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    pONTA gROSSA - pARAN2009

    EDUCAO A DISTNCIA

    LICENCIATURA Em

    GeografiGeografiECONOMICA 2

    Edu Silvestre de AlbuquerqueLeonel Brizolla Monastirsky

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    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSANcleo de Tecnologia e Educa o Aberta e a Distncia - NUTEAD

    Av. Gal. Carlos Cavalcanti, 4748 - CEP 84030-900 - Ponta Grossa - PRTel.: (42) 3220-3163www.nutead.uepg.br

    2009

    Todos os direitos reservados ao Ministrio da Educa oSistema Universidade Aberta do Brasil

    Ficha catalogrfica elaborada pelo Setor de Processos Tcnicos BICEN/UEPG.

    Pr-Reitoria de Assuntos AdministrativosAriangelo Hauer Dias - Pr-Reitor

    Pr-Reitoria de GraduaoGraciete Tozetto Ges - Pr-Reitor

    Diviso de Educao a Distncia e Programas EspeciaisMaria Etelvina Madalozzo Ramos - Chefe

    Ncleo de Tecnologia e Educao Aberta e a DistnciaLeide Mara Schmidt - Coordenadora GeralCleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora Pedaggica

    Sistema Universidade Aberta do BrasilHermnia Regina Bugeste Marinho - Coordenadora Geral

    Cleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora AdjuntaEdu Silvestre de Albuquerque - Coordenador de Curso

    Colaborador FinanceiroLuiz Antonio Martins Wosiak

    Colaboradora de PlanejamentoSilviane Buss Tupich

    Colaboradores em EADDnia Falc o de Bittencourt Jucimara Roesler

    Colaboradores de InformticaCarlos Alberto VolpiCarmen Silvia Sim o CarneiroAdilson de Oliveira Pimenta Jnior Juscelino Izidoro de Oliveira Jnior

    Osvaldo Reis JniorKin Henrique KurekThiago Luiz DimbarreThiago Nobuaki Sugahara

    Colaboradores de PublicaoAnselmo Rodrigues de Andrade Jnior - Diagrama o?????????????????? - Ilustra esDenise Galdino de Oliveira - Revis o Janete Aparecida Luft - Revis o

    Colaboradores OperacionaisEdson Luis Marchinski Joanice Kuster de Azevedo Jo o Mrcio Duran InglzMaria Clareth SiqueiraMarin Holzmann Ribas

    CRDITOSUniversidade Estadual de Ponta Grossa

    Jo o Carlos GomesReitor

    Carlos Luciano Santana Vargas Vice-Reitor

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    ApRESENTAO INSTITUCIONAL

    Prezado estudante

    Inicialmente queremos dar-lhe as boas-vindas nossa instituio e ao curso queescolheu.

    Agora, voc um acadmico da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG),uma renomada instituio de ensino superior que tem mais de cinqenta anos de histriano Estado do Paran, e participa de um amplo sistema de formao superior criado peloMinistrio da Educao (MEC) em 2005, denominado Universidade Aberta do Brasil(UAB).

    O Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) no prope a criao de umanova instituio de ensino superior, mas sim, a articulao das instituiespblicas j existentes, possibilitando levar ensino superior pblico de qualidadeaos municpios brasileiros que no possuem cursos de formao superior oucujos cursos ofertados no so suficientes para atender a todos os cidados.

    Sensvel necessidade de democratizar, com qualidade, os cursos superiores emnosso pas, a Universidade Estadual de Ponta Grossa participou do Edital de Seleo UABn 01/2006-SEED/MEC/2006/2007 e foi contemplada para desenvolver seis cursos degraduao e quatro cursos de ps-graduao na modalidade a distncia.

    Isso se tornou possvel graas parceria estabelecida entre o MEC, a CAPES eas universidades brasileiras, bem como porque a UEPG, ao longo de sua trajetria, vemacumulando uma rica tradio de ensino, pesquisa e extenso e se destacando tambmna educao a distncia.

    A UEPG credenciada pelo MEC, conforme Portaria n 652, de 16 de marode 2004, para ministrar cursos superiores (de graduao, seqenciais, extenso e ps-graduao lato sensu) na modalidade a distncia.

    Os nossos programas e cursos de EaD, apresentam elevado padro de qualidade etm contribudo, efetivamente, para a democratizao do saber universitrio, destacando-se o trabalho que desenvolvemos na formao inicial e continuada de professores. Estecurso no ser diferente dos demais, pois a qualidade um compromisso da Instituioem todas as suas iniciativas.

    Os cursos que ofertamos, no Sistema UAB, utilizam metodologias, materiais emdias prprios da educao a distncia que, alm de facilitarem o aprendizado, permitiroconstante interao entre alunos, tutores, professores e coordenao.

    Este curso foi elaborado pensando na formao de um professor competente, noseu saber , no seu saber fazer e no seu fazer saber . Tambm foram contemplados aspectos

    ticos e polticos essenciais formao dos profissionais da educao.Esperamos que voc aproveite todos os recursos que oferecemos para facilitar oseu processo de aprendizagem e que tenha muito sucesso na trajetria que ora inicia.

    Mas, lembre-se: voc no est sozinho nessa jornada, pois far parte de umaampla rede colaborativa e poder interagir conosco sempre que desejar, acessandonossa Plataforma Virtual de Aprendizagem (MOODLE) ou utilizando as demais mdiasdisponveis para nossos alunos e professores.

    Nossa equipe ter o maior prazer em atend-lo, pois a sua aprendizagem o nossoprincipal objetivo.

    EQUIPE DA UAB/UEPG

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    SUmRIO

    PALAVRAS DOS PROFESSO RES 7OBJETIVOS E EMENT A 9

    A CONSTRUO DA NOvA ECONOmIA mUNDIAL 11SEO 1 - O espa o geogrfico atual 13

    SEO

    2 - A reengenharia econmica norte-americana e mundial 17

    ANOvA ECONOmIA E A REORgANIzAO DOESpAO gEOgRfICO 23

    SEO 1 - O toyotismo e a reorganiza o dos espa os produtivos 25SEO 2 - O toyotismo e seus desdobramentos sociais 28SEO 3 - A sociedade da informa o 35

    OCAmpO E O URbANO NA ERA pS-INDUSTRIAL 41

    SEO 1 - A transi o da geografia industrial para a ps-industrial 43SEO 2 - A nova geografia agrria 45

    AS NOvAS REDES DO pERODO TCNICO-CIENTfICO-INfORmACIONAL 51

    SEO 1- A geografia das finan as globais e a teoria de redes 52SEO 2- As modernas infraestruturas territoriais 56

    PALAVRAS FINAI S 63REFERNCIAS 65NOTAS SOBRE OS AUTO RES 67

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    pALAvRAS DOS pROfESSORES

    Caro(a) acadmico(a)

    O professor Milton Santos trouxe novo flego Geografia brasileira emundial ao destacar a importncia da evoluo da tcnica para o entendimentoda sociedade e do territrio. O que caracteriza as formas geogrficascontemporneas Milton Santos dizia os objetos geogrficos - a presenade um contedo tcnico e cientfico elevado, seja no interior da indstria ou nas

    atividades agropecurias.Os meios de transporte e de gerao de energia, os produtos da indstria

    ou florestas plantadas e forrageiras para o gado so hoje formas desse meiotcnico-cientfico-informacional. Veja o caso da criao de gado bovino: nopassado era a seleo dos melhores indivduos de cada raa a nica forma demelhorar a qualidade do rebanho, o que era feito no mbito familiar e gerao apsgerao; hoje a modificao gentica (o elemento cientfico) e a inseminaoartificial (o elemento tcnico) que garantem o aumento da produtividade e daqualidade da carne, ao mesmo tempo que os mercados internacionais de carneexigem a rastreabilidade do produto atravs da identificao de cada animalpara a construo de um banco de dados confivel (o elemento informacional). Voc pode substituir o exemplo do gado por qualquer outra mercadoria que irencontrar os mesmos elementos tcnicos.

    Esse meio tcnico-cientfico-informacional representa verdadeirabase material do processo de globalizao ou da constituio do que muitospesquisadores chamam de economia-mundo. Globalizao esta que, por um lado, traz modernidade e semeia o cosmopolitismo (na moda, na mdia, namsica, na alimentao, na vestimenta) e, por outro, aprofunda as desigualdadesterritoriais e sociais porque reflete a hegemonia de grandes empresas e Estadosmais fortes.

    Bom estudo!

    Prof. Edu Silvestre de AlbuquerqueProf. Leonel Brizolla Monastirsky

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    ObJETIvOS E EmENTA

    ObjetivOs

    Caracterizar as transforma es recentes do espa o econmico e social mundial.

    Determinar o papel do Estado e do mercado no desenvolvimento econmico.

    Compreender as transforma es locais a partir da dinmica da economia-mundo.

    Identificar os determinantes econmicos na organiza o do espa o agrrio e

    urbano.

    Compreender a dinmica das redes financeira e de infraestrutura.

    ementa

    O toyotismo e a reorganiza o da produ o capitalista. As geografias

    industrial, agrria, das redes de infraestrutura, do comrcio e dos servi os.

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    A construo dano a econo ia

    undial

    ObjetivOs De aPRenDiZaGemCaracterizar a nova economia e seus efeitos na reorganiza o do espa o

    mundial.

    Determinar a importncia do Estado enquanto ator econmico.

    Compreender o espa o geogrfico a partir de fenmenos econmicos

    multiescalares.

    ROteiRO De estUDOsSEO 1 - O espa o geogrfico atualSEO 2 - A reengenharia econmica norte-americana e mundial

    U N I D

    A D E I

    Edu Silvestre de AlbuquerqueLeonel Brizolla Monastirsky

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    pARA INCIO DE CONvERSA

    Nesta primeira Unidade, voc poder identificar as principaiscaractersticas da chamada nova economia, ancoradas na revoluotecnocientfica em curso. A chamada nova economia veio a seestabelecer mais decisivamente por volta da dcada de 1970, puxada pelosextraordinrios avanos nos ramos de informtica e telecomunicaes. Ocomputador, a internet, os robs industriais e os satlites de comunicaesso algumas das principais inovaes tecnolgicas desse perodo.

    Os computadores e a internet se tornaram comuns nas empresas e

    nos lares, mas tambm reafirmaram as desigualdades sociais, j que osndices de acesso variam enormemente entre os pases e as classes sociais.O alcance social da revoluo tecnocientfica carece ainda de melhor compreenso, com evidentes impactos sobre o processo educativo. O usopara o bem ou para o mal do computador e da internet exige um maior controle pelos pais com crianas e adolescentes.

    As novas tecnologias de informao tambm revolucionaram oambiente produtivo, proporcionando a conexo contnua e em tempo

    real entre a matriz e as filiais das grandes empresas, no importando ospontos do globo onde estejam instaladas. O sistema financeiro se libertoudos limites geogrficos (a priso da distncia), alcanando se deslocar de um espao a outro to logo algum investidor d o comando atravs dotelefone ou do teclado de algum computador.

    Mas aqui tambm se aprofundam as desigualdades entre empresas(as mais competitivas e as menos competitivas) e pases. isto quevoc poder perceber ao recuperarmos a histria dessa revoluotecnocientfica em curso, que destaca o controle no desenvolvimento dasnovas tecnologias por um seleto grupo de pases e empresas.

    Recupere sua experincia do Ensino Mdio e descreva as formas de uso docomputador e internet por seus colegas. Como eram elaboradas as pesquisassolicitadas pelo professor? Qual era o uso mais frequente do computador e dainternet realizado pelos alunos em seu tempo livre?

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    SEO 1O ESpAO gEOgRfICO ATUAL

    As grandes corporaes empresariais apresentam na atualidadeuma enorme capacidade de produzir e organizar o espao geogrficomundial (Ver caixa de texto As grandes corporaes capitalistas ). Se por um lado as empresas trazem novas tecnologias e ofertam novos servios,por outro no podemos nos enganar quanto finalidade ltima dessasorganizaes: a produo de lucro. Cabe ao Estado nacional e sociedaderegular o uso do territrio pelas grandes corporaes empresariais, paraque sua funo social no seja esquecida em nome do interesse privado.

    O problema poltico de nosso tempo que a escala de ao dessascorporaes transcende os limites do espao nacional, j que a partir das ltimas dcadas o processo de globalizao da economia expandiuextraordinariamente o tamanho de tais mercados para a escala global.Como ento regular os fluxos econmicos a partir do Estado nacional?

    As empresas so compelidas a assumir novas estratgiascompetitivas para vencer adisputa por esses mercadosglobais. A competiointercapitalista reorganiza ageografia do mundo, na qualcada empresa procura oslugares mais favorveis paralocalizar seus investimentosprodutivos, sejam plantas

    industriais, prestadoras deservios ou reas agrcolas, eassim sair vitoriosa na disputapor mercado.

    A localizao das unidades produtivas, centros de pesquisa esede de comando estratgico dessas empresas aprofunda a divisointernacional do trabalho e (re)cria um espao geogrfico desigual. Antes da globalizao, a diviso do mundo era mais simples, separando

    Legenda: No jogo do livre-mercado,vence apenas o mais forte.

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    pases industrializados desenvolvidos de pases produtores de matria-prima subdesenvolvidos. Com a globalizao, a questo tecnolgicaque divide o mundo: enquanto o pas-sede da multinacional continua

    com o alto comando (funes gerenciais, financeiras e grande parteda capacidade de pesquisa), agora as funes industriais podem ser deslocadas para qualquer pas subdesenvolvido a fim de se beneficiar de vantagens competitivas, como menor custo da fora de trabalho ou daenergia eltrica, ou ainda de leis ambientais menos rigorosas e beneficiosfiscais.

    O espao geogrfico e as desigualdades sociais so, portanto,produzidos a partir dessa seletividade espacial contida na estratgiade investimentos das grandes corporaes, que escapam cada vez maisao controle dos Estados nacionais com seus instrumentos clssicos decontrole. Seria possvel reinventarmos o Estado assim como as grandescorporaes se reinventaram?

    A disciplina de Geografia Econmica procura exatamentecompreender essa conexo entre a diviso do trabalho nas grandescorporaes empresariais e o processo de diviso internacional dotrabalho. A necessidade das empresas assumirem estratgias produtivasmundiais para vencerem as concorrentes se traduz na busca de vantagens

    de localizao e de logstica. assim que governos locais procuram anunciar as qualidades

    do lugar para atrair poderosas corporaes, muitas vezes oferecendoimoralmente recursos pblicos e isenes de impostos. Interessante notar tambm que os polticos e a imprensa assumiram a agenda das grandesempresas, ao cunharem a expresso Custo Brasil para se referir sdespesas que elas tm com aquisio de matrias-primas, produo etransporte. A logstica territorial , assim, reduzida s necessidades

    logsticas de tais corporaes, necessidades de infraestrutura detransportes e telecomunicaes, armazenagem de matrias-primas,ambiente de inovao tecnolgica, etc. Mas a parceria entre empresae Estado no vale quando chega o momento do lucro, este continuaexclusivamente privado.

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    Na realidade, o processo de inovao tecnolgica como fator decisivona competio entre empresas e naes no fenmeno novo, mas seintensifica, a partir da dcada de 1970, com o desenvolvimento espetacular de setores como informtica, telecomunicaes, microeletrnica,novos materiais (ligas e semicondutores) e biotecnologia. Com efeito, desse momento em diante que se passa a falar mais enfaticamenteem nova economia ou reengenharia econmica puxada pelos setorestecnolgicos.

    As GrAndes CorporAes CApitAlistAs

    As grandes corporaes operam desde o sculo XIXcomo conglomerados financeiro-industriais (os trustes). A partir daquele momento, as atividades de financiamento(o crdito) aos lojistas e consumidores tornavam-se toimportante quanto a produo industrial, fato que persisteat os dias atuais.

    Inicialmente, foi nos Estados Unidos que uns poucosgrupos empresariais passaram a controlar setores inteirosda economia, como automobilstico, aviao civil, extraoe beneficiamento do petrleo e siderurgia. Por exemplo, asgigantes Ford, GM e Chrysler puderam dominar rapidamenteo mercado automobilstico norte-americano e, a partir deste,parte significativa do mercado mundial.

    Do sculo XIX at a Segunda Guerra, a estratgia dessestrustes envolvia a integrao verticalizada da produo, isto, cada grupo empresarial buscava dominar a totalidade dacadeia produtiva, desde as fontes de matrias-primas ato produto final. Assim, o grupo Ford investiu diretamenteat na produo de borracha, como no fracassado projetoamaznico da Fordlndia, a fim de controlar a matria-prima para a produo de pneus.

    A partir de fins do sculo XX, a maior oferta mundial dematrias-primas e o acirramento da concorrncia fizeramcom que as grandes empresas estimulassem estratgias deterceirizao, contratando fornecedores, para se dedicarem

    apenas montagem do produto final. A concorrnciaglobalizada tambm exigia das grandes corporaesinvestimentos crescentes em pesquisa e desenvolvimentotecnolgico (P&D) com o objetivo de vencer a concorrncia,geralmente concentrada em seus pases de origem ou comalguma capacidade no setor tecnolgico em foco.

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    Legenda: As multinacionais norte-americanasdominam os setores mais importantes da

    indstria da informtica e ciberntica, comoa fabricao de microprocessadores (Intel) esistemas operacionais (Windows).Foto do Autor.

    Hoje, as sociedades desenvolvidas so exatamente aquelas quesouberam disseminar as inovaes tecnolgicas por todo o novo ambienteprodutivo local, cuja construo foi viabilizada pela aproximao entregovernos e grandes corporaes privadas, casos do Japo e EstadosUnidos. O governo japons soube pioneiramente estimular as empresas

    a dominar o processo de desenvolvimento de circuitos eletrnicos,especialmente sua aplicao nos ramos eletroeletrnico e automobilstico. J os Estados Unidos optaram por focar sua estratgia modernizadora nodesenvolvimento do complexo industrial-militar e no setor de servios (asnovas tecnologias de informao), como ser visto adiante.

    Apesar de a ideologia neoliberal condenar a interveno do Estadona economia, foram os pases desenvolvidos (como Japo e EUA, mastambm Inglaterra, Frana e Alemanha, dentre outros) que empregaram e

    empregam estratgias variadas para apoiar suas corporaes empresarias,tais como:

    oferta de crdito pblico com juros abaixo dos praticados no

    mercado;compras governamentais orientadas para estimular tecnologias

    em maturao pela iniciativa privada;formao de recursos humanos (nas universidades e escolas

    tcnicas) para prestar servios ou trabalhar diretamente nasempresas privadas.

    Procure na PlataformaMoodle o signi cado

    dos seguintes verbetes,que foram baseados no

    Dicionrio de Poltica , deNorberto Bobbio, e no

    Dicionrio doPensamento Marxista ,

    de Tomas Bottmore:Liberalismo -

    Neoliberalismo -Estado nacional -

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    SEO 2A REENgENhARIA ECONmICANORTE-AmERICANA E mUNDIAL

    A atual crise capitalista mundial, que comeou como umacrise financeira a partir da inadimplncia no setor imobilirio norte-americano, fez ressaltar uma caracterstica recorrente do sistema: ajudagovernamental ao setor privado da economia. Embora o receiturioliberal negue a interveno do Estado e enaltea as virtudes do livre-

    mercado, foram liberados trilhes de dlares de recursos pblicos para osbancos, seguradoras e indstrias em crise. A General Motors foi uma dascontempladas com algumas dezenas de bilhes de dlares pelo Tesouronorte-americano. Onde est a no-interveno apregoada pelos liberais?

    Em verdade, essa promiscuidade entre setor pblico (Estado) eprivado (grandes corporaes empresariais) que envolve at mesmo (eprincipalmente) a maior economia do mundo, muito anterior atualcrise sistmica. O governo norte-americano tem estimulado fortemente

    a capacidade econmica do pas atravs de encomendas pblicas aosetor privado, como no caso da famosa NASA (National Aeronauticsand Space Administration). Outra forma de auxlio ao setor privado atravs de emprstimos com juros baixos, como o ofertado s corporaesexportadoras atravs do Eximbank (Export-Import Bank of the UnitedStates of America), dentre tantos outros exemplos que poderiam ser aquicitados.

    Se voltarmos ainda mais na histria, veremos que o Estado norte-

    americano nunca deixou desprotegidas suas corporaes empresariais. Asmedidas protecionistas (taxas de importao elevadas) foram decisivas nosEstados Unidos ps-independncia para que pudessem surgir empresasnorte-americanas fortes em setores como naval e txtil.

    No perodo aps a Segunda Guerra, os Estados Unidos assumirama hegemonia econmica mundial, atrelando a emisso de dlaresao equivalente em ouro (da a aceitao mundial de sua moeda) ecapitaneando instituies reguladoras da nova ordem econmica mundial(casos do Fundo Monetrio Internacional e do Banco Mundial). Claro

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    que apenas o Tesouro norte-americano pode emitir dlares...Essa hegemonia mundial dos Estados Unidos foi questionada

    durante a dcada de 1970, com a derrota militar no Vietn (at hoje

    exorcizada nos filmes de Hollywood) e o cartel dos pases produtorespetrolferos do Oriente Mdio que elevou o preo do barril de petrleos alturas.

    Mas voc j deve estar se questionando sobre o que fizeram osEstados Unidos para sair daquela crise. que o governo norte-americanoe a iniciativa privada deram as mos para iniciarem uma profundareengenharia de seu sistema econmico nacional. O economista brasileiro Jos L. Fiori (2007) destaca que a tecnologia de celulares, de GPS (Sistemade Posicionamento Global) e de internet foi originalmente desenvolvidamediante encomendas do setor militar dos Estados Unidos, interessadoem sistemas de comunicaes que no fossem paralisados em caso deataques inimigos e na maior preciso de suas novas armas de guerra. Aps esse empurro inicial por parte do governo norte-americano, taistecnologias puderam, depois de devidamente adaptadas, ser lanadas nomercado.

    Os resultados principais dessa reengenharia econmica norte-americana foram dois:

    uma nova onda de empresas norte-americanas de atuao global

    (Microsoft, Apple, Raytheon, etc.);um crescimento espetacular do complexo industrial-militar norte-americano.

    A retomada do crescimento econmico norte-americano, ancoradoem tecnologias de ponta, trouxe ainda como consequncia novaspossibilidades de crescimento da economia mundial, sobretudo para

    aqueles pases que souberam desenvolver suas economias a partir dasindstrias tradicionais, como a siderrgica e a automobilstica.

    medida que essas grandes corporaes passavam a organizar sua produo, tendo em vista estratgias globais, a concorrnciaintercapitalista tornou-se mais acirrada. Na obra Miragens e Milagres , ogegrafo francs Alain Lipietz (1988) situa o desenvolvimento econmicode determinados pases do Terceiro Mundo no mbito do movimento dedeslocalizao geogrfica dessas indstrias que, at ento, produziam

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    apenas a partir de pases desenvolvidos. Assim, por exemplo, pasescomo Mxico, Brasil, Argentina, frica do Sul, Turquia, ndia e Chinapuderam ofertar mo-de-obra, energia e matrias-primas a baixo custo

    para atrair esses investimentos industriais, como no caso do segmentoautomotivo, que representaram importantes vantagens competitivaspara corporaes como General Motors (EUA), Ford (EUA), Fiat (Itlia), Volkswagen (Alemanha), Toyota (Japo), etc.

    No deixe de ler o brilhante artigo de Jos L. Fiori, disponibilizado em PDF a partir daPlataforma Moodle.

    Navegue tambm pelo stio www.wto.org/ da World Trade Organization (Organizao Mundial doComrcio), com verso em espanhol.

    Os assuntos mais tericos podem representar tarefa pesada para trabalhar com alunos doensino bsico. Assim o professor pode pensar na possibilidade de utilizar charges. Veja na Plataforma

    Moodle alguns exemplos que foram selecionados para voc.

    A globalizao pode ser vista tambm de forma prtica. O professor pode pedir aos alunos queregistrem os locais de origem dos diversos componentes de seu computador pessoal ou de sua

    escola (monitor, drives, unidades perifricas). Pode pedir tambm que entrem nas pginas eletrnicasdas empresas de aviao Airbus (Europa), Boeing (EUA), Embraer (Brasil) e procurem descobrir em

    quais lugares do mundo so produzidas as peas e sistemas desses avies. Com essas informaesos alunos podem iniciar a elaborao de uma redao sobre a atual organizao do espao

    econmico mundial. Veja exemplo na Plataforma Moodle.

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    Seo 1A reorganizao do espao econmico mundial se d de forma a selecionar as atividades maisintensivas em tecnologia nos pases desenvolvidos, enquanto que certas atividades industriaistradicionais so deslocadas para pases subdesenvolvidos como o nosso. Ocorre que as inovaestecnolgicas so to aceleradas que o que era ontem tecnologia de ponta, hoje pode ser consideradosetor tradicional. Assim foi o caso da venda da diviso de computadores pessoais (menos lucrativosna atualidade) da IBM para uma empresa chinesa (Lenovo). A partir deste exerccio voc poderdestacar as estratgias territoriais das empresas lderes mundiais no setor de celulares. Para tanto,siga os seguintes passos:

    a) Por meio de um buscador da internet procure a pgina eletrnica das principais empresas decelulares (consulte as dicas na Plataforma Moodle).b) Em seguida, identi que o pas-sede (de origem) dessas empresas e os pases que possuemcentros de pesquisa e plantas industriais das empresas em questo.

    Agora, com base em tais informaes, explore as diferenas atuais entre pases desenvolvidos esubdesenvolvidos partindo das estratgias das grandes corporaes de celulares.

    Seo 2Pesquise em jornais (impressos ou internet) as variadas formas de ajuda de governos de todo omundo para suas empresas e quais foram os principais grupos bene ciados na atual crise econmicamundial.

    Ao ler esta Unidade, voc pde compreender de que forma os novos sistemas tcnicos(informtica, microeletrnica e telecomunicaes) permitiram que o capitalismo sasse da crise

    dos anos 70. E que esta retomada da escalada do processo de acumulao de capital ampliou adiviso internacional do trabalho (d.i.t.) partindo da seletividade territorial da localizao dos novos

    investimentos produtivos.Voc pde ainda examinar em maiores detalhes a interveno do governo norte-americano

    na montagem da reengenharia econmica, centrada justamente naqueles setores mais tecnolgicos.Assim, voc se tornou apto a entender o papel dos Estados nacionais na reorganizao do espao

    mundial contemporneo, onde manda quem pode mais (Estados Unidos, Japo e alguns paseseuropeus) e obedece quem pode menos (caso da frica, Amrica Latina e maior parte da sia).

    A partir da Unidade II, voc poder avanar tambm no entendimento das mudanasocorridas no interior do ambiente produtivo e gerencial das grandes corporaes empresariais.

    Adiantamos que, assim como o mtodo de produo fordista - baseado na distribuio dos operriospelas linhas de montagem e na produo em massa de um mesmo produto surge na indstria

    automobilstica, novamente neste setor que se inicia o chamado mtodo de produo toyotista.Embora o Japo tenha sado frente nas experincias do toyotismo, cedo as empresas norte-

    americanas e de todo o mundo perceberam o papel revolucionrio do novo mtodo de organizao daproduo e passaram a copi-lo.

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    A no a econo ia ea reor ani ao does ao eo r ico

    ObjetivOs De aPRenDiZaGemDeterminar a importncia do mtodo de produ o toyotista para areorganiza o da economia, da sociedade e do territrio.

    Relacionar a sociedade da informa o com as novas tecnologias.

    ROteiRO De estUDOs

    SEO 1 - O toyotismo e a reorganiza o dos espa os produtivos

    SEO 2 - O toyotismo e seus desdobramentos sociais

    SEO 3 - A sociedade da informa o

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    Edu Silvestre de AlbuquerqueLeonel Brizolla Monastirsky

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    pARA INCIO DE CONvERSA

    As revolues tecnocientficas alteram profundamente a dinmicada sociedade atravs de mudanas no padro espao-tempo. Mas o queisso quer dizer? Primeiro, pense no tempo que uma caravela portuguesalevava para chegar ao Brasil no perodo colonial... eram meses e meses.Hoje, os modernos navios mercantes levam apenas alguns poucos diaspara vencer esta mesma distncia. De forma similar, durante os sculosXVIII e XIX, no antigo Caminho das Tropas se levava cerca de trs a

    quatro meses para transportar mulas dos Campos de Viamo (Rio Grandedo Sul) at as feiras de Sorocaba (So Paulo). Hoje, esse mesmo trajeto vencido em algumas horas por carro ou caminho.

    Em ambos os casos exemplificados, ocorreu a substituio da energiada natureza (caravelas) e da energia animal (tropeiros) pela energiamecnica dos motores. essa inovao tcnica os motores a vapor da Primeira Revoluo Industrial e os motores a exploso da SegundaRevoluo Industrial - que permitiu o encurtamento das distncias ao

    comprimir o tempo necessrio para o deslocamento entre um lugar eoutro. Assim, primeiro com a estrada de ferro (trens movidos a carvomineral), depois com as rodovias (caminhes movidos a leo diesel), foipossvel avanar mais no interior dos continentes, incorporando novasreas dinmica mundial.

    Ao mesmo tempo, as fbricas tambm puderam experimentar avanos crescentes na automatizao das linhas de produo, ocasionandoimpactos profundos no mundo do trabalho e na organizao social. Soesses os temas que voc poder agora estudar mais detalhadamente.

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    SEO 1O TOyOTISmO E A REORgANIzAO DOS

    ESpAOS pRODUTIvOS

    A ampliao da produtividade no interior do processo industrialpode ocorrer de duas formas: pela inovao tecnolgica (automaoindustrial) ou por novos processos de organizao do trabalho. Quandoessas duas formas se encontram historicamente, temos uma verdadeirarevoluo na produtividade; assim foi com o mtodo taylorista, depois com

    o fordismo e, finalmente, com o toyotismo. Na realidade, esses mtodospodem coexistir no tempo e no espao, dependendo do setor produtivo edo pas em questo.

    Taylorismo : no incio do sculo XIX, Frederick W. Taylor concluiupela necessidade de especializar operrios em tarefas especficas nointerior da fbrica, estabelecendo uma padronizao do tempo para cadaetapa produtiva. Dessa forma, Taylor conseguiu elevar a produtividade

    industrial atravs do controle do tempo dos trabalhadores, instituindoo relgio-ponto e supervisores (capatazes) para vigiar os operrios, edemitindo aqueles que apresentassem produtividade abaixo da mdia.

    Hoje, alguns autores utilizam a expresso taylorismo sanguinriopara definir as relaes de trabalho nas indstrias txteis de algunspases asiticos, justamente pela analogia com a explorao intensiva dotrabalho nas indstrias daquele incio de sculo. Essa seria a base real davantagem competitiva de alguns ramos industriais de pases como China,Tailndia e Paquisto, por exemplo.

    Fordismo : outro norte-americano, Henry Ford, levaria ainda maisadiante o processo de controle do tempo de trabalho ao estabelecer, emfins da dcada de 1920, a linha de montagem industrial, obtendo novaeconomia de tempo do trabalhador ao tornar desnecessrio o deslocamentodo operrio para realizar sua operao especfica, j que agora o produtoa ser montado que vinha at ele. Esse mtodo revolucionrio forainspirado no processo de trabalho nos abatedouros do frigorfico Armour,

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    em Chicago, e depois, ganharia a indstria automobilstica. Com ofordismo, agora tambm os homens passavam a sofrer quase como o gado,pois submetidos a jornadas exaustivas de trabalho sempre repetitivo, sem

    espao para desenvolver qualquer ato de criatividade.O fordismo ampliou o nmero de operrios nas indstrias, o queacabou por possibilitar o adensamento de trabalhadores e permitir movimentos grevistas nas cidades industriais. A sada encontrada pelaclasse dirigente foi a adoo de estratgias de cooptao das lideranassindicais e de represso policial aos movimentos grevistas. A manutenodos ndices de produtividade do trabalho era obtida atravs da altarotatividade da fora de trabalho. Tragicamente, alguns percentuais detaxas de desemprego tornaram-se no apenas aceitveis na sociedademoderna, mas necessrios ao bom andamento do sistema econmico.

    Toyotismo : a partir da dcada de 1970, as novas tecnologias deinformatizao e robotizao permitiram novo mtodo de organizao daproduo, novamente a partir da indstria automobilstica, com liderana japonesa. O toyotismo foi inaugurado nas fbricas da montadora Toyota,por isso recebendo esse nome.

    A novidade histrica que o avano no controle do tempo do

    processo de produo ocorria agora para alm dos limites da fbrica,de modo a envolver tambm a circulao e o consumo. As empresasque adotaram o toyotismo continuaram ajustando com os fornecedoresa entrega de matrias-primas e componentes industriais, s que agorana exata medida da necessidade de suas linhas de produo. Da mesmaforma, a indstria tambm passou a produzir conforme a necessidadedos pontos de venda (lojas ou supermercados). Essa sinergia da novacooperao instituda entre fornecedores - produtores - consumidores

    recebeu o nome de just-in-time ou tempo justo, mudana na culturaempresarial que somente foi possvel graas s novas tecnologias deinformao (Ver caixa de texto O cdigo de barras ). Quando voc passaum produto pelo leitor de cdigo de barras do supermercado, estvendo apenas uma ponta de todas essas mudanas operadas na culturaprodutiva.

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    A prpria geografia urbana recebeu os impactos do toyotismo, jque o resultado global alcanado foi uma enorme reduo do volumedos estoques, particularmente onerosos nas grandes cidades e em pasescarentes de espaos fsicos, como no Japo. Assim, reas inteiras queantes recebiam os galpes das distribuidoras se tornaram desnecessrias,exigindo polticas pblicas de reforma urbana.

    A nova ampliao dos nveis de produtividade ocorreu atravs

    da robotizao em larga escala e da eliminao da produo de peasdefeituosas (a qualidade total da produo). A criao de crculos decontrole de qualidade aproximou operrios e camada gerencial, de modoa aperfeioar o processo produtivo e transmitir a idia de trabalho emequipe. No caso do Japo, os trabalhadores foram integrados aos esforosde cumprimento de metas de exportao mediante remuneraes extras,enquanto na Europa, no geral, a opo foi pela participao dos operriosnos lucros.

    O cdigo de barras

    A fonte de inspirao do just-in-time foi o mtodo de controle deestoques praticado nos hipermercados. Qualquer produto (alimentos, bebidas,livros) que receba na embalagem o cdigo de barras pode ser registradoinstantaneamente ao passar pelo caixa, o que permite a constante e rpidaatualizao das planilhas de estoques que, por sua vez, permite a adequaoentre os nveis de abastecimento das prateleiras e as novas remessas dosfornecedores.

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    SEO 2O TOyOTISmO E SEUS DESDObRAmENTOS SOCIAIS

    As mudanas sociais so inevitveis e profundas em cada novomtodo de organizao da produo, pois no apenas a fbrica, mas toda asociedade precisa se adaptar s novas tecnologias e formas de trabalho.

    Alguns empresrios perceberam que o sucesso de sua atividadeeconmica ia para alm do interior da fbrica, pois era o consumo dasociedade que garantiria a realizao de seus lucros. Assim, HenryFord se preocupava em pagar bem seus operrios para que pudessemconsumir mais e, em decorrncia, fazer crescer o mercado potencial paraseus automveis.

    Mas a grande crise mundial de 1929, que se iniciou a partir daquebra da bolsa de valores de Nova York, fez com que a classe poltica eempresarial percebesse que as aes individuais como as de Ford eraminsuficientes para garantir a expanso do ritmo da atividade industrial emanter aquecido o mercado de consumo. Foi quando o clebre economista John M. Keynes defendeu a necessidade de polticas pblicas (subsidiandoensino e sade pblicos) para elevar a renda dos trabalhadores e, assim,aquecer o mercado consumidor (Ver caixa de texto Keynesianismo econsumo ).

    Polticas keynesianas seriam implantadas mais tarde na EuropaOcidental, a partir da vitria poltica de partidos social-democratas. Osempresrios europeus prontamente apoiaram essas idias tambm por temerem a ascenso em seus pases de movimentos comunistas queincorporassem ainda mais fortemente o aspecto social nas polticas

    pblicas.Keynesianismo e consumo

    Para o economista John Maynard Keynes, a crise de 29sinalizava a incapacidade do setor privado encontrar por si prprioalternativas para a retomada do crescimento econmico. Apenas oEstado intervindo diretamente na economia, dizia Keynes, poderiatirar a nao de sua crise estrutural. importante lembrar que, atento, a no-interveno do Estado no mercado era verdadeiro tabuentre os liberais.

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    Esse casamento entre fordismo e keynesianismo trouxe novo e longoperodo de desenvolvimento econmico e estabilidade poltica ao mundocapitalista . A exploso do consumismo puxada pelo desenvolvimentodos mercados de massa ficou cristalizada no fenmeno da multiplicaode shopping centers e fast-foods . Das compras aos lanches rpidos, tudo

    passou a ser projetado tendo em vista a comodidade dos proprietriosde automveis, o maior cone da sociedade moderna de consumo. Aspessoas interessam ao sistema econmico mais como consumidoras quecomo cidads.

    Legenda: Na imagem, o shopping de Ponta Grossa - PR. O fenmeno daconstruo de shopping centers se disseminou pelas cidades de todo o mundo,

    inclusive nas cidades latino-americanas de porte mdio. Foto do autor.

    A integrao de amplos segmentos sociais ao mercado consumidor exigia que o Estado assumisse determinadas funes sociais, demodo que os trabalhadores pudessem dispor de partes maiores de seusalrio para destinar ao consumo. O keynesianismo ainda defendiao fortalecimento da organizao sindical dos trabalhadores, tambmcomo forma de elevar o poder de compra salarial.

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    Mas a lua-de-mel no duraria para sempre. O novo mtodo toyotismose espalhou por plantas industriais de todo o mundo, trazendo as primeirasrachaduras nesse edifcio social. Afinal, as modernas plantas industriais

    so concebidas com linhas de produo altamente automatizadas, onde arobotizao levada ao extremo e uns poucos braos e olhos servem maiscomo supervisores do processo industrial que como operrios tradicionais(Ver caixa de texto A automao na histria ). Alis, as unidades industriaismodernas j foram definidas pelo pesquisador A. Sen como fbricas-naves sem tripulantes.

    O desemprego industrial causado pelo avano da automao chamado de desemprego tecnolgico, ou tambm de desempregoestrutural, uma vez que cada vez mais a criao de postos de trabalho noguarda mais relao direta com a melhora da atividade econmica. Emoutras palavras, o fato de uma planta industrial ampliar sua produo notraz uma correspondente ampliao do nmero de empregados. Dadosda Organizao Internacional do Trabalho (OIT) j apontavam, em 1997,cerca de 1 bilho de desempregados e subempregados no mundo, algoequivalente a 30% da populao mundial economicamente ativa.

    Legenda: Os robs substituem os operrios nas linhas de montagem toyotistas.

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    Com o acirramento da concorrncia intercapitalista, as empresaspassaram a exigir de seus respectivos Estados nacionais a elaborao delegislaes trabalhistas mais flexveis. Esse foi um dos objetivos daschamadas Reformas de Estado, apregoadas pelo receiturio neoliberal,e que esto em nova rodada de negociaes neste exato momento empases como o Brasil. Assim, as empresas pedem a reduo dos encargossociais que oneram o salrio (esquecendo-se que tais recursos formamos fundos pblicos que visam segurana do trabalhador e sua famlia),

    alm de ampliarem o nmero de trabalhadores temporrios e terceirizados(quando os trabalhadores so prestadores de servios autnomosfornecidos por meio de empresas contratadas). A nova realidade social que a precarizao das relaes trabalhistas tornou-se o fundamento dacompetitividade de muitas empresas e pases.

    Para evitar um caos social maior e tambm garantir a manutenode um certo nvel de consumo, o instituto do salrio-desemprego tornou-se poltica pblica generalizada, primeiramente nos pases da Europa

    Ocidental, depois nos Estados Unidos. Para pases subdesenvolvidoscomo o Brasil, a questo do desemprego estrutural torna-se ainda maispreocupante diante de um nvel de informalidade da economia que vemalto, j que os recursos governamentais so insuficientes para universalizar o instrumento de proteo social do salrio-desemprego (Ver caixa detexto O setor informal nos pases subdesenvolvidos ). Com efeito, a rendae o perodo assegurado pelo salrio-desemprego no Brasil so bastanteinferiores aos praticados nos pases desenvolvidos. Ao mesmo tempo, no

    A automao na histria

    A introduo dos teares mecnicos durante a PrimeiraRevoluo Industrial ampliou enormemente a produtividadedas indstrias txteis inglesas, mas causou a dispensa decentenas de milhares de trabalhadores. A reao inicial degrupos de operrios foi destruir as novas mquinas numatentativa desesperada de evitar o desaparecimento de seusempregos. A palavra sabotagem vem exatamente dessatentativa dos operrios europeus de danificarem as mquinas,atirando suas botas nas engrenagens.

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    ano 2000, ndia, Brasil e Rssia ocupavam as trs primeiras posies commaior nmero de desempregados em nmeros absolutos.

    O fenmeno do desemprego estrutural impacta os pases tambmde modo diferenciado. Enquanto nos pases desenvolvidos, o setor tercirio formado majoritariamente por servios altamente especializados

    e de elevado contedo tecnolgico, nos pases subdesenvolvidos fundamentalmente formado por empregos no setor pblico e atividadesde comrcio informal (Ver caixa de texto Os setores da economia ).

    O setor informal nos pases subdesenvolvidos

    Nos pases subdesenvolvidos, o desemprego conduzparte significativa da populao economicamente ativa subocupao, em atividades como contrabando (descaminho)e trabalho informal. Essa situao acaba prejudicando aindamais aquelas empresas que produzem mercadorias a partir do trabalho formal, alm de causar perda de receita pblica(impostos que poderiam ser destinados ao social). Num pascomo o Brasil, calcula-se que a economia informal movimentealgo como 40 a 50% do Produto Interno Bruto.

    Torna-se evidente que o processo de globalizaoinclui uma dimenso no-contabilizada e no-legalizadada economia, reunindo pases produtores como Taiwan eChina, passando por pases que funcionam como entrepostoscomerciais, por exemplo, Cingapura e Paraguai, atfinalmente chegarem aos pases consumidores, como oBrasil.

    Os setores da economia

    As atividades econmicas so usualmente agrupadas emtrs setores: primrio (atividades agropecurias e extrativistasmineral e vegetal), secundrio (atividades industriais) etercirio (servios pblicos, atividades bancrias e comrcio).Contudo, a necessidade de diferenciar no interior do setor deservios as atividades tcnico-cientficas tem levado muitosautores a falar da necessidade de um setor quaternrio.O caso dos EUA elucidativo. No comrcio internacionalde mercadorias, o pas acumula enormes dficits porqueimporta mais do que exporta. Mas sua balana de serviosacumula gigantescos supervits, exportando para todo omundo servios financeiros, produtos culturais (msicas,filmes), direitos sobre o uso de tecnologias e marcas(royalties, franquias), dentre outros. Portanto, a naturezadessas atividades do setor de servios norte-americano radicalmente diferente daquelas atividades dominantes nosetor tercirio dos pases subdesenvolvidos.

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    Mas a questo do desemprego preocupa tambm a sociedade deconsumo dos pases desenvolvidos. A autora francesa Viviane Forrestier,no livro O horror econmico , afirma que a presente crise econmica e social

    (ela escreveu antes da ecloso da crise financeira de 2008) indicativa deuma mutao violenta da civilizao ocidental at ento assentada novalor do trabalho (Ver caixa de texto Trabalhar para quem? ).

    Legenda: A tica protestante fundou seus valores notrabalho, influenciando

    profundamente associedades anglo-saxnicas

    e, na sequncia, o mundo inteiro.

    Trabalhar para quem?

    No sculo XIX, Karl Marx via no comunismo asuperao da sociedade capitalista baseada na geraode valor pela explorao do trabalho. Era a pobreza dasclasses trabalhadoras, dizia Marx, que garantia a riqueza daprivilegiada classe burguesa.

    Com efeito, j era conhecido dos economistas da pocaque o valor das mercadorias no advinha de sua raridadeou beleza, mas do trabalho empregado na sua elaborao.O problema central das sociedades capitalistas estaria nofato de que os trabalhadores no ficam com os frutos de seuprprio trabalho.

    Contudo, Marx no defendia a ideologia do trabalho. Ao contrrio, acreditava que o desenvolvimento das forasprodutivas materiais no comunismo levaria superao danecessidade do trabalho e a um maior tempo ocioso para o

    uso da criatividade.

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    As desigualdades sociais crescem assustadoramente por todo oprimeiro mundo, seja Estados Unidos, Europa ou Japo. Os EstadosUnidos tm o maior ndice de populao carcerria do mundo (2,8% da

    populao total adulta): so 1,6 milho de detentos e 3,8 milhes emliberdade condicional (dados de 1996). Segundo dados de 2003, mais de25 mil moradores de rua vivem nas grandes cidades japonesas. At mesmoas cidades europias j experimentam sinais claros de deteriorao daqualidade de vida, principalmente entre as comunidades de imigrantes.

    Para entender melhor os assuntos trabalhados nesta Unidade, sugerimos osseguintes vdeos, cujostrailers podem ser acompanhados na Plataforma Moodle:

    Ou tudo ou nada : Comdia inglesa de 1997, retrata a curiosa estratgia desobrevivncia de um grupo de desempregados de uma siderrgica em umapequena cidade. O pano de fundo a reestruturao do setor siderrgicoingls, que acarretou a demisso de milhares de metalrgicos.Segunda-feira ao sol : Filme espanhol de 2002, sobre o cotidiano de estivadoresdesempregados com a modernizao dos portos e pela concorrnciainternacional. Entre os protagonistas, o inconformado Santa se recusa a admitir a nova situao.O homem sem passado : Drama nlands de 2002, sobre um homem queperde a memria aps espancamento e tenta recomear sua vida. O lmenos faz re etir que o fenmeno do desemprego e da falta de perspectivas naglobalizao mundial, assolando mesmo uma nao rica.

    O professor pode tambm trabalhar a questo do toyotismo a partir do cdigode barras de embalagens trazidas pelos alunos. O professor deve auxiliar nolevantamento do signi cado da numerao (A caixa de texto O cdigo de barras desta Seo pode lhe servir de guia).

    Para iniciar a aula, poder fazer uma analogia com os nmeros de nossa carteirade identidade.

    Uma visita dirigida da turma a uma fbrica com linhas de montagem automatizadastambm poder ser interessante para que percebam os efeitos sociais desseprocesso. importante pedir um relatrio individual trazendo as observaes eentrevistas realizadas com os tcnicos da fbrica, bem como uma re exo sobre aquesto da tecnologia/robotizao e o emprego industrial. Na Plataforma Moodle,voc poder realizar umtour virtual por uma dessas fbricas automatizadas.

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    SEO 3A SOCIEDADE DA INfORmAO

    Inovaes como satlites artificiais, antenas parablicas, fibrasticas e microcircuitos eletrnicos foram aplicadas aos setores detelecomunicaes e informtica, extravasando o ambiente empresarialpara criar novas formas de sociabilidade baseadas na interatividade. Oscelulares e a internet rapidamente tornaram-se meios de comunicao deenorme aceitao entre todas as nacionalidades e faixas etrias.

    As expresses era da informao e sociedade da informaosurgiram justamente para tentar definir essa nova situao. Todos os diassomos convidados a obter informaes de eventos distantes por meio dostelejornais ou da rede mundial de computadores (a internet). A idia dealdeia global, empregada pela primeira vez pelo canadense MarshallMcLuhan, ainda na dcada de 1970, compara a sociedade globalizada daera da informao com a aldeia primitiva, onde todos os indivduos estoprximos.

    Com efeito, as novas tecnologias da informao ampliam quaseilimitadamente a quantidade e a velocidade do fluxo de informaes.Entretanto, se praticamente todos os lugares do planeta esto interligadospelas novas tecnologias, grande parte da humanidade ainda tem acessoprecrio ou est sem acesso a servios como telefonia e internet, sejaporque estes so servios pagos ou porque tais pessoas no renemhabilidades culturais fundamentais para receber essas informaes(sistemas de ensino deficientes).

    H tambm a questo do controle (poder) da informao por

    determinados grupos empresariais e miditicos e por governos. Essespoderosos grupos econmicos e polticos podem controlar o que vai ser notcia e seu contedo, e proliferam tanto em sociedades fechadas (China,Cuba e Rssia) quanto em sociedades abertas (Estados Unidos).

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    Legenda: O poder poltico da Rede Globode Televiso j foi objeto de diversosartigos e livros.

    Por todas essas razes, pareceevidente que o salto para uma sociedadeda informao exige a readaptaodo sistema de ensino, bem como aimplementao de polticas pblicasque incluam normas sobre o papel socialda mdia e dos grupos econmicos.

    Formas de autorregulamentao, por exemplo, no podem ser consideradas censura. No basta ao cidadosaber operar esse novo ambiente tecnolgico-informacional, precisoque desenvolva capacidade de filtrar as informaes para construir seussignificados.

    Legenda: At mesmo os terminais eletrnicos bancrios exigem alguma informao mnima para operaes, o que explica a dificuldade de pessoas mais

    idosas, por exemplo. Foto do autor.

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    A dificuldade reside no fato de que cada novo desenvolvimentotecnolgico na rea das comunicaes aprofunda as diferenas entreincludos e excludos, tanto nos pases subdesenvolvidos quanto nos

    desenvolvidos. Falar em e-cidadania algo complicado quando mais dametade da populao mundial vive com menos de dois dlares por dia(dados de 2005), sendo que um tero dessa massa de excludos vive emreas rurais sem acesso gua potvel e esgoto, principalmente na sia, frica e Amrica Latina.

    O professor pode usar o rico ambiente virtual que est disposio. Evidentemente, antesde mais nada, preciso realizar uma pesquisa sobre o acesso dos alunos a computadores e internet,o que vai variar conforme a renda familiar e o equipamento da escola. Havendo a possibilidade, seria

    interessante criar grupos de discusso em torno de temas de interesse escolar, organizar sadas decampo virtuais, etc. preciso dar espao no saber escolar para as novas formas de comunicao dos

    jovens. Veja alguns exemplos na Plataforma Moodle.

    Seo 1Procure descobrir, conversando com seus vizinhos, parentes e conhecidos, quantos trabalham emfbricas, e dos que trabalham nesses locais, em quais atividades. Em seguida, faa um breve relato doresultado das conversas para seus colegas de curso na Plataforma Moodle.

    Seo 2Procure identi car na sua cidade quais so os produtos ofertados no comrcio informal local:Se tiver a chance pergunte aos trabalhadores informais sobre a origem de suas mercadorias.Veri que, nas embalagens e produtos, o pas onde as mercadorias foram fabricadas.Com base nas informaes obtidas, faa um breve relato do resultado das conversas para seus colegasde curso, na Plataforma Moodle.

    Seo 3Pesquise na pgina de Prefeituras de sua regio quais as polticas pblicas de incluso digital e dee-cidadania em curso (existncia de telecentros, prestao de contas pela internet, atendimentoon line ao cidado, etc.).Procure entrar numa sala de bate-papo estrangeira e pergunte sobre as caractersticas do sistemade ensino e as formas de realizao da sociedade da informao nos pases em questo. Depoiscompartilhe as informaes com os demais colegas atravs da Plataforma Moodle.

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    Nesta Unidade voc pde perceber o potencial transformador do espao e da sociedade contidos nas novas tecnologias. Pde ainda avaliar o poder das grandes corporaes privadas no uso

    de recursos pblicos (dinheiro do contribuinte) e no controle da informao.Assim, as noes de revoluo tecnocient ca, aldeia global e sociedade da informao no

    podem ser usadas acriticamente. So noes que precisam ser analisadas profundamente noambiente da sala de aula para que no se reforcem certos mitos, fazendo-se a apologia do processo

    de globalizao em curso. O professor Milton Santos lembrava que informao no signi caexatamente comunicao. A sociedade da informao gerou novas possibilidades de interatividade,mas tambm aprofundou a estrati cao social em funo das possibilidades de uso/decodi cao

    das novas tecnologias.As profundas mudanas no sistema produtivo trouxeram impactos sociais violentos, aprofundandoas desigualdades sociais existentes e criando novas. As formas de degenerao social derivam da

    decadncia do mundo do trabalho, que ocorre a partir da automao do processo industrial tanto nassociedades dos pases desenvolvidos quanto dos subdesenvolvidos.

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    O ca o e o ur anona era s-industrial

    ObjetivOs De aPRenDiZaGemCaracterizar o processo de reestrutura o econmico-territorial no meiourbano.Caracterizar o processo de reestrutura o econmico-territorial no meioagrrio.

    ROteiRO De estUDOs

    SEO 1 - A transi o da geografia industrial para a ps-industrial

    SEO 2 - A nova geografia agrria

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    pARA INCIO DE CONvERSA

    O campo brasileiro sempre foi visto como reduto da misria e daignorncia. O personagem Jeca Tatu, criado por Monteiro Lobato, falavada simplicidade quase boal de nosso homem do campo, o que ajudou adisseminar esse mito pela sociedade brasileira. Mas a questo bem maisprofunda, pois a misria do campo produto de sua precoce modernizao.Como isto? Desde o perodo colonial, o campo brasileiro foi preparadono para produzir alimentos, mas mercadorias para o mercado mundial(as plantations ou monoculturas tropicais de exportao). As plantaes

    de cana-de-acar, e depois de caf, e as fazendas criao de gado, foramos primeiros empreendimentos econmicos em terras brasileiras, e athoje marcam nossa paisagem regional.

    Apesar da abundncia de terras, a propriedade privada fundiriatrouxe a monopolizao do acesso s terras, excluindo os brasileiros pobres.No restava a esses gentis cidados outra alternativa a no ser trabalhar a troco de nada nas fazendas dos senhores de terra. Para completar atragdia, o poder pblico esqueceu-se desses brasileiros por sculos, lhes

    negando-lhes at mesmo o direito fundamental da alfabetizao e doatendimento mdico bsico.O campo sem gente se modernizou a tal velocidade e de tal forma que

    hoje nosso pas defende a completa liberalizao dos mercados agrcolasmundiais, contrariando abertamente o interesse dos pases ricos, queteimam em proteger seus pequenos agricultores (principalmente nocaso europeu) contra o avano da mecanizao. Assim, quando o assunto mercado agrcola, parece que os papis nacionais esto invertidos naRodada de Doha, promovida pela Organizao Mundial do Comrcio(OMC).

    Mas voc j parou para se perguntar onde esto os brasileirosfamlicos se o campo est cada vez mais esvaziado? O espetacular crescimento das taxas de urbanizao brasileira nas ltimas dcadasfornece importante pista a respeito. O xodo rural fez as cidadesincharem e criou o vergonhoso processo de favelamento na sociedadebrasileira. Hoje, a misria do campo encontra a nova misria gerada nasprprias urbes, j que a industrializao tardia (e, por isso, j com fbricas

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    automatizadas) no gerou empregos suficientes, jogando grande parcelada populao em atividades informais e ilegais. Novamente, o egosmodo Primeiro Mundo busca transparece nos mecanismos de proteo de

    suas sociedades contra a entrada de novos imigrantes provenientes doTerceiro Mundo.Procure na Plataforma Moodle o significado dos seguintes verbetes,

    que foram baseados no Dicionrio de Poltica , de Norberto Bobbio, e noDicionrio do Pensamento Marxista , de Tomas Bottmore:

    Modernizao

    Monoplio

    Liberalizao

    Primeiro Mundo

    Terceiro Mundo

    Rodada de Doha

    Mais-Valia

    SEO 1A TRANSIO DA gEOgRAfIA INDUSTRIAL pARAA pS-INDUSTRIAL

    Por todo o sculo XIX e primeira metade do XX, a fbrica era oelemento central da organizao do sistema capitalista. A formao damais-valia ocorria atravs da explorao do trabalhador no interior doprocesso industrial. O filme Tempos Modernos , de Charles Chaplin, ilustrabem essa situao ao demonstrar a explorao do trabalho na grandeindstria (Ver trecho do filme na Plataforma Moodle).

    As indstrias daquele perodo eram empreendimentos individuais,isto , propriedade de familiares (hoje as fbricas so organizadas emsociedades annimas, cuja propriedade pertence a diversos acionistas).Eram tambm empreendimentos organizados na escala nacional (hojeso organizadas em escala multinacional).

    no transcurso do sculo XX que se consolidam por todos osdomnios econmicos os elos sociais de produo em detrimento de

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    qualquer empresa ou tarefa individual (AUED, 1999). As fbricas passama funcionar interconectas a outras fbricas, e todo esse sistema produtivorepresenta apenas uma parte da realizao da mais-valia. Em outras

    palavras, a acumulao de capital avanou para alm do universo fabril.David Harvey (1993, p. 266) elaborou o conceito de regime deacumulao flexvel para tentar dar sentido terico enorme gama deformas de extrao de mais-valia da atualidade:

    Surgem novos conjuntos industriais, por vezesa partir do quase nada (como os vrios vales eplancies do silcio), mas com mais frequnciaa partir de alguma mistura preexistente dehabilidades e recursos. A Terceira Itlia(Emilia-Romagna) se baseia numa mistura

    particular de empreendimentismo corporativo,trabalho artesanal e administraes comunistaslocais ansiosas por gerar empregos, e insereseus produtos de vesturio, com incrvel sucesso,numa economia mundial altamente competitiva.Flanders atrai capital externo com base numa ofertade trabalho dispersa, flexvel e razoavelmentehabilidosa, profundamente hostil ao sindicalismoe ao socialismo. Los Angeles importa os sistemaspatriarcais de trabalho altamente bem-sucedidosdo sudeste asitico por meio da imigrao emmassa, enquanto o celebrado sistema paternalistade controle do trabalho dos japoneses e de Taiwan importado pela Califrnia e pelo sul do Pas deGales. uma histria diferente em cada caso, oque d a impresso de que a peculiaridade destaou daquela circunstncia geogrfica importamuito mais que antes. Contudo, ironicamente,isso s ocorre por causa da queda de barreirasespaciais.

    A globalizao significa que, assim como as empresas, os lugarestambm acabam obrigados a disputar uns com os outros a melhor inseroprodutiva possvel (ou aquela que seus dirigentes julgam ser a maisinteressante). Assim, as municipalidades e governos estaduais oferecemisenes de tributos e doam infraestrutura logstica para atrair as grandesempresas. Tambm, cada vez mais frequentemente, os governos locaisse esforam na implementao de polticas de formao de um meiotcnico-cientfico-informacional adequado para essas empresas e para agerao de inovaes tecnolgicas aplicveis ao sistema produtivo.

    O gegrafo Milton Santos chamava tais espaos de territriosinteligentes que, dotados de sistemas tecnocientficos mais modernos,

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    servem de suporte atuao globalizada das grandes corporaesempresariais. Esses espaos so formados por infra-estrutura detelecomunicaes (infovias e teleportos), computadores de grande

    capacidade, servios especializados, etc., tudo para permitir a competioempresarial no ambiente da economia globalizada.Nessa estratgia territorial, as universidades, centros de pesquisa,

    incubadoras de empresas e polos tecnolgicos se tornam elementoscentrais para disseminar o conhecimento exclusivamente voltado ao setor produtivo. O elevado contedo tcnico, cientfico e informacional doslugares tambm representa novas possibilidades de extrao de mais-valia de trabalhadores que no apenas operrios. Afinal, cada vez mais,o trabalho excedente de tcnicos, cientistas e fazedores de informaocompe a mais-valia global (SANTOS, 1997a). Alis, fenmeno que, aolado do processo de esvaziamento das fbricas, explica o menor pesopoltico do movimento operrio na atualidade.

    SEO 2A NOvA gEOgRAfIA AgRRIA

    J foi mencionado no incio desta Unidade que o campobrasileiro nasce moderno e vinculado s demandas do mercado mundial(mercantilismo europeu), e que o precoce cercamento dos campos(propriedade privada) est na raiz do esvaziamento demogrfico do meiorural.

    Muito j foi discutido se havia relaes sociais feudais ou modo

    A partir da Plataforma Moodle, voc pode navegar por stios de incubadorastecnolgicas de alguns municpios brasileiros. o caso da incubadora tecnolgicade Porto Alegre (http://www.tecnopole.palegre.com.br/), localizada no Distrito daRestinga. A municipalidade deseja transformar a realidade do bairro pobre atravsde empresas baseadas no desenvolvimento tcnico-cient co.

    Tambm interessante que voc conhea a experincia do centro debiotecnologia inaugurado pelo governo federal em plena Amaznia. Vamos ver se ocontingenciamento de recursos federais no acaba prejudicando o projeto, vital parautilizarmos os recursos da oresta amaznica.

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    de produo escravista no Brasil colonial-imperial. Na obra O PovoBrasileiro, Darcy Ribeiro (1995) destaca que no existe luta de classesna histria dos trpicos, e que esta uma situao social vlida apenas

    para o contexto europeu. Jacob Gorender tambm defende que havia ummodo de produo escravista colonial.Ora, se o pagamento de juros j estava contido na produo

    canavieira, e depois cafeeira, colonial-imperial (a compra de escravos eraviabilizada por financiamentos de investidores europeus), a questo doassalariamento menor para determinar se estvamos diante de relaescapitalistas no campo brasileiro naquele perodo histrico. O escravobrasileiro era to-somente um investimento em capital fixo para o senhor de terra, e isto no tem nada a ver com modo de produo escravista, capitalismo puro. (FIGUEIRA & MENDES, 1977).

    O produto da monopolizao das terras por uma reduzida eliteeconmica foi a precoce gerao de misria no campo brasileiro; afinal, apopulao rural no tinha outra opo seno produzir mercadorias paraos proprietrios de terras, vivendo de favor em ranchos no interior dolatifndio (da essas relaes serem confundidas com feudalismo).

    Hoje essa discusso intelectual nos parece cada vez mais estranha,ainda mais que acompanhamos ano a ano sucessivos recordes de produo

    agrcola estimulados pelo crescimento da oferta de crdito bancrio. Foiassim com as exportaes de soja, primeiro no Sul do Brasil, e depoisno Centro-Oeste. Na dcada de 1970, a produo de soja ainda estavapraticamente confinada ao Rio Grande do Sul, mas passados 20 anos jestava circundando a floresta amaznica. E assim se anuncia agora paraas lavouras de cana em So Paulo e no cerrado do Centro-Oeste, voltadaquase exclusivamente para a gerao de etanol.

    No Sul do Brasil, parte significativa do crdito rural foi orientada

    para cooperativas de agricultores, que passaram a produzir soja e trigo(cultura de inverno). Situao similar ocorreu com a criao de frango,que rapidamente conquistou mercados mundiais, cujas agroindstrias(Sadia, Perdigo, Doux-Frangosul) puderam economizar custos commo-de-obra ao terceirizarem a produo (os contratos integrados comos pequenos proprietrios familiares).

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    Legenda: Estmulos governamentais (poltica de crdito) viabilizam a produo

    das indstrias de tratores e implementos agrcolas modernos.

    A partir da dcada de 1970, a expanso do crdito agrcola e achegada de importantes agroindstrias de capital externo costumamser lembradas por seu papel na implantao da chamada Revoluo Verde no Brasil, que trouxe espetacular aumento da produtividadeagrcola atravs do uso intensivo de adubos qumicos e da mecanizao.Mas desde as primeiras dcadas do sculo XX, as lavouras de arroz dopampa gacho experimentaram vultosos investimentos em irrigao e

    mecanizao, mostrando que mesmo a tcnica moderna chegou ao campobrasileiro bem antes do que parece.

    De qualquer forma, os altos valores envolvidos no financiamento daproduo agrcola moderna exigem cada vez mais a expanso do crditopblico e privado. Investir no campo no mais um negcio para ospequenos produtores, salvo se tambm forem capazes de mobilizar forapoltica para obterem acesso ao crdito pblico.

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    Seo 1Na Plataforma Moodle, voc vai encontrar mapas com as principais culturas agrcolas do Brasil. Procureidenti car os padres espaciais principais para cada cultura e o padro geral da agricultura brasileira.Com base nas informaes obtidas, elabore um texto de uma lauda (20 linhas) sobre a espacialidadeda agricultura brasileira.

    Seo 2Escolha um dos endereos eletrnicos das grandes corporaes do setor agroindustrial disponibilizadosna Plataforma Moodle. Procure mapear a logstica utilizada por esse grupo (de produo, processamentoe/ou escoamento) e descreva seu interesse no territrio nacional.

    Nesta Unidade, voc percebeu a importncia das inovaes tecnolgicas e da automao doprocesso industrial na transformao dos espaos urbanos e na reestruturao da sociedade. Talvezagora que mais fcil entender o apelo do conceito de sociedade ps-industrial.

    Outra noo da cincia geogr ca pode agora tambm ser melhor compreendida: o movimentode Territorializao - Desterritorializao Reterritorializao (TDR). Com efeito, o chamado estgiode acumulao capitalista exvel exige a contnua destruio das formas produtivo-territoriais paraa a rmao de outras formas, estas mais condizentes com os novos sistemas tcnicos criados (e osnovos patamares de lucro projetados no sistema capitalista).

    O complexo mosaico de paisagens produtivas urbanas e agrrias aparece uni cado pelofato de elas se inserirem na dinmica do capital nanceiro (o capital produtor de juros). A geogra ada globalizao integra todas as foras produtivas em escala mundial, ainda que rea rmando asdesigualdades territoriais e sociais.

    A insero do Brasil na economia-mundo sempre foi atravs da exportao de commodities(produtos agrcolas ou minerais de baixo valor agregado), amparadas em nossas vantagenscomparativas de solo e clima. Os investimentos pblicos e privados atuais no meio rural visam to-somente atualizao da tecnologia e da logstica necessria ao desenvolvimento das atividadesagrcolas. Como lembra o professor Milton Santos, no campo que as modernizaes econmicasse fazem mais aceleradas, justamente porque a destruio de capital xo sempre menor quandocomparada aos investimentos nas formas urbanas.

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    ObjetivOs De aPRenDiZaGemCompreender o uso da teoria de redes na Geografia.

    Caracterizar as novas redes tcnicas do sistema financeiro.

    Caracterizar as novas redes logsticas.

    ROteiRO De estUDOs

    SEO 1 - A geografia das finan as globais e a teoria de redes

    SEO 2 - As modernas infraestruturas territoriais

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    Edu Silvestre de AlbuquerqueLeonel Brizolla Monastirsky

    As no as redes doer odo tcnico-cient ico-in or acional

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    pARA INCIO DE CONvERSA

    Conforme voc viu nas Unidades anteriores, o capital financeiro estno centro do processo de acumulao capitalista e representa o principalvetor estruturante da economia-mundo, denotando tambm a causaprimeira da criao-destrutiva das formas produtivas territoriais. Pode-sedizer, sem exagero, que o capital financeiro o principal responsvel por redesenhar sucessivamente a geografia planetria.

    Nessa perspectiva, o meio tcnico-cientfico-informacionalno passa de uma materializao (a conexo geogrfica) desse capital

    financeiro em busca de novas formas produtivas. Afinal, o meio logsticodas grandes corporaes empresariais envolve, cada vez mais, ambientesde pesquisa e desenvolvimento tcnico-cientfico.

    Para entender a nova realidade produtiva, a geografia precisouavanar para alm do usual conceito de territrio. No que este tenhase tornado obsoleto, mas sozinho torna-se insuficiente para entender omundo produzido pela acelerao dos fluxos em detrimento dos fixosgeogrficos. Assim, a teoria de redes emerge na cincia geogrfica

    justamente na tentativa de capturar o movimento dos fluxos financeiros(dos bancos e outros investidores), informacionais (como as redes detelecomunicaes) e de mercadorias (comrcio exterior).

    SEO 1A gEOgRAfIA DAS fINANASgLObAIS E A TEORIA DE REDES

    Se o sistema financeiro puro movimento, como captar atravs da

    geografia essa nova realidade do mundo?O processo de reestruturao econmica e territorial que levou

    formao da economia-mundo atual foi e feito atravs de volumesde financiamento inditos na histria. Os Estados tiveram que

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    desregulamentar os mercados financeiros nacionais para permitir a maior fluidez desses fluxos financeiros (Ver caixa de texto A geopoltica dasfinanas globais).

    Atravs da criao de mercados financeiros globais, da interligao

    das bolsas de valores locais e da extenso do poder do sistema de crdito(baseado em umas poucas moedas), a idia de economia-mundo estbastante prxima de realizar-se por completo. Os bancos so apenas umadas dimenses a mais visvel do sistema financeiro globalizado, masos fundos de penso (fundos de previdncia privada) e outros clubesde investimentos tambm j respondem por importantes fatias dosinvestimentos internacionais.

    A partir da liberalizao do mercado de capitais, o processo de

    globalizao intensificou-se numa escala nunca antes vista. Nemmesmo a economia norte-americana est a salvo dos acontecimentosem outras partes do mundo, embora sejam os pases subdesenvolvidosos mais vulnerveis a crises financeiras (quando o movimento de sadade dlares supera o de entrada a ponto de comprometer sua balana depagamentos). A balana de pagamento uma espcie de caixa do pas,e que, de forma semelhante ao de uma empresa privada, no pode operar por longo perodo no terreno do vermelho. A balana de pagamentos

    A geopoltica das finanas globais

    Os Estados Unidos, durante o governo Ronald Reagan(1980-88), foram o pioneiro na abertura de seu mercadofinanceiro para receber investimentos estrangeiros. A estratgia foi repatriar os eurodlares e petrodlares,isto , parte do dlares acumulados nas reservas de pases daEuropa e Oriente Mdio, respectivamente.

    Na dcada seguinte, esse modelo de remoo dasamarras nacionais livre circulao de capitais estrangeirosfoi copiado por governos de todos os continentes, iniciandopela Inglaterra de Margareth Tatcher (conhecida como adama de ferro), e depois, tambm pela periferia mundial.No Brasil, a liberalizao do mercado financeiro ocorreudurante o governo Fernando Collor, que mais tarde sofreu umprocesso de impeachment por indcios de corrupo polticaligados ao financiamento da campanha eleitoral.

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    inclui o comrcio exterior, o investimento estrangeiro direto, a remessa delucros das multinacionais, o pagamento de juros da dvida externa, etc.

    O aumento da liquidez do sistema econmico permitiu nova expanso

    das transnacionais e do comrcio internacional, mas tambm tornou aseconomias nacionais mais dependentes dos fluxos financeiros. Apesar do Fundo Monetrio Internacional (FMI) ter sido criado especialmentepara socorrer pases em dificuldades financeiras, muitas vezes a aoreguladora dessa instituio tem se mostrado insuficiente em perodosde crise aguda.

    Mas por que os temores quanto a crises financeiras internacionaisse ampliaram? Quando uma crise financeira eclode num determinadopas, os investidores podem deslocar suas aplicaes para outro mercadoonde o risco de perdas parece ser menor. Mas quando nenhum lugar parece seguro, ento a crise se torna global.

    At 2008, as crises financeiras tinham ficado restritas a determinadospases ou regies (o efeito contgio). Por isso, acabavam recebendo umnome associado ao pas em que se iniciou, como no caso do chamadoefeito tequila, crise financeira que atingiu o Mxico (1995) e que causouespecial temor na Amrica Latina. Crises financeiras graves tambm sesucederam na Coria do Sul (1998), Rssia (1998) e Argentina (2001),

    apenas para citar alguns casos famosos. A vulnerabilidade financeira de determinados pases tanto maior

    quanto o volume de capitais especulativos de curto prazo em seu sistemafinanceiro. O capital especulativo forma a maior parte do dinheiro quecircula freneticamente nas bolsas de valores de todo o mundo, tambmchamado de capital voltil ou dinheiro quente ( hot money ). Mas nospases subdesenvolvidos esse capital majoritariamente de curto prazo,portanto, mais suscetvel fuga de capital em massa. Por essa razo,

    pases como o Brasil so obrigados a lanar ttulos pblicos no mercadointernacional com taxas de juros maiores, pois os investidores potenciaisesperam lucros mais altos para cobrir riscos de perda.

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    Legenda: A montanha-russa das crises econmicas capitalistas

    Como deter a fuga de capitais? O retorno regulamentao financeiranacional situao que parece improvvel diante da dimenso mundialalcanada pela economia. O caminho ento seria uma reengenharia para omercado financeiro global. nesse sentido que alguns governos de pasessubdesenvolvidos e organizaes internacionais no-governamentais

    - como a Associao para a Taxao das Transaes Financeiras para a Ajuda aos Cidados (Attac) - defendem a adoo de um tributo sobre asoperaes financeiras globais, destinado ao combate da fome no mundo(tambm chamada de tarifa Tobin, em homenagem ao norte-americanoganhador do prmio Nobel de economia).

    Mas, voltando nossa questo inicial: como a cincia geogrficapode mapear os fluxos financeiros internacionais medida em que seumovimento no mais est confinado ao territrio nacional? O conceitode redes emerge para tentar solucionar a questo, propondo obter umregistro o mais fiel possvel dos movimentos do capital financeiro.

    Sendo o capital financeiro, e no mais as fbricas, quem comandao processo de acumulao de capital, os processos criativo-destrutivosoperados pelo capital tendem a se acelerar (e da mesma forma o movimentode desterritorializao-reterritorializao). Da que a teoria de redesdemonstra a dinmica do sistema financeiro atual, em que os pases elugares (os pontos da rede) esto sujeitos s determinaes desses fluxosfinanceiros globais.

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    SEO 2AS mODERNAS INfRAESTRUTURATERRITORIAIS

    O padro altamente tecnolgico do capitalismo moderno exigenveis de financiamento inditos, em muito superiores s possibilidadesde um nico empreendedor capitalista. A construo desse novo meiogeogrfico, mais denso em tcnica e informao, corresponde s novasnecessidades logsticas das grandes corporaes empresariais paraa competio intercapitalista. Na dimenso da economia-mundo, oscircuitos espaciais de produo e crculos de cooperao (SANTOS,1994; 1996) formam escalas produtivo-territoriais bem mais amplasque aquelas das tradicionais solidariedades produtivas em base local eregional.

    Nem sempre os bancos privados podem ou esto dispostos a fornecer os capitais necessrios para tal expanso empresarial e infraestrutural.O Estado aparece ento enquanto centralizador de capitais atravs daconstituio de fundos pblicos, formados por impostos e emprstimosdo capital financeiro.

    Outras vezes ainda o Estado chamado a atuar como agente regulador do mercado. Por exemplo, quando o governo brasileiro desregulamentouos servios de telefonia para permitir a entrada de capitais externos naprivatizao do setor, reservando ao poder pblico apenas a tarefa defiscalizao atravs de uma agncia reguladora especfica. Portanto, cadanova realizao da mstica da (re)criao da mquina produtiva nacionalexige dos planejadores a viabilizao de uma intromisso rpida e brutaldo grande capital, seja ele pblico ou privado. (SANTOS, 2003, p.13).

    Navegue pelo stio www.attac.org/(clicar em Attac em el mundo e depois emBrasil). O acesso pode ser a partir da Plataforma Moodle.

    Leia a obraPor uma outra globalizao , de Milton Santos (Editora Record). O autor aborda a globalizao enquanto projeto hegemnico, encerrando perversidades

    que precisam ser enfrentadas pela sociedade.

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    A matriz energtica

    A logstica empresarial no se restringe a estruturas de armazenagem

    ou infraestrutura de circulao (ferrovias, rodovias, portos). Odesenvolvimento da economia urbano-industrial est intimamente ligadotambm matriz energtica. Esta depende no s das necessidades deconsumo e das disponibilidades de reservas naturais de cada pas, masprincipalmente do volume de capital que pode ser acessado para essefim.

    O sistema de gerao de energia eltrica brasileiro est assentadoprincipalmente na fora hidrulica, com as demais fontes de energiausadas em carter complementar, como nas termoeltricas a carvomineral, gs liquefeito de petrleo (GLP), petrleo ou energia nuclear. As fontes alternativas, como a solar e a energia elica, so ainda poucoexploradas. A hidroeletricidade apresenta menor custo que outras fontescomo petrleo e energia nuclear, constituindo-se numa importantevantagem competitiva do parque industrial brasileiro.

    Mas para movimentar a frota automobilstica nacional aindadependemos enormemente do petrleo, em que pese o avano do etanol(lcool) e biodiesel. O etanol j responde por metade do consumo nospostos de gasolina do pas.

    Os Estados Unidos so o maior importador de energia do planeta,ainda que tambm apaream como grande produtor. O consumo per capita do equivalente de petrleo de um cidado norte-americano mais de 1.000 vezes superior ao de um somali. Tambm os pases maisindustrializados da Europa Ocidental (Inglaterra, Alemanha, Frana eItlia) e da sia (Japo, Coria do Sul, China e ndia) consomem muitomais energia do que produzem. Diante da reduo brutal das novas

    descobertas de jazidas de petrleo, os Estados Unidos e outros pasesdesenvolvidos comeam a investir em fontes alternativas de energia, casodo etanol. Os investimentos no setor canavieiro e em usinas de lcoolexplodiram no Brasil em virtude dessas expectativas.

    No sculo XIX, o carvo representou o combustvel da PrimeiraRevoluo Industrial, pois era o combustvel dos motores a vapor queimpulsionava trens e navios. A partir do sculo XX, o petrleo tomou olugar do carvo mineral e catapultou a Segunda Revoluo Industrial.

  • 8/8/2019 Geografia_economica_2 diagramado

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    U n

    i v e r s

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    d e A b e r t a

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    B r a s i

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    8DADE 4

    Ainda hoje, o mundo depende do petrleo e seus derivados (diesel equerosene de aviao) nos transportes, mas tambm na construocivil (betume), nas indstrias de plsticos, de fertilizantes e de borracha

    (ligadas ao complexo petroqumico). A indstria do petrleo movimenta trilhes de dlares nodesenvolvimento de infra-estruturas de pesquisa, prospeco,armazenagem, refino e distribuio. Os investimentos em pesquisas denovas jazidas so de alto risco (fator alegado para a quebra do monopliodo petrleo no Brasil). A montagem das torres e das plataformas deextrao de petrleo tambm no nada barata, assim como o transportepor meio de superpetroleiros e de extensos gasodutos e oleodutos; masgeram grande nmero de empregos (felizmente a Petrobras passou agoraa investir na indstria da construo naval brasileira). Da mesma forma,o refino do petrleo exige alguns bilhes de dlares para a obteno dosderivados como gasolina e nafta (a matria-prima mais importante dospolos petroqumicos), e vrios bilhes de dlares a mais para a instalaodos complexos petroqumicos, que concentram as plantas industriaisfornecedoras de matrias-primas (obtidas a partir de processos de quebrada molcula do petrleo) para diversas indstrias.

    Tanto a opulncia de cidades como Dubai (Emirados rabes) quanto

    a retomada do crescimento econmico de pases como Rssia, Venezuelae Nigria deve-se fundamentalmente explorao de suas riquezaspetrolferas. O petrleo e o gs correspondem a mais de 60% do consumomundial de energia, impulsionando a economi