Encarte Revista Semana da África na UFRGS – 2016
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Texto baseado em dissertação de mestrado em Geografia (UFRGS / 2015) de Roberto Uebel: “Análise do perfil socio-espacial das migrações internacionais para o Rio Grande do Sul no início do século XXI.”
Projeto Gráfico e DiagramaçãoHeloísa Bastos MarquesPaulo Baldo
IlustraçõesBruno Ortiz
IMIGRAcaOAFRICANA
nobrasil
- , IMIGRAcaO
AFRICANAno
brasil
- ,
Texto baseado em dissertação de mestrado em Geografia (UFRGS / 2015) de Roberto Uebel: “Análise do perfil socio-espacial das migrações internacionais para o Rio Grande do Sul no início do século XXI.”
Projeto Gráfico e DiagramaçãoHeloísa Bastos MarquesPaulo Baldo
IlustraçõesBruno Ortiz
No período de 2010 a 2015,
houve um crescimento considerável do
número de imigrantes africanos em di-
reção ao Brasil. Em 2010, dados do Ins-
tituto Brasileiro de Geografia e Estatísti-
ca (IBGE) e da Polícia Federal estimavam
aproximadamente 10.600 africanos
emigrados para o país. Cinco anos de-
pois este número cresceu quatro vezes,
chegando a 40.600 imigrantes africa-
nos em território brasileiro.
Isso se deve, dentre outros mo-
tivos, pela imposição de regras cada vez
mais rígidas à imigração na União Eu-
ropeia, especialmente após a crise eco-
nômica dos últimos anos, pelas práticas
xenofóbicas históricas naquele conti-
nente, e pela travessia do Mediterrâneo
que é arriscada e incerta aos africanos
que se aventuram. Canadá e Austrália,
outros tradicionais países de destino,
impõem cotas anuais de imigração, o
que limitou muito as oportunidades de
trabalho e moradia aos africanos que
competem com imigrantes latino-ame-
ricanos e asiáticos.
O Brasil apresentou, até 2014,
um melhor desempenho econômico, a
abertura de novos postos de trabalho,
a universalização do sistema de saúde,
o acesso às universidades públicas e à
educação básica gratuita. Também a le-
gislação trabalhista vigente no País cos-
tuma atrair os estrangeiros para o nosso
mercado de trabalho. Assim, no perío-
do, a migração de africanos para o Bra-
sil revela-se uma alternativa interessan-
te, apesar dos altos custos da travessia
do Atlântico e das barreiras linguísticas.
IMIGRAcaO AFRICANA no brasil
- ,
Imigrantes EconômicosAfricanos no Brasil 2010/2015•
Angolanos
Sul-africanos
Nigerianos
Guineenses
Cabo-verdianos
Moçambicanos
SenegalesesEgípcios
Marroquinos
Congoleses
Outras Nacionalidades
27,3%
11%
9,8%
6,8%
18,2%
2,8%
2,8%
4,1%
4,8%
6,1%
6,3%
A legislação imigratória, ainda
que formulada durante a ditadura mi-
litar, não barra os imigrantes que vêm
para trabalhar e estudar, mas as con-
dições de recepção e adaptação, assim
como os casos de racismo são questões
que toda a sociedade deve superar.
No cômputo total, a imigração
africana para o Brasil ainda é pequena,
estando atrás da imigração de latino-
-americanos, europeus e asiáticos. Po-
rém, o número de solicitações de refú-
gio de africanos é o que mais cresceu
nos últimos anos, chegando a quase 11
mil solicitações no biênio 2014/2015.
Destas solicitações, apenas 727 africa-
nos receberam o status de refugiados
pelo Comitê Nacional para os Refugia-
dos (CONARE), órgão ligado ao Ministé-
rio da Justiça.
Conforme o gráfico ao lado, an-
golanos, guineenses, cabo-verdianos e
moçambicanos, povos que possuem a
mesma língua oficial e laços históricos
com o Brasil, compõem o maior percen-
tual de africanos que chegam ao País.
Não apenas as novelas e o futebol bra-
sileiro influenciam o imaginário destes
emigrados, mas a própria cooperação
universitária e a instalação de empresas
brasileiras nestes países servem como
motivação.
Os sul-africanos, nigerianos e
senegaleses que chegam ao Brasil pro-
vêm de países com desenvolvimento
médio, são ricos em matérias-primas,
mas com distribuição de renda desi-
gual, o que resulta em classes médias
que anseiam maior crescimento profis-
sional e econômico.
Já os egípcios e marroquinos
migram para o país em virtude da gran-
de comunidade muçulmana já existente
por aqui e por ser uma migração que
remonta aos primeiros anos da Repúbli-
ca, ou seja, é uma migração contínua e
elevada.
Embora todos venham do continente
africano, é importante categorizar estes
imigrantes em duas classificações dis-
tintas:
• Imigrantes econômicos – mi-
gram exclusivamente por motiva-
ções econômicas e sociais, em busca
de melhores condições de vida, es-
colas e universidades para os filhos,
além da possibilidade de reunirem-
-se com seus familiares que já estão
aqui ou que migrarão no futuro.
• Refugiados – são aqueles indivídu-
os que sofrem perseguições devido
à sua etnia, religião, nacionalidade,
associação a determinado grupo
social ou opinião política. Ou seja,
migram para o Brasil para fugir de
uma perseguição muitas vezes pra-
ticada pelo Estado, desejando man-
ter a maior distância possível deste.
Os imigrantes africanos seguem
tradicionalmente dois padrões de rotas
para o Brasil, independentemente do
seu país de origem.
PRINCIPAIS ROTAS A trajetória sempre inclui: partida do
país de origem até a Europa, normal-
mente Madrid, Lisboa ou Paris e de lá
até o Equador e, depois, até o Brasil di-
retamente. As conexões diretas do Brasil
com a África são poucas e normalmente
mais caras.
LEGENDA
ROTAS DE PARTIDA Rota A: Dakar - Casablanca - Madri - Quito Rota B: Dakar - Madri - Quito
ROTAS DE DESTINO Rota 1: Quito - Lima - Cobija - AC - São Paulo - RS Rota 2: Quito - Peru - Bolívia - Ciudad del Este - F. Iguaçu - RS Rota 3: Quito - Peru - Bolívia - Paso de los Libres - RS Rota 4: Quito - Lima - RS
Elaboração: Roberto Rodolfo Georg Uebel. Apoio: CAPES/Projeto Pró-Defesa e Fapergs
IMIGRANTESAFRICANOS NO
Rio grande do sul
O crescimento das indústrias
frigoríficas, metalomecânicas e move-
leiras, além da expansão dos setores de
comércio e serviços demandou um nú-
mero maior de trabalhadores. Assim, o
Rio Grande do Sul se configurou como
mais uma alternativa dentro do Brasil,
quadro que vem mudando no último
ano, quando os africanos começaram a
No Rio Grande do Sul, em 2010,
ingressaram pouco mais de 500 africa-
nos. Em 2015 este número já estava em
quase 2.500 imigrantes. Estes números
referem-se à migração interna, pois a
chegada dos africanos raramente é di-
retamente em Porto Alegre, e sim em
São Paulo, Rio de Janeiro e, mais recen-
temente, no Acre.
Senegaleses
Angolanos
Moçambicanos
Nigerianos
Sul-africanos
Outras Nacionalidades
24%
4,4%
4,8%
7,3%
43%
24%
4,4%
4,8%
7,3%
16,4%
Imigrantes Africanos noRio Grande do Sul 2010/2015•
buscar outros destinos.
Ainda assim a comunidade de
imigrantes africanos no Rio Grande do
Sul é muito pequena. Das 54 naciona-
lidades africanas, apenas 21 possuem
imigrantes aqui, ao contrário do restan-
te do País, que possui imigrantes de to-
das as nações africanas.
Normalmente os imigrantes africanos já vêm com trabalho e local de moradia definidos. Isso se dá por conta de redes de familiares ou amigos que já vivem no Bra-sil, ou através de empresas que os contratam em seus países de origem. Aqueles que não possuem assistência ou referências no Brasil, são atendidos por órgãos ligados às igrejas, como Pastoral do Migrante, Cáritas, e também pelas próprias prefeituras e entidades de assistência social do Estado e da União.
Os maiores destinos são região metropolitana de Porto Alegre, Serra Gaúcha e norte do Estado, as regiões que mais possuem ofertas de trabalho. Alguns também se destinam a Rio Grande, onde trabalham nas obras do Porto de Rio Grande. Marro-quinos e egípcios se concentram mais nas comunidades muçulmanas da Campanha e da fronteira sul.
ACOLHIMENTO E LOCAIS DE DESTINO NO RS
A UFRGS E OS IMIGRANTES
A Decisão nº 366/2015 do Conselho Universitário aprova as Normas para Ingresso de pessoas em situação de refúgio em cursos de graduação e pós--graduação da Universidade Federal do Rio Gande do Sul - UFRGS.
A UFRGS é participante do Programa de Estudantes Convênio de Graduação (PEC-G), regido atualmente através do Decreto nº 7.948, de 12 de março de 2013 e administrado pelo Ministério
das Relações Exteriores e pelo Ministé-rio da Educação, por meio da Secreta-ria de Educação Superior (SESU/DIPES/CGRE), em parceria com Instituições de Ensino Superior em todo o país, desde a sua criação, em 1965.
A UFRGS oferece assistência jurídica gra-tuita a imigrantes e refugiados através do Grupo de Assessoria a Imigrantes e a Refugiados (GAIRE), integrante do pro-jeto de extensão ligado ao Serviço de
• Apesar do desenvolvimento eco-nômico da África nas últimas décadas, ainda há uma carên-cia muito grande de oportuni-dades de emprego, estudo e melhoria de renda para gran-des parcelas da população.
• O percentual de negros e par-dos da população brasileira e a equivocada ideia da “democra-cia racial”, amplamente difundi-da desde os anos 50, são fatores que também induzem à migração africana ao país.
• A formação profissional do imi-grante africano é diversa, como a do brasileiro. Não raro encon-tram-se imigrantes com curso su-perior ou formação técnica, espe-rando exercê-las no Brasil.
CURIOSIDADES
Assessoria Jurídica Universitária (SAJU), coordenado pela Faculdade de Direito da Universidade.
O Programa de Português para Estran-geiros (PPE) é uma atividade de exten-são que promove cursos de português para falantes de outras línguas e forma-ção de professores. Também desenvol-ve pesquisa e material didático e realiza intercâmbios com instituições de ensino nacionais e internacionais.
• Para emigrar para o Brasil, o imi-grante africano faz uma poupan-ça, normalmente de 2 a 4 anos, já que os custos da viagem são caros.
• Estes imigrantes, ao contrário do que muitos pensam, não fazem parte das camadas mais pobres em seus países de origem, pelo contrário, são oriundos de uma classe média que pretende ascen-der pessoal e profissionalmente, igual ao caso de brasileiros que emigram para os Estados Unidos e Austrália, por exemplo.
• Na condição de refugiado, é exigido que o país receptor lhe proporcione proteção, atenção e inclusão, além de uma grande variedade de garantias, como acesso ao mercado de trabalho, reassentamento e ingresso em universidades públicas.
CURIOSIDADES
PARA SABER MAIS
FERREIRA, Ademir Pacelli et al (Org.). A Experiência Migrante: Entre Des-locamentos e Reconstruções. Rio de Janeiro: Garamond, 2010. 560 p.
HERÉDIA, Vania (Org.). Migrações in-ternacionais: o caso dos senegaleses no Sul do Brasil. Caxias do Sul: Quatrilho Editorial, 2015. 292 p.
TEDESCO, João Carlos; MELLO, Pedro Alcides Trindade de. Senegaleses no Centro-Norte do Rio Grande do Sul: Imigração laboral e dinâmica social. Porto Alegre: Letra&Vida, 2015. 295 p.
UEBEL, Roberto Rodolfo Georg. Análise do perfil socioespacial das migrações internacionais para o Rio Grande do Sul no início do século XXI. 2015. 248 f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Geografia, Univer-sidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015. Disponível em: http://hdl.handle.net/10183/117357
Reportagem “Imigração – da África para o Brasil” da TVE-RShttp://www.youtube.com/watch?v=pLcida1yYUc http://www.youtube.com/watch?v=cN-GobwoqH
Documentário “Negro Lá, Negro Cá” – O racismo sob a visão de imigrantes africanos em Fortalezahttp://www.youtube.com/watch?v=xPC16-Srbu4
Associação dos Senegaleses em Caxias do SulEmail: [email protected]
facebook.com/Associação-dos-Senegaleses-em-Caxias-do-Sul-1450366275195921/
Associação dos Senegaleses de Porto Alegrefacebook.com/adspoa Fone: (51) 8227-1001
Asafer – Associação de Apoio aos Africanos em Erechim e Regiãofacebook.com/Asafer-Associação-de-Apoio-aos-Africanos-de-Erechim-e-Região-1010412818998237/
CAM – Centro de Atendimento ao Migrante - Caxias do Sulhttps://www.facebook.com/Centro-de-Atendimento-ao-Migrante-Caxias-do-Sul-CAM-967768573277446/
Email: [email protected] Fone: (54) 3027-3360
IMIGRAÇÃO AFRICANA NO BRASIL
A partir de 2014, houve significativo aumento da chegada de africanos ao Rio Grande do Sul em busca de melhores condições de moradia e trabalho. Este fato gerou certa tensão nas cidades para as quais se dirigiram, provocando urgência na reflexão
sobre o recente processo de imigração africana no Brasil.
O Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros, Indígenas e Africanos da UFRGS - NEAB, considerando as distintas ações acadêmicas realizadas sobre a questão, escolheu o tema da imigração africana para o encarte da Revista da Semana da África 2016. Desse modo, se propõe a colaborar com algumas informações para o embasamento de uma reflexão que aponte para condutas menos discriminatórias e preconceituosas, particularmente com
este segmento.
IMIGRAÇÃO AFRICANA NO BRASIL
A partir de 2014, houve significativo aumento da chegada de africanos ao Rio Grande do Sul em busca de melhores condições de moradia e trabalho. Este fato gerou certa tensão nas cidades para as quais se dirigiram, provocando urgência na reflexão
sobre o recente processo de imigração africana no Brasil.
O Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros, Indígenas e Africanos da UFRGS - NEAB, considerando as distintas ações acadêmicas realizadas sobre a questão, escolheu o tema da imigração africana para o encarte da Revista da Semana da África 2016. Desse modo, se propõe a colaborar com algumas informações para o embasamento de uma reflexão que aponte para condutas menos discriminatórias e preconceituosas, particularmente com
este segmento.
Av. Ipiranga, 2000 - Porto Alegre/RS - CEP 90160-091 - Fone: +55 51 33082921 / 33082920Email: [email protected] - www.ufrgs.br/deds - facebook: dedsufrgs.ufrgs
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