Avaliação Pós-Ocupação do Conjunto Residencial Gervásio Maia - … · 4 KÁTIA CRISTINA DO...

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Universidade Federal da Paraíba Centro de Tecnologia Programa de Pós-Graduação Engenharia Urbana e Ambiental KÁTIA CRISTINA DO VALE Avaliação Pós-Ocupação do Conjunto Residencial Gervásio Maia - PB JOÃO PESSOA PB 2012 Orientadora: Prof. Dr. Solange Maria Leder

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    Universidade Federal da Paraíba

    Centro de Tecnologia

    Programa de Pós-Graduação Engenharia Urbana e Ambiental

    KÁTIA CRISTINA DO VALE

    Avaliação Pós-Ocupação do Conjunto

    Residencial Gervásio Maia - PB

    JOÃO PESSOA – PB

    2012

    Orientadora: Prof. Dr. Solange Maria Leder

  • 2

    Universidade Federal da Paraíba

    Centro de Tecnologia

    Programa de Pós-Graduação Engenharia Urbana e Ambiental

    KÁTIA CRISTINA DO VALE

    Avaliação Pós-Ocupação do Conjunto

    Residencial Gervásio Maia - PB

    Orientador (a): Prof. Dr. Solange Maria Leder

    JOÃO PESSOA – PB

    2012

    Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana e Ambiental da Universidade Federal da Paraíba, como parte dos requisitos necessários para a

    obtenção do grau de Mestre.

  • 3

    Catalogação na fonte Universidade Federal da Paraíba

    Biblioteca Central Divisão de Tratamento Técnico

    Bibliotecária Responsável:

    V149d Vale, Kátia Cristina do.

    Avaliação Pós-Ocupação do Conjunto Residencial Gervásio

    Maia / Kátia Cristina do Vale.-- João Pessoa, 2012.

    110f. : il.

    Orientadora: Solange Leder

    Dissertação (Mestrado) – UFPB/CT

    1. Engenharia Urbana e Ambiental. 2. Habitação

    – interesse social. 3. Infraestrutura urbana. 4.

    Avaliação Pós-ocupação (APO). 5. Qualidade de

    vida.

    UFPB/BC CDU: 62:711(043)

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    KÁTIA CRISTINA DO VALE

    Avaliação Pós-Ocupação do Conjunto

    Residencial Gervásio Maia-PB

    Esta dissertação foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de Mestre

    em Engenharia Urbana e Ambiental da Universidade Federal da Paraíba.

    João Pessoa, 2012

    BANCA EXAMINADORA

    ____________________________________________

    Profª. Drª. Solange Maria Leder- UFPB

    (Orientadora)

    ___________________________________________

    Profº. Drº.José Augusto Ribeiro da Silveira- UFPB

    (Examinador interno)

    ____________________________________________

    Profª. Drª. Gianna Melo Barbirato - UFAL

    (Examinador externo)

    _____________________________________________

    Profª. Msc. Flávia Maria Guimarães Marroquim - UFPB

    (Examinador externo)

  • 5

    Aos meus pais, Francisco e Ivanilda (in memória) e aos meus irmãos Genielson, Valdir, Solange

    e Karinn

  • 6

    AGRADECIMENTOS

    A realização da pesquisa e elaboração desta dissertação só se fez possível

    pela ajuda e compreensão de pessoas que participaram direta ou indiretamente para

    que concluíssemos o trabalho que ora apresentamos. Entre elas gostaria de citar

    algumas que foram de primordial importância neste processo:

    Em primeiro lugar quero agradecer a Deus, Pai onipotente, por ter me

    sustentado até aqui, pois, sem Ele, nada seria possível.

    Com muito carinho agradeço a minha família, a fortaleza e o conforto de todos

    os dias que perpassaram a construção desta pesquisa.

    Aos meus pais: Francisco e Ivanilda (in memória) por ter me ensinado a

    importância de se ter coragem e paciência nas dificuldades que a vida nos reserva.

    Aos meus irmãos: Solange, Karinn, Genielson e Valdir, pelo apoio

    incondicional.

    Aos meus cunhados: Waldormiro, Neidinha e Riedja, pelo grande apoio.

    À professora orientadora, Solange Leder, que me acolheu como orientanda.

    Por sua coragem e boa vontade em ter orientado nesta jornada, pelas valiosas

    orientações, contribuições e pela confiança que seria possível.

    Agradeço à Universidade Federal da Paraíba e aos professores pelo apoio e

    pela atenção.

    A CAPES, pelo financiamento durante todo o curso, proporcionando a

    conclusão do mestrado.

    A todos os docentes do PPGEUA que participaram da minha formação pela

    atenção e ensinamentos.

    Ao professor José Augusto pela disponibilidade e atenção em participar como

    avaliador na minha defesa.

  • 7

    À professora Gianne Melo pela disponibilidade em participar como avaliadora

    na minha banca de conclusão do mestrado.

    Com muito carinhos agradeço aos amigos da universidade que me

    acompanharam durante esses anos e que gostaria de lembrar com carinho:

    Annelise, Diego Targino, Franklin Linhares, Charles Jesus, Ricardo, Carol, Leila e

    Valdomiro.

    Aos amigos do Laboratório de Conforto - LabCon: José Rodrigo, Sibelle,

    Amanda, Eliana, que acompanharam todo o processo de construção desta pesquisa.

    Na etapa da pesquisa de campo, agradeço a Glória, Juliana e Igor, que

    contribuíram para a aplicação do questionário e do levantamento.

    Agradeço carinhosamente aos moradores do Conjunto Residencial Gervásio

    Maia.

    A todos esses, o meu muito obrigada!

  • 8

    RESUMO

    O direito à moradia não se restringe apenas à posse de uma unidade

    habitacional, compreende também o direito à qualidade de vida, traduzida no acesso

    ao lazer e à cultura, à infraestrutura urbana, aos bens e serviços, à segurança, à

    saúde, à educação e ao trabalho. Nesse contexto, o Conjunto Gervásio Maia,

    localizado na região sudoeste do município de João Pessoa na Paraíba, foi

    escolhido como objeto de estudo por inserir-se no programa governamental de

    erradicação do déficit habitacional do país. O conjunto abriga famílias de baixa renda

    cadastradas no programa de auxilio à moradia da Prefeitura Municipal de João

    Pessoa. O trabalho consiste na avaliação pós-ocupação (APO) do referido conjunto,

    tendo como objetivo caracterizar o acesso dessa população ao lazer e à cultura, à

    infraestrutura urbana, aos bens e serviços, à segurança, à saúde, à educação e ao

    trabalho, através de pesquisa documental, visitas in loco e aplicação de

    questionários. Os questionários foram aplicados no local, com usuários de 100

    unidades habitacionais, distribuídas aleatoriamente em todo o conjunto. A pesquisa

    documental e as visitas in loco foram aplicadas a todo o conjunto. Como principais

    resultados destacam-se: a) elevado repasse de casas dos beneficiados a terceiros;

    b) baixa segurança - percebida através da predominância de muros altos e

    colocação de grades de proteção; d) mobilidade reduzida devida à baixa oferta de

    transporte público e ao custo das passagens, variável que afeta o acesso ao lazer e

    à cultura (inexistente no local), bem como ao trabalho, bens e serviços; e)

    iluminação pública precária e inexistência do serviço de correio.

    Palavras-chaves: Habitação de interesse social, Avaliação Pós-Ocupação,

  • 9

    ABSTRACT

    The right to housing is not restricted to possession of a dwelling unit, it includes the

    right to quality of life through access to leisure and culture, urban infrastructure,

    goods and services, security, health, education and work. In this context, the

    neighborhood Gervasio Mayan, located in the southwest of the city of Joao Pessoa in

    Paraiba, was chosen as an object of study by entering into the government program

    to eradicate the country's housing deficit. The set houses low-income families

    enrolled in the program of assistance to housing the City of João Pessoa. The work

    consists in evaluating post-occupancy (APO – Avaliação Pós-Ocupação) of that set,

    aiming to characterize this population access to leisure and culture, urban

    infrastructure, goods and services, security, health, education and work, through

    desk research, site visits and questionnaires. The questionnaires were administered

    on site, with users of 100 housing units, randomly distributed throughout the

    neighborhood. The main results are: a) high pass on the benefit to others homes, b)

    low security - perceived by the predominance of high walls and installation of

    guardrails d) reduced mobility due to low supply of public transport and the cost of

    tickets, variable that affects access to leisure and culture (nonexistent on site), as

    well as labor, goods and services, e) poor lighting and lack of mail service.

    Keywords: Social Housing, Post-Occupancy Evaluation, quality of life

  • 10

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 01: Matriz Avaliativa................................................................................. 34

    Figura 02: Mapa de localização do Conjunto Residencial Gervásio Maia.......... 43

    Figura 03: Unidades habitacionais do CRGM (Programa Crédito Solidário)...... 45

    Figura 04: Loteamento do CRGM com o zoneamento dos programas de

    financiamento.......................................................................................................

    46

    Figura 05: Foto panorâmica de um trecho do CRGM em construção, 2007....... 47

    Figura 06: Acampamento Jorge Luiz, bairro do Valentina.................................. 49

    Figura 07: Planta baixa da unidade habitacional do CRGM............................... 51

    Figura 08: Unidade habitacional com característica original............................... 51

    Figura 09: Lotes com orientação noroeste e sudoeste....................................... 52

    Figura 10: Seleção das unidades habitacionais do CRGM................................. 56

    Figura 11: Plantações no meio do passeio......................................................... 71

    Figura12: Desníveis das vias de passeio............................................................ 72

    Figura 13: Materiais de construção interrompendo o passeio............................ 72

    Figura 14: Mapa de localização dos equipamentos comunitários e do

    mobiliário urbano do CRGM, 2011.......................................................................

    73

    Figura 15: Escola Municipal Jornalista Raimundo Nonato Batista ..................... 74

    Figura 16: Rampa de acesso aos pavimentos da Escola................................... 74

    Figura 17: Creche Crei Luiza da Taipa............................................................... 75

    Figura 18: Unidade Saúde da Família................................................................. 75

    Figura 19: Percurso realizado da Unidade da Saúde da Família do CRGM ao

    Hospital do Valentina...........................................................................................

    76

    Figura 20: Ruas com vegetação urbana............................................................. 79

    Figura 21: Praça da Esperança........................................................................... 80

    Figura 22: Mapa da vegetação e áreas de lazer do CRGM, 2011...................... 81

    Figura 23: Terminal de Integração Colinas do Sul.............................................. 83

    Figura 24: Mapa do trajeto dos transporte publico do CRGM, 2011................... 84

    Figura 25: Uso atual das unidades habitacionais................................................ 86

    Figura 26: Uso institucional das antigas unidades habitacionais........................ 87

    Figura 27: Mapa de acréscimo/alteração do uso das unidades habitacionais

    do CRGM, 2011..................................................................................................

    88

  • 11

    Figura 28: Reformas realizadas nas unidades habitacionais.............................. 88

    Figura 29: Reforma realizada para a construção da garagem............................ 90

  • 12

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 01 - Resumo dos conjuntos habitacionais construídos em João

    Pessoa entre 1935 e 1986.................................................................................

    29

    Tabela 02 - Dados referentes aos programas financeiros................................. 44

    Tabela 03 - Procedência das Famílias transferidas para o Conjunto

    Residencial Gervásio Maia.................................................................................

    49

    Tabela 04 - Eixos e indicadores para Avaliação Pós-Ocupação....................... 57

    Tabela 05 – Modificações realizadas nas unidades habitacionais.................... 90

  • 13

    LISTA DE GRÁFICOS

    Gráfico 01: Faixa Etária dos moradores entrevistados por sexo e

    idade.......................................................................................................................

    63

    Gráfico 02: Nível de escolaridade dos entrevistados.......................................... 63

    Gráfico 03: Composição familiar.......................................................................... 64

    Gráfico 04: Números de moradores por residência............................................. 65

    Gráfico 05: Tempo de moradia dos entrevistados no Conjunto Residencial

    Gervásio Maia........................................................................................................

    66

    Gráfico 06: Fornecimento de água...................................................................... 67

    Gráfico 07: Abastecimento da rede de esgoto sanitário...................................... 68

    Gráfico 08: Abastecimento de energia elétrica.................................................... 68

    Gráfico 09: Iluminação pública............................................................................ 69

    Gráfico 10: Avaliação das vias veiculares........................................................... 70

    Gráfico 11: Avaliação das vias de pedestres...................................................... 71

    Gráfico 12: Avaliação da Segurança Pública...................................................... 77

    Gráfico 13: Acesso a linha telefônica.................................................................. 78

    Gráfico 14: Tipos de comercio e serviços........................................................... 87

    Gráfico 15: Tamanho da casa............................................................................. 92

    Gráfico 16: Tamanho da cozinha........................................................................ 93

    Gráfico 17: Tamanho do banheiro....................................................................... 93

    Gráfico 18: Tamanho da sala.............................................................................. 93

    Gráfico 19: Tamanho do dormitório 1.................................................................. 94

    Gráfico 20: Tamanho do dormitório 2.................................................................. 94

    Gráfico 21: Instalação Elétrica............................................................................. 95

    Gráfico 22: Instalação Hidráulica......................................................................... 95

    Gráfico 23: Paredes externas (acabamento)....................................................... 95

    Gráfico 24: Paredes internas (acabamento)........................................................ 95

    Gráfico 25: Aparência externa da unidade habitacional...................................... 96

    Gráfico 26: Avaliação dos entrevistados quanto à localização do Conjunto

    Residencial do Gervásio Maia................................................................................

    97

  • 14

    LISTA DE SIGLAS

    BNH Banco Nacional de Habitação

    CEF Caixa Econômica Federal

    CEHAP Companhia de Habitação Popular

    COHABs Companhia de Habitação

    COHEP Cooperativa Habitacional do Estado da Paraíba

    FAC Fundação de Ação Comunitária

    FAR Fundo de Arrendamento Residencial

    FCP Fundação da Casa Popular

    FDS Fundo de Desenvolvimento Social

    FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

    IAPs Instituto de Aposentadoria e Pensões

    INOCOOPs Instituto de Orientação às Cooperativas Habitacionais

    IPASE Instituto de Previdência e Assistência aos Servidores do

    Estado

    IPEP Instituto de Previdência do Estado da Paraíba

    PAR Programa de Arrendamento Residencial

    PMJP Prefeitura Municipal de João Pessoa

    PNH Plano Nacional de Habitação

    PNHIS Plano Nacional de Habitação de Interesse Social

    PROHAP Programa de Habitação Popular

    PSH Programa de Subsidio à Habitação de Interesse Social

    SFH Sistema Financeiro de Habitação

    SERFHAU Serviço Federal de Habitação e Urbanismo

  • 15

    SUMÁRIO

    Capítulo I – Introdução.............................................................................. 17

    1.1 Considerações Iniciais............................................................................ 18

    1.2 Objetivos................................................................................................. 19

    1.3 Estrutura do trabalho............................................................................. 20

    Capítulo II – Referencial Teórico.............................................................. 21

    2.1 Habitação Social no Brasil..................................................................... 22

    2.2 Características dos Conjuntos Habitacionais Brasileiros....................... 26

    2.3 Políticas de Habitação Popular em João Pessoa.................................. 27

    2.4 Avaliação Pós-Ocupação (APO) em habitação de interesse social ..... 31

    2.5 Indicadores da Avaliação Pós-Ocupação (APO) .................................. 34

    2.5.1 Moradia e Inserção Urbana............................................................. 34

    2.5.1.1 Infraestrutura básica.................................................................. 35

    2.5.1.2 Mobilidade e acessibilidade urbana........................................... 36

    2.5.1.3 Qualidade ambiental.................................................................. 36

    2.5.1.4 Qualidade da Habitação............................................................ 37

    2.5.2 Inclusão Social................................................................................. 38

    2.5.3 Satisfação do Morador..................................................................... 39

    Capítulo III - Estudo de caso................................................................ 41

    3.1 OBJETO DE ESTUDO: Conjunto Residencial Gervásio Maia.............. 42

    3.2 População beneficiada com as unidades habitacionais do Conjunto

    Residencial Gervásio Maia..........................................................................

    48

    3.3 Tipologia e sistema construtivo das unidades habitacionais................. 50

    Capítulo IV – Metodologia......................................................................... 54

    4.1 Definição da amostra............................................................................. 55

  • 16

    4.2 Levantamento de campo....................................................................... 57

    4.3 Tratamento dos dados obtidos.............................................................. 59

    Capítulo V – Análises dos Resultados..................................................... 61

    5.1 Perfis dos Moradores............................................................................. 62

    5.2 Levantamento e avaliação do Conjunto Residencial Gervásio

    Maia.............................................................................................................

    66

    5.2.1 Infraestrutura básica e serviços urbanos......................................... 66

    5.2.2 Áreas de lazer e vegetação............................................................. 78

    5.2.3 Acessibilidade e mobilidade urbana................................................ 82

    5.3 Levantamento e avaliação dos usuários das características das

    unidades habitacionais................................................................................

    85

    5.3.1 Uso................................................................................................... 86

    5.3.2 Intervenções arquitetônicas............................................................. 89

    5.3.3 Conforto ambiental das unidades habitacionais.............................. 91

    5.3.4 Satisfação dos moradores com a unidade habitacional.................. 92

    5.3.5 Avaliação do desempenho das instalações, materiais e

    acabamentos...............................................................................................

    94

    5.4 Adaptação à nova moradia.................................................................... 96

    Capítulo VI - Conclusões........................................................................... 98

    Bibliografia................................................................................................. 103

    Anexo.......................................................................................................... 112

  • 17

    Capitulo I - Introdução

  • 18

    1.1 Considerações Iniciais

    O déficit habitacional na cidade de João Pessoa, segundo o Ministério das

    Cidades (2009) é 23.205 unidades habitacionais. De acordo com Suassuna Lima

    (2010), esta estimativa cresce em progressão geométrica, sendo a demanda por

    habitação de interesse social (HIS) bastante significativa. Contudo, apesar da

    urgência, as ações para construções de habitações sociais devem ser planejadas

    não só em termos quantitativos, mas, sobretudo nos aspectos qualitativos da

    produção espacial.

    De acordo com Azevedo (1996), nem sempre um simples incremento dos

    programas habitacionais é a solução mais indicada para melhorar as condições de

    moradia da população carente. Nesse sentido, é necessário que esses programas

    estejam integrados a outras politicas, como a de infraestrutura básica e serviços

    urbanos.

    Para Lanchoti e Bruna (2010), a cidade tem como principal função abrigar

    indivíduos no espaço de moradia, trabalho, lazer, convívio social e ainda a função

    básica de circular pelas vias. Nesse entendimento, observa-se que a problemática

    vinculada à habitação social extrapola os limites da unidade habitacional, sendo

    também o direito à educação de qualidade, à saúde, ao lazer, a melhores condições

    de trabalho e concomitantemente a melhores condições de vida.

    Nesse contexto, surgiu o interesse da pesquisadora sobre a problemática

    relacionada à habitação de interesse social, especificamente, a moradia no Conjunto

    Residencial Gervásio Maia, anteriormente estudado no trabalho de conclusão do

    Curso de Bacharel em Geografia intitulado: “Geografia da luta pela moradia em João

    Pessoa: o acampamento urbano Jorge Luiz (MNLM)”, junto ao Departamento de

    Geociência da UFPB. No referido trabalho, realizou-se um estudo do processo de

    territorialização da luta popular pela moradia em João Pessoa. Foram identificados,

    na cidade em estudo, 12 (doze) focos de ocupações irregulares no ano de 2007,

    mais da metade da população apresentava renda familiar abaixo de um salário

    mínimo e baixos índices de escolaridade (VALE, 2007). Nesse mesmo ano de 2007,

    reassentaram-se as famílias que viviam nessas ocupações irregulares no Conjunto

    Residencial Gervásio Maia.

  • 19

    A problemática do tema surgiu a partir do expressivo número de famílias

    levadas a morar nos conjuntos habitacionais produzidos em larga escala a partir de

    1964 nas periferias das cidades brasileiras. Nessa conjuntura, vários pesquisadores

    atuantes na área de habitação e de planejamento urbano criticam os problemas

    técnicos e sociais relacionados a esse tipo de empreendimento como: a qualidade e

    a durabilidade das construções, as formas repetitivas e monótonas, a localização, o

    tamanho do conjunto e o risco de formação de guetos (FREITAS, 2004).

    Para Maricato (2009), grande parte das habitações de interesse social (HIS) é

    construída desconsiderando o bem-estar da população, tampouco consideram a

    moderna tendência do urbanismo pelo adensamento da cidade. Normalmente, esses

    conjuntos habitacionais são desprovidos de qualquer qualidade, com projeto padrão

    que abrigam diferentes famílias em uma solução construtiva mal elaborada, com

    pouco espaço e nenhum conforto (MARICATO, 2009).

    O presente trabalho tem como objetivo analisar a qualidade de vida dos

    moradores do Conjunto Gervásio Maia. Nesse entendimento, utilizou-se o método

    de Avaliação Pós-ocupação (APO), considerando a opinião dos usuários. Acredita-

    se que os resultados desse trabalho contribuem para a intervenção e a gestão do

    poder público junto à comunidade, com o intuito de proporcionar uma melhor

    qualidade de vida dos indivíduos e de fornecer critérios para futuros projetos

    habitacionais.

    1.2 Objetivos

    O objetivo geral deste trabalho é a analise pós-ocupação, sob a ótica dos

    usuários do Conjunto Residencial Gervásio Maia em João Pessoa/PB, considerando

    aspectos da infraestrutura urbana; mobilidade e acesso ao lazer, à cultura, à

    educação, à saúde e aos bens e serviços; segurança e adequação ambiental.

    Como objetivos específicos destacam-se:

    Caracterizar a infraestrutura urbana do Conjunto Residencial Gervásio

    Maia, especificamente, os serviços de abastecimento de água; energia elétrica; rede

    de esgoto; iluminação pública; vias veiculares e vias de pedestre; comunicação e

    acesso à informação; mobilidade e equipamentos comunitários.

  • 20

    Qualificar, sob a ótica dos usuários, a infraestrutura urbana presente no

    local em relação às variáveis: sistema de abastecimento de energia, água e

    comunicação; segurança pública; mobilidade urbana e acesso às áreas de lazer,

    cultura, saúde, educação e trabalho.

    Identificar a satisfação dos usuários em relação à unidade habitacional,

    bem como identificar as intervenções realizadas nas edificações a partir da

    implantação do conjunto.

    1.3 Estrutura do Trabalho

    Esta pesquisa está estruturada em seis capítulos:

    Capitulo I – Introdução – Caracterização do tema da pesquisa: problemática,

    objetivo geral e objetivos específicos.

    Capítulo II – Referencial Teórico – Arcabouço teórico que serviu de subsidio

    ao desenvolvimento do trabalho. Essa secção abordou o contexto histórico da

    habitação social, as características físicas dos conjuntos construídos para população

    de baixa renda, a história das políticas habitacionais em João Pessoa, além de

    outros temas pertinentes como a Avaliação Pós-ocupação (APO) com enfoque para

    moradia e inserção urbana, para inclusão social e para satisfação do morador.

    Capítulo III – Metodologia – Incide sobre as etapas metodológicas que

    serviram de base para o desenvolvimento da pesquisa.

    Capítulo IV - Estudo de caso – O objeto de estudo é apresentado: Conjunto

    Residencial Gervásio Maia, destacando seu processo histórico, sua tipologia e o

    sistema construtivo das unidades habitacionais, de infraestrutura, de serviços

    urbanos e de população beneficiada.

    Capítulo V – Análises dos resultados – Apresenta-se os resultados da

    pesquisa, abordando o perfil dos entrevistados, as características das unidades

    habitacionais e suas mudanças, as reformas realizadas, o conforto ambiental, a

    satisfação do morador com a unidade habitacional, a avaliação de desempenho das

    instalações, materiais e acabamentos e a adaptação à nova moradia.

    Capítulo VI – Conclusões.

  • 21

    Capítulo II - Referencial Teórico

  • 22

    O referencial teórico estrutura-se em três partes: habitação social no Brasil e

    suas características, as políticas de habitação popular em João Pessoa e Avaliação

    Pós-Ocupação.

    2.1 Habitação Social no Brasil

    Segundo Eva Blay (1978), considera-se a habitação social no Brasil em pelo

    menos quatro momentos históricos: as senzalas no período escravocrata; a vila

    operária na primeira etapa da industrialização; a expansão urbana das cidades e a

    construção de habitações em conjuntos habitacionais.

    No período escravocrata, o proprietário destinava junto à casa senhorial uma

    parte para a construção da senzala, local de moradia do trabalhador e a garantia de

    seu próprio cativeiro. Nesse contexto, a força de trabalho escravo representava um

    valor fundamental para seu proprietário na garantia de sua posição no sistema

    econômico (BLAY, 1978).

    Com a extinção do sistema escravocrata e, concomitantemente, a expansão

    das cidades no processo de implantação e consolidação das relações de produção

    capitalistas e de criação do mercado de trabalho livre, a produção habitacional foi

    uma atividade totalmente exercida pela iniciativa privada (indústria) (BONDUKI,

    1998).

    Dessa forma, nas cidades instala-se um mercado de trabalho, atraindo

    trabalhadores rurais que desejam morar em um ambiente urbano e, posteriormente,

    construíram um pequeno artesanato e um operariado industrial (BLAY, 1978). Nessa

    conjuntura, parte desses indivíduos foi mal remunerada, passando a residirem em

    habitações populares, ou seja, cortiços. Bonduki (1998) afirma que os cortiços são

    uma sequencia de pequenas habitações ou cômodos insalubres, sem instalações

    hidráulicas e localizadas em áreas próximas ao centro das cidades.

    Nessa realidade, juntamente com os trabalhadores vindos do campo, também

    existiam os trabalhadores qualificados e a classe média que não utilizava os

    cortiços, mas as denominadas vilas operárias como moradia (SILVA e SILVA, 1989).

    Essas vilas são um conjunto de casas construídas por donos de indústrias para

  • 23

    serem alugadas a baixos aluguéis ou oferecidas gratuitamente aos seus operários

    (BONDUKI, 1998).

    Essas iniciativas tiveram um impacto importante em várias cidades

    brasileiras, pois foram os primeiros empreendimentos habitacionais de grande porte

    construídos no país, apresentando condições dignas de moradia, superando a

    insalubridade dos cortiços (RAGO, 1985 apud BONDUKI, 1998).

    A partir de 1920, com as transformações da economia que levaram ao

    crescimento industrial e a um modelo de urbanização caracterizado pela

    concentração de riqueza, registraram-se mudanças substanciais na estrutura urbana

    e na forma de atuação do Estado (SILVA e SILVA, 1989). Com o crescimento

    urbano, o cortiço passou a representar um perigo para a saúde pública pela sua

    condição de insalubridade. Até 1937, a intervenção do Estado no setor habitacional

    se fez indiretamente pela adoção de medidas legais de cunho sanitarista, cuja

    preocupação se dava em torno das condições higiênicas da cidade. Os

    trabalhadores conviviam, na maioria dos casos, geograficamente próximos das

    classes dominantes que pressionavam pelo saneamento da cidade (SILVA e SILVA,

    1989).

    A partir da década de 1940, a população de baixa renda encontrou novas

    formas para solucionar o problema habitacional: a favela e a casa própria

    autoconstruída em loteamentos periféricos com soluções que se caracterizavam

    pela inexistência de investimento privado ou público (OSÓRIO, 2003). Essas

    alternativas habitacionais encontradas pela população apresentam em comum a

    precariedade em termos de tamanho, os materiais utilizados para a construção, a

    falta ou a precariedade de acesso a serviços básicos como luz, água, esgoto, coleta

    de lixo, pavimentação, escola, atividades de lazer e outros (SILVA e SILVA, 1989).

    Nesse contexto, surgem no Brasil os programas nacionais de apoio à

    habitação social para atender a demanda do déficit habitacional, que ocorreu em

    decorrência da industrialização acelerada, acentuando-se a partir da migração do

    meio rural para as cidades e do crescimento significativo da população brasileira

    (REIS; LAY, 2010).

  • 24

    Com a grande demanda por moradia e, concomitantemente, o agravamento

    das condições habitacionais, foi criada em 1946, a Fundação da Casa Popular

    (FCP), primeiro órgão nacional responsável pela habitação popular (SILVA, 1987).

    Nesse sentido, caberia a FCP financiar obras de infraestrutura, de indústrias de

    materiais, promovendo estudos para reduzir os custos da construção, tornando-se

    um verdadeiro órgão de política urbana (LIMA, 2007).

    Posteriormente, extinguiu-se a FCP e criou-se o Sistema Financeiro de

    Habitação (SFH) em 1964, juntamente com o Banco Nacional de Habitação (BNH) e

    o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (SERFHAU). Assim, estabeleceram-se

    instituições que priorizavam a dimensão econômica da política habitacional (SILVA,

    1987).

    Segundo Rodrigues (2003, p. 57), o BNH objetivou:

    [...] coordenar a política habitacional dos órgãos públicos e orientar a iniciativa privada, estimulando a construção de moradias populares; financiar a aquisição da casa própria, melhoria do padrão habitacional e do ambiente; eliminar as favelas; aumentar o investimento da indústria de construção e estimar a poupança privada e o investimento.

    Essas instituições foram os principais agentes responsáveis pela construção

    das unidades habitacionais e pelo financiamento de materiais para edificação ou

    reforma, para urbanização e para o financiamento de lotes em áreas com

    infraestrutura básica, financiando o Programa de Erradicação de Favelas eram as

    Companhias de Habitação (COHAB) e o Instituto de Orientação às Cooperativas

    Habitacionais (INOCOOP) (MARROQUIM, 2007).

    Dessa forma, a COHAB e o INOCOOP implementaram vários programas e

    projetos habitacionais – PLANHAP (1972), PROMORAR (1979), PROFILURB

    (1979), PRÓ-FAVELA (1979), PROJETO MUTIRÃO (1980) E PROJETO JOÃO DE

    BARRO (1984), dentre outros – com objetivo de diminuir o déficit habitacional da

    casa própria na construção de conjunto e urbanização de favelas. A maior parte das

    soluções adotadas para a questão da habitação popular, desde 1964, foi a forma de

    conjuntos habitacionais (MARROQUIM, 2007).

    Os conjuntos habitacionais geralmente são construídos distantes do centro da

    cidade, de locais de trabalho, de abastecimento e de serviços (MARICATO, 1987).

  • 25

    Essa solução comumente acarreta problemas para os moradores como o dispêndio

    de muitas horas no percurso que, somado ao precário sistema de transporte

    coletivo, torna a jornada de trabalho exaustiva (SILVA e SILVA, 1989).

    A partir de 1986, extinguiu-se o BNH, logo, a Caixa Econômica Federal (CEF)

    incorporou suas atividades. Assim, houve uma transformação estrutural na política

    de habitação, isto é, a cada novo mandato presidencial uma série de alterações

    poderia acontecer (uma política de Estado transformou-se em uma política de

    Governo) (BONATES, 2009).

    Outro fato importante é a descentralização das ações do poder público,

    distribuídas nas três esferas de governo – federal, estadual e municipal – garantindo

    aos estados e, principalmente, aos municípios, mais autonomia na criação de

    programas desenvolvidos com recursos próprios (BONATES, 2009).

    Na década de 1990, criaram-se os programas Habitar Brasil, Morar Município

    e PróMorar, que possuíam características básicas semelhantes. Ambos previam

    participação local (governo estaduais e prefeituras), tendo como alvo famílias de

    baixa renda ou que viviam em áreas de risco, objetivando a melhoria de habitações

    existentes, a regularização de assentamentos e a implantação de infraestrutura

    urbana necessária (LIMA, 2007).

    Em 2001, cria-se o Programa de Subsidio à Habitação de Interesse Social

    (PSH), cujo objetivo é oferecer acesso à moradia adequada ao cidadão de baixa

    renda por intermédio da concessão de subsídios concedidos no momento em que o

    cidadão efetua o contrato de crédito habitacional junto à instituição financeira

    habilitada a operar no programa (LIMA, 2007). Os benefícios são repassados a

    grupos de cidadãos organizados de forma associativa, tendo como condicionante

    rendimento familiar mensal bruto não superior a três salários mínimos

    (FERNANDES; SILVEIRA, 2010).

    O PSH necessita da contribuição proveniente dos estados e dos municípios.

    Os governos locais entram com o terreno, a infraestrutura e, quando possível, com

    parte do material de construção. Enquanto que o Governo Federal, por meio do

    PSH, fornece subsidio para complementar a capacidade de pagamento dos

    mutuários (LIMA, 2007).

  • 26

    Nessa perspectiva, elaborou-se, em 2005, o Programa Crédito Solidário

    responsável pelo financiamento habitacional, utilizando os recursos do Fundo de

    Desenvolvimento Social (FDS) para contribuir efetivamente na redução do déficit

    habitacional, atingindo, prioritariamente, famílias com renda bruta mensal inferior a

    três salários mínimos (FERNANDES; SILVEIRA, 2010).

    Apesar da intervenção governamental na área da moradia desde o inicio do

    século XX, conclui-se que o Estado pouco se preocupou em oferecer uma habitação

    de qualidade ou reduzir o déficit habitacional existente. O percurso de acesso à

    moradia de qualidade para a população de baixa renda (até três salários mínimos de

    renda familiar) ainda é longo (FERNANDES; SILVEIRA, 2010). Atualmente, grande

    parcela dessa população encontra-se excluída do acesso amplo a uma moradia

    digna (LIMA, 2007), principalmente, no tangente à qualidade, considerando esse

    aspecto no próximo item será abordado sobre as características da habitação social

    no Brasil.

    2.2 Características dos Conjuntos Habitacionais Brasileiros

    Historicamente, a produção de habitação voltada para as classes populares

    no Brasil direcionou-se para a implantação de conjuntos em periferias (FUENTES,

    2008). Nesse entendimento, o Instituto de Aposentadoria e Pensão (IAP’s)1

    caracterizou-se pela construção de blocos de edifícios em bairros próximos aos

    centros urbanos. No caso da Fundação da Casa popular (FCP), orientou-se a

    produção para a construção de unidades unifamiliares. Quanto ao Banco Nacional

    de Habitação (BNH), implantaram-se os conjuntos nas periferias com unidades

    habitacionais pequenas e geralmente com grande quantidade de moradias

    (BONATES, 2009).

    Segundo Fuentes (2008), a localização desses conjuntos não se deu

    aleatoriamente, fez parte de uma política que incentivava a aquisição de grandes

    glebas de baixo valor econômico. Dessa forma, na prática, as habitações eram

    construídas em uma área não valorizada pelo mercado imobiliário com pequenas

    dimensões, material de segunda linha e serviços coletivos (BONATES, 2009; SILVA

    1 O Instituto de Aposentadoria e Pensões (IAPs) realizava programas de financiamento das habitações, que

    atendiam apenas os trabalhadores com carteira assinada deixando de lado as populações marginalizadas e os

    setores de menor renda entre os trabalhadores (NUNES, 2008)

  • 27

    e SILVA, 1989). A produção desses conjuntos habitacionais resultou na formação

    das periferias mal construídas, cujas unidades apresentavam-se com péssima

    qualidade construtiva, configurando o modelo de periferização marcado pela

    precariedade e pela exclusão social (FUENTES, 2008).

    Os conjuntos habitacionais caracterizaram-se pelos principais tipos

    arquitetônicos: repetitivos blocos de apartamentos; casas unifamiliares isoladas em

    lotes individuais e casa unifamiliares em fita construídas nos limites do lote. Também

    se produziram conjuntos de diversos tamanhos: pequeno porte com menos de 500

    unidades habitacionais; médio porte com 500 a 1000 unidades habitacionais e

    grande porte caracterizado por mais de 1000 unidades habitacionais (VIEIRA, 2002).

    Segundo Freitas (2004)

    O modelo unifamiliar popular resultou em condições precárias de habitação, não só do ponto de vista da qualidade física dos espaços da unidade habitacional, como também em relação ao efeito social discriminatório, que

    a falta de qualidade urbana do espaço coletivo trouxe aos moradores.

    Pode-se, afirmar que as características físicas dos conjuntos habitacionais

    parecem ter sido insatisfatórias (VIEIRA, 2002). Segundo Bonates (2009, p. 44)

    “houve uma diminuição na área média privativa, na qualidade construtiva e na

    implantação das habitações construídas dos IAPs para o BNH, em função de um

    barateamento da construção”.

    De acordo com Bonates (2009, p 20) “a produção da habitação necessita não

    apenas de terra para sua implantação, mas, principalmente, de solo que seja

    infraestruturado”. A infraestrutura inclui a existência de equipamentos e serviços

    coletivos, acessibilidade e mobilidade urbana, juntamente com os fatores naturais do

    sitio e o mobiliário urbano (BONATES, 2009).

    2.3 Políticas de Habitação Popular em João Pessoa

    Construiu-se o primeiro conjunto de habitação popular da capital paraibana

    pelo Montepio do Estado da Paraíba2 no bairro Montepio, em 1935, conhecido como

    2O Montepio do Estado da Paraíba é um agente estadual que atuou na produção de moradias. Posteriormente, transformou-se no IPEP (ambos com a função voltada para a previdência) (BONATES, 2009).

  • 28

    Vila Macacos, formado por 35 (trinta e cinco) unidades habitacionais padronizadas e

    com alto nível de qualidade das construções (NUNES, 2008).

    Entre 1935 e 1963, a atuação conjunta do Instituto de Aposentadoria e

    Pensões (IAPs), do Instituto de Previdência e Assistência aos Servidores do Estado

    (IPASE), da Fundação da Casa Popular (FCP) e do Montepio resultou na produção

    de 15 (quinze) conjuntos habitacionais com um total de 899 (oitocentas e noventa e

    nove) casas localizadas nos bairros: Centro, Tambiá, Torre, Jaguaribe e

    Expedicionário (BONATES, 2009).

    No fim do período pré-BNH, realizou-se o maior plano de construção de casas

    populares em João Pessoa denominado de Cidade do Funcionário Público Estadual,

    implantado no Bairro de Oitizeiro em 1963. Construíram-se 300 (trezentas) unidades

    habitacionais, distribuídas aos funcionários públicos inscritos com família numerosa

    e com remuneração pouco significativa (NUNES, 2008).

    Nos primeiros anos de atuação do Sistema Financeiro de Habitação (SFH)

    em João Pessoa, através do IPASE, do Instituto de Previdência do Estado da

    Paraíba (IPEP), da Companhia de Habitação Popular (CEHAP) e do Instituto de

    Orientação às Cooperativas Habitacionais INOCOOPs, financiou-se a construção de

    2.333 (duas mil e trezentos e trinta e três) unidades habitacionais erguidas em áreas

    distantes do centro em direção ao nordeste e ao sudoeste-sudeste, como os bairros

    Jardim 13 de Maio, Jardim Luna, Ipês, Pedro Gondim, Cidade dos Funcionários e

    Castelo Branco (Tabela 01).

    Posteriormente, entre os anos de 1970 e 1974, houve um decréscimo do

    número de unidades habitacionais construídas em relação ao período anterior, que

    coincide com grandes investimentos em infraestrutura da cidade. Nesse período,

    construíram-se os conjuntos Castelo Branco II e Castelo Branco III, Costa e Silva e

    João Agripino no total de 2.266 (duas mil e duzentas e sessenta e seis) unidades

    habitacionais, ver tabela 01 (LAVIERI;LAVIERI, 1999).

    Entre 1975 e 1979, o SFH investiu na construção de 4.593 (quatro mil e

    quinhentos e noventa e três) unidades habitacionais. Os principais bairros

    contemplados foram: Ernani Sátyro, Brisamar, Cristo, Jardim Luna, José Américo,

    Ernesto Geisel, Distrito Industrial e o Altiplano Cabo Branco (Tabela 01).

  • 29

    No período entre 1980 e 1986, se intensificou o processo de periferização da

    cidade com a construção dos grandes conjuntos habitacionais. No sul-sudeste,

    construíram-se os conjuntos: Bancários, Anatólia e Mangabeira, (Tabela 01).

    Também, iniciou-se a obra do conjunto Valentina Figueiredo (ARAÚJO, 2006).

    Tabela 01:Resumo dos conjuntos habitacionais construídos em João Pessoa entre 1935 e 1986

    Ano Agentes Conjuntos Habitacionais Total de Unidades Habitacionais

    1935 / 1963 IAPs / IPASE / FCP / Montepio

    Centro / Tambiá / Torre / Jaguaribe /Expedicionário / Cidades dos Funcionários

    899

    1967 / 1969 IPASE / Monteipo – IPEP/ CEHAP / INOCOOPs

    Jardim 13 de Maio / IPES/ Pedro Godim / Cidade dos Funcionários II / Castelo Branco

    2.333

    1970 / 1974 CEHAP/ INOCOOPs Castelo Branco II / Castelo Branco III / Coste e Silva / João Agripino

    2.266

    1975 / 1979 IPASE / IPEP / CEHAP / INOCOOPs

    Ernani Sátyro / Brisamar / Cristo / Jardim Luna / José Américo / Ernesto Geisel / Distrito Industrial / Altiplano Cabo Branco

    4. 593

    1980 / 1986 IPEP / CEHAP /

    INOCOOPs

    Bancários / Anatólia /

    Mangabeira / Valentina

    20.476

    Fonte: Adaptado de LAVIERI; LAVIERI(1999) e BONATES (2009)

    Ademais, conforme Cavalcanti (1999 apud BONATES, 2009), verificou-se

    nesses conjuntos habitacionais financiados pelo BNH a ausência de infraestrutura

    básica como: falta de pavimentação, saneamento básico, precário serviço de

    abastecimento de água e de transporte urbano coletivo.

    Esse fato resultou da política adotada pelo Estado que encarregava as

    instituições habitacionais (CEHAP, IPASE, IPEP, E INOCOOPs) apenas da

    construção das unidades e mantinha sob a responsabilidade dos órgãos municipais

    e estaduais a elaboração e execução dos equipamentos coletivos e da infraestrutura

    (BONATES, 2009).

  • 30

    A partir de 1990, os principais agentes públicos responsáveis pela produção

    de moradia para a população de baixa renda são: Prefeitura Municipal de João

    Pessoa (PMJP), a CEHAP, a Fundação de Ação Social (FAC), e o IPEP. Já os

    agentes privados (empresas construtoras ou cooperativas) participaram da produção

    de habitação social por meio do financiamento pela Caixa Econômica Federal (CEF)

    (BONATES, 2009).

    A Prefeitura de João Pessoa investiu em diversos programas habitacionais

    como: “É pra Morar”, “Habitar Brasil” e “Morar Melhor”. Esses programas

    objetivaram garantir a construção, a reconstrução, a melhoria de unidades

    habitacionais e o saneamento das famílias de baixa renda em situações precárias,

    em áreas de risco ambiental e insalubres e em abrigos provisórios (VALE; GARCIA,

    2008).

    Esses três programas beneficiaram cerca de 1.168 (um mil e cento e

    sessenta e oito) famílias de baixa renda por meio da construção de unidade

    habitacionais em diferentes bairros da capital paraibana. Construíram-se o

    Condomínio da Paz, da Liberdade, da Independência I e da Independência II, da

    Cidadania e da Amizade, todos também localizados nas áreas periféricas da cidade.

    Contudo, as unidades desses edifícios totalizam uma área de aproximadamente

    22,90m² compostos por sala, quarto, banheiro e cozinha (BONATES, 2009). Além da

    distância do centro, foram construídos com péssima qualidade (VALE; GARCIA,

    2008).

    A produção habitacional efetuada a partir do ano de 2000 pelos agentes

    públicos (estado e município) foi responsável por 3.648 (três mil e seiscentos e

    quarenta e oito) unidades e ficou concentrada em duas instituições:

    1) CEHAP com a produção de 2.312 (duas mil e trezentos e doze) unidades

    (BONATES, 2009);

    2) PMJP com o Conjunto Residencial Gervásio Maia, que possui 1.336 (um mil e

    trezentos e trinta e seis) unidades, incluindo neste, além das unidades habitacionais,

    a infraestrutura, composta por: saneamento básico, drenagem, pavimentação,

    escola de ensino fundamental, creche, unidade de saúde da família (PSF) e praça

    pública (VALE; GARCIA, 2008). Nesse período, a CEHAP voltou a construir

  • 31

    conjuntos habitacionais de grande porte, com uma produção horizontal, concentrada

    basicamente na região sudeste da cidade – Valentina e Grotão (BONATES, 2009).

    Nos períodos destacados, evidencia-se em João Pessoa uma política

    habitacional que prioriza a implantação de conjuntos habitacionais na periferia

    urbana. Segundo Ermínia Maricato (2009), quando se constrói um conjunto

    habitacional fora da cidade, é preciso levar a cidade até o conjunto. A localização

    dos conjuntos deveria considerar a boa articulação com o tecido urbano, a

    mobilidade e o acesso às fontes de trabalho.

    De acordo com Meira e Oliveira (1998, p.01), o abrigo “representa a

    construção e operação da edificação, serve como suporte para inúmeras atividades

    como trabalhar, estudar, dispor de lazer, entre outras”. Nesse entendimento, a

    habitação de interesse social não deve ser tratada apenas como uma questão de

    moradia, mas como uma questão de cidadania, que busca trazer a melhoria da

    condição de vida da população e sua inserção na sociedade (ROMÉRO;

    ORNSTEIN, 1999).

    Para Ornstein e Romero (2003, p.15)

    “Os padrões que deveriam impor qualidades, tanto à unidade habitacional como ao assentamento em si, por vezes não são atingidos porque a seleção de material de baixo custo tem levado a uma rápida deterioração

    das obras e à ausência de manutenção da qualidade”.

    Outras considerações podem ser feitas em torno da qualidade dos padrões da

    construção, em função das políticas públicas de apoio financeiro aos usuários,

    fiscalizando rigorosamente a construção para que os materiais não sejam alterados

    (ORNSTEIN; ROMERO, 2003).

    2.4 Avaliação Pós-Ocupação (APO) em habitação de interesse social

    No contexto habitacional, a APO aparece como uma ferramenta eficaz de

    avaliação sistemática do ambiente construído, incluindo o usuário nesse processo

    (MEIRA; OLIVEIRA, 1998). Segundo Lay e Reis (1993) essa ferramenta objetiva:

    utilizar a informação para a melhoria do próprio espaço construído; traduzir a

    informação obtida em forma de recomendações e diretrizes, evitando aspectos

  • 32

    negativos de desenho e que aspectos positivos sejam incorporados em projetos

    semelhantes ao avaliado (LAY; REIS, 1993).

    De acordo com Ornstein e Romero (1992), nos últimos 40 anos ocorreram no

    Brasil a repetição consecutiva de diversos produtos pouco satisfatória para o

    usuário, principalmente, aqueles que se constituem em uma monumental massa

    construída de edificações públicas e privadas, sem um efetivo controle de qualidade

    ou avaliações sistemáticas de desempenho. É, nessa conjuntura que se caracteriza

    o meio urbano brasileiro, que reduz a vida útil das edificações e deteriora as

    relações humanas (ORNSTEIN; ROMERO, 1992).

    Atualmente, poucos países pesquisam as origens dos problemas patológicos

    nas construções como: a Bélgica, a Alemanha e a Inglaterra. Já no Brasil, nos

    últimos trinta anos, aumentou-se o número de estudos e de certificações acerca da

    qualidade produtiva, por exemplo, a série ISO 90003(ORNSTEIN; ROMERO, 2003).

    Dessa forma, observa-se que os programas voltam-se mais ao aumento da

    produtividade e à diminuição dos custos na etapa de construção do que ao controle

    de qualidade na etapa de projeto (ORNSTEIN; ROMERO, 2003).

    No entanto, os pesquisadores utilizam a APO como métodos e técnicas para

    diagnosticarem fatores positivos e negativos do ambiente no decorrer do uso. Esses

    fatores são analisados, a partir das questões: socioeconômica, infraestrutura,

    conforto ambiental, conservação de energia, levando em consideração o ponto de

    vista dos próprios usuários, dos avaliadores projetistas e dos clientes (ORNSTEIN;

    ROMERO, 2003).

    Como exemplo de APO aplicada à habitação de interesse social, pode-se

    citar o trabalho de Jacques (2008) que realizou uma avaliação, após vinte e oito

    anos de implantação do Núcleo Habitacional Santa Marta localizado no Estado do

    Rio Grande do Sul. Constataram-se inúmeras alterações no loteamento, compostas

    em sua grande parte de reformas e aumentos das edificações para atender a

    3A ISO 9000 é um modelo de implementação de sistemas da qualidade, aplicável em qualquer parte

    do mundo. Têm como enfoque, forma um conjunto consistente e uniforme de procedimentos, elementos e requisitos para a garantia da qualidade (MOREJÓN, 2005).

  • 33

    demanda das famílias. Outro fator observado foi a influência do mercado imobiliário,

    descaracterizando a estética inicial do conjunto.

    Marroquim (2007) ressalta que nos primeiros anos de ocupação do Conjunto

    Habitacional Osman Loureiro implantado em Maceió/AL1989 e 1990, os usuários

    promoveram alterações nas unidades habitacionais para garantir um nível mínimo

    de habitabilidade. Contudo, um dos destaques da autora refere-se à ausência de

    profissionais qualificados no auxilio das reformas, que resulta em modificações

    ineficientes.

    Alves e Santos (1998) investigaram três conjuntos habitacionais com

    diversidade de tipologias: casas isoladas no terreno (em alvenaria e madeira), casas

    geminadas (duas a duas) e blocos de quatro pavimentos, construídos em Rio

    Branco/AC, entre os anos de 1989 e 1991 pela COHAB. Os autores constataram

    que a maioria das residências já não possuía os primeiros moradores, ou seja,

    59,8% adquiriram sua casa de segundo ou terceiro proprietário. Essa renovação

    pode corresponder à substituição dos beneficiários originais por uma população de

    maior poder aquisitivo. Outro fato significativo é o alto índice de reforma das

    unidades residenciais, mais de 80% dessas sofreram intervenções, sendo que as

    principais modificações ocorreram no banheiro, na cozinha e nos quartos.

    Verificou-se ainda que, as unidades tiveram como principais intervenções:

    colocação de piso cerâmico, mudança das esquadrias originais, substituição do

    cobogó das áreas de serviços por esquadrias e colocação de grades de ferro nas

    portas e janelas.

    Lay e Reis (2002) realizaram uma avaliação pós-ocupação em 12 (doze)

    conjuntos situados na área metropolitana de Porto Alegre/RS, partindo da premissa

    de que os espaços abertos coletivos oportunizaram atividades sociais de recreação

    e funcionais que propiciam vínculos entre a comunidade. Nesse sentido, verificou-se

    que a maioria das alterações realizadas nos conjuntos para preencher as

    necessidades da comunidade em relação à preservação dos espaços abertos

    coletivos e edificações, não são ações tomadas coletivamente. Por isso, acarretam

    consequências adversas, ocasionando sérios problemas relativos à segurança, ao

  • 34

    conforto ambiental, à legibilidade e à orientação e assim, afetando negativamente

    sentimentos de auto-estima dos moradores.

    2.5 Indicadores da Avaliação Pós-Ocupação (APO)

    Segundo o Instituto de Estudos Espaciais da PUCSP -IEE (2006 p. 08), “os

    indicadores são resultados de escolhas dos sujeitos e das múltiplas relações que se

    estabelecem em um determinado contexto histórico e cultural, usados para

    monitorar e avaliar projetos”. Nessa perspectiva, destacam-se três eixos de

    avaliação: Eixo 1 - Moradia e Inserção Urbana; Eixo 2 - Inclusão Social e Eixo3 –

    Satisfação do morador (Figura 01). Os itens a seguir abordarão sobre esses três

    eixos de avaliação pós-ocupação.

    Figura 01:Matriz Avaliativa

    Fonte: IEE (2006)

    2.5.1 Moradia e Inserção Urbana

    Para a maioria da população brasileira, os problemas de moradia vêm de

    longa data. O sonho de conquistar uma habitação digna permeia o imaginário da

    maioria da população, que arquiteta um espaço contemplado, no mínimo, por

    serviços básicos como saneamento, educação, saúde, segurança, comércio, espaço

    de lazer e cultura.

    Todavia, o que norteia a política nacional de habitação nem sempre garante

    uma moradia digna que contemple a inserção urbana, infraestrutura básica e

    equipamentos comunitários (FERNANDES; SILVEIRA, 2010).

    MATRIZ AVALIATIVA

    Eixo 1 Eixo 2

    Moradia e Inserção Urbana Inclusão Social

    Eixo 3

    Satisfação do Morador

  • 35

    Dentro dessa perspectiva, abordar-se-á a seguir as dimensões do ambiente

    urbano como: infraestrutura básica, mobilidade e acessibilidade urbana, qualidade

    ambiental e moradia.

    2.5.1.1 Infraestrutura básica

    O crescimento urbano ao longo dos anos provocou mudanças nos padrões de

    vida da população, consequentemente, surge a necessidade de reestruturação do

    espaço de atividades urbanas e o acesso a infraestrutura. Nas grandes cidades, há

    uma dificuldade de se gerenciar a infraestrutura, muitas vezes, por falta de

    planejamento, por construções inadequadas e pela ocupação desordenada das

    áreas mais periféricas (SOUZAJÚNIOR, 2008).

    De acordo com Huther (2006), as redes de infraestrutura urbana classificam-

    se como: 1) redes viárias que consistem em vias urbanas e em drenagem pluvial; 2)

    rede de abastecimento de água; 3) rede de esgoto sanitário doméstico; 4) rede de

    energia elétrica; 5) rede arbórea.

    Nessa perspectiva, conceitua-se a infraestrutura urbana como um sistema

    técnico de equipamento e de serviços necessários ao desenvolvimento das funções

    urbanas observadas sob o aspecto social, econômico e institucional

    (ZMITROWICZE; NETO, 1997).

    No que tange ao aspecto social, a infraestrutura urbana proporciona à

    população uma adequada condição básica de moradia, de trabalho, de saúde, de

    educação, de lazer e de segurança. Nesse sentido, o aspecto econômico exerce

    três funções básicas: a produção, a comercialização e a prestação de serviços. E o

    aspecto institucional estabelece condições para o desenvolvimento das atividades

    político-administrativas, dentre as quais se inclui o gerenciamento da própria cidade

    (ZMITROWICZ; NETO, 1997).

    Ressalta-se, entretanto, que a infraestrutura urbana é determinante nas

    cidades e, em geral, é o maior problema urbano brasileiro (HUTHER, 2006). Para

    Abiko (1995), os principais problemas encontrados de infraestrutura estão nas áreas

    com população de baixa renda que apresentam deficiência na distribuição de

    abastecimento de água tratada, de energia elétrica e de coleta de lixo, além da

  • 36

    ausência de rede de esgoto, de drenagem, de serviços telefônicos, de sistema de

    locomoção de pessoas e de transporte coletivo.

    2.5.1.2 Mobilidade e acessibilidade urbana

    A estruturação urbana nas cidades capitalistas interfere no cotidiano de cada

    individuo à medida que esses necessitam locomover-se para realizarem diversas

    funções e atividades e para adquirir bens e serviços dispersos nesse espaço. Dessa

    forma, a situação espacial de cada um pode facilitar ou dificultar o deslocamento na

    cidade (PEREIRA, 2007).

    Segundo o Instituto de Estudos Espaciais da PUCSP - IEE (2006), para

    avaliar a acessibilidade e a mobilidade urbana em áreas residenciais, é necessário

    saber a oferta e a regularidade do transporte público, considerando o tempo gasto

    pelos usuários no percurso entre a sua moradia e o ponto de ônibus. Sendo de

    fundamental importância que os equipamentos comunitários sejam adaptados a

    pessoas com deficiência e/ou com mobilidade reduzida.

    Para Silveira, Lapa e Ribeiro (2007), a mobilidade representa os

    deslocamentos que ocorrem na cidade e tem como principais fatores a classe e a

    renda, a idade, a ocupação, o nivel educacional, o gênero e a saúde, estabelecendo

    relações com as desigualdades sociais e a segregação. A mobilidade vincula-se a

    aspectos socioeconômicos e à acessibilidade relacionada ao uso do solo e à forma

    urbana, referindo-se ao processo de funcionamento da cidade.

    De acordo com Pereira (2008), a mobilidade e a acessibilidade atrelam-se ao

    uso de meios de transporte, considerando a relação espaço-tempo, vinculando-se à

    estruturação urbana resultante de políticas e de planejamento que direcionam o uso

    do solo.

    2.5.1.3 Qualidade ambiental

    O acelerado crescimento das cidades provocou sérios problemas causados

    pelo aumento da urbanização, da degradação ambiental e da concentração da

    população nas áreas urbanas (CARRIJO; BACCARO, 2000).

  • 37

    Para avaliar a qualidade ambiental, segundo o IEE (2006), utilizam-se cinco

    indicadores: áreas verdes, áreas de lazer; destinação dos esgotos; das águas

    pluviais e do lixo.

    Para adentrarmos na questão da qualidade ambiental urbana, é necessário

    dois outros conceitos: o ecossistema urbano e a qualidade de vida. Segundo

    Brugman (1992 apud VARGAS, 1999), caracteriza-se ecossistema urbano por meio

    da alta densidade populacional humana, da produção e do consumo constantes e do

    estabelecimento de fluxos de energia e de pessoas, em que a força das relações

    econômicas e sociais transforma o ambiente natural.

    No ecossistema urbano, seus habitantes influenciam as condições do

    ambiente, de modo que a falta de infraestrutura nas áreas urbanas e a falta de

    consciência da população sobre a necessidade de preservação levam a degradação

    do ambiente.

    Os agravamentos dos impactos negativos provocados pela ação humana são:

    1) a produção de esgoto doméstico, comercial e industrial de forma imprópria; 2)

    situações de disposição final inadequada de resíduos em locais de encosta,

    margens de ruas e rios; 3) a geração e lançamento de fumaça e gases; 4) a retirada

    da vegetação para instalação de edificações; 5) outras formas de uso humano do

    ambiente urbano (MUCELIN; BELLINI, 2007).

    Segundo Vitte (2002), o conceito de qualidade de vida é um instrumento de

    planejamento, que serve como um parâmetro do grau de cobertura das

    necessidades dos indivíduos ou grupos sociais. Também, permite a detecção de

    desigualdades sociais derivadas dos diferentes graus de satisfação das

    necessidades, proporcionando bases para a elaboração de estratégias para

    melhorar o bem-estar.

    2.5.1.4 Qualidade da Habitação

    Segundo o IEE (2006) “a moradia é a edificação destinada a oferecer abrigo e

    condições de privacidade, de espaço, de segurança e de salubridade adequadas às

    necessidades e às funções pertinentes à vida privada das pessoas”.

  • 38

    Para Lawrence (1987apud BRANDÃO, 2006, p 13) “a habitação é definida por

    conjuntos de fatores arquitetônicos, culturais, econômicos, sócio-demográficos,

    psicológicos e políticos que mudam durante o curso do tempo”.

    De acordo com IEE (2006), para avaliar a qualidade de moradia em suas

    funções básicas utiliza-se dois indicadores: adequação das funções básicas da

    unidade e a permanência das famílias/repasses das unidades. A primeira refere-se

    às condições de privacidade, suficiência de espaço, segurança e salubridade e a

    segunda da aferição do grau de permanência das famílias nas unidades originais.

    A produção massificada da habitação social no Brasil é caracterizada por uma

    excessiva padronização arquitetônica e pela redução dimensional dos espaços

    internos (SZÜCS; COSTA, 2006). Os moradores realizam várias modificações nas

    unidades habitacionais por motivos de caráter funcional, simbólico ou econômico

    (MARROQUIM, 2007). Segundo Rabeneck (1974 apud BRANDÂO, 2006), as

    modificações realizadas pelos usuários objetivam acomodar uma mudança na

    composição familiar ou em suas atividades, promover a qualidade estética da

    habitação, rearranjar as subdivisões e organizar o lar com base em áreas

    formal/informal.

    Portanto, é necessário que os projetos habitacionais atendam as

    necessidades básicas de seus futuros moradores. Nesse sentido, entende-se que

    uma moradia adequada oferece condições de habitabilidade e de funcionalidade,

    sendo adaptável e flexível (PEDRO, 2000 apud BRANDÃO, 2006).

    2.5.2 Inclusão Social

    Há muitos estudos sobre a realidade brasileira na qual se constata que um

    terço da população vive na pobreza absoluta e com baixos níveis de escolaridade,

    sem acesso à educação, ao trabalho, à saúde, à renda, à moradia, ao transporte e à

    informação (MARTINI, 2005).

    Segundo Pochmann et al. (2005), os serviços e equipamentos públicos

    tornaram-se essenciais para toda a população de forma igualitária, mas somente

    uma parte reduzida tem condições de desenvolver plenamente suas aptidões.

  • 39

    Nesse entendimento, observa-se que a elevada desigualdade nos centros

    urbanos indica realidades completamente distintas, fazendo com que o acesso aos

    bens sociais - educação, saúde, habitação, cultura, trabalho - restrinjam-se a uma

    parcela limitada da população.

    De acordo com o Instituto de Estudos Espaciais da PUCSP-IEE (2006), para

    avaliar a inclusão social, é necessário utilizar os indicadores ligados: à oferta e ao

    uso dos equipamentos e dos serviços públicos de educação, de saúde, de esporte,

    de lazer, de cultura e de assistência social; à comunicação e o acesso à informação;

    a segurança pública e a inserção da população no mundo do trabalho.

    Esses indicadores no Brasil são diferenciados entre os indivíduos que se

    situam nas diferentes posições sociais. As desigualdades relativas às condições de

    vida da população são as principais características de um desenvolvimento desigual

    sustentado pela concentração de riqueza e segregação social (POCHMANN et al.,

    2005). Portanto, é necessário que a população tenha acesso à infraestrutura como:

    coleta dos resíduos dos domicílios, esgoto sanitário através de uma rede coletora ou

    fossa séptica, rede de abastecimento de água potável, energia elétrica para as

    unidades e ruas, proporcionando lazer e possibilitando o uso de bens de consumo

    para diferentes fins.

    2.5.3 Satisfação do Morador

    Segundo Roland e Novaes (2004), de todas as etapas do processo

    construtivo – planejamento, projeto, suprimento de materiais, produção e

    uso/manutenção – observa-se que na última o produto final passa a ter sua função

    posta à prova, sendo continuamente avaliado pelos usuários, inconscientemente e

    de forma não sistemática.

    É necessário conhecer as edificações tecnicamente e do ponto de vista dos

    usuários para analisar a qualidade do projeto e o nível de satisfação desses

    indivíduos. Conforme Frascescato et al (1979 apud LAY; REIS, 1993), a satisfação

    das pessoas com a habitação é influenciada por aspectos físicos-espaciais ou

    aspectos do projeto que desempenham um papel importante na qualidade da

    habitação.

  • 40

    Para Soen (1979 apud CARDOSO, 2008) a satisfação é expressa em função

    da diferença entre moradia anterior e a atual, assim como da correspondência ou

    não da unidade habitacional às suas necessidades. Segundo este autor, as

    necessidades básicas dos moradores dependem de dois fatores: 1) estilo de vida

    familiar, que se relaciona à educação, à cultura, ao comportamento, à condição

    sócio-econômica e as características dos membros da família, 2) mudanças na

    estrutura familiar nos quais os moradores se enquadram.

    Nesse contexto, o Instituto de Estudos Espaciais da PUCSP - IEE (2006) trata

    o conceito de satisfação dos usuários por meio da avaliação do morador sobre as

    suas condições de moradia e serviços, bem como os efeitos provenientes da

    execução do projeto na vida social e comunitária. Para isso, é necessária a

    avaliação dos moradores sobre a situação dos seguintes indicadores: abastecimento

    de água; esgoto sanitário; iluminação pública; acesso de veículos e pedestre;

    serviços e equipamentos sociais; transporte público; acesso ao trabalho; segurança

    pública e adequação da unidade as necessidades da família.

  • 41

    Capítulo III - Estudo de caso

  • 42

    Este capítulo trata da caracterização do objeto de estudo do trabalho, divide-

    se nos itens: objeto de estudo, população beneficiada e tipologia e sistema

    construtivo das unidades habitacionais.

    3.1 OBJETO DE ESTUDO - Conjunto Residencial Gervásio Maia

    As características locacionais e tipológicas do conjunto é a mesma promovida

    pelo Banco Nacional de Habitação (BNH): produção horizontal através da

    construção de conjuntos de grandes dimensões, concentrada basicamente na região

    sudeste da cidade – Valentina e Grotão (BONATES, 2009). O Conjunto Residencial

    Gervásio Maia é um exemplo da produção habitacional que se realiza desde os anos

    de 1970 na cidade de João Pessoa. O Conjunto está localizado no bairro do Grotão,

    na região sudoeste do município de João Pessoa, no Estado da Paraíba (Figura 02).

    As edificações estão distribuídas em 47 quadras, possuindo lotes distribuídos no

    sentido de diagonais de loteamento orientados para Nordeste, Noroeste, Sudoeste e

    Sudeste (QUEIROZ, 2008).

    Para tentar minimizar o problema do déficit habitacional da capital paraibana,

    o poder público do município junto ao Governo Federal criou programas

    habitacionais. Nesse entendimento, implantou-se o Loteamento Parque Sul,

    reproduzindo os padrões construtivos da maioria dos programas adotados no país

    com grande aglomeração de habitações unifamiliares localizadas na periferia das

    cidades (OLIVEIRA, et al, 2010). Posteriormente, o Loteamento Parque Sul passou

    a se chamar Conjunto Residencial Gervásio Maia em homenagem ao ex-secretário

    de Finanças do município. O conjunto foi financiado pelo Governo Federal em

    parceria com a Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP) e o empreendimento

    teve a participação dos movimentos sociais como o Apoio à Luta pela Moradia

    (ALAM), Central de Movimentos Populares (CMP-PB) e o Movimento Nacional de

    Luta pela Moradia (MNLM).

    A PMJP doou o terreno e se responsabilizou em oferecer infraestrutura básica

    como: abastecimento de água, energia elétrica, rede de esgoto, drenagem e

    pavimentação com paralelepípedo de quatro vias principais e a construção de

    equipamentos coletivos. Esses equipamentos são: a Escola Jornalista Raimundo

    Nonato, a creche denominada de Crei Luiza da Taipa, o Posto de Saúde da Família,

  • 43

    denominado de “Mudando de Vida”, um posto policial, a cozinha comunitária e a

    praça da Esperança. O Governo Federal disponibilizou verba para a construção das

    unidades habitacionais correspondente a R$ 15.426.133,22, sendo investido pela

    PMJP R$ 8.643.997,18. Logo, o valor total da obra foi de R$ 24.070.130,4 (VALE,

    2007).

    Figura 02: Mapa de localização do Conjunto Residencial Gervásio Maia.

    Fonte: LEITE (2011)

  • 44

    O Conjunto Residencial Gervásio Maia possui 30 hectares em uma topologia

    predominantemente plana, na qual se edificou 1.336 unidades habitacionais e 09

    lotes comerciais, totalizando 1.345 edificações.

    Construíram-se as unidades com subsídios de três programas financeiros:

    Crédito Solidário, Carta de Crédito/ Resolução 460 e Orçamento Geral da União

    (OGU). As 959 unidades edificadas pelo Programa Carta de Credito/Resolução 460

    foram destinadas a atender à demanda das famílias de baixa renda que estavam

    cadastradas no programa de auxílio à moradia da PMJP, na defesa civil,

    provenientes de acampamentos urbanos e ocupações a prédios públicos na capital

    paraibana. As 77 unidades habitacionais beneficiadas pelo financiamento do OGU

    abrigaram servidores municipais e vendedores ambulantes (tabela 02).

    Tabela 02: Dados referentes aos programas financeiros

    Programa Financeiro Quantidade Beneficiados Ano Forma de Repasse

    Crédito Solidário 300 Servidores municipais 2006 Financiado pela Caixa Economia Federal

    Carta de Crédito/ Resolução 460

    959 Cadastrado no auxílio moradia, defesa civil, acampamentos urbanos, ocupações a prédios públicos

    2007 Doação

    Orçamento Geral da União (OGU)

    77 Servidores municipais e vendedores ambulantes

    2007 Financiado pela Caixa Economia Federal

    Fonte:VALE(2007)

    O repasse das unidades subsidiadas pela Carta de Credito/Resolução 460 foi

    através de doação, o beneficiado adquire o direito a permanecer no imóvel mais não

    adquire a posse formal (escritura) sendo vedado qualquer tipo de negociação/uso

    que não seja habitacional do beneficiado. As unidades que foram construídas pelo

    subsidio do Crédito Solidário e OGU foram repassadas através de prestações

    relativamente baixa e sem juros.

    O Programa do Crédito Solidário e OGU atende às necessidades

    habitacionais da população com renda até três salários mínimos, objetivando a

    produção de novas moradias, a conclusão e a reforma de moradias existentes, na

    modalidade de aquisição de materiais de construção, aquisição de terreno e

  • 45

    construção, ampliação e reforma do imóvel. Estas unidades habitacionais foram

    entregues no ano de 2006 e 2007 (Figura 03).

    Figura 03: Unidades habitacionais do CRGM (Programa Crédito Solidário)

    Fonte: VALE (2007)

    Embora provenientes de distinta fonte de recursos as unidades construídas

    pelo Crédito Solidário, Carta de Crédito/Resolução 460 e OGU apresentam as

    mesmas características tipológicas, área construída e área de lote. Observa-se na

    figura 04, p. 46, a divisão dos programas financeiros do Conjunto Residencial

    Gervásio Maia com a quantidade de unidades construídas.

    O evento que marcou o conjunto residencial Gervásio Maia foi a sua

    inauguração, no dia 20 de dezembro de 2007, sendo celebrada quase que

    simultaneamente à chegada dos primeiros residentes desenraizados dos

    acampamentos urbanos e ocupações irregulares. O prefeito Ricardo Coutinho no

    ano de 2007 definiu o conjunto como “Um marco na história habitacional de João

    Pessoa” (COSTA, 2008).

    A PMJP recebeu o prêmio do Governo Federal, em 2008, apontando esse

    empreendimento entre os dez melhores projetos habitacionais do Brasil,

    considerando-o uma completa obra financiada pelo Governo Lula. O título foi

    conferido pelo ‘Selo de Mérito’, um reconhecimento oferecido pela Associação das

    Companhias de Habitação Nacional (SUASSUNA LIMA, 2010).

  • 46

    Figura 04: Loteamento do CRGM com o zoneamento dos programas de financiamento

    Fonte: Secretaria Municipal da Habitação-SEMHAB

  • 47

    Segundo Suassuna Lima (2010) ao considerar os aspectos urbanísticos, o

    Conjunto Residencial Gervásio Maia “apresenta em sua concepção a anacrônica

    repetição de casas térreas individualizadas e enfileiradas com reduzido

    aproveitamento do solo”.

    Para contrapor ao modelo vigente dos loteamentos governamentais,

    Suassuna Lima (2009) reforça os aspectos negativos desse tipo de empreendimento

    construído durante décadas: 1) a incapacidade de proporcionar qualidade de vida a

    maioria dos usuários; 2) a ausência de contribuição com o desenho qualificado da

    paisagem; 3) a reprodução de ambientes urbanos sem identidade; 4) a massificação

    que pouco contribui para a auto-estima dos moradores; além da imprevisão de áreas

    para geração de emprego e de renda.

    O conjunto, desde a sua implantação, apresenta alguns problemas

    relacionados à acessibilidade e mobilidade urbana, ao conforto na unidade, à

    segurança, etc. Na pesquisa realizada por Costa (2008), moradores entrevistados

    declararam que: “... a população se sente ameaçada em andar pelas ruas do

    residencial a partir das 18:00 horas”. Alguns moradores afirmaram que o Residencial

    Gervásio Maia é conhecido como a “Cidade de Deus” (COSTA, 2008, p. 79).

    Nesse entendimento, destaca-se que o empreendimento segue o modelo

    semelhante ao adotado pelo BNH caracterizado por seu grande porte e por centenas

    de unidades habitacionais (Figura 05), resultando no padrão de expansão das

    cidades na periferia (BONATES, 2009).

    Figura 05- Foto panorâmica de um trecho do CRGM em construção, 2007

    Fonte: Secretaria Municipal da Habitação-SEMHAB

    http://1.bp.blogspot.com/_sKdkwVVV6kg/SvkhoTlw5EI/AAAAAAAAJEU/W1M_3Guj8Xs/s1600-h/arq112_02_03.jpg

  • 48

    Segundo Maricato (1987) e Suassuna Lima (2010), esse tipo de

    empreendimento tem sido criticado por arquitetos e urbanistas, principalmente pelo

    predomínio de malhas ortogonais, gerando formas repetitivas e monótonas na

    paisagem, além da massificação e da desarticulação com o tecido urbano do

    entorno.

    Para Suassuna Lima (2010), não basta apenas entregar as unidades

    habitacionais e oferecer serviços. É preciso um trabalho de conscientização com a

    comunidade a respeito da conservação do espaço individual da família e os espaços

    coletivos.

    3.2 População beneficiada com as unidades habitacionais do Conjunto

    Residencial Gervásio Maia

    Vários são os motivos que negam o direito à moradia digna, um deles é a

    capacidade de pagar por esta mercadoria, cujo preço varia de acordo com os

    equipamentos coletivos (creche, escola, posto de saúde) e a infraestrutura existente

    nas proximidades da habitação (RODRIGUES, 2003).

    A população de baixo poder aquisitivo resolve seu problema de moradia por

    meio da favelização, da autoconstrução, das ocupações a prédios públicos,

    acampamentos urbanos, entre outros. Observa-se que todas essas ocupações são

    ilegais, apesar de possuírem casas de alvenaria e elementos de infraestrutura

    básica (VALLADARES, 1980).

    Dessa forma, ocorreram ocupações por moradores de baixa renda em vários

    bairros. Essas ocupações irregulares ocorrem sob condições precárias: barracos

    construídos com lonas, madeiras, papelões (Figura 06, p. 49), assim como, não

    dispõem de infraestrutura e de serviços para atender as necessidades básicas da

    população (SOUZA JÚNIOR, 2008). A renda desses moradores provêm do trabalho

    vinculado à construção civil e à atividades autônomas, como ambulantes e

    catadores de materiais para a reciclagem (VALE, 2007).

    A figura 06 mostra o acampamento Jorge Luiz, localizado no Conjunto

    Valentina – JP, organizado por trabalhadores de baixa renda desabrigados. Os

    barracos foram montados aleatoriamente, sem segurança e com materiais

  • 49

    provenientes de resíduos de obras (telhas Brasilit ou cerâmica), lona e palha de

    coqueiro (VALE, 2007).

    Figura 06: Acampamento Jorge Luiz, bairro do Valentina

    (a) (b)

    Fonte: VALE(2007)

    Muitas famílias em João Pessoa sofreram e sofrem os embates para a

    aquisição da casa própria. Uma das formas que essas famílias encontraram para

    resolver a problemática da moradia foi à organização junto aos Movimentos Sociais

    Urbanos. O Conjunto Residencial Gervásio Maia resulta dessa ação, construído por

    meio do projeto “operação mudança de vida”, objetivou promover a transferência de

    famílias que residiam em acampamentos, áreas de risco e ocupações a prédios

    públicos (SOUZA JÚNIOR, 2008).

    Na tabela 03 encontra-se o detalhamento sobre a procedência e a quantidade

    de famílias beneficiadas pelo Programa Carta de Crédito/Resolução 460,

    assentadas no Conjunto Residencial Gervásio Maia no ano de 2007.

    Tabela 03: Procedência das Famílias transferidas para o Conjunto Residencial Gervásio Maia

    Denominação dada ao agrupamento de famílias

    Localidade Total de Famílias

    Cibrazem Ilha do Bispo 17

    Prédio do INSS Centro 99

    Prédio do Matadouro Trincheiras 26

    Prédio da LBA Cruz das Armas 20

    Distrito Mecânico Trincheiras 9

    Titanic Bessa 22

    Fábrica de Gelo Varadouro 8

  • 50

    Asa Branca Roger 12

    Jorge Luís Valentina 208

    Vila Vitória B. dos Novais 30

    Pedro Teixeira B. das Indústrias 35

    Chico Mendes B. das Indústrias 25

    Margarida Maria Alves B. das Indústrias 25

    Monte das Oliveiras Cristo 73

    19 de Maio Alto do Mateus 108

    Defesa Civil Vários bairros 25

    Auxílio Moradia Vários bairros 42

    Condomínio Cristo Vários bairros 48

    Condomínio Vitória Vários bairros 39

    Emlur Vários bairros 53

    Balcão de Direitos 35

    Total 959

    Fonte: Costa (2008)

    A transferência das famílias foi realizada com o auxílio de 60 caminhões,

    contando com o apoio das secretarias municipais: Desenvolvimento Urbano

    (Sedurb), Saúde (SMS), Desenvolvimento Social (Sedes) e Habitação Social

    (Semhab), Superintendência de Transportes e Trânsito (STTrans) e a Empresa

    Municipal de Limpeza Urbana (Emlur), entre outros órgãos (COSTA, 2008).

    3.3 Tipologia e sistema construtivo das unidades habitacionais

    No âmbito da habitação, adotou-se o tipo arquitetônico de casa isolada no

    terreno. Cada lote residencial possui uma área de 112,5 m², cujas unidades

    habitacionais são compostas por cinco cômodos: sala, dois quartos, cozinha,

    banheiro e serviço. Essas residências apresentam uma área privada de 37,22 m²,

    prevendo-se também a ampliação da unidade, que poderá ter três e até quatro

    quartos, totalizando uma área privada de 44,70 m² (Figura 07).

  • 51

    Figura 07: Planta baixa da unidade habitacional do CRGM

    Fonte: Oliveira et al. (2010)

    As unidades habitacionais possuem instalação elétrica, instalação hidráulica e

    esgoto sanitário. Segundo Oliveira et al, (2010), as unidades foram entregues com

    as seguintes características: paredes de alvenaria de blocos cerâmicos vazados,

    (tijolos de 08 furos) rebocadas com argamassa de cimento areia e cal, pintada com

    cal. A cobertura é composta por telha cerâmica sobre madeiramento com inclinação

    de 25% (Figura 08). O piso é do tipo cimento queimado.

    Figura 08: Unidade habitacional com característica original

    Fonte: COSTA (2008)

    O sistema de esquadrias compõe-se por duas portas de madeira maciça de

    acesso social e de serviço (sala e cozinha) e três portas de madeira prensada do

    tipo semi-oca localizadas nos quartos e no banheiro. As janelas dos quartos e das

  • 52

    salas são de madeira maciça com venezianas fixas e as janelas do banheiro e

    cozinha são pivotantes em madeira e em vidro (QUEIROZ, 2008).

    De acordo com Queiroz (2008), as venezianas das janelas da sala e dos

    quartos possuem má qualidade de execução devida, principalmente, ao reduzido

    espaço entre os tabiques, dificultando a passagem do vento e consequentemente a

    ventilação natural dos ambientes internos da edificação. Quanto ao conforto térmico,

    em pesquisas realizad