Clau [Poemas]. Alberto Da Cunha Melo.

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© Alberto da Cunha Melo. Poemas escritos entre os anos de 1979 – 1992. 1ª Edição especial para a Internet: transcrição do volume impresso acrescido de novos textos e imagens originais digitalizados. Prefácio de Hildeberto Barbosa Filho. Editoração e notas de Cláudia Cordeiro Tavares da Cunha Melo, | E-mails: [email protected] | [email protected] | [email protected] | http://www.albertocmelo.com | http://blog.trilhasliterarias.com 1

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Copyright© by Alberto da Cunha Melo Inventariante do espólio,

Cláudia Cordeiro Tavares da Cunha Melo

Primeira Edição Impressa 1992: 1000 exemplares Primeira Edição em Braille: 2008 Primeira Edição em E-book: 2011

Prefácio: Hildeberto Barbosa Filho

Alberto da Cunha Melo na Internet:

www.albertocmelo.com

Revisão: Andréia Caroline Pereira de Oliveira

Editoração e notas: Cláudia Cordeiro

Av. Gov. Carlos de Lima Cavalcanti, 2234, ap 102, Casa Caiada, Olinda/PE - CEP 53130-530

E-mail: [email protected] [email protected]

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Créditos e ficha catalográfica originais do livro impresso

Universidade Federal Rural de Pernambuco Reitor: Manoel Francisco de Moraes Cavalcanti Vice-Reitor: Valmar Corrêa de Andrade Pró – Reitor de Extensão: Severino Mendes Junior Diretor da Imprensa da UFRPE: Joselito Nunes de Farias Comissão Editorial: Profa. Rosa de Lima Silva Mello Prof. Newton Banks da Rocha Profa. Rosangela P. Teixeira Lessa Prof. Joselito Nunes de Farias Bibliotecária: Maria Jose Pereira Projeto Gráfico e Capa: Claudia Cordeiro Ilustrações: Alberto da Cunha Melo Composição de Textos: Elizabeth Delgado Fotolito: Jerônimo Arco Verde Impressão: Luciano F. Frazão Jarder Matias Coordenação Geral: Walmir M. de Siqueira Revisão: Maria Helena Porto Composição e Impressão: Imprensa Universitária da UFRPE Editor: Imprensa Universitária Endereço: Universidade Federal Rural de Pernambuco Rua : Dom Manoel de Medeiros, s/n. Dois Irmãos 52171-030 - Recife - PE. Tiragem: 1.000 exemplares Impresso no Brasil

Melo, Alberto da Cunha. M528c Clau: poemas/ Alberto da Cunha Melo. - Recife: Universidade Federal Rural de Pernambuco. Imprensa Universitária, 1992. 113 p. CDD – B869.1 CU – B82-1

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Aberto da Cunha Melo

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ALBERTO DA CUNHA MELO

INDICAÇÕES BIOBIBLIOGRÁFICAS

José ALBERTO Tavares DA CUNHA MELO, nasceu em Jaboatão, Pernambuco, em 1942. Filho do professor, articulista e poeta Benedito Tavares da Cunha Melo e Dona Maria José Veloso de Melo. Alberto morreu no dia 13 de outubro de 2007. Alberto pertence à Geração 65 de poetas pernambucanos e, por iniciativa do poeta e crítico, César Leal, publicou os seus dois primeiros livros de poemas em separata da Revista Estudos Universitários, editada pela UFPE. Juntamente com o poeta Jaci Bezerra, fundou as Edições Pirata, editora alternativa, na qual editou vários de seus livros. Criou o Prêmio Literário Carlos Pena Filho, que, em 1982, premiou autores locais (Pernambuco) e, no ano seguinte (1983), nacionais. Participou como 2º Vice-Presidente da Diretoria que reinaugurou os trabalhos da União Brasileira de Escritores, secção de Pernambuco, em 1985. Como sociólogo, atuando durante onze anos na pesquisa social, na FUNDAJ - Fundação Joaquim Nabuco, Alberto da Cunha Melo publicou vários trabalhos em prosa. Dedicou-se também ao jornalismo, destacando-se como editor do "Commercio Cultural", entre os anos de 1982 a 1985, no Jornal do Commercio. Foi colaborador regular da coluna Arte pela Arte, do Jornal da Tarde (SP) e manteve a coluna mensal “Marco Zero” da revista Continente Multicultural (CEPE) desde o número 0, dezembro de 2000, até o número 83, novembro de 2007, com artigo publicado após sua morte graças à sua extensa produção literária ininterrupta durante o tempo em que pode pegar a caneta ou sua velha máquina Remington e escrever seus poemas, suas crônicas. De 1980 a 1981, foi Gerente de Bem-Estar Social do SESC - Delegacia do Estado do Acre. Também no Estado do Acre, exerceu a função de sociólogo/pesquisador da Comissão Estadual de Planejamento Agrícola. Por duas vezes, foi Diretor de Assuntos Culturais da FUNDARPE - Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (1979/l980 e l987 a l989). Também em 1988, exerceu o cargo de Diretor do Arquivo Público Estadual de Pernambuco e fez parte do Conselho Editorial da CEPE (Cia Editora de Pernambuco).

Sobre sua poesia muitos depoimentos são definitivos, alguns deles: "Em ALBERTO DA CUNHA MELO: há uma dor no poema, há uma carta, uma comunicação para os outros, quaisquer outros; nele a poesia existe como um 'para sempre'." JOAQUIM CARDOZO (in Agenda poética do Recife, 1968, p. 14, sobre os poemas publicados nessa antologia de Cyl Gallindo)

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"Meu caro Alberto, (...) você não pode imaginar o bem que a força da sua poesia me fez. Poesia de mesmo - expressão de vida, compromisso histórico. ( PAULO FREIRE, Genève, 08.01.1980 - sobre o livro Noticiário) " Alberto Cunha! (...) Você tem a capacidade de fazer com que os escritos do sulmaravilha pareçam frescuras e firulas de madames. Assim tipo tricô. Você não faz tricô. Você faz bueiros e bilros!" (HENFIL, Pasquim, RJ, 07.07.l981 - sobre os livros Noticiário e Poemas à Mão Livre) "Dessa forma, Alberto da Cunha Melo cultivou com obsessão octossílabo, mais do que o fizeram juntos todos os poetas da língua portuguesa (incluindo Cabral e Pessoa) e realizou, junto com Carlos Drummond de Andrade e, quiçá o próprio Cabral, a poesia política mais autêntica do Brasil, e, quase unicamente, a mais bem sucedida e original poesia fundada em ciência econômica da língua portuguesa." (MÁRIO HÉLIO, Recife, PE, 1989 - posfácio do livro Poemas Anteriores) "(...) Inventando uma forma fixa, Alberto da Cunha Melo ingressou em um fechadíssimo clube de poetas, entre os quais se sobressaem Giacomo da Lentino, inventor do soneto, e Arnaut Daniel, criador da sextina." (CÉSAR LEAL, Diário de Pernambuco - Recife - PE, 13.07.1998 - sobre o livro Carne de Terceira) "Apesar do lirismo confessional e amoroso, nunca lhe falta a seminal atitude irônica e crítica, vezes amarga e corrosiva, que o faz um dos poetas mais densos da poesia brasileira contemporânea." (HILDEBERTO BARBOSA FILHO, O Norte, João Pessoa - PB, 02.04.2000 - sobre o livro Clau) "(...) desta vez, num longo poema narrativo (ou, de outro ângulo, numa alentada alegoria dramática), Cunha Melo amplia a lição cabralina, resumindo e expandindo sua própria arte a ponto de tornar irrefutável sua definitiva presença entre os grandes de nossa lírica. A linguagem pungente e específica, tão concreta quanto alusiva e simbólica - leia-se: o idoma servido sem complexidades ornamentais, aquele que em momento algum faz um dialeto de si mesmo - foi desde sempre a marca registrada deste maggior fabbro à inglesa, de timbre telúrico e fôlego metafísico à maneira (e à altura) de um Herbert, um Donne, ou um Hill hoje. (BRUNO TOLENTINO, revista Bravo, outubro de 1999, sobre o livro Yacala) "O Nordeste nos dá, mais uma vez, depois do paraibano Augusto dos Anjos [...], do alagoano Jorge Lima e dos pernambucanos Carlos Pena Filho e João Cabral, a sua lição de dor que se faz beleza e arranca de si forças para construir uma poesia como a de Alberto da Cunha Melo, cujo nome secreto é — resistência." ALFREDO BOSI (Prefácio do livro Yacala, EDUFRN, 1999).

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“Creio, não obstante, que a alta poesia nasce da aventura expressiva dos grandes pecadores. Não os que destroem as heranças literárias, mas os que sabem reinventá-las dentro da abertura natural dos sistemas estéticos. Por exemplo: Dante, Villon, Baudelaire, Rimbaud, Mallarmé, Blake, Holderlin, Rilke, Eliot, Pessoa, Borges. A poesia de Alberto – e O cão de olhos amarelos & outros poemas inéditos – não se quer simplesmente poesia de invenção enquanto pesquisa lingüística que se esgota nos costados da linguagem, isto é, como esteticismo autotélico, grafismo autofágico, minimalismo estéril. Sem descurar de uma consciência metalingüística, de uma atitude crítica e metódica diante dos vocábulos e dos recursos retóricos, se impõe sobretudo como uma poesia de significação, onde as incidências afetuais e a dança das idéias pelo intelecto apontam para o mundo e para a vida. Sem deixar-se seduzir pelos modismos artísticos, sua poesia é autêntica. É, como já disse, dotada de verdade e de beleza. E, sendo assim, gostaria de parafrasear Johannes Pfeiffer, em Introdução à poesia: devido à sua verdade, esta poesia é necessária; devido à sua beleza, é beatificante!” (HILDEBERTO BARBOSA FILHO. “Alberto da Cunha Melo, grande pecador ou seis propsotas para uma nova leitura”. Posfácio do livro O Cão de Olhos Amarelos & Outros Poemas Inéditos, 2006). Obra publicada: POESIA 1966 - Círculo cósmico. Recife: Separata da revista Estudos Universitários da UFPE. 1967 - Oração pelo poema. Recife: Separata da revista Estudos Universitários da UFPE. 1974 - Publicação do corpo - in Quíntuplo . Edições Aquário 1979 - Dez poemas políticos. Recife: Edições Pirata 1979 - Noticiário. Recife: Edições Pirata 1981 - Poemas à mão livre. Recife: Edições Pirata 1983 - Soma dos sumos . São Paulo, Recife: José Olympio Editora\ Fundarpe. 1989 - Poemas anteriores. Recife: Edições Bagaço 1992 - Clau. Recife: Editora Universitária (UFRPE) 1996 - Carne de terceira com Poemas à mão livre. Recife: Edições Bagaço 1999 - Yacala. Recife: Editora Gráfica Olinda 2000 - Yacala. Natal: EDUFRN, edição fac-similar, acrescida de prefácio de Alfredo Bosi 2002 - Meditação sob os lajedos. Natal/Recife: EDUFRN, Edições Bagaço, 4º lugar do primeiro Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira, 2003. 2003 - Dois caminhos e uma oração. São Paulo/Recife: A Girafa, IMC 2006 - O cão de olhos amarelos & Outros poemas inéditos. São Paulo: A Girafa, Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras, 2007.

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PROSA 1978 - Planejamento sociológico - (em coautoria com o sociólogo Roberto Aguiar). Recife: Massangana 2001 – Um certo Louro do Pajeú. Reportagem biográfica. Natal: EDUFRN 2002 – Um certo Jó. Reportagem biográfica. Recife: Uzyna Cultural 2009 - Marco Zero: Crônicas. Recife: CEPE. ORGANIZADOR 2009 - Benedito Cunha Melo, Poesia Seleta. Organizador. Recife: edição do espólio, 300 exemplares impressos na gráfica da editora Bagaço, 2009.

Sobre o autor

CORDEIRO, Cláudia. Faces da resistência na poesia de Alberto da Cunha Melo. Recife: Bagaço, 2003.

CORDEIRO, Cláudia (org.). Uma estranha beleza: entrevista com o poeta Alberto da Cunha Melo. In: Cronos: Revista de Pós-graduação em Ciências Sociais da UFRN, v.5/6, n.1/2. NATAL: EDUFRN, 2000, p.317-33, jan/dez, 2004/2005.

FARIA, Norma Maria Godoy. Metapoesia e profecia em Alberto da Cunha Melo. Dissertação de Mestrado. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2005.

MOLITERNO, Isabel de Andrade. Imagens, reverberações na poesia de Alberto da Cunha Melo: uma abordagem estilística do texto. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2007.

BUENO, Alexei. Uma história da poesia brasileira. Rio de Janeiro: G. ERMAKOFF, 2007, p. 383-384.

COBRA, Edivaldo. Um tributo a Alberto Cunha Melo. Jabotão: edição do autor, 2008. Cordel.

Sobre Alberto da Cunha Melo, encontram-se verbetes no Dicionário Biobibliográfico de Poetas Pernambucanos (CEPE, Recife, 1993), na Enciclopédia VERBO das Literaturas de Língua Portuguesa. (ed. Verbo, Lisboa/São Paulo, 1999), na Enciclopédia de Literatura Brasileira (Global Editora, São Paulo, 2001); Pernambuco, Terra da Poesia. Um painel da poesia pernambucana dos séculos XVI ao XXI. (1ª ed. 2005 - 2ª ed. 2010) Uma História da Poesia Brasileira (2008).

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Alberto da Cunha Melo

CLAU

(POEMAS) RECIFE – PE

Imprensa Universitária Universidade Federal de Pernambuco

1992

1ª EDIÇÃO EM E-BOOK

Com ilustrações originais do autor e outros registros digitalizados

2011

Prefácio de Hildeberto Barbosa Filho

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SUMÁRIO

Prefácio .................................................................. 17

Nota do Autor ......................................................... 20

1 - SINAIS .............................................................. 22

2 - PRESSENTIMENTOS ....................................... 23

3 - SURPRESAS .................................................... 24

4 - DÚVIDAS .......................................................... 25

5 - ACENOS ........................................................... 26

6 - DEFESAS ......................................................... 27

7 - CUIDADOS ....................................................... 28

8 - ANSIEDADES ................................................... 29

9 - ENSAIOS .......................................................... 30

10 - IMPULSOS ....................................................... 31

11 - DESCOBERTAS ............................................... 32

12 - LIÇÕES ............................................................. 33

13 - VESTÍGIOS ....................................................... 34

14 - VISÕES ............................................................ 35

15 - PEDIDOS .......................................................... 36

16 - RESISTÊNCIAS ................................................ 37

17 - ÊXTASES ......................................................... 38

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18 - AMEAÇAS ........................................................ 39

19 - SUBLIMAÇÕES ................................................ 40

20 - INVASÕES ........................................................ 41

21 - ESCOLHAS ...................................................... 42

22 - CRISTAIS ......................................................... 43

23 - APEGOS ........................................................... 44

24 - CIÚMES ............................................................ 45

25 - DESAFIOS ........................................................ 46

26 - ALIADOS .......................................................... 47

27 - AFAGOS ........................................................... 49

28 - REFÚGIOS ....................................................... 50

29 - NOBREZAS ...................................................... 51

30 - INVEJAS ........................................................... 52

31 - CROMOS .......................................................... 53

32 - SENTENÇAS .................................................... 54

33 - ELOGIOS .......................................................... 55

34 - ORGASMOS ..................................................... 56

35 - MEDOS ............................................................. 57

36 - LEMBRANÇAS ................................................. 58

37 - ACORDES ........................................................ 59

38 - CAPITULAÇÕES .............................................. 60

39 - POSSESSÕES ................................................. 61

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40 - CONFLUÊNCIAS .............................................. 62

41 - SUGESTÕES .................................................... 63

42 - CATARSES ....................................................... 64

43 - SUTILEZAS ...................................................... 65

44 - SENTIDOS ........................................................ 66

45 - MIMOS .............................................................. 67

46 - INTIMIDADES ................................................... 68

47 - DISPUTAS ........................................................ 69

48 - INDECISÕES .................................................... 70

49 - MANHAS .......................................................... 71

50 - ACORDES ........................................................ 72

51 - ATLETISMOS ................................................... 74

52 - PUDORES ........................................................ 75

53 - LENDAS ........................................................... 76

54 - TOPOGRAFIAS ................................................ 77

55 - ANÁLISES ........................................................ 78

56 - ARROUBOS ..................................................... 79

57 - CONFISSÕES (DE CLAU) ................................ 80

58 - ESBOÇOS ........................................................ 81

59 - COMPARAÇÕES .............................................. 82

60 - GAFES .............................................................. 83

61 - HEMISFÉRIOS ................................................. 84

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62 - REPETIÇÕES ................................................... 85

63 - ESTÁGIOS ........................................................ 86

64 - ARAGENS ........................................................ 87

65 - DEFINIÇÕES .................................................... 88

66 - QUOTIDIANOS ................................................. 89

67 - SONOS ............................................................. 90

68 - CONTRADIÇÕES ............................................. 91

69 - AMENIDADES .................................................. 92

70 - PROFUNDIDADES ........................................... 93

71 - ACERVOS ....................................................... 94

72 - COLHEITAS ..................................................... 95

73 - SINESTESIAS................................................... 96

74 - PAISAGENS ..................................................... 97

75 - NOITES ............................................................ 98

76 - COMTEMPLAÇÕES ......................................... 99

77 - RESISTÊNCIAS .............................................. 100

78 - AVANÇOS ...................................................... 101

79 - DESPRENDIMENTOS .................................... 103

80 - INOCÊNCIAS .................................................. 104

81 - ETIQUETAS .................................................... 106

82 - ABRAÇOS ...................................................... 107

83 - PRESSÁGIOS................................................. 108

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84 - AUSÊNCIAS ................................................... 109

85 - LEITURAS ...................................................... 110

86 - ECLIPSES ...................................................... 111

87 - FÚRIAS ........................................................... 112

88 - MINÚCIAS ...................................................... 113

89 - ATRITOS ........................................................ 114

90 - PRENÚNCIOS ................................................ 115

91 - DISTÂNCIAS ................................................. 116

92 - IMPASSES ...................................................... 117

93 - SOLIDÕES ...................................................... 118

94 - RENDIÇÕES ................................................... 119

95 - SAÚDES ......................................................... 120

96 - ORFANDADES ............................................... 121

97 - EXORCISMOS ................................................ 122

98 - BALADAS ....................................................... 123

99 - ALTERNÂNCIAS ............................................. 124

100 - ESCOLHAS .................................................. 125

101 - FINAIS .......................................................... 126

REGISTROS DIGITALIZADOS .............................. 128

ÍNDICE DE PRIMEIROS VERSOS ......................... 140

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Prefácio

UMA LAICA LITURGIA DE AMOR

Hildeberto Barbosa Filho

O lirismo confessional em si não constitui defeito do ponto de vista do discurso poético. Mesmo o lirismo confessional amoroso, isto é, o lirismo em que, na mais das vezes, provavelmente pela incidência de intensidade do sentimento, determinados poetas tendem a sucumbir ao apelo da emoção, esgarçando por demais a intermediação linguística da forma e do estilo. Em outras palavras, adere-se, e adere-se linearmente, a um conteúdo, na urgência catártica de extravasar-se, sem que os componentes da afetividade, intrínsecos à criação poética, convivam com soluções técnicas e estéticas moduladoras do poema. E aí, talvez tenhamos a poesia enquanto matéria bruta e amorfa, mas ainda não o texto poemático enquanto manifestação de ars poetica.

Tal não ocorre, contudo, com o poeta pernambucano Alberto da Cunha Melo, no seu livro Clau (poemas), publicado pela Universidade Federal Rural de Pernambuco/Imprensa Universitária, em 1992. Livro que vem de ampliar uma obra poética da qual podemos destacar títulos, como Círculo Cósmico (1965), Oração pelo poema (1969), Noticiário (1979) e Poemas Anteriores (1989), entre outros.

Clau é mais que dedicado a Cláudia Cordeiro, mulher do poeta, pois, segundo ele mesmo os poemas procuram formular sua visão "completa de uma mulher particular", até porque, "a poesia, além de ser uma ânsia pela verdade absoluta, é a singularização ou a personificação máxima dos seres e das coisas". Cristalizando, assim, uma fotografia lírica do objeto individual do seu desejo, do corpus singular da sua fantasia e do seu devaneio, traceja também a fisionomia ontológica de "muitas outras mulheres que vivem, trabalham e amam neste planeta assustador".

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Pois bem: já nestas frases, a concepção consciente do processo de transfiguração poética, na medida em que, o motivo selecionado e recoberto se transmuta em símbolo, deslocando-se, portanto, do referencial particular para o eixo universal das coisas. Daí, um poema como Confluências: "Não te amo contra Maria,/ contra Tereza,/ contra Luzia;/ eu te amo amando/ todas as Marias,/ todas Terezas,/ todas as Luzias/ que moram em ti;/ eu te amo/ a favor de todas/ que não amei como a ti;/ eu te amo amando/ as duzentas Marias,/ as trezentas Terezas,/ as quatrocentas Luzias/ que moram em ti".

A mulher amada gera a possibilidade artística e criadora, mas se transforma na amada de todos nós, transportando, pelas propriedades inerentes à gramática especial da linguagem poética, o impacto sentimental do eu lírico que, à força do ritmo, ao peso da ideia e à pressão dos toques imagéticos, tende a ecoar na sensibilidade do leitor. Ecoar de tal maneira que convocados para o universo poético da recordação, isto é, a experiência de se ter o mundo de volta ao coração, como sugere Emil Staiger, temos a percepção renovada face à realidade que nos cerca.

Em nenhum momento, salvo talvez numa que noutra passagem em que o coloquial limita-se com o convencional, Alberto da Cunha Melo cede ao regime desordenado das emoções. Leitor de T. S. Elliot, sabe muito bem que estas devem existir, mas devem ser contidas, transfiguradas, reelaboradas na distância e na tranquilidade, como quer Wordsworth, para que a palavra, fecundada de energia erótica e espiritual, possa ascender a condição icônica do poema.

O problema não é exprimir as emoções, através do fluxo confessional, mas como exprimi-las, como emoldurá-las na geometria poética da linguagem. Como revesti-las de modo que o aparentemente trivial venha a configurar estatuto estético, exatamente pelo estranhamento que deflagra. Leia-se o poema Cuidados: "Ela ainda não chegou,/ mas, quando chegar/ estarei no aeroporto,/ de camisa nova/ e

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verde,/ esperando-a;/ estarei mais feio,/ mais velho/ mais cansado de esperá-la,/ mas estarei/ de camisa nova/ e verde,/ esperando-a".

A capacidade de transcender o confessional não elide, na poesia do autor de Círculo cósmico, os afagos e os apegos para com a oralidade da palavra. Afeito ao rigor de uma técnica vérsica de raro manejo do octossílabo, a exemplo do que vemos em Oração pelo poema e em Poema anteriores, aqui, Alberto da Cunha Melo investe num versolibrismo fluido, direto, simples, antirretórica, espontâneo, coloquial. Nunca, no entanto, verboso, simplório, soluçante ou lacrimoso.

Apesar do lirismo confessional e amoroso, nunca lhe falta a seminal atitude irônica e crítica, vezes amarga e corrosiva, que o faz um dos poetas mais densos da poesia brasileira contemporânea. Sugestões, por exemplo, sinaliza neste sentido: "Quero dezembros,/ sou louco por dezembros/ e por uma mulher/ chamada Cláudia,/ filha de Oxum,/ a de cabelos montanhosos,/ de longa paciência/ para suportar/ minha vontade de morrer; / quero dezembros de verdade,/ fins de dezembros/ com as pessoas correndo/ atrás/ de suas almas perdidas".

Com essa obra monotemática, construída de poemas que formam um poema só, na ideia que preside, na uniformidade melódica dos versos e na unidade contrastante das imagens, Alberto da Cunha Melo demonstra que é possível tecer toda uma laica liturgia de amor, para a mulher que se ama, sem despencar no abismo da pieguice e da mediocridade.

(Jornal O Norte, João Pessoa, PB, 02.04.2000)

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Nota do Autor

Entre meus vários textos inéditos, que amareleciam no eterno outono das gavetas (o único outono que os poetas do Nordeste brasileiro conhecem), estava este livro, em sua grande parte escrito nos anos para mim contraditoriamente mesclados de turbulência profissional e êxtase amoroso. Muitos destes poemas foram escritos no estado do Acre, onde trabalhei , entre 1980 a 1982, ora como executivo, ora com sociólogo. Foi Joselito Nunes, diretor da Imprensa Universitária da UFRPE, que anonimamente tem publicado (para honra daquela Universidade) os melhores nomes da grande poesia popular nordestina, bastando citar Pinto do Monteiro, Jó Patriota, Pedro Amorim, Dedé Monteiro, Canção, Lorival Batista, João Furiba, e um dos grandes parceiros de Luiz Gonzaga, Zé Marcolino, que teve a audácia de me convidar, a mim, um poeta “da praça”, um “poeta pracista”, para apresentar ao Conselho Editorial da UFRPE um texto poético. Aceitei, escolhi este livro, e creio que escolhi o mais oportuno.

O que se vai ler não são poemas meramente dedicados a uma única mulher que eu quis conquistar, a pintora Claudia Cordeiro, a quem chamo na intimidade de Clau e com quem divido a minha vida há mais de uma tumultuada década. Eu os fiz depois de pretensamente senti-la conquistada, como a natural irrigação do corpo para manter-se ativo e receptivo, como se fosse um trabalho ininterrupto de conquista. São, portanto, mais que dedicados, pois procuram ser a minha visão completa de uma mulher em particular, além de pretender ser o relato expressivo de nossa convivência e de nosso encontro até agora intenso e duradouro. Quanto ao titulo deste livro, ao ser divulgado entre minhas obras inéditas, alguns bons amigos, acostumados com a inconstância

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amorosa dos artistas, aconselharam-me a mudá-lo, por considerá-lo muito personificador. Eu o mantive por acreditar que a poesia, além de ser uma ânsia pela verdade absoluta, é a singularização ou a personificação máxima dos seres e das coisas (deste e de outros mundos). Se a filosofia nos diz que o ser repete a espécie, é possível que falar na grandeza de uma única mulher é referir-se à grandeza de muitas outras mulheres que vivem, trabalham e amam neste planeta assustador.

Alberto da Cunha Melo (Conforme edição original de 1992)

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1 SINAIS Ainda não acredito

no teu corpo tão perto, nos teus cabelos cobrindo meus olhos com medo de te assumir, de te perder; ainda não acredito na tua voz vazada em vento leve de arvoredo distante; ainda não acredito que chegaste; depois de passar tanto tempo esquecido que havia, atrás das folhagens do mundo, uma possibilidade de ti.

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PRESSENTIMENTOS Aqui dentro,

pouca coisa ia bem; mas, tudo, o cair das barreiras sobre caixas de gente, o apertar das têmporas sob as chapas quentes das baixas marquises, literalmente, tudo já era aguardado; no entanto, fora o amplo desastre, havia aqui dentro umas visões, um furor de montanha agoniada pela falta de certas estações, e havia um homem com fome de alguém que não tinha corpo nem nome.

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3 SURPRESAS E quando julgavas

que teu corpo secara as quentes resinas, que não mais havia sobre a pele espaço onde a vida pudesse com faiscantes unhas riscar sua ânsia de novos achados, que não existia floração mais viva sob a copa exposta ao sol permitido, quando assim julgavas, dos bilhões de corpos um só bastou para a terra inteira tilintar suas vagens, despertar brincando feito a queda mais nova de uma velha cascata.

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4 DÚVIDAS As castanheiras amazônicas,

de tão altas, poderiam avisar-me quando apontasses na distância, mas não acredito nessas árvores que nunca te viram e jamais tocaram, mesmo com a sombra na tua sombra inclinada para onde pensas que fui.

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5 ACENOS A amada escreveu

que viria amanhã, e todas as manhãs a ficaram aguardando, sentadas nas colinas, até que o amado as mandasse descer; a amada telefonou dizendo que viria num dia de domingo, e todos os domingos elevaram seus copos, até que o amado os mandasse descer; a amada chegou e todas as manhãs subiram as colinas e todos os domingos elevaram seus copos, mas, aí, o amado não os mandou descer.

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DEFESAS Algo para embalar-nos,

acima da noite que transpira por todas as sombras: a certeza de que estás realmente chegando, com teus pentes, lavandas e arsenal de cantigas contra a fuga dos sonhos e a sabotagem das sedes pressentidas.

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7 CUIDADOS

Ela ainda não chegou,

mas, quando chegar estarei no aeroporto, de camisa nova e verde, esperando-a; estarei mais feio, mais velho mais cansado de esperá-la, mas estarei de camisa nova e verde, esperando-a.

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8 ANSIEDADES Enquanto os puristas

pedem chope sem “colarinho”, eu peço espumas todas as espumas, inclusive as do mar; peço nuvens (nuvens!) e nevoeiros, todos os nevoeiros, inclusive os mais cegos da vastidão polar; peço tudo que cubra este sol a mostrar horizontes cheios de voos chegando, este sol que escreve, com seu maior raio violeta e vilão que você não está em nenhum dos ventos, em nenhum dos voos que aqui pousarão.

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9 ENSAIOS Ainda não sabia

que teus cabelos, de muda melodia, escorreriam o cântico das águas profundas, que tudo em ti cantava pois era tão somente começo de manhã e tua luz inteira sobre o meu destino apenas começava.

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10 IMPULSOS

No Acre

sob 40° graus acima de zero, abro os livros pegando fogo e os solto, querendo que voem sobre a mata maligna, e me deixem em paz, lendo só o que sou, a 40 Claus centígrados.

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DESCOBERTAS

A floresta tem

todos os bichos, todas as madeiras, todas as borboletas, rios gordos, rios magros, igarapés e índios tão santos que não querem o céu; tudo tem a floresta, mas penso no teu corpo e sua mata diminuta, que uma só borboleta poderia cobrir.

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LIÇÕES Amantes verdes,

que ainda não sabem andar nas calçadas, dançar nas feiras, e cantar nas estradas, têm muito que aprender com amantes que estouram seus tumores na multidão, têm muito que aprender com o ódio fervente de amantes que não se mataram com fúria na devida estação, e tem que atravessar o ranhento rio dos sonhos defuntos, pois só chegam inteiros na outra margem, se chegarem juntos.

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13 VESTÍGIOS Quando ela me disse:

“Meu corpo é um nervo só”, eu comecei a vê-la latejando no ônibus do meio-dia, latejando na praça, onde são quebrados os finos braços do infinito socorro; eu comecei a tê-la.

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14 VISÕES

Era aquele vestido

de cinza-metálico que eu queria te dar no mês de setembro; com aquele vestido de efeito solar sobre os zincos do acre, passearias, à tarde, com teu homem ferido, entre árvores úmidas, cães perdidos e nuvens de borboletas negras, a cobrirem de luto a nossa paisagem.

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15 PEDIDOS Nunca me diga,

ó minha amada, que você me colheu naquele ramo só visitado pela pedrada; mas sempre diga que me lavou com a doce lavanda em ondas caídas dos olhos de oxum, no sol tropical, que você me tornou para a sua vida seu amor final.

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16 RESISTÊNCIAS O que ontem

era alegria em dispersão, cristal ameaçado sobre a mesa, a um metro e meio do chão, é hoje um riso acumulado, sem força de explodir no rosto amado, é cordame de barco, que se estica, tentando devolvê-lo ao porto antigo; é lume a incendiar novos cardumes de estrelas caídas e apagadas pelas águas do mar.

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17 ÊXTASES Tardia amada,

que chegaste quando me pensava que não ardia, ainda amada, apesar de tardia, ainda uma terra a se irrigar, ainda sacrário a baixar sua seda e me abrigar.

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18 AMEAÇAS

Toda vez que subo

nessas minhas altitudes máximas (além do nível do bar) e mergulho de cabeça, tripa e tudo nessas minhas profundidades (também) máximas (além do nível do lar), o rosto de Clau está lá em cima e lá em baixo me deslumbrando, sozinho! _Quem é Clau? (pergunta um burríssimo PHD em estética) e ninguém pode salvar seus pobres alunos.

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SUBLIMAÇÕES Um casal oprimido

de nus diante da janela aberta; aberta, sim, mas só para a noite e uns grandes pássaros, difíceis de entrar em qualquer poema, uns pássaros feitos de aquarela negra, que voam para longe do casal oprimido.

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20 INVASÕES Mesmo a sós,

sem sossego os sós: sob o teto dos bares ou dos lençóis; no leme dos cargos ou no volante dos girassóis; ansiando nos fios, se estão longe, ou, céleres-úmidos, misturando seus sais; sem sossego estão se estão juntos ou sós.

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21 ESCOLHAS

As sereias que Homero

soltou pelo mundo concentram-se lá fora, sob um pé de acácia pingo de ouro, e cantam, em coro, antigas marchinhas de carnavais sepultos; com suas máscaras de metal azulado e vozes de soprano, vêm resgatar-me para um tempo sem ti; mas, levanto da cama e fecho a janela, para adivinhar o que diz teu sonho.

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22 CRISTAIS

Amar

é brochar calado quando longe do ser amado.

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APEGOS

Pela manhã,

a alguns minutos de minha entrada na mata, Clau juntava roupas simples, trastes que a gente carrega quando parte sozinho; mas sua vontade era mesmo meter-se entre aquelas camisas, sabonetes e latas, ser alguém sob a mesa, escondido na festa, ou transformar-se no pássaro mais clandestino da floresta.

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24 CIÚMES

Todo amor

que se preza é presa fácil: porque se dando despreza todo o perigo da surpresa; todo amor é um ânimo sobre o frio das almas e o fio das lâminas, é um louco sonho de esfera tentando atravessar a corda bamba; é doce fera na varanda, mas tão vigiada que se desespera.

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DESAFIOS Entre tantos monstros

que se estrangulam no verão estrangeiro, vão os dois para um só fim, são os dois, um só vulto e, cegos para os monstros, atravessam o tumulto.

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26 ALIADOS Enquanto discutíamos,

eu e Clau, o cerco lá fora ouvíamos Chopin, em plena clareira da mata amazônica; e lá fora havia um certo gigante de barro queimado, que tramava e bebia; mas Chopin, revoltado, tocava o “noturno” e tudo dormia.

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27 AFAGOS Depois de banhar-te

com a água mais fria das três da manhã, e depois de enxugar-te com aquela toalha da cor da romã eu te acalento, assim, como se não estivesses só de passagem, mas, como se chegasses, e, para sempre, de uma longa viagem.

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28 REFÚGIOS Só o amor é refúgio

contra este imenso mal-estar no mundo; quando lá fora, cada sujo talo de inveja crepita sob túnicas cinza de folhas apagadas, quando só o amor, afogado socorro, abraça o outro pedaço de tempestade.

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29 NOBREZAS Vista-se de jambo,

a cor irmã do sangue velho, e das frutas caindo abandonadas no lamaçal da delícia degradada, porque esse traje de machucada mortalha tem a cor da vida que vamos, juntos, ressuscitar.

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30 INVEJAS

Na sua terra, amor,

deve ser junho, deve ser chuva, deve ser de manhã; carambolas de cajás esforçam-se por mostrar-se, entre folhas molhadas, para serem escolhidos; só eu estou longe de seu junho, de sua chuva e de sua manhã, só eu posso esgueirar-me entre as folhas da distância, para ser colhido.

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31 CROMOS As belas mulheres

nas estradas surgindo são árvores em fogo, girassóis ou Cláudias nas estradas surgindo; são fontes as mulheres que nascem nas planícies feito castanheiras nas estradas surgindo; são vontades de fogo com glacês de nuvens, as belas mulheres nas estradas surgindo.

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32 SENTENÇAS Amor só é bom no começo

e não devia nunca deixar de começar, ser pura tentativa e lingerie molhada sob a mesa, no escuro de tolerantes bares, ser sempre essa mão sem jeito, na hora, de tocar a outra mão, de chegar escondendo humilhações do dia, e nunca humilhar quem dança sobre o muro, a olhar com inveja esse amor do presente, sem saber que esse amor, que é feito de começos, não tem fim nem futuro.

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33 ELOGIOS

Com teu corpo e teu rosto,

outra moça não seria infeliz; outra moça pisaria na praça, mais firme flor e definitiva princesa; com teu jeito de sorrir, às vezes, quando esqueces o fracasso de todas as juventudes, outra Cláudia encheria de graça, um encontro de pesadelos, sem teu modo de cobrir de silêncio meu ódio do mundo, outra amada não me faria feliz.

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34 ORGASMOS

Quando a amada

se joga assim, assim no auge de seu carnívoro esplendor, eu cresço tanto que poderia arrancar esta casa e levá-la, de vez, a alguma fronteira, onde os tomateiros espalham no chão seu riso vermelho, onde as amadas, amadas assim, amanhecem coradas de amor satisfeito, amanhecem querendo (mesmo) o amanhecer.

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MEDOS Se me abandonas,

quem mais estará comigo nesta franja inflamada da primeira floresta? quem mais achará, ao menos compreensível, essa vontade de rio, que pula as pedras, e continua a viagem? quem mais cortará meus cabelos e unhas, contente de esculpir-me para a hora do amor? quem mais baterá, ofegante, na porta, sem saber se estou?

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36 LEMBRANÇAS Aqui, nesta distância,

com seu fuso horário, e o sol tão órfão de ventanias, lembro-me de Clau dormindo, dos seus cabelos um dos seus seios cobrindo, do seu corpo na cama, ao adivinhar-me, se abrindo.

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37 ACORDES

A companheira nasce

quente e repousada das cobertas azuis, mas, seus cabelos, ainda aninhados com os fios de noite, a seguram com calma, e ela não consegue abraçar com força seu amor inteiro; e vai pegando-o devagar, sem pressa, intumescendo-o feito uma luz cautelosa entre grãos de terra; a chocar, com seus dedos, as inchadas sementes.

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CAPITULAÇÕES

Quando junto de mim,

com essa alegria de papoulas rosadas e essa luz de cristal nos olhos limpos, minha amada me apaga dentro dela, e durmo assim feito folha feliz entre folhas tombadas.

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39 POSSESSÕES Devo falar da maravilha

que, entre soluços, me acontece neste março, neste mór março; da triste maravilha molhada que não é bebida em prece, mas engolida com toda a infinita pressa dos que não olham para trás: súplice maravilha, penteando-me por dentro.

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CONFLUÊNCIAS Não te amo contra Maria,

contra tereza, contra Luzia; eu te amo amando todas as Marias, todas as Terezas, todas as Luzias que moram em ti; eu te amo a favor de todas que não amei como a ti; eu te amo amando as duzentas Marias, as trezentas Terezas, as quatrocentas Luzias que moram em ti.

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SUGESTÕES Quero dezembros,

sou louco por dezembros e por uma mulher chamada Cláudia, filha de oxum, a de cabelos montanhosos, de longa paciência para suportar minha vontade de morrer; quero dezembros de verdade, fins de dezembros, com as pessoas correndo atrás de suas almas perdidas.

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42 CATARSES

Delicada sombra

que me lava com esponja de sombra; delicada sombra que se lava no chover das sombras; delicada sombra que lava todas as sombras; sombra delicada, minha sombra.

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43 SUTILEZAS O amor maior

é o amor escondido, é amor guardado entre grade e postigo; o amor maior, ora quer quebrar ora proclamar seu brinquedo esquisito; o amor maior ou diz muito ou não diz; é de todo amor o menor aprendiz.

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SENTIDOS Cláudia pinta

diretamente com a luz, a luz branca, a branca denúncia de sua luz; lanterna caçando uma fera chamada “iralágrima”, descascando a sombra ou a farsa que sob o rímel e o código flui.

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45 MIMOS Eu te amo tanto,

que, se o bem, todo o bem, for você dormir, eu me esqueço de mim e te acalanto.

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46 INTIMIDADES

O Suor nascente

faz seu busto brilhar, folha recém-nascida, mesmo sob a pobre luz fluorescente, e me pede um cigarro aceso e começa a brincar e a dizer ser dona das tardes que morreram sem sol: agora, todo o ritmo do corpo e da vida é menos ofegante é mais compassado, e enxuga com o lençol os pequenos riachos, que correm nas espáduas do seu homem cansado.

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47 DISPUTAS Trabalho e amor

disputam o meu corpo: o amor só quer o corpo descansado, para o devorar, e espera um pouco a raiva do dia de uma vez partir e o sangue voltar; mas, quanto à tristeza, o amor não dá a mínima para ela, mexe aqui por baixo, mexe aqui por cima, e faz no coração a mais bela faxina.

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INDECISÕES

No começo, de bruços,

com as coxas juntas, a esconder-se do meu olhar, não me deixava ler, escrever ou partir, e eu saía assim, sem dizer a ela o que ia pedir, e ela ficava sem saber, talvez, o que ia me dar.

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MANHAS

Embora aberta

os duros assaltos, ainda coberta de sobressaltos; depois, certa de que o receio é de não ser assaltada; agora, mais aberta porque certa de quem vai assaltá-la.

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50 ACORDES Tudo é esquecido,

assim que o amor, resolve-se em doçura e entrega sem recibo, assim que me prendem o úmidos e delicados alicates, lá dentro da vida.

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ATLETISMOS

Como de um fosse

o mar do outro, nadamos o dois, a metade da noite, um no corpo do outro, e ficamos, depois, tão calados e imóveis, feito mares vazantes a esperar, um do outro, a primeira onda, para, um no outro, de novo mergulhar.

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52 PUDORES Ao falar de nós,

ela sempre receia que o poema fale demais, e fiquemos nus nas bibliotecas e salas-de-estar dos apuros amigos que lerão; seu receio é tanto, que o poema fica orgulhoso, como se não fosse (como nós) desaparecer.

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53 LENDAS Sobre Clau,

tenho muitas lendas, e só uma delas não vou contar, pois é tanto lenda, ouvindo-a ou lendo-a, que parece verdade de arrepiar; e a verdade, diz Eliot, com toda razão, nem essa lenda de Clau pode suportar.

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54 TOPOGRAFIAS Sob duas

altíssimas serras, uma planície se estende até alcançar a movediça terra de açúcar calcinado, onde, em breve excursão, minha tensa vontade sem sossego se enterrará.

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55 ANÁLISES

Fora de teu amor,

eu seria um sujeito mais triste e mais eu, e, menos suspeito, talvez não maldisesse o orgulho besta deste emudecido país; mas, fora de teu amor, eu não suportaria ouvir nas calçadas que “a vida continua”, e saudaria os amigos com as mãos geladas.

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56 ARROUBOS

Com suas águas-de-colônia

e as mãos altas a desatar os cabelos, a amada parece competir com as castanheiras de cinquenta metros de altura: vejo-a lá em cima, porque ela tem o tamanho do meu desejo mais aflito, e meu desejo tem o tamanho do infinito.

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CONFISSÕES (DE CLAU) Quando penso em ti,

tenho os seios infláveis, até ao toque dos meus próprios cabelos; quando toco em ti, tenho a pele e o pelo infláveis, mesmo que durmas, com teus sonhos e sedes insondáveis.

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58 ESBOÇOS Tudo em você

é completamente: é a manhã mais tórrida, feita de azulejo e luz somente; é o sol forçando a janela fechada de uma moa doente; e, mais ainda: é cantiga cantada por Clara Nunes, mas acompanhada por Vivaldi ou choro de uma estrela cadente; tudo em você é morrer ou viver completamente.

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COMPARAÇÕES Mulher é melhor

com ar de sílfide, mas de cabelos indomáveis feito antigas cintilações de sarças, feito um clima de clareira, feito Clau, sem nada dessas damas montadas nos seus lordes, e tudo que pareça o mais puro salitre das distâncias e a abismal sabedoria dos fiordes.

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GAFES

Sendo um péssimo suicida,

ao invés de matar-me, jogo no balde de lixo um poema enorme cheio de rimas e lombrigas internas; ligo o vídeo e assisto ao “Touro Selvagem” de Martin Scorsese; pego uma laranja-pera, e mastigo com raiva seus bagos acadêmicos; e, se Clau aparece, com os seios descobertos, em alta superintendência, podem ter a certeza de que, nessa história, só a laranja morreu.

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61 HEMISFÉRIOS A saia marrom

cobre a metade da amada, divide seu corpo em dois hemisférios: o de cima é feito de ar, céus e nuvens altíssimas; o de baixo, mais próximo do entardece os barrancos, lembra telhas, tijolos, e tudo que prende à vida: é de barro é fornalha.

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REPETIÇÕES Um amor bem final:

que não pensa mais nas madrugadas velhinhas cobertas de chale, tossindo, tossindo, até o amanhecer; e não busca mais as mulheres sozinhas, bebendo, bebendo, até o amanhecer; um amor bem legal bem legal, bem amor, e ponto final.

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63 ESTÁGIOS Na mais absoluta

radiância do amor, que, a cada segundo, vai cegando o perto, o longe e os céus somente inventados pelo sonho de voo, é aqui, amada, cercados de apelos, que iremos deixar nosso claro recado: o amor e a alegria são um só pecado, entre dois pesadelos.

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64 ARAGENS Durável sorriso

de coisa nova, desembrulhada, às pressas, pelos que acabaram de renascer; inoxidável sorriso, à prova de sombras que rondam, raivosas, um resto de infância; amigável sorriso sob quentes rajadas de vento terral, sob a inconstância do bem e do mal.

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DEFINIÇÕES Clau não é uma árvore,

não tem ramos torturados pelos ventos, nem folhas que já nascem em seu precipício; Clau não tem heras ou limos que possam torná-la antiga: é começo dela e das coisas que jamais cansam de começar.

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QUOTIDIANOS

Batendo ovos

na cozinha, levantando espumas das claras com sal e farinha de trigo, Clau começa a cantar um samba de Vinícius, enquanto o rádio grita o resultado das prévias que derrubou um Kennedy, mas sem interromper “tristeza não tem fim...” e a bela omelete que ela faz pra mim.

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SONOS Ó companheira,

ressona me paz, depois o sol, depois das seis, depois de todos os sons e sinos de “Angelus” que não cantam mais; ressona aberta, feito um livro largado sobre as cobertas, bem junto do amado que o leu demais.

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68 CONTRADIÇÕES No teu modo

azul-melancólico de pedir desculpas por não ser uma nuvem, eu noto a antiga contradição dos amantes: como agarrar com força o que amamos terno e frágil, e, como amá-lo tão frágil, se o queremos eterno?

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69 AMENIDADES Prometi a ela

este poema sobre o antúrio, flor da família das claucláudias, e ele surgiu nesta manhã de elevadas palpitações e montanhosas agonias; falo da volúpia de uma flor tropical, com sua vagem entreaberta, a querer e a temer aquente visita do vento terral.

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PROFUNDIDADES

Só lá dentro

a vida perde a elegância e se arrepia, porque, na superfície, minha amada é um bosque homogêneo, sem ventanias ou motosserras raivosas a agitar suas copas; na superfície, minha amada nem parece um bosque, parece mesmo minha amada.

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71 ACERVOS Este amor de mesmo

é tão desajeitado, tão sem pose de anúncio de marca de cigarro, tão rasgar-se, tão fúria nervosa de agradar, tão fracasso novo quando a intenção de dar-se é tanta que se esquece de se dar de verdade; tão ânsia de dizer e medo de estragar a luta do outro por nos conquistar; tão vontade de ligar, não ligar, desligar, tão sério moleque a dizer “me mate” e tão “vida, se abra e me aceite também”’ tão alegria paga sorriso a sorriso, e tão lembrança, tanta, que nunca se apaga.

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72 COLHEITAS Alguma fruta

caiu no teu sonho, enquanto dormias, pois eu senti, ao abraçar-te no escuro cheiro de carambola amadurecida no pé, de carambola madura, lavada pelas chuvas que caiam em teu sonho, enquanto dormias.

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SINESTESIAS Entre as puras

paredes de granito, és só seda, sede e espera do infinito, e nenhum homem, mesmo forrado das luvas mais dóceis das nuvens mais alvas, ousará tocar-te; nesse tempo altivo, ó montanha delicada ou delícia folha, com a pelo coberta da penugem infantil de alguma açucena, tão nova que seu perfume ainda não sabe falar.

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PAISAGENS A dúctil cambraia

de sua blusa dava às brisas e aos ventos de agosto o direito de boliná-la, quando, no terraço, espera uma estrela; só a entristecia os cabelos crestados pelo verão prematuro, e a demora daquela estrela que, por sinal, não prometeu que viria.

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75 NOITES Clau desperta aturdida

quanto a ficar agarrando-se aos fios de um sono que se desfiou, ou se erguer defendida contra um mundo que, mais esperto que ela, nunca lhe pagou; ora fala como quem já despertou, ora me pede uns cinco minutos a mais de um sono que se acabou.

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76 COMTEMPLAÇÕES Daqui a pouco,

quando as sombras domésticas recolherem-se aos sótãos e aos troncos gordos dos velhos arvoredos, vais amanhecer: jogaremos as redes mofadas e frágeis sobre as águas verdes, e o sol, dominado pelas brisas atlânticas não doerá, como antes, em tua pele queimada pelos dedos em brasa de teu homem triste; e a vida, esperada pelas luas castanhas de tuas pupilas, se oferecerá como o milho, ou as coisas que ardem de tanta alegria.

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77 RESISTÊNCIAS Teu corpo no banho:

tuas mãos passeando, cheias de espumas sobre a pele dourada; teu corpo altivo feito uma chuva solene, a se distender, tão lavado e vivo, tão forte que retarda seu próprio entardecer.

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78 AVANÇOS No meio desta Luz

peneirada pelas copas dos grandes fícus, esfriadas pelas breves brisas transatlânticas, devo baixar estes braços agitados dentro de mim, e sentir que me alcanças com dedos tão longos que me tocam na infância, e esquecer o futuro bater de asas de nossas sombras.

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[Imagem inédita dos arquivos do espólio]

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79 DESPRENDIMENTOS

Para descrever-te,

estou sempre descansado, sempre com os olhos de quem dormiu tanto que acordou lavado por subterrâneas e sombrias águas de ontem, e fazendo jorrar (para tua sede) todas as nascentes.

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INOCÊNCIAS O mar inocente

não sabe de nada: que te deixou essa cor roubada ao sol poente, que estavas dentro das ondas mais altas, quando era maralto, que tenha, sequer ficado mais belo, depois de tocado.

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81 ETIQUETAS Amo-te com uma ânsia

tão desastrada, como os que amam com sua vida já estragada, como os escombros de uma árvore amam a semente já geminada.

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82 ABRAÇOS Há mais de um tempo,

não sentia por perto esse cheiro de azul que o céu descoberto solta pela varanda, quando a manhã começa a tirar seu vestido, a se desnudar; esse cheiro lavanda, que era sempre sentido quando erguias os braços para me abraçar.

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83 PRESSÁGIOS Tánatos tempos

de cerco e ansiedade, quando a sede de sonho só recebe o vinagre; quando o riso da amada se apaga por longas semanas, sob a azáfama dos ventos zangados, para ressurgir, feito a grama, sob os tonéis abandonados.

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84 AUSÊNCIAS Como ardes

carne que me alarmas neste 41° pavimento da vida; sobe até mim, amor, porque já queimam, uma por uma, as pilhas do sonho; sobe até mim, dispara para o meu inferno, amor, tua escada magirus.

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85 LEITURAS

Porque um

era a surpresa do outro, todas as manhãs amanhecíamos juntos porque amanhecíamos com outro; livres líamos todas as manhãs o livro novo que éramos um para o outro; porque amávamo-nos, como desconhecidos, amávamo-nos.

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86 ECLIPSES Ninguém partiu

ou ficou abandonado: o amor se foi como quem foi ali comprar cigarros, tinta que se foi, no muro esquecido, descascando calada; o amor se foi devagar feito sombra a voltar para a árvore, devagar feito féretro atravessando a cidade, feito estrela fátua a se apagar na própria claridade.

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87 FÚRIAS As samambaias

germinam em todos, cobriram tudo: quando nós estamos no fundo do abismo, elas estão lá, entre pedras umedecidas, à nossa caça enfeitando felizes a nossa desgraça; e, quando nós estamos na fértil colina, onde a amada espera o prometido mel, elas estão lá, enfeitando felizes nosso pobre céu.

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88 MINÚCIAS

“Uma dor bem final”,

disse-me ela, a explicar a agonia do pássaro que pintava, esganado pelas garras humanas, de seu irmão; “um a mor terminal”’ disse-me ela, mostrando o bico aberto e as penas eriçadas do pássaro agonizando, que ela mesmo pintava.

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89 ATRITOS

Nunca nossos rostos,

congestionados, gritaram um para o outro; sempre nosso amor soube separar o que havia entre nós, e o que o mundo, incomodado, introduzia; sempre, sempre, sempre, um de nós se imolava, enquanto o outro, a seu tempo, renascia.

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90 PRENÚNCIOS No amor, os primeiros

sinais do fim não são sequer sinais de desamor: a ira, a púrpura parietal da ira, sob a seda e o cetim, a patada dos cílios da pétala dada, o silêncio-armadilha a caçar no outro o que falta ou aquilo que há de ruim; no amor, os primeiros sinais do fim são sinais da falta (até delicada) dos sinais de amor.

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91 DISTÂNCIAS O tempo é outro:

de outra, ou de outro, e não acontecer nada é o melhor acontecer do dia, de salão em salão até a cela da amada fria, a desabar, sem saber, de sono a célebre escada que fazia; não acontecer nada é acontecer o fim do ar, do dia, de tudo que ardia.

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92 IMPASSES Depois dos raios

caídos lá fora

é justo que, feridos, estejamos distantes, agora; é até previsível que o volume de sonho ou de sangue não seja o de outrora; só não compreendo é este mundo parado esperando que o outro faça o gesto esperado.

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93 SOLIDÕES A amada deitou-se

debaixo da árvore da copa mais alta e mais densa, e desceu sobre ela uma noite pesada, parecida com a noite de criaturas que partem a soluçar sob a chuva: caía sobre ela a noite inesperada, sem socorro e sem mim.

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RENDIÇÕES

Ah, esses dias

em que a possibilidade do luto traduz-se em gosma, náuseas e raiva do sol, e o amor se aproxima completamente indefeso, como quem pede água a um pelotão de fronteira, como quem se despede.

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95 SAÚDES Sei que a coragem

é, às vezes, um descuido da sensatez, e confesso meu medo, medo de que toda essa euforia triunfando seja a última visita da alegria ao amor se acabando.

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96 ORFANDADES Com uma lampadazinha

na ponta do pincel, Clau pinta seu trópico, cobrindo-o de verdes escuros e de bronzes, e desdobrando-o em velhos telhados franjados de folhas, século a século, até onde não existia mais onda, até a verdade afogada nos ontens a mais triste e órfã de horizontes.

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97 EXORCISMOS

Vou tomar um banho

as sombras velhas, dessas que desciam, que pingavam das árvores, nos antigos quintais; depois, suportei a morte de teu amor, como um banho do tempo, como suas águas idas sobre o sonho e a matéria esquecida.

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98 BALADAS

Chovia, chovia,

as chuvas que sonhamos caíram num só dia: sobre as capotas negras dos Mercedes, chovia, sobre os capotes cinza dos vigias, chovia; tudo estava chovendo: era chuva de noite e chuva de dia; e perto de nós, nem templos, nem casa, nem bares, havia; sonhamos, talvez, com chuva demais, o sonho parou e a chuva não sabia: chovia, chovia.

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99 ALTERNÂNCIAS O amor começa

com piano Chopin e, no meio, enlouquece com guitarras elétricas, e depois vai voltando à flauta de Pan, a marcar o cansaço de um velho Arlequim, e depois se esquece que ritmo toca, e vai tocando como pode o seu fim.

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100 ESCOLHAS Mais vale ter

o rio limpo, para pescar, do que a mera promessa de peixes a se multiplicar; mais vale ter-te, sem o amor antigo, que buscar um novo, com o perigo de perder-te; mais vale ter o aroma leve da breve rosa, do que a eternidade duvidosa.

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101 FINAIS Após tantos fins

e tantas cinzas e tanto fogo azul queimando os “sins”, após todo após, todo depois, todo amor que foi tanto, tanto quanto foi amor vezes cem, foi Petrarca foi o amor de Laura e mais ninguém, meu amor fez mais gols, fez cento e um, e, embora seja, agora, amor nenhum, se Petrarca é da história universal, eu sou de Clau.

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Terceira capa da edição impressa de 1992.

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REGISTROS DIGITALIZADOS

I - Primeira capa da edição impressa do livro CLAU, 1992. II – “Clau, 90”, de Alberto da Cunha Melo. Poema inédito manuscrito. III – Alberto da Cunha Melo. Aquarela de Cláudia Cordeiro, CLAU, 1989 IV – Clau e Alberto no primeiro lançamento do livro CLAU. Universidade Federal Rural de Pernambuco UFPE, 1992. V – Dedicatória de Alberto da Cunha Melo para Clau, em 12 de outubro de 2003, no livro Dois Caminhos e uma Oração. VI – 2003. Recife. À esquerda e à direita do poeta, promotoras do primeiro Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira, ao fundo, Clau. VII - 2003 - USP. Lançamento do ensaio Faces da Resistência na Poesia de Alberto da Cunha Melo, de Cláudia Cordeiro (centro). VIII – 2003, São Paulo. Rodrigo Mendonça, Alberto da Cunha Melo, Cláudia Cordeiro e Isabel de Andrade Moliterno. IX – Capa do ensaio Faces da Resistência na Poesia de Alberto da Cunha Melo, de Cláudia Cordeiro X – Dedicatória de Alberto da Cunha Melo para Clau, em 28 de abril de 2006, no livro O cão de olhos amarelos e Outros poemas inéditos. Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras 2007. XI – 2008, FLIPORTO. Porto de Galinhas, PE. Exemplares do livro CLAU em Braille. XII - Manuscrito de Alberto da Cunha Melo. Dos arquivos do espólio. XIII – Alberto e Clau. Em casa de mãos dadas (1999). Dos arquivos do espólio. XIV – Beijo em praça pública (27 de agosto de 2006). Um livro para se comer IV Festival Recifense de Literatura. Durante as comemorações dos 40 anos de poesia de Alberto. Dos arquivos do espólio. XV – No altar da lembrança desde sempre. Dos arquivos do espólio.

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I - Primeira capa da edição impressa do livro CLAU, 1992.

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II – “Clau, 90”, de Alberto da Cunha Melo. Poema inédito manuscrito.

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III – Alberto da Cunha Melo. Aquarela de Cláudia Cordeiro, CLAU, 1989

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IV – Clau e Alberto no primeiro lançamento do livro CLAU. Universidade Federal

Rural de Pernambuco UFPE, 1992.

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V – Dedicatória de Alberto da Cunha Melo para Clau, em 12 de outubro

de 2003, no livro Dois Caminhos e uma Oração.

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VI – 2003. Recife. À esquerda e à direita do poeta, promotoras do primeiro

Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira, ao fundo, CLAU

VII - 2003 - USP. Lançamento do ensaio Faces da Resistência na Poesia de

Alberto da Cunha Melo, de Cláudia Cordeiro (centro).

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VIII – 2003, São Paulo. Rodrigo Mendonça, Alberto da Cunha Melo,

Cláudia Cordeiro e Isabel de Andrade Moliterno.

IX – Capa do ensaio Faces da Resistência na Poesia de

Alberto da Cunha Melo, de Cláudia Cordeiro

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X – Dedicatória de Alberto da Cunha Melo para Clau, em 28 de abril de 2006, no livro O

cão de olhos amarelos e Outros poemas inéditos. Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras 2007.

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XI – 2008, FLIPORTO. Porto de Galinhas, PE. Exemplares do livro

CLAU em Braille.

XII - Manuscrito de Alberto da Cunha Melo. Dos arquivos do espólio.

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XIII – Alberto e Clau. Em casa de mãos dadas (1999). Dos arquivos do espólio.

XIV – Alberto e Clau. Beijo em praça pública (27 de agosto de 2006). Um livro para se comer no IV Festival Recifense de Literatura. Durante as comemorações dos 40 anos de

poesia de Alberto. Dos arquivos do espólio.

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XV – No altar da lembrança desde sempre. Dos arquivos do espólio.

XVI – Intervenções compactuadas. 1992. Óleo sobre tela: Desenho de Alberto da Cunha

Melo, pintura de Cláudia Cordeiro. Da coleção de Myriam Brindeiro.

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ÍNDICE DE PRIMEIROS VERSOS

1 - Ainda não acredito ........................................... 22

2 - Aqui dentro, ..................................................... 23

3 - E quando julgavas ........................................... 24

4 - As castanheiras amazônicas, .......................... 25

5 - A amada escreveu ........................................... 26

6 - Algo para embalar-nos,.................................... 27

7 - Ela ainda não chegou, ..................................... 28

8 - Enquanto os puristas ....................................... 29

9 - Ainda não sabia ............................................... 30

10 - No Acre ........................................................... 31

11 - A floresta tem .................................................. 32

12 - Amantes verdes, .............................................. 33

13 - Quando ela me disse: ...................................... 34

14 - Era aquele vestido ........................................... 35

15 - Nunca me diga, ............................................... 36

16 - O que ontem .................................................... 37

17 - Tardia amada, ................................................. 38

18 - Toda vez que subo .......................................... 39

19 - Um casal oprimido ........................................... 40

20 - Mesmo a sós, .................................................. 41

21 - As sereias que Homero ................................... 42

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22 - Amar ................................................................ 43

23 - Pela manhã, .................................................... 44

24 - Todo amor ....................................................... 45

25 - Entre tantos monstros ...................................... 46

26 - Enquanto discutíamos, .................................... 47

27 - Depois de banhar-te ........................................ 49

28 - Só o amor é refúgio ......................................... 50

29 - Vista-se de jambo, ........................................... 51

30 - Na sua terra, amor, .......................................... 52

31 - As belas mulheres ........................................... 53

32 - Amor só é bom no começo .............................. 54

33 - Com teu corpo e teu rosto, .............................. 55

34 - Quando a amada ............................................. 56

35 - Se me abandonas,........................................... 57

36 - Aqui, nesta distância, ....................................... 58

37 - A companheira nasce ...................................... 59

38 - Quando junto de mim, ..................................... 60

39 - Devo falar da maravilha ................................... 61

40 - Não te amo contra Maria, ................................ 62

41 - Quero dezembros, ........................................... 63

42 - Delicada sombra .............................................. 64

43 - O amor maior................................................... 65

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44 - Cláudia pinta.................................................... 66

45 - Eu te amo tanto, .............................................. 67

46 - O Suor nascente .............................................. 68

47 - Trabalho e amor .............................................. 69

48 - No começo, de bruços, .................................... 70

49 - Embora aberta ................................................. 71

50 - Tudo é esquecido, ........................................... 72

51 - Como de um fosse........................................... 74

52 - Ao falar de nós, ............................................... 75

53 - Sobre Clau, ..................................................... 76

54 - Sob duas ......................................................... 77

55 - Fora de teu amor, ............................................ 78

56 - Com suas águas-de-colônia ............................ 79

57 - Quando penso em ti, ....................................... 80

58 - Tudo em você .................................................. 81

59 - Mulher é melhor ............................................... 82

60 - Sendo um péssimo suicida, ............................. 83

61 - A saia marrom ................................................. 84

62 - Um amor bem final: ......................................... 85

63 - Na mais absoluta ............................................. 86

64 - Durável sorriso ................................................ 87

65 - Clau não é uma árvore, ................................... 88

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66 - Batendo ovos................................................... 89

67 - Ó companheira, ............................................... 90

68 - No teu modo .................................................... 91

69 - Prometi a ela ................................................... 92

70 - Só lá dentro ..................................................... 93

71 - Este amor de mesmo ....................................... 94

72 - Alguma fruta .................................................... 95

73 - Entre as puras ................................................. 96

74 - A dúctil cambraia ............................................. 97

75 - Clau desperta aturdida .................................... 98

76 - Daqui a pouco, ................................................ 99

77 - Teu corpo no banho: ...................................... 100

78 - No meio desta Luz ......................................... 101

79 - Para descrever-te, ......................................... 103

80 - O mar inocente .............................................. 104

81 - Amo-te com uma ânsia .................................. 106

82 - Há mais de um tempo, ................................... 107

83 - Tánatos tempos ............................................. 108

84 - Como ardes ................................................... 109

85 - Porque um ..................................................... 110

86 - Ninguém partiu .............................................. 111

87 - As samambaias ............................................. 112

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88 - “Uma dor bem final”, ...................................... 113

89 - Nunca nossos rostos, .................................... 114

90 - No amor, os primeiros ................................... 115

91 -O tempo é outro: ............................................ 116

92 - Depois dos raios ............................................ 117

93 - A amada deitou-se......................................... 118

94 - Ah, esses dias ............................................... 119

95 - Sei que a coragem......................................... 120

96 - Com uma lampadazinha ................................ 121

97 - Vou tomar um banho ..................................... 122

98 - Chovia, chovia, .............................................. 123

99 - O amor começa ............................................. 124

100 - Mais vale ter ................................................ 125

101 - Após tantos fins ........................................... 126