Enfoques Sociológicos Sobre o Texto Literário

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Textos para a próxima aula - Reflexões em torno da Teoria Sociológic a para o enfoque de obras literárias. Considerem o seguinte trecho do livro O inconsciente político, de Fredric Jameson Inconsciente político “Somente o marxismo pode nos oferecer um relato adequado do mistério essencial do  passado cultural , que, como Tirésias bebe ndo sangue, olta momentaneamente ! ida e  pode mais uma e" falar, reelando sua mensagem muito esquecida em ambientes que l#e s$o totalmente al#eios. %sse mistério só pode ser restabelecido se a aentura #umana for &nica' só assim ( e n$o por meio das diaga)ões dos anacr*nicos ou das  pro+e)ões modernistas ( podemos islumbrar as exigncias itais que nos s$o feitas por questões #á muito esquecidas, como a alternncia sa"onal da economia de uma tribo  primitia, as apaixonada s disputas quanto ! nature"a da Trinda de, os modelos conflitantes da polis ou do império uni ersal, ou, o que aparentemente está mais  próximo de nós no tempo, as empoeiradas polmicas parlamentares e +ornalsticas das na)ões-%stados do século /0/. %ssas questões, com rela)$o a nós, só podem recuperar sua urgncia original se forem recontadas dentro da unidade de uma &nica e grande #istória coletia' apenas se, mesmo sob uma forma disfar)ada e simbólica, forem istas como algo que compartil#a de um &nico terma fundamental ( para o marxismo, a luta cole tia para se alcan)a r um reino de liberdade a partir de um direito da nece ssid ade' ape nas se forem ap ree ndi das como ep isódios it ais de uma &n ica tra ma as ta e incompleta.  A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e oficial, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa uerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada, uma u erra que termina se mpre, ou por uma tran sf or mação revolucion!ria da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em luta " #arx e $nels, %n.& Manifesto Comunista, '()(*. + quando detec tamos os traços dessa narrativa ininterrupta , quando traemos para a su perf ície do texto a realidad e reprimi da e oculta dessa hist ór ia fundamental, que a doutrina de um inconsciente político encontra sua função e necessidade. -essa perspectiva, a conveniente distinção entre cultura e política tornase alo pior que um erro& ou se/a, um sintoma e um reforço da reificação e da priva tião da vida contemp or0ne a. $ssa distinção reconfirma aquele hiato estrutural, experimental e conceitual entre o p1blico e o privado, o social e o psicolóico, ou o político e o poético, entre a História, a sociedade e o indivíduo  2 a tendenciosa lei da vida social capitalista , que mutila nossa existência enqu anto su/ei tos indivi duais e paralisa nos so pensamento com relaçã o ao

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Textos para a próxima aula -Reflexões em torno da Teoria Sociológica para o enfoque de obras literárias.

Considerem o seguinte trecho do livro O inconsciente político , deFredric Jameson

Inconsciente político

“Somente o marxismo pode nos oferecer um relato adequado do mistério essencial do passado cultural , que, como Tirésias bebendo sangue, olta momentaneamente ! ida e pode mais uma e" falar, re elando sua mensagem #á muito esquecida em ambientesque l#e s$o totalmente al#eios. %sse mistério só pode ser restabelecido se a a entura#umana for &nica' só assim ( e n$o por meio das di aga)ões dos anacr*nicos ou das

pro+e)ões modernistas ( podemos islumbrar as exig ncias itais que nos s$o feitas por questões #á muito esquecidas, como a altern ncia sa"onal da economia de uma tribo primiti a, as apaixonadas disputas quanto ! nature"a da Trindade, os modelosconflitantes da polis ou do império uni ersal, ou, o que aparentemente está mais próximo de nós no tempo, as empoeiradas pol micas parlamentares e +ornal sticas dasna)ões-%stados do século /0/. %ssas questões, com rela)$o a nós, só podem recuperar sua urg ncia original se forem recontadas dentro da unidade de uma &nica e grande#istória coleti a' apenas se, mesmo sob uma forma disfar)ada e simbólica, forem istascomo algo que compartil#a de um &nico terma fundamental ( para o marxismo, a lutacoleti a para se alcan)ar um reino de liberdade a partir de um direito da necessidade'apenas se forem apreendidas como episódios itais de uma &nica trama asta eincompleta.

A história de todas as sociedades que existiram até nossos diastem sido a história das lutas de classes. Homem livre e escravo,patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e oficial,numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição,têm vivido numa uerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada,uma uerra que termina sempre, ou por uma transformaçãorevolucion!ria da sociedade inteira, ou pela destruição das duasclasses em luta " #arx e $n els, %n.&Manifesto Comunista , '()(*.

+ quando detectamos os traços dessa narrativa ininterrupta , quando tra emospara a superfície do texto a realidade reprimida e oculta dessa históriafundamental, que a doutrina de um inconsciente político encontra sua função enecessidade.

-essa perspectiva, a conveniente distinção entre cultura e política torna seal o pior que um erro& ou se/a, um sintoma e um reforço da reificação e daprivati ação da vida contempor0nea. $ssa distinção reconfirma aquele hiatoestrutural, experimental e conceitual entre o p1blico e o privado, o social e o

psicoló ico, ou o político e o poético, entre a História, a sociedade e o indivíduo 2 a tendenciosa lei da vida social capitalista , que mutila nossa existênciaenquanto su/eitos individuais e paralisa nosso pensamento com relação ao

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tempo e 3 mudança, da mesma forma que, certamente nos aliena da própriafala. %ma inar que /! existe, a salvo da onipresença da História e da implac!velinfluência do social, um reino da liberdade se/a ele o da experiênciamicroscópica das palavras em um texto ou os êxtases e as intensidades dev!rias reli i4es particulares 2 só si nifica o fortalecimento do controle da

necessidade sobre todas as onas ce as em que o su/eito individual procuraref1 io, na busca de um pro/eto de salvação puramente individual emeramente psicoló ico. A 1nica libertação efetiva desse controle começa como reconhecimento de que nada existe que não se/a social e histórico 2 naverdade, de que tudo é, em 1ltima an!lise , político.

A defesa de um inconsciente político prop4e que empreendamos /ustamenteessa an!lise final e exploremos os m1ltiplos caminhos que condu em 3revelação dos artefatos culturais como atos socialmente simbólicos. $la pro/etauma hermenêutica oposta 3s /! enumeradas5 ela fa , como veremos, não tantoatravés do rep1dio 3s descobertas das outras, mas através da demonstraçãode sua prima ia filosófica e metodoló ica sobre os códi os interpretativos maisespeciali ados, cu/as revelaç4es são estrate icamente limitadas como por suas situaç4es de ori em quanto pelos modos estreitos ou locais pelos quaisconstroem ou estabelecem seus ob/etos "6f. 7A#$89:, ;redric. Oinconsciente político , '<<=, '> '(*.

1022034S, Ra5mond. Tragédia e experi ncia. 0n.6 Tragédia 4oderna. Trad. 7etina7isc#of. S$o 8aulo6 9osac : ;aif5, <==<.

%mTragédia Moderna ><==<?, Ra5mond 1illiams, a certa altura, di", comtodas as letras, que é preciso romper com a teoria, para c#egar ao textoliterário, para c#egar ao poema, ! arte. 3bandonar a teoria para isuali"ar as pulsa)ões da dimens$o trágica naliteratura ocidental constitui uma forma de constatar que as teorias oucorrentes cr ticas >sobretudo aquelas inscritas nas camisas de for)a dasdisciplinas cun#adas, formadas e formatadas no século /0/ para cá, comoa Teoria da 2iteratura, @ormalismo, %struturalismo, Teoria da Recep)$o?,

elaboradas para mediar a rela)$o do leitor com o texto literário, t m antesde tudo colocado toda sorte de empecil#o para que possamos ler einterpretar a onipresen)a da tragédia na maior parte dos textos literários aque c#amamos de “can*nicosA ou n$o can*nicos, dicotomia, sim, que de eser permanentemente problemati"ada, inclusi e como parte e contraparteda tragédia da modernidade.

3ntes de prosseguir, fa"-se indispensá el definir tragédia nos termos propostos por Ra5mond 1illiams. 3mpliando a sua conceitua)$o

acad mica, porque n$o o limita ou o inscre e como g nero literário,1illiams concebe o trágico como o resultado das institui)ões, con en)ões e

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experi ncias nas quais e das quais i emos e para as quais e atra és dasquais nos orientamos para #abitar o mundo, na rela)$o com os demais.

8rocurando dar uma dimens$o mais referencial ! concep)$o do trágico,

segundo 1illiams, trágico, portanto, é a própria constru)$o social, cultural,epistemológica e econ*mica da modernidade burguesa, a que come)a coma expans$o mar tima, no século /B0 para, finalmente, nos tempos atuais,render todo o planeta ! lógica financeira e mercadológica.

Trágico, nesse sentido, é a unidimensionalidade de um sistema montado para pil#ar os recursos materiais, itais e simbólicos do planeta, para beneficiar CDC= de #umanos e que se impõe sob o signo da ontade dedominar, da estrutura)$o manique sta e assimétrica dos pa ses entre si, do

trabal#o e do capital, dos padrões étnicos, #eterossexuais, patriarcais,lingE sticos, tecnológicos e econ*micos sobre toda sorte de modos de i er,ser e trabal#ar que n$o se inscre am ou se adaptem ! máquina de produ)$ode clones ser is e a ser i)o dessa padroni"a)$o planetária do mesmo e da besta.

Trágico, enfim e em come)o, é todo uma profus$o de mundos e de possibilidades, de ser e de estar mul#er, crian)a, adolescente, +o em, el#o,

ndio, negro, mesti)o, asiático, mul)umano, crist$o, budista, latino,

africano, ga5, biodi ersidades, que n$o se iabili"em, porque ou s$omassacrados ou est$o docilmente adaptados para a+udar a manter a tragédiade uma ci ili"a)$o fundada nareificação indi idual e autoral, !s custas da polifonia, algara ia e singularidades coleti as.

Fs dois lados da tragédia, segundo 1illiams.

3 moderna tragédia é liberal em suas duas facetas, a do naturalismo e a doromantismo. 3 primeira inscre e-se na ra"$o instrumental, racional,

impessoal, coleti a como se a sociedade prescindisse do su+eito, da ontade#umana, porque o progresso cient fico, como o lugar da terceira pessoa,determina os rumos coleti os da Gistória. 3 segunda, por sua e", arom ntica, é irracional, sub+eti a, indi idual e por isso mesmo desacreditado lado social e coleti o da a)$o #umana, pois parte da premissa de que osu+eito é tudo, no amor, na arte, na ida. Fs dois lados s$ocomplementares, p. HI a C=<.

Resulta da , do naturalismo liberal, a ideia de moderni"a)$o, comoindependente da ontade #umana, do su+eito, sendo ela própria a a)$o,

inculada ao progresso, re+eitando, portanto, a pol tica. %sta, portanto, é a

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re+eitada-mor, ra"$o pela qual, sem a 8ol tica, o que temos é um sociusmoderni"ador-racional-impessoal-determinista e a irracional-sub+eti a- pessoal-indi idual, num contexto em que tudo é politicamentedeterminado, principalmente a a)$o impessoal, da dimens$o social. 8.C=<.

Refer ncia

1022034S, Ra5mond. Tragédia e experi ncia. 0n.6 Tragédia 4oderna. Trad. 7etina7isc#of. S$o 8aulo6 9osac : ;aif5, <==<.

O devir modernista

3 impossibilidade “cient ficaA de refutar o negacionismo significa a clausura do

niilismo comum sobre seus pressupostos. 8ara retomar uma el#a metáfora, somenteuma mudan)a de campo permite desatar o nó re isionista do poss el. Jma mudan)a decampo, ou se+a, a ado)$o de alguns axiomas que por #o+e me contentarei em enunciar.%m primeiro lugar, o tempo é sem rela)$o com a erdade' em segundo lugar, oacontecimento é sem rela)$o com o poss el' em terceiro lugar, o real é sem rela)$ocom o realismo. 3 partir da , o trabal#o que se impõe, e ao limiar do qual eu deixo ossen#ores e me deixo por #o+e, seria um trabal#o sobre o estatuto das “exist nciasinexistentesA, sobre a maneira como elas estruturam o campo de uma pol tica doacontecimento e como elas m a encontrar as categorias do saber. >R3;90KR%,Lacques. 8ol ticas da escritaRANCIÉRE, Jacques. Políticas da escrita . Trad. Raquel Ramalhete ETA!".Editora #$, Rio de Janeiro, %&&', p.()'.

Transcultura*+o narrativa.

%ntendemos que el ocablo transculturación expresa me+or las diferentes fasesdel proceso transiti o de una cultura a otra, porque éste no consiste solamenteen adquirir una cultura, que es lo que a rigor indica la o" angloamericanaaculturación, sino que el proceso implica también necesariamente la pérdidao el desarraigo de una cultura precedente, lo que pudiera decirse una parcialdesculturación, 5, además, significa la consiguiente creación de nue os fenómenosculturales que pudieran denominarse neoculturación. > FRT0M, CHHN, OP?.

9omo son dos los procesos transculturadores que se registran al mismo tiempo>uno entre las metrópolis externas 5 las urbes latinoamericanas 5 otro entreéstas 5 sus regiones internas? ser a el segundo el que #abr a de proporcionarlas ma5ores garant as de una construcción con más notas diferenciales, ademásespec ficamente americanas, en aquellos casos en que por obra de la “plasticidadculturalA se consiguiera integrar dentro de las estructuras propias rearticuladas,las incitaciones moderni"adoras que las ciudades #abr an mediati"ado. >CHO<a6

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<C=?

%l “rolA del mediador es equiparable al del agente de contacto entre di ersasculturas 5 as estamos isuali"ando al no elista que llamamos transculturador,reconociendo sin embargo que más allá de sus dotes personales, act&a

fuertemente sobre él la situación espec fica en que se encuentra la cultura a lacual pertenece 5 las pautas seg&n las cuales se moderni"a. >CHO<6 C=P?

Si el principio de unificación textual 5 de construcción de uma lengua literaria pri ati a de la in ención estética, puede responder al esp rito racionali"ador dela modernidad, compensatoriamente la perspecti a lingE stica desde la cual se loasume restaura la isión regional del mundo, prolonga su igencia en una formaaun más rica e interior que antes 5 as expande la cosmo isión originaria en unmodo me+or a+ustado, auténtico art sticamente sol ente, de #ec#o moderni"ado, pero sin destrucción de identidad. >CHO<6 NP?

Refer cia

R343, 3ngel. Transculturación narrati a en 3mérica 2atina. 4éxico6 Siglo //0,CHO<. QQQQQQQQQQQQ 2os procesos de transculturación en la narrati a latinoamericana.0n6 2a no ela latinoamericana CH<=-CHO=. 7ogotá6 0nstituto 9olombiano de 9ultura,CHO< . QQQQQQQQQQQQ 2iteratura e cultura na 3mérica 2atina. S$o 8aulo6 %dusp, <==C.

pre"ad s, anexo a proposta de ati idade para a próxima aula. propon#o uma din mica por grupos de alun s, a partir do seguinte tema geral6C. %nfoque sociológico sobre o texto literário.Tendo em ista o tema supracitado, considerem6C. F fragmento do li ro de Lameson,O inconsciente político, em que é proposto oargumento de inconsciente pol tico para analisar textos literários. Fs grupos de er$otentar encontrar o inconsciente pol tico de duas cr*nicas-contos de 9aio @ernando3briu, anexadas'<. Tendo em ista o conceito de tragédia de Ra5mond 1illiams > considerar o arqui oanexado?, analisar como se dá a rela)$o entre institui)ões, con en)ões e experi ncias da

tragédia moderna, no +ogo entre seu lado naturalista e rom ntico, relacionando tudo issoaos dois textos de 9aio @ernando 3breu'P. Trabal#ar com os axiomas apresentados por Lacques Ranci re > está no mesmoarqui o do fragmento de Lameson e de 1illiams? e usá-los para problemati"ar ecomplexificar a ideia de tragédia de 1illiams e de inconsciente politico de Lameson.Uarei um tempo de <= minutos para oc s con ersarem em grupo sobre essas questões eum tempo posterior para apresentarem suas considera)ões a respeito.

abra)osluis