Manual de inutilidades poéticas de Fábio dos Santos

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Poética voltada para o resgate da infância do poeta. Inusitado por entre os versos. Influências de poetas como Manoel de Barros e Drummond.

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MANUAL DE INUTILIDADES

POÉTICAS

Fábio dos Santos

POEMAS

* * *

BREVE BIOGRAFIA DO POETA

por: ANANELIA SANTOS DA SILVA

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Copyright by Fábio dos Santos, abril de 2013

Revisão: Ananelia Santos da Silva

Catalogado como:

_____________________________________________

SANTOS, Fábio dos.

Manual de inutilidades poéticas/Fábio dos Santos. Maceió:

Edição do Autor, 2013. 14x21 cm. 2ª edição. 100p.

ISBN 978-85-7953-106-4

Poesia brasileira – Brasil. I. Título. Biografia de Ananelia

Santos da Silva. II.Série.

CDD-B869.1.

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Iª PARTE

Erranças de criança

“Penetra surdamente no reino das palavras.

Lá estão os poemas que esperam ser escritos.”

( Carlos Drummond de Andrade, )

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I

Uma coisa que aprendi nas estradas de minhas

erranças:

Nunca perguntar para o mendigo

As sete formas de o bom viver,

Pois ele não te saberá responder.

Primeiro: vá às margens de cola salobra do Mundaú

- Mundaú pra quem não sabe é um rio da região

nordestina –

E conte quantos mandacarus ele põe por dia.

Segundo: ao desacordar não se lava o rosto

Que é para ficar do jeitim que se é

E se estiveres nu, não é azar

É sortilégio de nuvem.

Permitas que à frescura do vento te acaricie as

maçãs.

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Terceiro: estuda o que nunca plantaste com certa

ternura

Das folhas ardentes da alface

Note sua verdura inebriante

E, por desfecho, descreva cada veia

Que, por desventura, descubra dentro dela.

Quarto: se puderes cavalgues de olhos desabertos

Pulando nuvem a nuvem.

Faça uma visita à casa de joão-de-barro

Ou à toca do pica-pau só para constatar

Como pó de serra vira verso.

Quinto: vá a algum lugar, seja serra, monte, rio,

praça, oca, mar, lagoa...

Esqueças por algum segundo o teu corpo

Na profundidade sapiente duma caverna

Só para revelar-te noutro.

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Sexto: não contes nunca nenhum tropeço

Nem curtas nunca feridas tuas

Deixes que o tempo se encarregue

Disso, pois a ele compete a contabilidade cósmica.

Sete: esqueças tudo que te disse

Pois nada e tudo são

Inutilidades e meninices.

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II

Como fazer desprender o anil azul do céu?

É só tirar-lhe da boca da noite

O termo finito do dia

Depois é só esperar

O chiar doloroso do tempo.

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III

Aprende-se liberdades

Xeretando o mundo dos passarinhos

Passando-se por passarinho

Voando como eles,

Entanto, nunca o homem voará

Porque o Criador do Céu não lhe conferiu asas.

Já o poeta, este sim

É capaz de decolar

Não é homem nem mulher

É criatura andrógena infinita

Que já nasceu de um voo.

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IV

Nenhuma Reforma me aprisionará

Nenhuma casca de letra que se pinte

Há de necessitar a ordenança humana

Embora que ultrapassada esteja

Esta borboleta feita de palavras

Aviva-se no jardim inviolável da invenção.

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V

Um dia alguém bateu na madeira

Da minha porta sincera

E minha toca foi à lona:

Quanta miséria, quanto sonho

Etc.,

Etc.,

Etc...

Só o par de olhos ficou de pé.

Nesse dia me veio a mulher

Com seu corpo de algodão doce

Fiquei laçado por ela, até hoje.

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VI

Pensativo pé-de-pau

Imóvel treco debaixo dum feroz sol

Pensar a vida não é vivê-la

Como nós

Plantas sem pé

Flutuamos como água da Mangaba – outro rio

nordestino

Sobre o leito pegajoso da pátria.

Não pensamos sozinhos

Simplesmente vamos pelo rio da vida

Desencorajando o destino, primo terrível do tempo,

Até alcançar as estrelas falantes.

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VII

Puseram andaimes nos pés secos do mundo

Que desembestado despenca mudo

Que desesperado vai despencando num segundo.

Ninguém parece ligar

Possuído por um circuito cerebral de minhoca

Esta pobre criatura que não tem culpa nem pecado.

Corre-se bastante perigo, lá fora, lá fora da casca

Que reveste o mundo.

Pega-se na perna desse mundo que se desembesta

espaço a fora

E buraco negro adentro como se fosse a única coisa

da vida.

Pega-se naquele que se vai mudo, como lesma

doida,

Porque cada um não pode dedurar as atrocidades de

seus filhos.

Como o Criador do Céu é engraçado!

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De alguma forma puseram rodas nas solas secas do

mundo.

Vai-te retro, submundo!

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VIII

Há coisas demais no mundo

E só uma espécie racional

Que não merece o título que tem:

Homem

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IX

Precisamos encontrar alguma forma de descoisar as

coisas.

De desomenizar o homem

Que é para ver se ele se humaniza.

Brutaliza-lo de forma natural sem violência.

Por pensar demais

Chegamos ao que chegamos.

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X

Tanta devastidão

Isto empobrece todas as coisas

Intimida todas as cores.

Tanta coisa, cousa, causo,

Futucamos o buraco da decifração

E não há resposta senão num mundo

Povoado de poesia.

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XI

Três coisas que irão sobreviver pos juízo final:

As baratas

As covas

E os poetas.

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XII

Quando eu era meninote

Era gigante

Não tive pai pequeno nem grande

Que me dissesse que margaridas

Emprenham borboletas.

Nem mãe pequena nem grande

Que me fizesse comer

Letras e gravuras.

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XIII

Só depois que eu despequeninei

É que o mundo me veio revelar

Que seria eu como uma praga

De livro velho, traça da escrita errante.

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XIV

Na aldeia donde moro

Não há sequer um pé-de-pau honrado.

Há por demais espinheiras preguiçosas

Espalhadas ao longo de tanta devastidão

Política.

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XV

À beira lamacenta da lagoa Mundaú

Donde pardais conspiram manhãs

Ao vento atrevido das marés

Enquanto embala tamanha miséria

Eu me descoiso no papel.

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XVI

Dizem que nós formiguinhas somos governados

Por um “pato manco”.

Mas a que pé isto é verdade

Lá nos cupinzeiros rachados do sertão?

Pois que é governo, Dr. Celso Antunes,

Som de porcaria estragada no ar?

Já vi de tudo nesse mundo

Menos barriga sabida.

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XVII

Alguns livros já me disseram:

Extrai das cascas das coisas

Os saberes que te apetecerem.

Eu já tirei mel de seio de pedra

Porque soubera pedir.

Meninote a la Miguelim

Que era, ceceava humildades em tempos incertos,

Coisa que não me avergonhava alvorecer.

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XVIII

Na infância eu desinventava naturezas.

Por essa razão diziam que eu azuretava.

Pois por culpa da saudade

É que me apertava o gatilho da lembrança

A atônita memória.

Um dia desses uma tristeza númbea

Me transforma em fósforo usado

Para dar fim às minhas desculpas.

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XIX

No meu quintal há um criatório de coisas lidas.

Sobras de pedras aventureiras.

Umas dezenas de tampinhas envaidecidas.

Umas folhas de puro cetim.

Somando a isso um amontoado de páginas

Penduradas no varal

Para que o sol e a lua possam se instruir.

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XX

Da cama ouço latidos bem longe

Duma terra distante.

Entanto, está bem aqui, sob o cobertor de

bananeira.

As horas noturnas brotam como folhas de

carrapateira

Desassossegam o meu dormir.

Lembrança dói quando vem em má hora

Numa saudade inconsútil a pedir o de comer.

Essa terra não é nenhum lugar não é chão.

É o passado onde tomava sopa de miados

E mastigava assovios ao relento

E que não me é fácil voltar lá.

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XXI

Pobreza com poder não se casam?

Aprendi isso na infância quando observava roliças

moscas

Digladiando com caranguejos a carniça dos brejos.

Alguns outros bichos me ensinaram outras

estratégias

Como escapar de onças invisíveis, por exemplo,

Pois sempre andei com as fábulas de Esopo

debaixo do braço.

Ainda escuto o longínquo rumorejo dum velho

pároco

Dizendo num viscoso latim:

Nunquam est fidelis cum potenti societas.

Depois de tanto tempo sobre a carcaça do presente

E que me pus a estudar reflexões:

“O mais poderoso sempre acaba engolindo o mais

fraco.”

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XXII

Ainda na infância tive um contato de primeiro grau:

O entranhamento no insólito planeta da leitura.

A tive como verdadeiro manual de caminhos e de

trilhas.

Perscrutei palavra por palavra como um bebê que

tateia o seio da mãe.

Como lagarta de fogo que abre fresta a fresta na

superfície do tronco.

Alguém me condenava a inutilidade por isso.

Só porque eu vicejava a alma das coisas.

No ouvir dizer tão longe do poeta dos pântanos.

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XXIII

No livro de sobrevivências três itens são essenciais

E que agora os ponho no meu manual de

inutilidades:

a) amarre com arame farpado ao peito cinquenta e

cinco lembranças boas,

de tal forma que a saudade como bem vinda

companheira

não possa liberta-las;

uma criatura sem saudade é como um soldado no

front sem comida e desarmado.

b) ao lado de tua amada reserve dezoito mil e cento

e cinquenta noites

para contar as estrelas, para que assim o tempo

possa ser esquecido;

hoje em dia nem mesmo uma lesma dura tanto

tempo dentro de sua carcaça.

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c) nunca meça os caminhos da leitura nem pense

nas esquinas duras

nem nos heróis de borracha nem nos declives dos

precipícios;

uma criatura prevenida vale por duas criaturas

e que aprenda a dosar cada termo cada hora cada

minuto

deixando para o segredo o conhecimento.

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XXIV

Na república dos bichos que povoam as frestas das

paredes de ruínas antigas

O direito é violado.

Tirando os nove fora menos um dalgum direito

Não resta nada.

Absolutamente nada.

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XXV

Aos onze anos propus o primeiro ingrediente do

meu manual de inutilidades:

Entortar outeiros e varrer cerrados.

Depois não parei mais:

Dar nó em alma de louva-deus,

Deixar a lua visitar-me pelo buraco da lona, onde

morava,

Fazer do chão de barro batido confortável cama

E dos brinquedos que achava nos monturos o meu

céu.

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XXVI

As lagartixas emprenham noites.

Por isso que amanheceu tarde.

Elas douram ao sol como roupas no varal.

Elas odeiam chuva. Nunca se lavam.

Dificilmente bebem água.

Adoram suco de insetos.

As vezes se parecem com a gente.

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XXVII

Hoje, bem mais velho:

Todas as manhãs, vou até a porta só para contar os

pardais afoitos

Sobre os fios de alta tensão.

De meia em meia hora atravessa a rua um zumbi

Assim o é todo dia de desolação.

Sempre quis ter meu próprio coração.

Pra não ter que ser zumbi.

Ter meus próprios arreios.

Queria ser eu mesmo por dentro e por fora

Como me vê o filho.

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XXVII

Nesse contratempo, descobri como desamassar a

alma:

É só pegar um pouco da sorte que a gente guarda

debaixo do travesseiro.

Amarrá-lo até a boca da noite.

Esconde-lo no peito dum buriti.

Sacoleja, sacoleja

Até virar javali.

E quando lagartixa fizer carreira na pele da parede

Está feito: desamassada a alma para deleite da

matéria.

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XXVIII

Uma singela cadeira de balanço para este velho

carrapato.

Desinventar coisas cansa.

Entanto, tanta estória pra contar...

Não sou mais abelha pra cultivar flores de sol

Nem pirilampo para alegrar orgia de lua.

Este pé-de-pau honrado pede partida,

Não tenho mais a força duma traça que rói cantiga

antiga

Nem dum cupim que lapida madeira de estória.

Estou vendo o caminho que se abre a minha

frente...

Os bichos me olham...

As coisas me olham...

Entanto o caminho lá longe na distância dum

fôlego.

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Que é isso, meus, fica aí o manual

Para as próximas competências.

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IIª PARTE

Manual de inutilidades poéticas

“Há muitas maneiras sérias de não dizer nada,

Mas só a poesia é verdadeira.”

( Manoel de Barros )

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Pelo Abc

a) Eu desenho de um talo de guabiroba: as

árvores não crescem muito porque o céu

não deixa.

***

b) Cassei a autoridade de amarelar de

pequenas borboletas: porque elas

despovoam os jardins do presente.

***

c) Só uma coisa desassombra o ermo das ruas:

o pisamento marcial de calangos, formigas

saúvas e vira-latas.

***

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d) Às vezes hiberno origens: a de papai nada

consta; mamãe foi nômade em planta;

então, desse casal de emprenhação só herdei

dor.

***

e) Vaso ruim não se comenta.

***

f) Esquentando o glúteo na calçada flagrei o

dia dobrando esquinas.

***

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g) Meu olho trespassou o silêncio. Duro golpe

de consciência.

***

h) Daí então descobri como a natureza prepara

armadilha pra pegar escuridão.

***

i) ...uma figurinha de ídolo, duas tampinhas de

coca-cola premiadas vencidas, um pedaço

de vidro esverdeado, um estilingue

danificado, um canivete sem olho, um

parafuso sem serventia uma caneta Bic

envelhecida etc. etc. etc... tesouros que

encontraram moradia no bolsa da calça.

***

j) Foi assim que o pirata inventou a ilha.

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***

k) E a ilha inventou o poeta.

***

l) E o poeta o seu fim.

***

m) Iniciei na cantoria de pássaros bebendo na

maré vazante da infância.

***

n) Só há alegria porque as formigas fazem

festa em maquinaria de sonho.

***

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o) Pneumática criatura como eu era, kafkaram-

me o sangue, de tão triste como a noite

pensaram os adultos em adiamentos de

vida, que eu iria virar esterco. Acabei

desvirando.

***

p) Algumas paixões se contam na cabeça,

alhures desgraças do amor, em verde idade;

amei Diadorim, trai no traje de Capitu, e por

fim acabei bobo, que nem Fabiano.

***

q) A única namorada que nunca há de trair-lhe

não é de carne nem de osso: é Literatura.

***

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r) Aluei um queixar de pequeno: a falta que

faz para a lombriga o alimento.

***

s) Eu via outras crianças apanhando dos pais e

achava bonito.

***

t) Sempre encantei a solidão que me rodeava

de deserto e de livros.

***

u) Parente? Somente, me lembro dum: a chapa

ridícula duma avó.

***

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v) Me escolarizei tarde que nem guaiamu no

mangue seco esperando dedo de gente.

Pouca letra mas tanta esperança!

***

w) Agora tou que nem rapariga buchuda

desemprenhando ficções.

***

x) Algumas aranhas brotaram no canto de teto,

algumas formigas armaram tenda no

quintal, dois ou três pés dalguma planta que

nem sei sonham sombra sobre cogumelos,

uma lagartixa diz-que-sim-diz-que-não se

prepara para as compras, uma gata

equilibrista fabrica insinuações no bico do

muro... Eta, mundo! Poesia pouca, mas

tanta esperança!...

***

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y) Nos fios dos postes pássaros copiam

partituras.

***

z) Ouvindo radinho o cotovelo adoece. Coisa

de velho com coração de menino: a perna

ensaia uma carreira mas já não pode. Assim

é a vida: passa o menino, fica a carcaça

esperando a hora.

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Fábio dos Santos

por: Ananélia Santos da Silva (*)

(*)Formada em Letras pela UNOPAR e pós-

graduanda em Educação Infantil

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FÁBIO DOS SANTOS: POETA

ALAGOANO EM IMAGENS

Uma das primeiras trajetórias do poeta,

escritor, compositor e professor Liev Meridian,

pseudônimo de Fábio dos Santos, foi ter estudado

na Escola de 1º Grau Dr. Edson dos Santos

Bernardes, nos idos dos anos 1986 a 1988, tendo

concluído o seu 1º Grau e sido escolhido como

orador da turma, como visto na foto abaixo

discursando para todos os presentes, numa noite

repleta de estrelas e tendo como presentes o

Deputado Estadual Euclides de Mello e o Vereador

por Maceió Francisco Mello, sendo o primeiro

paraninfo da turma de 1988, então a primeira turma

a se formar no antigo primeiro grau daquela

instituição. Ao fundo observa-se a professora de

Ciências Maria Vitória Lessa Cavalcanti, mentora

de concursos literários semestrais com a parceria

Salas de Leituras, programa mantido pelo MEC e

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Secretaria de Estado da Educação, promovidos na

mesma escola e em que o nosso poeta venceu a

todos, cerca de cinco prêmios nas categorias

poesia, conto e estória infanto-juvenil.

Na próxima imagem vemos nosso poeta

entremeado de livros com quem aprendeu a

conviver desde a infância, e que o acervo em que se

vê pertence à biblioteca da Universidade Federal de

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Alagoas, onde ele cursou Letras e chegou a passar

no vestibular para Filosofia, nos idos de 2000 a

2004.

Na próxima imagem vemos nosso poeta e

futuro professor colando grau, na data de 29 de

maio de 2004, um dia após seu aniversário, visto

que o poeta nasceu aos 28 de maio de 1971. A

reitora na pessoa da Dra. Ana Dayse.

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O poeta começou a escrever mais ou menos

aos treze anos de idade, pois segundo ele “quando a

vida lhe despertou a humanidade”, desde dessa

época que já lia os grandes clássicos, como

Nietzsche, Sartre, Aristóteles, Camus, Shakespeare,

Machado de Assis, Graciliano Ramos, Jorge de

Lima, Carlos Moliterno, Rousseau, Manoel de

Barros, entre tantos outros, lembrando que o poeta

em suas peregrinações pelos sebos conseguiu até o

momento colecionar quase três mil livros, cerca de

800 vinis, cerca de 300 gibis, todos bem

selecionados e raríssimos. Na imagem abaixo

vemos nosso artista recebendo um dos seus vários

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prêmios literários da Academia Alagoana de

Letras, tendo ao braço sua filha Francialy Clarissa

Melo dos Santos.

Aqui nessa nova imagem tendo como

amigos o saudoso Dr. Ib Gatto Falcão, presidente

da Academia Alagoana e Anilda Leão, e a pequena

Cacá:

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Uma das figuras mais importantes na vida do poeta

e professor Fábio dos Santos chama-se Dr. Jucá

Santos, poeta e presidente da Academia

Maceioense de Letras, ladeados de juiz Emanoel

Fae, e outro escritor do interior de Alagoas na

imagem abaixo:

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Abaixo uma das inúmeras notícias em O

Jornal, na ocasião pertencente ao empresário

Nazário Pimentel, onde o poeta publicava poemas,

crônicas, contos, com o apoio do jornalista Plínio

Lins.

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Abaixo, na imagem, ao lado da amiga e

importante poetisa alagoana Arriete Vilela:

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Já aqui vemos Fábio dos Santos ao lado do

Reitor da Universidade Federal de Alagoas Dr.

Rogério Pinheiro:

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Vemos agora ao lado do poeta as

professoras doutoras Enaura Quixabeira e Edilma

Bomfim:

E seu ciclo de amizade artística não termina

por aqui, agora ao lado do amigo e ator Francisco

de Assis, então presidente da Fundação Cultural

Cidade de Maceió:

Page 87: Manual de inutilidades poéticas de Fábio dos Santos

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Agora as láureas literárias recebidas pelo

autor de Bichos Urbanos ( contos )

publicado e editado com as próprias custas. Prêmio

Juvenil de Literatura, com o conto vencedor “O

Corvo ou a Loucura”, concedido pela Academia

Alagoana de Letras em 1999:

Page 88: Manual de inutilidades poéticas de Fábio dos Santos

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Abaixo, Prêmio Guimarães Passos para o

livro “Bichos Urbanos”, categoria contos, esgotado,

concedida pela mesma instituição literária em

1999:

Prêmio Comendador Tércio Wanderley I

concedido pela Academia Alagoana de Letras pelos

originais Livro Escrito por Ninguém, poesias, ainda

inéditos, em 2003:

Page 89: Manual de inutilidades poéticas de Fábio dos Santos

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Prêmio Graciliano Ramos concedido pela

Academia Alagoana de Letras em 2004 pela obra O

encontro entre o Sr. F. e o Sr. L., romance:

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Prêmio Comendador Tércio Wanderley I

concedida pela Academia Alagoana de Letras pelos

originais Tática do Combate de Rua, categoria

poesia, ainda inédita, em 2006:

Agora nosso poeta e professor é notícia no

Arena de Ideias, tabloide de O Jornal:

Page 91: Manual de inutilidades poéticas de Fábio dos Santos

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Obras publicadas pelo autor : Bichos

Urbanos ( contos ), em 1999, Livro da Última Hora

( poesia ), publicado pela CBJE/RJ em 2004, O

Encontro entre o Sr. F. e o Sr. L. ( romance ),

editado pela Editora Nomeriano em 2004 e

premiado pela Academia Alagoana de Letras com o

Prêmio Graciliano Ramos de romance, em 2004;

todos esgotados ; coletânea Coleção Poética do Rio

Grande do Sul editado pela Ordem da Confraria

dos Poetas, em 1999 com poemas de poetas de

todos o Brasil; coletânea poética, agora editada pela

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Shan Editores/RS, Novos Rumos, que atravessara o

oceano Atlântico até Timor Leste, em 2000; mais

uma coletânea nacional, categoria conto tendo

publicado conto Cimento Vivo, embrião de um

romance, AG edições/SP, em 2000; participação na

antologia Alagoas em Cena, 2006 veja capa abaixo:

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Outras coletâneas bem como 500 outonos

de prosa e verso – 2000 e reverberações – 2001,

ambos de São Paulo, frutos de concursos literários

nacionais, editados pela Edições AG e ainda uma

coletânea fruto de um concurso literário promovido

pela Edufal, editora da Universidade Federal de

Alagoas, Poesias no Campus – 2003. No campo

musical, o poeta e professor Fábio dos Santos, mais

conhecido como Fábio Poeta, ex-aluno do curso

Desporto e Lazer do CEFET-AL, fez parte e

fundou várias bandas como Kranius HxCx,

referência no hardcore dos anos 90, C4, Livre

Arbítrio, ArtFato e agora para dar continuidade ao

projeto Oficina 137, ao lado do artista alagoano

Paulo Sérgio, tem muitas composições e até um cd-

demo gravado no Gogó da Ema. Atualmente,

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ensina na Escola de 1º e 2º Graus Dr. Edson dos

Santos Bernardes, nas disciplinas Português e

Literatura.

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Referências bibliográficas:

Fotos e imagens cedidos pelo Acervo Literário

Poeta Fabio dos Santos.

www.trajetoriadoescritorfabiodossantos.blogspot.c

om.br

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TEXTOS INÉDITOS

(poemas do livro inédito e premiado TÁTICAS

DO COMBATE DE RUA):

Iniciemos o combate:

Dance como um bailarino

no centro da praça da Faculdade

não ligue para os olhos incompreensivos

de que nada conseguem compreender

confia apenas nos atenciosos eucaliptos

em suas almas tão surradas

ainda há tempo de poder voar

sentir os sonhos afagando os cabelos

debaixo do braço: haroldo de campos

na mente efervescente: drummond

e para completar o balé

o surrealismo de jorge de lima

despejado ao ar

preste bem atenção em si próprio

não se esqueça que a loucura é uma arma

irreversível

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aquele que for capaz de abraçá-la

irá entender o que é vida.

Sê diferente enquanto há tempo

o próprio tempo não irá percebê-lo

finja ser uma rosa

uma rosa tipicamente rosa

que já não se vê mais nas praças

desperta-te para o infinito da beleza

mesma que ela seja fugaz

não tenha medo do passeio no Jaraguá

desafie o pau-de-fogo mal-intencionado

ilumina-te os próprios passos

sobre os paralelepípedos felizes

porém, quando for dormir, durma com temor

porque senti-lo te tornará mais humano.

Devemos esquecer as más línguas que banham as

ruas?

Por quê?

Para cada poste luzente

um poeta feito

feto? Mais que fato

um poeta, mesmo de versos ruins

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que os doutores tanto odeiam,

já é história, motivo de quebrar fronteiras,

ou literatura...

que os vagalumes o expliquem

com sua calmaria mansa e redondamente calma

um dia, as cigarras insolentes, que povoam os

galhos secos de tua vida,

irão compreender todos os cantos

agora sabemos: não pode existir canto bom ou ruim

porque tudo é dor

e quando não, a coragem de vivê-la.

pense

mas pense esconsamente

existe uma janela e através dela a vida

em cada orquídea

em cada pinheiro

em cada folha verde, e até mesmo na pedra

acredite, nela sobrevive o fungo, em doce

harmonia,

sem mexer com o desconhecido

sem dores de cabeça para decifrar

ele vive, anonimamente, como extintor

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que só despertará de seu silêncio

quando a bomba não mais respirar

que é a bomba? o fulgor de uma rosa transtornada

o choro em risco de um vinil arranhado

a vitrola esquecida no porão

as velhas alpercatas desprezadas no baú de folha.