo encobrir eventuais pontos fracos.28 por essa razo que, se olhar em torno e escutar o que dizemnaquele momento os opositores de Marx pode ser esclare-cedor da posio filosfica deste, olhar para os aliados queele alega estar deixando para trs, como Hess e Feuerbach,

    pode ser revelador de aspectos ocultos e ocultados do seudesenvolvimento terico-filosfico no seio da crtica hegeli-ana. possvel que Marx aparea ento com um parentescoterico mais estreito e mais profundo com eles (Hess eFeuerbach), de modo a que se o perceba, ainda naIdeologia Alem, e mesmo depois dela, no mesmo campo e no mesmopartido de Moses Hess, no s politicamente como em

    termos de concepes de fundo, filosficas.Que Moses Hess foi um companheiro de viagem deMarx e, ainda no fim dos anos 1860, como ele, membro daPrimeira Internacional Comunista, so fatos. Bem como fato que o prprio Ludwig Feuerbach morreu como um

    28

    verdade que ningum naquela ocasio lhe pde responder, pois A Ideologia Alem s veio a serpublicada j no sc. XX, e que a sua ficou depois sendo, para a posteridade, a ltima palavra, pra-ticamente a nica, sobre o assunto.

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    amigo celebrado do mesmo partido - poltico - de Marx eHess, o partido social democrata alemo.29 Desde o seu en-

    contro no segundo semestre de 1841, Hess sempre admiroua genialidade e a erudio de seu jovem amigo Karl Marx,para quem chegou a antever uma carreira universitria ejornalstica de grande repercusso.30 A partir daquela dataat 1843, ambos colaboraram naGazeta Renana, da qualHess foi um dos fundadores e Marx chegou a ser o editor.Depois disso, estiveram novamente juntos nos Anais Franco-

    Alemes, publicados em 1844, em Paris, onde Hess, que ti-nha chegado primeiro Frana, recebera o amigo de braosabertos. Nos clebresManuscritos de 44, Hess colocado porMarx ao lado de Engels e Weitling - que incursionaram nocampo da crtica da economia poltica antes dele - como umdos socialistas alemes que produziram algo de substanciale original sobre o assunto,31 com seus artigos sobre as ca-

    tegorias do ter e do dinheiro. Em seguida publicaodo nico, de Stirner, nosso rabino comunista (como Hessera chamado) saiu imediatamente em sua prpria defesa ena de Marx, assumindo sobre o livro, j vimos, uma posiomuito prxima, ou mesmo idntica, do seu admiradoamigo. A rplica de Hess a Max Stirner, intituladaOs lti- mos Filsofos,32 estende a crtica a Bauer e mesmo a Feuer-

    29 Milhares de trabalhadores, em grande parte militantes do partido social democrata, ao qual Feuerbachaderira, acompanharam-no sua ltima morada (ARVON1957, p. 17).30 Tanto pela sua tendncia como pela sua formao espiritual filosfica, Marx, segundo o entusiasma-do Moses Hess, ultrapassava no apenas[David]Strauss, mas tambm Feuerbach. E completavaHess: Pense em Rousseau, Voltaire, Holbach, Lessing, Heine e Hegel reunidos numa nica pessoa e vocter o Dr. Marx (apud LPINE1983,p. 78).31 (MARX1972, p.2). Hess, que era seis anos mais velho, proclamou-se comunista bem antes deMarx - buscando a partir da combinar seu exame da sociedade com a filosofia hegeliana(BOTTIGELLI1974,p. 211). Hess foi quem convenceu de seu ponto de vista comunista o jovem

    Engels, em companhia do qual chegou a fazer propaganda do seu iderio comum, da mesma ma-neira que em companhia de Bakhnin.32 Ver, de HESS,Die letzten Philosophen.

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    bach - tal como, depois, A Ideologia Alem (que, como se sa-be, s foi publicada muito depois da morte de Marx). Em

    meados de 1846, em Bruxelas, l estava Hess novamenteapoiando Marx na sua polmica contra o comunismo cris-to revolucionrio de Wilhelm Weitling, da mesma manei-ra que o apoiaria depois na peleja contra o anarquistaMichail Baknin, ainda no interior da Primeira Internacio-nal. Mas, interessa-nos perguntar, o que mesmo que tudoisso pode significar em termos de concepes tericas e filo-

    sficas?II - HESS, M ARX E A E NCARNAO DA FILOSOFIACLSSICA A LEM

    Tendo em vista a evoluo do pensamento de Hess, o mar- xista Bottigelli afirma que vrios tericos alemes do socia-lismo daqueles anos seguiam o caminho que Marx haviapercorrido e do qual depois se afastara.33 Isso, no entanto, co-mo vimos sugerindo, uma formulao enganosa. Emborabastante ecltico em suas referncias filosficas, e permane-cendo a vida toda enredado em posies socialistas idealis-tas ou ticas, no-cientficas, Hess antecipou-se a Marxe Engels na tomada de posio a favor do comunismo, na

    busca de uma base terica, filosfica, para ele, e na investi-gao crtica da economia poltica. Antecipou-se a Marx eEngels at mesmo na crtica ao pensamento de Feuerbach. verdade que Hess foi um dos pais do socialismo verda-deiro alemo, humanista, idealista e feuerbachiano-hegeliano, mas, no seu artigo Sobre o Movimento Socialis- 33

    (BOTTIGELLI1974, p. 211). Para exame direto de textos de Hess e um acompanhamento deseu desenvolvimento, verMoses Hess: Philosophische und Sozialistische Schriften 1837-1850, de W.MNKE.

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    ta na Alemanha, escrito em meados de 1844 e publicadoem 1845, j observava que, quando Feuerbach diz que a es-

    sncia de Deus a essncia do homem e que a teologia antropo- logia, deixa de acrescentar que a essncia do homem o ser social ea sociedade. Moses Hess, antes de Marx, denuncia que, domodo como est formulada por Feuerbach, dissociada deuma traduo poltica, a noo de essncia genrica perma-nece uma noo mstica. Donde se pode concluir que foiHess, e no o seu famoso companheiro, o primeiro a superar

    o culto[supostamente feuerbachiano] do homem abstrato.34

    Tem-se aqui, portanto, um conjunto de posies teri-cas que parecem formar, em direo Ideologia Alem e concepo madura de Marx, uma gradao de tons, entre orseo socialismo idealista, tico, e o rubro socialismo cien-tfico. Um verdadeirocontinuum em que Marx no repre-senta sempre, nem tampouco Engels, a vanguarda

    clarividente ou o expoente destacado, salvo numa histriacontada de trs para frente. Nesse conjunto, as diversas po-sies tericas de certa forma revezam-se e misturam-se, tan-to quanto se distinguem, ao longo do curso de evoluo dopensamento de uma das duas alas da esquerda hegeliana (eat entre elas, embora isso no possamos desenvolver aqui).Mesmo o comunista cristo Wilhelm Weitling, cujas posi-

    es estiveram de um modo geral mais afastadas das deMarx, chegou a ser saudado entusiasticamente por este,ainda no incio de 1844, pela sua "entrada na cena literria doproletariado alemo, comGarantias da Harmonia e da Liber- dade, sua principal obra.35 Apesar de utpico e cristo, Weitling, que em seguida escreveuO Evangelho de um Pobre

    34 (LOBKOWICZ1969, p. 66n).35 WEITLING, W.Garantien der Harmonie und Freiheit,1842.

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    Pecador , participou, com Marx, em Bruxelas, do Comit deCorrespondncia Comunista, onde os dois travaram calo-

    rosas discusses, e chegou a produzir uma crtica das utopi-as que recebeu anos depois a apreciao favorvel deautores marxistas.36 A Liga dos Justos, que se transformouem Liga dos Comunistas, esteve de incio sob a influnciado comunismo desse arteso,37 e tentou em 1843 recrutarFriedrich Engels, que recusou o convite em funo do car-ter secreto e conspirativo da organizao. Mais de um ano

    depois, entretanto, Engels ainda se reconhecia no ideal dacomunho de bens, que fazia parte do arsenal conceitual docomunismo utpico, e se comprazia em ter conquistado,com sua propaganda comunista, um nmero considervelde burgueses para sua causa.38 Em fins de 1844, o mesmoEngels - que parece, nessa questo, ter tido uma atitudemais decidida do que Marx - que critica as concepes de

    Hess como idealistas e crists, associando suas debilidades auma rejeio do empirismo e de Max Stirner39 (!) dequem, alis, Engels, jovem, fora muito prximo, tanto inte-lectual quanto pessoalmente.

    Hess e Weitling so os representantes alemes do que oindividualista Stirner chama, nonico, de liberalismo soci- al - o comunismo e o socialismo de ento. Sob tal rtulo,

    Stirner critica ainda o francs Pierre-Joseph Proudhon, con-siderado por Marx, at 1845, como sabemos, um estreitoaliado. So esses efetivamente os liberais sociais mais no-trios que Stirner teria de considerar na sua crtica, que,

    36 Sobre isso, ver (BOTTIGELLI1974,p. 208).37 Como se pode ver, na sua divisa Todos os homens so irmos, substituda depois por Traba-

    lhadores de todos os pases, uni-vos (BOTTIGELLI1974,p. 209).38 Id., ibid.39 Carta de 19-11-44, a Marx, M.E.W., v.27.

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    entretanto, atinge igualmente Marx e Engels. Quanto a esteltimo, seu escrito terico mais importante at quela opor-

    tunidade, oEsboo de Crtica da Economia Poltica, publicadonos Anais Franco-Alemes, em 1844, no mereceu a atenoexpressa de Stirner. Tal trabalho, com que Engels se associaaos pioneiros esforos de investigao de Hess, vai ser con-siderado por Marx, ainda no prefcio de suaContribuio Crtica da Economia Poltica, de 1859, como um brilhante en- saio - que ele voltar a elogiar no Capital. O ensaio contm,

    no entanto, uma condenao basicamente moralista daeconomia poltica burguesa comoegosta, e da propriedadeprivada pela degradao a que conduz o ser do homem.40 Quanto a Marx, podemos dizer que, nos Anais Franco- Alemes, ele ainda se mostra claramente embriagado dohomem genrico feuerbachiano, e que o rpido aceno deStirner, nonico, a ele, e no propriamente como socialista

    ou comunista, parece efetivamente corresponder, como jdissemos, sua imagem pblica de ento.41 Assim, ao me-nos naquela poca, a marca tica e humanista, feuerbachia-na de todos esses liberais sociais era bem visvel, emboranenhum deles precise ser considerado como um feuerba-chiano integral ou literal. Marx no uma exceo, e Hessest longe de ser um retardatrio contumaz nesse caminho.

    O autodidata Moses Hess, que, alm de pai do socia-lismo alemo, foi posteriormente fundador do sionismo teri- co,42 publicou seu primeiro livro em 1837, anonimamente:uma Histria Sagrada da Humanidade, que atribuiu a um dis-

    40 Ver (STEPELEVICH1983, p. 357ss).41 Maximilien Rubel entende que h uma forte tendncia, em Marx e Engels, mesmo nas obrasposteriores, a outorgar ao socialismo uma motivao tica (RUBEL1970, p. 139).42 (STEPELEVICH1983p. 357). Ao longo dos anos, Hess foi-se ocupando gradativamente maisda formulao terica do nacionalismo judaico, sem deixar de manter posies socialistas.

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    cpulo de Espinoza. Em 1841, publicou A Triarquia Euro- pia,43 em que, na seqncia de outro jovem hegeliano, Au-

    gust Cieszkowiski, defendeu uma filosofia da ao (que, nocaso de Hess, deveria produzir uma sociedade comunista),contra o passivo e retrospectivo, conformista e conciliador,hegelianismo de direita. Foi com esse livro que Hess con-quistou o reconhecimento de outros jovens hegelianos, e,depois dele, com seu trabalhoSobre a Essncia do Dinheiro,de 1844, teve uma sensvel influncia sobre Marx. a partir

    de elementos dessa natureza que alguns autores chegam aconsiderar que foi antes Hess quem desbravou o caminhopara Marx, do que o contrrio. Engels reconhece expressa-mente que Moses Hess foi o primeiro comunista do Partido,e tambm o primeiro que chegou ao comunismo pelo caminhoda filosofia.44 O prprio Engels fora convencido por Hessde que o socialismo era a conseqncia lgica do hegelia-

    nismo (e no de qualquer anlise econmica ou histrica,materialista, que ele tivesse feito). E, diferente do que diz,por exemplo, Wolfgang Mnke,45 nem mesmo foi sob a in-fluncia de Marx (mas antes o contrrio) que Hess assumiua tese do proletariado como a classe revolucionria, pois,em seus trabalhos de 1843, ele j havia chegado a essa no-o.46 Depois do desencadeamento da crtica ao socialismo

    verdadeiro por seus correligionrios mais cientficos emenos idealisticamente ticos (Marx e Engels), Hess em-penhou-se a fundo no estudo da economia poltica,47 a pon-

    43 Die europaeische Triarchie, Leipzig: Wigand, 1941.44 Sobre isso, ver por exemplo (AVINERI1985).45 Ver (MNKE1963,p. 438-509). 46

    Ver, sobre isso, (ROSE1978,p. 320). David MacLellan sustenta opinio semelhante, emMarxy los Jvenes Hegelianos.47 Ver Carta a Marx de 28-7-46, em M.E.W., v. 28.

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    to de seu escrito posterior, As Conseqncias da Revolu-o do Proletariado (1847), ser considerado como uma

    anlise e essencialmente marxista.48

    Hess foi sucessiva e ecleticamente espinozano, hegelia-no, fichteano, feuerbachiano e marxiano, e essa relativaconfuso terica certamente contribuiu para diminuir a suaimagem como terico. No obstante isso, se ele chegou aocomunismo pela filosofia, isso tambm ocorreu, depois de-le, com Engels e com Marx, os quais, quando formularam

    sua concepo da histria, j levavam consigo o ideal socia-lista-comunista a que ela deveria servir. Sob esse ngulo, pa-ra o conjunto da ala feuerbachina do jovem hegelianismo,temos um percurso geral que vai da religio e da filosofiaidealista alem ao humanismo e ao comunismo, da especu-lao filosfica teoria social, economia e, por fim, pr-tica poltica, percurso que pode ser compreendido como

    uma espcie de encarnao prtica, progressivamente maiscompleta, do ideal humanista - que inclui o prprio Marxem seu movimento.49 H at quem entenda (alm de Hess)que, mais ou menos como a crtica da economia poltica, ocomunismo tambm j se encontra no interior do pensa-mento de Hegel, em germe, sob forma esotrica, e que as-sim Marx o teria percebido.50 Na Situao da Classe Operria

    na Inglaterra (1845), que redigiu antes daIdeologia Alem,Engels admite candidamente que no foi o estudo domundo real que despertou nos tericos alemes (os filso-

    48 Essa a posio de Sidney Hook, para quem as crticas a Hess noManifesto Comunista no sojustas (HOOK1962,p. 186).49 Na boca dos discpulos de Hegel, a doutrina (hegeliana) tomou uma forma mais humana - o queEngels diz, em 1841, em seu Schelling e a Revelao, Marx & Engels,Opere Complete, v. II, p.192.50 Essa , por exemplo, a opinio de (TUCKER1972 p. 153).

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    fos hegelianos e hegelianamente anti-hegelianos) o desejode transformar a feia realidade. Eles todos teriam chegado

    ao comunismo por meio da superao feuerbachiana da filoso- fia de Hegel o que se aplica muito bem a Hess como aMarx.

    Tantos anos mais tarde, em 1886, noFeuerbach e o Fim[Ausgang]da Filosofia Clssica Alem, Engels declarava que oproletariado era o autntico herdeiro da filosofia clssica ale- m. Para o maior expoente desta, Hegel, na concluso de

    sua Histria da Filosofia, o objetivo e tarefa da filosofia recon- ciliar o pensamento com a realidade; para a esquerda hegelia-na, pode-se aplicar o inverso: era reconciliar a realidadecom o pensamento, transformando-a. Hegel idealizou omundo existente; seus descendentes filosficos, passadospor Feuerbach, tratariam de realizar o ideal no mundo -mesmo que a conciliao do real com o ideal devesse apare-

    cer como uma conciliao do real consigo mesmo (como,alis, j em Hegel). Quando Feuerbach concluiu sua disser-tao de doutorado, em 1828, enviou a Hegel uma cpia euma carta em que, pretendendo acompanhar o mestre, fa-lava da tarefa de encarnar a razo no mundo, e de um futu-ro de racionalidade para a humanidade. Muito depois, noprimeiro pargrafo de seus Princpios da Filosofia do Fu-

    turo, ele insistia em que a tarefa da Modernidade (comolida por ele) a a realizao e a humanizao da teologia emantropologia. Quanto a Hess, este diz que aquilo que o soci-alismo pretende a realizao-abolio da filosofia, e essasua linguagem , nesse caso, bem a de Marx naCrtica da Fi- losofia do Direito de Hegel. Mesmo que, a, com a ressalvamaterialista de que a teoria s se realiza numa nao namedida em que a realizao de suas necessidades (119).

    Na Introduo Crtica da Filosofia do Direito de

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    Hegel (1843-44), Marx apressara-se em dar por encerrada acrtica da religio (com Feuerbach) enquanto ela ainda dei-

    xava subsistir umprincpio positivo, uma medida universal,um fundamento objetivo, normativo, para a crtica: o ho-mem como ser genrico, social, em devir para sua realiza-o. No que diz respeito Alemanha, Marx afirma, a crticaradical da religio est no essencial concluda: ser radicalno outra coisa seno atacar o problema pela raiz, e na ra-iz felizmente esto o homem feuerbachiano e os valores (os

    predicados) a ele relacionados. A crtica da religio, en-to, no seu desenvolvimento, no desgua no nada ou noarbtrio e no imprio do eu soberano (como no caso de ou-tros ateus do sc. XIX e. em particular, da ala anti-feuerbachiana, de Bauer e Stirner). Ela desemboca, ou de- veria desembocar, no homem genrico, na essncia genricado homem, melhor ainda, na doutrina[feuerbachiana]de

    que o homem o ser supremo[e a medida]para o homem.51

    Apreferncia de Hess e de Marx pela crtica de Feuerbach(em contraposio de Bruno Bauer ou Max Stirner) de-corre, assim, pode-se entender, de ela serpositiva, de nolhes deixar sem um Ser Supremo, melhor dizendo, semum fundamento ou critrio universal, objetivo, de alcancenormativo pleno. O radicalismo da teoria[crtica] alem

    Marx arguipro domo sua est em saber partir da superaopositiva da religio,52 e tal superao seria, como j disse-mos, a dedicao realizao do homem genrico.

    NosManuscritos de 44, Marx deixa clara a contraposioentre os dois tipos de teoria crtica que se desenvolvem noseio do movimento jovem hegeliano, bem como seu com- 51 (MARX1962, p. 262).52 Id., ibid.

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    promisso com um deles.53 No prefcio, ele se refere a simesmo e a Feuerbach como crticos positivos, em oposio

    ao dissolvedor crtico absoluto que Bruno Bauer. E admi-te que a crtica positiva em geral incluindo, pelo menosno seu incio, a prpria crtica da economia poltica deveseu fundamento s descobertas de Feuerbach,54 como fun-dador da crtica humanista e naturalista positiva, adotadapor ele e Hess.55 A crtica da economia poltica, de Hess ede Engels, que Marx celebra nosManuscritos de 44, essen-

    cialmente feuerbachiana. No obstante procurar depois fu-gir discusso expressamente nesses termos, isto , da buscade um fundamento normativo para o socialismo (e do em-penho pela sua realizao), Marx, no deixa de mostrar,tambm, naIdeologia Alem, como repudia a supresso deum tertium comparationis objetivo e universal seno de umser supremo para os indivduos (IA 476): Nosso inocente

    Sancho [Stirner], tirando o homem[de Feuerbach] da cabea,no deixa qualquer critrio objetivo para os indivduos (475,d418). Diante do que, registre-se, o egosta Stirner noprecisa ficar calado: quando Hess diz que o socialismo querrealizar a filosofia clssica, o autor donico no perdoa:Hess poderia acrescentar que o socialismo quer no somente tor- nar real a filosofia, como tambm a religio e o Cristianismo. 56

    53 (MARX1972, p.99).54 Marx remete expressamente aosPrincpios da Filosofia do Futuro (1843), e s Teses Provisriaspara a Reforma da Filosofia (1842), de Feuerbach. Nas Teses, Feuerbach j estabelecia as basespara o que ele mesmo chama de uma filosofia positiva, cujo novo princpio seria o homem gen-rico (ver por ex. 58 e 60). Ambos os textos esto reproduzidos nosManifestes Philosophiques deFeuerbach, editados por Louis Althusser.55 (MARX1972,p.2-4). Enquanto isso, para a Crtica pura baueriana, toda outra crtica padecedos limites da crtica do sculo XVIII, ou seja, dos limites do materialismo (substancialista, dog- mtico) francs (id., ibid.), que no chegou a perceber a precedncia/ascendncia do sujeito comrelao objetividade do real.56 (STIRNER1974 , p. 156n).

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    O autor donico tem suas razes para dizer isso, e, pelo vis-to, Hess no levaria inteiramente a mal a provocao e o

    chiste. Marx tampouco deveria; afinal o socialis-mo/comunismo a que Hess e ele chegaram, por um percur-so essencialmente comum, est bem enraizado,genealogicamente, em pressupostos feuerbachianos, comosuperao positiva da religio. Pelo que vimos, separar intei-ramente um do outro esses dois crticos positivos, cirurgi-camente, seria mesmo impossvel. Eles esto entrelaados

    um ao outro, no percurso de traduo materialista-socialista, prtica, poltica, de inspirao hegeliano-feuerbachiana, da comunidade como Ideal, isto , no per-curso do desenvolvimento da teoria crtica positiva deFeuerbach. Abstract: This paper offers certain elements for a revealing genealogy ofMarxs mature theoretical conceptions, brought up by a reconsideration ofthe philosophical positions of his ally Moses Hess and of the close theoreti-cal relations between them. It resorts first to a narrative mode to underscorethe role and place of Hess in that development, bringing into closer associa-tion their ideas, in connection to Young Hegelianism and Feuerbachianism,from which they start. The companionship of Hess presents itself, then, asthe living shadow of a lingering philosophical Feuerbachian past, at the sametime a specter still haunting Marx all along the development of GermanTheory into the materialist conception of history and the critique of politi-cal economy from theology to anthropology to materialism, more of a con-tinuum than a rupture. Involved in that process, we find their common

    concern for upholding a positive critical position, through a transforma-tion of the philosophical fundament for socialism offered by Feuerbach:man as species-being, bestowed with a universal, objective essence, now, withMarx, as the ensemble of social relations. Also, on the background, the ideaof Christianity as supposedly the distorted revelation of that real essence,and the religious realm as the illusory reflex of the earthly one.

    Keywords: Marx; Hess; Hegelianism; real humanism; historical materialism.

    REFERNCIAS

    ARVON, H. Concerning Marxs Epistemological Break,

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