Cidade Educadora 5

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Évora, 31 de Maio de 2012 Newsletter Ano1 Nº5 Foto: Manuel Ribeiro À procura de mais espaço público A Arquitectura e o Urbanismo desenvolvem uma relação que condiciona a qualidade do espaço público em Évora. Saber dessa rela- ção e do que ela pode trazer a esta cidade contemporânea que quer ser educadora, é a proposta para o fim de tarde desta quinta feira, 31 de Maio. A arquitecta paisagista Aurora Carapinha e o arquitecto urbanista Jorge Silva encontram -se à mesa do café Condestável, em pleno centro histórico de Évora, num ambiente informal, e de livre acesso, para debaterem como pode esta cidade tornar-se mais cida- de e educadora Este 5º debate do ciclo “Habitar a Cidade. Construir Espaço Público” propõe-se, segundo a organização, “reforçar a vertente da participação de todos os interessados numa reflexão conjunta sobre as possibili- dades de construção de espaço público em Évora”. Para atingir esse objectivo, na mesa motiva- dora do debate estarão dois especialistas e um jornalista moderador, neste caso Paulo Nobre, da RTP. Aurora Carapinha é professora e investiga- dora na Universidade de Évora, Doutora em Artes e Técnicas da Paisagem, É também, desde Dezembro de 2009, Directora Regio- nal de Cultura do Alentejo; mas é na quali- dade de docente e de interessada na cidade que aceitou colaborar com estes debates coorganizados pelo CIDEHUS – (Centro interdisciplinar de História, Culturas e Soci- edades) e pelo Departamento de Filosofia da Universidade de Évora. Referindo-se à complexidade que é marca da cidade, Aurora Carapinha afirma que “o problema da heterogeneidade reside nas relações entre os heterogéneos. Mas diver- sidade é sempre enriquecedora”. Confrontada com a decisão de Évora querer ser uma cidade educadora, comenta “tem todo o sentido resolver pela educação estas heterogeneidades que são ricas. Sabemos também da Biologia que quanto mais diver- so for o ecossistema maior é a sua capaci- dade de resposta”. Jorge Silva é arquitecto desde 1970. Foi vereador da Câmara Municipal de Évora, responsável pelo Pelouro da Habitação, Urbanismo e Obras no triénio 77/80. É, desde então, coordenador da AO- Oficina de Arquitectura, Lda. Também leccionou na Universidade Técnica de Lisboa, e é um profundo conhecedor de Évora, cidade a que se mantém ligado. “Construir a ‘cidade na cidade’; desconfiar das tendências enquanto destino e aceitá- las enquanto método de prospecção do futuro; associar políticas a estratégias e estratégias a uma visão de mudança, afron- tando o binómio: necessidades (o rol nor- mal de desgraças) versus potencialidades; ou a cidade como sonho colectivo, causa partilhada” - são apenas algumas das estra- tégias de intervenção na cidade que o arqui- teto Jorge Silva tem vindo a propor em dife- rentes contextos. A procura de mais “espaço público” em Évora, a cidade que deseja ser educadora, está esta tarde no centro do debate. Neste número: Polis: comunidade que decide viver em conjunto (Reflexões da Arquitecta Aurora Carapinha). Pág. 2 Os novos desafios da cidade (Reflexões do Arquitecto Jorge Silva). Pág. 3 Notícias da Rede Inter- nacional de Cidades Educadoras. Pág. 4

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Page 1: Cidade Educadora 5

É v o r a , 3 1 d e M a i o d e 2 0 1 2 N e w s l e t t e r

A n o 1

N º 5

Foto

: M

anu

el R

ibeir

o

À procura de mais espaço público A Arquitectura e o Urbanismo desenvolvem

uma relação que condiciona a qualidade do

espaço público em Évora. Saber dessa rela-

ção e do que ela pode trazer a esta cidade

contemporânea que quer ser educadora, é a

proposta para o fim de tarde desta quinta

feira, 31 de Maio.

A arquitecta paisagista Aurora Carapinha e

o arquitecto urbanista Jorge Silva encontram

-se à mesa do café Condestável, em pleno

centro histórico de Évora, num ambiente

informal, e de livre acesso, para debaterem

como pode esta cidade tornar-se mais cida-

de e educadora

Este 5º debate do ciclo “Habitar a Cidade.

Construir Espaço Público” propõe-se,

segundo a organização, “reforçar a vertente

da participação de todos os interessados

numa reflexão conjunta sobre as possibili-

dades de construção de espaço público em

Évora”.

Para atingir esse objectivo, na mesa motiva-

dora do debate estarão dois especialistas e

um jornalista moderador, neste caso Paulo

Nobre, da RTP.

Aurora Carapinha é professora e investiga-

dora na Universidade de Évora, Doutora em

Artes e Técnicas da Paisagem, É também,

desde Dezembro de 2009, Directora Regio-

nal de Cultura do Alentejo; mas é na quali-

dade de docente e de interessada na cidade

que aceitou colaborar com estes debates

coorganizados pelo CIDEHUS – (Centro

interdisciplinar de História, Culturas e Soci-

edades) e pelo Departamento de Filosofia da

Universidade de Évora.

Referindo-se à complexidade que é marca

da cidade, Aurora Carapinha afirma que “o

problema da heterogeneidade reside nas

relações entre os heterogéneos. Mas diver-

sidade é sempre enriquecedora”.

Confrontada com a decisão de Évora querer

ser uma cidade educadora, comenta “tem

todo o sentido resolver pela educação estas

heterogeneidades que são ricas. Sabemos

também da Biologia que quanto mais diver-

so for o ecossistema maior é a sua capaci-

dade de resposta”.

Jorge Silva é arquitecto desde 1970. Foi

vereador da Câmara Municipal de Évora,

responsável pelo Pelouro da Habitação,

Urbanismo e Obras no triénio 77/80. É,

desde então, coordenador da AO- Oficina

de Arquitectura, Lda. Também leccionou na

Universidade Técnica de Lisboa, e é um

profundo conhecedor de Évora, cidade a que

se mantém ligado.

“Construir a ‘cidade na cidade’; desconfiar

das tendências enquanto destino e aceitá-

las enquanto método de prospecção do

futuro; associar políticas a estratégias e

estratégias a uma visão de mudança, afron-

tando o binómio: necessidades (o rol nor-

mal de desgraças) versus potencialidades;

ou a cidade como sonho colectivo, causa

partilhada” - são apenas algumas das estra-

tégias de intervenção na cidade que o arqui-

teto Jorge Silva tem vindo a propor em dife-

rentes contextos.

A procura de mais “espaço público” em

Évora, a cidade que deseja ser educadora,

está esta tarde no centro do debate.

Neste número:

Polis: comunidade que

decide viver em conjunto

(Reflexões da Arquitecta

Aurora Carapinha).

Pág. 2

Os novos desafios da

cidade (Reflexões do

Arquitecto Jorge Silva).

Pág. 3

Notícias da Rede Inter-

nacional de Cidades

Educadoras.

Pág. 4

Page 2: Cidade Educadora 5

eu, diz: “eu vou à cidade” quando está

fora do centro histórico. E tudo é cida-

de…

Obviamente que quando a cidade era só

o centro histórico, ela era educadora por

si só, empiricamente. No momento em

que a cidade deixa de ter unidade, surge

esta preocupação porque hoje nós acha-

mos que há esta dicotomia…

O que é que é a cidade de Évora para o

comum dos Portugueses? É o centro

histórico. Não é essa a cidade que nós

conhecemos. Onde é que eu vivo? Vivo

no bairro da Malagueira, ou vivo no

bairro… Portanto existe aqui fragmenta-

ção. E tem todo o sentido resolver pela

educação estas heterogeneidades que

são ricas. Isto também é Biologia:

Quanto mais diverso for o ecossistema

maior é a sua capacidade de resposta”.

O bairro como uma metáfora ?

A ideia de bairro tem de ser só mera

metáfora, uma apropriação, porque tem

de ser muito mais abrangente. Francoise

Choay quando cá esteve espantou-se

com o facto de Évora não ser a grande

cidade educadora de Portugal. Ela não

utilizou o termo “cidade educadora”

mas disse-me: “Não percebo como é

que esta não é a grande cidade cultural

de Portugal… Tem escala para isso,

está próximo de Lisboa, tem acessibili-

dades belíssimas, tem a Universida-

de…” Ela dizia-me que tinha todos os

Polis: comunidade que decide viver em conjunto

Foto: Manuel Ribeiro

A Professora Aurora Carapinha participou

há três anos numa reunião de académicos

da Universidade de Évora, oriundos de

várias áreas disciplinares, a quem foi soli-

citado um olhar sobre a aplicação do con-

ceito de cidade educadora a Évora.

O encontro foi realizado a 2 de Julho de

2009, na Biblioteca do ISESE (Instituto

Superior de Economia e Sociologia,) no

âmbito dos trabalhos desta investigação

que se propõe conhecer as formas de apro-

priação do conceito de cidade educadora

no caso específico de Évora.

Do contributo desta arquitecta paisagista

para uma primeira leitura de Évora, cidade

educadora, destacam-se os seguintes apon-

tamentos:

A polis nasce da comunidade que decide

viver em conjunto

“Eu não entendo a cidade como uma cons-

trução arquitectónica, nem como um con-

junto de instituições. Entendo a cidade

como uma comunidade que optou por vi-

ver em conjunto. A polis nasce precisamen-

te com o sentido de uma comunidade que

decidiu viver em conjunto”.

A necessidade de ser educadora vem da

heterogeneidade da cidade

“Penso que de facto todas as cidades são

educadoras. Agora este desejo de voltar a

ser, só tem a ver com aquilo que se perdeu.

E com uma coisa que hoje em dia se discu-

te muito nos fóruns de arquitectura: a he-

tropolis, que é, no fim de contas, uma cida-

de e uma comunidade que tem grandes

heterogeneidades; e portanto, como é que

uma comunidade que no ínicio era uma

comunidade, com um princípio único e

uma única identidade, e se identifica hoje

com uma comunidade hetero, que é a hete-

ropólis. Daí a necessidade da cidade ser

educadora”.

A heterogeneidade potencia a capacida-

de de resposta

“O problema da heterogeneidade reside nas

relações entre os heterogéneos. A diversi-

dade é sempre enriquecedora. Parece-me

interessante a preocupação de Évora querer

ser cidade educadora. É muito representati-

vo não só pela escala, mas também por esta

dicotomia que se faz entre o centro históri-

co e o resto. Quem nasceu em Évora como

P á g i n a 2

ingredientes para ser a grande cidade

pensadora”.

A qualidade do espaço

“O problema é que se olharmos hoje

para a qualidade do espaço em que

todos nós habitamos, verificamos que

esse é um problema gravíssimo.

(…) De facto, hoje em dia, as pesso-

as estão a viver em meios tão artifici-

ais que a maior parte não reconhece.

Nunca viram por exemplo um rio…

Ter conhecimento das coisas, ter

ideia do espaço, ter experiência vital

é fundamental e cria referências. Não

pode ser só a imagem, tem de ser o

espaço vivido.

Nos nossos primeiros anos é muito

difícil dizer aos alunos: “Vamos fazer

uma viagem de estudo a pé e dormir

numa tenda”. É impossível, nunca. E

não ter esta vivência tem muito a ver

com perdermos um conjunto de rela-

ções que são fundamentais. Isso pas-

sa-se em relação ao próprio patrimó-

nio, em relação à paisagem, em rela-

ção ao espaço aberto; desde logo ao

espaço público. Como é de todos,

não é de ninguém, e portanto não é

uma preocupação. Não havendo essa

cultura de vivência conjunta, também

não há essa cultura de viver em espa-

ços de qualidade, em espaços huma-

nos”.

Page 3: Cidade Educadora 5

Tema

Continua a faltar

cultura urbanística?

P á g i n a 3

Na procura de uma estratégia de

intervenção

1. Responsabilidade do arquitecto:

ligar o edifício à cidade-

2. É cada vez mais construir a

“cidade na cidade”.

3. Desconfiar das tendências enquan-

to destino; aceitá-las enquanto méto-

do de prospecção do futuro.

4. Políticas associadas a estratégias.

Estratégias associadas a visão de

mudança. Afrontar o binómio: neces-

sidades (o rol normal de “desgraças”)

versus potencialidades.

5. Cidade sonho colectivo, causa

partilhada.

6. A necessidade de metas a curto

prazo enquanto mobilizadoras a mé-

dio e longo prazo. A importância de

saber escolher bem quais as metas a

curto prazo. Resolver já é muito im-

portante enquanto factor mobilizador

da vida urbana. (Por exemplo a sepa-

ração do lixo).

7. Saber encontrar soluções simples;

aprender com a prática, começar a

mudar para começar a descobrir; saber

fazer acontecer (encadeando acções, ou

aperfeiçoamentos); Fazer da cidade o pal-

co, da história onde as realidades sociais e

económicas se enfrentam e onde há que

conferir um papel a todos, mesmo aos mais

sem voz.

8. A necessidade de identificar os grupos

(excluídos, marginalizados) vítimas da

cidade. Identificar populações-alvo. Para

esses, programar actuações rápidas que

actuem sobre as suas condições de vida.

9. Para fazer a acontecer apenas é neces-

sário um cenário, uma ideia e um prazo

que todos assumam como desejável.

10. Não fazer a cidade à margem dos

cidadãos. Conseguir que a cidade seja en-

tendida como problema de todos, que deve

ser divulgado, ser estendido até àqueles

que mais estão em rotura com esta. Mas

para que isso seja possível é necessário

responsabilizar, mas também autonomizar

mais o poder local.

11. Novos métodos de produzir urbanis-

mo em que não haja espaços (quaisquer

que eles sejam) que fiquem vazios de uma

proposta de uso imediato independente-

mente dos usos futuros, agregando uma

previsão dos custos inerentes a esse usos.

12. Devolver à cidade o respeito por si

própria, onde cada acto deve ser, muito

mais que um recurso de gestão para resol-

ver um problema, a componente de uma

estratégia de intervenção onde tanto quan-

to a racionalidade, deve ser considerada a

afectividade que nos liga aos nossos vizi-

nhos, aos companheiros do transporte, aos

escorraçados, às árvores, aos pequenos

jardins às cores às janelas às praças e ruas.

Sem a presença desta afectividade em

cada uma das nossas decisões não há polí-

tica que resista.

Excerto de um texto de Jorge Silva

Sobre “Políticas de Qualificação Urbana – os

novos desafios da cidade” (2007), que pode ser

lido na integra em . http://www.oficina-

arquitectura.pt/texto.php?id=12

“Em Portugal continuamos muito

longe de uma cultura de exigência

quanto ao processo urbanístico. E

se a preocupação da qualidade da

arquitectura já preenche algum

espaço e tempo nos mídia (embora

de forma bem enviesada, fazendo

crer que bastam 10 super-estrelas

do firmamento da arquitectura para

se assegure a qualidade da arqui-

tectura portuguesa), a presença das

questões urbanas, que devem ser

objecto de reflexão pública, conti-

nua ausentes dos noticiários.”

Jorge Silva na 1ª Conferência Anual da

Arquitectura e Vida “Territórios em Mudan-

ça”, Taguspark, Oeiras, 12 de Abril de 2002.

Texto integral disponível em http://

www.oficina-arquitectura.pt/texto.php?id=9

Os novos desafios

das cidades

Foto: Manuel Ribeiro

Page 4: Cidade Educadora 5

Notícias da rede internacional

de Cidades Educadoras

* Évora esteve representada pela Verea-

dora Cláudia Sousa Pereira no XII Con-

gresso Internacional de Cidades Educa-

doras realizado em Changwon

(República da Coreia) no final do passa-

do mês de Abril.

“Meio Ambiente e Educação Criati-

va” foi o tema do Congresso. As refle-

xões estruturaram-se em torno dos se-

guintes três eixos temáticos:

- Políticas, planificação urbanística, am-

biente e infraestruturas sustentáveis nas

Cidades Educadoras.

- Governação inclusiva, justiça social,

empowerment comunitário e capacitação

das Cidades Educadoras

- Economia ecológica, Ecotrabalho, Sis-

temas e Tecnologias Verdes nas Cidades

Educadoras.

O próximo Congresso, a realizar em

2014, está agendado para Barcelona,

cidade que acolheu a primeira edição.

A propósito dos 25 anos desta Rede de

cidades Educadoras o próximo Congres-

so internacional tem como tema: “A

Cidade educadora é uma cidade que

inclui.”.

As atenções vão estar centradas sobre a

adaptação dos serviços municipais às

novas formas de exclusão social; ainda

sobre a coordenação administrativa para

a atenção integral às pessoas; a promo-

ção da autonomia dos indivíduos; a me-

lhoria da ocupação e inserção laboral; o

acesso à habitação e o reforço do capital

social.

Ler mais em: http://w10.bcn.es/APPS/

eduportal/pubPortadaAc.do

ContactosContactosContactos Mail: [email protected] Blogue: http://evoracidadeeducadora.blogspot.com/

Facebook:: ww.facebook.com/events/323727374325849/

P á g i n a 4

Próximo debate

Quinta Feira, 28 de Junho

“Os agentes económicos na construção

de Évora, cidade educadora”

Foto: Manuel Ribeiro

Compromissos do Congresso:

“As Cidades Educadoras devem

trabalhar para mudar a sua forma de

governar; para renovar as infraestru-

turas da cidade com critérios susten-

táveis; para elaborar políticas efica-

zes de espaço público, ecomobilida-

de e biodiversidade; para desenvol-

ver acções em parceria para uma

vida urbana sustentável.”

Este é um dos cinco compromissos assu-

midos pelas cidades presentes no recente

Congresso Internacional da Coreia do

Sul e que constam na declaração final

que pode ler em:

http://w10.bcn.es/APPS/eduportal/

pubFitxerAc.do?iddoc=80612

Foto: Manuel Ribeiro