Ética e Responsabilidade Socioambiental

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    P227 Pereira, Carmem Jlia Skrepnek, - ,

    tica e responsabilidade socioambiental / Carmem JliaSkrepnek Pereira. Rio de Janeiro:

    Grupo Ibmec Educacional, 2013.

    116p.; 20x26 cm

    Inclui bibliografia

    1. tica. 2. tica - histria. 3. Cdigo de tica.4. Responsabilidade socioambiental. I. Ttulo. II. IBMEC online.

    CDD 363.7

    Grupo Ibmec Educacional

    1 Edio - 2013

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    Sumrio

    ABERTURA DA DISCIPLINACarta ao Aluno 05

    Currculo resumido do professor-autor 06

    Introduo 07

    Objetivos 08

    Diretrizes Pedaggicas 08

    MDULO I: ticaUnidade 1 Conceitos: tica e moral 13

    Unidade 2 tica, cultura, valores morais 18Unidade 3 tica na Filosofia Antiga 22

    Unidade 4 tica Contempornea 28

    Unidade 5 Valores morais nas organizaes 34

    Resumo 38

    MDULO II: O Cdigo de ticaUnidade 1 Espao do ser humano nas organizaes 43

    Unidade 2 Papel do indivduo nas organizaes 46

    Unidade 3 Cdigo de tica (profissional e das organizaes) 49

    Resumo 54

    MDULO III: Responsabilidade SocialUnidade 1 Responsabilidade social e cidadania: conceito 59

    Unidade 2 Responsabilidade social e educao 64

    Unidade 3 Responsabilidade social: entendendo a mudana histrica deseu conceito 69

    Unidade 4 Responsabilidade social: marketingou filantropia? 73

    Unidade 5 Pluralidade tnico-racial nas organizaes 76

    Unidade 6 Incluso social e diversidade nas organizaes 80

    Resumo 83

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    MDULO IV: Responsabilidade AmbientalUnidade 1 Responsabilidade Ambiental: conceito e histrico 89

    Unidade 2 Meio ambiente e desenvolvimento sustentvel 95

    Unidade 3 Comunidade e organizao visando ao desenvolvimento

    sustentvel 100

    Unidade 4 Principais indicadores e relatrios, alguns exemplos de responsabilidade e sustentabilidade 106

    Resumo 112

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 113

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    Caro(a) aluno(a),

    Voc inicia agora uma jornada por uma rea que envolve conhecimentos novos, abrangeo pensar sobre o mundo em que vivemos e provoca uma reflexo sobre si prprio e oseu papel neste mundo. Entender o que tica no algo simples, exige reflexo emuitas vezes nos faz questionar o caminho pelo qual estamos seguindo. Entretanto,mais do que apontar o que certo e o que errado, a conscincia tica se faz presentequando consideramos todos os aspectos que envolvem um dilema tico - sejam elesprofissionais ou pessoais. Portanto, ter conscincia sobre todas as consequncias dedeterminada ao e lev-las em considerao ao tomar atitudes o mais importante.

    Acreditamos que, no basta que os sujeitos saibam o que podem ou no fazer, necessrio sentir o que admissvel e o que no . Parece ser este o grande desafioapontado hoje para a sociedade, a fim de que possamos contribuir para que ela setorne moralmente melhor. Com o estudo desta disciplina, pretendemos, sobretudo,proporcionar uma sensibilidade voltada para os sentimentos humanos, para sentimentosmorais frente sociedade e principalmente s organizaes. No pretendemos, aqui,ensinar tica, mas sim proporcionar reflexes sobre esse assunto para que, a partirdele, voc possa compartilhar conhecimentos, experincias e ideias.

    Lembre-se de aproveitar ao mximo os recursos oferecidos no material didtico dadisciplina e as interaes que ter com seu professor on-line. Discuta com seus

    colegas os conceitos tratados em cada mdulo e tente conect-los sua realidade. Seuengajamento essencial para o seu sucesso nesta jornada, afinal, ter uma postura deestudante, e no apenas de aluno, um diferencial competitivo frente ao mercado detrabalho.

    Bons estudos!

    Equipe Ibmec Online

    Carta ao Aluno

    Abertura da Disciplina

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    Carmem Jlia Skrepnek Pereira psicopedagoga pela Unicamp (2011) e especialista emArte, Educao e Novas Tecnologias pela UNB (2006). Mestre em Ensino Superior pela PUC-

    Campinas (2003) com dissertao intitulada:A dimenso tica na formao de professores.Graduada em Pedagogia pela PUC-Campinas (2000). Experincia docente em cursos degraduao e ps-graduao em faculdades da regio de Campinas, como Uniesp e Proordem- Esamc. Palestrante na rea de educao e formao tica. Atualmente, Professora noscursos de Administrao, Pedagogia e Coordenadora Pedaggica da Faculdade Metrocamp(Grupo Ibmec).

    Currculo resumido da professora-autora

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    Presenciamos uma realidade marcada pela globalizao e pelos benefcios trazidos pelosavanos tecnolgicos e cientficos, mas tambm pelo avano do capitalismo sob o formato

    de Estado neoliberal, realidade que gera um agravamento da polarizao social e dasdesigualdades decorrentes. Temos, por um lado, o acmulo crescente e concentrado deriquezas e, por outro, uma multiplicao acelerada da misria econmica, social, culturale ambiental, fatores que acabam por gerar graves problemas sociais, como a violncia, odesemprego e a desagregao social - que se intensificaram a partir da metade do sculo XX.

    No sculo XXI, essas questes continuaram se agravando. Sinais desses desequilbriosso observados em situaes diversas, como o terror que se instala no ar com os avies-bomba; o terror econmico que se d pela especulao sobre o dlar em vsperas deeleio; o terror social presente no narcotrfico que d ordens ao comrcio da cidadedo Rio de Janeiro para fechar as portas e queima nibus, a atitude de um estudante queentra em uma escola e atira em seus colegas. Com tudo isso, alguns autores defendem

    que presenciamos uma crise civilizacional, que pe valores em xeque. Temos, assim, asensao de que todas as regras de boa convivncia esto sendo suprimidas e de que atica desapareceu.

    Caporali (2001) afirma que os ditos homens modernos acreditavam que o melhor caminhopara uma sociedade evoluir se daria pelo avano tecnolgico e cientfico, e que j nocaberia mais tica e moral fundamentar as expectativas para um mundo melhor. Issoprovocaria o desaparecimento, no mundo educacional contemporneo, das temticasligadas tica e formao moral. Somente diante do aparecimento de graves problemassociais, ou quando fica clara essa crise civilizacional da qual falamos, surgiria um resgateda tica como essencial para um mundo melhor.

    Acreditamos pertencer educao o papel fundamental de dar incio a esse resgate dos

    valores humanos, pois as instituies educacionais so ambientes de construo do serhumano. Para tanto, iniciaremos nossos estudos abordando os conceitos de tica e moral ea sua importncia na e para a sociedade como um todo. Em seguida, explicaremos os cdigosde tica, sua importncia e necessidade, tanto para sociedade e profissionais como para asorganizaes. Dando sequncia nossa disciplina, apresentaremos uma abordagem sobreo conceito de responsabilidade; primeiramente social, incluindo a questo da pluralidadetnica e da diversidade, e, para finalizar, a responsabilidade ambiental, sua relevncia nosdias de hoje e traos dos caminhos que percorremos e para onde caminhamos. Todosesses conceitos e questes que levantaremos permeiam tanto a sociedade contemporneacomo tambm as organizaes, que devem atender s demandas de um mercado cada vezmais competitivo e exigente por qualidade de vida.

    Introduo

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    Aps concluir o estudo da disciplina tica e Responsabilidade Socioambiental, voc sercapaz de:

    compreender o conceito de tica e relacion-lo com a autonomia profissional;

    desenvolver uma viso mais ampla sobre as questes especficas da tica;

    suscitar reflexes acerca da tica e suas relaes com a atual sociedade globalizada;

    aprofundar temas referentes tica e sua relao com o cdigo de tica profissionale organizacional;

    desenvolver uma viso sobre as questes especficas da tica profissional;

    compreender o conceito de tica e relacion-lo com conceito de responsabilidade

    social empresarial (RSE),fi

    nalidade das prticas de RSE aplicadas ao ambientecorporativo;

    suscitar reflexes acerca da tica e suas relaes com a atual sociedade globalizadaem seu contexto social, econmico e ambiental, discutindo-se a sustentabilidade ea responsabilidade social;

    desenvolver o senso de responsabilidade e a atitude crtica autnoma diante darealidade, visando autenticidade pessoal;

    compreender a gnese do conceito de responsabilidade social e ambiental.

    Tenha sempre em mente que voc o principal agente de sua aprendizagem!

    Para um estudo eficaz, siga estas dicas:

    organize o seu tempo e escolha os melhores dias e horrios para voc estudar

    uma boa sugesto montar um plano de estudos para voc. Embora a disciplinaseja on-line, estipule um ou dois horrios fixos para realizar esse estudo.

    consulte a Bibliografia e o material de apoio, caso tenha alguma dvida. releia o contedo sempre que achar necessrio.

    leia as indicaes de textos complementares, faa os exerccios de feedbackautomtico e participe dos fruns com o seu professor e colegas de turma.

    Objetivos

    Diretrizes pedaggicas

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    Mdulo 1tica

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    A tica um conceito e uma ao que todos sabemos o que , mas que no nada fcilde explicar. Reflita: voc saberia explicar rapidamente o que tica? E como definiria a

    diferena entre tica e moral?Tradicionalmente, entendemos o conceito de tica como um estudo ou reflexo sobre oscostumes e aes humanas, cujo julgamento est associado moral numa determinadasociedade que indica o comportamento bom e o mau. Assim, a tica procura fundamentaro valor que norteia o comportamento, partindo da historicidade presente nos valores ecritrios que adotamos para nossas decises.

    No existe sociedade ou cultura que no tenha noes de bem e mal ou certo e errado,decorrentes dos valores morais. A tica um tema presente em todos os aspectos denossa vida em sociedade. A todo momento, estamos questionando se uma deciso ouatitude que tomamos podem ser consideradas ticas, ou se o comportamento dos demaisindivduos tambm se enquadram como tal. So temas presentes em todas as nossas

    relaes sociais, seja no ambiente de trabalho ou nas relaes que mantemos com nossosvizinhos ou familiares. Dessa forma, para compreender melhor o conceito, abordaremosbrevemente a tica desde o seu surgimento na filosofia grega at a contemporaneidade.

    Introduo ao Mdulo

    Ao completar este mdulo de estudo, voc estar apto a:

    compreender o conceito de tica e relacion-lo com a autonomia profissional;

    desenvolver a sua viso sobre as questes especficas da tica profissional;

    refletir acerca da tica e suas relaes com a atual sociedade globalizada.

    Objetivos

    Para melhor compreenso das questes que envolvem a tica, este Mdulo est dividido em:

    Unidade 1 Conceitos: tica e moral

    Unidade 2 tica, cultura, valores morais

    Unidade 3 tica na Filosofia Antiga

    Unidade 4 tica Contempornea

    Unidade 5 Valores morais nas organizaes

    Estrutura do Mdulo

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    "Todo homem, seja qual for o seu espao depensamento e de ao, torna-se filsofo quandointerroga o mundo de uma maneira especfica,buscando compreend-lo a fim de transform-lo."

    (Terezinha Azeredo Rios)

    Pense no conceito de tica, no que ele significaria para voc e na complexidade que eleenvolve. Para tratarmos de tica e responsabilidade socioambiental, devemos, em primeirolugar, conhecer a origem da tica e das diferentes concepes que lhe tm sido atribudas aolongo do tempo. Esse o propsito dessa unidade.

    A tica, de acordo com Rios (1995), ganhou significado no interior da reflexo filosfica comouma busca da compreenso da realidade e do sentido da existncia humana, em todas as suas

    dimenses. A partir de sua sensibilidade moral, a humanidade avalia se as aes observadasnos indivduos so boas ou ms, justas ou injustas. E, de acordo com esses valores, com asdiversas culturas e com os momentos histricos, os homens vo desenvolvendo seus cdigosde ao e seus sistemas jurdicos. Dessa forma, so impostas aos indivduos as maneirasaceitveis de se agir e se comportar em sociedade.

    De acordo com Severino (1994), tais aspectos so objeto de estudo da Antropologia, daSociologia, do Direito, dentre outros campos do conhecimento. Porm, papel da Filosofiaater-se aos fundamentos, construindo seus sistemas ticos; e assim, ao examinar as aeshumanas, em sua dimenso de moralidade, a filosofia realiza uma reflexo tica.

    A palavra tica nos remete palavra grega ethos, que significa costume, modo de ser,carter; seria a identidade cultural das comunidades que se organizam a partir dos costumes,

    configurando sociedades diferentes umas das outras. Assim, ethos a casa do humano,pois, a partir do rompimento com a natureza temos instaurado a instncia do costume, queaponta para o dever (RIOS, 1995, p. 25).

    A expresso costume aparece como uma criao humana que transcende a natureza e realizaaes dotadas de valor. Quanto ideia de dever, est intimamente ligada necessidade, e comum a confuso entre esses termos. As regras estabelecidas atravs de um processocultural, de criao de valores para diferentes sociedades, referem-se, ora a uma necessidadeda natureza humana, ora a um dever criado pelos homens. a que a tica aparece como umsaber aprofundado sobre a humanidade, sobre o mundo, atravs das aes, das dimensesda moralidade que estes apresentam.

    Para Valls (1994), a tica contempla um estudo ou uma reflexo cientfica ou filosfica, e

    eventualmente at teolgica, sobre os costumes ou aes humanas. Assim, pode ser o estudodas aes ou costumes, a prpria demonstrao de um tipo de comportamento.

    Como destaca Abbagnano (1970), a tica seria, de uma forma geral, a cincia da conduta doshomens em sociedades diferentes, havendo duas concepes fundamentais:

    Unidade 1: Conceitos: tica e moral

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    primeira - A que a considera como cincia do fim a que a conduta dos homens sedeve dirigir e dos meios para atingir tal fim, e deduz tanto o fim quanto os meios danatureza do homem;

    pegunda - A que a considera como cincia do mvel da conduta humana e procura

    determinar tal mvel com vistas a dirigir ou disciplinar a mesma conduta (1970, 360).

    Em Vzquez (1969, p. 12), a tica a teoria ou a cincia do comportamento moral doshomens em sociedade. Ou seja, a cincia de uma forma especfica de comportamentohumano. Em outras palavras, parece significar uma abordagem mais ampla, uma vez quesitua o comportamento humano em sociedades. O autor coloca o conceito de uma maneiradiferente de Abbagnano (1970), que restringe seu entendimento conduta humana em si, ouseja, fora de uma possvel inter-relao mais ampla.

    Analisando tais autores, verifica-se que a tica seria uma espcie de teoria sobre a prticamoral, uma reflexo terica que analisa e critica os fundamentos e princpios que regem aconduta do homem em uma determinada sociedade, por meio de um determinado sistemamoral e cultural. Constitui-se, assim, a cincia da conduta, a cincia da moral, cuja definio reforada por Vzquez na seguinte passagem:

    Assim como os problemas tericos morais no se identificam com os

    problemas prticos, embora estejam estritamente relacionados, tambm no

    se podem confundir a tica e a moral. A tica no cria a moral. Conquanto

    seja certo que toda moral supe determinados princpios, normas ou regras

    de comportamento, no a tica que os estabelece numa determinada

    comunidade. A tica depara com uma experincia histrico-social no terreno

    da moral, ou seja, com uma srie de prticas morais j em vigor e, partindo

    delas, procura determinar a essncia da moral, sua origem, as condies

    objetivas e subjetivas do ato moral, as fontes da avaliao moral, a natureza

    e a funo dos juzos morais, os critrios de justificao destes juzos e oprincpio que rege a mudana e a sucesso de diferentes sistemas morais.

    (1969,p. 12)

    tica e moral

    Cabe, aqui, fazermos uma distino entre tica e moral, para que estas no se confundamno decorrer do texto. Em Roma, o vocbulo ethosencontra o anlogo latino mores, que traduzido como lei, natureza, interior, hbito, costume, carter, comportamento. Essa palavradeu origem ao adjetivo moralis, que significa moral, e mais tarde deu origem moral,

    moralidade. Embora os termos tica e moral coincidam quanto ao contedo etimolgico,apresentando designaes prximas, quando projetadas para o mundo, recebem, de acordocom o desenvolvimento cultural, significados diversos.

    Segundo Mnaco (2000), moral seria um conjunto de valores, princpios e regras que norteiamo comportamento humano atravs de noes do bem e do mal, por uma determinada sociedade.

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    Um exemplo de nossa vida cotidiana sobre a moral, e que muda de local para local, de pocapara poca e de cultura para cultura, seria a respeito do casamento. Em nossa sociedade,casar com mais de uma mulher imoral: vai contra a legislao brasileira, e portanto contra asnormas e leis da sociedade. Porm, em pases rabes, por exemplo, a poligamia masculina moral: permitida e exercida.

    Problemas tericos-ticos X problemas prtico-morais

    Os problemas ticos, ao contrrio dos prtico-morais, so caracterizados pela sua generalidade.Por exemplo, se um indivduo est diante de uma determinada situao, dever resolv-la porsi mesmo, com a ajuda de uma norma que reconhece e aceita intimamente, pois o problemado que fazer numa dada situao um problema prtico-moral, e no terico-tico. Porm,quando estamos diante de uma situao mais abstrata, como, por exemplo, definir o conceitode Bem, j ultrapassamos os limites dos problemas morais e estamos diante de um problemageral de carter terico, no campo de investigao da tica.

    Diante disso, diversas teorias ticas organizaram-se em torno da definio do que o Bem.Muitos filsofos acreditaram que, uma vez entendido o que o Bem, descobriramos oque fazer diante das situaes apresentadas pela vida. As respostas encontradas no sounnimes, e as definies variam muito de um filsofo para outro. Para uns, Bem o prazer;para outros, o til, e assim por diante.

    A tica tambm estuda a responsabilidade do ato moral, ou seja, a deciso de agir numa situaoconcreta um problema prtico-moral, mas investigar se a pessoa pde escolher entre duas oumais alternativas de ao e agir de acordo com sua deciso um problema terico-tico, poisverifica a liberdade ou o determinismo ao qual nossos atos esto sujeitos. Se o determinismo total, ento, no h mais espao para a tica, pois se ela se refere s aes humanas e seessas aes esto totalmente determinadas de fora para dentro, no h qualquer espao para

    a liberdade, para a autodeterminao e, consequentemente, para a tica.A tica pode tambm contribuir para fundamentar ou justificar certa forma de comportamentomoral. Assim, se a tica revela uma relao entre o comportamento moral e as necessidadese os interesses sociais, ela nos ajudar a situar no devido lugar a moral efetiva, real, do gruposocial. Por outro lado, ela nos permite exercitar uma forma de questionamento, em que noscolocamos diante do dilema entre o que e o que deveria ser, imunizando-nos contra asimplria assimilao dos valores e normas vigentes na sociedade e abrindo nossas almas possibilidade de desconfiarmos de que os valores morais vigentes podem estar encobrindointeresses que no correspondem s prprias causas geradoras da moral. A reflexo ticatambm permite a identificao de valores ultrapassados, que j no mais satisfazem osinteresses da sociedade a que servem.

    Devemos evitar a tentao de reduzir a tica ao campo exclusivamente normativo. Seu valorest naquilo que explica, e no no fato de prescrever ou recomendar com vistas s aesem situaes concretas. A tica tambm no tem carter exclusivamente descritivo, poisvisa investigar e explicar o comportamento moral, trao inerente experincia humana. Ahumanidade age moralmente, tomando decises, enfrentando problemas, julgando seus

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    prprios atos e os dos outros e, alm disso, reflete sobre tais comportamentos prticos.Quando isso acontece, temos, ento, a passagem da prtica moral para reflexiva, ou melhor,para tica.

    A tica ao longo da HistriaFrente aos estudos e reflexes apresentados aqui, podemos dizer que a tica vivepermanentemente das lies da histria e, portanto, muda constantemente. O que ticohoje pode ter sido considerado antitico no passado, e vice-versa. Essas transformaes tmuma relao direta com a cultura e os valores morais de cada sociedade.

    Acreditamos, entretanto, que o sentido da tica comea quando h dilogo e interaoentre os seres humanos e o universo, constituindo-se, assim, uma relao que deixa de serindividual e passa a ser relacional, levando a objetivos que vo alm do simples interesseindividual e alcanando dimenses universais pelas quais vale a pena lutar em sociedade.

    Figura 1: Mundo dos valores

    Figura 2 e 3: tica e moral

    Responsa-

    bilidade LiberdadeMORAL

    Direitos DeveresTICA

    Mundo dos Valores

    TICA MORAL

    AoReflexo

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    Tome Nota

    Tudo me lcito, mas nem tudo me convm. (Paulo, 1. Carta aos Corntios)

    Longe de qualquer analogia religiosa, a ideia de apresentar essa frase refletir sobre a tica do ponto de vista da filosofia. Se o determinismo total, ento, no h mais espao para a tica, pois se ela se refere saes humanas e se essas aes esto totalmente determinadas de forapara dentro, por meio de regras de conduta, no h qualquer espaopara a liberdade, para a autodeterminao e, consequentemente, para atica. Dessa forma, tenho a liberdade de escolher o que me parece maispropcio, ou seja, posso escolher por diferentes caminhos, mas nem todosos caminhos me convm.

    Saiba Mais

    Quero? Devo? Posso? Trs palavras que podem nos ajudar rumo a umaconduta tica. Mrio Srgio Cortella, filsofo brasileiro, mestre e doutor emEducao pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, em entrevistaao Programa do J, nos explica de forma contagiante e objetiva o significadode tica. Assista ao vdeo no ambiente virtual de seu curso.

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    A tica estuda e investiga os problemas colocados pelo agir humano em determinada poca,relacionados com os valores morais, buscando discutir e fundamentar juzos de valor. Emrelao moral, cabe tica problematizar o porqu das aes e juzos morais, ou seja, umquestionamento de ordem prtica (o problema do que fazer em cada situao), cabendo-lhe atarefa de questionar as motivaes de tal ao.

    Para imaginar uma situao em que um indivduo agiu de forma antitica, pense no seguinteexemplo: o funcionrio de uma empresa recebe um recado importante, que deve passar aocolega de trabalho que faltou naquele dia. Porm, ele acaba no passando a mensagem, eisso gera uma srie de consequncias para o colega e tambm para a empresa. O ato de nopassar o recado configura uma atitude antitica, j que o funcionrio agiu de forma negligentepara com seu colega de trabalho, no se importando com o que aconteceria com ele casono desse o recado. Como resultado, ele foi prejudicado e a empresa tambm. Essa situao,no entanto, no mostra uma atitude imoral, afinal no havia nada que o obrigasse a dar umrecado a outra pessoa, a no ser sua conscincia.

    Em toda moral efetiva, se elaboram certos princpios, valores ou normas. Mudando radicalmentea vida social, pois os homens mudam medida que se alteram as circunstncias histricas,muda-se tambm a vida moral. Os princpios, valores ou normas nela encarnados entramem crise e exigem a sua justificao ou a sua substituio por outros. Surge, diante disso,a necessidade de novas reflexes ou de uma nova teoria moral, pois os conceitos, valorese normas vigentes se tornaram problemticos. Assim, se explica a apario e sucesso dedoutrinas ticas, fundamentais, em conexo com a mudana e a sucesso de estruturassociais, e, dentro delas, da vida moral.

    A tica a filosofia da moral

    Existe, assim, entre a moral e a tica, um constante movimento dialtico, que vai da aopara a reflexo sobre os seus fundamentos, e da reflexo retorna ao, revigoradamente,ou seja: a tica a filosofia da Moral. Poderemos verificar tal movimento dialtico quandoestudarmos a histria da tica, na prxima unidade.

    Legal x moral

    Ao pensarmos na relao entre legalidade e moralidade, tica e legalidade, proponho umareflexo a partir da matriz proposta por Lewicki (1996), que indica quatro possibilidades

    bsicas de comportamento, apresentadas nas situaes abaixo:

    1) No tico, nem legal: aceitar ou oferecer propina.

    2) tico e ilegal: a empresa supervalorizar o produto que fabrica.

    Unidade 2: tica, cultura e valores morais

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    3) Legal e no tico: um soldado matar seu inimigo na guerra um comportamento legal,porm matar algum no tico.

    4) Legal e tico: elaborar e disseminar normas de conduta do profissional em uma organizao(cdigo de tica).

    Tome Nota

    Dica de reflexo: filtro da tica.

    Ao tomar uma deciso, faa trs perguntas:

    1 uma deciso legal? Do ponto de vista civil, criminal e em relao poltica da empresa?

    2 uma deciso imparcial? Todos os envolvidos sero ganhadores?

    3 Vou me sentir bem comigo mesmo, tomando esta deciso? Ficareitranquilo se for publicado nos jornais, se for comentado na empresa, se aminha famlia ou amigos souberem?

    Cultura

    Do latim colere, que significa cultivar, um conceito de vrias tendncias, sendo a maiscorrente a definio formulada por Tylor (1917), antroplogo britncio, segundo o qual cultura um conjunto complexo que inclui o conhecimento, as crenas, a arte, a moral, a lei, oscostumes e todos os outros hbitos e capacidades adquiridos pelo homem enquanto membrode uma sociedade.

    Para estudiosos como HALL (1998) e ARANHA (1993), a cultura entendida como umsistema especfico de valores e vises do mundo em cujo contexto se do as aes e prticasde determinada sociedade, ou, de outra forma, um conjunto de mecanismos simblicosque utilizamos para organizar a realidade. Valores culturais so significados e regras deinterpretao da realidade, estruturas cognitivas e simblicas que determinam o contexto noqual o ser humano, sendo sempre um ser social, pensa e age.

    No h indivduos, empresas ou pases sem cultura. Toda sociedade funciona de acordocom princpios, valores e tradies culturais especficos, que determinam os pensamentos ecomportamentos de indivduos, grupos e instituies, entre os quais se incluem, necessariamente,as organizaes, as escolas e o mundo dos negcios em geral. Alm de princpios ticos e

    valores morais, temos tambm princpios e valores culturais influenciando os modos de aoe prticas administrativas e, portanto, o modo como a responsabilidade social corporativa concebida e implementada em determinada sociedade. (ASHLEY, 2002, p. 55).

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    A tica seria, ento, produto das leis construdas pelos costumes, pela cultura e pelas virtudese hbitos gerados pelo carter dos indivduos.

    Dessa forma, podemos dizer que a tica est relacionada a trs esferas:

    tica pessoal: referente aos valores dos indivduos de forma mais abrangente em

    suas decises particulares, comportamentais, relacionais e cotidianas.

    tica profissional: referente aos valores dos indivduos no ambiente de trabalho.

    tica corporativa: referente aos valores praticados pelas empresas no ambientecompetitivo.

    Multiculturalismo e tica

    O multiculturalismo est ligado diretamente s ideias de educao para a diversidade, cultura

    da diversidade, sociedade e seres humanos multiculturais. A aceitao do multiculturalismoenvolve a tolerncia a valores plurais, tnicos, historicamente delimitados e constitutivos deum povo, e necessita de um valor previamente construdo por cada um, que o respeitoao outro.

    Esse valor bsico no implica na renncia prpria verdade cultural, nas suas origens ou naindiferena a qualquer verdade; ao contrrio, visa garantir a preservao das culturas em suasdiferenas e a integridade e a dignidade dos indivduos que delas participam. Simplificando,o multiculturalismo que expressa valores particulares e com eles a riqueza da criatividadehumana deve estar antecedido e fundamentado na tolerncia. S assim ele se universalizae ganha sentido real. O respeito ao outro sinnimo de tolerncia, talvez seja o primeirovalor, o princpio tico fundamental da sociedade moderna, globalizada. Dessa forma, o

    multiculturalismo pode ser capaz de curar as feridas causadas por tantas lutas: em nomedos direitos humanos, da liberdade de pensamento, da igualdade de direitos, da dignidadesocial da vida.

    Figura 4: tica, valores e cultura

    COSTUMES HBITOSVIRTUDES

    A TICA SERIA PRODUTO DAS LEIS ERIGIDAS PELOSCOSTUMES E DAS VIRTUDES E HBITOS GERADOS

    PELO CARTER DOS INDIVDUOS

    LEIS

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    Tome Nota

    Sendo social ou poltico por natureza, por isso que logos, razo e

    palavra, que implica em si mesmo o outro, ou a alteridade, o homem estdestinado a viver naplis, na cidade, no sendo possvel transform-lo, isto, educ-lo (...) sem transformar simultaneamente aplisna qual o homemvive (RIOS, 1993, p. 54).

    Lembre-se: podemos ento dizer que os valores ticos podem se transformar,assim como a sociedade tambm se transforma. Essa transformao temuma relao direta com a cultura e os valores morais de cada sociedade.

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    tica grega antiga

    A partir do entendimento do conceito apresentado por Vaz (1999), de que a tica originadano saber reflexivo e est constantemente sujeita a mudanas, no decorrer da Histria,abordaremos brevemente a tica Grega.

    Scrates

    Comeamos com Scrates (470-399 a.C.), que considerou o problema tico individualcomo o problema filosfico central, e a tica como sendo a disciplina em torno da qualdeveriam girar todas as reflexes filosficas. Para ele, ningum pratica voluntariamente omal. Somente o ignorante no virtuoso, ou seja, s age mal quem desconhece o bem,

    pois todo homem, quandofi

    ca sabendo o que bem, reconhece-o racionalmente como tale, necessariamente, passa a pratic-lo. Ao praticar o bem, o homem sente-se dono de sie, consequentemente, feliz. A virtude seria, ento, o conhecimento das causas e dos finsdas aes fundadas em valores morais, identificados pela inteligncia, e que impelem ohomem a agir virtuosamente em direo ao bem. Percebe-se, em Scrates, uma concepode tica com traos limitados, pois nessa poca s no tinha acesso ao saber quem nopertencia classe social dominante.

    Plato

    J Plato (427-347 a.C.), que foi um dos discpulos de Scrates e o grande sistematizador desua obra, subordinou a tica metafsica. Em outras palavras, a metafsica resultado de umdualismo entre o mundo sensvel (fsico e das aparncias) e o mundo das ideias (inteligvel),que seriam incorruptveis, eternas e perfeitas, vindo da o conceito de platonismo.

    Segundo Valls (1994), Plato parte da ideia de que todos os homens buscam a felicidade.O filsofo demonstrava acreditar em uma vida aps a morte e, assim, os homens deveriamprocurar durante esta vida a contemplao das ideias e, principalmente da ideia de Bem,para encontrarem a felicidade aps a morte.

    Diferentemente de Scrates, para o qual quem age mal porque ignora o bem, para Plato,o indivduo por si s no se aproxima da ideia de perfeio (de bem), tornando necessriaa interveno do Estado ou da sociedade poltica que torna o homem bom, enquanto bom

    cidado. Verifica-se, nas ideias de Plato, assim como nas de Scrates, o pensamentoapenas das classes dominantes, de acordo com a realidade social, poltica e econmicada poca, em que os escravos eram tidos como desprovidos de virtudes morais e direitoscvicos e, portanto, no eram considerados cidados.

    Unidade 3: tica na Filosofia antiga

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    Aristteles

    Aristteles (384-322 a.C.) no s organizou a tica como disciplina filosfica, mas tambmformulou a maior parte dos problemas de que mais tarde iriam se ocupar os filsofos morais:a relao entre as normas e os bens, entre a tica individual e a social, as relaes entre vidaterica e prtica, a classificao das virtudes, dentre outros. Sua concepo tica privilegiaas virtudes (Justia, Caridade e Generosidade), tidas como propensas tanto a provocar umsentimento de realizao pessoal a aquele que age, quanto simultaneamente a beneficiar asociedade em que vive. A tica aristotlica conhecida como naturalista, pois busca valorizara harmonia entre a moralidade e a natureza humana, concebendo a humanidade como parteda ordem natural do mundo.

    Segundo Aristteles, toda a atividade humana, em qualquer campo, tende a um fim que , porsua vez, o Bem Supremo ou Sumo Bem, que seria resultado do exerccio perfeito da razo,funo prpria do homem. Assim sendo, o homem virtuoso aquele capaz de deliberar eescolher o que mais adequado para si e para os outros, movido por uma sabedoria prticaem busca do equilbrio entre o excesso e a deficincia.

    A tica aristotlica , sob a ptica de Valls (1994), marcada pelosfins que devem ser alcanadospara que o homem atinja a felicidade. Aristteles no considerava apenas o Bem Supremo,pois entendia o homem como um ser complexo, que necessita de vrios bens, como amizade,sade, inteligncia e at certa riqueza. Somente com um conjunto de bens como esses queo homem consegue ser feliz.

    Epicurismo e Estoicismo

    Na segunda metade do sculo IV a.C., o processo de decadncia e de runa do antigomundo greco-romano, caracterizado pela perda de autonomia dos Estados gregos e pelodesenvolvimento e queda dos grandes imprios (macednio e romano) a insegurana dasguerras e o contato com o pensamento oriental mudam os centros das reflexes filosficas efazem surgir um novo tipo de intelectual.

    A nfase na questo da metafsica e da poltica deslocada para questes ticas,principalmente quanto realizao subjetiva e pessoal, representando a busca por uma maiorserenidade intelectual. Representando essas tendncias, surgem, dentre outras, o Epicurismoe o Estoicismo.

    A concepo tica dos estoicos e dos epicuristas muda, principalmente, pela decadncia dotipo de organizao social da poca, da crise social existente, deixando o homem de ser umcidado daplise passando a ser um cidado do cosmo, no qual o Bem Supremo viver deacordo com a natureza, com o destino.

    O Epicurismo representado por Epicuro (341-270 a.C), para quem o prazer um bem e, comotal, o objetivo de uma vida feliz. Uma concepo tica associa-se ao prazer como princpio efundamento da vida moral. Mas existem muitos prazeres e nem todos so igualmente bons,por isso preciso escolher entre eles os mais duradouros e estveis. Torna-se necessrioter uma virtude sem a qual impossvel a escolha. Essa virtude a Prudncia, por meio da

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    qual podemos selecionar aqueles prazeres que no nos trazem a dor ou perturbaes. Osmelhores prazeres no so os corporais - fugazes e imediatos - mas os espirituais, porquecontribuem para a paz da alma. Para Epicuro, No h adversidade externa que decida nossatica pessoal! Ela intransfervel e subjetiva! (PESSANHA, 2010). A felicidade pode serencontrada por todos, um direito de todos, porm resultado dos esforos individuais de

    cada indivduo.Para os estoicos (por exemplo, Zeno de Ctio, Sneca e Marco Aurlio), o homem feliz evirtuoso quando aceita seu destino com imperturbabilidade e resignao. O universo umtodo ordenado e harmonioso, no qual os sucessos resultam do cumprimento da lei naturalracional e perfeita. O bem supremo est ligado a viver de acordo com a natureza, aceitar aordem universal compreendida pela razo, sem se deixar levar por paixes, afetos interioresou pelas coisas exteriores. O estoico um cidado do cosmo, no mais da plis. H, porassim dizer, uma compreenso determinista do homem em relao natureza.

    Assim, pois, o epicurista alcana o bem, retirando da vida social, sem cair

    no temor do sobrenatural, encontrando em si mesmo, ou rodeado por um

    pequeno crculo de amigos, a tranquilidade da alma e a autossuficincia. Deste

    modo, na tica epicurista e estoica, que surgem numa poca da decadncia e

    de crise social, a unidade da moral e da poltica, sustentada pela tica grega

    anterior, se dissolve (VZQUEZ, 1969, 242-243).

    A tica Crist Medieval

    Percebe-se, diante de tendncias como o Epicurismo e o Estoicismo, que a moral, a virtude ea poltica, sustentadas at ento pela tica Grega, comeam a se dissolver, dando origem tica Crist medieval. O Cristianismo se eleva sobre o que restou do mundo greco-romano e,no sculo IV, torna-se a religio oficial de Roma. Passaria a impor o seu domnio por cerca de

    10 sculos. Com o fim do "mundo antigo", o regime de servido substitui o de escravido e,sobre estas bases, se constri a sociedade feudal, extremamente estratificada e hierarquizada.Em meio a essa fragmentao econmica e poltica, verdadeiro mosaico de feudos, a religioaparece como o elemento para garantir uma certa unidade social, visto que a poltica torna-sedependente da Igreja.

    A Igreja Catlica passa a exercer, alm de poder espiritual, o poder temporal, e passa amonopolizar tambm a vida intelectual. A tica fica sujeita a esse contedo religioso; Deus,criador do mundo e do homem, concebido como um ser pessoal, bom, onisciente e todopoderoso. O homem, como criatura de Deus, tem seu fim ltimo Nele, que o seu bem maisalto e valor supremo. Deus exige a sua obedincia e a sujeio a seus mandamentos, queneste mundo tm o carter de imperativos supremos.

    Nesse perodo, a moral torna-se um sistema de leis e normas que do sentido de valor conduta humana. A tica deixa, assim, de ser ditada pela aristocracia, para ser ditada pelaIgreja, que passa, ento, a dominar e regular o comportamento dos homens afirmando queaqueles que no seguissem as normas e regras crists (tidas como Bem) estariam pecando eno iriam para o reino de Deus.

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    Muitas das ideias da tica Grega, principalmente as vises platnicas e estoicas, soaproveitadas pela Igreja, de tal modo que partes dessa tica, como a doutrina das virtudese sua classificao, inseriram-se, quase inteiramente, na tica Crist. Evidentemente,enquanto certas normas ticas eram assimiladas, outras, por sua incompatibilidade com osensinamentos cristos, eram rejeitadas.

    A tica Crist uma tica subordinada religio num contexto em que a Filosofia servada Teologia. Temos, ento, uma tica limitada por parmetros religiosos e dogmticos, emque Deus a referncia para a tica. curioso notar que, ao pretender elevar o homem deuma ordem natural para outra, transcendental e sobrenatural, na qual possa viver uma vidaplena e feliz, livre das desigualdades e injustias do mundo terreno, ela introduz uma ideiaverdadeiramente inovadora, ou seja, todos seriam iguais diante de Deus e seriam chamadosa alcanar a perfeio e a justia num mundo sobrenatural: o reino dos Cus.

    Assim, segundo Vzquez (1969), a tica Crist acabava por regular o comportamento doshomens com vistas a outro mundo, numa ordem sobrenatural, colocando seu fim fora dohomem, em Deus. Disto decorre que a vida moral s alcanada plenamente quando ohomem se eleva ordem sobrenatural e, dessa maneira, os supremos mandamentos,

    que regulam seu comportamento e conduta, apontam para Deus. Acreditava-se que ocristianismo oferecia ao homem certos princpios que, por virem de Deus, tinham um carterimperativo e absoluto.

    Podemos perceber que a religio transfere a meta da vida moral para uma santidade quedeveria ser buscada, mesmo que inatingvel. Porm, verificam-se tambm muitos fanatismosreligiosos que ajudaram a obscurecer algumas mensagens ticas, como a de liberdade, amore fraternidade; ou seja, a influncia de uma certa viso religiosa que no fosse bem explicadaera responsvel por moralismos sem nexo: um exemplo seria a questo da carne comosinnimo de pecado e ligada s questes sexuais.

    Dessa maneira, a Igreja exerce um poder espiritual sobre a sociedade e monopoliza o trabalhointelectual, visto que se encontra plenamente nas manifestaes medievais, detentoras desinais de uma moral concreta, efetiva e tica com contedo totalmente religioso.

    Influncia de Plato e Aristteles

    Em sua gnese, essa tica tambm absorve intensamente as ideias de Plato e Aristteles;pode-se dizer at que seus dois maiores filsofos, Santo Agostinho (354-430) e So Tomsde Aquino (1226-1274), reproduzem, respectivamente, suas ideias.

    A purificao da alma, em Plato, e sua ascenso libertadora at elevar-se ao mundo dasideias tm correspondncia na elevao asctica at Deus, exposta por Santo Agostinho.

    A tica de Toms de Aquino expressa, entre muitos pontos de coincidncia com Aristteles,como aquela, busca, atravs de contemplao e do conhecimento, alcanar o fim ltimo -que, para ele, era Deus.

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    Renascimento Carolngio

    A partir do sculo VIII, com as conquistas do Isl, os europeus perdem o acesso ao MarMediterrneo e, com isso, o comrcio declina, provocando regresso econmica e intensificandoo processo de feudalizao. Muitas pessoas perdem o interesse por aprender a ler e escrever

    e, mesmo na Igreja, muitos padres passam a descuidar da cultura e da formao intelectual.No final do sculo VIII e comeo do IX, tem incio o Renascimento Carolngio, em que CarlosMagno, imperador dos francos, traz para sua corte vrios intelectuais, objetivando a reformada vida eclesistica e tambm dos sistemas de ensino.

    Surgimento da burguesia

    Aps o perodo do Renascimento Carolngio, outras invases brbaras assolam a Europa,provocando um novo retrocesso. Com o fim dessas incurses, as Cruzadas liberam anavegao no Mediterrneo e reinicia-se o processo de desenvolvimento do comrcio,

    o que altera o panorama econmico e social definitivamente, tendo como consequncia orenascimento das cidades e o surgimento da burguesia, a nova classe social.

    Alm de ressurgir o comrcio, as moedas voltam a circular, diversas feiras so montadasna regio da Europa, surgem os banqueiros, as cidades comeam a crescer e inicia-se aluta dos burgueses (novos comerciantes) contra o poder dos senhores feudais. Todas essasmudanas acabam repercutindo em toda a sociedade e fazendo surgir novas escolas, novosvalores e novos princpios.

    tica Moderna

    Neste contexto, se desenvolve a tica Moderna, que tem sua histria iniciada a partir doRenascimento Europeu e constituda de diversas tendncias que prevaleceram desde osculo XVI at o incio do sculo XIX.

    Tamanha a sua diversidade, no fcil sistematizar as diversas doutrinas ticas que surgiramneste perodo assunto que aprofundaremos na prxima Unidade. Mas podemos encontrar,talvez como reao tica Crist teocntrica e teolgica, uma tendncia antropocntrica, queatinge seu auge com a tica de Kant.

    Evidentemente, essa mudana de ponto de vista no aconteceu ao acaso. Fez-se necessrioum entendimento sobre as mudanas que o mundo sofreu, nas esferas econmicas, polticae cientfica, para entendermos todo o processo.

    A forma de organizao social que sucedeu feudal traz em sua estrutura mudanas em todasas ordens. A economia, por exemplo, viu crescer de forma muito intensa o relacionamentode suas foras produtivas com o desenvolvimento cientfico que comeara a fundamentar acincia moderna (so dessa poca os trabalhos de Galileu e Newton), e desse relacionamentose desenvolveram as relaes capitalistas de produo.

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    Essa nova forma de produo fortalece a nova classe social, a burguesia, que lutaria parase impor poltica e economicamente. A poca foi marcada por grandes revolues polticas(Holanda, Frana e Inglaterra) e, no plano estatal, assistimos ao desaparecimento da fragmentadasociedade feudal e o fortalecimento dos grandes Estados Modernos, nicos e centralizados.

    Nessa nova ordem, vemos a razo separando-se da f, ou seja, a Filosofia separa-se da religio,

    as Cincias Naturais dos pressupostos teolgicos, o Estado da Igreja e o homem de Deus.

    Iluminismo

    Nesta fase, a tica teocntrica e a teolgica cedem lugar tendncia antropocntrica, segundoa qual o homem adquire um valor pessoal, no s como ser espiritual mas como ser corporal,sensvel, dotado de razo e desejo em funo dos quais passa a agir. A tica passa, assim, aocupar o centro da poltica, da cincia, da natureza, da arte e tambm da moral. O movimentointelectual do sculo XVIII, conhecido como Iluminismo, exalta a capacidade humana deconhecer e agir pela razo.

    O homem passa a se apresentar, ento, como absoluto, como criador ou legislador de diversasreas, entre elas da moral. A partir da, a moral se torna laica, ou seja, ser moral e ser religiosono so mais polos inseparveis, sendo possvel um homem ateu ser moral e vice-versa.

    Saiba Mais

    Leia o artigo tica no mundo grego, de Ana Patricia Gonzalez da Silva (linkdisponvel no ambiente virtual do seu curso).

    Ela inicia um breve percurso histrico sobre o comportamento dos cidadosatenienses do sculo IV a. C. que determinava uma convivncia de costumese tradies sociais definidas em um contexto em que h uma fuso entreinstituies sociais e virtude do homem grego, perpassando pelo conceitode Aristteles, que a tica humana e sua deliberao exige razo.

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    A tica dos sculos XVIII a XIX retratada no s pelas atuais doutrinas ticas, mas tambmpelas surgidas no sculo XIX e que continuam influenciando os dias de hoje.

    Essas doutrinas ticas surgem em um mundo social que se apresenta conforme a naturezaracional da humanidade, mas tambm em uma sociedade na qual afloram as contradiessociais e verifica-se uma profunda irracionalidade na realidade burguesa. Ao mesmo tempo, uma poca de contnuos progressos, tanto cientficos como tcnicos.

    Durante o sculo XVIII, com a Revoluo Industrial, toda a fisionomia do mundo do trabalhocomea a se transformar, dentro de um movimento cujo impacto seria observado de formamarcante no decorrer do sculo XIX. Com o advento das mquinas, so modificadas asrelaes de produo. E, com o desenvolvimento do sistema fabril em grande escala, aparecea necessidade da diviso do trabalho.

    Enquanto isso, na agricultura - com a introduo de novas tcnicas e a aplicao de novosconhecimentos cientficos para o aumento da produtividade - e tambm com a revoluo dos

    transportes (inveno do navio a vapor, construo de ferrovias e rodovias), o processo dedeslocamento da populao dos centros rurais para os centros urbanos acaba gerando umagrande massa trabalhadora nessas reas. Nesse perodo se verifica, ento, a consolidaodo poder da burguesia, que havia estado, at aquele momento, contra o regime aristocrtico efeudal. Segundo Aranha (1996), ainda na primeira metade do sculo XIX, os burgueses lutavamcontra as foras reacionrias da nobreza, e somente a partir de 1848 se instalaram no poder emtoda a Europa.

    O proletariado

    Prevalece, ento, o contraste entre a riqueza e a pobreza, com jornadas de trabalho variandoentre 14 e 16 horas, e mo de obra infantil e feminina. Surge o proletariado, classe revolucionriaque se ope aos interesses da burguesia.

    De acordo com Aranha (1996), os movimentos desses trabalhadores se inspiram nas ideologiascrticas do liberalismo burgus, como por exemplo o socialismo utpico, o anarquismo e osocialismo cientfico. Por isso, acredita-se haver uma profunda irracionalidade na realidadeburguesa. Neste contexto, surgem os pensadores do sculo XVIII e XIX.

    Hegel: a tica como uma filosofia do direito

    importante falarmos de Friedrich Hegel (1770-1831), que pode ser considerado o maisimportante filsofo do idealismo alemo ps-kantiano. Para ele, a vida tica ou moral dosindivduos, enquanto seres histricos e culturais, determinada pelas relaes sociais, quemediatizam as relaes pessoais intersubjetivas. Hegel desenvolve a filosofia do devir (domovimento, do vir a ser), ou seja, argumenta que a razo histrica. Para explicar a realidade

    Unidade 4: tica contempornea

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    em constante movimento, Hegel justifica que a histria no linear, como uma cumulao defatos histricos, mas sim uma transformao que se processa por uma tese, uma anttese e umasntese. Ao explicar a realidade atravs deste movimento, ele desenvolve a dialtica idealista.

    Para Hegel, o Estado tem uma importncia muito grande, tornando-se, durante o processohistrico e ao superar a contradio entre o pblico e o privado, uma das mais altas snteses

    do esprito objetivo, e permitindo, assim, a superao da subjetividade egosta para que ohomem viva melhor em sociedade. Segundo Vaz (1999), de acordo com Hegel, a educaoseria um meio de espiritualizao para o homem, cabendo ao Estado a iniciativa nessesentido. Hegel, dessa forma, transforma a tica em uma filosofia do direito.

    Hegel divide o conceito de tica em tica subjetiva ou pessoal e tica objetiva ou social. Aprimeira uma conscincia de dever, e a segunda formada pelos costumes, pelas leis enormas de uma sociedade. O Estado, para Hegel, rene esses dois aspectos numa "totalidadetica". Por outro lado, ao escrever sobre tica, Valls (1994, p. 45) afirma que

    O ideal tico para Hegel estava numa vida livre dentro de um Estado livre, um

    Estado de direito, que preservasse os direitos dos homens e lhes cobrasse

    seus deveres, onde a conscincia moral e as leis do direito no estivessemnem separadas e nem em contradio.

    Assim, a vontade individual subjetiva tambm determinada por uma vontade objetiva,impessoal, coletiva, social e pblica, que cria as diversas instituies sociais. A vida ticaconsiste na interiorizao dos valores, normas e leis de uma sociedade, condensadas navontade objetiva cultural, por um sujeito moral que as aceita livre e espontaneamente atravsde sua vontade subjetiva individual. A vontade pessoal resulta da aceitao harmoniosada vontade coletiva de uma cultura. Hegel, portanto, contribui de forma significativa para ahistria da tica.

    Marx

    Como Hegel, Karl Marx (1818-1883) parte de uma concepo histrica e dialtica do real,porm no considera o mundo material como a encarnao da conscincia, como os idealistas.

    Ao contrrio, para Marx, no lugar das ideias esto os fatos materiais, e no lugar dos herisesto as lutas de classes. Desse modo, a histria se faz de fatos materiais, econmicos etcnicos que correspondem s condies em que vivem os homens e, desse processo, surgemcontradies na sociedade, que ainda hoje resultam de interesses antagnicos entre o capitalistae o proletariado. Dessa maneira, Marx tinha a moral como uma espcie de "superestruturaideolgica", cumprindo uma funo social que, via de regra, servia para sacramentar as relaes

    e condies de existncia de acordo com os interesses da classe dominante. Numa sociedadedividida por classes antagnicas, a moral sempre ter um carter de classe.

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    At hoje, existem morais que podem ser distintas, considerando-se a classe social. Inclusive,numa mesma sociedade podem coexistir vrias morais, uma vez que cada classe assumeuma moral particular. Assim, enquanto no se verificarem as condies reais para uma moraluniversal, vlida para toda a sociedade, no pode existir um sistema moral vlido para todosos tempos e todas as sociedades.

    Marx dizia que sempre que se tentou construir semelhante sistema no passado, tentava-seimprimir um carter universal a interesses particulares. Os homens necessitam da moral comonecessitam da produo, e cada moral cumpre sua funo social de acordo com a estrutura socialvigente. Torna-se, ento, necessria uma nova moral que no seja o reflexo de relaes sociaisalienadas, para regular as relaes entre os indivduos, tanto em vista das transformaes davelha sociedade como para garantir a harmonia da emergente sociedade socialista.

    Segundo Marx, o homem um ser real, social e tambm histrico. Para ele:

    As vrias relaes que contrai numa determinada poca constituem uma

    unidade ou formao econmico-social que muda historicamente sob o

    impulso de suas contradies internas e, particularmente, quando chega ao seu

    amadurecimento a contradio entre o desenvolvimento das foras produtorase das relaes de produo. Mudando a base econmica, muda tambm a

    superestrutura ideolgica e, evidentemente, a moral. (VZQUEZ, 1969, p. 258)

    De acordo com Marx, segundo Vaz (1999), a classe operria, ao se organizar em um partidorevolucionrio, poderia destruir o Estado burgus e suprimir a propriedade privada dos meiosde produo, instaurando uma sociedade igualitria. Mas, para isto, precisaria conhecer aprpria fora, tomando conscincia da alienao imposta e da ideologia que a impede deperceber que age de acordo com os valores e princpios impostos pela classe dominante.

    Assim, para que haja a transformao da antiga moral e a construo da nova classe, necessria a participao consciente dos homens.

    Otto Apel e Habermas: a tica do Discurso

    Por outro lado, Karl-Otto Apel (1922), importante representante da tica Contempornea, temuma visvel influncia kantiana e, de acordo com Vaz (1999), passa a ser um dos principaisrepresentantes da tica do Discurso, segundo a qual o exerccio pblico da liberdade no sefaz pelas leis, mas sim pelo dilogo, que permite descobrir a melhor maneira possvel de seresponder a um problema tico em questo.

    A chamada tica do Discurso tem tambm como importante representante Jrgen Habermas(1929), filsofo alemo que apresenta uma tendncia marxista, com amplo interesse na crticapoltica e social. Uma de suas primeiras obras (Mudana de estrutura do espao pblico,1962), pretende ser uma reviso e, ao mesmo tempo, uma atualizao do marxismo, capaz deinterpretar as caractersticas do capitalismo avanado da sociedade industrial contempornea.Faz uma critica racionalidade dessa sociedade, caracterizando-a em termos de uma "razoinstrumental", que visa apenas estabelecer os meios para se alcanar um fim determinado.

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    Segundo sua anlise, o desenvolvimento tcnico e a cincia, quando voltados apenas paraa aplicao tcnica, acarretam a perda do prprio bem, que estaria submetido s regras dedominao tcnica do mundo natural.

    necessria, ento, a recuperao da dimenso humana, de uma racionalidade no-instrumental, baseada no "agir comunicativo" entre sujeitos livres, de carter emancipador

    em relao dominao tcnica. Habermas percebeu a distoro dessa possibilidade deao comunicativa que produziu relaes assimtricas e impediu uma interao plena entreas pessoas. Dessa maneira, a proposta de Habermas formula-se em termos de uma "teoriada ao comunicativa", recorrendo inclusive filosofia analtica da linguagem para tematizaressas condies do uso da linguagem livre de distoro, fundadora de uma nova racionalidade.

    At o presente momento, tentamos realizar uma aproximao do conceito de tica atravsde seus principais filsofos e pensadores, desde a tica Grega at a tica Contempornea. claro que se trata apenas de um breve estudo sobre o conceito de tica, que busca seiniciar atravs de uma rememorao das grandes concepes que assinalaram sua histria,para que possamos dar continuidade ao presente estudo, destinado a discutir a tica e aresponsabilidade socioambiental.

    tica, globalizao e modernidade lquida

    A velocidade com que as transformaes tecnolgicas, econmicas, polticas e sociais vmocorrendo tm deixado muitas pessoas perplexas. Acompanhar tal processo exige umaconstante reflexo crtica sobre essas mudanas.

    A chamada globalizao mundial vem ampliando as relaes entre pases, ideias e pessoas,diminuindo as distncias entre as localidades e, consequentemente, alterando a vida social. importante, porm, estudarmos o real conceito de globalizao.

    Na realidade, no h uma defi

    nio que seja aceita por todos, mas, segundo Hall (1998), elaest definitivamente na moda. O sculo XX foi marcado sobretudo pela nfase na cincia ena tecnologia, que desde ento vm transformando radicalmente os usos e costumes de todaa humanidade. Foram muitos os avanos tecnolgicos, destacando-se a inveno dos avies,da televiso, do fax, dos satlites, dos celulares e a grande expanso da internet, subvertendoo espao e o tempo do homem contemporneo, aproximando os povos, alterando maneirasde pensar e de trabalhar.

    Todas essas facilidades acabaram mudando o mbito dos negcios e trazendo,consequentemente, uma economia globalizada e o fortalecimento das multinacionais, que,por sua vez, enfraqueceram a capacidade dos Estados nacionais de interferir na gestodos negcios. Segundo Hall (1998), os Estados passaram, gradativamente, a abandonar as

    barreiras tarifrias para protegerem sua produo da concorrncia dos produtos estrangeirose se abrirem ao comrcio e ao capital internacional.

    O ponto central das mudanas , portanto, a integrao dos mercados numa aldeia global,ou seja, uma comunidade mundial integrada pela grande alternativa de comunicao einformao, na qual uma pessoa pode acompanhar os acontecimentos de qualquer parte do

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    mundo no exato momento em que ocorrem. Esse fenmeno possibilita, inclusive, a criao deuma opinio pblica mundial.

    importante lembrar que todo esse processo de globalizao, entretanto, no comeou derepente. Sua tendncia histrica um fenmeno que tem suas razes na era do Renascimentoe das Grandes Navegaes, quando a Europa emergiu de seus casulos feudais e, tambm,

    como resultado da europeizao da Amrica e da criao da imprensa, tecnologia que napoca expandiu a informao e a civilizao.

    Porm, , definitivamente no final da dcada de 1980 e incio da dcada de 1990 que ocorremmudanas significativas no cenrio poltico-econmico, como a queda do muro de Berlim(1989); a desintegrao da Unio Sovitica (1991); a formao dos blocos econmicosregionais (Unio Europeia, Nafta e Mercosul); o grande desenvolvimento cientfico tecnolgico(Terceira Revoluo Industrial) e, finalmente, o fortalecimento do capitalismo em sua atualforma, ou seja, o neoliberalismo.

    O cenrio internacional do incio dos anos 90 do sculo XX marcado pela crescentehegemonia do iderio neoliberal como modelo de ajuste estrutural das economias e pelaafirmao do domnio poltico e militar dos EUA, como consequncia do fim da Guerra Fria edo socialismo na antiga URSS. Entretanto, todo esse processo de globalizao, essa explosodos negcios mundiais, acompanhada do avano tecnolgico e da crescente robotizao eautomao das empresas, acabaria desencadeando profundas modificaes no trabalho e,consequentemente, na Educao.

    Diante da informao globalizada de nossos dias, cabe uma reflexo. No se trata, exatamente,de uma troca, mas de uma sutil imposio da hegemonia ideolgica das elites, para a quala informao globalizada passa a ser um instrumento de domesticao social. Cria-se umaaparncia de semelhana num mundo heterogneo, pois, por exemplo, em qualquer lugarv-se uma marca como McDonalds, Siemens, Shell, Mercedes Benz, dentre outras. Aoimpor padres de consumo, cultura, valores e comportamentos, a informao globalizadavende essa legitimidade. Verifica-se assim uma massificao das informaes em uma erade consumo seletivo; na qual as elites controlam os negcios, fixam regras para competiese concorrncias e vendem a imagem de um mundo eficiente. A alta tecnologia, que deveriaservir a toda a humanidade, est servindo, na realidade, excluso da maioria. O processoeconmico acontece de cima para baixo. Segundo Hall,

    Quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado global de estilos,

    lugares e imagens, pelas viagens internacionais, pelas imagens da mdia e

    pelos sistemas de comunicao globalmente interligados, mais as identidades

    se tornam desvinculadas desalojadas de tempos, lugares, histrias e

    tradies especficas, e parecem flutuar livremente. (HALL, 1998, p. 75)

    Todos esses acontecimentos vm deixando o homem contemporneo perplexo a respeitode seus valores e das categorias que utiliza para a compreenso do mundo e de si mesmo,alterando-lhe a maneira de pensar, de agir e de sentir. Bauman (2001) faz uma metfora dasociedade e suas relaes humanas com a liquefao, ou seja, deixamos de ter relaesprofissionais e pessoais slidas e passamos a ter relaes lquidas, fluidas.

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    Neste momento, preciso compreender a importncia da tica, pois, segundo JacquesMonod1, Nenhuma sociedade pode sobreviver sem um cdigo moral fundado sobre valorescompreendidos, aceitos e respeitados pela maioria dos seus membros.

    Tome Nota

    Como consequncia, vivemos um tempo de transformaes sociaisaceleradas, nas quais as dissolues dos laos afetivos e sociais so ocentro da questo. A liquefao dos slidos explicita um tempo de desapegoe provisoriedade, uma suposta sensao de liberdade que traz em seuavesso a evidncia do desamparo social em que se encontram os indivduosmoderno-lquidos. (PICCHIONI, 2007, p.181)

    Saiba Mais

    Para entender um pouco mais do que Zygmunt Bauman chama deModernidade Lquida, alm do livro, leia a resenha Modernidade Lquidaeassista ao vdeoDilogos com Zygmunt Bauman, realizado pela CPFL Cultura.Voc encontra a resenha e o vdeo no ambiente virtual de aprendizagem.

    _______________________

    1JACQUES MONOD, "La science et ses valeurs", in Pour une thique de Ia connaissance, La dcouverte, p. 146,

    apud, NALINI, Jos Renato. tica Geral e Profissional. 4.ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 55-60.

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    tica, globalizao e modernidade lquida

    Para a economia e o mercado dos pases ditos desenvolvidos, que se consideram dominantes,faz-se necessrio que a populao mundial adote seus costumes, sua cultura e seus valores.Diante disso, porm, surge um tema para reflexo. Seria tico adotar ou impor valores e culturade outros pases, de outros povos, em detrimento dos elementos naturalmente pertencentesa uma nao? Isso pode levar pases a perderem sua cultura prpria, seu patriotismo, setransformando em meras cpias de uma superpotncia.

    A mundializao da cultura ocidental caracterizada pelo processo de globalizao dosvalores culturais, artsticos, religiosos que acompanham a dominao econmica, negando,assim, as diferenas e impondo uma identidade branca, etnocntrica, crist, arrogante esempre disposta violncia (BOFF, 1997, p. 73). Essa mundializao da cultura ocidentalgera outro conflito: tico adotar e/ou impor os valores, a cultura de outros pases, outros

    povos? Talvez seja, do ponto de vista dos pases ditos desenvolvidos, dos EUA, por exemplo. fundamental para a economia, para o mercado desses pases, que a populao mundialadote seus costumes, sua cultura, seus valores; mas e do ponto de vista desses pases queso invadidos por novas culturas, costumes e valores? Eles acabam perdendo sua cultura,deixando de lado seu patriotismo, acabam se transformando em meras cpias de uma superpotncia. Perder a cultura nacional seria tico?

    Verifica-se, assim, uma globalizao que no sinnimo de homogeneizao; pelo contrrio, muito estrita. Dessa maneira, podemos questionar: que valores devem ser construdos nestemundo globalizado? Que princpios so fundamentais para um mundo mais justo e igualitrio?Que postura tica deve ser passada no Ensino Superior para os futuros profissionais? Soperguntas voltadas no apenas para quem estar no mercado amanh, mas para a populao

    em geral, para qualquer pessoa que tenha a pretenso, como sujeito da histria, de tentarmudar alguma coisa, para melhor. Essa mudana exige a participao coletiva de todos, alongo prazo.

    Trata-se, segundo Boff (1997), de um novo paradigma, ou melhor, de um novo padro decomportamento e de compreenso do ser humano na relao social e com o mundo. Nose trata, portanto, apenas de uma simples mudana de mtodo ou teoria, mas sim de umconjunto de concepes, valores e tcnicas de uma sociedade.

    De acordo com Moraes (1997), a mudana de paradigma que presenciamos engloba omundo da cultura, do trabalho, da poltica, da economia e da educao, e impulsionadapelo desenvolvimento de tecnologias de ponta. No se trata de uma decadncia, mas de umatransformao de valores e da tica. Por exemplo, a passagem de uma cincia sem tica

    para uma cincia compromissada, responsvel e que respeite o ser humano; a passagemde uma tecnologia que exclui e que domina milhares de trabalhadores para uma que sirva humanidade e que no substitua o ser humano.

    Alm de ter influncia na economia, nas organizaes e nos servios, as tecnologias de pontae seu desenvolvimento ocasionam mudanas culturais e no saber. Cada indivduo passa a ter

    Unidade 5: Valores morais nas organizaes

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    a necessidade de se aperfeioar constantemente, com uma educao permanente, que lhe dcondies de acompanhar as transformaes sociais e culturais frente s novas tecnologiasque aparecem a cada momento.

    A humanidade precisa estar atenta para que no seja dominada pelo avano cientfico-tecnolgico, e assim possa construir ativamente a ps-modernidade e a civilizao do prximo

    milnio. Para isso, preciso que a tica contribua para propsitos que garantam o direito liberdade, cidadania; o equilbrio ecolgico e, principalmente, garanta que nenhum serhumano seja excludo do mnimo para a vida livre e criativa. Para que o processo civilizatrioseja enriquecido enquanto construo de relaes humanitria (SCHULZ, 2000, p. 67).

    Os quatros nveis de discusso e aplicao da tica na administrao dasorganizaes

    Nas organizaes, a tica abrange quatro nveis, segundo Maximiano (2004). A compreensodesses nveis possvel a partir da viso de fora para dentro, ou seja, da abrangncia geral

    para a mais especfica.

    Assim, o primeiro nvel, o SOCIAL, entendido como o impacto que a simples existnciada organizao e suas operaes dirias causam na sociedade. O segundo nvel, o deSTAKEHOLDERS, induz ao questionamento das obrigaes da organizao quanto utilizao de seus produtos, servios e o impacto destes no mercado. Em uma busca cadavez maior pelo centro das organizaes, tem-se o nvel de POLTICAS INTERNAS, quedeve zelar por apurar a tica nas relaes entre patro e empregado e, por ltimo, o nvelINDIVIDUAL, que leva reflexo do papel de cada indivduo no dia-a-dia da organizaoe das suas relaes interpessoais no ambiente de trabalho. Portanto, so valores da ticaadministrativa interligados a um novo paradigma que sirva humanidade.

    NVEL SOCIAL PAPEL, PRESENA E EFEITO DAS

    ORGANIZAES NA SOCIEDADE.

    NVEL DO STAKEHOLDER

    OBRIGAES DAS ORGANIZAES

    EM RELAO A TODOS AQUELES QUE

    DELAS DEPENDEM OU SO POR

    ELAS AFETADOS.

    NVEL DA POLTICA INTERNA DA EMPRESA RELAES DA EMPRESA COMSEUS EMPREGADOS.

    NVEL INDIVIDUAL MANEIRA COMO AS PESSOAS

    DEVEM TRATAR-SE.

    Tabela 1: Os quatros nveis de discusso e aplicao da tica na administrao das organizaes (MAXIMIANO,

    2004 - adaptado)

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    ESTGIO PR-CONVENCIONALDA TICA

    NO H REGRAS. OS OUTROS QUE SE DANEM. OMUNDO DOS ESPERTOS. TICA DO DARWINISMO

    SOCIAL.

    ESTGIO CONVENCIONAL DA

    TICA

    OBEDINCIA S REGRAS, POR CONVENINCIA.

    TICA DAS CONVENES.

    ESTGIO PS-CONVENCIONAL

    DA TICA

    IDEALISMO MORAL.

    AS REGRAS SO SEGUIDAS POR CONVICO E NO

    POR OBRIGAO.

    Tabela 2: Os trs estgios do desenvolvimento da tica (MAXIMIANO, 2004 adaptado)

    Muito se tem falado sobre os temas tica, cultura corporativa, liderana e estratgia. Porque negcios eticamente orientados? extremamente relevante reconhecer a importncia dacultura corporativa, da liderana e da estratgia no desenvolvimento da tica organizacional,observando que apenas o Cdigo de tica no suficiente para mant-la na gesto empresarial.

    Se a liderana corresponde parte visvel de um iceberg como agente transformador, aEstratgia a superfcie a ao que concretiza resultados. Essas duas dimenses sorelativamente fceis de serem identificadas em suas exteriorizaes (...). O grave problema que se desconsidera a cultura corporativa, face oculta do iceberg, correspondenteaos fundamentos, s verdades comuns, que sustentam a integrao das lideranas e aformulao de estratgias consensuais. (...) A educao o fator determinante de sua

    formao e de garantia de excelncia. A educao e a cultura ticas tornam a sociedade tica(MATOS, 2008, p. 3).

    Frente a isso, percebemos que a excelncia decisria ao envolver valores morais nasorganizaes deve atender a trs caractersticas bsicas (MATOS, 2008):

    qualidade a melhor alternativa, considerando-se a racionalidade do processo;

    oportunidade dadas as circunstncias, a mais eficaz pelos resultados esperados;

    aceitabilidade a mais motivadora para aqueles que iro se envolver na execuoda matria decidida.

    Compatibilizar essas caractersticas o desafio sabedoria do gestor e a sua atitude flexvel.

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    Tome Nota

    O conhecimento e a conscincia globais, ao mesmo tempo causas e

    consequncias da globalizao, nos mostram hoje a quantidade de questesque no mais podem ser resolvidas pelos caminhos tradicionais e querequerem o surgimento de novos critrios e novos referenciais. No campoda tica nos negcios, o desafio est lanado. Estruturas e organismos aonvel das naes j no bastam para dirimir essas questes: organismosmultilaterais so absolutamente necessrios, instncias de mediao earbitragem a nvel internacional sero indispensveis para os negciosamanh. E acima de tudo, os empresrios devero utilizar todas as suascapacidades de reflexo para, dentro de uma viso tica de seus negcios,continuar a contribuir para a qualidade de vida dos cidados de um mundoglobalizado.(Peter Nadas em tica nos Negcios)

    Saiba Mais

    Assista ao filme Jogada de Gnio, direo de Marc Abraham. Histricaverdica de Robert W. Kearns, um empreendedor que cria um dispositivoautomobilstico e tem sua inveno roubada por uma das maiores indstriasautomobilsticas da Amrica e passa anos de sua vida lutando por justia.

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    Resumo

    No primeiro mdulo da disciplina tica e Responsabilidade Socioambiental, voc podeaprofundar o conceito de tica e Moral, ultrapassando o senso comum rumo ao senso crtico.

    Pode perceber que tica a reflexo sobre a moralidade, e que moral decorre de um conjuntode aes, normas e condutas consideradas vlidas para um determinado grupo social por umdeterminado tempo. Avaliou a clara relao existente entre tica, cultura e valores morais ecomo esses elementos se relacionam entre si e para que servem, percebendo, assim, que atica muito mais do que um discurso e se revela na prtica.

    Em seguida, elaboramos uma aproximao conceitual sobre a tica, tendo em vista osdiferentes conceitos que variam ao longo do tempo, conforme so interpretados os costumese tradies culturais de cada povo. Assim, fizemos um breve perpasse pela tica Grega atchegarmos a um conceito aproximado da tica no contexto da sociedade contempornea.

    Na sequncia, foi abordada a influncia dos valores morais nas organizaes, demonstrandoa extrema necessidade de se reconhecer a importncia da cultura corporativa, a liderana e aestratgia no desenvolvimento da tica organizacional, observando que apenas o Cdigo detica no suficiente para manter a tica na gesto empresarial.

    Esperamos ter atingido o objetivo deste mdulo, delineando tambm os conceitos de tica,moral, valores e cultura dentro de uma organizao.

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    Mdulo 2Cdigo de tica

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    Em uma floresta, cada rvore uma unidadealimentada por uma raiz, que busca energia

    de um mesmo cho. Mas todas as rvorescontribuem para a riqueza do solo comum.

    (Autor Desconhecido).

    Segundo Matos (2008), certamente no se estabelece a tica corporativa por meio decdigos, mas de diretrizes ticas, que traduzem a cultura e a filosofia organizacional emum modelo estratgico de gesto. A tica corporativa abraa a ideia de coletividade. A ticade uma corporao a maneira como ela deve proceder em sociedade, e o que a defineou a constri a soma das ticas pessoais que a compem.

    Nesse sentido, a tica corporativa formada por indivduos unidos por um fim comum depensamentos e ideias, que apresentam uma mesma concepo no modo de realiz-los,estando sujeitos a regulamentos que vo fornecer procedimentos adequados a seremseguidos. Assim, a moral organizacional virou chave para a prpria sobrevivncia dasempresas (SROUR, 2003, p. 59).

    Introduo ao Mdulo

    Ao completar este mdulo de estudo, voc estar apto a:

    refletir sobre a gesto das organizaes fundamentada na tica e na competncia (saber).

    refletir sobre o papel do indivduo nas organizaes frente s exigncias ticas.

    perceber a relevncia da cultura organizacional visando implementao da gestotica empresarial.

    Objetivos

    Para melhor compreenso das questes que envolvem o cdigo de tica, este mdulo estdividido em:

    Unidade 1 Espao do ser humano nas organizaes

    Unidade 2 Papel do indivduo nas organizaes

    Unidade 3 Cdigo de tica (profissional e das organizaes)

    Estrutura do Mdulo

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    Pode-se dizer que um consenso: investir nos empregados de uma empresa significa lucrocerto para essa corporao. Entretanto, segundo Neto e Froes (2001), nem sempre assimque acontece. Algumas organizaes investem muito nos recursos humanos, mas no obtm

    o sucesso esperado quanto ao desempenho de seus funcionrios.

    Com o advento da chamada responsabilidade social, que abordaremos mais adiante, as reasde recursos humanos mais inovadoras, que sempre gerenciaram da melhor forma possvel asrelaes com seus empregados, passaram a adotar novas prticas. Isso explica a passagemdo paradigma de gesto de recursos humanos, que antes era denominada gesto depessoal, para gesto do capital intelectual, atualmente o que chamamos de gesto do capitalsocial da empresa.

    As organizaes passaram do simples gerenciamento de normas, procedimentos e rotinasadministrativas da gesto pessoal para a gesto de recursos humanos, com nfase naresoluo de conflitos, estratgias de motivao, liderana, treinamento e desenvolvimento.

    Passaram, em seguida, para uma gesto do capital intelectual, na qual os empregadoscomearam a ser percebidos como seres humanos integrais. Por ltimo, ocorreu a mudanapara o que chamamos mais recentemente de gesto do capital social da empresa, passandoos empregados e seus dependentes a serem agentes sociais, cujo comportamento geraimpactos nas organizaes, na comunidade e na sociedade.

    Para essas organizaes, o ser humano passa a ocupar um outro espao, pois os empregadospassam a ser vistos como parceiros e, sob a motivao de treinamentos recebidos e exemplosvivenciados dentro das organizaes, a ideia que se tornem mais sociveis, cooperativos,altrustas2, motivados e, portanto, ajam como promotores das organizaes.

    Segundo Matos (2005), as dimenses essenciais para se definir um Modelo de Gesto ticanas organizaes so:

    1. Ser tico(Como identificar na prtica um profissional tico?).

    2. Conscincia tica(Como desenvolver os meios para efetivar a tica nas relaes detrabalho, viabilizando o princpio lder de lderes?).

    3. Comportamento tico(Como fazer com que os princpios ticos sejam cumpridosnas decises executivas e no atendimento a clientes?).

    4. Competncia tica(Como desenvolver lderes e liderados para trabalharem em equipe?).

    5. Cultura tica(Como construir e garantir a qualidade da cultura tica na empresa?).

    _______________________

    2 um comportamento por meio do qual as aes de um indivduo beneficiam outrem. No senso comum do termo,

    pode ser percebida como sinnimo de solidariedade.

    Unidade 1: Espao do ser humano nas organizaes

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    6. Responsabilidade Social tica (Como desenvolver aes solidrias, na e pelaempresa, e o voluntariado entre os empregados?).

    7. Humanismo tico (Como definir, na prtica, a tica da solidariedade, do amor, dafelicidade, da produtividade e do xito?).

    Alm dessas dimenses, a formulao de um modelo de tica coorporativa passa por algumasetapas que devem compor o Modelo de Gesto (Matos, 2005), entre elas:

    1) diagnstico da situao empresarial com entrevistas individuais e coletivas (amostragem)da populao;

    2) avaliao situacional preliminar por meio de reunies de anlise com a presidncia ediretoria;

    3) rodada de reflexo estratgica: encontro com a direo, dando enfoque viso diagnstica(etapa 1) e viso estratgica, em busca de consenso sobre linhas de ao prioritrias.Depois, distribuir questes para reflexo por que fracassam as organizaes?; Como obtm

    sucesso? Em que consiste a tica corporativa?;4) auditoria de cultura e clima organizacional/tico na empresa, com nfase nos aspectos dacultura organizacional corporativa;

    5) frum de reflexo estratgica (o desafio da tica), encontro com os executivos da empresavisando apresentao dos resultados da auditoria;

    6)_comit estratgico de tica Corporativa ponto vital do processo de implementao eintegrao do modelo de gesto na tica corporativa ( pensar/agir);

    7) oficina de Liderana, cujo objetivo fazer com que as lideranas sejam preparadas para aseguinte situao: ser lder ser lder de lderes!.

    A ideia mais atual a de que a tica seja considerada no planejamento estratgico dasorganizaes e, alm disso, que as organizaes considerem seus empregados a partirdo paradigma de gesto do capital social da companhia. Assim, segundo Froes (2001), asempresas que despertam para essa nova viso quanto relao com seus colaboradores;ao investir neles, transforma-os em seu principal ativo, de natureza humana, intelectual,mas principalmente social - ou seja, esses colaboradores podero socializar e transformar aorganizao, pois suas atitudes e comportamentos agregaro valores s organizaes.

    Muitos acreditam que, parafins de certificao das organizaes, o exerccio da responsabilidadesocial interna se limita apenas quanto gesto de benefcios, remunerao, assistnciamdica, entre outros elementos similares. Entretanto, para Froes (2001), a gesto do trabalho,do ambiente de trabalho, dos direitos dos colaboradores e de seu bem-estar social deve serobjeto de preocupao da empresa-cidad, pois envolve diretamente clima, cultura, estresse,equilbrio entre trabalho e vida pessoal, direitos trabalhistas e preservao da privacidadepessoal dos colaboradores, alm do crescimento e desenvolvimento dos empregados.

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    Saiba Mais

    Para saber mais sobre primeira, segunda e terceira onda, acesse, no

    ambiente virtual do seu curso, o artigo O social na estratgia empresarial oua estratgia social das empresas, escrito por Peter Nadas.

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    Aps abordarmos o atual espao do ser humano nas organizaes, faz-se essencialdebatermos um pouco o seu papel nas organizaes, frente s exigncias ticas. Podemosinferir que o autoconhecimento um processo no qual o indivduo busca suas refernciascom o objetivo de estreitar sua relao consigo prprio e com o mundo. Ningum vive isolado,e no se pode compreender o comportamento do indivduo sem considerar a influncia dooutro. Seres humanos convivem no por escolha, mas por sua constituio vital. Dessaforma, h necessidade de tica porque h outro ser humano.

    medida que o indivduo se aprofunda no processo de autoconhecimento, ele melhora aqualidade de suas relaes, e este fato reflete diretamente nas organizaes. A qualidadeprofissional implica, entre outros fatores, a disponibilidade do indivduo em buscar oaprimoramento de suas aes profissionais, sempre em sinergia com os ideais daorganizao da qual faz parte.

    Espera-se de um profissional que suas aes estejam de acordo com os princpios da

    organizao. Ele deve demonstrar preocupao em atuar de forma crtica e reflexiva.Estabelecer relaes onde h naturalmente uma inteno particular de cada uma daspessoas envolvidas fundamental para que haja um entendimento capaz de levar aoalcance de um objetivo comum.

    A tica em relao ao prximo

    Segundo Whitaker (2006), ao refletirmos sobre os limites no campo da tica pessoal, podemospensar sobre o respeito que devemos ter tica adotada pelo prximo, o respeito pelosDireitos Humanos e pelos princpios ticos de cada cultura. Esses temas j foram abordadosna Unidade 2 do Mdulo 1, ao tratarmos sobre os conceitos de tica, cultura e valores morais.Devemos estar sempre atentos para no invadirmos a liberdade do prximo, pois o que podeser correto para determinado indivduo pode no ser correto para outro.

    J a tica corporativa envolve a ideia da coletividade. A tica de uma organizao a maneiracomo ela deve proceder em sociedade, e o que a define ou a constri a soma das ticaspessoais que a compem. Podemos dizer que, do ponto de vista da tica, as organizaesno podem ser pensadas como um fim em si mesmas; existe a consecuo de um objetivomaior e, consequentemente, um dos objetivos colocar a roda de capital para girar, alm deconsiderar o conhecimento tecnolgico e organizacional como um capital.

    Dessa forma, duas atitudes podem ser observadas nesse relacionamento do indivduo e dasorganizaes (NADAS, s.d.):

    1 tica do interesse prprio quando a organizao proporciona algo ao outro porque de seu interesse faz-lo, ou seja, a responsabilidade social de uma organizao consistenica e exclusivamente em aumentar seu lucro e maximizar seus retornos financeiros. Seriauma tica segundo a qual a vantagem econmica se traduziria no valor mais importante, comvistas sobrevivncia.

    Unidade 2: O papel do indivduo nas organizaes

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    2 tica orientada para o outro quando o objetivo bsico a valorizao do outro, poisacredita-se que a consequncia desse ato ser o benefcio do todo. A partir dessa perspectiva,o valor maior a solidariedade, acredita-se na interdependncia humana e no crescimentodo outro como algo positivo para todos, sendo o lucro, ou seja, o retorno financeiro umaconsequncia, um subproduto.

    Quando tratamos de organizaes ticas, podemos usar o jargo o exemplo deve virde cima. A organizao expressa seus valores, pois a tica organizacional formada porindivduos unidos por um fim comum de pensamentos e ideias, com uma mesma concepo/ideologia no modo de realiz-los, estando sujeitos a regulamentos que vo prover processosadequados a serem seguidos por todos na organizao.

    Pensando nessa relao tica e nos valores da organizao, entendemos a necessidade doscdigos de tica nos quais os valores bsicos da organizao ou da profisso se encontramesclarecidos e servem como instrumental de trabalho, assunto que ser abordado naprxima unidade.

    Figura 6: tica organizacional

    tica organizacional e sua influncia em processos decisrios

    tica organizacional

    Valores Universais

    Valores sociais

    Valorescorporativos

    Valores pessoais

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    Saiba Mais

    Leia o artigo Por que as empresas esto implantando cdigos de tica?, de

    Whitaker (2006), disponvel no seu ambiente virtual de aprendizagem.Para complementar mais ainda suas reflexes, assista ao vdeo motivacionalNossa Postura, tambm disponvel no ambiente virtual do seu curso.

    Para refletir a respeito da individualidade e da relao de poder e chefia,assista ao filme O Diabo veste Prada.

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    Perceber a relevncia da cultura organizacional visando implementao da gesto ticaempresarial fundamental para que todos os funcionrios compreendam os valores da ticaorganizacional e reconheam a tica como um princpio norteador da prtica profissional, bemcomo responsvel por estabelecer responsabilidades, direitos e deveres da corporao.

    Interao entre tica pessoal e tica corporativa

    Como definir se uma corporao tica? O que mencionamos pode criar indivduos ecorporaes ticas? A nica certeza que se pode ter a de que uma soluo ideal no existe.No h uma cartilha especificando o que as pessoas devem ou no fazer no mbito pessoal.J no mbito corporativo, podemos tentar realizar algo nesse sentido, e isso levaria, porexemplo, criao de um cdigo de tica.

    Fica claro que a empresa torna-se tica perante a sociedade com as aes adequadas, mas necessrio que as pessoas dentro dela tenham princpios e valores, respeitem umas s outrase tenham a capacidade de conviver em harmonia, sabendo separar, atravs dos princpiose valores da corporao, o que certo e o que errado para o bem de todos que trabalhamnaquele ambiente. a interao entre as ticas pessoal e corporativa (CAPUCHO eLEAL, 2004).

    A tica, nesse contexto, assegura que o exerccio profissional seja efetuado segundo osprincpios que o regem, ou seja, segundo os critrios ticos pertinentes a cada profisso. Assim,discutir o papel dos profissionais nas organizaes tem se mostrado um importante desafiodevido s grandes mudanas socioculturais ocorridas ao longo da histria da humanidade.

    Em tempos de globalizao e competitividade de mercado, as organizaes que demonstram

    preocupao com a tica e conseguem convert-la em prticas efetivas mostram-se maiseficazes e preparadas para competir com sucesso, e aumentam suas chances de obter noapenas a satisfao e a motivao dos seus colaboradores, mas tambm resultados positivosem seus negcios. Isso est relacionado capacidade de essas empresas adotarem eaperfeioarem condutas marcadas pela seriedade, humildade, justia e pela preservao daintegridade e dos direitos dos indivduos envolvidos (pblico interno colaboradores - pblicoexterno stakeholders).

    O papel de cada indivduo tambm fundamental nesse processo. A tica, enquanto reflexoe conscincia moral, essencial vida em todos os sentidos - pessoal, familiar, social ouprofissional. Assim, enquanto profissionais e pessoas, de acordo com a maneira como noscomportamos, em nossas relaes de trabalho ou pessoais, podemos colocar seriamente em

    risco nossa reputao, e comprometer tambm o sucesso da organizao na qual trabalhamos.Um profissional bem conceituado exercita com responsabilidade as relaes interpessoais,baseando-se nos princpios ticos de sua profisso (cdigo de tica profissional). A tica,no mbito das relaes profissionais, organiza-se num conjunto de regras que estabelecemprincpios norteadores para a prtica profissional.

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    Unidade 3: Cdigo de tica (profissional e das organizaes)

  • 5/23/2018 tica e Responsabilidade Socioambiental

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    Cdigo de tica

    O cdigo de tica das organizaes surge no contexto organizacional com a funo defundamentar a prtica dos diversos profissionais. O estabelecimento do cdigo de tica sed por meio da orientao da Declarao Universal dos Direitos Humanos em consonncia

    com os princpios ticos e valores morais da organizao. Seu principal objetivo esclarecera todos que trabalham em uma organizao, ou tm uma determinada profisso, sobre ascondutas esperadas e consideradas adequadas pela empresa ou classe pro