FONTES ENERGÉTICAS PARA O SÉCULO XXI

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1 FONTES ENERGÉTICAS PARA O SÉCULO XXI OS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS E O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL NO SÉCULO XX O século XX foi marcado pelo uso intenso dos chamados combustíveis fósseis 1 , principalmente carvão mineral, petróleo e gás natural. O carvão mineral foi o combustível que alimentou as máquinas a vapor que deram sustentação à primeira revolução industrial em meados do século XVIII e, até hoje, é muito utilizado para manter o desenvolvimento industrial de muitas nações, principalmente a China. O petróleo, conhecido desde a antiguidade, começou a ser explorado comercialmente, a partir de 1859, com a perfuração do primeiro poço pelo americano Willian Drake na Pensilvânia, EUA. Tem um papel importante no cenário energético desde a segunda revolução industrial, juntamente com a eletricidade que engatinhava no final do século XIX, quando os motores à combustão interna começaram a ser desenvolvidos. A partir da segunda metade do século XX, passou a ser o recurso energético mais utilizado por muitos países, fundamentalmente os Estados Unidos. Porém, com os dois choques do petróleo em 1973 e 1979, o mundo começou a buscar novas fontes de energia; é dessa época, por exemplo, o programa do pró-álcool brasileiro. O gás natural, por sua vez, é extraído de reservas que, geralmente, também contêm petróleo, sendo o menos poluente dos três. O que chamamos de gás natural é, na verdade, uma mistura de gases, cujo principal componente é o metano, muito utilizado em usinas termelétricas a gás; no Brasil, por exemplo, essas usinas são ligadas para fornecer energia elétrica sempre que os reservatórios das hidrelétricas têm o seu volume de água diminuído em determinadas épocas do ano. Portanto, os combustíveis fósseis tiveram, têm e ainda terão um papel importante no desenvolvimento econômico, industrial e social da humanidade. Porém, não podemos mais continuar com um modelo de desenvolvimento baseado nesse tipo de combustível, 1 A teoria mais aceita é aquela em que os combustíveis fósseis teriam sido formados há milhões de anos por soterramento de vegetais e pequenos animais submetidos a um ambiente de altas pressões e temperaturas. Contêm grande quantidade de carbono que é lançado na atmosfera nas mais variadas formas quando queimados para a geração de energia, ou seja, há emissão, em nossa atmosfera, de átomos de carbono que estavam enterrados há milhões de anos.

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Esse artigo discute as atuais e futuras fontes de energia para o mundo no século XXI.

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FONTES ENERGÉTICAS PARA O SÉCULO XXI

OS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS E O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL NO

SÉCULO XX

O século XX foi marcado pelo uso intenso dos chamados combustíveis fósseis1, principalmente

carvão mineral, petróleo e gás natural. O carvão mineral foi o combustível que alimentou as

máquinas a vapor que deram sustentação à primeira revolução

industrial em meados do século XVIII e, até hoje, é muito utilizado

para manter o desenvolvimento industrial de muitas nações,

principalmente a China.

O petróleo, conhecido desde a antiguidade, começou a ser explorado

comercialmente, a partir de 1859, com a perfuração do primeiro

poço pelo americano Willian Drake na Pensilvânia, EUA. Tem um papel importante no cenário

energético desde a segunda revolução industrial, juntamente com a eletricidade que engatinhava

no final do século XIX, quando os motores à combustão interna começaram a ser desenvolvidos.

A partir da segunda metade do século XX, passou a ser o recurso energético mais utilizado por

muitos países, fundamentalmente os Estados Unidos. Porém, com os dois choques do petróleo

em 1973 e 1979, o mundo começou a buscar novas fontes de energia; é dessa época, por

exemplo, o programa do pró-álcool brasileiro.

O gás natural, por sua vez, é extraído de reservas que, geralmente, também contêm petróleo,

sendo o menos poluente dos três. O que chamamos de gás natural é, na verdade, uma mistura de

gases, cujo principal componente é o metano, muito utilizado em usinas termelétricas a gás; no

Brasil, por exemplo, essas usinas são ligadas para fornecer energia elétrica sempre que os

reservatórios das hidrelétricas têm o seu volume de água diminuído em determinadas épocas do

ano.

Portanto, os combustíveis fósseis tiveram, têm e ainda terão um papel importante no

desenvolvimento econômico, industrial e social da humanidade. Porém, não podemos mais

continuar com um modelo de desenvolvimento baseado nesse tipo de combustível,

1 A teoria mais aceita é aquela em que os combustíveis fósseis teriam sido formados há milhões de anos por soterramento de

vegetais e pequenos animais submetidos a um ambiente de altas pressões e temperaturas. Contêm grande quantidade de carbono

que é lançado na atmosfera nas mais variadas formas quando queimados para a geração de energia, ou seja, há emissão, em nossa

atmosfera, de átomos de carbono que estavam enterrados há milhões de anos.

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essencialmente por dois motivos: o aumento da concentração de gases de efeito estufa2 (GEE) na

atmosfera, como consequência de sua queima, e o inevitável esgotamento de suas reservas.

TODO CO2 EMITIDO PARA A ATMOSFERA, POR QUALQUER FONTE

ENERGÉTICA, CONTRIBUI PARA O AUMENTO EFETIVO DA INTENSIDADE DO

EFEITO ESTUFA?

A forma gasosa mais conhecida e problemática com relação a esse aumento da intensidade do

efeito estufa é a molécula de gás carbônico, CO2, conhecido, portanto, como um GEE. Mas,

vamos pensar agora em uma questão bem

interessante: todo CO2 emitido para a atmosfera,

por qualquer fonte energética, contribui para o

aumento efetivo da intensidade do efeito estufa?

De maneira simples, podemos entender melhor

essa situação fazendo uma comparação entre dois

combustíveis, um fóssil (gasolina, derivada do

petróleo) e outro renovável3 (etanol, derivado da biomassa

4): quando queimados para produzir

energia, ambos emitem gás carbônico para a atmosfera, além de outros produtos; porém, o CO2

emitido pelo etanol foi, anteriormente, absorvido pela biomassa usada na sua produção, no

processo de fotossíntese.

Portanto ele foi “neutralizado”, diferentemente do caso da gasolina, onde o CO2 emitido contém

átomos de carbono que foram retirados da atmosfera há milhões de anos, ou seja, agora, estamos

realmente aumentando a quantidade de CO2 em relação à quantidade naturalmente presente no

meio ambiente provocando um desequilíbrio ambiental.

2 O efeito estufa é um fenômeno natural. Consiste na retenção de calor (radiação infravermelha) provocada por alguns gases que

se localizam na troposfera (camada mais baixa da atmosfera).

3 As fontes energéticas renováveis são aquelas que podem ser obtidas em um intervalo de tempo compatível com a existência

humana (dias, semanas, meses, anos), diferentemente das não renováveis que estão disponíveis para a extração e consumo após

milhões de anos.

4 Insumo animal ou vegetal utilizado para a produção de combustível renovável.

5 Elevação, não natural, da temperatura média da Terra.

6Alterações climáticas, tais como: elevação do nível das marés; degelo das calotas polares e acidificação dos oceanos.

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Muitos cientistas ao redor do mundo atribuem ao aumento da concentração dos GEE na

atmosfera a culpa pelo que chamamos de aquecimento global5, que gera, como consequência, as

mudanças climáticas6.

AS QUESTÕES AMBIENTAIS

Começamos a nos preocupar com os problemas ambientais de modo mais ativo, principalmente

com relação aos combustíveis fósseis, nos anos 1970, quando ocorreu a conferência de

Estocolmo na Suécia em 1972. A partir dessa data, muitas conferências internacionais sobre o

clima aconteceram, com destaque, por sua importância com relação aos acordos firmados pelas

nações participantes, para a Rio 92 no Rio de Janeiro em 1992. Agora, em junho, foi realizada,

no Brasil, a Rio + 20.

Uma das discussões mais importantes dessa conferência sobre sustentabilidade, sob o slogan

“The future we want” (O futuro que queremos), sem dúvida, deveria ter sido a questão

energética. Essa discussão, assim como outras de grande importância, não tiveram o devido

aprofundamento, principalmente, por causa da grave crise econômica europeia. Para reforçar a

importância da questão energética para a humanidade, a ONU (Organização das Nações Unidas)

escolheu o ano de 2012 como o “Ano da Energia Sustentável para Todos”.

ENERGIAS RENOVÁVEIS: SOLUÇÃO PARA A MATRIZ ENERGÉTICA7

MUNDIAL?

Temos, portanto, que nos preocupar em desenvolver e aperfeiçoar novas formas de obtenção de

energia, que sejam renováveis e menos poluentes, principalmente quando comparadas com os

combustíveis fósseis. Atualmente, existem várias opções renováveis com maior ou menor grau

de desenvolvimento tecnológico.

As mais promissoras são a energia eólica, a solar e a obtida a partir da biomassa, além da

renovável, porém já tradicional e com tecnologia bem desenvolvida, energia hidráulica. Não

muito comentado no momento, o hidrogênio é um combustível extremamente interessante,

principalmente por poder ser obtido a partir de várias fontes diferentes, como, por exemplo, o

etanol, o gás metano e a água. Podemos, ainda, citar a polêmica energia nuclear que, embora não

seja renovável, pois utiliza urânio como combustível, deve continuar com sua participação na

matriz energética mundial.

7 Matriz energética pode ser definida como um conjunto de fontes energéticas.

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Devemos ter em mente que, em boa parte desse século, ainda haverá a convivência entre as

energias renováveis e não renováveis, sendo desejável um aumento da participação das fontes

renováveis a cada ano.

Com relação a isso, observamos na matriz energética mundial atual uma participação de apenas,

cerca de, 13% de renováveis. O Brasil, pelo contrário, é um dos países de matriz energética mais

renovável e limpa do mundo com participação de, aproximadamente, 50% desse tipo de fonte.

As fontes de energia renováveis são importantes e necessárias, mas há uma característica,

comum a todas elas, com a qual se deve ter muita atenção ao se fazer um planejamento

energético: elas dependem da natureza.

As usinas hidrelétricas, por exemplo, dependem do regime de chuvas para encher os seus

reservatórios8. E se ocorrer um período grande de estiagem na região onde está instalada essa

usina, o que se deve fazer?

Por sua vez, as usinas eólicas dependem dos ventos. O que fazer

quando eles não forem suficientemente velozes para girar suas

turbinas? Também há os casos das células fotovoltaicas e do sistema

solar térmico que dependem do sol. E se ficar nublado muito tempo, o

que será da energia solar?

Já os biocombustíveis dependem das condições climáticas de plantio.

E se a safra de uma determinada cultura utilizada para a produção de um biocombustível ou do

etanol estiver comprometida por um determinado período?

Além disso, existem muitas outras questões que devem ser estudas: alguns biocombustíveis

competem com a produção de alimentos; para se construir painéis fotovoltaicos utilizam-se

combustíveis fósseis; as usinas eólicas fazem barulho e podem lesar pássaros migratórios; a

construção de usinas hidrelétricas causa grande impacto ambiental e social.

Portanto, ao se fazer um planejamento energético, não se deve pensar apenas em um ou outro

aspecto, deve-se pensar o todo. Não há como, na atualidade, gerar toda a energia necessária para

o consumo de um país apenas com fontes renováveis.

Não se descobriu, até agora, como gerar energia sem causar algum tipo de impacto, mesmo no

caso das renováveis. Então, em um futuro próximo, ainda no século XXI, com mais pesquisa,

estudo, tecnologia e eficiência energética, talvez consigamos chegar a um mundo mais

sustentável9 e menos poluído, mas com energia para todos, porque sem ela, não haverá

desenvolvimento e inclusão social e econômica, necessária para tanta gente em nosso planeta.

8 Existem as chamadas usinas a fio d’água que dependem muito mais do curso do rio, pois têm reservatórios muito pequenos.

9 Desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as necessidades das gerações atuais sem prejudicar a

capacidade das gerações futuras de satisfazer as suas necessidades.