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Graciliano Ramos 1892-1953

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Graciliano Ramos

1892-1953

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Vida

• 1892/AL – 1953/RJ• romancista, cronista, contista, jornalista,

tradutor• Militante comunista: foi preso após a Intentona

Comunista de 1935• Família de classe média tradicional: constantes

mudanças de cidades• Foi eleito prefeito de Palmeira dos Índios/AL, em

1927• Soltava os presos para construírem estradas• Em 1945 ingressou no antigo Partido Comunista

do Brasil – PCB, liderado por Luís Carlos Prestes• Faleceu em 20 de março de 1953, aos 60 anos,

vítima de câncer do pulmão

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• Caetés - romance - Editora Schmidt, 1933;• São Bernardo - romance - Editora Arial, 1934;• Angústia - romance - Editora José Olympio, 1936;• Vidas Secas - romance, - Editora José Olympio, 1938;• A Terra dos Meninos Pelados - contos infanto-juvenis - Editora Globo,

1939;• Infância - memórias - Editora José Olympio, 1945;• Histórias Incompletas - coletânea de contos - Editora Globo, 1946;• Insônia - contos - Editora José Olympio, 1947;• Memórias do Cárcere - memórias - Editora José Olympio, 1953; (obra

póstuma)• Cartas - correspondência - Editora Record, 1980; (obra póstuma)• O Estribo de Prata - literatura infantil - Editora Record, 1984; (obra

póstuma)• Cartas de amor à Heloísa - correspondência - Editora Record, 1992; (obra

póstuma)• Garranchos - textos inéditos - Editora Record, 2012. (obra póstuma)

Obras principais

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Romance de 19302º Geração Modernista

• Neorrealismo: crítica dos elementos culturais, sociais ehistóricos

• Período político: da República Velha ao Estado Novo de GetúlioVargas

• Crítica política: oligarquias, coronelismo, positivismo, fascismo• Personificação das classes sociais• Retrato da realidade: denúncia – verossimilhança• Industrialização de zonas rurais: desenvolvimento• REGIONALISMO: foi o grande foco – a humanização de tipos do

campo e a denúncia da violência dos coronéis• Romance urbano: industrial; isolamento, depressão, sujeito

fragmentado• Romance histórico: formação das sociedades, ascenção-

declínio• Obra que inaugura: Casa-grande e senzala (1933), de Gilberto

Freyre• Aspirações socialistas-comunistas: autores engajados,

proletariado e classes oprimidasA ficção serve de denúncia das injustiças e desigualdades,

substituindo as armasCândido Portinari, Os Retirantes, 1944,

MASP, São Paulo.

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DI CAVALCANTI. Desenho do álbum A Realidade Brasileira, n°7. Entre 1930 e 1933.

Ordem social e política era caso de polícia:Tenentismo (1922) e Coluna Prestes (1924-1928)

LANGE, Dorothea. Foto da Grande Depressão dos anos 1930.

Nos anos 1930, a América viveu um grande colapso econômico euma miséria social inimagináveis. Este contexto de vulnerabilidade ede desespero sociais fomentou e empoderou ideologias políticasque defendiam um Estado forte, totalitário e autoritário,democrático ou não.

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As grandes interpretações do

Brasil

PRADO, Caio. Evolução Política do Brasil. 1933

HOLANDA, Sérgio. Raízes do Brasil. 1936.

FREYRE, Gilberto. Casa-grande & Senzala. 1933

A década de 1930 foi marcadatambém por um impressionanteflorescimento de estudos sobre asociedade brasileira. [...]

Destaque em especial para Casa-grande & Senzala. Esse ensaio porseu estilo literário, pelaimpressionante quantidade deinformações sobre a vida colonialnordestina [...] tornou-se um clássicodo pensamento brasileiro e umareferência obrigatória para todos osescritores da época.

GONZAGA, Sergius. Curso de Literatura Brasileira. PoA: LEITURA XXI, 2004.

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A Geração de 1930

José Américo deAlmeida (1887-1980)

A bagaceira, 1928

José Lins do Rêgo (1901-1957)

Menino do Engenho, 1932Doidinho, 1933Banguê, 1943Fogo Morto, 1943

Rachel de Queiroz (1910-2003)

O Quinze, 1930

Graciliano Ramos (1892-1953)

Caetés, 1933São Bernardo, 1934Angústia, 1936Vidas Secas, 1938Memórias de um cárcere, 1953

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Érico Verissimo, 1905-1975

RomancesClarissa – 1933Caminhos cruzados – 1935Olhai os lírios do campo – 1938O resto é silêncio – 1943O tempo e o vento (1ª parte) :O continente – 1949O tempo e o vento (2ª parte) : O retrato – 1951O tempo e o vento (3ª parte) : O arquipélago – 1962O senhor embaixador – 1965O prisioneiro – 1967Incidente em Antares – 1971

Novela urbanaNoite – 1954

• Ainda escreveu Contos, Narrativas de Viagens, LiteraturaInfanto-juvenil; foi tradutor, ensaísta;

• Muitas de suas obras foram adaptadas para o cinema e/outelevisão

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RAMOS, Graciliano. São Bernardo. RJ: RECORD, 2001.

• Obra publicada em 1934• Narrado em 1ª pessoa: narrador-autor, escritor fictício,

personagem – em torno de 50 anos de idade• Divisão em capítulos• Linguagem: formal e informal – tentativa de garantir o

realismo

ORDEM TEMÁTICA

• Transformação econômica das cidades às voltas dos centrosurbanos

• Rev. Industrial e capitalismo: sistema bancário e a crise rural- desigualdade

• Mão-de-obra e exploração do trabalho• Coronelismo: a violência e poder – opressão e injustiça• Oligarquia: controle político, econômico, cultural e midiático• Imprensa e o jogo de interesses: política conservadora e

poder da informação

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• Metaromance: o narrador explica a estrutura do livro, a divisão do trabalho• Romance é um exercício individual, não coletivo: lógica burguesa• O problema da linguagem: desejo de informalidade• Conceito de Literatura: de um jornalista

Antes de iniciar este livro, imaginei construí-lo pela divisão do trabalho.Dirigi-me a alguns amigos, e quase todos consentiram de boa vontade em contribuir para o desenvolvimento dasletras nacionais.O resultado foi um desastre. Quinze dias depois do nosso primeiro encontro, o redator do Cruzeiro apresentou-me dois capítulos datilografados, tão cheios de besteiras que me zanguei:- Vá para o inferno, Gondim. Você acanalhou o troço. Está pernóstico, está safado, está idiota. Há lá ninguém quefale dessa forma!Azevedo Gondim apagou o sorriso, engoliu em seco, apanhou os cacos da sua pequenina vaidade e replicouamuado que um artista não pode escrever como fala.- Não pode? perguntei com assombro. E por quê?Azevedo Gondim respondeu que não pode porque não pode.- Foi assim que sempre se fez. A literatura é a literatura, Seu Paulo. A gente discute, briga, trata de negóciosnaturalmente, mas arranjar palavras com tinta é outra coisa. Se eu fosse escrever como falo,ninguém me lia.Abandonei a empresa, mas um dia destes ouvi novo pio de coruja e iniciei a composição de repente, valendo-medos meus próprios recursos e sem indagar se isto me traz qualquer vantagem, direta ou indireta. (p. 5-7)

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• Paulo Honório: o propósito de sua vida eraconquistar as terras de São Bernardo – fazenda

• Contará a sua história: sem pai nem mãe, nemsabe ao certo a sua data de nascimento

• Trabalhou muito na vida: lógica do trabalhoforçado

• Sofrimento: fome, sede e solidão• Cárcere: 3 anos, 9 meses e 15 dias – na cadeia

aprendeu a ler• Estudou aritmética para não se roubado• Virou negociador e agiota

• Propriedade São Bernardo: município deViçosa/AL Luís Padilha: herdeiro da fazenda, bebia,

jogava Endividado com Paulo Honório:

investimentos falidos Vendeu a fazenda por 57 mil Réis: PH forçou

e se aproveitou da situação

Descontado o que ele me devia, o resto seria dividido emletras. Padilha endoideceu: chorou, entregou-se a Deus edesmanchou o que tinha feito. Viesse o advogado, viesse ajustiça, viesse a polícia, viesse o diabo. Tomassem tudo. Umfumo para o acordo! Um fumo para a lei!- Eu me importo com lei? Um fumo!Tinha meios. Perfeitamente, não andava com a cara paratrás. Tinha meios. Ia à tribuna da imprensa, reclamar osseus direitos, protestar contra o esbulho. Afeteicomiseração e prometi pagar com dinheiro e com uma casaque possuía na rua. Dez contos. Padilha botou sete contosna casa e quarenta e três em São Bernardo. Arranquei-lhemais dois contos: quarenta e dois pela propriedade e oitopela casa. Arengamos ainda meia hora e findamos o ajuste.Para evitar arrependimento, levei Padilha para a cidade,vigiei-o durante a noite. No outro dia, cedo, ele meteu orabo na ratoeira e assinou a escritura. Deduzi a dívida, osjuros, o preço da casa, e entreguei-lhe sete contos equinhentos e cinquenta mil réis. Não tive remorsos.

(p.24)

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• Industrialização da fazenda: maquinário• Endividamento bancário-investimento• Progresso: modernidade que nem todos conseguem

acompanhar• Assassinato de Mendonça: da fazenda vizinha, Bom

Sucesso (p.33)

Deixei o negócio entabulado, fechei as portas e escrevialgumas cartas aos bancos da capital e aogovernador do Estado. Aos bancos soliciteiempréstimos, ao governador comuniquei a instalaçãopróxima de numerosas indústrias e pedi a dispensa deimposto sobre os maquinismos que importasse. Averdade é que os empréstimos eram improváveis e eunão imaginava a maneira de pagar os maquinismos.Mas havia-me habituado a considerá-los meiocomprados.Em seguida consultei o Aprendizado agrícola da Satubarelativamente à possível aquisição de um bezerrolimosino.

(p. 32-33)

• Lógica da morte: suicídio – depressão – alcoolismo(p.38)

• Denúncia das más condições de trabalho• A realidade: os fins justificam os meios (p.39)• Depois do assassinato do Mendonça, PH estende

suas terras adentro de todos os vizinhos• Só não invade as terras do juiz Magalhães: bom

senso

• Paulo Honório e sua oligarquia:- Conquistou terras- Construiu estradas, Igreja, escola- desenvolveu o lugar econômica e socialmente- pensou nas vantagens que poderia ter (p. 43)

Na pedreira perdi um. A alavanca soltou-se da pedra, bateu-lhe no peito, e foi a conta. Deixou viúva e órfãos miúdos.Sumiram-se: um dos meninos caiu no fogo, as lombrigascomeram o segundo, o último teve angina e a mulherenforcou-se.Para diminuir a mortalidade e aumentar a produção, proibi aaguardente. (p. 38)

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• Os fins justificam os meios para PH

[...] Acham que andei mal? A verdade é que nuncasoube quais foram os meus atos bons e quais foramos maus. Fiz coisas boas que me trouxeram prejuízo;fiz coisas ruins que deram lucro. E como sempre tivea intenção de possuir as terras de São Bernardo,considerei legítimas as ações que me levaram aobtê-las.Alcancei mais do que esperava, mercê de Deus.

(p. 39)

• PH desenvolve o lugar pensando nos benefícios

[...] A verdade é que, aparentando segurança, euandava assustado com os credores. Ia bem, semdúvida, o ativo era superior ao passivo, mas seaqueles malvados quisessem, capavam-me. Agoraos receios diminuíam. Aescola seria um capital. Os alicerces da igreja eramtambém capital.Continuei a esfregar as mãos. Com os diabos! (p. 43)

• Madalena: mulher linda, intelectual, professora, 27anos – sobrinha de d. Glória

- De quem são as pernas?- Da Madalena, respondeu Gondim. - Quem?- Uma professora. Não conhece? Bonita. - Educada, atalhouJoão Nogueira.- Bonita, disse outra vez Gondim. Uma lourinha, aí de unstrinta anos.- Quantos? perguntou João Nogueira. - Uns trinta, poucomais ou menos.- Vinte, se tanto.- É porque você não viu de perto, interrompeu Gondim. Setivesse visto, não sustentava semelhante barbaridade.- Como não? Vi muito de perto, em casa do Magalhães, noaniversário da Marcela. Tem vinte. – É porque você viu ànoite. De manhã é diferente. Tem trinta.Padilha, observando com tristeza as novilhas que pastavamno capim-gordura, à margem do riacho, e o açude, ondepatos nadavam, suspirou e propôs vinte e cinco:- É o que ela tem. Vinte e cinco. (p.46)

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• Padilha: voz crítica – denúncia daexploração da mão-de-obra

Casimiro Lopes franziu as ventas,declarou que as coisas desde o começodo mundo tinham dono.- Qual dono! gritou Padilha. O que há éque morremos trabalhando paraenriquecer os outros. Saí da sacristia eestourei:- Trabalhando em quê? Em que é quevocê trabalha, parasita, preguiçoso,lambaio?- Não é nada não, Seu Paulo, defendeu-se Padilha, trêmulo. Estava aquidesenvolvendo umas teorias aosrapazes.

(p. 58-59)

• Influência da REV. Russa (p. 60)

• Imprensa corrupta: Gazeta, Costa Brito e a manipulação dainformação

• Defendia os interesses dos poderosos por dinheiro (p.61)• Paulo Honório: Partido Conservador: aliciamento dos

eleitores (p. 62)

• Os poderosos desejam se estabelecer como eliteoligárquica

- Ah! suspirou o Dr. Magalhães, aliviado.Leis ou decretos, desde que estivessem no papel, em forma, eratudo o mesmo. Cruzou as pernas,balançou a cabeça, estirou o beiço e levantou um dedo: - O queprecisamos é uma elite.- Perfeitamente, apoiou João Nogueira, uma oligarquia.Mas o Dr. Magalhães embirrou com o nome: - Ah! não.- Ora essa! exclamou João Nogueira. Só podemos ter nogoverno uma elite de poucos indivíduos. É oligarquia.

(p. 68)

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• Paulo (45 anos) e Madalena (27 anos)• O fazendeiro se declara à professora• O casamento é um negócio: relações de velhos

hábitos sociais e novas econômicas

[...] Tenho quarenta e cinco anos. A senhora temuns vinte.- Não, vinte e sete.- Vinte e sete? Ninguém lhe dá mais de vinte. Poisestá aí. Já nos aproximamos. Com um bocado deboa vontade, em uma semana estamos na igreja.- O seu oferecimento é vantajoso para mim, SeuPaulo Honório, murmurou Madalena. Muitovantajoso. Mas é preciso refletir. De qualquermaneira, estou agradecida ao senhor, ouviu? Averdade é que sou pobre como Job, entende?- Não fale assim, menina. E a instrução, a suapessoa, isso não vale nada? Quer que lhe diga? Sechegarmos a acordo, quem faz um negóciosupimpa sou eu.

(p.89)

• Casamento acordado como um contrato• Sem amor: fato aceitável entre os dois• Casam-se

- Parece que nos entendemos. Sempre desejei viver nocampo, acordar cedo, cuidar de um jardim. Há lá umjardim, não? Mas por que não espera mais um pouco?Para ser franca, não sinto amor.- Ora essa! Se a senhora dissesse que sentia isso, eu nãoacreditava. E não gosto de gente que se apaixona e tomaresoluções às cegas. Especialmente uma resolução comoesta. Vamos marcar o dia.- Não há pressa. Talvez daqui a um ano... Eu precisopreparar-me.- Um ano? Negócio com prazo de ano não presta. Que éque falta? Um vestido branco faz-se em vinte e quatrohoras.Ouvindo passos no corredor, baixei a voz: - Podemosavisar sua tia, não? Madalena sorriu, irresoluta.- Está bem.

(p.93)

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• Paulo é agressivo, pois não controla Madalena• Madalena: não aceita injustiças, é solidária, culta• Ela pensa muito diferente dele:- Muito crítica com a forma como Pauloexplorava/humilhava os trabalhadores e suas famílias- Mandou espancar violentamente Marciano: o gadoestava morrendo (p.109)- Paulo comportava-se como um coronel: não gosta deser questionado (110)• Torna Madalena quase numa cativa (p. 112)• Madalena dá lição de moral em Paulo: defendeu a

tia d. Glória (p. 115)

- Mas é uma crueldade. Para que fez aquilo?Perdi os estribos:- Fiz aquilo porque achei que devia fazer aquilo. E nãoestou habituado a justificar-me, está ouvindo? Era o quefaltava. Grande acontecimento, três ou quatro muxicõesnum cabra. Que diabo tem você com o Marciano paraestar tão parida por ele?

(p. 110)

• Nasce o filho de Paulo e Madalena: um menino• 2 anos de casados• Luís Padilha: único que acompanha Madalena no

diálogo e ideologia – princípio de ciúmes de Paulo• Fascismo x Comunismo (p.129)• Intolerância religiosa (p. 130-131)• Quem é Madalena na visão de Paulo: comunista –

materialista – ateia• Paulo maltrata Luís Padilha por ciúmes e por causa

dos ideias comunistas (p. 136)

[...] Tenho portanto um pouco de religião, emborajulgue que, em parte, ela é dispensável numhomem. Mas mulher sem religião é horrível.Comunista, materialista. Bonito casamento!Amizade com o Padilha, aquele imbecil. "Palestrasamenas e variadas." Que haveria nas palestras?Reformas sociais, ou coisa pior. Sei lá! Mulher semreligião é capaz de tudo.

(p.133)

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• Ciúmes: Paulo e seu desejo de violência comMadalena

[...] O meu desejo era pegar Madalena e dar-lhepancada até no céu da boca. Pancadas em DonaGlória também, que tinha gasto anostrabalhando como cavalo de matuto para criaraquela cobrinha.Os fatos mais insignificantes avultaram emdemasia. Um gesto, uma palavra à-toa logo medespertavam suspeitas.Mulher de escola normal! O Silveira me tinhaprevenido, indiretamente. Agora era aguentar asconsequências da topada, para não ser besta.Aguentar! Ora aguentar! Eu ia lá continuar aaguentar semelhante desgraça? O que me faltavaera uma prova: entrar no quarto de supetão e vê-la na cama com outro.Atormentava-me a ideia de surpreendê-la.Comecei a mexer-lhe nas malas, nos livros, e aabrir-lhe a correspondência. (p. 139)

• Paulo briga com Madalena dentro da Igreja por causa deuma folha de uma carta

• Ela o chama de ASSASSINO (p. 142): talvez a morte doMendonça

• Paulo demite Luís Padilha• O lado maquiavélico de Paulo: ciúmes – intrigas - achismo

E se eu soubesse que ela me traía? Ah! Se eu soubesse queela me traía, matava-a, abria-lhe a veia do pescoço, devagar,para o sangue correr um dia inteiro.Mas logo me enjoava do pensamento feroz. Que rendia isso?Um crime inútil! Era melhor abandoná-la, deixá-la sofrer. Equando ela tivesse viajado pelos hospitais, quando vagassepelas ruas, faminta, esfrangalhada, com os ossos furando apele, costuras de operações e marcas de feridas no corpo,dar-lhe uma esmola pelo amor de Deus.Seria? não seria?Insignificâncias. No meio das canseiras a morte chega, odiabo carrega a gente, os amigos entortam o focinho na horado enterro, depois esquecem até os pirões que filaram. (p.150)

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• Madalena cansa dos ciúmes de Paulo:processo de depressão (p. 163)

- Comete suicídio (p. 168)- A carta incompleta: motivo da briga pelamanhã, era a despedida dela para Paulo –carta suicídio (p. 169)

Rosnei um monossílabo.- O que estragou tudo foi esse ciúme,Paulo. Palavras de arrependimentovieram-me à boca. Engolias, forçado porum orgulho estúpido. Muitas vezes porfalta de um grito se perde uma boiada. -Seja amigo de minha tia, Paulo. Quandodesaparecer essa quizília, vocêreconhecerá que ela é boa pessoa.Eu era tão bruto com a pobre da velha!

(p. 163)

Entrei apressado, atravessei o corredor do lado direito e nomeu quarto dei com algumas pessoas soltando exclamações.Arredei-as e estaquei: Madalena estava estirada na cama,branca, de olhos vidrados, espuma nos cantos da boca.Aproximei-me, tomei-lhe as mãos, duras e frias, toquei-lhe ocoração, parado. Parado.No soalho havia mancha de líquido e cacos de vidro.D. Glória, caída no tapete, soluçava, estrebuchando. A ama,com a criança nos braços, choramingava, Maria das Doresgemia.Comecei a friccionar as mãos de Madalena, tentando reanimá-la. E balbuciava:- A Deus nada é impossível.Era uma frase ouvida no campo, dias antes, e que me voltava,oferecendo-me esperança absurda.Pus um espelho diante da boca de Madalena, levantei-lhe aspálpebras. E repetia maquinalmente: - A Deus nada éimpossível.- Que desastre, Senhor Paulo Honório, que irreparáveldesastre! murmurou Seu Ribeiro perto de mim.

(p. 168)

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• Sobre a carte na banca de Madalena:

Sobre a banca de Madalena estava oenvelope de que ela me havia falado. Abri-o.Era uma carta extensa em que se despedia demim. Lia-a, saltando pedaços e naturalmentecompreendendo pela metade, porque topavaa cada passo aqueles palavrões que a minhaignorância evita. Faltava uma página:exatamente a que eu trazia na carteira, entrefaturas de cimento e orações contra maleitasque a Rosa anos atrás me havia oferecido.

(p. 169)

• Paulo achou que a carta era para outrohomem

• Paulo entra em processo de Depressão(p.180)

• Todos, um a um, o abandonam: somentealguns peões ficam na fazenda

• A crise do campo: (p.181)- São Bernardo estava falindo – e seis meses- Colheitas destruídas, criação desleixada- Dólar alto- Bancos negavam empréstimos e cobravamdívidas

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Entrei nesse ano com o pé esquerdo. Vários fregueses que sempre tinhamprocedido bem quebraram de repente. Houve fugas, suicídios, o Diário Oficial seemprenhou com falências e concordatas. Tive de aceitar liquidações péssimas.O resultado foi desaparecerem a avicultura, a horticultura e a pomicultura. Aslaranjas amadureciam e apodreciam nos pés. Deixá-las. Antes isso que fazercolheita, escolha, embalagem, expedição, para dá-las de graça.Uma infelicidade não vem só. As fábricas de tecidos, que adiantavam dinheiro paraa compra de algodão, abandonaram de chofre esse bom costume e até deram paracomprar fiado. Vendi uma safra no fuso, e enganaram-me na classificação.Era necessário adquirir novas máquinas para o descaroçador e para a serraria, masna hora dos cálculos vi que ia gastar uma fortuna: o dólar estava pelas nuvens.- Vamos deixar de novidade. Sacrificar-me e no fim entregar a mercadoria de mãobeijada a esses velhacos!Ainda por cima os bancos me fecharam as portas. Não sei por quê, mas fecharam. Eolhem que nunca atrasei pagamentos. Enfim uma penca de caiporismos. Cheguei adizer inconveniências a um gerente:- Pois se os senhores não querem transigir, acabem com isso. Ou os papéis valem ounão valem. Se valem, é passar o arame. Pílulas! Eu encomendei revolução?Em seis meses havia tão grande quebradeira que torrei nos cobres o automóvelpara não me protestarem uma letra vagabunda de seis contos. (p. 181-182)

Capítulo trinta e cinco

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• 2 anos após suicídio de Madalena:- Elaboração do trauma: a arte serve como umaforma de elaboração do evento traumático- Escrever é importante para lidar com osofrimento: REMORSO (p. 183)- Paulo está com 50 anos- Abandonou a lida (p. 185)- Depressão profunda (p. 187/188)

De repente voltou-me a ideia de construir o livro.Assinei a carta ao homem dos porcos e, depois devacilar um instante, porque nem sabia começar atarefa, redigi um capítulo.Desde então procuro descascar fatos, aqui sentadoà mesa da sala de jantar, fumando cachimbo ebebendo café, à hora em que os grilos cantam e afolhagem das laranjeiras se tinge de preto.

(p. 183)

Hoje não canto nem rio. Se me vejo ao espelho, a durezada boca e a dureza dos olhos me descontentam.Penso no povoado onde Seu Ribeiro morou, há meioséculo. Seu Ribeiro acumulava, sem dúvida, mas nãoacumulava para ele. Tinha uma casa grande, semprecheia, o jerimum caboclo apodrecia na roça e poraquelas beiradas ninguém tinha fome, Imagino-mevivendo no tempo da monarquia, à sombra de SeuRibeiro. Não sei ler, não conheço iluminação elétrica nemtelefone. Para me exprimir recorro a muita perífrase emuita gesticulação. Tenho, como todo o mundo, umacandeia de azeite, que não serve para nada, porque ànoite a gente dorme. Podem rebentar centenas derevoluções. Não receberei noticia delas. Provavelmentesou um sujeito feliz.Com um estremecimento, largo essa felicidade que não éminha e encontro-me aqui em São Bernardo,escrevendo.

(p. 187-188)

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• REMORSO: sentimento de culpa

– ciúmes e orgulho

De longe em longe sento-me

fatigado e escrevo uma linha.

Digo em voz baixa:

- Estraguei a minha vida,

estraguei-a estupidamente.

A agitação diminui.

- Estraguei a minha vida

estupidamente.

Penso em Madalena com

insistência. Se fosse possível

recomeçarmos ... Para que

enganar-me? Se fosse possível

recomeçarmos, aconteceria

exatamente o que aconteceu.

Não consigo modificar-me, é o

que me aflige.

(p. 188)

• O fim: sujeito sem nenhuma perspectiva

Fecho os olhos, agito a cabeça para

repelir a visão que me exibe essas

deformidades monstruosas.

Lá fora há uma treva dos diabos, um

grande silêncio. Entretanto o luar entra

por uma janela fechada e o nordeste

furioso espalha folhas secas no chão.

É horrível! Se aparecesse alguém ...

Estão todos dormindo.

Se ao menos a criança chorasse ... Nem

sequer tenho amizade a meu filho. Que

miséria!

E eu vou ficar aqui, às escuras, até não

sei que hora, até que, morto de fadiga,

encoste a cabeça à mesa e descanse uns

minutos.

(p. 191)

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50. (UFRGS/2002) Assinale a alternativa correta sobre o romance São

Bernardo, de Graciliano Ramos.

A. O romance de Graciliano Ramos destaca-se em relação aos de seus

contemporâneos, entre outras características, pelo emprego de uma

linguagem seca, coloquial, e pelos registros de caráter documental.

B. Em São Bernardo, a derrocada de Paulo Honório, no nível do enredo,

constitui o principal obstáculo para um desfecho favorável da narrativa,

constituída por diferentes planos temporais.

C. Os conflitos do casamento de Paulo Honório e Madalena têm como

causa principal o desnível cultural entre eles, responsável pelo

embrutecimento do marido.

D. São Bernardo amplia as fronteiras do nacionalismo, ao representar o

ingresso da modernidade no sertão, através de Paulo Honório, o

primeiro capitalista da literatura brasileira.

E. Após a morte de Madalena, através da plena conscientização de sua

ascensão social e econômica, Paulo Honório encontra conforto e novo

ânimo, preparando-se com serenidade para a velhice.

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INSTRUÇÃO: as questões de números 50 e 51 referem-se aoromance São Bernardo, de Graciliano Ramos.

50. (UFRGS/2001) No capítulo 21 de São Bernardo, PauloHonório, agastado com a fatura do material escolar, queconsidera “despesa supérflua”, assina a duplicata e sai de casa.

Assinale a alternativa que dá seguimento correto à situaçãoreferida.

(A) Encontra Madalena e critica seus gastos excessivos.(B) Extravasa sua irritação com Marciano, esbofeteando-o.(C) Conversa com Margarida, que lhe fala sobre os presentes

que a patroa lhe dá.(D) Discute com Dona Glória, que lhe exige um aumento da

pensão alimentícia.(E) Discute com seu Ribeiro sobre a forma de pagar a fatura.

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51. (UFRGS/2001) Assinale com V (Verdadeiro) ou com F (Falso) as afirmações abaixo sobre oromance São Bernardo, de Graciliano Ramos.

( ) O projeto de escrever um livro em conjunto, pela divisão do trabalho, não tem êxito. PauloHonório critica os padrões quinhentistas seguidos por João Nogueira e a linguagem empoladade Azevedo Gondim, mas acaba adotando a mesma forma de escrever.

( ) Embora pretenda reproduzir fielmente os fatos de sua vida, Paulo Honório desrespeita osacontecimentos, introduzindo personagens que de fato não existiram.

( ) Paulo Honório seleciona os episódios mais significativos de sua vida, centrando-se nascircunstâncias que levam ao desenlace do drama sobre o qual se interroga.

( ) Paulo Honório, em várias ocasiões, interrompe o relato para discutir as regras que presidem asua escrita ou para confessar suas dificuldades de expressão.

( ) Através do relato, Paulo Honório tem oportunidade de reavaliar sua vida, refletindo sobre seusatos e vendo a esposa sob uma nova perspectiva.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

(A) F - F - V - F - V(B) V - F - V - F - V(C) V - F - F - V - F(D) F - F - V - V - V(E) V - V - F - V - V

F

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