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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

    ESCOLA DE EDUCAO FSICA

    ASPECTOS MOTIVACIONAISNO JUD PARA DEFICIENTES VISUAIS

    VINCIUS FRANKE KRUMEL

    Porto Alegre, 2011

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    VINCIUS FRANKE KRUMEL

    ASPECTOS MOTIVACIONAISNO JUD PARA DEFICIENTES VISUAIS

    Trabalho apresentado como pr-requisito paraconcluso do Curso de Educao Fsica, com nfaseem Licenciatura,da Universidade Federal do Rio

    Grande do Sul, sob orientao do Prof. DarciBarnech Campani.

    Porto Alegre, 2011

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    AGRADECIMENTOS

    Agradeo aos meus pais, pela confiana, carinho, incentivo, dedicao e

    companheirismo em todos os momentos de minha vida.

    As minhas irms por estarem sempre disponveis quando precisei de suaajuda.

    Ao meu orientador Professor Darci B. Campani, pela sua confiana,

    dedicao, apoio e pela oportunidade de trabalhar no Projeto de Jud para

    Deficientes Visuais.

    Ao meu Professor Alexandre V. Nunes, por me introduzir no jud, fazendo

    com que eu aprendesse bem mais que um esporte, uma filosofia de vida.

    E aos meus amigos e colegas de tatame por me acompanharem e pelo apoio

    ao longo da minha jornada.

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    RESUMO

    A preocupao com a incluso de pessoas com necessidades especiais nasociedade vem aumentando nos ltimos anos, seja atravs de instrumentos legais,polticas pblicas construdas pelos rgos governamentais ou por projetos deinstituies privadas, que tenham demonstrado compromisso social. Uma dasformas de incluso atravs da atividade esportiva. O objetivo desse estudo investigar teoricamente as motivaes que levam deficientes visuais a participar de

    um projeto de jud para pessoas com necessidades especiais desenvolvido dentrodo Projeto Bugre Lucena, da Escola de Educao Fsica da Universidade Federal doRio Grande do Sul. Atravs de uma pesquisa bibliogrfica buscamos entender adeficincia visual, apontar os fatores que motivam a prtica desportiva e relacion-los com o jud. O presente trabalho vem para contribuir com futuros projetos, a fimde qualificar os profissionais que atuam com este pblico especfico e na busca demeios facilitadores para aumentar a adeso e permanncia dos alunos.

    PALAVRAS-CHAVE: Jud; Deficientes Visuais; Aspectos Motivacionais.

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    ABSTRACT

    The concern with the inclusion of people with special needs in society hasincreased in recentyears, whether through appropriate legislation or publicpolicies built by government agencies or private institutions for projects that havedemonstrated social commitment. One way is through the inclusion of sports. Theaim of this study is to investigate theoretically the motivations that lead visuallyimpaired to participate in a project judo for people with special needs developed

    within the Buggy Project Lucena, School of Physical Education, Federal Universityof Rio Grande do Sul Through a survey literature seek to understand visualimpairment, pinpoint the factors that motivate the sports and relate them to judo. Thepresent work is to contribute to future projects in order to qualify the professionalswho work with this specific audience and facilitators seeking ways toincrease membership and retention of students.

    KEYWORDS: Judo, Blind, motivational aspects.

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    SUMRIO

    1 INTRODUO ....................................................................................................... 7

    2 A DEFICINCIA VISUAL ...................................................................................... 92.1 CONCEITOS ....................................................................................................... 92.2 CLASSIFICAO .............................................................................................. 102.3 IDENTIFICANDO O DEFICIENTE VISUAL ....................................................... 132.4 CARACTERSTICAS ADQUIRIDAS .................................................................. 14

    3 A DEFICINCIA VISUAL E ESPORTE ............................................................... 183.1 A INCLUSO DO DEFICIENTE VISUAL NO ESPORTE .................................. 18

    3.2 EDUCAO FSICA ESPECIAL ........................................................................ 20

    4 O JUD ............................................................................................................... 234.1 ORIGEM ............................................................................................................. 234.2 PRINCPIOS ..................................................................................................... 244.3 O ESPORTE ...................................................................................................... 264.4 PARTICULARIDADES ....................................................................................... 284.5 JUD PARAOLMPICO ..................................................................................... 28

    5 JUD E DEFICINTES VISUAIS ....................................................................... 305.1 O PROJETO DE JUD PARA DEFICIENTES VISUAIS .................................... 305.2 BENEFCIOS REFERENTES A PRTICA ......................................................... 31

    6 MOTIVAO ......................................................................................................... 346.1 RELEVNCIA ..................................................................................................... 346.2 TEORIAS MOTIVACIONAIS .............................................................................. 356.2.1 Teoria Motivacional da Autodeterminao ..................................................... 366.2.2 Teoria Geral da Motivao Humana de Nuttin ............................................... 386.2.3 Teoria da Significao Motivacional da Perspectiva Futura de Lens ............. 396.2.4 Teoria da Motivao e Representao de Si Mesmo de Ruel ......................... 396.3 PESQUISAS ...................................................................................................... 40

    6.4 ABANDONO ...................................................................................................... 436.5 PAPEL DO TREINADOR/ PROFESSOR .......................................................... 47

    CONCLUSO .......................................................................................................... 50

    REFERNCIAS ....................................................................................................... 53

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    1 INTRODUO

    Em nossa sociedade um portador de necessidades especiais (PNE) passa

    por inmeras dificuldades. Se muitas vezes j lhes so negligenciados aspectos

    bsicos de direitos e recursos humanos, o que dir da oportunizao da prtica de

    atividades esportivas com o acompanhamento especializado.

    O comprometimento parcial ou total do sentido da viso coloca o indivduo

    PNE em posio de desvantagem, sob certos aspectos, especialmente os

    psicomotores, emocionais e sociais, se comparado ao de viso normal (Russo Jnior

    & Santos 2001, p.1). Contudo, o PNE um ser humano mentalmente so epotencialmente vido por informaes que possam contribuir no seu

    desenvolvimento geral.

    A deficincia visual no interfere somente na vida daquele que a possui, mas

    causa um impacto em toda estrutura familiar e tambm atinge as pessoas que o

    cercam. Tanto a cegueira total quanto a viso subnormal pode afetar a pessoa em

    qualquer idade. Entretanto, com tratamento precoce, atendimento educacional

    adequado, programas e servios especializados, a perda da viso no significar ofim da vida independente e no ameaar a vida plena e produtiva (Instituto

    Benjamin Constant).

    Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) desenvolve-se um

    projeto de jud para portadores de necessidades especiais, com nfase em PNEs.

    Este projeto proporciona o ensino do jud atravs de uma metodologia diferenciada,

    com aulas regulares ministradas por um professor de Educao Fsica, graduado

    faixa preta de jud, e bolsistas (acadmicos de Educao Fsica e praticantes dejud). Os impasses encontrados no trabalho de campo os fizeram organizar os

    modos de atuao. Observou-se dentro do projeto que os aspectos motivacionais no

    jud para deficientes visuais (DV) possuam aspectos intrigantes, passveis de

    serem estudados e analisados.

    A relao jud e deficientes visuais o objeto de estudo deste trabalho, assim

    sendo, apontar: os aspectos que motivam prtica de esportes, as particularidades

    acerca do universo dos DVs e as caractersticas do jud como esporte e filosofia.

    Atravs desta pesquisa buscamos encontrar caminhos facilitadores para a

    permanncia dos DVs no esporte, bem como qualificar e aprimorar as atividades

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    desenvolvidas para esta populao. Nos motiva, no s o sucesso do projeto

    realizado pela UFRGS com os PNEs, mas, mais do que isto, obtermos uma maior

    adeso e permanncia dos atletas em projetos desta natureza, uma proposta que

    em si, serve para toda sociedade.

    No presente trabalho realizaremos uma anlise crtica e ampla das

    publicaes a cerca dos contedos de interesse, dentro destas reas do

    conhecimento. Atravs desta pesquisa bibliogrfica mostraremos o jud como

    esporte, seus princpios filosficos e tambm situaremos o leitor no universo do

    deficiente visual, esperando assim, servir de ferramenta para profissionais

    interessados em trabalhar com este pblico diferenciado.

    Se qualquer indivduo tido como normal, em geral tem a oportunidade deaproveitar todos os benefcios que a prtica desportiva em si proporciona, esta

    parcela da populao no poderia ficar de fora. dever das instituies pblicas

    oferecer uma educao fsica adaptada para aqueles que necessitarem, como

    ressalta Michael J. Paciork:

    Proporcionar aos alunos habilidades motoras funcionais,conhecimento e oportunidades de levar uma vida saudvel e independente

    uma importante meta da educao fsica e da educao fsica adaptada.Os programas de esporte adaptado podem desempenhar um papelfundamental, ajudando a conquistar uma vida independente, e devem serconsiderados e utilizados como uma extenso lgica do programa escolar.(PACIORK, 2004, p. 47).

    Pesquisar as caractersticas dos diversos desportos e de seus mais variados

    praticantes contribu com os profissionais da rea da sade, pois fornece

    embasamento para o desempenho de suas funes.

    Justifica-se o presente trabalho por acreditarmos que ele oportuniza a

    discusso sobre a incluso do PNE e amplia o leque de abrangncia, fazendo com

    que cada vez mais projetos e clubes abram suas portas para estes, aceitando o

    desafio e fazendo do esporte um espao de interao entre os diferentes.

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    2 A DEFICINCIA VISUAL

    2.1 CONCEITOS

    Crianas podem vir ao mundo sem viso e outras pessoas podem tornar-se

    deficientes visuais no decorrer da vida. Em qualquer idade o indivduo pode ser

    afetado tanto pela cegueira total quanto pela viso subnormal. A perda pode ocorrer

    repentinamente de um incidente, doena sbita ou inclusive de forma to lenta e

    gradual que a pessoa atingida demore a tomar conscincia do que est

    acontecendo. No entanto, a ausncia do sentido viso no necessariamente significao fim da autonomia e da independncia da pessoa - com tratamento precoce,

    atendimento educacional adequado, programas e servios especializados ela pode

    levar uma vida plena e produtiva.(Portal do Cidado com Deficincia, 2011).

    O Ministrio da Educao e do Desporto considera um portador de

    necessidades especiais (PNE) aquele que possui como caracterstica permanente

    ou at mesmo temporria algum tipo de deficincia fsica, sensorial, cognitiva ou

    conduta de altas habilidades, precisando de recursos especializados para poderajudar o seu potencial ou minimizar suas dificuldades. Dentro da escola chamada

    de pessoa portadora de necessidade educativa especial (MEC/SEESP, 1995).

    De acordo com De Masi (2002) para ser considerado deficiente o indivduo

    deve ter alguma limitao ou incapacidade de executar normalmente uma

    determinada atividade, resultado de qualquer perda ou anormalidade da estrutura ou

    funo anatmica, fisiolgica ou psicolgica. Fatores culturais e sociais, de gnero e

    faixa etria devem ser levados em considerao.

    O termo deficincia visual refere-se a uma situao irreversvel dediminuio da resposta visual, em virtude de causas congnitas/hereditrias ou adquiridas, mesmo aps o tratamento clnico e/ou cirrgico euso de culos convencionais. A diminuio da resposta visual pode ser leve,moderada, severa, profunda (que compe o grupo de viso subnormal oubaixa viso) e ausncia total da resposta visual (cegueira). (MASINI, 1994)

    Sendo assim, quando o indivduo que no consegue enxergar nada ou

    enxerga de forma parcial, em decorrncia de algum trauma ou doena na estrutura efuncionamento do sistema visual e isto lhe acarreta prejuzos quanto aquisio de

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    conceitos, acesso a leitura, mobilidade e orientao independente, interao social

    e domnio do ambiente poder tambm ter atrasos no desenvolvimento normal (DE

    MASI , 2002).

    A cegueira por si prpria no corresponde a uma enfermidade, mas pode

    decorrer de uma ou de um acidente, ou ambos. A maneira pela qual o indivduo

    adquiriu a deficincia (acidente ou enfermidade) bem como a idade em que esta se

    sucedeu (antes do nascimento, logo aps, nos primeiros anos ou ao longo da vida),

    so fatores muito importantes na educao do DV (ALMEIDA e SILVA, 2009).

    2.2 CLASSIFICAO

    Pelos critrios da Organizao Mundial da Sade (OMS) consideradocego

    quem apresenta desde ausncia total de viso at a perda da percepo luminosa.

    J o portador de baixa viso (viso subnormal) aquele que apresenta desde a

    capacidade de perceber luminosidade at o grau em que a deficincia visual interfira

    ou limite seu desempenho. Ainda segundo a OMS, o indivduo com baixa viso ou

    subnormal aquele que apresenta diminuio das suas respostas visuais, mesmo

    aps tratamento e/ou correo ptica convencional, e uma acuidade visual menorque 6/18 percepo de luz, ou um campo visual menor que 10 graus do seu ponto

    de fixao, mas que usa ou potencialmente capaz de us-la para o planejamento

    e/ou execuo de uma tarefa. (Organizao Mundial da Sade, 2011).

    So classificados como portadores de cegueira congnita ou precoce aqueles

    que nasceram ou se tornaram cegos nos primeiros anos de vida (5 a 7 anos). Estes

    no retm imagens visuais teis nem idias de cores e confiam de modo pleno em

    suas experincias e seus conceitos no visuais, sendo assim devem ser ensinadospor uma metodologia que se adapte suas necessidades. (BRASIL, MEC/SEESP,

    1995).

    A cegueira adquirida ocorre no caso daqueles que perderam a viso aps os

    7 anos de idade. Estes geralmente conseguem reter a maioria das formas, cores e

    imagens que tiveram de suas experincias visuais. Normalmente utilizam os

    conceitos e as experincias adquiridas e vivenciadas no mundo visual, quando ainda

    enxergavam, que devem ser aproveitadas como suporte durante o processo de

    ensino. (BRASIL, MEC/SEESP, 1995).

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    Ainda h outras circunstncias da cegueira a serem consideradas, como

    destaca Lowenfeld (1964) apud Russo e Mataruna (2001), como por exemplo no

    caso da perda repentina da viso, verifica-se comumente um choque, caracterizado

    por desajustes sensrio-motores (noes de espao, ambiente, controle corporal,

    etc...) e instabilidade emocional, com amplo impacto na parte psicolgica,

    ocasionando em consequncia, alteraes ntidas em seu comportamento.

    Quando a perda da viso transcorre de forma gradual existe uma forte

    preocupao com o futuro (possibilidade de ficar totalmente cego). Esta

    preocupao gera uma perturbao no comportamento, caracterizada por um estado

    de medo e ansiedade em relao ao futuro. Contudo, por ocorrer de forma

    progressiva, o processo da perda da viso permite ao indivduo uma adaptaogradual a uma vida sem o sentido da viso (SAETA, 1999).

    Conforme o Comit Paraolmpico Brasileiro (CPB), no desporto para atletas

    com deficincia visual, aplicada uma classificao considerada regra em qualquer

    competio de que participam estes atletas. De acordo com esta classificao, todos

    os atletas portadores de deficincia visual so diferenciados por a letra B (blind,

    cegos) em relao ao grau de visibilidade. O mesmo parmetro de classificao se

    aplica para homens e mulheres.

    A classe ou categoria B1, a perda da luz nos dois olhos, at mesmo aquelas

    que tm a noo da luz, mas no reconheam as formato de uma mo em

    qualquer distncia ou at mesmo a posio que se encontra.

    A classe ou categoria B2 chega reconhecer um formato de uma mo, mas

    isso depende da distncia, chegam a ter um grau viso de 2/60 o campo de

    viso muito menor que 5 graus em qualquer ngulo. A classe ou categoria B3 considerada com uma agudez cima de 2/60, cujo

    ngulo muito maior do que 5 graus qualquer parte do seu ngulo.

    Para uma classificao mais precisa dos tipos de deficincias visuais

    utilizamos as definies da IDEA (Individuals with Disabilities Education Act).

    Deficincia Visual termo geral que engloba cegueira total e baixa viso. Baixa Viso consegue ler impressos grandes ou com ampliao.

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    Cegueira incapacidade de ler impressos grandes mesmo com ampliao.

    Cegueira legal acuidade visual igual ou inferior a 20/200 no melhor olho

    aps correo, ou campo visual to restrito que seu maior dimetro

    compreende uma distncia angular inferior a 20 (20/200).

    Viso de percurso capacidade de enxergar a uma distncia de 1,52 a 3,04

    m o que o olho normal consegue ver a 60,96 m (5/200 a 10/200).

    Percepo de movimento capacidade de enxergar a uma distncia de 91,4

    cm a 1,52 m o que o olho normal consegue ver a 60,96 m; essa capacidade se

    limita quase que totalmente percepo do movimento.

    Percepo de luz capacidade de distinguir uma luz forte colocada a 91,04

    cm do olho, associada incapacidade de detectar o movimento de uma das

    mos a 91,4 cm do olho (

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    Conforme os autores Fay (1970) e Barragra (1976) apud Russo e Mataruna

    (2001), embasando-se nas caractersticas mencionadas, propem para fins

    educacionais outros conceitos, so eles:

    Portadores de cegueira - educandos que apresentam ausncia total de viso

    residual, at a perda de projeo de luz, necessitando utilizar o sistema braile

    como principal veculo de comunicao do processo ensino-aprendizagem e

    no utilizam nenhum resduo visual que possam ter para aquisio de

    conhecimentos, mesmo que a percepo da luz os auxilie na orientao e na

    mobilidade;

    Portadores de viso subnormal - educandos que apresentam desdecondies de indicar a projeo de luz, at o grau em que a reduo de sua

    acuidade visual limita seu desempenho, distribudos em dois grupos:

    a) Aqueles que podem ver objetos a poucos centmetros (dois a trs) e utilizam

    a viso para muitas atividades escolares, alguns para ler e escrever com ou

    sem auxlios pticos e outros, complementando essas atividades com o

    sistema braile;b) Aqueles que, em algum grau, esto limitados no uso de sua viso, mas que

    a utilizam no processo ensino-aprendizagem, quando podero precisar de

    iluminao apropriada, auxlios ticos e/ou texto com letras ampliadas.

    2.3 IDENTIFICANDO O DEFICIENTE VISUAL

    Para que a criana deficiente visual atinja bons nveis de desenvolvimento,compatveis a suas capacidades, necessrio recursos especializados, como

    professores preparados e adaptaes curriculares (recursos alternativos de ensino).

    Vale ressaltar tambm, que o grupo no homogneo, pois os alunos possuem,

    assim como os alunos de viso regular, suas particularidades para o aprendizado

    (WINCKLER, 2003).

    Cabe muitas vezes aos educadores e os profissionais envolvidos na rea,

    detectar possveis problemas visuais de seus alunos, que por vezes no so

    percebidos pela famlia, principalmente no que diz respeito s crianas. Problemas

    de viso podem ser facilmente detectados quando dada a devida ateno a alguns

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    hbitos ou tiques, Fay (1970) apud Russo e Mataruna (2001) apresentam alguns

    desses sintomas caractersticos da deficincia visual: irritaes crnicas dos olhos,

    indicadas por olhos lacrimejantes, plpebras, inchadas ou remelosas; nuseas,

    dupla viso ou nvoas durante ou aps a leitura; ato de esfregar com freqncia os

    olhos, franzir ou contrair o rosto quando olha objetos distantes: cautela no andar

    para evitar tropeos e dificuldades para correr; desateno anormal durante

    trabalhos no quadro negro, mapas de paredes, entre outros: queixas de viso

    embaada e tentativa de afastar com as mos os impedimentos visuais; inquietao,

    irritabilidade ou nervosismos excessivos depois de um prolongado e atento trabalho

    visual; ato de pestanejar excessivamente, sobretudo durante a leitura; ato de segurar

    habitualmente o livro muito perto, ou muito distante, procurando a melhor posiopara a leitura; ato de inclinar a cabea para o lado durante a leitura; capacidade de

    leitura por apenas um perodo curto de cada vez; ato de fechar ou tampar um olho

    durante a leitura.

    Alm da observao destas caractersticas, que servem como meios de

    identificao, ainda existem alguns testes de acuidade visual a serem aplicados. Por

    exemplo, o Teste de Snellen, permite uma avaliao simples e imediata que leva a

    um primeiro diagnstico do estado oftalmolgico. De Masi (2002) ressalta que oquanto antes for realizado o diagnstico oftalmolgico, mais fcil ser amenizar ou

    evitar as conseqncias que possam ocorrer no desenvolvimento DV. (BRASIL,

    MEC/SEESP, 1995).

    2.4 CARACTERSTICAS ADQUIRIDAS

    Algumas caractersticas muito peculiares como manias ou hbitos gestuais,fatores psicolgicos (dependncia, medo, ansiedade) e comportamentais, bem como

    os baixos nveis de desenvolvimento motor podem ser observados em alguns

    deficientes visuais. Esta caractersticas podem aparecer tanto nos indivduos

    totalmente cegos quanto nos de baixa viso, seja ela adquirida ou de nascena. Sua

    existncia no regra e depende muito de cada indivduo e de como este ou foi

    orientado (WINNIK, 2004).

    Craft e Lieberman (2004) apontam um desses hbitos ou manias o

    maneirismo ou a auto-estimulao, caracterizado pela realizao de movimentos

    repetitivos, como o hbito de balanar o corpo, agitar os dedos ou lev-los ao olho

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    entre outros. O maneirismo no tem uma explicao definitiva, mas pode ser uma

    expresso fsica de nervosismo, demonstrado de diferentes maneiras. Para os

    autores, esse hbito, no atrapalhando a vida social, deve ser encarado de forma

    natural como um comportamento de auto-estimulao recorrente nos DVs (CRAFT

    e LIEBERMAN 2004).

    Mas algumas caractersticas adquiridas podem vir a trazer prejuzos para a

    vida do DV se no forem bem trabalhadas. O sentimento de medo, insegurana e

    dependncia podem acompanhar algumas pessoas com deficincia visual,

    independentemente da perda visual ser congnita ou adquirida. Estes podem se

    desenvolver em decorrncia da superproteo experimentada pelas pessoas cegas,

    e no pela falta de viso. Esta superproteo costuma acarretar a reduo donmero de oportunidades para tais alunos explorarem o ambiente com liberdade, o

    que pode causar atrasos no desenvolvimento perceptivo, motor e cognitivo. Rubens

    Venditti Jnior ressalta ainda um outro problema em detrimento do sentimento de

    segurana e independncia para o indivduo DV.

    A questo da insegurana e problemas de locomoo podem levar odeficiente visual ao sedentarismo, o que pode vir a comprometer o seu grau

    de desenvolvimento. Por isso o trabalho de orientar o indivduo para umalocomoo adequada, que possibilite acesso vida social de extremarelevncia (VENDITTI JNIOR, 2011, p. 3).

    Segundo Joseph P. Winnick (2004) a falta de viso no ocasiona,

    diretamente, nenhuma inabilidade motora ou fsica. Porm, as reduzidas

    oportunidades de movimentao, que costumam acompanhar a cegueira, podem ter

    como resultado vrias conseqncias desta natureza.

    Kirk (1972) apud Russo e Mataruna (2001), em estudo realizado, ressaltam

    que: o indivduo dotado de viso subnormal apresenta, geralmente, um

    desenvolvimento motor superior ao do indivduo cego e inferior ao indivduo de viso

    normal. Em grande parte se deve a relao de estmulos visuais que estes

    recebem.

    Deve-se observar que os problemas emocionais e fsicos da criana cega

    so induzidos pela atitude dos videntes (pessoas com viso normal). Cutsforth

    (1969) discorre sobre a necessidade de no se buscar compensaes substitutivas

    e sim, de se desenvolver as faculdades existentes de forma unitria.

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    Enquanto a vida de uma criana de viso normal se desenvolve nosentido de incluir um campo de estimulao cada vez maior, a criana cegadeve encontrar a prpria estimulao dentro do mbito corporal. Da emdiante ela constitui a maior parte do seu meio ambiente e encontra em simesma o que a criana dotada visualmente encontra no meio ambiente: o

    estmulo e motivao para a ao (CUTSFORTH,1969, p. 46).

    Russo e Mataruna (2001) descrevem um quadro geral de uma srie de

    eventuais prejuzos decorrentes da falta de estimulao: insuficincia na noo de

    lateralidade, a carncia de liberdade corporal, equilbrio corpreo falho, grande

    prejuzo na mobilidade, esquema corporal e cinestsico no internalizados,

    locomoo dependente, m postura, falta de expresso corporal, baixa coordenao

    motora, inibio voluntria descontrolada, baixo nvel de resistncia fsica e de

    iniciativa para ao motora. Vale ressaltar que estes problemas no so decorrentes

    da deficincia em si, mas fruto falta de experincias motoras (correr, brincar, jogar

    e etc...).

    Assim sendo, verifica-se pela problemtica apresentada, que a

    caracterizao geral do portador de deficincia visual o deixa mais vulnervel a

    situaes geradoras de possveis comprometimentos psicomotores. Quando isto

    ocorre, passa a existir uma modificao no rendimento geral (performance na

    execuo de tarefas), resultando em uma instabilidade de todo o sistema psquico

    do indivduo.Apreenso com situaes desconhecidas, insegurana em relao as

    suas capacidades (falta de confiana), dependncia, isolamento social, desinteresse

    pela ao motora, o indivduo acaba por alterar seu comportamento, o que com

    certeza o torna diferente do seu grupo, Lowenfeld (1964) apud Russo e Mataruna

    (2001) comentam que:

    Freqentemente, no indivduo deficiente visual, verifica-se medo desituaes no conhecidas, insegurana em relao as suas possibilidades,dependncia, isolamento social, apatia, desinteresse pela ao motora edificuldade no estabelecimento de relaes bsicas do seu Eu com os queo cercam e com o ambiente em que vive (LOWENFELD 1964 apud RUSSOe MATARUNA, 2001, p.3).

    Na viso dos autores Russo e Mataruna (2001), apenas um atendimento que

    reabilite o deficiente visual para que este supere dificuldades, no o bastante.

    Medidas mais severas devem ser tomadas para que estes possam ter as mesmas

    oportunidades, rompam preconceitos e vivenciem plenamente suas capacidades.

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    Mais do que um simples atendimento que o reabilite a superar essasdificuldades, o deficiente visual necessita de um conjunto de aes oumtodos que permita construir um novo posicionamento em relao a suarealidade, no sendo mais abordados como objetos defeituosos, mas apartir de um princpio epistemolgico, como sujeitos cognoscitivos,

    superando os comprometimentos fsicos, e estabelecendo umcomportamento de interao e integrao com a sociedade (RUSSO EMATARUNA, 2001, p. 4).

    Afim de amenizar os prejuzos que a deficincia possa ocasionar o Programa

    Institucional de Aes Relativa s Pessoas com Necessidades Especiais (PEE) da

    Universidade Estadual do Oeste do Panar mostra que possvel realizar

    programas de sucesso em prol do desenvolvimento dos indivduos PNEs, quando

    comunidade, universidade e governo trabalham juntos por um ideal. Eles

    conseguiram ao longo de anos aumentar o ingresso e a permanncia DVs no ensino

    superior, bem como qualificar o ensino e ampliar o debate acerca do tema. Isso

    demonstra que levar as informaes todas as camadas da sociedade faz com que

    o PNE seja melhor amparado, podendo com isso ter um desenvolvimento pleno

    (ROSSETTO e ZANETTI, 2006).

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    3 A DEFICINCIA VISUAL E ESPORTE

    3.1 A INCLUSO DO DEFICIENTE VISUAL NO ESPORTE

    Somente no ano de 1994 a UNESCO registrou o termo incluso no que se

    refere ao mbito da educao, evidenciando o quanto a preocupao acerca deste

    assunto recente. Segundo Kassar (2005) apud Falkenbach (2007), esta

    denominao compreende em fornecer as condies necessrias e favorveis para

    receber, manter e promover com plenas competncias as crianas com

    necessidades especiais [...]. Apesar da terminologia estar sendo cada vez maisdifundida, estudos e experimentos que atendam a abrangncia da incluso

    precisam ser realizados para sua melhor compreenso (FALKENBACH, A. P.; et al,

    2007).

    Conforme Duarte (2005) o movimento em prol da incluso dos PNEs vem

    crescendo no Brasil ao longo dos anos. Essa incluso ocorre em diferentes reas:

    como na educao, mercado de trabalho e tambm no esporte. Uma prova desse

    movimento so as campanhas de incluso social e a criao de leis que garantemao PNE direito a acessibilidade. Para que esta iniciativa se confirme importante

    que os prprios exijam seus direitos e procurem incluir-se.

    A incluso social um processo que contribui para a construo deum novo tipo de sociedade atravs de transformaes, pequenas e grandes,nos ambientes fsicos e na mentalidade de todas as pessoas, portantotambm da pessoa com deficincia.(SASSKI, 1997 apud FERNANDES, L.S.; VARGAS L.; FALKENBACH A. P, 2009, p.2).

    Soler (2005) destaca que os benefcios da prtica esportiva so amplamente

    conhecidos, eles promovem o desenvolvimento global dos portadores de

    necessidades especiais. Atravs do esporte os PNEs podem desenvolver suas

    habilidades e integrar-se sociedade, com isso elevando sua auto-estima, Gorgatti e

    Costa (2005) apud Moreira, W. C.; Rabelo, R. J.; De Paula, A. H.; Cotta, D. O.,

    (2007), acrescentam ainda que a insero do deficiente no esporte interfere

    diretamente na sua qualidade de vida, aumentando seu grau de autonomia ,

    melhorando suas relaes inter-pessoais entre outros.

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    [...] os esportes para pessoas com deficincias visuais podem vir aser compreendido enquanto fenmeno sociocultural de mltiplaspossibilidades, cujas dimenses sociais podem abranger a educao, olazer e o rendimento, e cujas referencias principais so respectivamente aformao, a participao e o desenvolvimento (GORGATTI e COSTA, 2005

    apud MOREIRA, W. C.; RABELO, R. J.; DE PAULA, A. H.; COTTA, D. O.,2007, p. 5).

    Um breve histrico apresentado por Russo e Mataruna (2001) mostra que a

    preocupao com o desenvolvimento de atividades fsicas destinada para alunos

    cegos, iniciou-se no Brasil no Instituto Benjamin Constant, do Rio de Janeiro, j nos

    anos de 1930, tendo ocorrido primeira demonstrao em 1931, sendo uma

    ginstica de forma calistnica, limitando-se a pequenos movimentos e

    deslocamentos em forma de marcha. Em 1937 o Instituto Benjamin Constant fechoue s reabriu em 1944. Na mesma poca o Instituto So Rafael em Belo Horizonte

    tambm oferecia o mesmo tipo de ginstica. Alguns anos mais tarde, com o ingresso

    de profissionais formados em Educao Fsica, alterou-se a orientao do trabalho.

    As aulas passaram a dar mais nfase ao processo educacional, no que diz respeito

    a problemas de postura, equilbrio, marcha, recreao, integrao e socializao,

    dando, portanto a entender que se consolidava uma viso mais integradora da

    atividade fsica para o deficiente visual.Em 1971, na Lei de Diretrizes e Bases da Educao, em seu art. 88,

    consagra-se que a educao de excepcionais, no que for possvel, deve enquadrar-

    se no Sistema Geral de Educao, a fim de integr-los a comunidade.

    Mesmo observando que h anos o deficiente visual busca seu espao no

    esporte, a preocupao dos profissionais de Educao Fsica em oportunizar

    esportes adaptados este pblico, com as ferramentas e metodologia corretas, bem

    como a maior divulgao e popularizao do paradesporto muito recente

    (MOREIRA, W. C.; RABELO, R. J.; DE PAULA, A. H.; COTTA, D. O., 2007).

    O que se percebe, que muitas vezes, alm das barreiras fsicas (servios e

    instalaes mal planejadas) impostas aos deficientes visuais existem ainda barreiras

    comportamentais, seja por preconceito, ignorncia ou desvalorizao das pessoas

    tidas como normais em relao ao PNE (MASINI, 1994).

    [...] pessoas, por seus costumes, valores, atitudes e expectativas

    sociais, excluem os PNEs, por preconceito, desconhecimento oudesvalorizao apesar de terem capacidades iguais aos seus semelhantesque no possuem, ou pelo menos no aparentam ter ver, algum tipo de

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    necessidade especial (FREITAS e CIDADE, 2002 apud MOREIRA, W. C.;RABELO, R. J.; DE PAULA, A. H.; COTTA, D. O., 2007, p.4).

    O PNE, no quer que a sociedade sinta pena, ou que pensem que um ser

    inferiorizado que necessita de privilgios. Eles querem apenas poder desenvolver

    suas potencialidades, serem produtivos e se destacarem sejam pelo trabalho,

    esporte, artes entre outros. O ser humano em sua essncia busca o reconhecimento

    e a valorizao (ROSSETTO e ZANETTI, 2006).

    3.2 EDUCAO FSICA ESPECIAL

    Considerando que a deficincia visual um assunto que faz parte da

    sociedade e pertence ao conjunto da populao, a incluso desta parcela no sistema

    de ensino regular extremamente importante. Apesar disto, de acordo com Flesh

    (2003), pouco se conhece sobre o assunto, pouco se discute sobre a incluso do

    deficiente visual e a dinmica dispensada a ela, na rede regular de ensino. Visto que

    a educao fsica e o esporte so oferecidos por rgos da sociedade,

    estabelecimentos pblicos e instituies educacionais, necessrio que estas

    oportunidades se ampliem a todos alunos, inclusive aos portadores de deficincia(FLESCH, 2003).

    A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (9394/96) ressalta o

    direito educao pblica, segundo Carvalho (1997, p.103) reafirma, com mais

    detalhes, o referido direito educao pblica e gratuita de pessoas com

    necessidades especiais.O que se questiona se a incluso estaria ocorrendo de

    fato, estariam os profissionais da educao devidamente preparados para dar o

    suporte necessrio aos DV, e as escolas teriam a estrutura adequada asnecessidades destes alunos?

    ParaSoler (2005),a maioria dos professores no possui os conhecimentos

    tcnicos e cientficos necessrios para se trabalhar com o pblico portador de

    necessidades especiais. Acrescenta ainda que desconhecem os benefcios

    proporcionados aos PNE`s inclusos em atividades desportivas bem como os

    benefcios proporcionados tambm aqueles que no possuem nenhuma

    deficincia, mas que atravs do convvio e da integrao aprendem a lidar com as

    diferenas, enxergando os PNE`s como integrantes da sociedade.

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    Winnick (2004) destaca muito bem que as pessoas que escolhem como

    carreira de serem educadores fsicos ou treinadores desportivos em geral

    contemplam muito a atividade fsica e participam ativamente dos esportes e da

    educao fsica. Contudo, muitas vezes no tomam conhecimento da educao

    fsica e esportes adaptados at o momento em que se preparam para a carreira ou

    se deparam com a situao real. Na profisso de professor de Educao Fsica no

    basta ser um bom executante das tarefas, um bom esportista, necessrio ter a

    capacidade de transmitir essas habilidades outras pessoas. Desafio maior ainda

    quando a turma em questo possui algum tipo de deficincia (PEDRINELLI e

    VERENGUER, 2004).

    Para definirmos a educao fsica que atende as necessidades especiais,utilizamos o termo Educao Fsica Adaptada (EFA), que segundo Winnick (2004)

    definida como:

    [...] um programa individualizado de aptido fsica e motora;habilidades e padres motores fundamentais; habilidades de esportesaquticos e dana; alm de jogos e esportes individuais e coletivos; umprograma elaborado para suprir as necessidades especiais dos indivduos.(WEINECK, 2004, p.26).

    O campo da Educao Fsica Adaptada (EFA) ou Educao Fsica Especial

    (EFI Especial) vem apresentando um aumento considervel, o que extremamente

    importante para a qualificao da formao de profissionais capacitados, necessria

    para o exerccio de atividades inclusivas.Uma pesquisa realizada na Universidade

    Presbiteriana Mackenzie em parceria com a Escola Superior de Educao Fsica de

    Jundia, avaliando a formao dos professores atuantes na rea inclusiva mostrou

    que: indispensvel vivenciar questes decorrente do cotidiano do profissional

    atuante na populao com necessidades especiais, a fim de oferecer mais subsdios

    e experincias e estimular a reflexo do profissional ante sua atuao nessa rea;

    que o ensino acadmico nem sempre suficiente para uma performance profissional

    eficiente no que diz respeito a Educao Fsica Adaptada (NASCIMENTO,

    RODRIGUES, GRILLO, MRIDA, 2007).

    Para Venditti (2011) existem uma serie de classificaes e definies a

    respeito do universo da deficincia visual da qual o profissional de Educao Fsica

    atuante dever interar-se, porm, mais do que isso precisa estar ciente e ater-seprincipalmente, ao fato de que as limitaes nas interaes com o meio implicam no

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    defasagem no nvel de desenvolvimento motor, como visto anteriormente no captulo

    das caractersticas adquiridas. Levando em considerao que, quanto mais

    significativa a perda de viso, maior a probabilidade de isolamento social, entende-

    se a importncia de proporcionar atividades adaptadas para que todos os indivduos,

    independentemente de suas deficincias, envolvam-se ativamente das mesmas, o

    que proporciona a estimulao do indivduo de uma forma mais global.

    O desenvolvimento do processo de aprendizagem dos alunos depende

    diretamente da formao do profissional do educador fsico, e correto afirma que

    primeiramente cabe a universidade, que tem como funo criar recursos humanos

    para o desenvolvimento das atividades profissionais(PELLEGRINI, 1988, p. 250).

    Uma vez formado supe-se o professor passou por experincias prticasbem como possui o embasamento terico para organizar e realizar suas aulas,

    sendo assim capacitado a atender as necessidades de seus alunos respeitando

    suas especificidades (NASCIMENTO, RODRIGUES, GRILLO, MRIDA, 2007).

    Falkenbach (2007) acredita que o segmento da educao fsica escolar

    pode ser entendida como a rea pedaggica com menor disposio para as

    finalidades de incluso, devido ao seu histrico de prtica seletiva, segregadora e

    tcnica. Essa questo da deficincia e do seu processo educacional no fazsomente parte do passado, se faz necessria no presente e bem provvel no futuro.

    Para Falkenbach (2007), a incluso ocorrer quando houver um ambiente novo e

    criativo, com uma organizao escolar diferenciada respeitando as caractersticas

    especiais de cada um, quebrando aquele estigma de ao pedaggicas baseadas

    em ganhar ou perder, melhor ou pior (FALKENBACH, A. P., et al, 2007).

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    4 O JUD

    4.1 ORIGEM

    Vivendo em uma sociedade violenta, onde as coisas eram resolvidas atravs

    da fora e da agressividade, surge a necessidade de saber defender-se.

    Aprimorando tcnicas de defesa pessoal e de combate de guerra, surge no Japo,

    na idade mdia o jujitsu. A literatura a respeito da preciso das datas e dos

    acontecimentos um tanto conturbada, sendo difcil distinguir o que de fato ocorreu

    do que foi lenda ou mito (BONT-MAURY; COURTINE, 1994). Em uma poca demuitas guerras, constantes invases e onde reinavam os samurais, saber lutar fazia

    muita diferena, esse foi um terreno frtil para o desenvolvimento do jujitsu, que se

    originou de um misto de diferentes tcnicas de lutas (VIRGILIO, 1994).

    Com o passar do tempo o jujitsuacabou se disseminando por todo Japo,

    formando diferentes correntes e escolas. Contudo no havia entre eles um ideal de

    cavalheirismo, de convivncia, nem princpios pedaggicos, filosficos ou morais,

    seus praticantes travam combates sem regras com intuito de testarem foras,focados unicamente na vitria. Com isso a prtica do jujitsu acabou sendo

    marginalizada e comeou a entrar em decadncia (VIRGILIO, 1994).

    Dentro desse contexto, surge um jovem estudante da Universidade Imperial

    de Tquio, dotado de larga viso e idealismo e tambm praticante de lutas chamado

    Jigoro Kano. Este ao analisar a decadncia do jujitsu achou que mudanas

    deveriam ser feitas principalmente afim de preservar os valores tradicionais de sua

    cultura. Para isso reuniu e organizou um conjunto de tcnicas oriundas do jujitsu,aliadas princpios filosficos e em 1882 fundou sua escola, a Kodokan, onde

    passou a ensinar arte marcial com uma pedagogia diferenciada denominada jud,

    que significa caminho suave. Kano fez do jud um esporte por excelncia,

    apresentando tcnicas, regras, filosofia e princpios. Este conjunto de qualidades fez

    o jud prosperar, sendo hoje uma modalidade difundida e praticada pelo mundo

    inteiro. (RUSSO; MATARUNA, 2001)

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    4.2 PRINCPIOS

    O jud dentre as mais diversas modalidades de artes marciais, se destaca

    por seus princpios filosficos, os quais foram idealizadospor Jigoro Kano visando o

    desenvolvimento do praticante de maneira integral, indo alm da prtica de

    movimentos complexos e repetitivos, mas sim utilizar desses de maneira a

    desenvolver potencialidades intrnsecas dos praticantes. (DAIANE; SARAY, 2005,

    p. 4).

    A essncia do jud composta pelos princpios filosficos que Jigoro Kano

    estabeleceu na criao da arte marcial. O objetivo era que esses princpios fossem

    levados para vida diria do judoca, e que este disseminasse a filosofia por todasociedade, afim de construir um mundo melhor. (BROUSSE; MATSUMOTO, 1999

    apud FRANCHINI, DEL`VECCHIO, 2007).

    As duas mximas que regem a base do jud so:

    Seryoku Zeny( Mximo de eficincia, com o mnimo de esforo).

    Neste primeiro podemos observar a preocupao com o desenvolvimento em

    prol da eficincia das tcnicas sobrepondo-se a fora. Desta maneiraindivduos menores e poderiam atravs de suas habilidades tcnicas

    compensar o tamanho e fora dos adversrios;

    Jita Kyoei ( Prosperidade e benefcios mtuos).

    O segundo princpio demonstra o que o jud no se pratica sozinho, Jigoro

    Kano acreditava que a idia do desenvolvimento pessoal deveria estar ligada a

    ajuda ao prximo, confiando na idia de que a eficincia e o auxlio aos outros

    criariam no somente um esportista melhor como um ser humano maiscompleto. Refere-se ao valor da solidariedade para o melhor bem individual e

    universal(BROUSSE; MATSUMOTO, 1999).

    So nove princpios que compem o esprito do jud. Eles mostram a

    maneira de percorrer o suave caminho fundamental para o estudo, compreenso e

    progresso no jud (BROUSSE; MATSUMOTO, 1999):

    1) Conhecer-se dominar-se, e dominar-se triunfar; Para conhecer suas

    possibilidades, capacidades, qualidades e defeitos, para saber enfrentar uma

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    diversidade de situaes o homem precisa conhecer a si mesmo.

    Reconhecendo estes fatores, obtendo um equilbrio interior o indivduo adquire

    um maior controle emocional e melhor aproveitamento do seu potencial, com

    isso aumenta suas chances de triunfar.

    2) Quem teme perder j est vencido; Aquele que entra para um combate,

    disputa ou desafio, inseguro de si mesmo, de suas capacidades e

    possibilidades, acaba por diluir suas foras, nutrindo aqueles que buscam o

    xito com mais disposio.

    3) Somente se aproxima da perfeio quem a procura com constncia,

    sabedoria e sobretudo, humildade; o homem tem em sua essncia a

    necessidade de evoluir em busca da idealizada perfeio, porm o nico jeitode se aproximar desse ideal atravs da perseverana, sabedoria e acima de

    tudo a humildade.

    4) Quando verificares, com tristeza, que nada sabes, ters feito teu primeiro

    progresso no aprendizado; muitas vezes o homem se aprofunda em

    determinados assuntos e passa a acreditar que sabe tudo. Porm ao perceber

    que as possibilidades so infinitas acaba por se dar conta de que no sabe

    nada ou muito pouco. Reconhecer isto triste e doloroso, mas o primeiropasso no processo de aprendizagem.

    5) Nunca te orgulhes de haver vencido um adversrio. Quem venceste hoje,

    poder derrotar-te amanh. A nica vitria que perdura a que se conquista

    sobre a prpria ignorncia: a humildade deve prevalecer sobre o orgulho,

    ningum tem certeza do dia de amanha, portanto preciso tratar a todos com

    igualdade e respeito. Pessoas orgulhosas se tornam arrogantes e soberbas,

    criando um clima hostil a sua volta.6) O judoca no se aperfeioa para lutar; luta para se aperfeioar;as vitrias

    em cima do tatame no so a nica meta do judoca, o jud busca um

    desenvolvimento completo do indivduo, a harmonia perfeita de corpo e

    esprito. Esses ideais tornam o esporte diferente dos demais.

    7) O judoca o que possui inteligncia para compreender aquilo que lhe

    ensinam e pacincia para ensinar o que aprendeu aos seus companheiros; o

    judoca precisa ter a capacidade de assimilar os ensinamentos, e mais do que

    isto, estar disposto a passar esses ensinamentos adiante, a fim de contemplar

    um das mximas do jud, bem estar e benefcios mtuos.

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    8) Saber cada dia um pouco mais, e utilizando o saber para o bem; o

    caminho do verdadeiro judoca; o homem dinmico e evoludo busca sempre

    estar atualizado, vido pela informao. Com o passar do tempo, adquire

    conhecimentos e experincias, e tem por dever, como bom judoca, utilizar

    deste para o bem.

    9) Praticar jud educar a mente a pensar com velocidade e exatido, bem

    como ensinar o corpo a obedecer corretamente. O corpo uma arma cuja

    eficincia depende da preciso com que se usa a inteligncia; quanto mais

    acumulamos experincias na prtica do jud e nos aprofundamos em sua

    filosofia mais fascinante ele se torna, dada sua larga diversidade de valores

    fsicos, morais, intelectuais e espirituais. Somado a estes atributos, otreinamento fsico e o conhecimento de tcnicas de luta, fazem do judoca uma

    arma em potencial, da qual depende somente dele a maneira como ir utiliz-

    la.

    Os nove princpios do jud devem ser difundidos entre os praticantes, para

    que conforme o desejo de seu fundador Jigoro Kano, no se torne apenas mais um

    esporte de resultados, e que passe a fazer parte do estilo de vida da pessoa. Elesso a essncia da arte marcial e a eles os judocas devem ateno, obedincia e

    zelo. Entretanto, com a disseminao do jud pelo mundo, ele vem se tornando um

    esporte cada vez mais competitivo. Com isso, os professores (senseis) demonstram

    uma maior preocupao com obteno de resultados positivos em competies, e

    assim, acabam muitas vezes deixando de lado as questes essenciais que compe

    a filosofia da arte marcial (DAIANE; SARAY, 2005).

    4.3 O ESPORTE

    A transformao esportiva do jud gerou grande divergncia entre os

    participantes mais tradicionalistas, acreditavam que seguindo a tendncia dos outros

    esportes, como a criao de categorias e o envolvimento com a mdia o jud

    alteraria seu foco, perdendo seus preceitos filosficos (CLEMENT; DEFRANCE;

    POCIELLO, 1994 apud MONTEIRO, 1998). Porm, o desenvolvimento do jud como

    esporte de alta performance, era um processo inevitvel, frente ao mundo

    globalizado, que busca sempre os melhores resultados e incentiva a competio.

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    Cabe aos professores a manuteno dos valores e costumes em suas aulas

    (FRANCHINI, 2001). Franchini (2001) aponta alguns fatores que foram decisivos

    nesse processo de modernizao e ocidentalizao pelo qual a arte marcial passou,

    tais como: implantao do jud em clubes, criao de rgo reguladores e

    federaes, participaes em competies, envolvimento com patrocinadores e

    mdia, entre outros [...].

    Apos a criao da Federao Internacional de Jud em 1951, muitasmudanas no conhecimento tcnico, formas de ensino, relao professor-aluno e objetivos foram ocasionadas pelo processo de esportivizao eglobalizao do jud. At ento ele era visto como um mtodo japons deatividades espiritual ou de autodefesa e muito pouco como esporte

    (BROUSSE, 2001 apud FRANCHINI, 2001, p. 36).

    Villamn et al. (1999) conta que, assim como outros esportes, o jud

    precisou sofrer algumas alteraes em suas regras para se tornar mais atrativo ao

    pblico. Ele passa a ser mais pragmtico, com isso perde um pouco do esprito de

    sobrevivncia, essncia das artes marciais, e reincorpora o esprito de

    competio", mais adequado aos preceitos da poca. (VILLAMON et al, 1999)

    Hoje em dia, o jud um dos esportes de luta mais praticado pelo mundo,

    tendo tambm um dos maiores nmeros de atletas federados. Nas escolas e clubescrescem a cada ano nmero de participantes, e como nas palavras de Virgillio

    (1994) representando um nicho de mercado fiel e bem definido. Do esporte

    participam pessoas de todas as faixas etrias e de ambos os sexos e inclusive

    portadores de deficincias, como consta no presente trabalho. Estas pessoas so

    atradas pelos mais diversos motivos. (VIRGILIO, 1994)

    A prtica do esporte desperta interesse, no somente por seu aspecto

    competitivo, mas mais do que isso, pelos benefcios recreativos, fsico, mental, entre

    outros, o jud favorece o equilbrio fsico e psquico-afetivo daqueles que o

    praticam, afinando as qualidades de concentrao, aplicao, perseverana e

    abnegao. Alem disso, estimula e d confiana aos angustiados e indecisos.

    (VILLIAUMEY, 1981 apud RUSSO e MATARUNA, 2001, p.3). O jud trabalha tanto

    o condicionamento fsico; exercitando o corpo com repeties de tcnicas,

    deslocamentos, combates, entre outros, bem como fortalece o psicolgico ao

    superar medos, angustias, nervosismos e ansiedades, sendo [...] o equilbrio

    emocional e as capacidades cognitivas so condicionantes importantes na pratica do

    jud.(CARMENI, 1998 apud RUSSO e MATARUNA, 2001, p.3).

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    4.4 PARTICULARIDADES

    Calleja (1989) salienta algumas particularidades do jud que so oriundas

    das primeiras escola e que permanecem vivas at os dias de hoje.

    As aulas de jud so realizadas em um local apropriado chamado de dojo,

    este de preferncia deve ser amplo, arejado e limpo, como pregava Jigoro Kano. No

    cho conter tatames, essenciais para o amortecimento nos ukemis (quedas e

    rolamentos) e katame-waza (tcnicas de solo). Para que os alunos sempre

    lembrem da histria e origem da prtica, os dojos possuem um foto do seu mestre

    fundador, Jigoro Kano, e o vocabulrio das tcnicas e comandos utilizados

    permanece em japons, como em sua criao original (CALLEJA, 1989).O mestre, professor ou treinador chamado de sensei, e este autoridade

    mxima dentro do dojo, ele o aluno deve respeito e disciplina. o sensei que

    instrui o aluno sobre as regras de etiqueta, deveres e obrigaes, como:

    cumprimentar e respeitar companheiros e mestres, ter postura dentro e fora do

    tatame, manter a higiene em dia, estar sempre atento as instrues que lhe so

    dadas, enfim, adequar-se (CALLEJA, 1989).

    No shiai, combate esportivo, a busca do atleta o ippon, golpe perfeito.Oippon pode ser alcanado atravs da aplicao de uma queda perfeita; uma

    finalizao, imobilizao do adversrio, desistncia do oponente ou por pontos nos

    quais o atleta que foi superior no combate ir sair vencedor (VILLAMON, M.;

    MOLINA, J. P., 1999).

    A vestimenta utilizada nessa modalidade o judoguiou kimono, composta

    por; casaco (wagi), cala (zubon), que com o cinturo ou faixa(obi) e o chinelo,

    formam a vestimenta necessria sua prtica. O judogipode ser branco ou azul,ainda que o azul seja quase apenas utilizado para facilitar as arbitragens em

    campeonatos oficiais(VILLAMON, M.; MOLINA, J. P., 1999).

    4.5 JUD PARAOLMPICO

    O jud voltado ao pblico deficiente visual acompanha o crescimento do

    esporte no mundo todo. Os inmeros benefcios que a prtica do esporte

    proporciona, tornou o jud muito popular, Mataruna (2006) estima que mais de 2.600

    pessoas com as mais variadas deficincias pratiquem a modalidade. As regras so

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    praticamente as mesmas do jud convencional, com a diferena que os atletas no

    so punidos quando saem da rea de luta e o combate inicia com ambos lutadores

    realizando suas pegadas (forma de segurar no kimono). A Federao Internacional

    de Esportes para Cegos, fundada em Paris em 1981, a responsvel pelo esporte

    no mundo e no Brasil a Confederao Brasileira de Desportos de Deficientes

    Visuais. (Comit Paraolmpico Brasileiro, 2011)

    De acordo com dados do Comit Paraolmpico Brasileiro (CPB) o jud foi a

    primeira arte marcial, de origem asitica a entrar no programa paraolmpico. Desde a

    dcada de 70 a modalidade j era praticada, mas foi em 1988 que estreou nos jogos

    paraolmpicos em Seul. Nesta e nas edies de Barcelona, Atlanta e Sydney o

    esporte contou apenas com a participao de atletas do naipe masculino. Apenasem 2004, nos jogos paraolmpicos de Atenas as mulheres tiveram seu espao

    garantido nos tatames. Antnio Tenrio um dos grandes representantes do Brasil

    na modalidade, alm de ser tetracampeo paraolmpico consegue se destacar

    tambm em competies com atletas regulares (no cegos), tendo sua historia

    recentemente contada em um documentrio. (Comit Paraolmpico Brasileiro, 2011)

    Desde quando a modalidade ingressou dos Jogos Paraolmpicos, o Brasil

    demonstra ser uma das maiores potncias mundial, uma prova disso o excelentehistrico que o CPB apresenta, aumentando a cada ano o nmero de atletas e

    medalhas. De l pra c ganhou mais espao na mdia e passou a contar com o

    apoio de patrocinadores, fator fundamental para alavancar o esporte. (Comit

    Paraolmpico Brasileiro, 2011)

    Esse sucesso se explica pela maior valorizao que os deficientes vem

    ganhando na sociedade brasileira. O aumento do nmero de projetos, competies e

    incentivos destinados aos portadores de necessidades especiais faz com que cresatambm o esporte paraolmpico. Em decorrncia dessa ascenso, reas como

    psicologia, fisiologia, treinamento de performance, entre outras que estudam o

    fenmeno esportivo, comeam os poucos voltar seus olhares para o jud

    paraolimpico, e produzir estudos na rea. Porm como todo esse movimento muito

    recente, segundo Mello e Fernandes Filho (2004), a literatura acerca do assunto

    muito escassa, inclusive no Brasil, que possui grande destaque no cenrio

    paraolmpico. (MELLO, M.F.; FERNANDES FILHO, J., 2004)

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    5 JUD E DEFICINTES VISUAIS

    5.1 O PROJETO DE JUD PARA DEFICIENTES VISUAIS

    A excluso de pessoas portadoras de deficincia fsica dos programas

    esportivos no incomum, e esta acontece por diferentes razes: por

    desconhecimento; preconceitos; falta de profissionais capacitados, entre outros.

    Somados esses e outros fatores fazem com que os indivduos portadores de

    deficincia sejam privados dos benefcios referentes prtica da atividade fsica

    (WINCKLER, 2003).Para tentar reverter esse quadro, e incluir esta parcela da populao nas

    prticas esportivas, se faz necessria a criao de projetos, campanhas e

    programas direcionados aos PNE`s, contando com alguns cuidados, como salientam

    Pedrinelli e Verenguer (2004).

    [...] a elaborao de um programa de atividades voltado para pessoasem condio de deficincia, qualquer que seja ela, deve estar muito bem

    orientada e informada em relao aos limites, restries de cada um e,sobretudo, em relao s possibilidades dos mesmos. Para isso a atividademotora deve ser adaptada em funo das necessidades apresentadas e daspotencialidades destes sujeitos, atravs do novo paradigma da diversidadehumana (PEDRINELLI; VERENGUER, 2004, p.56).

    Para entender as razes e finalidades do presente trabalho de concluso de

    curso de suma importncia conhecer um pouco sobre o projeto do qual se

    originaram as questes a serem abordadas a cerca do tema; jud para deficientes

    visuais.

    Visando desenvolver a melhoria da qualidade de vida de pessoas portadoras

    de necessidades especiais e promover a incluso social destas, a Escola de

    Educao Fsica da UFRGS possui uma rea de atuao especifica, chamada

    Educao Fsica Especial, com disciplinas, atividades de pesquisa e extenso. A

    proposta deste projeto encaixa-se nessa rea, na medida em que busca, atravs do

    jud, atingir tais objetivos, tendo como pressuposto o desenvolvimento de uma

    metodologia apropriada que inicialmente se deu pela categoria dos deficientes

    visuais, tendo em vista a existncia de acmulo nessa rea (CAMPANI, D. B. e

    KRUMEL, V. F., 2009).

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    Percebendo a necessidade de um treinamento mais especializado, com

    uma metodologia apropriada, levando em considerao as necessidades especiais

    de alguns alunos, surgiu a idia da criao de um projeto diferenciado. Voltado ao

    pblico portador de necessidades especiais, principalmente os deficientes visuais,

    mas aceitando a participao amigos, familiares e interessados, para a prtica de

    aulas de jud. Ministradas por um professor formado em Educao Fsica e

    graduado faixa preta de jud, auxiliado por alunos bolsistas graduandos em

    Educao Fsica e tambm praticantes de jud. (CAMPANI, D. B. e KRUMEL, V. F.,

    2009)

    Desde 2005, o projeto tem por objetivos oportunizar a prtica do jud para

    indivduos portadores de necessidades especiais; desenvolver uma metodologia deensino apropriada para portadores de necessidades especiais; capacitar

    profissionais nesta rea; propiciar o desenvolvimento de atividades paraolmpicas;

    articular instituies e entidades representativas do setor social (CAMPANI, D. B. e

    KRUMEL, V. F., 2009).

    5.2 BENEFCIOS REFERENTES A PRTICA

    A ausncia ou a diminuio do sentido da viso coloca o ser humano,

    especialmente as crianas, em desvantagem em vrios aspectos. Ocorrem

    defasagens psicomotoras, m adaptao sensrio-motora, srio comprometimento

    da autonomia e explorao espacial do indivduo, porte defeituoso, entre outras

    anomalias, que acabam prejudicando o seu processo de ensino/aprendizagem e sua

    conseqente interao na sociedade, como apresentado anteriormente no captulo

    das Caractersticas Adquiridas.No que diz respeito forma de locomoo, orientao e mobilidade, o

    comprometimento da viso impe a pessoa uma serie de dificuldades. O medo de

    cair, esbarrar ou sofrer algum tipo de acidente e acabar se machucando acaba

    minando a autoconfiana do DV, desencorajando o mesmo a explorar novos

    ambientes e ter uma maior independncia. (LOWENFELD, 1964 apud CAMPANI,

    2008). A cerca de programas que trabalhem orientao e mobilidade para DVs a

    literatura preconiza que devem ser levadas em consideraes algumas questes,

    como necessidades gerais da pessoa, possibilitar a explorao, auto-realizao,

    promover a independncia pessoal. Esse trabalho se realiza atravs do

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    desenvolvimento de certos estmulos como: conhecimento do esquema corporal,

    postura, treinamento dos sentidos, equilbrio, tcnicas especificas de mobilidade

    (LOWENFELD, 1964 apud CAMPANI, 2008).

    Referente aos aspectos mencionados acima, a prtica do jud vem para

    reforar esse trabalho, uma vez que desenvolve de forma segura e progressiva

    questes como deslocamentos, propriocepo, lateralidade, movimentao corporal,

    e ensina o fundamentalmente o praticante a cair de forma segura, atravs dos

    rolamentos (ukemis), aprendendo a absorver o impacto de eventuais quedas. Como

    no jud o trabalho realizado em um amplo espao, com o solo devidamente

    revestido por tatames, o aluno pode realizar a atividade com plena segurana. Com

    o tempo se torna mais confiante na realizao das tarefas, alterando de formapositiva seu grau de autonomia e independncia funcional. (SEISENBACHER;

    KERR, 1997 apud CAMPANI, 2008).

    Winckler (2003) ressalta ainda que a abordagem deva ser muito cautelosa.

    Indica que informaes cinestsicas, tteis e auditivas, devem ser utilizadas como

    recursos a fim de suprir a carncia ou deficincia de informaes visuais. O mesmo

    sugere ainda que interessante que os profissionais envolvidos com o pblico em

    questo experimentem situaes em que so privados do sentido da viso, comorealizar atividades vendados, para que vivenciem, mesmo que por um breve

    momento, o modo de percepo de um DV. Com a finalidade de [...] facilitar a

    elaborao das informaes sobre movimentos e descrio dos ambientes

    envolvidos no trabalho(WINCKLER, 2003).

    Esses recursos so muito utilizados no jud para DVs, por exemplo: o solo

    revestido por tatames e o contato dos ps descalos com este, promove a

    percepo ttil; o uso de kimonos bem como o permanente contato com ocolega/adversrio facilita a realizao dos objetivos; os comandos do jud so feitos

    de forma oral pelos rbitros ou professores. Esses so alguns dos elementos que

    tornam a prtica do jud adequada os DVs, a fim de otimizar suas capacidades e

    minimizar os eventuais prejuzos decorrentes da falta da viso. (VIEIRA; RUSSO,

    2006).

    No jud cada tcnica composta por um conjunto de aes motoras, que

    precisam estar coordenadas para funcionarem, por isso, durante o ensino, o

    professor, a fim de que o aluno tenha melhor noo de sua estrutura fsica, procura

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    oferecer aos mesmos conhecimento da funo e ao de cada seguimento corporal

    (VIEIRA; RUSSO, 2006).

    O treinamento de jud desenvolve algumas valncias fsicas, principalmente

    queles que desejam melhorar seu rendimento no esporte, tais como: agilidade,

    fora, velocidade, resistncia, postura e equilbrio, entre outros. Alm do benefcios

    fisiolgicos, atuam diretamente na organizao e orientao espao-temporal, assim

    como no aperfeioamento da motricidade, na diminuio da inibio e da ansiedade.

    Com isso, temos um indivduo com melhor condicionamento fsico, maior

    coordenao motora, ento o desporto assume na vida do mesmo uma funo

    utilitria complementar uma vez que auxilia nas atividades da vida diria. Estas

    atividades podem ir das coisas mais simples como vestir-se ou andar, at mesmoquestes mais complexas como organizao pessoal e desempenho profissional,

    que no universo do PNE podem ter outras dimenses (VIEIRA; RUSSO, 2006).

    O jud uma arte marcial que se preocupa com o ser humano comosendo integral e indivisvel, possibilitando o desenvolvimento de tcnicascorporais aliadas a um forte componente filosfico, principio esses que seaplicaro a todas as fazes da vida, desafios, combates e contratempos, comos quais o individuo em condio de deficincia visual porventura ir sedefrontar, auxiliando-o nas suas atividades, quer sejam esportivas, sociaisou profissionais. (RUSSO; SANTOS, 2001 apud ALMEIDA; SILVA, 2009, p.25).

    Embora toda e qualquer prtica desportiva seja de vital importncia para o

    aprimoramento de deficientes, o jud tem se destacado por ser uma modalidade que

    preza pela disciplina. Afinal, o desporto tem no desenvolvimento da arte to ou mais

    importncia quanto o objetivo de vencer (ALMEIDA; SILVA, 2009).

    O jud no somente uma tcnica fsica para o corpo, mas tambmum principio filosfico para o fortalecimento do esprito. Princpio esse quese aplicar em todas as fases da vida humana, em todos os desafios,combates e contratempos, com que porventura se defrontar o portador dedeficincia visual nas suas atividades, que sejam esportivas, sociais ouprofissionais. (VIEIRA; RUSSO, 2006, p.23).

    Kastrup(2005) analisa o processo de atenso/desatenso e aprendizado,

    muito comentado atualmente na rede de ensino escolar, e destaca que a realizao

    do exerccios de concentrao passa a ser corporificada, fazendo parte da vida

    cotidiana do aluno. Esse exerccio da concentrao fundamental na prtica do

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    jud, visto que o adversrio pode usar do momento de desateno para aplicar sua

    tcnica, sendo a derrota o preo a pagar por estar desconcentrado.

    O treinamento de artes marciais tem como ponto fundamental disciplinar seus

    praticantes e atravs da aquisio de tcnicas de luta tornar o indivduo preparado

    para o combate. Treinando o corpo e a mente os benefcio so inmeros. Todas

    benfeitorias citas no capitulo fazem do jud uma arte marcial excelente para os

    DVs. (ALMEIDA; SILVA, 2009).

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    6 MOTIVAO

    6.1 RELEVNCIA

    Os participantes de projetos para pessoas portadoras de necessidades

    especiais, assim como os indivduos regulares, se inserem e tambm abandonam a

    prtica desportiva por diferentes razes. Para Becker Jr. (2000) cada participante

    tem suas particularidades, em detrimento da percepo que tem do ambiente que o

    cerca. Essa percepo varia de acordo com cada personalidade, sendo assim

    podendo haver razes diferentes ou semelhantes para prtica.Cardoso, et al (2010) cita como fator mais importante, para iniciar e manter-

    se engajados nos esportes adaptados, as motivaes individuais. Entender estas

    questes que levam a procura da realizao da atividade esportiva bem como as

    causas do abandono podem ajudar na elaborao de programas de treinamento

    voltados a este e outros projetos de cunho inclusivo. Assim sendo, com base em

    bibliografias que abordam este tema, buscamos definir os fatores motivacionais e

    no s eles, como tambm o seu oposto, os fatores de amotivacionais.Para o educador fsico, professor ou treinador, o conhecimento acerca da

    motivao especialmente importante, uma vez que o estilo motivacional do mesmo

    possui forte influencia na motivao de seus alunos (GUIMARES;

    BORUCHOVITCH, 2004).

    Metodologias, objetivos e planos de aula podem ser alterados ao identificar

    os fatores que influenciam o estado motivacional do aluno, do professor e/ou grupo.

    Informaes como estas podem auxiliar no aumento da participao e rendimentodos alunos em programas de treinamentos, no obstante em maneiras de atrair um

    pblico-alvo para a modalidade (NASCIMENTO; RODRIGUES; GRILLO; MRIDA,

    2007).

    Balbinotti (2009) destaca o construto motivacional e suas teorias em prol do

    ensino do tnis, mas possvel ampliar a aplicao destes conhecimentos para

    outros esportes, incluindo o jud. Para responder as dvidas acerca dos aspectos

    motivacionais do desportista de fundamental importncia estabelecer uma

    fundamentao terica sobre a temtica. Destaca-se que: A motivao tem sido

    considerada uma varivel chave para a prtica do esporte em diferentes nveis:

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    aprendizado, lazer, treinamento e desempenho. (BALBINOTTI; BALBINOTTI;

    JUCHEN, 2009).

    Alm de serem relevantes para a prtica esportiva, os fatores motivacionais

    so diferentes de uma pessoa para outra, o que torna seu estudo muito mais

    complexo e peculiar. (WEINBERG; GOULD, 2001).

    [...] de grande importncia, para realizao das atividadesesportivas com maior autonomia e segurana, levar em considerao osfatores motivacionais que direcionam os alunos para a prtica desportiva,considerando que as razes podem variar de acordo com cada praticante.(WEINBERG; GOULD, 2001, p. 57).

    Samulski defende ainda que:

    [...] a motivao caracterizada como um processo ativo, intencionale dirigido a uma meta, o qual depende da interao de fatores pessoais(intrnsecos) e ambientais (extrnsecos). Segundo esse modelo, amotivao apresenta uma determinante energtica (nvel de ativao) euma determinante de direo do comportamento (intenes, interesses,motivos e metas). (SAMULSKI, 1995, p.104).

    ConformeWeinberg e Gould (2001), a motivao no esporte baseada na

    relao entre fatores pessoais (personalidade, necessidade, interesses, motivos,metas e expectativas) e situacionais (estilo de liderana, facilidades, tarefas

    atrativas, desafios e influncias sociais), e os mesmos fatores variam ao longo da

    vida, podendo alterar seu grau de importncia em diferentes fases.

    6.2 TEORIAS MOTIVACIONAIS

    A escolha da teoria motivacional a ser utilizada em determinada prtica

    depende muito dos objetivos pretendidos e do pblico alvo, Balbinotti, Balbinotti e

    Barbosa (2009, p. 234) destacam que: a literatura tem apresentado o termo

    motivao sob vrios formatos, dependendo da teoria que est por detrs da

    inteno de sua utilizao.

    Os mesmos afirmam que mesmo com uma vasta literatura a respeito do

    tema: poucos artigos ou escritos em geral so encontrados quando o objetivo

    discutir uma teoria motivacional aplicada a um grupo especifico de jovens.

    (BALBINOTTI; BALBINOTTI; BARBOSA, 2009, p. 233).

    Assim sendo, embasaremos o presente trabalho com teorias que acreditamos serem

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    complementares a prtica esportiva trabalhada no jud, mas no pretendemos

    desta forma esgotar o assunto das teorias motivacionais, que reconhecemos ser

    muito extenso e vasto.

    6.2.1 Teoria Motivacional da Autodeterminao

    De acordo com Deci e Ryan (2000)apudGuimares e Boruchovitch (2004)

    essa teoria foi elaborada com a inteno de entender os elementos da motivao

    extrnseca e intrnseca e os fatores relacionados sua promoo. Alm disso,

    segundo Balbinotti (2009), ela prope que a motivao do indivduo significa que sua

    disposio para fazer algo, sua curiosidade exploratria, sua vontade de executar eque o grau da intensidade motivacional ir variar de acordo com seu interesse pela

    atividade.

    Balbinotti (2009) e colaboradores expem uma das principais teorias

    motivacionais utilizadas na psicologia do esporte, como uma teoria relativamente

    recente e completa comparada as demais concepes tericas motivacionais, visto

    que analisa o conjunto de variveis internas e externas do individuo.

    [...] segundo a teoria da autodeterminao, a motivao no mais oresultado de uma nica caracterstica interna relacionada personalidadedo jovem, ou seja, uma varivel unidimensional, e sim uma interaodinmica de intensidade diversa e por vezes nula entre um e outro aspectode um conjunto de variveis internas e externas ao indivduo. (BALBINOTTI;BALBINOTTI; BARBOSA, 2009, p. 100).

    Para um melhor entendimento das relaes acerca da teoria da

    autodeterminao ela se subdivide em trs partes: motivao intrnseca, extrnseca

    e amotivao.Quando o sujeito resolve, por vontade prpria, ingressar em uma atividade

    na busca do prazer e satisfao na realizao, dizemos que este est

    intrinsecamente motivado. (Balbinotti e colaboradores 2009, apud Ryan; Deci

    2000b). No mbito do jud poderamos dizer que a motivao intrnseca pode se dar

    de diferentes formas, tanto na vontade do sujeito em treinar pelo prazer em praticar

    a atividade, aprender novas tcnicas tanto quanto na sensao positiva de obter

    vitrias e sucesso no que se props a realizar. O randori (combate) uma boa

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    prtica pedaggica do jud para despertar a motivao intrnseca, durante os

    treinamentos.

    [...] estar intrinsecamente motivado significa que o objetivo desejado ea sua satisfao tm origem no interior do prprio sujeito, isto , em suapersonalidade. Isso significa que o individuo capaz de satisfazer-se comsua prpria ao comportamental, conseguindo extrair dai todas assensaes prazerosas que essa dinmica interna proporciona.(BALBINOTTI; BALBINOTTI; BARBOSA, 2009, p.101).

    Quanto a motivao extrnseca o objeto desejado tem origem no exterior do

    sujeito, podendo ser principalmente influenciado de trs maneiras diferentes:

    regulao externa, interiorizada e identificada. Quando o indivduo busca a

    realizao da atividade visando premiaes, recompensas ou at mesmo por medo

    de sofrer represlias, chamamos esta categoria de regulao externa. A regulao

    interiorizada quando o indivduo realiza uma ao visando obedecer ou satisfazer

    as expectativas de outra pessoa, papel normalmente ocupado por pais,

    professores/treinadores, colegas, entre outros. Situao facilmente observvel em

    competies de jud onde o atleta se encontra no tatame, frente ao seu oponente, a

    merc de um resultado que pode agradar ou no aqueles que o acompanham. So

    aes desencadeadas por presses internas do sujeito. (BALBINOTTI,

    BALBINOTTI, BARBOSA 2009). Ao sujeito que reconhece a importncia de

    determinada tarefa e a executa mesmo sem muita vontade, mas por saber de seus

    benefcios d-se o nome de regulao identificada (BALBINOTTI, BALBINOTTI,

    BARBOSA 2009). Seria o exemplo de um atleta que realiza o treinamento de

    preparao fsica, mesmo no gostando, pois sabe que ir melhorar seu rendimento

    nas lutas durante uma competio de jud:

    [...] um individuo extrinsecamente motivado aquele que ingressa emuma atividade por expectativa de resultados favorveis ou por outrascontingncias no necessariamente inerentes a essa atividade. (RYAN;DECI, 2000b apud BALBINOTTI; et al., 2009, p.103).

    Em oposio das motivaes extrnseca e intrnseca, a amotivao entende-

    se como a falta de motivao para a realizao de alguma tarefa. Pode ser por falta

    de interesse, de aptido ou outras razes, o importante frisar que neste caso

    ocorre a ausncia de motivao. Esses comportamentos so desencadeados por

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    fatores externos que fogem do controle consciente do indivduo. (BARA FILHO;

    GARCIA, 2008).

    Amotivao um estado motivacional que pode ser encontrado emum individuo que no est suficientemente apto a identificar bons motivospara realizar uma determinada atividade, ou seja, no est disposto a agirnaquela direo, a realizar aquela ao. (BALBINOTTI; BARBOSA;JUCHEN, 2009).

    Este estado motivacional precisa ser muito bem entendido pelos

    professores, pois se acredita que seja um dos principais fatores que contribuem para

    o abandono dos aulas. Como afirma Pergher (2008) a falta de vontade para a

    realizao da atividade torna essa desorganizada, gerando sentimentos deinsegurana, frustrao, depresso e medo da ao. Penna (2009) afirma que os

    comportamentos amotivados, por no apresentarem razo para acontecerem, nem

    expectativa de conseguirem premiao ou melhora da situao ao longo do tempo

    so considerados menos auto-determinados e que para uma melhor participao e

    envolvimento dos mesmos seria oferecer-lhes algum tipo de motivao externa.

    6.2.2 Teoria Geral da Motivao Humana de Nuttin

    Na teoria de Joseph Nuttin, o indivduo somente se desenvolve devido s

    situaes que ele percebe no ambiente, e este ambiente foi criado a partir dos

    significados atribudos exclusivamente pelo indivduo. Ou seja, ambos s existem

    pela sua relao de um com o outro, em seu modelo ambiente e organismo se

    completam.Balbinotti C. e cols. (2009) citam Nuttin (1985) que define a motivao

    como: uma tendncia especfica em direo a uma determinada categoria de

    objetos, e sua intensidade est em funo da natureza do objeto e da relao deste

    com o sujeito (p.135).

    A interao entre indivduo e ambiente a base de todas as situaes vividas

    pelo indivduo, inclusive quando ele mesmo o objeto de ao . Essa interao

    dinmica, contnua e garantidora da existncia de ambos. Como explica Balbinotti e

    cols. (2009), Nuttin indica que o comportamento representa uma funo da relao

    entre o indivduo e o ambiente e origin-se do dinamismo de uma necessidade:

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    [...] a motivao representa a direo ativa do comportamento queaponta para certas categorias preferenciais de situaes ou objetos: oindividuo tem necessidade de objetos e de relaes especificas. Sendoassim, Nuttin (1980b) desenvolve o mtodo de induo motivacional, quepermiti distinguir as motivaes em funo de categorias de objetos e de

    relaes comportamentais com o ambiente. (NUTTIN, 1985 apudBALBINOTTI; BALBINOTTI; BARBOSA, 2009, p. 234-235).

    6.2.3Teoria da Signif icao Motivacional da Perspect iva Futura de Lens

    Nesta teoria Lens (1993) explica que o indivduo desenvolve sua motivao

    para a realizao da atividade em decorrncia de objetivos-alvo, que sero

    alcanados no futuro em decorrncia do que fizerem no presente, como treinar para

    se tornar um campeo. Esta percepo subjetiva do tempo cronolgico pode se darde trs formas diferentes: perspectiva futura curta, onde o indivduo anseia por

    objetivos-alvo que se realizem em um futuro prximo, buscam a satisfao imediata;

    a perspectiva futura longa, diferente da anterior, coloca os objetivos a serem

    alcanados em um futuro distante; e a perspectiva futura alongada ou distante, onde

    a motivao se encontra em um futuro muito distante, como um sonho a ser

    realizado, neste caso os indivduos permanecem mais tempo nas atividades que se

    propuseram a realizar pois sabem da importncia do processo para obteno dosseus objetivos. Balbinotti C. cita como exemplo o caso de jovens tenistas, onde a

    perseverana nos treinos e as aspiraes profissionais representam componentes

    importantes para o desenvolvimento do treino desses jovens.(BALBINOTTI; cols.,

    2009, p. 236). O mesmo se aplica a judocas, tanto os regulares quanto os

    deficientes visuais. Neste segundo caso, a busca pela profissionalizao no to

    grande, mas o reconhecimento de que o processo de treinamento fundamental na

    busca pela excelncia e superao permanece.

    6.2.4Teoria da Motivao e Representao de Si Mesmo de Ruel

    Ruel embasou-se na teoria da motivao de Nuttin e reunindo-a com teorias

    de auto-percepo formulou a sua prpria, onde o individuo atravs de sua relao

    com o ambiente transforma sua necessidade em um objetivo-alvo (algo a se

    alcanar). O grau de intensidade com que o individuo se lanar (ou no) em busca

    deste objetivo depender da sua percepo de capacidade de realizao da tarefa,

    ou seja, intimamente ligado a representao de si mesmo perante o desafio. Ruel

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    define que: a motivao esta em relao com as percepes afetivo-cognitivas que

    o individuo tem dele mesmo e de seu ambiente (RUEL, 1984, apud BALBINOTTI;

    col., p. 239).

    Relacionando a premissa desta teoria com o projeto de jud para deficientes

    visuais vale salientar que a questo da auto-estima e da confiana em si so fatores

    importantes quando trabalhando com o pblico e o esporte em questo, inclusive

    balbinotti referindo a Ruel defende que: As intervenes educativas e reeducativas

    devem ser efetuadas de forma a atingir as percepes do jovem, mais

    particularmente no que concerne ao auto conceito e a autoestima. (RUEL, 1984,

    apud BALBINOTTI; col., p. 239).

    6.3 PESQUISAS

    O uso de questionrios uma ferramenta segura e precisa na investigao

    das causas motivacionais. necessrio escolher o questionrio que melhor se

    adqe aos objetivos da pesquisa e ter ateno no controle das variveis. Na

    seqncia apresentaremos duas pesquisas que condizem com o objeto do nosso

    estudo:

    1) Suzanna Passinato D. Saito realizou uma pesquisa para encontrar os

    motivos que levam os portadores de deficincia visual a participarem de atividades

    desportivas adaptadas de alto nvel. Utilizando um questionrio motivacional

    (Participation Motivation Questionnarie por Gill et al., 1983) entrevistou 32 atletas, de

    ambos os sexos com algum grau de deficincia visual, que estivessem treinando no

    Instituto Benjamin Constant. Este questionrio avalia oito fatores da motivao paraa prtica desportiva: a) motivao para a realizao/status; b) orientao para a

    equipe; c) forma fsica; d) descarga de energias; e) outros; f) desenvolvimentos de

    capacidades; g) amizada/afiliao; e h) divertimento recreao.

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    Tabela 01- Distribuio da porcentagem de respostas obtidas pelos fatores

    considerados totalmente importantes

    Fonte: Retirada do artigo de Suzana Passinato D. Saito, 2007. p. 28.

    A pesquisa apontou como mais relevantes fatores para a busca da atividade

    desportiva deste pblico especfico: os fatores de orientao para equipe, a busca

    de uma boa forma fsica, estar com os amigos e a realizao pessoal. J os motivosconsiderados menos importantes foram aquisio de status e descarga de energia.

    2) Valmir Jos Camargo dos Passos realizou uma pesquisa semelhante a

    anterior, com objetivo de identificar os fatores motivacionais dos atletas com

    deficincia visuais para a prtica do atletismo de alto-rendimento. Ao entrevistar

    atletas em uma competio aplicou um questionrio referente aos fatores

    motivacionais, sobre o porque da prtica do esporte de alto-rendimento. Para a

    coleta de dados foram utilizados como instrumentos o Inventrio da motivao feito

    por Gill, adaptado por (Scalon, 1998).

    tem n Descrio % das

    respostas

    1 Melhorar as habilidades 72

    2 Encontrar os amigos 56

    3 Gosto de vencer 63

    6 Manter o corpo em forma 69

    8 Gosto do trabalho de equipe 69

    11 Gosto de fazer novos amigos 56

    12 Gosto de fazer alguma que seja boa 56

    14 Gosto da recompensa que o esporte d 56

    15 Gosto de fazer exerccio fsico 50

    16 Gosto de ter alguma coisa para fazer 56

    17 Gosto de ao 53

    18 Gosto do esprito de equipe 69

    20 Gosto de competir 59

    22 Gosto de fazer parte de uma equipe 59

    23 Eu quero melhorar minhas habilidades 94

    24 Quero manter minha sade 75

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    Tabela 02 - Escores mdios por questo - Ranking

    Ranking Questo Mdia

    1o Q18. Gosto de estar alegre, me divertir 3,85 Mais importante

    2o Q4. Gosto de ficar em forma, ser forte e sadio 3,77

    3o Q1. Gosto de melhorar minhas habilidades 3,77

    4o Q13. Gosto de esporte individual 3,69

    5o Q19. Gosto de receber medalhas e trofus 3,62

    6o Q14. Gosto de competir para vencer 3,58

    7o Q2. Gosto de estar com meus amigos. 3,54

    8o Q9. Gosto de fazer exerccios 3,54

    9o Q10. Gosto de ter algo para fazer 3,54

    10o Q11. Gosto de ao, aventura e desafios 3,54

    11o Q8. Gosto de fazer coisas nas quais sou bom 3,46

    12o Q16. Gosto de pertencer a uma equipe 3,46

    13o Q3. Gosto de viajar 3,23

    14o Q6. Gosto de encontrar novos amigos 3,08

    15o Q7. Gosto de reconhecimento de parentes e amigos 3,08

    16o

    Q5. Gosto de receber elogios 3,0017o Q12. Gosto de esporte de equipe 3,00

    18o Q17. Gosto de me sentir importante e famoso 2,77

    19o Q15. Gosto s de participar (a vitria no interessa) 2,31 Menos importante

    Fonte: retirado da monografia de Valmir Jos Camargo dos Passos, 2005. pg 74,75.

    Observando a tabela nmero 02, verifica-se que o fator motivador mais

    importante para os entrevistados, foi gostar de estar alegre, se diverti com isso

    buscando o lazer e o prazer na realizao da prtica do atletismo. E o menos citado

    foi referente ao social, seriam aqueles indivduos que responderam gostar s de

    participar, sem interesse na vitria.

    3) Afim de investigar os fatores que dificultam a adeso dos portadores de

    necessidades especiais na regio do Vale do Ao aos projetos de atividades fsicas

    adaptadas, aplicou-se um questionrio sistematizado PNE`s. O grupo pesquisado

    era composto por 27 deficientes visuais e 22 deficientes motores de variadas faixas

    etrias.

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    A pesquisa apontou que os maiores empecilhos tanto para os deficientes

    visuais quanto para os deficientes motores foram os fatores extrnsecos como: falta

    de transporte e recursos financeiros, poucas oportunidades para a prticas

    esportivas adaptadas bem como o desconhecimento dessas prticas ou locais

    especializados (MOREIRA; RABELO; DE PAULA; COTTA, 2007).

    6.4 ABANDONO

    A questo do abandono/desistncia do projeto e dos treinos de jud, por

    parte dos alunos, um ponto crucial e relevante deste trabalho, uma vez que se

    percebe no Projeto de Jud para Deficientes Visuais e em outros projetos destinados este pblico um grande nmero de desistncias e uma alta rotatividade dos

    participantes.

    [...] considera-se importante conhecer os principais motivos departicipao, para que se possa estruturar as atividades de acordo com osgostos e as expectativas dos participantes envolvidos, de modo a maximizara performance, melhorar a persistncia e evitar as situaes de abandono[...] (SAITO, 2007, p. 25).

    Os benefcios fsicos, psicolgicos e sociais decorrentes da prtica de

    atividades esportivas, mas especificamente do jud, so reconhecidos tanto pela

    comunidade cientfica quanto pela populao em geral (VIRGILIO 1994). Esses

    benefcios se comprovam, inclusive entre a comunidade deficiente visual, em estudo

    feito pelo Instituto