AVALIAÇÃO DA BIODEGRADAÇÃO ANAERÓBIA DE EFLUENTE DE ...€¦ · Figura 5.12: Variação das...

114
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE TECNOLOGIA E GEOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: TECNOLOGIA AMBIENTAL E RECURSOS HÍDRICOS DISSERTAÇÃO DE MESTRADO AVALIAÇÃO DA BIODEGRADAÇÃO ANAERÓBIA DE EFLUENTE DE ABATEDOURO DE AVES Danielle Patrice A. Lima Orientadora: Prof. Drª. Sávia Gavazza dos Santos Pessôa Co-Orientador: Prof. Drº Mario Takayuki Kato Recife - PE, 2010

Transcript of AVALIAÇÃO DA BIODEGRADAÇÃO ANAERÓBIA DE EFLUENTE DE ...€¦ · Figura 5.12: Variação das...

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

    CENTRO DE TECNOLOGIA E GEOCIÊNCIAS

    PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL

    ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: TECNOLOGIA AMBIENTAL E RECURSOS

    HÍDRICOS

    DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

    AVALIAÇÃO DA BIODEGRADAÇÃO ANAERÓBIA

    DE EFLUENTE DE ABATEDOURO DE AVES

    Danielle Patrice A. Lima

    Orientadora: Prof. Drª. Sávia Gavazza dos Santos Pessôa

    Co-Orientador: Prof. Drº Mario Takayuki Kato

    Recife - PE, 2010

  • Danielle Patrice Alexandre Lima

    AVALIAÇÃO DA BIODEGRADAÇÃO DE EFLUENTE DE

    ABATEDOURO DE AVES

    Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em

    Engenharia Civil da Universidade Federal de Pernambuco,

    como parte dos requisitos para a obtenção do Título de

    Mestre em Engenharia Civil na Área de Concentração

    Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos.

    Orientadora: Prof. Drª Sávia Gavazza dos Santos Pessôa

    Co-orientador: Prof. Drº Mario Takayuki Kato

    Recife, 2010

  • L732a Lima,Danielle Patrice A.

    Avaliação da biodegradação anaeróbia de efluente de abatedouro de

    aves / Danielle Patrice A. Lima. - Recife: O Autor, 2010.

    98folhas; il., tabs. Gráfs.

    Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CTG.

    Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, 2010.

    Orientadora: Prof. Drª.Sávia Gavazza dos Santos Pessôa.

    Inclui Referência.

    1. Engenharia Civil. 2. Saneamento. 3. Tratamento Anaeróbio. 4.

    Óleos e Graxas. 5. Ácidos Orgânicos Voláteis. 6. Abatedouro de Aves. I.

    Título.

    624 CDD (22. ed.) UFPE/BCTG/2010-215

  • A oração

    “Nem sempre nos evitará os obstáculos e as provações

    do caminho, mas sempre nos garantirá a tranqüilidade, levando-nos a reconhecer que em todos os

    acontecimentos da vida, Deus nos faz sempre melhor.”

    Autor desconhecido

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus sem ele nada em minha vida seria possível.

    Aos meus pais Djalma Lopes Lima e Maria dos Prazeres Alexandre Lima por sempre me

    incentivarem e deixarem que eu faça minhas próprias escolhas. Pela presença permanente,

    o colo acolhedor, e os gestos de amor e carinho durante toda a minha vida.

    A toda minha família, especialmente, minhas tias Rosalinda Rodrigues (pela acolhida e

    incentivo) e Rejane Rodrigues pelo incentivo.

    À professora Sávia Gavazza pela orientação, paciência, carinho e exemplo de dedicação

    como pesquisadora/professora e também como ser humano.

    Ao professor Mario Kato pela co-orientação desde o início deste trabalho, pelos

    ensinamentos e exemplo de profissionalismo.

    A professora Maria do Carmo Pimentel pela disponibilidade e contribuição na

    implementação das metodologias de carboidrato, proteína e lipídio.

    A Mauricéa Alimentos S.A. pela permissão para coleta do resíduo utilizado neste trabalho,

    além da disponibilidade de seus funcionários como o srº José Carlos da Silva.

    A todos que fazem, ou já fizeram, parte do Laboratório de Saneamento Ambiental (LSA)

    durante o tempo de realização deste trabalho. Meus sinceros agradecimentos, todos me

    ensinaram algo durante esse período.

    Especialmente:

    A Djalma Ferraz por sempre me mostrar o quanto é bom ter amigos, por estar sempre ao

    meu lado chorando ou sorrindo. Pelo incentivo e ensinamentos.

    À Maria Clara Mendonça pelo companheirismo, ensinamentos, amizade, carinho e

    momentos de descontração.

    A Danilo Mamede pelos longos anos de amizade, sempre reavivados pela providência

    divina. Pelas palavras sábias, pelo incentivo e alegria deixando os dias nublados sempre

    mais bonitos.

    À Elisabeth Pastich pelo carinho, amizade, ensinamentos e pelos momentos de

    descontração juntamente com Danilo Mamede e Maria Clara.

    A Ronaldo Fonseca pela presença constante, sempre pro-ativo, e disposto a ajudar. Além

    da alegria, amizade e carinho sempre dispensados a mim.

  • À Luiza Feitosa pelos ensinamentos, paciência, atenção, por me “socorrer” tantas e tantas

    vezes, amizade e pelo exemplo de profissional dedicada.

    Aos alunos de iniciação científica especialmente Edécio Souza e Rafael Maranhão pela

    disponibilidade nas coletas, pela amizade e alegria. Luiz Galdino pelas análises

    cromatográficas.

    Agradeço a todos que fizeram parte da minha turma de mestrado em especial Robson

    Silva, Dayana Andrade, Simone Paixão, Renata Pinheiro e Cristiane Ribeiro não

    esquecendo Wamberto Junior, doutorando, mas que iniciou a pós-graduação junto

    conosco, que contribuíram para minha formação pessoal e profissional.

    Aos amigos de longa data que me acompanham e nunca me deixam sozinha,

    principalmente nas horas mais difíceis: Gláucia Lima, Rita Mendonça, Carlos Eduardo

    Menezes, Luciane Pinto, Carmen Lúcia Morato, Cintya Nascimento, Andreza Marques,

    Lidiane Braga e Ana Cláudia Silva.

    A UFPE e seus funcionários, especialmente Andrea Negromonte, pela disponibilidade e

    eficiência.

    A CAPES pela concessão da bolsa.

    A FACEPE pela concessão da bolsa de finalização de mestrado.

    Ao Banco Nacional Brasileiro (BNB) que financiou os recursos deste projeto.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 3.1: Principais países exportadores de carne de frango no mundo 09

    Figura 3.2: Principais países produtores de carne de frango no mundo 09

    Figura 3.3: Fluxograma simplificado do processo de abate de aves 12

    Figura 3.4: Algumas etapas do abate de aves 13

    Figura 3.5: Fórmula química estrutural geral de triacilglicerol 14

    Figura 3.6: Fórmula química estrutural geral de aminoácido 15

    Figura 3.7: Fórmula química estrutural geral de monossacarídeo 16

    Figura 3.8: Fórmula química estrutural geral da reação de hidrólise alcalina do

    triacilglicerol 22

    Figura 4.1: Foto ilustrativa das etapas de separação sólido-líquido 27

    Figura 4.2: Flotador por ar dissolvido (FAD) 28

    Figura 4.3: Desenho esquemático representando a geração de efluente da empresa e suas

    etapas de tratamento 28

    Figura 4.4: Pontos de coleta para caracterização da água residuária 29

    Figura 4.5: Amostras coletadas para caracterização da água residuária 30

    Figura 4.6: Parâmetros analisados para caracterização da água residuária 30

    Figura 4.7: Desenho esquemático do aparato utilizado para o teste de atividade

    metanogênica específica (AME) 34

    Figura 4.8: Desenho esquemático de reator utilizado no experimento de biodegradação e

    do sistema de medição de gás 35

    Figura 4.9: Foto ilustrativa do aparato utilizado para teste de hidrólise 37

    Figura 4.10: Foto ilustrativa dos reatores utilizados para a avaliação da biodegradabilidade

    anaeróbia 38

    Figura 5.1: Foto ilustrativa da lagoa anaeróbia com acúmulo de gordura e sólidos 46

    Figura 5.2: Quantificação de proteína, na amostra bruta (a) e filtrada (b), ao longo do

    sistema de tratamento utilizado pela empresa. 50

    Figura 5.3: Quantificação de carboidrato na amostra bruta (a) e filtrada (b), ao longo do

    sistema de tratamento utilizado pela empresa. 51

    Figura 5.4: Quantificação de lipídios nas amostras coletadas ao longo do sistema de

    tratamento utilizado pela empresa. 52

  • Figura 5.5: Variação de DQO no reator 1 tratando água residuária bruta durante o tempo

    experimental. DQO afluente bruta (▲), efluente bruto (□) e efluente filtrado (♦). 56

    Figura 5.6: Variação das concentrações afluente (♦) e efluente (■) de ácidos orgânicos

    totais em R1 tratando água residuária bruta 57

    Figura 5.7: Variação das concentrações afluente (♦) e efluente (■) de ácidos orgânicos

    totais em R1 tratando água residuária bruta durante o tempo experimental. 58

    Figura 5.8: Concentrações afluentes (a) e efluentes (b) de ácidos orgânicos voláteis no

    reator R1, durante o período experimental.Onde ác. acético (♦), ác. propiônico (■),

    isobutírico (▲), butírico (×), isovalérico (×) e valérico (●) 60

    Figura 5.9: Variação das concentrações afluente (♦) e efluente (■) de alcalinidade

    intermediária em R1 tratando água residuária bruta durante o tempo experimental

    61

    Figura 5.10: Foto ilustrativa do volume ocupado pelo lodo+escuma no reator R1 63

    Figura 5.11: Variação das concentrações de DQO em R2 tratando água residuária após

    sistema FAD. DQO afluente bruta (▲), efluente bruto (□) e efluente filtrado (♦) 65

    Figura 5.12: Variação das concentrações afluente (♦) e efluente (■) de ácidos orgânicos

    totais em R2 tratando água residuária após sistema FAD 66

    Figura 5.13: Variação das concentrações afluente (♦) e efluente (■) de alcalinidade a

    bicarbonato em R2 tratando água residuária após sistema FAD 66

    Figura 5.14: Concentrações afluentes (a) e efluentes (b) de ácidos orgânicos voláteis no

    reator R2 durante o período experimental. Onde ác. acético (♦), ác. propiônico (■),

    isobutírico (▲), butírico (×), isovalérico (×) e valérico (●) 68

    Figura 5.15: Variação das concentrações afluente (♦) e efluente (■) de alcalinidade

    intermediária em R2 tratando água residuária após FAD 69

    Figura 5.16: Foto ilustrativa do reator R2, conteno água residuária após sistema FAD 70

    Figura 5.17: Variação das concentrações de DQO em R3 tratando água residuária após

    hidrólise com NaOH (0,1%) DQO afluente bruta com HCl (×) afluente bruta sem HCl(▲),

    efluente bruto (□) e efluente filtrado (♦) 71

    Figura 5.18: Variação das concentrações afluente (♦) e efluente (■) de ácidos orgânicos

    totais em R3 tratando água residuária após hidrólise com NaOH (0,1%) durante o tempo

    experimental 72

  • Figura 5.19: Concentrações afluentes (a) e efluentes (b) de ácidos orgânicos voláteis no

    reator R3, durante o período experimental. Onde ác. acético (♦), ác. propiônico (■),

    isobutírico (▲), butírico (×), isovalérico (×) e valérico (●) 74

    Figura 5.20: Variação das concentrações afluente (♦) e efluente (■) de alcalinidade a

    bicarbonato em R3 tratando água residuária após hidrólise com NaOH (0,1%) 75

    Figura 5.21: Variação das concentrações afluente (♦) e efluente (■) de alcalinidade

    intermediária em R3 tratando água residuária após hidrólise com NaOH 0,1% (m/v) 76

    Figura 5.22: Foto ilustrativa do reator R3, contendo água residuária após hidrólise com

    NaOH (0,1%) 77

    Figura 5.23: Produção de biogás 78

    Figura 5.24 Variação de óleos e graxas nos reatores R1, R2 e R3 (♦) afluente R1, (■)

    afluente R2, (▲) afluente R3, (×) efluente R1, (×) efluente R2 e (○) efluente R3 81

    Figura 5.25 Variação de lipídeos nos reatores R1, R2 e R3 (♦) afluente R1, (■) afluente R2,

    (▲) afluente R3, (×) efluente R1, (×) efluente R2 e (●) efluente R3 82

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 4.1: Parâmetros analisados na biodegradação anaeróbia 39

    Tabela 5.1:Valores médios, mínimos e máximos dos parâmetros analisados 42

    Tabela 5.2:Valores médios, mínimos e máximos dos parâmetros analisados para

    caracterização 44

    Tabela 5.3: Caracterização de água residuárias de abatedouros de aves 48

    Tabela 5.4:Valores médios obtidos após o teste de hidrólise com NaOH 53

    Tabela 5.5: Concentrações médias de ácidos orgânicos volatéis obtidas por cromatografia

    gasosa no Reator R1 59

    Tabela 5.6: Concentrações médias de ácidos orgânicos volatéis obtidas por cromatografia

    gasosa no Reator R2 67

    Tabela 5.7: Concentrações médias de ácidos orgânicos volatéis obtidas por cromatografia

    gasosa no Reator R3 73

    Tabela 5.8: Variação de sólidos antes do início do experimento e após a finalização 79

    Tabela 5.9: Variação média de proteína e carboidrato durante o tratamento anaeróbio 82

    Tabela 5.10: Valores médios obtidos para os principais parâmetros nos R1, R2 e R3 83

  • LISTA DE ABREVIATURAS

    AME: Atividade Metanogênica Específica Máxima

    AOV: Ácidos orgânicos voláteis

    CONAMA: Conselho Nacional de Meio Ambiente

    DQO: Demanda química de oxigênio

    DBO: Demanda bioquímica de oxigênio

    ETE: Estação de tratamento de efluentes

    IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente

    LSA: Laboratório de Saneamento Ambiental da UFPE

    N-NH4: Nitrogênio Amonical

    N-NO2 :Nitrito

    N-NO3: Nitrato

    N-NTK: Nitrogênio Total Kjeldahl

    OD - Concentração de Oxigênio Dissolvido

    pH: Potencial hidrogeniônico

    SSF: Sólidos suspensos fixos

    SST: Sólidos suspensos totais

    SSV: Sólidos suspensos voláteis

    ST: Sólidos totais

    STF: Sólidos totais fixos

    STV: Sólidos totais voláteis

    TOG: Teor de óleos e graxas

    UASB: Upflow Anaerobic Sludge Blanket (Reator anaeróbio de fluxo ascendente e

    manta de lodo)

    UFPE: Universidade Federal de Pernambuco

  • RESUMO

    LIMA, D. P. A. (2010) Avaliação da Biodegradação Anaeróbia de Efluente de Abatedouro

    de Aves. – Dissertação (Mestrado) – Centro de Tecnologia e Geociências, Universidade

    Federal de Pernambuco, Recife, 2010

    O presente trabalho buscou avaliar a aplicabilidade da tecnologia anaeróbia para

    tratamento de efluente de abatedouro de aves, onde foi testado de forma comparativa, o uso

    da água residuária bruta, pré-tratada por sistema de flotação por ar dissolvido (FAD) e pré-

    tratada com hidrólise alcalina. Na primeira etapa do trabalho foi realizada a caracterização

    da água residuária do abatedouro de aves. O sistema de tratamento adotado pela empresa é

    composto de um FAD seguido de três lagoas sendo a 1ª anaeróbia e a 2ª e 3ª facultativas.

    Esse sistema apresentou, durante a caracterização, eficiência de remoção de DQO bruta,

    DBO bruta e óleos e graxas de 92%, 99% e 98%, respectivamente. Em escala de

    laboratório foram operados simultaneamente três reatores anaeróbios (R1, R2 e R3). Em

    R1 foi utilizado água residuária bruta, em R2 água residuária pré-tratada pelo sistema FAD

    da empresa e em R3 água residuária bruta pré-tratada por hidrólise alcalina com NaOH

    0,1% (m/v) no laboratório. Os reatores sofreram choque de carga orgânica no 19º dia de

    operação, por este motivo apresentaram diferentes condições antes e depois do choque de

    carga. A eficiência média de remoção de DQO em R1, R2 e R3 foram 71±4%, 68±4% e

    75±4%, respectivamente. No entanto, apesar do fato de que possuíam eficiências de

    remoção aproximadas o reator R1 apresentou colmatação de gordura na parte superior e

    obstrução progressiva do leito reacional tendo sua operação finalizada por este fim. Em R2

    foi observado lavagem de biomassa o que pode ter acarretado na eficiência média de 68%.

    Em R3 foi observado maior estabilidade em relação ao choque de carga, com manutenção

    de DQO efluente filtrada praticamente estável. Contudo R3 também apresentou flotação do

    lodo e colmatação de gordura, tendo sua alimentação impossibilitada, a operação também

    foi finalizada. Após o choque de carga foi verificado o acúmulo de ácidos orgânicos

    voláteis nos três reatores. O reator R1 não mostrou estabilidade em reverter esta situação.

    Em R2 apesar do acúmulo o sistema mostrou que talvez a acumulação de ácidos pudesse

    ser revertida, necessitando possivelmente de período operacional mais longo. O reator R3

    apresentou, apesar do acúmulo, remoção de ácidos principalmente o ácido acético e o

    ácido propiônico garantido maior estabilidade ao reator. Sendo assim o reator R3

    demonstrou bom desempenho na remoção de matéria orgânica e ácidos orgânicos voláteis,

    tendo maior estabilidade durante o choque de carga orgânica. Entretanto, um período mais

    longo seria necessário para avaliar estratégias a fim de impedir a flotação do lodo e

    colmatação de gordura no reator.

    Palavras-chave: Tratamento anaeróbio, abatedouro de aves, óleos e graxas, acúmulo de ácidos

    orgânicos voláteis.

  • ABSTRACT

    LIMA, D. P. A. (2010) Evaluation of Anaerobic Biodegradation of Effluents of Poultry

    Slaughterhouse. - Thesis (Masters) – Centro de Tecnologia e Geociências, Universidade

    Federal de Pernambuco, Recife, 2010.

    In this study it was evaluated the applicability of the anaerobic technology for wastewater

    treatment of poultry slaughterhouse. It was comparatively evaluated the reactor

    performance by the use of the raw wastewater, pretreated by flotation and by alkaline

    hydrolysis. In the first stage of the research it was performed the characterization of the

    wastewater from poultry slaughterhouse. The treatment system adopted by the company

    studied was composed by dissolved air flotation, followed by three lagoons. The system

    reported during the characterization COD, BOD and oil and grease removal efficiencies of

    92%, 99% and 98%, respectively. In lab scale were operated simultaneously three

    anaerobic reactors (R1, R2 and R3). R1 was fed with raw wastewater, R2 with pretreated

    wastewater by FAD system of the company and R3 with wastewater pretreated by alkaline

    hydrolysis with NaOH 0.1% (w/v) in laboratory. The reactors were operated for 30 days

    and suffered organic upload on the 19th day of operation. The reactor presented different

    conditions before and after the shock load. The average efficiency of COD removal in

    were 71 ± 4%, 68 ± 4% and 75 ± 4%, respectively for R1, R2 and R3. However, despite

    the fact that they had removal efficiencies approached the R1 reactor showed fat clogging

    on top and progressive obstruction of the reaction bed having finished its operation for this

    reason. Washing biomass was observed in R2, which could have caused the average

    efficiency of 68%. R3 was observed in greater stability over the shock load, with

    maintenance of filtered effluent COD stable. However, R3 also showed sludge flotation

    and fat clogging. After the shock load was observed accumulation of volatile organic acids

    in the three reactors. The R1 reactor showed no stability in reversing this situation. R2,

    despite the buildup, the system showed that perhaps the accumulation of acids could be

    reversed, possibly requiring a longer operational period. The reactor R3 showed, despite

    the accumulation, removal of acids mainly acetic acid and propionic acid to the reactor

    ensured greater stability. So the R3 reactor showed good performance in removing organic

    matter and volatile organic acids, and increased stability during the organic shock load.

    However, a longer period would be needed to evaluate strategies to prevent flotation of the

    sludge and the reactor fat clogging.

    KEYWORDS: Anaerobic treatment; poultry slaughterhouse; oils and greases;

    accumulation of volatile organic acids.

  • SUMÁRIO

    Pag.

    1- INTRODUÇÃO 01

    2- OBJETIVOS 04

    2.1- Objetivo geral 05

    2.2- Objetivos específicos 05

    3- REVISÃO DE LITERATURA 06

    3.1- Breve histórico da avicultura 07

    3.1.1- Avicultura industrial brasileira 07

    3.1.2- A diversidade de raças 08

    3.1.3- O panorama atual da avicultura 08

    3.1.4- A avicultura em Pernambuco 10

    3.2- Abatedouro de aves 11

    3.2.1- Descrição do processo e operações industriais 11

    3.2.2- Tratamento de águas residuárias de batedouro de aves 13

    3.2.2.1- Lipídios 14

    3.2.2.2- Proteínas 15

    3.2.2.3- Carboidratos 16

    3.2.3- Tratamento físico-químico 16

    3.2.4- Tratamento biológico aeróbio 17

    3.2.5- Tratamento biológico anaeróbio 18

    3.2.6- Tratamento enzimático 20

    3.2.7- Tratamento hidrolítico 21

    3.3- Legislação ambiental 23

    4- MATERIAIS E MÉTODOS 25

    4.1- Abatedouro de estudo 26

    4.2- Descrição do sistema de tratamento existente 26

    4.3- Caracterização da água residuária 29

    4.4- Implantação de metodologias no LSA 31

    4.4.1- Determinação de carboidrato 31

    4.4.2- Determinação de proteína 32

    4.4.3- Determinação de lipídio 32

    4.5- Atividade Metanogênica Específica (AME) 33

    4.6- Biodegradabilidade anaeróbia 34

    4.6.1- Configuração do reator 34

    4.6.2- Inóculo 36

    4.6.3- Água residuária 36

    4.7- Hidrólise alcalina 36

    4.8- Procedimento experimental 38

    4.9- Freqüência dos parâmetros analisados na biodegradação anaeróbia 39

    4.10- Quantificação de ácidos orgânicos voláteis por cromatografia 39

    5- RESULTADOS E DISCUSSÃO 41

    5.1- Caracterização da água residuária 42

    5.2- Teste de hidrólise 53

    5.3- Tratamento anaeróbio 55

  • 5.3.1- Tratamento da água residuária bruta 55

    5.3.2- Tratamento da água residuária após sistema FAD 64

    5.3.3- Tratamento da água residuária após hidrólise alcalina 70

    5.4- Avaliação comparativa entre R1, R2 e R3 77

    6- CONCLUSÕES 85

    7- SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS 88

    REFERÊNCIAS 90

  • 1

    1

    INTRODUÇÃO

  • 2

    Águas residuárias de abatedouros são ricas em nutrientes e moléculas orgânicas

    biodegradáveis e normalmente contêm altos níveis de gordura e proteína que apresentam,

    por sua vez, um baixo coeficiente de biodegradabilidade. Se não tratados geram águas

    residuárias com altos níveis de Demanda Química e Bioquímica de Oxigênio, DQO e

    DBO, respectivamente.

    O aumento do consumo da carne de frango em todo o mundo ocasionou,

    conseqüentemente, o aumento da produção desta carne nos países em desenvolvimento,

    pois nestes países o custo de produção é mais baixo, devido à mão de obra e água potável

    disponíveis. Segundo dados do Ministério da Agricultura, a previsão da produção de

    frangos de corte no Brasil para 2010 é de 10 milhões de toneladas.

    Atualmente, o Brasil possui o segundo maior bando de aves do mundo e a carne de

    frango é a mais consumida do país (EMBRAPA, 2009).

    Concomitante ao crescimento econômico gerado pela avicultura cresceu também a

    preocupação com o tratamento e destino final dos dejetos gerados nesta atividade. Os

    produtores precisam se adequar às legislações vigentes no país e em cada estado

    especificamente.

    Segundo de Sena et al. (2009) o tratamento de águas residuárias oriundas de

    indústria de processamento de carne tem sido uma das grandes preocupações do setor agro-

    industrial, principalmente, devido às restrições que os acordos internacionais têm imposto

    com relação às questões ambientais.

    Basicamente, os sistemas de tratamentos biológicos de efluentes podem ser

    divididos em aeróbio e anaeróbio. Na busca por alternativas que representem o melhor

    custo/benefício, a associação de outras tecnologias ao tratamento anaeróbio tem merecido

    destaque.

    O uso de tecnologias anaeróbias vem crescendo em todo o mundo, mas

    principalmente em países com clima tropical, como o Brasil, onde as condições ambientais

    são favoráveis a esse tipo de processo.

    Caixeta, Cammarota e Xavier (2002), destacam o uso de sistemas anaeróbios

    utilizados para o tratamento de efluentes de carne processada, em virtude da sua alta

    eficiência na remoção de matéria orgânica com custo significativamente baixo quando

    comparado ao processo aeróbio. Apesar disso, sua aplicação ainda é pouco significativa,

    devido a problemas como a acumulação de sólidos suspensos e flotação de gorduras dentro

    do reator que causam a diminuição da atividade metanogênica. Desta forma, o sucesso

  • 3

    desta tecnologia depende da eficiência do tratamento primário em reduzir gorduras e

    sólidos suspensos.

    Entre os problemas causados pelo excesso de óleos e graxas, podem ser destacados:

    o crescimento de microrganismos filamentosos, a flotação de lodo com atividade pobre e a

    geração de odores desagradáveis (VALLADÃO, FREIRE e CAMMAROTA, 2007).

    Diante do exposto, o presente trabalho avaliou a aplicabilidade da tecnologia

    anaeróbia para tratamento de efluente de abatedouro de aves, onde foram testados de forma

    comparativa, o uso da água residuária bruta, pré-tratada por sistema de flotação por ar

    dissolvido (FAD) e pré-tratada com hidrólise alcalina.

  • 4

    2

    OBJETIVOS

    Objetivo Geral Objetivos Específicos

  • 5

    2.1 Objetivo Geral

    Avaliar de forma comparativa a biodegradação anaeróbia de efluente de abatedouro

    de aves na forma bruta, pré-tratada por flotação e pré-tratada por hidrólise alcalina.

    2.2 Objetivos Específicos

    Conhecer as características do efluente de abatedouro de aves utilizado no presente

    estudo;

    Avaliar a eficiência do sistema de tratamento anaeróbio quando aplicado ao

    efluente de abatedouro de aves, bruto, pré-tratado por FAD e pré-tratado por hidrólise

    alcalina;

  • 6

    3

    REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

    Breve histórico da avicultura Abatedouro de aves Legislação ambiental

  • 7

    3.1 Breve histórico da avicultura

    A avicultura tem sua origem há 150 milhões de anos, quando populações de regiões

    da Índia e China e, provavelmente de outras regiões da Ásia, iniciaram a domesticação do

    Gallus Gallus que habitava as florestas daquele continente. Desde os vales da Índia

    cruzaram a Mesopotâmia até chegarem à Grécia com as tribos nômades. Da Europa, as

    galinhas chegaram ao Brasil trazidas pelos navios portugueses, principalmente, como

    recurso alimentar para a travessia. Ainda na época colonial, foram introduzidas no Brasil,

    as raças orientais e asiáticas que os portugueses trouxeram de suas viagens às Índias e ao

    Oriente (ARASHIRO, 1989).

    3.1.1 A avicultura industrial brasileira

    O desenvolvimento da avicultura familiar ocorreu a partir do final da década de

    1950, nos estados da Região Sudeste, principalmente em São Paulo. Até esse momento era

    comercializada no Brasil a chamada galinha caipira. Na década de 1970, período em que

    houve profunda reorganização do complexo de carnes no Brasil, a atividade passou a ser

    liderada pelos estados de Santa Catarina e Mato Grosso, devido a proximidade da região

    sudeste e como consequência do custo mais baixo dos grãos de milho e soja, principais

    insumos para a produção de frangos vivos. Nesse período ocorreu a transição da avicultura

    familiar para industrial (LANA, 2000).

    Desde o inicio da produção de frangos de corte no Brasil, a cadeia produtiva

    modernizou-se, devido à necessidade de redução de custos e aumento de produtividade,

    tentando com isso não perder competitividade em nível mundial. Como conseqüência, tem

    sido uma das mais organizadas do mundo, destacando-se das demais criações pelos

    resultados alcançados não só em produtividade e volume de abate, como também no

    desempenho econômico, onde têm contribuído de forma significativa para a economia do

    Brasil (SARCINELLI,VENTURINI e SILVA, 2007).

    http://imigrantesbrasil.blogspot.com/2008/07/14-mil-imigrantes-em-portugal-recebem.htmlhttp://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%A9cada_de_1950http://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%A9cada_de_1950http://pt.wikipedia.org/wiki/Regi%C3%A3o_Sudestehttp://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Paulohttp://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%A9cada_de_1970http://pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Catarinahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Mato_Grosso

  • 8

    3.1.2 A diversidade de raças

    Existem mundialmente mais de 300 raças de espécies de galinhas domésticas

    (Gallus domesticus). Podem distinguir-se três categorias principais de raças de galinhas:

    raças puras para fins comerciais, raças híbridas que resultam de cruzamentos e raças locais

    ou nacionais. De maneira empírica pode-se dividir as raças para fins comerciais de acordo

    com o seu principal objetivo de produção (SARCINELLI;VENTURINI e SILVA, 2007):

    Postura de ovos, principalmente as raças de galinhas leves, que põem ovos ou

    poedeiras;

    Produção de carne, principalmente pelas raças mais pesadas ou de frangos de corte;

    As galinhas que são criadas tanto para porem ovos como pela produção de carne e

    que são as chamadas raças de dupla aptidão.

    3.1.3 O panorama atual da avicultura

    Segundo dados divulgados pela Associação Brasileira dos Produtores e

    Exportadores de Frango (ABEF), o Brasil é o maior exportador e o terceiro maior produtor

    mundial de carne de frango. Ainda segundo a ABEF, em 2009 o Brasil exportou 3.800

    toneladas (Figura 3.1) e produziu 11.360 toneladas de carne de frango, ficando atrás apenas

    dos EUA e China, respectivamente (Figura 3.2).

  • 9

    Figura 3.1 - Principais países exportadores de carne de frango no mundo (adaptado de

    ABEF, 2009).

    Figura 3.2 - Principais países produtores de carne de frango no mundo (adaptado de

    ABEF, 2009).

  • 10

    3.1.4 A avicultura em Pernambuco

    A avicultura no estado de Pernambuco tem seu berço na cidade de São Bento do

    Una, onde um pequeno grupo de produtores começou suas atividades no final da década de

    60. Esta atividade hoje é o segmento mais importante do agronegócio pernambucano. Em

    números de famílias empregadas já superou a cana de açúcar e exerce uma função social

    de relevância por viabilizar as propriedades rurais no semi-árido, já que gera uma renda

    extra ao produtor rural sem impedir as atividades habituais dos mesmos (VITAL,

    DROUVOT e SAMPAIO, 2008).

    Hoje esta atividade é responsável por 31% dos empregos do setor, 2,53% do PIB

    estadual e 28% do PIB do agronegócio Pernambucano (AVISITE, 2010).

    A produção estadual atende a demanda interna e faz do estado um exportador de

    frangos para os estados vizinhos, sendo hoje muito pressionado pelo aumento da produção

    de frangos de corte nos estados da Paraíba e Alagoas. Quanto à forma de organização da

    produção, ela encontra-se ainda em estágio incipiente, ou seja, as transações ocorrem, em

    sua maioria, em mercado aberto, com elevado risco econômico para o sistema como um

    todo, o que compromete a sua eficiência. Apresenta-se como um grande desafio às

    agroindústrias instaladas em Pernambuco, implementar estratégias na busca da

    competitividade local. Por outro lado, este estado incipiente da forma organizacional,

    representa uma “proteção” para as empresas de porte médio a pequeno, já que a

    informalidade do mercado assusta os grandes grupos do segmento (VITAL, DROUVOT e

    SAMPAIO, 2008).

    O desenvolvimento da avicultura em Pernambuco, como no restante do Nordeste,

    está condicionado, sobretudo, à questão da oferta de grãos para formulação das rações. A

    limitação da produção local de grãos provoca a necessidade de transportá-los de longas

    distâncias a custos que oneram bastante a atividade (AVIPE, 2010).

  • 11

    3.2 Abatedouro de aves

    3.2.1 Descrição do processo e operações industriais

    As aves chegam ao abatedouro em engradados plásticos nos caminhões vindos da

    granja. Os veículos são posicionados em um galpão coberto e com grandes ventiladores

    laterais, com o intuito de não estressar a ave no momento pré-abate. São depois conduzidas

    para a área de recepção onde são dependuradas de ponta-cabeça em ganchos metálicos,

    seguindo então para a área de processamento.

    Assim que adentram a área produtiva as aves são atordoadas com um choque

    elétrico na ordem de 70 volts. Logo a seguir são mortas por meio de um corte na carótida,

    ocorre então a sangria. Posteriormente as aves são depenadas e lavadas com água com

    temperatura em torno de 60ºC (escaldagem) e logo em seguida são cortados os pés. Estes

    são comercializados sendo apreciados principalmente por chineses. As aves são então

    evisceradas e cortadas as cabeças. Na evisceração ocorre o processamento e pré-

    resfriamento dos miúdos comestíveis (coração, moela e fígado), além de inspeção sanitária.

    Ocorre uma nova lavagem e gotejamento da água. As aves são então novamente

    inspecionadas e em seguida destinadas ao fracionamento da carcaça, caso apresentem

    alguma lesão por exemplo, ou são encaminhadas inteiras para as etapas posteriores de

    pesagem, embalagem e congelamento ou o resfriamento.

    O fluxograma descrito a seguir (Figura 3.3) apresenta um esquema simplificado do

    abate de aves.

  • 12

    A sangria, juntamente com a evisceração são as etapas de maior contribuição para

    elevação da carga orgânica da água residuária de abatedouro de aves, devido à perda de

    sangue nessas etapas. A depenagem, a escaldagem, e a lavagem das aves são as etapas com

    maior gasto de água (média de 247 m3/dia), juntamente com a lavagem de equipamentos e

    utensílios (SILVA, 2007). A Figura 3.4 apresenta algumas das etapas do abate de aves.

    Figura 3.3 – Fluxograma simplificado do processo de abate de aves.

  • 13

    3.2.2 Tratamento de águas residuárias de abatedouro de aves

    As águas residuárias de abatedouro de aves não diferem da maior parte das águas

    residuárias industriais no que diz respeito à grande variação de vazão e as mudanças de

    suas características ao longo do dia. São ricas em matéria orgânica e óleos e graxas além

    de apresentarem elevadas concentrações de sólidos suspensos e proteínas (BATSTONE et

    al.,1997; MASSÉ e MASSE, 2000; MASSÉ et al.,2001).

    a) b)

    c) d)

    Figura 3.4 – Algumas etapas do abate de aves. a) sangria; b) depenagem; c) rápida lavagem;

    d) escaldagem.

  • 14

    As águas residuárias industriais são despejos líquidos originários de diversas

    atividades desenvolvidas na indústria, contendo, por exemplo, detergentes, desinfetantes,

    lubrificantes, gorduras, essências, condimentos diversos e etc, diluídos nas águas de

    lavagem de equipamentos, tubulações, pisos e demais instalações da indústria.

    O sistema de tratamento adequado para águas residuárias provenientes de

    abatedouro de aves deve contemplar a redução de cargas orgânicas e lipídicas.

    3.2.2.1 Lipídios

    Os lipídios são compostos orgânicos de origem biológica, a maioria é insolúvel em

    água e formada basicamente por ácidos graxos e alcoóis. Estes se encontram, geralmente,

    na forma de ésteres. Podem ser divididos em lipídios simples e complexos. Os lipídios

    simples são aqueles que sofrem quebra pela molécula de água (hidrólise) e são formadores

    das matérias graxas, gorduras, óleos e ceras. Os óleos e gorduras também são chamados de

    triacilgliceróis. Os óleos são insaturados (cadeias carbônicas com duplas ligações), têm

    baixo ponto de fusão e por isso são líquidos a temperatura ambiente. As gorduras por sua

    vez são saturadas, sólidas a temperatura ambiente e possuem elevado ponto de fusão

    (SOLOMONS, 2009; STRYER, 2008). A Figura 3.5 apresenta a fórmula química

    estrutural geral de um triacilglicerol onde os radicais R1, R2 e R3 são, em sua maioria,

    cadeias carbônicas longas.

    Figura 3.5 – Fórmula química estrutural geral de triacilglicerol.

    Baseado em Solomons, 2009.

  • 15

    Os lipídios encontrados em águas residuárias são substratos interessantes para a

    produção de biogás. São inicialmente hidrolisados para glicerol e ácidos orgânicos

    voláteis, depois são convertidos para hidrogênio e acetato por bactérias acetogênicas

    sintróficas e finalmente para metano por archaea metanogênica (PEREIRA et al., 2004;

    PALATSI et al., 2010).

    3.2.2.2 Proteínas

    As proteínas são moléculas orgânicas que contêm carbono, hidrogênio, oxigênio e

    nitrogênio. Algumas também contêm enxofre. São essenciais em todos os aspectos da

    estrutura e função celulares e perfazem 50% ou mais do peso seco celular. Algumas são

    enzimas que atuam como catalisadores em reações bioquímicas, outras atuam no transporte

    de nutrientes para dentro e fora da célula, outras ainda desempenham um papel no

    movimento de microrganismos e são partes integrais das estruturas das células, como as

    paredes, as membranas e os componentes do citoplasma dentre outras funções

    (SOLOMONS, 2009; STRYER, 2008).

    Os aminoácidos são os blocos construtivos de proteínas, eles contêm no mínimo um

    grupo carboxila (-COOH) e um grupo amino (-NH2) unidos ao mesmo átomo de carbono

    (Figura 3.6).

    COOH

    H2N C H

    R

    Figura 3.6 - Fórmula química estrutural geral de aminoácido.

    Baseado em Solomons, 2009.

  • 16

    3.2.2.3 Carboidratos

    Os carboidratos são um grupo grande e diverso de compostos orgânicos, que inclui

    os açúcares e os amidos. Realizam uma série de funções essenciais nos seres vivos como,

    por exemplo, auxilia na formação da parede celular bacteriana, na síntese de aminoácidos e

    se constitui, principalmente, numa fonte de energia de uso imediato para a célula porque

    são compostos facilmente degradados pelos microrganismos, pois possuem carbono,

    hidrogênio e oxigênio (SOLOMONS, 2009; STRYER, 2008).

    Embora existam exceções, a fórmula geral dos carboidratos é (CH2O) n, onde n

    indica que existem três ou mais unidades CH2O. O principal grupo dos carboidratos é o

    açúcar simples denominado de monossacarídeo. A Figura 3.7 apresenta a fórmula química

    geral de um monossacarídeo.

    R

    H C OH

    R

    3.2.3 Tratamento físico-químico

    O uso de sistemas de tratamento físico-químicos é amplamente adotado para

    resíduos ricos em óleos e graxas, como tratamento primário, visto que reduzem sua carga

    orgânica. Os sistemas físico-químicos mais utilizados são coagulação, floculação e

    filtração, bem como a flotação por ar dissolvido (FAD), amplamente utilizado para

    resíduos ricos em lipídios. Em relação ao sistema FAD pode ser dito que o mesmo alcança

    eficiências de remoção em torno de 60%, mas necessita de um controle operacional do

    Figura 3.7 – Fórmula química estrutural geral de monossacarídeo.

    Baseado em Solomons, 2009.

  • 17

    processo, uma vez que a solubilidade do ar é reduzida em altas temperaturas (WILLEY,

    2001).

    A eficiência dos flotadores pode ser aumentada com a adição de agentes

    coagulantes como o sulfato de alumínio e o cloreto férrico.

    O objetivo da aplicação do sistema de coagulação-flotação é a remoção de matéria

    orgânica na água residuária, mas nutrientes como o fósforo também podem ser removidos

    no processo. Isso pode ser benéfico para o sistema desde que o excesso de fósforo possa

    causar a eutrofização das águas superficiais (AGUILAR, 2002).

    Contudo, o uso de produtos químicos no processo de coagulação aumenta a

    quantidade de lodo gerado (KÁRPÁTI et al., 1995). Isto deve ser levado em consideração

    para escolha do tratamento subseqüente (AGUILAR, 2002) e para a avaliação do destino

    do resíduo sólido gerado.

    A melhoria do desempenho do sistema FAD não apenas evita a instabilidade do

    próprio sistema, mas também assegura robustez e estabilidade aos reatores anaeróbios.

    Desta forma, evita a lavagem do lodo, a inibição da atividade biológica e a formação de

    escuma na parte superior dos reatores (de NARDI, FUZI e DEL NERY, 2008).

    De Sena et al. (2009) avaliaram o tratamento de água residuária proveniente de

    abatedouro de aves e suínos utilizando o sistema FAD seguido de processos de oxidação

    avançada (photo-peroxidação e photo-fenton) em escala de laboratório. O sistema FAD foi

    utilizado com sulfato férrico como coagulante. Os autores obtiveram para o sistema FAD

    eficiência de remoção de 75% e 80% para sólidos totais (ST) e demanda química de

    oxigênio (DQO). Entretanto uma eficiência de DQO (97%) ainda maior foi obtida com o

    uso de reações photo-fenton. Os autores concluíram que o uso de sistema DAF com

    processos de oxidação avançada são eficientes para a diminuição dos parâmetros orgânicos

    poluentes encontrados em águas residuárias de abatedouros.

    3.2.4 Tratamento biológico aeróbio

    Os sistemas aeróbios possuem maior facilidade para degradar óleos e graxas pela

    presença de oxigênio, utilizado como aceptor final de elétrons, obtendo maior rendimento

  • 18

    energético para os microrganismos. Entretanto os fenômenos de adsorção e conseqüente

    flotação de biomassa são comumente observados (CHAO e YANG, 1981).

    Vários tipos de sistemas aeróbios têm sido utilizados no tratamento de águas

    residuárias ricas em gorduras, como por exemplo, lagoas aeradas e lodos ativados (KATO,

    1982; TAWFIK et al., 2008). Entretanto, para este tipo de água residuária a aplicação de

    reatores biológicos aeróbios como principal unidade de tratamento é limitada devido ao

    gasto energético e a elevada geração de lodo (DEL NERY et al., 2007).

    Na região Nordeste o uso de lagoas de estabilização para tratamento de águas

    residuárias proveniente de abatedouro de aves é amplamente difundido. Devido à

    incidência solar praticamente durante todo o ano, à disponibilidade de área (principalmente

    no interior do Estado) e ao baixo custo de operação e manutenção. Em se tratando de

    lagoas facultativas as principais vantagens dizem respeito à enorme simplicidade e à

    confiabilidade do sistema, desde que sejam cumpridos os requisitos necessários para que

    os processos naturais de estabilização da matéria orgânica aconteçam.

    3.2.5 Tratamento biológico anaeróbio

    Lipídios, abundantes nas águas residuárias de abatedouros, são potencialmente

    atrativos sob o ponto de vista energético para produção de biogás nos sistemas anaeróbios,

    entretanto na prática pré-tratamentos físico-químicos são empregados antes do tratamento

    anaeróbio (PEREIRA et al., 2004).

    Os reatores UASB têm sido bastante utilizados para o tratamento anaeróbio de

    águas residuárias ricas em óleos e graxas. Contudo vários trabalhos reportam o fracasso do

    sistema durante o tratamento dessas águas residuárias. As justificativas mais comuns são a

    flotação da biomassa e os efeitos inibitórios dos ácidos graxos sobre a metanogênese

    (CHIPASA e MEDRZYCKA, 2006).

    Jeganathan et al. (2006) também observaram a flotação da biomassa em seus

    reatores UASB tratando água residuária de industria alimentícia. Segundo os autores o

    acúmulo de material lipídico e não a carga de óleos e graxas aplicada foi o fator

    responsável pela falência do processo. A adsorção da gordura ao redor do floco de

  • 19

    biomassa provocou a flotação do lodo. Com a perda de biomassa houve um aumento na

    carga lipídica específica aplicada, intensificando o processo de flotação do lodo.

    Os dados de remoção de óleos e graxas devem sempre ser analisados com muita

    cautela, devido à adsorção de gordura no leito reacional, uma vez que pesquisas realizadas

    com reatores biológicos (HWU et al., 1997; SAM-SOON et al., 1991) indicaram remoção

    de óleos e graxas de até 70% apresentando, no entanto, uma produção de metano bem

    abaixo do valor esperado.

    Ruiz et al.(1997) estudaram o tratamento de água residuária de abatedouro de xxx

    em reator UASB seguido de um filtro anaeróbio. Foi obtida uma eficiência de remoção de

    71% em 15 dias. A matéria orgânica transformada em metano foi de 58%. Contudo a

    acidificação foi maior do que a metanização, que possivelmente, segundo os autores, seria

    devido à toxidade da água residuária na metanogênese. Proveniente provavelmente dos

    altos níveis de amônia originários da hidrólise de proteínas ou porque as bactérias

    metanogênicas não estavam adaptadas ao substrato.

    Um dos problemas mais reportados na literatura diz respeito à adsorção de ácidos

    graxos que induz a desintegração, flotação e lavagem do lodo (AMARAL et al., 2004).

    O fenômeno de limitação de transporte causado pelo acúmulo de ácidos graxos

    acima do lodo foi uma importante contribuição para a observação da fase lag que precede a

    produção de metano. Descobriu-se que a diminuição temporária da atividade metanogênica

    após o contato com ácidos graxos é um fenômeno reversível, sendo eliminado após a

    conversão do ácido graxo associado a biomassa em metano (PEREIRA, 2005).

    Os principais componentes dos ácidos orgânicos voláteis presentes em digestores

    anaeróbios são acético, propiônico, butírico e ácido valérico. Os ácidos são convertidos

    para metano e dióxido de carbono por bactérias metanogênicas e acetogênicas sintróficas.

    Sobrecargas ou distúrbios tóxicos podem causar um desbalanceamento entre produção e

    consumo de ácidos resultando na acumulação de ácidos orgânicos voláteis no sistema

    (DIAMANTIS, 2006).

    Pontes, 2009 avaliou o desempenho de um reator de leito fixo e escoamento

    ascendente, operado de modo contínuo, com argila expandida e espuma de poliuretano

    como suportes para imobilização da biomassa, no tratamento de água residuária

    proveniente de abatedouro de aves. Na primeira fase do trabalho, o reator foi operado em

    condição anaeróbia e anaeróbia-aeróbia, no tratamento da água residuária bruta

    proveniente do abatedouro. O autor quantificou os ácidos orgânicos voláteis por

  • 20

    cromatografia gasosa no final da fase com TDH de 5h e verificou concentrações de ácido

    acético e propiônico mais altas na região do leito de argila expandida (215 e 210 mg/L),

    respectivamente. Quando o reator foi operado com THD de 6,7h as concentrações

    encontradas foram de 262 e 149 mg/L para os ácidos acético e propiônico,

    respectivamente. O autor concluiu que a produção de ácidos orgânicos ao longo do leito de

    argila expandida ocorreu dentro do esperado e que os ácidos orgânicos, principalmente o

    acético, constituirão a fonte de carbono para o processo de desnitrificação no reator

    anaeróbio-aeróbio com recirculação da fase líquida.

    3.3.4 Tratamento enzimático

    A literatura tem descrito o uso de microrganismos e/ou enzimas desenvolvidas em

    laboratório para o tratamento biológico de águas residuárias com altas concentrações de

    óleos e gorduras (CAMMAROTA e FREIRE, 2006).

    Com o intuito de viabilizar o tratamento de águas residuárias de forma anaeróbia, o

    pré-tratamento enzimático vem sendo estudado. Indicando ser uma forma promissora, pois

    alcança valores de remoção de DQO em torno de 85 %. Entretanto o uso de preparações

    enzimáticas de baixo custo é vital para o emprego de enzimas no tratamento de águas

    residuárias, visto que o uso de preparações enzimáticas comerciais possui custo elevado o

    que inviabiliza economicamente o processo (VALLADÃO; FREIRE e CAMMAROTA,

    2007).

    Masse, Kennedy e Chou (2001) utilizaram quatro pré-tratamentos para hidrolisar ou

    reduzir o tamanho das partículas de gordura de efluente de águas residuárias de

    abatedouros. Os autores concluíram que a lipase pancreática foi o melhor pré-tratamento

    para hidrolisar partículas de gordura. Contudo o impacto na eficiência do processo de

    digestão anaeróbia no corpo receptor precisa ser testado.

    Masse, Massé e Kennedy (2003) utilizaram lipase pancreática como pré-tratamento

    de água residuária de abatedouro suíno em reator anaeróbio em batelada seqüencial a 25ºC.

    Não houve diminuição do tamanho das partículas de gordura com o pré-tratamento

    enzimático em relação ao tratamento controle. Contudo, houve uma transformação da

    DQO total em metano de 82% no reator com água residuária pré-tratada. Segundo os

  • 21

    autores a razão limite da digestão anaeróbia foi a acumulação de ácidos orgânicos voláteis

    em oposição a hidrólise de gorduras.

    Resultados semelhantes foram reportados por Cirne et al. (2007), que utilizaram

    lipase no tratamento de água residuária sintética com altas concentrações de lipídios. Os

    autores concluíram que a lipase aumentou a hidrólise de lipídios. Contudo as vantagens da

    hidrólise enzimática no processo total foi mínima devido ao acúmulo de ácidos orgânicos

    voláteis no reator anaeróbio. Os autores conferem aos ácidos orgânicos voláteis um fator

    de inibição da degradação de lipídios, embora o estudo também mostre que esse efeito

    inibitório não é permanente. Porém o tempo de recuperação requerido pode ser longo o que

    inviabiliza o processo operando reatores em escala real.

    3.2.7 Tratamento hidrolítico

    Hidrólise é a ruptura de ligações químicas, promovida pela água, em meio ácido ou

    alcalino, ou ainda pelo calor com despressurização brusca de material úmido hidrolisável.

    (SOLOMONS, 2009).

    A hidrólise química inclui principalmente os tratamentos ácidos e alcalinos. Esse

    tipo de tratamento age primariamente sobre as proteínas, enquanto carboidratos e lipídios

    são pouco afetados (MÕNNICH, 1988).

    Alguns estudos mostram que os tratamentos ácidos e alcalinos promovam a

    solubilização da matéria orgânica, e consequentemente acelerem o processo de

    estabilização. As tecnologias hidrolíticas podem ser aplicadas com os objetivos de

    aumentar a solubilização dos sólidos presentes no lodo, para a reciclagem de nutrientes

    como o fósforo e o nitrogênio, suprimir a formação de escuma, dentre outros (MULLER,

    2001).

    O hidróxido de sódio (NaOH) e o ácido sulfúrico (H2SO4) são produtos químicos

    amplamente utilizados na hidrólise de gorduras, juntamente com o hidróxido de potássio

    (KOH).

    A hidrólise ácida possui o inconveniente da sua reversibilidade proporcionando

    baixa eficiência do tratamento hidrolítico. A maioria dos estudos utiliza a hidrólise ácida

    em associação com outro tratamento, geralmente processos de elevação da temperatura

  • 22

    e/ou pressão. Karlson et al. (1992) verificaram um aumento da DQO solúvel de 15 a 35%

    em relação a DQO total tratando lodo de Estação de Tratamento de Esgoto (ETE).

    Pelos motivos expostos a hidrólise alcalina é utilizada preferencialmente em

    detrimento da hidrólise ácida. O produto da reação de hidrólise de uma molécula de

    triacilglicerol utilizando NaOH são três moléculas de glicerol e três moléculas de sais de

    sódio. A Figura 3.8 apresenta a reação de hidrólise, onde os radicais R1, R2, R3 são cadeias

    carbônicas geralmente longas.

    Na hidrólise alcalina o pH é elevado para 12 e este processo pode ser utilizado para

    hidrolisar e decompor lipídios, carboidratos e proteínas em substâncias solúveis menores

    como ácidos alifáticos, polissacarídeos e aminoácidos (CARBALLA et al., 2004).

    Na hidrólise química com NaOH ocorre o aumento da razão entre DQO solúvel e

    DQO total, assim como também ocorre a redução de sólidos voláteis durante a digestão

    anaeróbia (LIN et al., 1997; LEFEBVRE et al., 1998).

    Karlsson (1990) estudou alguns compostos químicos (HCl, NaOH e Ca(OH)2) e

    biológicos (fermentação) como pré-tratamento hidrolítico de águas residuárias de lodos

    ativados. O autor não verificou efeito na remoção de lipídios pelo pré-tratamento

    biológico. Enquanto que o pré-tratamento ácido e o pré-tratamento alcalino apresentaram

    uma redução de lipídios de 28%. Então para o autor a porção lipídica de águas residuárias

    de lodo ativado é a fração orgânica mais difícil de ser hidrolisada utilizando pré-

    tratamento.

    Omil et al. (2003) avaliaram, em escala real, o tratamento anaeróbio para águas

    residuárias provenientes de industria de processamento de leite, o sistema era composto de

    um filtro anaeróbio e um reator aeróbio em batelada seqüencial. Apesar da alta eficiência

    Figura 3.8 - Fórmula estrutural da reação de hidrólise alcalina do triacilglicerol, utilizando NaOH.

  • 23

    de remoção de DQO alcançada (90%), os autores verificaram que, ao longo do tempo, a

    adição de base pra neutralizar a água residuária e para manter o nível ideal de alcalinidade

    provocou falhas na biodegradação ocorrida no tanque de alimentação, aumentando assim a

    biodegradação de gorduras no filtro anaeróbio. Foram detectados distúrbios no processo

    anaeróbio com acumulação de ácidos graxos e flotação de material gorduroso na parte

    superior do filtro anaeróbio. Com o intuito de restabelecer as melhores condições de

    funcionamento do sistema a indústria foi forçada a realizar uma nova inoculação do reator

    anaeróbio.

    3.3 Legislação ambiental

    Há muito tempo o Brasil já dispõe de condições legais para agir em defesa de bens

    ambientais. Desde os anos 30, vem se desenvolvendo em nosso país uma consciência de

    proteção ambiental. Especialmente nos últimos quarenta anos, o Brasil ampliou sua

    legislação ambiental (MMA, 2009).

    De acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente (2009) em 1981, surgiu a

    primeira grande conquista do movimento ambientalista brasileiro, com a publicação da Lei

    Federal nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional de Meio

    Ambiente (PNMA), seus fins e mecanismo de formulação e aplicação constituiu-se num

    importante instrumento de amadurecimento e consolidação da política ambiental em nosso

    país. Visando controlar o lançamento no meio ambiente de poluentes, proibindo o

    lançamento em níveis nocivos ou perigosos para os seres humanos e outras formas de vida,

    A abertura da economia brasileira no início da década de 1990 também trouxe

    benefícios ambientais. As empresas brasileiras tiveram que melhorar sua produtividade

    para poder enfrentar a concorrência dos produtos importados. O aumento da produtividade

    também implicava um melhor uso das energias e insumos, reduzindo, desta forma, os

    resíduos perdidos na produção. Empresas exportadoras também foram pressionadas por

    seus compradores estrangeiros a implementar sistemas de produção mais limpos, já que os

    consumidores dos países ricos preferiam produtos fabricados por processos

    ambientalmente corretos (CARVALHO, 2004).

  • 24

    O conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) lançou em 17 de março de

    2005 a resolução nº 357 que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes

    ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de

    lançamento de efluentes, e dá outras providências. Além de considerar que o controle da

    poluição está diretamente relacionado com a proteção da saúde, garantia do meio ambiente

    ecologicamente equilibrado e a melhoria da qualidade de vida, levando em conta os usos

    prioritários e classes de qualidade ambiental exigidos para um determinado corpo de água.

    Cabe aos órgãos ambientais a determinação e a fiscalização dos parâmetros e

    limites de emissão de efluentes industriais, agrícolas e domésticos. Para isso, é necessária a

    implantação de um sistema de monitoramento confiável. As exigências da legislação

    ambiental levaram as empresas a buscar soluções para tornar seus processos mais eficazes.

    É cada vez mais freqüente o uso de sistemas de tratamento de efluentes visando a

    reutilização de insumos (água, óleo, metais, etc), minimizando o descarte para o meio

    ambiente (CARVALHO, 2004).

    As leis ambientais brasileiras são consideradas bastantes avançadas e bem

    elaboradas, no que diz respeito ao objeto proposto, o problema está na aplicação destas,

    que por fatores dos mais diversos, inviabiliza e torna falha a sua execução.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Ambientehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Tratamento_de_efluenteshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Insumohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Meio_ambientehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Meio_ambiente

  • 25

    4

    MATERIAIS E MÉTODOS

    Abatedouro de estudo Descrição do sistema de tratamento Caracterização da água residuária Implantação de metodologias Atividade Metanogênica Específica Biodegradabilidade anaeróbia Hidrólise alcalina Procedimento experimental Frequência dos parâmetros analisados Quantificação de ácidos orgânicos voláteis

  • 26

    4.1 Abatedouro de estudo

    O abatedouro de aves está localizado no município de Nazaré da Mata, a 65 km de

    Recife. O município de Nazaré da Mata está situado na zona da mata pernambucana,

    possui clima tropical e uma população de 30.185 hab. (IBGE, 2009).

    Com unidade central em Carpina, onde dispõe de fábrica de rações, a empresa

    expandiu-se também para o estado da Bahia. Em Nazaré da Mata, dispõe de frigorífico que

    comercializa o frango inteiro e cortes especiais. Produz frangos e ovos, empregando 1.300

    operários. Conta com 3 granjas próprias e 145 integrados. É responsável por 24,3% do

    abate de frango inspecionado pelo Governo Federal em Pernambuco.

    Segundo informações da empresa onde foi realizado o estudo, a produção média é

    60.000 aves/dia, variando de acordo com as necessidades do mercado. O sistema de

    abastecimento de água conta com a captação no rio Tracunhaém e com o abastecimento

    pela Companhia Pernambucana de Saneamento (COMPESA), cerca de 70% e 30%,

    respectivamente. Para cada ave abatida se gasta em média 22 litros de água.

    A empresa consume em média aproximadamente 70 m3/hora de água tratada para

    todas as necessidades.

    O sistema de processamento de carne de frango do abatedouro de aves, localizado em

    Nazaré da Mata, segue o indicado na Figura 3.3 da revisão da literatura.

    4.2 Descrição do sistema de tratamento existente

    A água residuária gerada na área produtiva é conduzida por duas tubulações de

    PVC (Figura 4.1 a), uma contendo vísceras (não comestíveis) e a outra com penas. Essas

    tubulações seguem em direção à sala de digestores, onde previamente é separado o resíduo

    líquido do resíduo sólido, através de uma peneira onde os sólidos são prensados (Figura 4.1

    b). Os resíduos sólidos são transportados manualmente para dois digestores, um destinado

    às vísceras e o outro às penas (Figura 4.1 c). Esses resíduos são transformados em uma

    farinha, ensacados separadamente (penas e vísceras) e enviados para a granja da empresa

    onde são utilizados como suplemento alimentar das aves.

  • 27

    O resíduo líquido é então encaminhado para a estação de tratamento. A estação é

    composta por um tratamento primário, constituído por um FAD (Figura 4.2), seguido de

    um tratamento secundário por meio de um sistema de lagoas de estabilização, constituído

    por três lagoas em série. A 1ª lagoa da série é anaeróbia, seguida de duas lagoas

    facultativas. As lagoas não possuem uma geometria definida. O afluente da 1ª lagoa

    facultativa não é localizado exatamente no início da lagoa, como ocorre usualmente, desta

    forma fica evidente a ocorrência de zonas mortas e fluxos preferenciais. O mesmo acontece

    com o efluente da 2ª lagoa facultativa cuja coleta não está localizada exatamente no final

    da lagoa. Estes detalhes podem ser observados no desenho esquemático da Figura 4.3.

    a)

    Figura 4.1 – Foto ilustrativa das etapas de separação sólido-líquido. a) tubulações que

    conduzem separadamente vísceras e penas; b) peneira para prensa dos

    materiais sólidos; c) digestor de penas.

    a) b)

    c)

  • 28

    Figura 4.2 - Flotador por Ar Dissolvido (FAD).

    Figura 4.3 – Desenho esquemático representando a geração do efluente da empresa e suas etapas de

    tratamento.

  • 29

    4.3 Caracterização da água residuária

    Para a caracterização do efluente foram realizadas coletas simples, mensais, durante

    o período de cinco meses (agosto a dezembro de 2009). As amostras foram coletadas em

    cinco pontos do sistema de tratamento (Figura 4.4), definidos como:

    Ponto 1: água residuária bruta (afluente do sistema de tratamento)

    Ponto 2: efluente do FAD

    Ponto 3: efluente da 1ª lagoa (lagoa anaeróbia)

    Ponto 4: efluente da 2ª lagoa (1ª lagoa facultativa)

    Ponto 5: efluente da 3ª lagoa (2ª lagoa facultativa)

    As amostras foram armazenadas em recipientes plásticos de 2L e mantidas sob

    refrigeração à 4º C até o momento das análises (Figura 4.5).

    a) b) c)

    d) e)

    Figura 4.4 - Pontos de coleta para caracterização da água residuária. a) Ponto 1;

    b) Ponto 2; c) Ponto 3; d) Ponto 4; e) Ponto 5.

    a) b) c)

    d) e)

  • 30

    Alguns parâmetros foram realizados ainda em campo e os demais no Laboratório de

    Saneamento Ambiental (LSA) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a Figura

    4.6 apresenta um desenho esquemático desses parâmetros.

    Caracterização da água residuária

    Parâmetros analisados em campo:

    pH, OD, condutividade, salinidade e temperatura.

    Parâmetros analisados no laboratório: .

    Figura 4.6 - Parâmetros analisados para caracterização da água residuária.

    Figura 4.5 - Amostras coletadas para caracterização da água residuária.

    a) ponto 1; b) ponto 2; c) ponto 3; d) ponto 4; e) ponto 5.

    a) b) c) d) e)

    DQO, DBO, NTK, NH3, NO2-, NO3

    -, PO4

    3-, SO4

    -, Cl

    -,

    AOV (tit.), TOG, coliformes totais e termotolerantes e

    série de sólidos.

  • 31

    Os parâmetros de Demanda Química de Oxigênio (DQO) bruta e filtrada, Demanda

    Bioquímica de Oxigênio (DBO) bruta, Nitrogênio Total Kjeldahl (NTK), nitrogênio

    amoniacal (NH3), fósforo (PO43-

    ), nitrito (NO2-), nitrato (NO3

    -), sulfato (SO4

    -), cloretos (Cl

    -

    ), pH, salinidade, condutividade, Oxigênio Dissolvido (OD), Teor de Óleos e Graxas

    (TOG), coliformes totais e termotolerantes e série de sólidos foram determinados de

    acordo com os métodos propostos pelo Standard Methods for the Examination of Water

    and Wastewater , APHA (1998).

    A medição da alcalinidade total, intermediária e a bicarbonato, como também a

    medição dos ácidos orgânicos voláteis totais (AOV) baseou-se na metodologia proposta

    por Ripley et al., (1986).

    4.4 Implantação de metodologias no LSA

    Foi necessário implantar as metodologias para a quantificação de carboidrato,

    proteína e lipídio no LSA. Com a finalidade de facilitar futuros trabalhos essas

    metodologias são descritas a seguir.

    4.4.1 Determinação de carboidrato

    A quantificação de carboidrato foi realizada pela metodologia proposta por Dubois

    et al. (1956) que consiste na reação com fenol e ácido sulfúrico concentrado, onde a

    presença do carboidrato torna a amostra alaranjada. É um método rápido e simples com

    resultados reprodutíveis, sendo a substância colorida estável por horas. Foi construída uma

    curva padrão com glicose (carboidrato mais abundante) em diferentes concentrações.

    Amostras padrões e branco foram tratadas da seguinte forma:

    a) Transferiu-se 500 µL de amostra ou solução padrão para tubo de ensaio com tampa

    rosqueável;

    b) Adicionou-se 500 µL de solução de fenol 5% e agitou-se no vortex;

  • 32

    c) Adicionou-se 2,5 mL de H2SO4 concentrado. Agitou-se no vortex e os tubos de

    ensaio foram deixados em repouso em banho de água entre 25°C e 30°C por 15 minutos;

    d) A absorbância foi lida a 490 nm em espectrofotômetro.

    4.4.2 Determinação de proteína

    A metodologia para a quantificação de proteína proposta por Lowry (1951) foi

    adotada por ser uma metodologia com resultados bastante reprodutíveis. Quando há

    presença de proteína a amostra adquire coloração azul.

    Esta metodologia consiste na preparação de quatro soluções:

    Solução A: Na2CO3 a 2% (p/v) diluído em NaOH a 0,1% (p/v);

    Solução B: CuSO4 5H2O a 0,5% (p/v) diluído em Na3C6H5O7 a 0,1% (p/v);

    Solução C: solução A + B, numa proporção 50:1;

    Solução D: reagente de Lowry, numa proporção 1:1 com água destilada;

    Deve ser observado que a água destilada utilizada para fazer as soluções necessita

    ser previamente fervida por 30 minutos para retirada do CO2.

    Foi construída uma curva padrão com albumina sérica bovina (BSB) com diferentes

    concentrações e em seguida as amostras padrões e branco foram tratadas da seguinte

    forma:

    a) Transferiu-se 900 µL de amostra ou solução padrão para tubo de ensaio rosqueável;

    b) Adicionou-se 1000 µL da solução C, agitou-se no vortex e esperou-se 10 minutos;

    c) Adicionou-se 100 µL da solução D, agitou-se no vortex e esperou-se 30 minutos;

    d) A absorbância foi lida a 500 nm no espectrofotômetro.

    4.4.3 Determinação de lipídio

    Para a quantificação de lipídeos utilizou-se a metodologia segundo Postma e Stroes

    (1968). Esta metodologia consiste na reação entre o ácido sulfúrico concentrado, ácido

    fosfórico concentrado e vanilina produzindo uma coloração rosada se positivo.

  • 33

    Foi construída uma curva padrão com óleo vegetal em etanol com diferentes

    concentrações e em seguida as amostras padrões e branco foram tratadas da seguinte

    forma:

    a) Transferiu-se 10 mL de amostra para tubo de ensaio rosqueável;

    b) Adicionou-ser 2g de NaCl;

    c) Adicionou-ser 100 µL de solução de H2SO4 1:1 em água destilada, agitou-se no

    vortex e resfriou-se a amostra no freezer por 20 minutos;

    d) Adicionou-se 2 mL de C2H10O resfriado em freezer agitar no vortex e congelou-se

    as amostras em freezer;

    e) Transferiu-se a camada etérea (líquida superior) para um becker e evaporou-se em

    capela até a secura em temperatura ambiente;

    f) Adicionou-se 2 mL de H2SO4 concentrado ao becker na capela;

    g) Aqueceu-se por 10 minutos em banho de água em ebulição, retirou-se e deixou-se

    esfriar;

    h) Transferiu-se 200 µL para tubo de ensaio contendo 2 mL de H3PO4 concentrado;

    i) Adicionou-se 0,5 mL de solução de vanilina 0,6 % e agitou-se no vortex;

    j) Colocaram-se os tubos de ensaio em banho de água a 37 ºC por 15 minutos deixou-

    se esfriar;

    k) A absorbância foi lida a 537 nm em espectrofotômetro;

    l) O valor obtido é dividido pelo volume utilizado para concentração da amostra (10

    mL).

    4.5 Atividade Metanogênica Específica

    O teste de AME (atividade metanogênica específica) foi realizado segundo

    Florencio, 1994. Adicionando-se uma solução substrato de fácil degradação (AGVs), uma

    solução nutriente e a biomassa em uma garrafa reator. A quantidade e a velocidade de

    produção de metano correspondem à degradação completa da solução substrato e à

    atividade da biomassa. A Figura 4.7 apresenta um desenho esquemático dos materiais

    utilizados no teste de AME.

  • 34

    Figura 4.7 – Desenho esquemático do aparato utilizado para o teste de atividade metanogênica

    específica (AME). Fonte: Souza, 2009.

    4.6 Biodegradabilidade anaeróbia

    Para avaliação da biodegradabilidade da matéria orgânica foi realizado um ensaio

    com reatores anaeróbios em escala de bancada.

    4.6.1 Configuração do reator

    Foram utilizados três reatores de acrílico com 15 cm de diâmetro e 45 cm de altura.

    Cada reator possui três orifícios na parte superior. Um deles representa a saída de biogás,

    no outro se conectou uma mangueira para retirada e enchimento de água residuária e no

    terceiro foi introduzida uma haste de aço inox para agitação. O volume de biogás foi

    medido por deslocamento do líquido diariamente, através de garrafas de Mariotte contendo

    NaOH na concentração de 3% (m/m), com indicador azul de bromotimol, ligada

    Garrafa plástica utilizada

    para pesagem

    Garrafa reator contendo

    lodo, substrato e solução

    nutriente.

    Garrafa contendo solução

    de NaOH 3% (m/v)

  • 35

    diretamente ao reator por uma mangueira de borracha (Figura 4.8). Os reatores foram

    identificados como R1, R2 e R3.

    R1 foi alimentado com a água residuária bruta. R2 foi alimentado com a água

    residuária após o sistema FAD e R3 foi alimentado com água residuária bruta submetida à

    hidrólise alcalina (0,1% de NaOH) no LSA.

    Com a finalidade de garantir a precisão da medida do líquido deslocado foi

    utilizado para o reator R1 um frasco de Mariotte com capacidade de 1 L e para os reatores

    R2 e R3 as garrafas tinham capacidade de 4 L. Isto decorreu do fato de se esperar um

    volume menor de produção de metano no reator 1.

    Figura 4.8 – Desenho esquemático de reator utilizado no experimento de biodegradação e do sistema de

    medição de gás. Fonte: Souza, 2009.

    Reator de acrílico

    Frasco Mariotte

    Garrafa plástica utilizada

    para pesagem

    Mangueira utilizada para

    enchimento/esvaziamento

    Haste inox para agitação

    Mangueira utilizada para

    deslocamento do líquido

  • 36

    4.6.2 Inóculo

    Os reatores foram inoculados com lodo anaeróbio proveniente de reator UASB, em

    escala real, utilizado para tratamento de esgoto doméstico de população de baixa renda,

    localizada no bairro da Mangueira região metropolitana de Recife, PE. O lodo foi coletado

    em recipiente plástico de 10 L, da 7ª célula na altura de 1,5 m de um dos reatores UASB.

    Foi mantido sob refrigeração a 4º C, por 30 dias, até a véspera da inoculação dos reatores.

    Antes do início do experimento, o lodo foi colocado em um balde, homogeneizado,

    esperou-se 30 minutos para a sedimentação e, posteriormente, o sobrenadante foi retirado

    por sinfonação. O procedimento foi repetido por mais quatro vezes. Em seguida o lodo foi

    aclimatado com solução micronutriente (FLORENCIO, 1994) por 24 horas em sala com

    controle de temperatura a 30ºC. Após esse período o lodo foi homogeneizado e foram

    retiradas alíquotas para realização da análise de sólidos suspensos voláteis (SSV).

    4.6.3 Água residuária

    Foram realizadas coletas semanais, no abatedouro de aves, da água residuária bruta

    e após o sistema FAD. A água residuária foi armazenada em recipientes plásticos e

    mantida sob refrigeração à 4º C. Cerca de três horas antes do enchimento dos reatores o(s)

    recipiente(s) contendo a água residuária bruta e o(s) recipiente(s) contendo água residuária

    após FAD, foram colocados em sala com controle de temperatura a 30ºC, para serem

    aclimatados. Para a água residuária com tratamento hidrolítico, foi utilizado o

    procedimento descrito no item 4.7.

    4.7 Hidrólise alcalina

    A fim de verificar qual a porcentagem ideal de NaOH a ser utilizado na água

    residuária, como também, o tempo de agitação a ser submetida foi realizado um teste com

    frascos de borosilicato com tampa de rosca tipo Schott Duran autoclavável de 250 mL. Os

  • 37

    frascos continham 200 mL de água residuária bruta com concentrações (m/v) de 0,05%,

    0,1% e 0,2% de NaOH. Todas as concentrações foram submetidas à agitação constante de

    150 rpm em mesa agitadora durante 3, 15 e 24 horas (Figura 4.9). Estes ensaios foram

    realizados em triplicatas. Para avaliação da eficiência da hidrólise foram realizadas análises

    de DQO (bruta e filtrada), alcalinidade e AOV, antes e após a hidrólise. Após hidrólise, as

    amostras tiveram o pH corrigido para 7 (pH da água residuária bruta coletada) com HCl

    (P.A.).

    Optou-se após este teste preliminar pelo uso da concentração de NaOH 0,1% e

    tempo de agitação de 15 horas na hidrólise do efluente bruto, coletado no abatedouro de

    aves.

    Para a realização da hidrólise alcalina, um dia antes do seu uso, as alíquotas da água

    residuária bruta foram retiradas dos recipientes refrigerados a 4ºC e colocadas em frascos

    de borosilicato com tampa de rosca tipo Schott Duran autoclavável de 1000 mL. Os frascos

    continham 800 mL de água residuária bruta com concentração (m/v) de 0,1% de NaOH e

    foram agitados por 15 horas. Após o término do tempo de agitação a água residuária,

    agora hidrolisada, foi homogeneizada em um único recipiente e tinha o seu pH ajustado

    com HCl (P.A) para o mesmo valor da água residuária bruta. Em seguida seguia-se o

    procedimento de enchimento do R3.

    a) b)

    Figura 4.9 – Foto ilustrativa do aparato utilizado para a realização do teste de hidrólise.

    a)Mesa agitadora com frascos de borosilicato sob agitação de 150 rpm.

    b)Frascos após 15 horas de agitação nas concentrações 0,05%, 0,1% e 0,2% de NaOH,

    respectivamente.

    a) b)

  • 38

    4.8 Procedimento experimental

    Para avaliar a água residuária em estudo, submetida ao tratamento anaeróbio, os

    reatores funcionaram em sistema de batelada, com ciclos de 24 horas (tempo de

    esvaziamento: 5 min; tempo de enchimento: 20 min e tempo de reação: 23 horas e 35 min).

    Os reatores eram esvaziados e alimentados por sifões sendo mantidos sob agitação

    constante de 100 rpm e a temperatura ambiente de 30ºC (Figura 4.10).

    Com o propósito de não interferir na avaliação da biodegradabilidade do resíduo de

    forma anaeróbia não foi adicionado nenhum nutriente ou tampão na água residuária

    utilizada nos reatores.

    a)

    Volume Total: 6,8 L

    Volume útil : 6L

    Altura: 45 cm

    Diâmetro: 15 cm

    Agitação: 100 rpm

    SSV: 134 g/L

    a)

    Figura 4.10 – Foto ilustrativa dos reatores utilizados para o ensaio de biodegradabilidade anaeróbia.

    a) Vazios antes do início do experimento.

    b) Reator 2 no 26º dia de operação.

    b)

  • 39

    4.9 Freqüência dos parâmetros analisados na biodegradação anaeróbia

    As análises realizadas com o afluente e o efluente dos reatores durante o

    experimento bem como a metodologia adotada e sua freqüência de amostragem estão

    listadas na Tabela 4.1.

    Tabela 4.1-. Parâmetros analisados na biodegradação anaeróbia, frequência e métodos analíticos.

    Parâmetro Método analítico Frequência

    DQO bruta Espectrofotométrico 3 x semana

    DQO filtrada Espectrofotométrico 3 x semana

    AOV Titulométrico 3 x semana

    AOV Cromatográfico 3 x semana

    Alcalinidade Titulométrico 3 x semana

    pH Potenciométrico diário

    TOG Extração Soxhlet 1 x semana

    Carboidrato Espectrofotométrico 2 x semana

    Proteína Espectrofotométrico 2 x semana

    Lipídio Espectrofotométrico 2 x semana

    Metano Gravimétrico diário

    4.10 Quantificação de ácidos orgânicos voláteis

    A quantificação de AOV, no experimento de biodegradação anaeróbia, foi realizada

    por metodologia titulométrica e cromatográfica. Para a realização da análise

    cromatográfica as amostras foram armazenadas em frascos de vidro tipo penicilina usando

    o máximo de volume do frasco (10 mL), estes foram fechados com tampa de borracha e

    lacrados com tampas de alumínio. Em seguida foram mantidos sob refrigeração a 4ºC. Para

    a quantificação de AOV foi utilizado o Cromatógrafo a Gás modelo Agilent 7980 A. As

  • 40

    condições de aquecimento da coluna utilizadas foram: temperatura inicial de 100ºC durante

    1 minuto. Posterior aumento de temperatura para 150ºC durante 1 minuto e por fim 200ºC

    durante 5 minutos. A temperatura utilizada para o injetor de amostras foi de 25ºC. A

    temperatura para o detector de ionização de chama foi de 280ºC. O fluxo do gás de arraste

    (hidrogênio) foi de 1,3 mL/min. A coluna analítica utilizada foi o modelo TR- Wax.

  • 41

    5

    RESULTADOS E DISCUSSÃO

    Caracterização da água residuária Teste de hidrólise Tratamento anaeróbio Avaliação comparativa

  • 42

    5.1 Caracterização da água residuária

    Para a caracterização da água residuária foram realizadas coletas simples, mensais,

    durante o período de cinco meses (agosto a dezembro de 2009). A Tabela 5.1 apresenta os

    valores médios dos parâmetros obtidos em campo.

    Tabela 5.1 - Valores médios, mínimos e máximos dos parâmetros avaliados em campo (n=5).

    Parâmetro P1[1]

    P2[2]

    P3[3]

    P4[4]

    P5[5]

    Temperatura

    (ºC) 27 (24-30) 28 (27-30) 29 (28-30) 31 (29-33) 31 (30-33)

    pH 8 (7-9) 7 (7-8) 7 (7-8) 9 (8-9) 9 (8-9)

    OD (mg/L) 3 (0,1-7) 1 (0-2) 2 (0,2-4) 10 (7-12) 13 (10-16)

    Condutividade

    (mS/cm)

    1.554

    (1.314-1.930)

    1.661

    (1.377-2.002)

    2.644

    (2.224-3.006)

    2.252

    (1.814-2.830)

    2.158

    (1.985-2.520)

    Salinidade (‰) 0,6 (0,5-0,7) 0,5 (0,4-0,6) - - -

    [1] P1:água residuária bruta; [2] P2:água residuária após FAD;[3] P3:saída da 1ª lagoa; [4] P4: saída da 2ª

    lagoa; [5] P5: saída da 3ª lagoa.

    Na Tabela 5.1 os valores encontrados de temperatura são condizentes com o clima

    tropical da região e propício para o sistema de tratamento em lagoas de estabilização. O P3

    corresponde a saída da 1ª lagoa, esta é anaeróbia e são encontrados valores que indicam o

    bom funcionamento da lagoa com temperatura próxima a 30ºC e pH em torno de 7 (VON

    SPERLING, 2002). Em se tratando de lagoas anaeróbias a condição ideal é a ausência de

    OD, devido ao fato de os microrganismos serem anaeróbios. No entanto, os valores de OD

    em P3 devem ser analisados com cautela devido à coleta ter sido realizada na escada onde

    a água residuária, por gravidade, chega à 2ª lagoa. Essa escada confere velocidade ao fluxo

    e causa turbulência com o objetivo de elevar o valor de OD na lagoa facultativa (2ª lagoa).

    Em P4 e P5 os valores mais altos de OD são proporcionados pela atividade das algas

    (organismos fotossintéticos autotróficos) através da fotossíntese.

    A Tabela 5.2 apresenta a eficiência média do sistema de tratamento biológico da

    indústria, em relação à remoção dos principais parâmetros e também em relação aos limites

  • 43

    impostos pela legislação ambiental (resolução 357, de 2005, do Conselho Nacional do

    Meio Ambiente - CONAMA). Esta resolução enquadra os mananciais/corpos receptores

    em classes e estabelece condições e padrões de lançamento de águas residuárias. O corpo

    receptor da água residuária do atual estudo é o rio Tracunhaém enquadrado na Classe 2.

    São apresentados na Tabela 5.2 valores médios, mínimos e máximos das cinco coletas

    realizadas para caracterização da água residuária. Vale salientar que foi utilizada

    amostragem simples para todos os pontos e que todas as coletas foram realizadas entre 9 e

    10 horas da manhã, neste horário todas as etapas da área produtiva encontravam-se em

    pleno funcionamento.

  • 44

    Tabela 5.2 – Valores médios, mínimos e máximos das coletas para caracterização. Eficiência do sistema de tratamento e limites estabelecidos pela

    legislação ambiental.

    Parâmetro P1 P2 P3 P4 P5 Eficiência

    (%)

    CONAMA

    357/05

    (padrão de

    lançamento)

    DQO bruta (mg O2/L) 4.310(1.475-8.622) 6.646(2.505-19.022) 396(312-547) 216(143-426) 256(180-497) 92 -

    DQO filtrada (mg O2/L) 879(443-1.507) 1.115(869-1.543) 241(157-449) 152(99-228) 152(70-324) -

    DBO bruta (mg O2/L) 2.870(1-050-3.800) 4.180(1.800-11.000) 151(80-200) 69(20-95) 36(20-60) 99 -

    ST (mg/L) 3.256(2.002-4.840) 3.960(2.394-7.970) 1.328(1.083-1.601) 1.115(910-1.369) 1.136(952-1.394) 65 -

    NTK (mg N-NTK/L) 176(100-337) 178(127-256) 91(11-137) 82(44-134) 66(44-77) 63 -

    NH3 (mg N-NH3/L) 28(13-50) 28(8-53) 92(62-112) 82(50-117) 59(36-68) - 20

    NO2- (mg NO2

    -/L) nd 0,1 0,1 2,1(1,1-3,4) 4,5(1,5-10,6) - -

    NO3-(mg NO3

    -/L) nd nd nd 0,5 3,4(0,2-6,9) - -

    PO43-

    (mg P-PO43-

    /L) 26(16-40) 19(7-34) 15(14-21) 15(10-18) 15(12-19) 41 -

    TOG (mg/L) 1.227(641-2.127) 1.733(371-5.741) 294(24-232) 188(11-897) 27(5-787) 98 50

    P1:água residuária bruta; P2:água residuária após FAD; P3:saída da 1ª lagoa; P4: saída da 2ª lagoa; P5: saída da 3ª lagoa.

    nd= não detectado.

  • 45

    Para remoção de matéria orgânica o sistema apresentou eficiência média de 92%

    para DQO bruta-bruta. Para a eficiência de remoção de DQO bruta-filtrada, onde se

    considera a DQO de entrada bruta e a DQO de saída filtrada, a eficiência média foi de 96%

    devido ser desconsiderado o material particulado representado principalmente pelas algas.

    Pode ser observado que a eficiência média de remoção de DBO (99%) foi mais elevada. O

    sistema apresentou eficiências altas, dentro do esperado, em se tratando de lagoas de

    estabilização, que possuem longo tempo de detenção hidráulica.

    Em se tratando de nitrogênio amoniacal, a água residuária do presente estudo não

    atingiu o padrão de lançamento no ponto final do tratamento. No entanto, esse resultado

    deve ser observado com cautela visto que, o sistema apresenta altos níveis de NTK (média

    176 mg/L) que ao longo do percurso foi convertido a NH3, NO2 e NO3 e no final do

    tratamento houve uma remoção de 40% da NH3 gerada..

    Segundo Von Sperling (2002) a eficiência de remoção de nitrogênio em lagoas

    facultativas situa-se entre 30 e 50%, pois, ainda segundo o autor, o pH, nestas lagoas,

    freqüentemente não atinge valores maiores que 9,5, valores esses necessários para o

    mecanismo de volatilização da amônia. O pH nas amostras coletadas situaram-se em torno

    de 8,7 para as duas lagoas facultativas como pode ser visualizado na Tabela 5.2. A

    assimilação de amônia pelas algas pode ter contribuído para o resultado obtido, visto que

    havia presença de algas nas amostras analisadas em P5.

    A remoção de nutrientes das águas residuárias, como nitrogênio e fósforo, é

    importante devido à possibilidade de eutrofização dos corpos receptores. Para o fósforo,

    conforme apresentado na Tabela 5.2, a remoção obtida de 41%, possivelmente pode estar

    relacionado a valores de pH inferiores a 9,5. Haja vista que, segundo Van Haandel e

    Lettinga (1994) e Cavalcanti et al. (2001), a elevação do pH favorece a precipitação de sais

    de fosfato que juntamente com a assimilação da biomassa são os principais mecanismos de

    remoção de fósforo em lagoas de estabilização.

    O sistema apresentou alta eficiência de remoção do teor de óleos e graxas (98%),

    produzindo efluente dentro do limite exigido pela legislação, abaixo de 50 mg/L.

    Novamente deve-se ter cuidado ao verificar esses dados, pois a Tabela 5.2 apresenta a

    média das cinco coletas realizadas. Após a quebra do sistema FAD, que ocorreu no período

    da segunda coleta, as amostras posteriores por duas vezes apresentaram valores acima do

    permitido pela