Hugo Milhanas Machado, Onde fingimos dormir como digital

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ONDE FINGIMOS DORMIR COMO NOS CAMPISMOS HUGO MILHANAS MACHADO

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Hugo Milhanas Machado, Onde fingimos dormir como nos campismos, Enfermaria 6, Lisboa, 2014

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ONDE FINGIMOS DORMIRCOMO NOS CAMPISMOS

HUGO MILHANAS MACHADO

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ONDE FINGIMOS DORMIR COMO NOS CAMPISMOS

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Hugo Milhanas Machado

ONDE FINGIMOS DORMIR COMO NOS CAMPISMOS

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Onde fingimos dormir como nos campismosHugo Milhanas Machado

Capa e apontamentos gráficos:João Alves Ferreira

© Hugo Milhanas Machado

ISBN: 978-989-691-313-7Depósito Legal: 382967/14

novembro de 2014

Enfermaria 6

Fyodor BooksAvenida Óscar Monteiro Torres, n° 13B,

Campo Pequeno, 1000 Lisboa

[email protected]

www.enfermaria6.com

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Índice

PassagemO mexerFolga

Uso nas figurasUma bruta pulsaçãoMarítimosNo escondido A forma da bocaO encostoO BenficaSacudir, sacudirMuitos a falarFibra do anjoDuraçãoFigmenta vera Tão chãoMadeirasO pianoUma estrela igualUm fazer bocaLugares os friosFoi tudo isto aqui CastelosEstacasResistênciaUma bola que dê para doisRegressosOutra pedra parecida

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Estrelas partidasInstalação da figura12 de MarçoMas em bomUm som parecidoMovimentoFala radicalRoupas berasDistribuição da corMarginalia em CamõesAgarrar giganteUma ponte na praiaReconhecimento Uma americana lavada no mar

Monte juntoO dançar do dançarA pedra da dunaBoca de noiteRibatejoMonte juntoMetade da turmaO meter da luz

Como nos campismosPoema dizA zona que dóiConvergências A terra do meu regressoFazer o achamentoOnde fingimos dormir como nos

campismos

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61626364656667

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Estou no topo dum cedro e vem aí um pintassilgo partir-me os olhos.

Nuno Bragança

Generation sex is me, and you, and me

Neil Hannon – The Divine Comedy

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Passagem

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Sacudir é sacudir lavandoó tempo as tuas pirâmidesrecosto do braço e madeira da castanhafofa boina está molhadano apoio da cadeira

Ó tempo as tuas pirâmidesfalou assim quando eu lembrochego à voz dificultovou agarrando e enfimtenho essas impressõesque vai começar a escrever

E tu sabes tu encontrasaguça e é vermelho de lugaruma barulha comoção que ver de lado é chefee acontece em muita coisaquando começamos a trabalhar

Depois things as they are continuavascomo escondendo barco de bocaare changed upon the blue guitarfaz Wallace Stevens no teu somfaz esse som meloso da gente naqueles bocados ficar

O mexer

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O tempo as tuas pirâmidesenche longe como vela latinaengraçamos espessa a companhiae isto tem forçamas vai reparar mais tardee é o balanço o vibrar da corda a iniciativa no prazer é o nariz

Artifício o efeito da buchanós calando à refeiçãoque o sossego é inteligentepensamos nósque desenvolvemos noutros anos e insistimos

Que repete a camisolada República da Irlandatroncos grossos na chuvaum jogo que foi num dia e fina a movimentaçãolateral o rosto que aparece branquinhas rodelas do marengrossa jovem para falar no planalto sucumbir de discursos

Mas quem era quem ficava?agora vem batendo com forçaum jogo de paus e mais gangaso sabor marinho dos pausquando fica a falar comigoe teu rosto é mais pedra clarabalanço nos números

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O divertimento um dia tivemos e que agora dá para cantar

A família contadae noite em que já não chove

Dizia tem forçaque temos a letra parecida

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Folga

Ruça a roupa e o pulo não cresce mas não parece depois baixarse uma mão suspende o movimentotraça linho cómodo o recorte

Ela apanha do lado regenerae quando senta quer aliviarela pára porque já está torta bola retoma numa estrela igual

Risco esse risco e faço branco num lugar do rolo e mais branco porque o descanso é o aquecefala e só fala decide e sacode

E branco longe uma estrela iguallá no recosto chegado do calore o braço visualiza em acontecimentoo talento do pulo maluca

Dentro duramos mais folgadose mantemos até certa comodidade quando apouca a conversa distraímos a ocorrência feita dicção é selvagem e

Aquela rua lá na rua da guitarra faz aragem de quando passamosna maneira um dia de passarmos pisar é pisar não se vai por fora

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Pois o mexer tem essa categoria é de saltar o rijo bom nas pernas falamos e tudo com muita forçadeve ser do mexer e vai parecer

Uma terra lembrada de nós mas se alguém afinal avançao entusiasmo é conservador parecemos muita gente a falar

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Uso nas figuras

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Uma bruta pulsação

Preservar no tempo que mantém este tosco despertar do jeitopôr em pé e abrir os caminhosaventura contenção bombear

Bombear como arte de joelhossanha tão bruta e primavera que eu indo já contente arraso e tenho lavado todo o rio

Um pé outro pé mais ume estamos a largar da cançãolevantando nos instrumentos como garotos de voo arrancados

E sincronizados tão devagarinho que tem uma pulsação catedral que nos vai dentro e engraçae é só o nosso coração

Olha o tempo que abrevia neste tosco acender do gestoo instante campeão a roupa lassa mas estarmos reparados e a jogo

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Marítimos

Mas quando engraço na robustezdaquele pisar é assim reverbera palhaça que nenhuma música fala como isto nem eu quero que ela converse comigo

A maré redonda de paredõesa pedra pintada nessas pedras é ver passado o irromper eufóricode uma vibração território

Maré redonda nos paredões fogo colado que vai baixinho torneia pelos excessos e gozo a macia forma de nossas inclinações

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No escondido

Quando ninguém dormeou fingimos as bolachas na boca faço a luz a desenvolver na pelee trabalha mesmo na pele

A canção tudo juntoum arrepiar danado engelhafaz fresco na gente supões tuo dia leva a começar e bera

É bom o pão frescoum papo-seco aberto e a gente aqui vendo sem esquinas

Hoje dava para ter ido e já longe ver depois variadoespalhando eu por triunfoas manteigas

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A forma da boca

Eis que comoção atravessabarca de papel tão caladaa coroa mais lisa do diamas também atravessa aqui

Eu tolero que me encantes a vidatoada menor a da parte do livrodo alto magro de um carvalho vou cantar logo para mim

Amiga que alumbras esforçadafazes as vezes do sol pedes uma frase uma amplificação o branco a baba nos estranhos ter em casa as coisas das férias o gasoso de caminhadas

E justamente aqui no confuso estrutura balão e madeiraatiça menino o doer em parte da bocaprovidente e berrante a dançaesta perfeita comoção encostada

Quando vento sul fumo de fábrica somos nós na mesma maneira

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O encosto

Sobramos uns dos outrose curtidos nos ímpetos nos recessos e chegando forçamos as inclusões

Coisas que fiquem lemes e aproveitem movimentodedos podem tocarem quase nada

Mas a técnica melhorae sei acumular a maneira do gosto que tinhas feito na bocaparecia até o mar ao fundo destas casas

Mas corpo afinal é o mesmoe recordo doutro poemaem que noutro poema eu tentava navios de barro à hora do jantar

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O Benfica

À palma a luz intensae abeirou hoje cedo um anjo muito marcado nas asas e em tomlongo muito baixo e chão

Varre tudo ele varre tudoquando canta e canta pode ser isto o recobro do braçotolerável enfim a chatice

E é tal a imagem do arvorante a de trazer do estádiovirando contente a semana em diferente a entristecida voltagem

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Sacudir, sacudir

A locomoção estira até quetoco espaço o chãoe retorce tipo lata quando todos queremos brilhar

Uma frase que ajude a situar jantarmos calados mais logomas não explica nadaamanhã voltamos mais rápidos

São pedras é terra é ourovou em frente na maravilha e ao lado da tua sacudo o trabalho

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Muitos a falar

Querer-te no peitouma constelação de barcose resolver depressa isto falar limpo como o brilho

Torna porém a imagemo corpo rodando lento no soco luminoso de praiaeste bração nos lumes

Rasgo valente mas extenuadotu vens correndo e escreviadeste lado a areia é muita molhando num toque d’osso

Dás numa luz de corpo resoluta e audaz que às vezes lembrao encorpar abater de megafones marados

Cumprimento os amigosgosto deles e antipatizo colaboro e revolvo dentro nas bizarrices

Amanhar depressa isto falar tiro limpo como brilho

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Fibra do anjo

Disse assimseria bom cantar juntosair do luto

Aterrar na emoção estaque faz tanta companhiae amansa a dor de pernas gostar tanto do corpo de quem é

Eu gramava assim a canção enviesada possivelmente o retrato só figuras de um ponto a este do mar

Rebentando vai temporada um cheiro que faça famíliae no alto envio do entusiasmotudo cale a mel

Cantarmos nas fibras e usar isso e continuar e usar isso no peso da fibrao corpo frouxo e continuar

Jeito fero asa duraresponder na habilidadeda duração

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Duração

Acontecedeixo de ver-te mexo-me um pouco

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Figmenta vera

Pesada e falando a cheia estrelaarrefece na manhã mas fica dá tacto melhor ao dia

E é muito lentamente o levantardo corpo ainda iluminadopode parecer um peixe pode parecer a figura do mais forte

Andar todos os dias a começarpara um lado qualquer não tem onde habitara estrela não tem ocupação

São coisas que não existem mas são bons atalhos dão tom enxertos na felicidade morangos com açúcar

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Tão chão

Passa sombra em nossos espaçostornar de noite muitas noites um cão que perto ladravae tu comias os teus rissóis

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Madeiras

Encosta noite e fria neste atrasoao deitar que se calhar não dorme que de novo o tempo amolece e eu só quis uma virtude de madeira

O resto da bolacha é de dois e dá nas arestas todas parece borracha a rua percebe da janela faz chicote eu preparo isto para dois

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O piano

É a refeição que baixae uma particular ternurao manso de prados touro belo à altura do peito

Se chega a festa é apresentação e levanta pianinho um assobiaresmagado na lembrançade lancharmos juntos no chão

A conversa é toda connosco e eu aqui passar de dedos voltada e vestidapara o futuro

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Uma estrela igual

O amor tenta deitado no marmanhã curta em ombro despidoo ombro tenta deitado do mar

Mas um afoitar que é só nossoe talhado o mundo por trás ninguém vai da nossa maneira

Corpo rochoso e repostomuito lembra tom baço de manhã secarotundo capaz que é de ficar

Mas quando faz longee tu e eu dobramos no perfume fica longe e restaurante

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Um fazer boca

Faz boca onde todas as coisase se estamos a viver a crescersolto grande na água um casarão que a conquista está no parecer

Traço o mar aí dos toposdeclinando e raso ou mais largoe dele te desço no peito e falar um exagero agitado a sul

Era a forma o subir alegre na rochasaltar mas dividir o mar desaparecer de forma que ninguém vê e o corpo cifrado numa finalidade

É poente o meu reino de coisas o mar separado o mar junto por um momento a pedrae a nossa cabeça lá no meio

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Lugares os frios

Uma palmada na água entrar a noite que já bate noutramas se calhar mais longe daquia gente não quer dormir

É como ir à varandadaqui ao mar é só mar voltar dentro e calibrar a navegaçãonum postal colado na parede

Afinal há baquesque são tão bonitose quentes nas respostasaos desejos mais discretos

A casa vai ficando maior e mais até que ali não entrenote a fadiga um astro burile e vá embora

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Foi tudo isto aqui

Quando em dias de sola noite desça e desmanche sombras e nos meta em dicções desajustadas é porque já não estamos a começar

A gente só desculpa tarde e quando escuto começode ver primeiro eu puxo as tuas formas

Recordo que levastetrês vasos e três plantaspequeninas mas de alturas diferentes

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Castelos

Um anel no dedo ouà tarde a luz da serrano fundo eu apenas seiqual destas mãos é a tua

Tenho a cabeça partidae a claridade prorrogada num espelho a ocidentee está deitando de lado

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Estacas

A palavra assim longee tapado muito miúdo o poemaé tão pouca coisa e favorece inclina à mão que te sondava

Reparo que não estás cánão bate o teu peso mais o meuestá claro que esta rua ainda podeou já só pode contar algumas histórias

Digo palavras que lembro daqui sobe dois sóis mas tinhas outra vozreparo que não estás cá eu não estou não bate o teu peso mais o meu

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Resistência

A minha resistênciaé uma vela do teu barco a imagem dos meus dedosmetidos com os teus

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Uma bola que dê para dois

Faz uma música de carnes e cromose hoje então parece de sempreé como se a música na paciência e agora a chuva outrora a chuva

Isto já deu para juntar terras mas não acompanho fico nos cães a ladrarparecem mesmo cães a ladrare depois aquilo acaba

Nalgum dia até se diztantas vezes esta músicatantas vezes assim o chãoé tudo bolas virando

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Regressos

Eu não queria assimo descanso e tocafaz esta sobra tanto tempotão pouco sobre nósquando éramos nós

Um dia mergulhei e lá dentro era parada opassar de teus braçosnaquele envio chatode borboleta

Faço coisas depressaa gente que aqui podiacaber há cheiro doce naroupa ainda é teu

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Outra pedra parecida

Podia ficar mas já vai rasando e arrefece bronze o mecanismo a carne sossega e tocamosavançamos nessa noite de confiançaonde respiramos melhor

Nenhuma voz se parte a falarmexes o meu café mas é pouco

Olha bem o tempo como é estupenda esta corum dia tudo isto será chão e aqui os nossos lugaresque ao chegar diremoseu vim contigo desfazer espaços

Sabe bem a voz estragada e poder prometerquando estamos capazes de prometer

Vamos vendo dos caminhos o passo é lento aguentapode até ser esta a época

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Estrelas partidas

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Instalação da figura

Hoje havia um mar diferenteimaginava gangas e caracolasas conchas e os aparelhos das músicas

Habitava assim a companhiamas batia num mar diferentee tu trabalhavas entre fogos presos

Depois repomos trajectosforçamos a pressa ao jantarmesa levantada e sandália correr à noite e fazer escondidosse nos cruzamos espessos em nevoeiros de agosto que depois vão levantar

Mas então lembro istoeram umas seis palmeirase não eram dali e mesmo os textosfixando e familiarizando as palmeiras os textos não duram tanto e escangalhadas as frasesquando a terra dá um som parecidosobram já instaladas as palmeirase outras coisas maiores

Deve ser assim a evidência tão alta e arranjada em laços de estrelase ver-te dali a passar acada vez que sacodes os braços

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12 de março

Tinha descido a avenidaamigos da escola os amigos todostrês ou quatro menos coisaslevantadas à pressa nos cartazes

Ter tanta cara guardadanão é novo nem foi aqui mas bate um pouco dentro e então acho que é novo

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Mas em bom

Abreviava os objectos da temporadacheiros e posturas conformestangível o mundo em canelas elásticos tínhamos uns pés do formidável

Uma guitarra tocada numa estradaa geração embandeirada em tons cósmicos as mentiras o gato do meu amigo Albano

Dobrava e ficava sempreque não se detenha nuncao mecanismo

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Um som parecido

As coisas estão arrumadaseu vejo televisão limpo janelas e fotografiasa tua voz que passa nos dedos finosque parte de mim é esta

A terra só pode estear assimquando se nos faz pelee habitamos longeno coração de pequeninos países

Passear os cães suster caminhosa terra que dá um som parecidosentar e ver à volta com gostopor aqui nunca pisamos

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Movimento

O areal numa praia quatro linhas de passos areia mexida areia malucaquatro linhas de passos

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Fala radical

Vai dizer tem o ar montado em definir por dentro

As artes à mãoa mão puxa e arrasta o ombro é que ainda fala o que falava e também vibra

Queremos adivinhar na sobraconfirmar ter entendido o efeito levar a boca para casa

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Roupas beras

A distribuição instala a maneira e não lembra nem significapede um muro grande de vidro frouxo como em qualquer parte da língua

Não se vai passar da segurança a luz passa dentrochegar assim é o meu rigor marcar a bola que não dê para dois

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A magia vai à frentee tão transpiradas as costasque pareceu a robustezde um amigo encavalitado

Merda para o sossego à mesamuitos quartos em casater onde ir e preparadosmuitos mapas em casa

Então ficamos em casaa mochila feita e ajudandolá fora falam alto nalgumas flores

Distribuição da cor

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Morangos à tarde frescos escolho burros bonitos o sol grandão em cabelo tu vais ver eu transformo

Eu transformo o sítio dequando te deitas na relvae a poesia nos poemasé um crescimento a banhos

O sol oportunidade no mar é tão quente e apertado quando te deitas na relva

Contra o livrolateral a inteligênciaa parte de fora

Marginalia em Camões

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Eu conto as mãos depois as minhas tenho a coragem e só bate certo

Agarrar gigante

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Uma ponte na praia

Joelho de pedra de duna açúcar de bola transpiração entradas eufóricas as cartas como balizas grandes na praia

As melhores blusas e as maneirasde entoar músicas antigasoutros verões outras areiasmontagens no sacrifício

Entoar quando pedimos nomes de constelaçõesbocados de terra favorávelpoderemos ali sentar?

Se fosse assim tinha um sentidoe esbatia o vivo disto o macio só fica como uma folha no abordar do joelho mais ligeiro

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Reconhecimento

Pássaros as folas carvoeiros e sombreados na roupapássaros cruzando paisagenslavam sítios que vemos de novo

Comentamos os morenos e no meu braço também um cozinheiro português que dizia é bom vocês aquiquando o boneco vai acabar

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Uma americana lavada no mar

Levo redondas e maciças estas imagensareias em ténis e pratas deitadasfalo de traços de quem vê de ladoum sol de cada vez mas só um

Sigo distâncias que se estiravam à frentevoltas e regressos por caminhosà mão que estavam alie que já não estão

Só na vontade da gente mas é assim

E depois são repentes estas figurações fios de massa no prato eeis caminhos que se desfazemvendo nós a passagem tão de cimaa superfície despida e francadespovoada e à mostra um bater extravagante

Por vezes junto bocadinhos de bolacha no pratomas não é a mesma coisa

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Monte junto

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O dançar do dançar

Vou atrás de um mestrebranco e plástico barcoe a tua janela faz aquinum sapato chato de carinho

O que é teu e dá a sedenum brinquedo achado na praiae a praia encurta naquele favoritode regressos da malta

Às seis e meia eu também seise chego a tempo do jantarpenso na cor penso num carroquando sou eu a escrever

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A pedra da duna

Bateu de torso aquele ventono regresso salgadão de uns amigosque barcos novos barcos comidosnos faz imitar mais formas

Havia aqui cimento dissestea tinta lascada de outros anoso faz palavras que não queremos decorarcimento e que o nome tem cheiros

Depois meteu-se o sono e o ventodava mais do mar e mais da terrao que o poema algum dia vai fazeré chegar o aspecto da gente por aí

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Boca de noite

O cão sossega dá alto um passarque mais imagens e mais vozes ou partes ficando na sua maneira de ficarnos faz parecer os marinheiros

Este ano eu não voulanço fogo com gente também já longe e pequena nesses tão pouco nossos

E definitivos outros sítioslá chegarmos com planosaltas moedas à boca da noitee os braços

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Ribatejo

Todo este pasto no meu pedal e brilhantesos teus sapatinhos

Uma linha durafato de água nos olhose nós que não percebemosmas só vale assim

Terra pequena terra roxaos sons quando logramosdistraídos enganar a gaja confiar um pouco

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Monte junto

Eu devia ter feito naquiloe logo depois no seco um poemamas não foi eu estava à espera etoca espesso o fazer das águas

O meu nome foi bom à chuvae a cidade recolhia para nos vernão foi assim que aqueles lugaresficavam mais lugares mais cheios?

É tão chato não saber quem ébater nessa escada de um fogo olímpico sem que pareça mais uma e só aquelamaneira junta de entrar nas casas

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Metade da turma

Quando as imagens dos cavalos e tão pequeno aquele corposó triunfos e o cheiro tambémo cheiro ajuda a estruturar

O que mobiliza é o pãovamos todos juntos do sacomas o caminho é tão partidopor onde pisar nesta longa avenida

Hoje comemos todos do sacotu tens um número mas eu já nãoa batata dá o arroz é bastante e porque não vinhas?

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O meter da luz

Será este o verão mais rotovejo casas no meio e fechadasvejo até que não vou voltarsó força dias curtos e azuis

O céu inclinado do verum pano o céu em linhas brancase postas em cima as coisasque eu às vezes gosto de ter

Bem repete no corpo aterra noutros anos pisadao balanço lento de um touroe sol na encosta lá longe

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Como nos campismos

¿Quién nos dirá de quién, en esta casa,Sin saberlo, nos hemos despedido?

Jorge Luis Borges

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Poema diz

A duração ruma o lugar do meioe funciona no fazer vontade de chegarmos aqui

Distrai fracassa pode até magoarmas repara o resto é como na ginástica

O poema dizfecharam janelas em quartose fomos nós

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A zona que dói

Mas importante e sem estar à espera uma música tão boa madeira inchada e balãoum prestígio de tamanho aquela força dos pulos que ainda aqui vem demorar

Que faça zona se resolva a acabar vá esticando em buraco e já nas lonas nos diga nos tense a explicação ela resolva a coisa que pareçamos muitos a falar

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Convergências

Se quando o oceano aqui chegafaz contigo riscos novos nas pedrase torta uma linha de salque corrige de longe a vista

Faz do lugar um lugar lavado que nem no ano seguinte já dura

E à tarde o sol a forma do pé os cabelostanta coisa doutro tempo aí de repentea tristeza vai próxima e separa na cor de pavilhões

Passa a tua mão abrigada falo de cheiros luzes espalhadasdigo que arranjas com ferros o mar

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A terra do meu regresso

A terra do meu regressofibra fundo esta espécie de retrato calando rijo na claridade mas só te vejo quando vou lá ver Na terra do meu regressoé aqui quando cá estavas e as pedras mornas essa forma da estrela mortamenos terra chegando

Pergunto se era alimerecer a entrega à volta do usoe terra mais cheia

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Uma forma essa formada gente a continuar trabalho na localização

Fazer o achamento

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No fim se posso eu digotornando partes em casasonde fingimos dormir como nos campismos

Como te mexes se não me mexes?é assim que faço para descansare só assim posso depois descansar

Considero outras noites outras fériasjunta-se tudo numa melodia e então pensoonde te mexes?

Eu querer só quero uma beca do teu coraçãoa mais composta

Onde fingimos dormir como nos campismos

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O Autor

Hugo Milhanas Machado (Lisboa, 1984). Formado pela Facul-dade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa é, desde 2006, professor do Camões – Instituto da Co- operação e da Língua na Cátedra de Estudos Portugueses da Universidad de Salamanca. Mantém o programa semanal «His-tórias da Música Portuguesa» na Radio Universidad de Salaman-ca e a coluna «Perder canciones» na Síneris - Revista de Musicolo-gia (Madrid). Ciclista amateur La Biciteca / Bicio Racing Team.

Publicações

Poema em forma de nuvem (prefácio de Elisabete Marques) – Gama, Torres Novas, 2005

masquerade – Sombra do Amor, Lisboa, 2006Clave do mundo – Sombra do Amor, Lisboa, 2007entre o malandro e o trágiCo – Sombra do Amor, Lisboa, 2009as junções – Ed. Artefacto, Lisboa, 2010BuChas – Plaquette, ed. autor, Lisboa, 2010 folas – Plaquette, ed. autor, Salamanca, 2011 Plato ChiCo (tradução de Rebeca Hernández) – Plaquette, ed.

autor, Valencia, 2012 Parrillada – Plaquette, ed. autor, Morille – Salamanca, 2012 orla – Plaquette, ed. autor, Salamanca, 2012 PanCartas – Edição digital, Salamanca, 2012 uma Pedra PareCida (prefácio de Manuel Margarido) – Do

Lado Esquerdo, Coimbra, 2013onde fingimos dormir Como nos CamPismos – Enfermaria 6,

Lisboa, 2014

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Onde fingimos dormir como nos campismos de Hugo Milhanas Machado, publicado

pela Enfermaria 6, foi composto em caracteres Adobe Caslon Pro e impresso

na Várzea da Rainha Impressores em papel Coral Book Creme 80g, durante o

mês de novembro de 2014.

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ONDE FINGIMOS DORMIRCOMO NOS CAMPISMOS

HUGO MILHANAS MACHADO