As Ilhas do Equador - II Parte

89
Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430. :: Neste pdf - página 1 de 89 :: As Ilhas do Equador - II Parte Tenente-coronel João José de Sousa Cruz Capítulo 3.e - Enclaves fora do arquipélago de S. Tomé e Príncipe: 3.e.1– Costa da Malagueta e Governos da Mina (segundo Cunha Matos, em itálico) Tristes, muito tristes são as modernas recordações da antiga importância e glória dos portugueses adquirida e sustentada por espaço de dois séculos nas costas da África Ocidental onde somente tremulava a Bandeira da Nação intrépida, que as havia descoberto. Quase tudo acabou, mas nem por isso os portugueses devem esmorecer; um governo sábio ainda poderá restaurar grande parte da antiga consideração que ali gozava o Rei de Portugal. A Costa da Malagueta foi descoberta no ano de 1462, se é que o não estava no reinado de D. Afonso IV. Alguns franceses dizem que fora frequentada pelos normandos no séc. XIV (1346) que foi o tempo das pretensões de D. Luís de Espanha, e querem provar os seus direitos à prioridade com o testemunho das letras -13- e das supostas Armas de França, que inculcam existentes em um baluarte do Castelo da Mina, que os tais descobridores ou navegantes normandos dizem haverem fundado. Também alegam os nomes de Dieppe, Satre Grande ou Paris e Rio dos Castos como testemunho das suas viagens, como se os nomes Dieppe e Paris se não pudessem dar a algumas terras muito depois de se acharem frequentadas pelos portugueses; isso estão praticando os ingleses no tempo presente (1800), mudando ou inglesando os nomes que os primeiros navegantes de Portugal tinham posto às terras por eles descobertas.

Transcript of As Ilhas do Equador - II Parte

Page 1: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 1 de 89 ::

As Ilhas do Equador - II Parte

Tenente-coronelJoão José de Sousa Cruz

Capítulo 3.e - Enclaves fora do arquipélago de S. Tomé e Príncipe: 3.e.1– Costa da Malagueta e Governos da Mina (segundo Cunha Matos, em itálico) Tristes, muito tristes são as modernas recordações da antiga importância e glória dosportugueses adquirida e sustentada por espaço de dois séculos nas costas da ÁfricaOcidental onde somente tremulava a Bandeira da Nação intrépida, que as haviadescoberto. Quase tudo acabou, mas nem por isso os portugueses devem esmorecer; umgoverno sábio ainda poderá restaurar grande parte da antiga consideração que ali gozavao Rei de Portugal. A Costa da Malagueta foi descoberta no ano de 1462, se é que o não estava no reinado deD. Afonso IV. Alguns franceses dizem que fora frequentada pelos normandos no séc. XIV(1346) que foi o tempo das pretensões de D. Luís de Espanha, e querem provar os seusdireitos à prioridade com o testemunho das letras -13- e das supostas Armas de França,que inculcam existentes em um baluarte do Castelo da Mina, que os tais descobridoresou navegantes normandos dizem haverem fundado. Também alegam os nomes de Dieppe,Satre Grande ou Paris e Rio dos Castos como testemunho das suas viagens, como se osnomes Dieppe e Paris se não pudessem dar a algumas terras muito depois de se acharemfrequentadas pelos portugueses; isso estão praticando os ingleses no tempo presente(1800), mudando ou inglesando os nomes que os primeiros navegantes de Portugaltinham posto às terras por eles descobertas.

Page 2: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 2 de 89 ::

Fig. 1 - Costa da Malagueta, do Ouro, dos Escravos. Não são necessárias grandes pesquisas para mostrar que as pretensões francesas àprioridade dos descobrimentos da Costa de Malagueta e Mina, fundam-se na viagem doCavalheiro de Bettencourt às Ilhas Canárias no ano de 1417; mas eles certamenteignoravam e com razão, por também o ignorarem os historiadores portugueses, que maisde 80 anos antes da viagem de Mr. de Bettencourt , tinham os navios de Portugalfrequentado os mares da África. Todavia é indesculpável a pretensão à construção doCastelo de S. Jorge da Mina pelos normandos, por saber-se quando, como e por quem elefoi edificado; o ser constante que antes desta fundação era aquela costa frequentada pornavios portugueses; o ser absolutamente falsa a existência das Armas de França nosbaluartes do Castelo de S. Jorge da Mina, e porque os caracteres -13-, no caso dehaverem existido, podiam ter sido abertos para diversos fins estranhos e distantes daépoca dos descobrimentos da Costa da Mina. Ora lembro-me que tendo visto algumfrancês a Cruz das Armas Portuguesas no tempo de D. João II com os braços terminadosem lírios, como se conservaram até aos anos de 1483,em que se estabeleceram asactuais, achando-se el-rei em Beja, o tal francês se persuadisse que eram armas deFrança e por esta circunstância atribuísse aos franceses a fundação do Castelo. Se assimfoi, como eu presumo, poder-se-á dizer que as obras feitas no reinado de D. João I quetambém tinha a Cruz de Avis terminada em lírios, foram construídas pelo Rei de França. As eras lapidares quase sempre escritas em caracteres romanos e raríssimas vezes noarábico em o Reino e conquistas de Portugal.

Page 3: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 3 de 89 ::

Logo que se descobriu a Costa da Malagueta em 1462 por antecipados esforças doInfante D. Henrique começaram os portugueses e extrair dali a droga, que deu nome aopaís, mais ouro e marfim mas a Fazenda Real tirava disso mui pouco interesse. El-Rei D.Afonso V desejando melhorar o sistema dos descobrimentos e aumentar as rendas dacoroa, ordenou em o ano de 1469 que se pusesse em cont(r)ato o comércio da Costa e ummercador chamado Fernão Gomes arrematou-o por tempo de cinco anos a 500 escudosou duzentos mil réis por ano, ficando obrigado a descobrir em cada um deles (ano) cemléguas da Costa (da Guiné). A política do Rei, que neste caso parece incompreensível eabsurda, deu motivo a acumulação de tão grande fortuna do contratador, que veio a ser omais rico de Portugal e por isso foi enobrecido dando-se-lhe Brasão de Armas análogo àsua empresa, e o apelido de - Mina - por ser assim chamado um lugar mui rico em ouroque fora descoberto em 1471 pelos navios do mesmo Fernão Gomes, comandados porJoão de Santarém no ano de 1469. Os avultadíssimos interesses obtidos por Fernão Gomes levantaram um clamor geral emtodo o Reino; e ou fosse por inveja ou por patriotismo, os procuradores dos povos nasCortes de Évora de 1472 a 1473 em o capítulo 7º dos Místicos ou Mistos queixaram-se“de se haverem contratado com Fernão Gomes havia muitos anos os tratos de ouro emalaguetas de Guiné, descoberta pelo Senhor Infante D. Henrique, pela quantia de200$000 réis, podendo El-Rei tirar 100$000 cruzados”. El-Rei respondeu às Cortes - que Fernão Gomes arrematara em lanço; e que antes disto otrato (negócio) estava perdido e cada vez mais se abatia. Esta resposta prova demasiadofavor, ou boa fé exemplaríssima aos contratos! Os nossos financeiros do tempo de CunhaMattos chamaram talvez - barbaridade gótica ou ignorância afonsina à decisão do Rei dePortugal! Apontemos mais dois capítulos daquelas Cortes de Évora para mostrar o modode pensar dos portugueses antigos e os lucros que deixavam a alguns géneroscomerciáveis. O Capítulo 8º viria sobre os dentes de elefante contratados com MartimEanes Boa Viagem. Cada arrátel rendia ao Príncipe D. João, que foi rei de Portugal, 150réis como informa D. Agostinho Manuel de Vasconcelos. O Capítulo 9º viria sobre osescravos da Guiné e pediram os povos que não fossem para fora do reino. El-Reirespondeu - que sendo multidão de escravos era melhor levá-los para fora do reino, paradarem maior preço. Esta resposta de El-Rei deixa ver que o tráfico de escravos era muiavultado e eu penso que - fora do Reino - tinha em vista os Estados da Coroa de Castela,pois não se sabe que esta gente fosse admitida em França ou outras potências da Europa. Talvez os genoveses e os venezianos os conduzissem aos mercados da Turquia e outrasEscolas do Oriente onde então negociavam. O açúcar da Madeira valia nesse tempo 400 réis a arroba e que depois de contratadopelos mercadores genoveses subira para 1$000 réis. É provável que este contrato fosse oPrivilégio exclusivo da exportação que se concedeu aos genoveses. No ano de 1620vendia-se o açúcar da Ilha da Madeira a 2$400 réis. Ora ou fosse em consequência de pedidos dos povos em Cortes ou por outro algummotivo, consta que El-Rei D. Afonso V depois de haver cometido a governança dos

Page 4: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 4 de 89 ::

lugares da África ao Príncipe Herdeiro D. João, também o encarregou da administraçãodas rendas e Tratos da Mina e Guiné, ficando logo Fernão Gomes desobrigado decontinuar nos descobrimentos que durante o seu contrato chegaram ao Cabo de SantaCatarina, na altura de 2 graus e 9 minutos ao sul do Equador, 10 léguas distante do Riode S. Mexias e último limite meridional do Governo de S. Tomé. Não consta que os portugueses levantassem fortalezas na Costa da Malagueta, mas sabe-se que tinham estabelecido muitas feitorias de comércio nos lugares para isso maisacomodados; subindo porém ao trono El-Rei D. João II em 28 de Agosto de 1481, ordenoueste grande Príncipe que se armasse logo uma esquadra com toda a gente e materiaisnecessários à construção de uma boa fortaleza no lugar mais azado e rico a quechamavam - Porto da Aldeia das Duas Partes - na qual se pudesse resistir a força dosPríncipes da Europa que invejavam a riqueza e glória de Portugal; e que tambémsujeitasse os naturais do país quando sucedesse oporem-se aos desígnios do Rei dePortugal. Esta expedição preparou-se com o maior segredo e celeridade; e muitoscavalheiros principais requereram a El-Rei o comando dela. Fernão Lourenço foi o que mais se empenhou; e o monarca agradecendo-lhe fez escolhaDiogo de Azambuja, fidalgo de sua casa respeitável pelos seus serviços prestados nasocasiões mais arriscadas. Fernão Lourenço foi escrivão da Fazenda Real.

Fig. 2 - Visão do Castelo da Mina, no planisfério dito de Cantino. (1502) Embarcados os materiais para a construção da fortaleza em duas grandes urcas, saiuDiogo de Azambuja de Lisboa no dia 12 de Dezembro do sobredito ano de 1481, enavegou em direitura à ilha de Bezeguiche (a Gorêa dos tempos presentes) onde oestavam esperando dez navios de transporte que poucos dias antes tinham saído com 100artífices, 500 soldados e várias mulheres a título de serviço em uma praça de África, parase não desconfiar do verdadeiro destino desta armada. O Governador não teve demoraalguma na ilha de Bezeguiche (nome do régulo da ilha) e por isso no dia 19 ou 20 deJaneiro de 1482 deu fundo perto do rio da Aldeia das Duas Partes; desembarcou logo epor meio de vários presentes aplanou as dificuldades que o régulo de Caramansa e osseus principais (a quem já entre os portugueses chamavam - Cabeceiras - e agora os

Page 5: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 5 de 89 ::

ingleses chamam - Cabeshir -) se opunham à construção da fortaleza. No dia 22 meteu amão ao trabalho que deu motivo a embaraços religiosos, por se destruírem várias pedrase árvores que eram pelos habitantes reputadas como divindades. Esta veneraçãoreligiosa fez com que os portugueses chamassem - feitiço - aos ídolos e objectos deadoração dos pretos africanos; e a palavra feitiço foi transformada em fetiche ou fetish,termo geralmente usado pelos estrangeiros para designarem ídolos da Costa da África.Os portugueses ainda hoje dão o nome de feitiços aos ídolos que sejam pedras, árvores,peixes, insectos, répteis, rios ou mar, quando são adorados como divindades pelos pretos,e por isso aos sacerdotes chamam - padres feitiços ou feiticeiros. A língua portuguesa foigeralmente conhecida na Costa da África assim como ainda o é na Ásia, mas agora naCosta da Guiné, Mina, Benim e Gabão acha-se suplantada pela inglesa e holandesa nospróprios lugares em que existiam fortalezas e feitorias de Portugal. Feitiço em línguamina é Njong. Quando a esquadra de D. Diogo de Azambuja aportou à Aldeia das Duas Partes, estava aínegociando um navio português cujo capitão João Bernaldes foi muito útil àquele general.O régulo Caramansa vendo a riqueza dos oficiais das embarcações de Azambuja e osornatos e atavios de que ele usava e comparando-os com a mesquinhez dos mestres ecapitães das caravelas com quem então tratava, ficou entendendo que Diogo daAzambuja era irmão ou filho do Rei de Portugal e muito mais admirado ficou quando elelhe disse que apenas era um dos seus mais humildes vassalos. Estes e outros actos deveneração e respeito com que a lealdade portuguesa muito se honrava, faziam-naestimada por todos os povos do universo. Os estudiosos sabem qual foi o espanto doshabitantes de Liampó ou Ning-pó da China quando viram as obsequiosas atenções dosportugueses para com António de Faria e quando este lhes disse que bem longe de serirmão do Rei de Portugal ou seu parente próximo, era apenas filho do ferrador dos seuscavalos. Apontei estes factos históricos para se conhecer que antes da fundação docastelo da Mina, iam lá negociar só os portugueses. A fortaleza concluiu-se com grande brevidade e recebeu o nome de S. Jorge por serdefensor de Portugal e acrescentou-lhe a palavra - Mina - por tal ser o nome que osportugueses davam ao lugar a que do interior de África afluía uma soma imensa de ouroalém do que todos os dias se tirava das areias do rio Banja quando a maré está baixa. Osábio conselheiro João Pedro Ribeiro pensa que depois de se achar construída a Fortalezada Mina, cunhou-se uma medalha por artífice alemão a qual é de ouro e peso de 24$000réis. Também se cunharam dobrões com o ouro da Mina e o nome de portugueses. Diogo de Azambuja logo que pôs a fortaleza em estado de defesa fez recolher a Portugala gente desnecessária conservando unicamente 60 homens e 3 mulheres. O Azambujaesteve durante 3 anos e 7 meses, e quando se retirou para Lisboa foi mui bem recebidopelo Monarca que lhe deu o título de seu Conselho Vedor das Artilharias e foi por El-ReiD. Manuel nomeado Capitão da Cidade de Çafim ou Safim, no reino de Marrocos emJunho de 1507. Ele esteve presente no Paço de Setúbal em o sábado dia 28 de Agosto de1484 em que foi assassinado por El-Rei D. João II o Duque de Viseu, D. Diogo irmão donovo Rei D. Manuel. Garcia de Resende diz que o Azambuja estivera fora de Portugal doisanos e sete meses, outro escritor declara que estivera só dois anos.

Page 6: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 6 de 89 ::

El-Rei D. João enobreceu a povoação de S. Jorge da Mina com o foral de cidade por cartarégia de 15 de Março de 1486 e tal era a conta em que tinha a fortaleza que se deliberoua juntar aos títulos reais o de “Senhor da Guiné”. Igualmente fez espalhar a notícia denão poderem os navios redondos sulcar aqueles mares e até se conta que mandara matarem Castela e em Portugal dois marinheiros e um piloto que se ofereceram a conduzirembarcações castelhanas àquelas paragens. É mui provável que quando El-Rei falava nadificuldade da navegação só tinha em vista a impossibilidade dos desembarques naspraias em embarcações de quilha por causa do banco de areia grossa ou solão, que há emtoda a Costa da Mina desde o Castelo do Cabo Corso até ao rio de Benim ou Formoso. Obanco só pode ser atravessado em grandes canoas construídas na Mina ou em Achem, asquais exigem pelo menos 20 remadores e dois pilotos. As embarcações de quilha ficamfundeadas fora do banco, sobre o qual a arrebentação do mar é verdadeiramenteespantosa. Os pilotos e remadores pretos fazem diversos sacrifícios aos seus feitiçosantes de meterem as proas ao banco e quando a arrebentação não permite a passagem,dizem que o mar está homem e quando podem passar dizem que o mar está mulher.Estas palavras mostram o domínio que a língua portuguesa gozou naqueles lugares. Nacidade da Mina havia um administrador eclesiástico das igrejas de todas as fortalezas dolitoral e do sertão. El-Rei reservou para a coroa o monopólio do ouro da Costa da Mina, assim como o domarfim e nenhuma embarcação podia lá ir negociar em escravos ou outros quaisquergéneros sem licença dos vedores da fazenda de Portugal e os pilotos e companhos dosnavios mercantes só podiam entrar na Fortaleza nos dias de feira e nunca em outrasocasiões. O Governo de Castela teve mui sérias desavenças com o de Portugal por causado domínio e resgate ou comércio do ouro na Costa da Mina; e no ano de 1481 o Capitão-mor da Armada Jorge Correia, Comendador do Pinheiro, destroçou junto à mina 30embarcações castelhanas às ordens de D. Pedro Cavide, o qual foi conduzido a Lisboa.Assim o diz Manoel de Faria na sua Europa Portuguesa. Muitos escritores reputam falsaesta notícia da derrota dos castelhanos.Os holandeses atacaram a fortaleza de S. Jorge da Mina no ano de 1597, sendogovernador Cristóvão de Melo e foram obrigados a retirar-se com a morte do General. Noano de 1625 (?) tornou a ser acometida por uma esquadra de 19 embarcaçõescomandadas pelo Almirante Balduíno Henrique Leclerc que usaram (?) 2000 homens dedesembarque. O Governador D. Francisco de Souto Maior tendo apenas 57 portugueses e900 pretos (da terra) defendeu-se gloriosamente. Os giacas ou galas ou chamgulas (?) nairrupção que fizeram até à Serra Leoa no séc. XVII atacaram a Fortaleza da Mina no anode 1609. Ultimamente no ano de 1638 os holandeses com 9 embarcações comandadaspelo General Yperen e Coronel Coin ou Koin, Capitão da Guarda do Conde Maurício deNassau, com 900 soldados e 500 marinheiros apoderaram-se da Cidade e Fortaleza de S.Jorge da Mina cuja guarnição montando a 200 homens e 30 peças de Artilharia com 2000libras de pólvora entregou-se por capitulação em consequência da fraca defesa dogovernador. Esta guarnição foi remetida para a Ilha de S. Tomé e tornou a seraprisionada pelos holandeses quando tomaram a Fortaleza de S. Sebastião como adiantesevera. Cumpre dizer que os 200 homens do Castelo da Mina, eram pela maior partenaturais do país.

Page 7: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 7 de 89 ::

Além da Fortaleza de S. Jorge possuíam os portugueses a de S. António de Achem junto àfoz do Rio das Cobras ou Manso ou Sennie, 10 léguas distante do Cabo das Três Pontas,os ingleses corrompendo sempre as palavras portuguesas, chamam Ankobar ao rio dasCobras. El-Rei D. Manuel mandou construir aqui uma boa fortaleza em o ano de 1515 e ocomércio de ouro e marfim, ficaram privativos à Coroa até que pelo Alvará de 20 deMarço de 1520 se ordenou ao feitor que os escravos que se resgatassem (comprassem)fossem pagos pelos preços que ele ajustasse e depois seriam vendidos aos particulares.Por este modo o governo monopolizou todo o comércio da povoação e da fortaleza. Quando o governador de S. Tomé participou ao Governo português a perda do Castelo daMina, recebeu ordem para mandar fortificar o melhor que fosse possível a Fortaleza deSanto António de Achem; isso não bastou pois que os holandeses havendo intimado debalde o Governador logo que se fizeram senhores da Mina, conseguiram apoderar-se dade Achem no dia 9 de Fevereiro de 1642, depois de uma defesa mui heróica. Ohistoriador Dapper que muitas das vezes é inexacto, diz a respeito do Castelo da Minaque os portugueses o perderam por motivos de intrigas que havia entre eles. Há umacarta escrita pelo Governador de S. Tomé Lourenço Pires de Távora em que se achamexpendidas essas intrigas vergonhosas as quais eram atiçadas a propósito pelo Generaldas forças holandesas. Pouco mais de duas léguas a leste da Mina tinham os portugueses os Castelo do CaboCorso, que os ingleses chamam Cape Coast. Depois de fundado o Castelo da Mina foihabitar no Cabo Corso um português chamado João Correia ou D. João Correia e do nomedele ficou a sua feitoria conhecida pelo apelido de cabo do Correia. Para se pôr a cobertodas hostilidades dos holandeses determinou o governo no ano de 1610 que se construísseali uma cidadela que foi tomada por aqueles encarniçados inimigos dos reis de Espanhano mesmo tempo em que se fizeram senhores de Achem. O Almirante inglês Holmes tomou-o aos holandeses e arrasou as fortificações no ano de1614. Para vingar este insulto foi o Almirante holandês Ruyter com uma grande força àCosta da Mina (13 navios de guerra), atacou e destruiu as fortalezas e feitorias inglesas emeteu a pique todos os navios desta nação que encontrou durante o cruzeiro. O Castelode Cabo Corso que já tinha sido fortificado ou de novo construído pelos ingleses foi oúnico estabelecimento que escapou à sanha holandesa. Pelo Tratado de Breda em 1667,confirmou-se a posse dele aos ingleses. João Correia ou D. João Correia faleceu em 1561.O Castelo tinha 90 peças e uma boa guarnição por temor dos achantins (tribo local). Duas léguas e meia a oeste do Castelo da Mina estão dois fortes separados por um rio; aum deles chamam Comenda Grande e pertence aos ingleses; ao outro dão o nome deComenda Pequena ou Aquitaqui e pertence aos holandeses. Alguns escritores chamamGuaffo à Comenda Grande e Eki à Comenda Pequena ou Aldeia das Torres. Eu ignoro se onome - Comenda - é termo português procedido de se haver criado alguma Comenda daOrdem Militar neste país, assim como nos anos de 1801 e 1802 se criaram 16 paraOrdem de Cristo em lugares ocupados e não ocupados pelos portugueses nas Costas daÁfrica oriental e ocidental. Destas comendas de 24$000 réis de rendimento pagos sobre

Page 8: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 8 de 89 ::

juros de empréstimos reais, pertencem à Costa da Mina as de S. Jorge da Mina e a de S.João Batista de Ajudá a sua criação foi por decreto de 14 de Novembro de 1802, queampliou o de 12 Julho do ano antecedente no qual se levantaram as 4 de Safi ou Çafim,Arzila, Mazagão e Azamor no reino de Marrocos. Verdade é que também se tem ouvido elido a palavra - Comendo - em lugar de Comenda, e por isso ignoro a sua etimologia, massei que no tal lugar da Comenda existiu uma fortaleza portuguesa que foi tomada pelosholandeses. Em Anamabu ou Anmaboe sete léguas a leste da Mina existiu outra fortaleza portuguesajunto à povoação cujo acesso é dificultoso por causa do banco que fica ao longo da costaem distância de um tiro de espingarda. Esta fortaleza esteve em poder dos portuguesesaté ao ano de 1679 em que os ingleses se tornaram senhores dela, sendo abandonadapelo seu governador Lourenço Pires Branco. Os negros do país que são muito valorososquiseram sitiar a fortaleza no ano de 1701, mas foram batidos pela artilharia inglesa. Noano de 1733 foi abandonada e daí a alguns tempos ocuparam-na novamente e puseram-na em tão bom estado de defesa, que nas últimas guerras contra o rei dos achantispuderam resistir aos seus exércitos. Os achantis que foram rechaçados na fortaleza nasquatro campanhas de 1807, 1811, 1816 e 1824 destroçaram-na última em o dia 21 deJaneiro o exército inglês e dos fortins seus aliados nas margens do Bosem Praa, sendomorto o Major General Macarthy Governador de todos os estabelecimentos da Costa daMina. Os ingleses viram-se obrigados a pedir a paz ao Rei Achantim, mas em 1826destroçaram-no debaixo das ordens do Coronel Peordon e impuseram aos achantins umacontribuição de 600 onças de ouro. A batalha foi perto dos montes de Aquepim, 6 léguasao norte de Acará no dia 7 de Agosto. O Rei fugiu para Comasia perdendo 8000 homens eperto de 5 milhões de cruzados em despojos. Agora existem boas histórias do ImpérioAchantim em cujas terras os portugueses no tempo da sua glórias tiveram relações muiseguidas por conservarem grandes estabelecimentos no interior do país em que estepoderoso Monarca actualmente governa (1830). Quem quiser conhecer a históriamoderna destes povos africanos, leia as obras dos Governadores Daltrel, Meredith eBowdich e a mais moderna de todas é a de Mr. Dupuis. Bowdich também escreveu aHistória dos descobrimentos dos portugueses em Moçambique e Angola. Julga-se que osachantins são colónias da Abissínia (?). Os portugueses possuíram mais na Costa da Mina, a Fortaleza de Acará ou Akra. Osnegros do país surpreenderam-na e queimaram-na no ano de 1578. Muito tempo depoisos dinamarqueses compraram as ruínas ao rei do país e conservaram-se na posse delacom o nome de Christiamembourg até ao ano de 1670 em que um grego da guarniçãoassassinou o Governador Ollaric de Gluckstad e ficou dispondo dela como sua. Os negrosdo país lançaram fora o grego. Um Cabeceira vendeu-a a Julião de Campos Barreto, quefora governador de S. Tomé desde 1673 a 1677. O Governador Campos Barreto, depoisde ser rendido tinha ficado na ilha tratando dos seus negócios, saiu para Acará no dia 11de Outubro de 1682 e pagou ao Cabeceira os sete marcos de ouro que lhos haviaprometido e deu à fortaleza o nome de S. Francisco Xavier. Nesse mesmo ano aguarnição sublevou-se contra o governador e por isso os dinamarqueses residentes noforte de Frederickbourg próximo do Cabo Corso, pedindo a restituição de Acaráconseguiram-na nesse ano de 1682 e conservaram-na até 1693 (ano) em que foram

Page 9: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 9 de 89 ::

expulsos pelos negros, mas tornaram ao depois a ocupá-la. O forte dinamarquês é omelhor que existe no porto de Acra e, a pouca distância dele, se acham os fortes inglês eholandês. Além destas fortalezas tiveram os portugueses na Costa da Mina os fortes de Samá ouChamá ou S. Sebastião; as torres de Aquitá e Assini e muitas feitorias e casasfortificadas. No interior do país tiveram ao longo dos rios de Cestos, Escravos, Lagoa,Sueiro da Costa, Santo André, Cobras e Volta ou Adirrahy e Assuadu, muitas casas efeitorias e até mesmo povoações com igrejas de alvenaria, algumas das quais andam nosmapas antigos marcadas com os nomes da Casa do Meirinho, Elefante, Grande, S.Lourenço. Foi pelo Rio das Cobras que ao tempo de D. João II subiu a embaixada ao Reidos sousos ou songos e mandingas em 1530. O Monarca dos songos ou sousos um dosmaiores conquistadores daquele tempo tinha a sua corte a 140 léguas distante da Cidadede S. Jorge da Mina ao rumo do nordeste, era maometano e ficou tão orgulhoso pelaembaixada que chegou a declarar que nenhum dos 4.404 reis de quem descendia foravisitado por este modo por um príncipe cristão, e que ele só conhecia até esse tempoquatro reis poderosos a saber o Al-Yemen ou Arábia Feliz, o de Bagdad, o do Cairo ouKahera e o de Tukurol, mas agora via que o de Portugal era mais considerável. O nomedo rei dos sousos era Mahomed-Ben-Mani-Zugal, e neto de Musa Rei dos songos ou dossousos. Maemol diz com efeito serem 4.404 reis, mas outro escritor entende que são 404os descendentes do Rei Meemede. As comunicações e o intercurso comercial, diplomático entre as fortalezas e feitoriasmarítimas e os potentados songos, sousos e mandingas e outros do centro da África quecomo já se disse não eram nos tempos antigos nem tão bárbaros nem tão intolerantescontra os portugueses por motivos de religião, ficaram interrompidos desde que os galase changalas e outros povos orientais invadiram as terras da África ocidental ao norte doEquador e não se puderam restabelecer tanto em razão do domínio dos reis de Espanha ePortugal, como por serem tomadas pelos holandeses as praças e feitorias da Costa. O lugar da Costa da Mina onde se armou a bandeira portuguesa até 1961 é o Castelo ouFeitoria de S. João Batista de Juidá ou Ajudá. Este Castelo que está contíguo ao forteinglês e ao francês foi construído no ano de 1680 pelos governadores da Ilha de S. Tomé,Bernardim Freire de Andrade e Jacinto de Figueiredo e Abreu, os quais partiram destailha no dia 18 de Março a bordo da Nau Madre de Deus acompanhada da fragata SantaCruz que para esta diligência tinha ido de Lisboa a S. Tomé; a fortaleza construída deestacadas e barro no lugar comprado ao soberano junto ao seu palácio de Xavier ficou empouco tempo em estado de defesa; os dois governadores recolheram-se à ilha de S. Toméno dia 2 de Setembro do mesmo ano. Jacinto de Figueiredo tomou posse do governo de S.Tomé no dia 4 deste mês e Bernardim Freire seguiu naqueles navios para Portugal.Enquanto os amigos e fracos Reis de Juidá ou Uidá ou Ajudá foram senhores do país, osportugueses e os ingleses e franceses que também ocupavam castelos a pequenadistância do forte português, receberam tratamento generoso do Monarca e dos seusvassalos; mas logo que no ano de 1727 o rei dos dagomés ou dahumás Guadja tendoconquistado os Estados de Juidá, Andra, Gregoé e outras 33 pequenas províncias, têm osdirectores ou Governadores dos fortes recebido os mais cruéis e despóticos tratamentos

Page 10: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 10 de 89 ::

pelos bárbaros Monarcas e seus Capitães de Guerra, que estando protegidos pelo bancode areia que há ao longo das Costa, não temem os resultados que quaisquer medidas queos europeus projectem contra elas. A insolência do Monarca Dagomé chega ao ponto denão permitir que as casas e armazéns dos fortes sejam cobertos de telha; eles estãoabrigados com palha a fim de serem facilmente incendiados pelos pretos em caso deguerra. O Dagomé diz que a Artilharia dos fortes é para defendê-lo contra os seusinimigos e não para ofender a ele ou aos seus vassalos. Em 1800 o rei mandou amarrarde pés e mãos e conduzir pendurado de um pau à semelhança de um porco, o director dafortaleza portuguesa Manuel de Bastos Varela que depois serviu no posto de TenenteCoronel na cidade da Bahia, alegando que a bandeira que arvorara na ocasião de seaproximar à costa uma embarcação portuguesa que seguia para Onim, servira de sinalpara não dar fundo no Porto de Juidá, em prejuízo dos direitos ou costumes que lhetocavam. O pobre director amarrado de pés e mãos esteve uma noite inteira na praia daLagoa em risco de ser devorado pelas imensas feras que ali há; e no dia seguinteembarcaram-no em um navio da Bahia, que estava negociando em escravos. O DirectorBastos Varela foi imediato sucessor de Cunha Mattos no Comando da Fortaleza de S.Sebastião na Ilha de S. Tomé antes de passar a servir na Fortaleza de Juidá. O rei deAchantim é soberano dos estados que confinam com o Dagomé: o Rio da Volta ouAsmader, a Anderria é limite dos dois impérios e este último Monarca menos poderosoque o de Achantim é tributário do rei de Gago ou dos Ajós ou Ejós cuja capital Katungaou Ajós está perto da margem direita do Rio Níger ou Kuerra, distante 30 dias de marchado porto de Badagra no Golfo de Benim ou de S. Tomé. O rei de Badagra, o de Ajudá, emuitos outros também são tributários do Ayó ou Gago, conforme as notícias colhidaspelos intrépidos Clapperton, Denham e Lander que depois de importantíssimos serviçosfeitos à Geografia, acabaram a vida nestes países selvagens pelo mesmo modo queaconteceram aos viajantes portugueses que os precederam nos descobrimentos dointerior da África. A diferenças que há entre uns e outros é que os viajantes ingleses porserem homens de há dois dias, transmitiram-nos parte dos seus itinerários e relações dasterras por onde andaram e as relações e itinerários dos portugueses perderam-se peladiuturnidade dos tempos, ou pelo mesmo modo que levaram descaminho as da segundajornada de Mungo Park e a mais interessante de Ricardo Lander, que se viu obrigado aservir-se das memórias de seu irmão e companheiro João Lander. Os portugueses que seaplicam ao estudo da história do seu país sabem muito bem que El-Rei D. Afonso Vmandou vir da Itália para Portugal um instruído religioso da ordem dos Pregadoreschamado Fr. Justo Baldino, o qual em 6 de Maio de 1483 foi eleito Bispo de Ceuta, com ofim de escrever a História do Reino. O bom religioso recebeu todas as memórias escritasa respeito dos descobrimentos e outros graves negócios da nação portuguesa e porquefaleceu em 1493 antes de apresentar os trabalhos, perderam-se não só os seus escritos(se é que fez alguns) mas também os documentos originais em que se fundava. Admiracom efeito que o rei D. Afonso V que era mui instruído e escreveu sobre matériasmilitares e astronómicas, incumbisse a um religioso italiano a composição da História dePortugal; e é mui provável que algum capelão italiano do Bispo D. Justo remetesse para oVaticano e que lá existam os melhores monumentos para a História Portuguesa; por issoFernão Lopes de Castanheda dizia que no seu tempo (no reinado de D. João III) havia só 4pessoas que tinham conhecimento de História dos Descobrimentos e Conquistas dosPortugueses. Ora sendo isto muito certo, não é de admirar que em quase todos os

Page 11: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 11 de 89 ::

escritos modernos se repitam as mesmas coisas que se encontram em obras antigas semse avançar no terreno da História uma única polegada. Os felatas vêm estendendo as suas conquistas para o sul contra os ayós e niffés e outrospovos. Pelo que se acabou de ver a Costa imensa que formava a antiga Capitania chamada daMina compreendida entre o Cabo Mesurado até ao Cabo Formoso não pertence mais aosportugueses, excepto o recinto do Forte de Juidá, enquanto os dagomés consentirem epor isso em observância do alvará de 15 de Dezembro de 1641, a navegação doshabitantes da ilha de S. Tomé e a jurisdição dos seus governadores se estendeu a toda aCosta da Mina, devendo os despachos dos navios que navegavam nessa costa ser feito naFortaleza de S. António da Achem; mas depois que os governadores da Bahia ficaramcom jurisdição na Fortaleza de Juidá o Governo de S. Tomé só tem autoridade nas terrascompreendidas entre o Rio e Cabo Formoso e o Cabo de Santa Catarina. Esta autoridadee jurisdição do Governador é de todo nominal e verifica-se unicamente acerca dos crimesque contra os reis das terras cometem as equipagens dos navios portugueses quecomerciam nos respectivos portos e ao depois vão fazer os seus despachos à ilhas de S.Tomé ou de Príncipe, cujos Governadores são obrigados a procederem a devassa sobre ocomportamento das tripulações para com os ditos reis das Costas, seus principais evassalos. Assim o determina ao Capítulo 7º do Regimento dos Governadores datado de 24de Outubro de 1698. Ora os príncipes africanos deste e outros governos nominaisdeixaram de prestar obediência e vassalagem à coroa de Portugal por saberem que osportugueses não conservavam forças em S. Tomé e outros pontos da Costa de Áfricapelas quais se fizessem respeitar e exigir satisfação dos insultos que os bárbaroscostumam praticar. Aqui reina o direito do mais forte e nunca o da justiça e o da razão;aqui todos tratam da sua conservação individual e desgraçado é aquele que negoceia nosportos da África sem precauções e cautelas, os melhores dos quais são os parentes dosreis, suas mulheres e filhos e os dos Cabeceiras ou chefes com quem se tratam negóciosque ficam como reféns ou penhoras a bordo dos navios até se ultimarem os pagamentosajustados na ocasião de se entregarem os direitos ou …. (costumes?) … aos soberanos eos presentes (dádivas) tanto a eles como aos seus oficiais. Os pretos ordinariamentecompram fiado e nunca pagam antes de serem obrigados. Na Costa da África e outroslugares do litoral conservam-se em uso muitas palavras portuguesas nas transacçõescomerciais, por exemplo: Capitão por Chefe, dacha por presente, palavra por ajuste,questão por ……., costumes por direitos, cerimónias, pano, braça, barra, ….., e muitasoutras, o que prova a consideração em que era tido antigamente o Reino de Portugal;outro tanto acontece no país denominado Senagâmbia e na Costa da Ásia. A línguaportuguesa que era quase geralmente entendida como o é actualmente a língua inglesausada no Mundo. 3.e.2 - Mina e Ajudá (meu ponto de vista)

Page 12: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 12 de 89 ::

Fig. 3 - Castelo da Mina hoje - Castelo de S. Jorge da Mina: Esta fortaleza também conhecida por Castelo de São Jorge da Mina ou simplesmenteMina tomou a designação de Elmina quando tomada pelos holandeses. Como Feitoria, sucedeu em importância militar e económica à Feitoria de Arguim que jáfuncionava em 1461 como capitania mor. Arguim assinalava o limite da África islamizada,e a Mina teve a função inicial de assegurar a soberania e o comércio de Portugal no Golfoda Guiné, fonte maior de riqueza do país até se iniciar o ciclo da Índia após 1498.Apovoação de S. Jorge da Mina recebeu carta de foral em 1486. Na altura do tráfico de escravos no Atlântico, readquiriu importância como entrepostoonde os cativos eram mantidos a aguardar transporte para a América. Cristóvão Colombo serviu neste forte como marinheiro sob comando português. Sendo a mais antiga fortificação ao sul do Saara foi declarada Património Mundial pelaUnesco em 1979. Desde 1637 quando o Castelo da Mina foi tomado pelos holandeses que Portugal nadatem a ver com este forte; e em 1873 passou o mesmo para as mãos dos ingleses. - São João Baptista de Ajudá

Page 13: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 13 de 89 ::

Fig. 4 - Casa forte e residência do pessoal de Ajudá, hoje museu. Foi enclave português até 1961. Era muito pequeno com cerca de um quilómetroquadrado situado no interior do Dahomé e a umas 36 milhas (60 quilómetros) da Nigéria. Foi outrora um ponto de comércio de marfim e fortaleza, datada do séc. XVII, quando setornou um centro de comércio de escravos. Em 1894 os franceses ocuparam o Dahomé, mas como Portugal mostrou interesse em semanter em Ajudá, os franceses concordaram. Depois de ter sido retirada a força militarunicamente existia um residente e um secretário, sendo uma dependência da colónia deS. Tomé e Príncipe. O forte foi fundado pelo capitão da marinha mercante José Torres em 1721, estandodependente da Baía (Brasil), mas com a abolição da escravatura, a inde-pendência doBrasil em 1822 e a morte do último director, Xavier de Sousa em 1824, entrou emdecadência. Foi o fim do período brasileiro. Desde Dezembro de 1885 até Dezembro de1897, ao abrigo das disposições da conferência de Berlim, o litoral de Dahomé foideclarado protectorado português. Por ordem do Ministro da Marinha, o governador de S. Tomé, José Maria Marques,nomeou em 1844 o segundo tenente de artilharia José Joaquim Libânio como comandantedo forte. Este oficial acompanhado de um capelão e de uma força militar, desembarcouem Ajudá, iniciando uma ocupação militar que se manteve até 1912, ano em que ocomandante, na época, alferes de infantaria Guilherme Spínola de Melo, embarcou com aforça sob o seu comando, para S. Tomé. Como dissemos foi o tráfego de escravos queatraiu a Ajudá o comércio de nações estrangeiras. Quando ali nos estabelecemos já lá seencontravam os ingleses instalados no seu forte-feitoria.

Page 14: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 14 de 89 ::

Mais tarde apareceram os espanhóis (séc. XIX) que até então se limitavam a buscarprovimento de escravos para as suas colónias nas Antilhas. Como a Companhia do Cacheu e Cabo Verde abriu o comércio do Brasil aos produtos doDahomé, Ajudá desenvolveu-se, mas quando o tráfico de escravos foi tornado ilícito, asoutras nações abandonaram as suas feitorias. Manteve-se no local unicamente um residente, e em 1946 foi criado o lugar de secretário.Em 31 de Julho de 1961, face ao ultimatum do governo de Dahomé o residente CapitãoSaraiva Borges e seu secretário, Meneses Alves, incendiaram as instalações de Ajudá eforam retirados dos escombros pelas forças armadas de Dahomé. A anexação do enclavepelo Dahomé foi reconhecida em 1985. 3.e.3 - Ano Bom Ilha de Ano Bom (segundo Cunha Matos, também em itálico) Acha-se situada em a latitude de 1 grau e 28 minutos meridionais, e aos 20 graus e 45minutos de longitude do meridiano da Ilha do ferro (Canárias).[Dados do Google Earth: Latitude 1º24’51,49” Sul Longitude 5º37’04,75”Este (Greenwich)]Diz-se que foi descoberta pelos navios de João de Santarém e de PedroEscobar em 1 de Janeiro de 1472 posto que Martim Behaim no seu globo planisférico deNuremberg declarasse ter sido encontrada pelos navios de Diogo Cão no ano de 1484 ou1485, isto no caso de ser a mesma ilha de Ano Bom a de S. Martinho de que ele trata; épequena e de figura quase oval e extremamente montanhosa. Foi erigida em capitania donatária de juro e herdade a favor de Jorge de Melo. Gaspar daSilva segundo Capitão Donatário foi casado com Dona Maria de Almeida e foram pais deD. Luísa da Silva casada com António de Melo e tiveram a Dona Maria da Silva que casoucom Martim da Cunha d’Eça e estes: D. Maria da Silva casada com Pedro de Brito eAtaíde. É isto o que eu encontro no Teatro Genealógico dos Grandes de Portugal respeitode Gaspar da Silva; mas recorrendo às memórias mais autênticas e circunstanciadas quepude alcançar achei um assento junto ao auto do Sínodo Diocesano celebrado em S.Tomé no dia 15 de Junho de 1617 que unido a outras notícias põem-nos ao facto dosenhorio desta ilha.

Page 15: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 15 de 89 ::

Fig. 5 - Planta de Ano Bom, AHU, Cartografia manuscrita, África, nº 1260. Consta pois que durante o tempo de Jorge de Melo, primeiro Senhor Donatário, ajustavacom ele Baltazar de Almeida morador na Ilha de S. Tomé povoar-se a ilha de Ano Bomcomo era obrigado pelo título da sua doação. Baltazar de Almeida remeteu alguns casaispara a mesma ilha e seu sobrinho Luís de Almeida também morador em S. Tomé fezcompra do senhorio dela em 1570 a Jorge de Melo pela quantia de 400$000 réis compermissão de El-Rei D. Sebastião. Este Luís de Almeida instituiu o Morgado dasLaranjeiras da ilha de S. Tomé e entre outras obrigações impostas aos futurosadministradores foi a de conservarem um sacerdote na ilha de Ano Bom, repararem aigreja e terem os ornamentos que fossem necessários. Ao Morgado das Laranjeirasachavam-se incorporadas umas propriedades de casas as quais ficaram para residênciados Curas ou Vigários da Freguesia da Conceição que por isso seriam obrigados adizerem uma missa rezada em cada semana e um responso sobre a sepultura de Miguelde Vasconcelos, irmão do referido Luís de Almeida que estava enterrado na mesma igrejade N. Sª da Conceição. Como estas casas eram de madeira foram abrasadas quando osholandeses incendiaram a cidade de S. Tomé. Luís de Almeida faleceu sem descendentes e deixou a administração do Morgado dasLaranjeiras a D. Maria de Almeida, sua prima, em cuja linha andou até que foisequestrada no dia 25 de Março de 1744 a Martinho da Cunha d’Eça e Almeida, por faltade título legítimo para aquela posse. Pelas memórias do Sínodo Diocesano de S. Tomé.mostra-se que D. Luísa da Silva era moradora na vila de Soure em Portugal. Mui poucas são as notícias sobre o antigo estado da Ilha de Ano Bom. No ano de 1598 oCapitão holandês Jacques Maypay comandante de cinco navios que iam para a Índiasaqueou a ilha. A povoação principal tinha nesse tempo 20 casas. O Capitão continuou a

Page 16: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 16 de 89 ::

sua viagem no dia 12 de Dezembro. No ano de 1605 tornou a ser saqueada pelo Capitãoholandês Matalief. Existiam aí dois portugueses e 200 moradores pretos. Pelo capítulo 42do Regimento dos Governadores de S. Tomé, está determinado que aí se conservesacerdote para administrar os sacramentos aos habitantes, cuja côngrua será paga peloDonatário ou pelo Cofre da Fazenda Real. No ano de 1755 foi nomeado PárocoMissionário Fr. Francisco Pinto da Fonseca, Freire da Ordem de Cristo e irmão de D.Manoel Pinto da Fonseca, Grão Mestre da Ordem de S. João de Jerusalém, mas comofalecera foi nomeado em Setembro deste ano o Padre Domingos Farias o qual nãoaceitando teve por sucessor o Padre Manoel do Nascimento Pais e Oliveira, e apenaschegou este eclesiástico, sublevaram-se os habitantes contra o mesmo e seuscompanheiros os quais para salvarem as vidas foram obrigados s fugir da Ilha. Outrotanto aconteceu aos cónegos de S. Tomé António Luís Monteiro e Gregório Martins dasNeves, que ali foram por ordem do Governo Português em companhia do Capitão Mor dasIlhas de Príncipe e S. Tomé Vicente Gomes Ferreira e do Ouvidor Geral CaetanoBernardes Pimentel de Castro e Mesquita, no dia 26 de Setembro de 1770. Os Cónegosnão puderam conservar-se na ilha por tempo excedente a um ano e quase sempre debaixoda mais cruel perseguição daquele povo indomável. O mais célebre acontecimento acerca da ilha de Ano Bom foi a da entrega e posse quedela tomou a Coroa de Espanha em virtude do Tratado de 11 de Março de 1778 eparticipado ao Capitão-Mor das ilhas de Príncipe e S. Tomé em carta Régia de 2 deNovembro do mesmo ano, cuja execução foi pelo modo que se segue. No ano de 1778 chegaram à Ilha de S. Tomé as Fragatas espanholas Soledade debaixodas ordens do capitão de Navio José Varela e Ulhoa, a Santa Catarina comandada pelocapitão de navio Joaquim Tapeta, um bergantim1 e uma charrua2. A bordo destes naviosfoi o Conde de Argelar Brigadeiro do exército espanhol nomeado Governador Militar ePolítico das ilhas de Ano Bom e Fernando Pó, cedidas a El-Rei Católico pelo sobreditoTratado. O Governador de S. Tomé Vicente Gomes que não tinha recebido a esse tempoordens algumas da Corte de Lisboa para se fazer aquela entrega em que acreditava porver as cópias das cartas régias, que o Governo português lhe havia dirigido, entreteve oConde por algum tempo esperando que chegasse as fragatas portuguesas com ocomissário desta nação que devia fazer a entrega das colónias ao espanhol; esteComissário era o Capitão de Mar e Guerra Bernardo Ramires Esquível que depois foisubstituído pelo capitão de Mar e Guerra Luís Caetano de Castro, por motivo que ignoro.Algum tempo depois (em Julho de 1779) (de) chegaram as fragatas3 espanholas deu fundoa Fragata Portuguesa N. Sª. da Graça no fim do termo da viagem, comandada pelo ditoLuís Caetano de Castro que foi munido de plenos poderes para fazer a entrega. Nestafragata ia o Governador João Manoel de Azambuja. Os navios das duas nações largaramimediatamente para a ilha de Fernando Pó, onde o Comissário e Governador espanholConde de Argelar tomou posse da colónia. Daqui regressaram a S. Tomé e durante estaviagem faleceu o conde de Argelar. De S. Tomé foram para a ilha de Ano Bom cujoshabitantes se opuseram à entrega o que deu motivo a retirar-se para a Bahia de Todos osSantos, a Fragata portuguesa Graça cujo comandante deu parte ao Governo de nãoquererem os espanhóis tomar posse de Ano Bom contra a vontade dos moradores. Na

Page 17: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 17 de 89 ::

ausência da fragata Graça voltaram os espanhóis à ilha Fernando Pó, aí formaram o seuestabelecimento na enseada junto às ilhas Capras e deram-lhe o nome de S. Carlos eporque lhes morresse muita gente voltaram para S. Tomé. O Comandante da FragataGraça recebeu na Bahia ordem para regressar a S. Tomé e quando ia na viagemencontrou-se com a Fragata S. João Baptista comandada por José de Sousa de CasteloBranco que lhe trazia ordens de Lisboa para fazer efectiva a entrega da ilha de Ano Bompor qualquer modo que fosse. Poucos dias depois da chegada em S. Tomé seguiram todasas embarcações para a ilha de Ano Bom cujos habitantes vendo tão numerosa esquadrafugiram para os matos e daí insultavam os espanhóis quando conheceram que a bandeiradesta nação tinha cachorros (os leões) e entenderam que o Rei de Portugal havia feitovenda deles como escravos para irem para a América. Alguns homens da Ilha de Ano Bomdisseram-me que a fuga para o mato foi depois que viram prender um homem chamadoPedro Martins, mas outros me informaram que esta prisão tivera lugar dentro de umacasa em que ele se ocultara na ocasião da fuga do povo para o mato. A tropa quedesembarcou e os navios fizeram algum fogo contra a terra. Este acontecimento acabou de desacorçoar4 os espanhóis e como eles já então haviamperdido o Conde de Argelar o Ministro da Fazenda Real e 300 marinheiros e soldados,tendo os portugueses também perdido acima de 150 homens, houve uma sedição a bordodos navios espanhóis dirigida por um sargento de artilharia e os sediciosos obrigaram aoTenente Coronel D. Joaquim Primo de Rivera sucessor do Conde Governador, e aoCapitão do navio D. José Varela a regressar a S. Tomé donde fizeram (viagem?) para oRio da Prata. Assim acabou a expedição da colonização espanhola das ilhas de Ano Bom eFernando Pó, em prejuízo de ambas as monarquias que entraram no contrato. O avisoexpedido a Luís Caetano de Castro para expedição das ilhas foi datado de 19 deFevereiro de 1779 e o abandono pelos espanhóis foi em 1780. Estes disseram quelargaram a colónia e recolheram-se a Rio da Prata por temerem serem aprisionados pelosingleses com que (m) então começavam a ter guerra. No ano de 1810 aportou à ilha de Ano Bom um bergantim da Bahia que regressava daCosta da Mina e pretendia tomar aí alguns mantimentos para os escravos de que seachava carregado. O Capitão-mor da ilha foi logo a bordo na forma do costume parareceber os presentes ou pagamento da licença de negociar e com ele foram maiscinquenta pessoas pela maior parte homens e rapazes; como ventava muito o bergantimgarrou, fez-se à vela e apesar de todas as diligências não pôde tomar o porto e viu-seobrigado a conduzir aqueles homens à Ilha de S. Tomé. O Governador Luís JoaquimLisboa recebeu e arbitrou uma pequena mesada para sustentação do Capitão-mor e aoutra gente agregou-se aos seus numerosos patrícios que por motivos semelhantes ouainda piores vivem e sustentam-se pela pescaria na ilha de S. Tomé. O Governador deuparte destes acontecimentos ao Ministério do Rio de Janeiro, o qual em conformidade daopinião do mesmo Governador ordenou que o Capitão Mor e habitantes de Ano Bomfossem conduzidos à sua terra, que fossem acompanhados por um eclesiástico, que seconhecesse o modo de pensar da população acerca do Governo português e que depoisdo seu desembarque fosse o navio examinar as paragens em que se diz existir ou haverexistido a ilha de S. Mateus. O Governador mandou logo aprontar a escuna artilheira

Page 18: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 18 de 89 ::

comandada por José Joaquim Veloso, primeiro piloto da Armada Real e pediu que senomeasse o Padre Simão de Sousa e Oliveira para ir como missionário. Este eclesiásticohomem preto muito honesto e o mais próprio que na ilha existia para tal missão, nãoduvidou sujeitar-se aos riscos que acompanham aos clérigos brancos ou pretos que seestabelecem na ilha de Ano Bom cujos habitantes só respeitam os Barbadinhos Italianos,talvez por serem mais circunspectos acerca das mulheres, por terem barbas compridas epor falarem uma linguagem diferente da portuguesa. A escuna saiu para a ilha de AnoBom no fim do ano de 1811 com toda a esperança de encontrar acolhimento, porquepoucos dias antes de se fazer de vela aportou a S. Tomé uma canoa com seis homens daoutra ilha os quais com outros 54 indivíduos de ambos os sexos e idades foram expostosàs ondas em pequenas canoas por um fanático chamado André que os acusou de crime defeitiçaria e de serem causadores do desaparecimento do capitão Mor e dos 50 homensque agora estavam para regressar à sua terra. A exposição às ondas em pequenas canoascom uma cabaça cheia de água, alguma farinha e peixe é o castigo que se dá aosindigitados como feiticeiros na Ilha de Ano Bom; a corrente da água e o vento do sul parao norte conduziu algumas vezes até à ilha de S. Tomé, a qual se avista de mais de 30léguas (150 km?) de distância, acontecendo porém não descobrirem a ilha por estarcoberta de nevoeiros perecem infalivelmente como aconteceu aos 54 lançados ao marpelo André. Quase todos os homens e mulheres da ilha de Ano Bom que existem em S.Tomé foram expostos às ondas como feiticeiros. Basta uma voz que acuse a qualquerpessoa de feiticeira para insensivelmente ser lançada ao mar. A escuna artilheira teve uma viagem feliz até à ilha de Ano Bom, os ilhéus vieram logo abordo encontrando o Capitão-mor e os seus patrícios, que reputavam perdidos; foram darparte ao fanático André que estava governando a terra desde que desaparecera ocapitão-mor. O André mandou logo proibir as comunicações da gente da ilha com os donavio e muito de longe fez dizer ao Comandante que - Deus lhe tinha dito que nãorecebesse o capitão Mor e os seus patrícios porque tinham aprendido feitiçaria em S.Tomé e que também não recebesse o padre, porque ele só queria Barbadinhos e nãoClérigos Pretos. Nestas circunstâncias o Comandante regressou com os passageiros àilha donde tinha saído, ficando assim frustrada não só esta comissão, como também a deindagar da existência e qualidades da ilha de S. Mateus. O mencionado André fez-seaclamar Rei da Ilha de Ano Bom no ano de 1814 e tomou como insígnias reais asvestimentas de celebrar missa. Cunha Mattos contactou com o Capitão-mor em 1815 e obteve conhecimentos sobre ailha que se transcrevem: Na ilha há duas povoações principais e três aldeias. A Povoação principal recebe o nomede - Cidade da Praia - tem coisa de 300 braças de comprimento (cerca de 600 metros) e100 de largura (cerca de 200 metros); mais de 400 barracas ou choupanas cobertas defolhas de palmeiras e 5 igrejas. Perto da cidade corre um ribeiro chamado - Água Pata - oqual nasce em uma pequena lagoa que existe nas abas do Pico da Mãe Serafina; e não nocume como dizem alguns geógrafos. As igrejas da cidade são:- 1º N. Sª. da Conceição, a que chamam Sé, construída de madeira como são todos osquatro edifícios da ilha, e nela existem várias peças de prata antigas e uma píxide, cálice

Page 19: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 19 de 89 ::

e vários ornamentos novos bem conservados. Há a matriz da ilha. O Padre Fr. Agostinhode S. Maria, no Tomo 10 do Santuário mariano falando da ilha de Ano Bom informa queantigamente tivera duas paróquias dedicadas a S. João e S. Pedro; por conseguinte avelha Cidade da Praia e a Paróquia de N. Sª: da Conceição ainda não existia nesse tempo,o que me parece improvável.- A segunda igreja da cidade é a da Misericórdia junto da qual existia um belo e pequenoHospício dos Capuchinhos Italianos, e aí conservavam as imagens de Santo Agostinhocolocado pelos Missionários Eremitas Descalços quando lá estiveram e a de Santa Isabel.- A 3ª igreja é a de S. José;- a 4ª é a de S. António. De todas estas dá notícia o autor do sobredito Santuário Mariano;- Mas falta-lhe a 5ª que é dedicada a Santa Ana e por isso é de construção mais moderna.As três últimas igrejas são muito pobres. A Povoação de S. Pedro fica ao sul da praia; é pequena e está assentada junto à ribeiradenominada Água Grande. Pelo que diz o autor de Santuário Mariano, foi paroquial notempo antigo; Cunha Mattos não acreditou por não ver a côngrua designada nas FolhasEclesiásticas antigos e modernas; só encontrou uma disposição e a Provisão de 4 deMarço de 1755 determinando que ao Vigário Missionário se abonassem na Bahia200$000 réis de côngrua anual. A igreja desta povoação é dedicada ao Apóstolo S. Pedroe apenas tem os indispensáveis ornamentos para se dizer a missa. As aldeias da ilha são: 1ª a de N. Sª. das Neves, 2ª Santa Cruz e 3ª São João. Esta últimaé a que o autor do Santuário diz ter sido antigamente paroquial, o que não se acreditasalvo se se reputar como paroquial por haver ali existido algum missionário. Estas aldeiassão mui pequenas e os seus habitantes vivem da pesca e de uma agricultura muiacanhada. Além dos ribeirões já indicados com os nomes de Água Pata e Água Grande, existemmuitos outros, o mais célebre deles é chamado Água Bobo ou Água Amarela da qual só osmissionários podiam fazer uso por ser reputada de água sagrada. Esta ilha que apenas tem 6 léguas de circunferência (30 km), é composta de altíssimasmontanhas, a mais elevada das quais é o Pico da Mãe Serafina que se pode descobrir dadistância de 20 léguas (100 km), por ter 3000 pés de altura (900 m). A direcção destasmontanhas formam nas costas as duas únicas enseadas da cidade e de S. Pedro, estaentre as Pontas do Ilhéu Grande e do Palmito, e aquela entre a Ponta do Palmito e aGrossa, que compreendem a Praia Grande e Pequena. As outras costas da ilha estãocheias de recifes ou são inabordáveis por causa das rochas em que batem o mar. O portoda Praia tem 18 braças de fundo e vai diminuindo até 4 sem risco nenhum. A leste da Ponta do Palmito ficam os Ilhéus Grande e Pequeno. Na ponta do Norte ficaperto da ilha o Ilhéu Batel. A oes-noroeste há três ilhéus que parecem pirâmides ounavios á vela e são o Ilhéu Mumo, o Castelo e o Ubua. Na costa do sul entre a Água Boboe um ribeirão chamado Rio Grande ficam três ilhotas chamadas Três Irmãos. É isto o quemostra a planta da ilha copiada do original feita pelo Capitão Tenente FranciscoMontaseaur e está anexa às instruções dadas pelo Ministro da Marinha Martinho de Melo

Page 20: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 20 de 89 ::

e Castro ao Capitão de Mar e Guerra Luís Caetano de Castro em 19 de Fevereiro de1778. A agricultura da ilha é muito pequena mas chega para os habitantes e ainda para osestranhos sobretudo no que respeita a frutas e raízes de crescimento espontâneo. Hápoucos cultivadores de milho, mandioca e outros géneros leguminosos e farináceos.Muitas galinhas, patos, carneiros, cabras e porcos. Nenhuns bois nem cavalos. Nãoexistem animais venenosos nem feras e á inúmeros cães e gatos. Encontram-se madeirasde boa qualidade e uma delas é semelhante ao pinho da Europa. O peixe é imenso equase a única comida dos habitantes. Antigamente teciam-se muitos e belos panos de algodão semelhantes aos de S. Tomé ePríncipe e ainda hoje se tecem mas em menor quantidade. Existem alguns mauscarpinteiros e ainda menor número de péssimos ferreiros; há vários oleiros e alfaiates edois outros remendões que se chamam sapateiros. Os navios que ali tomam mantimentos,vendem ou trocam aquilo que é necessário para uso do povo.

Fig. 6 - Pescadores em Ano Bom A linguagem dos habitantes da Ilha de Ano Bom é (era) a portuguesa corrompida pelapronunciação e pelo ajuntamento de muitos termos dos idiomas africanos. Quando falamparecem-se com os pescadores algarvios mais cerrados e arremedam menos aoshabitantes de S. Tomé do que aos da Ilha do Príncipe. A sua religião é a católica romanade mistura com os abusos e superstições inumeráveis. Todos trazem grossas contas e cruzes ao pescoço, sabem infinitas orações que recitamem voz alta pela manhã e à noite. São os mais cobardes de todos os homens, nunca seservem de facas contra os seus patrícios, as suas desordens acabam por uma gritariainsuportável e quando chegam a vias de facto acometem-se às punhadas por um modoúnico no universo, põe-se um contendor defronte do outro e depois aquele que reputa ter

Page 21: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 21 de 89 ::

maior razão diz ao antagonista - cópá dámi, prá mi dá cópá! - Compadre dá-me para eudar no compadre - e assim aos murros alternados se desempoeiram até haver quem osaparte. O procedimento de exporem às ondas as pessoas indigitadas de feiticeiras, provaa sua cobardia e o seu fanatismo religioso., pois não se atrevem a derramar sangue.Quase todos são bêbados preguiçosos, insignes nadadores e limpos na roupa velha deque se cobrem. Nos domingos e dias santos ajuntam-se em família, assentam fora dasportas das suas choupanas e começam logo a beber enormes quantidades de vinho depalmeira. Terminado o banquete, o licor principia a perturbar-lhes os sentidos começam umacantilena em voz baixa e monótona a qual se vai levantando pouco a pouco como quemchora e assim prosseguem até fazerem uma insuportável berraria em que se lembram dasua terra e dos seus amigos e parentes, até que de todo perdem a razão. Neste estadomuitos dão murros na cara e corpo, espojam-se, batem com as cabeças nas paredes efazem outros desatinos próprios de homens alienados do juízo. Para eles a ilha de AnoBom a que chamam Anibô é o Paraíso terreal, tal é o amor que os existentes na ilha de S.Tomé conservam àquela pátria donde quase todos foram expulsos e expostos às ondascomo feiticeiros. São ladrões sagazes mas com pouco se contentam porque é tão grandea sua inércia que nem sabem fazer ideia da abundância como acontece a outros povosselvagens. Não trabalham sem serem obrigados pela fome e no dia de hoje não selembram do (dia) imediato. Dizem que as mulheres são virtuosas ou recatadas semconstrangimento. Os baptizados e os casamentos fazem-se nas ocasiões de aportar nailha algum navio que leva capelão. Vários franceses intitulando-se capelães têm alicasado e baptizado os pobres pretos para encherem os navios de mantimentos. Osacristão da igreja de Ano Bom ajunta o povo no templo nos domingos e dias santos e emlugar da missa repete várias orações análogas que sabe de cor. Há alguns papéisescritos, para este sacristão ler, em letra redonda a qual é mais bem feita do que se podiaesperar. A linguagem em que estão escritos é a do dialecto da ilha. O sacristão é quempublica na igreja os dias santos, de jejum, têmporas e festas mudáveis e por isso depois oCapitão-mor é a personagem mais importante do país e recebe certos estipêndios nasocasiões de casamentos, baptismos e funerais. O Governo de Ano Bom é puramente militar, procedido do antigo costume dos Donatáriose Capitães-mores portugueses, os quais deixaram de existir antes do ano de 1744. Logoque deixaram de ir à ilha os Capitães-mores ou Tenentes dos Donatários que ali lheadministravam as suas fazendas, teve princípio a eleição do Capitão-mor natural do país,esta eleição era feita pelos Oficiais do Conselho e aprovado pelo povo, quando porémexistiam missionários, influíam estes nas eleições que em tal caso recaíam nos que eramreputados mais devotos dos religiosos. O tempo de Governo era de 3 anos, mas depoisalterou-se esta ordem e o Capitão-mor governa durante o tempo em que vão à ilha 3navios que lhe paguem ancoragem. Por este modo alguns capitães-mores governam umano, outros mais, outros menos para que os interesses cheguem a maior número depessoas. O Capitão-mor tem o uniforme e o bastão do estado, é uma casaca de panovermelho grosso com galões falsos amarelos, chapéu ornado com galão, sapatos, espadae bastão dourado. Quando é eleito recebe estas regalias ou jóias do poder e faz entregadelas ao seu sucessor imediato. Os Capitães-mores logo que saem do lugar, ficam

Page 22: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 22 de 89 ::

membros do Conselho, são ouvidos pelos actuais e podem ser reeleitos. Nas aldeias hájuízes e comandantes para administrarem a justiça ou decidirem as pequenas questõesdos vizinhos, e deles se apela para o Capitão-mor. Todos os homens são soldados e fazemguardas quando o Capitão-mor julgar necessário, as mulheres solteiras são sujeitas aosserviços públicos como em S. Tomé e Príncipe, enfim os costumes são quasesemelhantes. Os moradores da Ilha de Ano Bom sabem perfeitamente que são escravosdescendentes dos do Donatário e por isso mesmo temem que o Rei de Portugal queirachamá-los à escravidão, tal é o motivo de não consentirem que ali existam outras pessoasde fora da terra além dos missionários quando os há. O Capitão-mor reputa como soldo asancoragens que recebe dos navios. Os juízes e comandantes têm direito a pequenosserviços, os missionários e sacristães ao pé do altar. Não havendo tributos, não hácontabilidade e como não há processos escritos, não existem escrivães, nem tabeliães,mas há um meirinho para citarem e prenderem os refractários. As posses dos terrenossão conhecidas pelas balizas e a tradição serve de escritura pública. Antigamente haviauma fortaleza no monte contíguo à povoação chamada Cidade da Praia. Os holandesesdestruíram-na e é aí que ainda em 1813 se arvorava a bandeira portuguesa antiga com aCruz de Cristo. (nesta data não era a ilha já espanhola?). Ignora-se absolutamente o número dos habitantes da ilha de Ano Bom, mas pelo que medisse o Capitão -mor é provável que não excedam a duas mil almas ou ainda um menornúmero pois que ele contava 352 famílias tanto nas povoações como espalhados pelasroças. Eu não posso afiançar o cálculo do Capitão-mor pois que era um homemextremamente ignorante, ainda que entre os seus passava por um político (Grande Gente)abalizado. Bem se sabe que um selvagem pode ser o primeiro em conhecimento na suanação e contar-se como o último em outro povo mais civilizado. Dizem que antigamenteexistiram famílias brancas na ilha, mas no ano de 1814 restavam só 4 mulheres pardas,talvez filhas dos estrangeiros que ali aportaram. Eu penso que estas famílias brancaseram pessoas pobres pois que não restam monumentos que atestem uma medianaopulência dos antigos moradores e é mui provável que os donatários tivessem poucosengenhos de açúcar. O autor do Santuário Mariano impresso no ano de 1722 diz quenesta ilha existiam mais de 700 homens e que as mulheres, meninas e mulatas seriamalgumas duas mil. A diminuição que tem havido nos moradores talvez proceda do bárbaroe frequente costume de lançarem ao mar ou expatriarem os indivíduos acusados deserem feiticeiros. O clima da ilha é mui benigno e saudável por se achar longe da terrafirme, gozar de ventos frescos e ser refrigerada pelos vapores das águas do oceano maispuras do que as que banham as costas do Golfo do Benim, que recebem as matériaspútridas arrojadas pelos inumeráveis e caudalosos rios existentes desde o Cabo das DuasPontas até ao de Santa Catarina. Eu penso que os efeitos do Hermatan ou Vento Norteque é no Golfo do Benim e em outros lugares da Costa da África não alcançam a ilha deAno Bom. Um escritor Mr. Bother diz que há 3000 habitantes. Eis aqui o que Cunha Mattos conseguiu saber a respeito desta ilha cujos habitantesreputando-se livres, são os mais desgraçados homens do universo, tanto pelo abandonoem que se acham, como pelo fanatismo religioso, que barbaramente os vai extinguindo. Omesmo Mattos pensava que esta ilha seria um excelente lugar para estabelecer muitosmilhares de africanos livres de que o Brasil precisava de ser expurgado (Espanha

Page 23: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 23 de 89 ::

pretendeu fazer isto levando de Cuba para Fernando Pó os libertos que lá havia emexcesso) tanto por ser mui salubre, como ter grandes proporções para uma cultura.

Fig. 7 - Peixe voador comestível. 3.e.3 - Ano Bom (meu ponto de vista) É uma pequena ilha pertencendo actualmente à Guiné Equatorial, localizada a sudoeste ea cerca de 180 km de S. Tomé. Tem de comprimento máximo 6,4 km e de largura 3,2 km.,sendo a sua área de 17,5 km2. Tem de população cerca de 5.000 habitantes e comocapital S. António da Praia. Pensa-se que a ilha foi descoberta por exploradores portugueses sob o comando deFernão Pó, a caminho da Índia em 1473, tendo sido povoada com angolas em 1474. Em 1778 foi dada a Espanha juntamente com a Ilha de Fernão Pó (actual Bioko) e toda acosta da Guiné em troca dos territórios espanhóis junto ao Brasil. Fez parte da GuinéEspanhola desde essa data, com a Ilha de Fernão Pó, as ilhas de Corisco, Elobey Grandee Elobey Pequeno, junto à costa da Guiné Equatorial. Em 1968 a Guiné Espanhola emancipou-se de Espanha, formando o estado da GuinéEquatorial. Actualmente tem o nome de Pigalu ou Pagalu que quer dizer papagaio em português.Devido à distancia de Bata, capital da Guiné Equatorial, e à proximidade de S. Tomé énatural que mantenha os laços culturais com Portugal O idioma é o espanhol mas o maisusado é o Fá-d’Ambô derivado do português e do crioulo antigo. Na data presente emAno Bom ou Annobon, não há água corrente, electricidade, televisores, refrigeradores,hotéis, nem transportes regulares. O alimento básico é o peixe com arroz importado. Hámuita fruta tropical.

Page 24: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 24 de 89 ::

Fig. 8 - Foto aérea de Ano Bom. 3.e.4 - Fernão Pó ou Fernando Pó (Bioko) Ilha de Fernando Pó (segundo Cunha Matos também em itálico) O monte mais elevado da ilha está aos 3º 28’ de latitude setentrional e aos 26º delongitude do meridiano da Ilha do Ferro (Canárias).[A Capital Malabo está situada nas coordenadas:Latitude 3º45’38,55” NLongitude 8º 46’ 50,48” E de Greenwich - pelo Google] É a ilha mais extensa das do golfo do Benim por ter 42 milhas N-S e 19 E-O. (75km x 34km=2550 km²) e as suas costas são desabrigadas. Foi descoberta por Fernando Pó,fidalgo da Casa de D. Afonso V, Capitão de um navio da Coroa portuguesa em o ano de1471 ou 1472 posto que vários escritores dizem ter sido achada em 1474 e outrosinformam que o fora no ano de 1485; em tudo há uma confusão por se haverem perdidoas memórias daquele tempo. À vista da carta de 16 de Dezembro deste último anoexpedida a favor dos moradores da ilha de S. Tomé creio que a ilha de Fernando Pó já seachava então descoberta, pois que El-Rei D. João II concedeu aos ditos moradores ocomércio de toda a costa então conhecida que era até ao Cabo de Santa Catarina. Ora seas Costas da África contíguas a Benim e Calabar já em 24 de Setembro de 1485formavam parte da capitania criada em favor de João de Paiva, forçosamente a Ilha deFernando Pó teria sido encontrada quando os navios de Fernão Gomes descobriram esses

Page 25: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 25 de 89 ::

lugares no ano de 1472 pois que a tal ilha de Fernando Pó tem 11000 pés de altura (3300m) e apenas dista 5 léguas (25 km) do continente. Pode mesmo ser avistada desde ocontinente africano.Nos bons dias de Portugal, a saber antes de começarem as hostilidades dos franceses,ingleses e holandeses contra as colónias de Portugal, esteve a ilha de Fernando Pó ouilha Formosa (foi o seu primeiro nome) habitada por portugueses os quais ali tiveram umpequeno forte na costa oriental a que Guilherme de L’Isle e outros geógrafos dão o nomede Forte Português e que foi abandonado no ano de 1630. Não se sabe se a ilha pertenceu a algum capitão ou Senhor Donatário, mas a existênciado forte prova ter existido quem a governasse. Os espanhóis ficaram senhores desta ilha pelo Tratado de 1 de Outubro de 1777,estabeleceram povoação e levantaram bateria no Porto do Oeste a que deram o nome deS. Carlos mas em consequência de imensos desastres resolveram-se a abandoná-la. Osingleses porém desejando obstar ao tráfico de escravos que havia nos rios de Benim,Novo e Velho Calabar, Camarões e outros portos do Golfo, fizeram-se senhores da Ilha deFernando Pó em o dia 27 de Outubro de 1827 debaixo das ordens do Capitão Owen o qualno dia 31 fez procurar o Rei Kukulaku que veio a bordo e no dia 2 de Novembro a trocode várias bagatelas cedeu um terreno para os ingleses levantarem habitações a principaldas quais recebeu o nome de - Clarence -. A baía onde desembarcaram teve o nome de Maidstone Bay e William Point. Os inglesesdizem que a ilha tem 60 milhas de circunferência, que os habitantes são pacíficos e que oestabelecimento pode ser interessantíssimo ao seu comércio. Os habitantes da ilha nãosão numerosos e vivem sem indústria como verdadeiros selvagens. A terra é fértil emmantimentos, gado miúdo e aves, tem muitas madeiras de construção e várias especiariasda Ásia, que provavelmente foram transplantadas no século XVI. Não consta que alihouvesse engenhos de açúcar. Os viajantes devem ter as maiores cautelas com osnaturais da ilha porque algumas tribos são extremamente ferozes. O clima é doentio eainda pior do que o das ilhas de Príncipe e S. Tomé em razão da proximidade da Costa daÁfrica que em alguns lugares é muito baixa e regada de rios caudalosos. Entre osmoradores da Ilha e os de Terra Firme há relações frequentes e participam das mesmasqualidades morais.

Page 26: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 26 de 89 ::

Fig. 9 - Ilha de Fernando Pó ou Bioko. Ilha de Fernando Pó ou Bioko (meu ponto de vista) Bioko é a ilha principal da Guiné Equatorial, muito perto da costa dos camarões e daNigéria. Teve por nomes Fernando Pó e Fernão do Póo e posteriormente Ilha MaciasNguema Biyogo. Tem 2.018 km2 de área e cerca de 63.000 habitantes. A sua capital éMalabo. Localizada na região do Golfo da Guiné, a região é considerada como o berço dacultura bantu. Esta ilha já era povoada quando da sua descoberta por europeus. Existe a possibilidade, muito remota, de que a zona do Golfo da Guiné tivesse sidovisitada por Hanón, um general cartaginês que realizou uma viagem costeando a costa deÁfrica em finais de séc. VI a.C. ou nos começos do séc. V a.C. Foram navegantes portugueses que efectivamente exploraram a ilha em 1471, sendoFernando Pó o navegador que a situou nos mapas europeus nesse ano.

Page 27: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 27 de 89 ::

Fig. 10 - Ao fundo à esquerda vislumbra-se Bioko, desde a costa camaronesa. Em 1493, D. João II rei de Portugal, proclamou-se juntando aos seus títulos reais comoSenhor da Guiné, e como primeiro Senhor de Corisco. Estes navegadores, povoaram as ilhas de Biyoco, Ano Bom e Corisco em 1494, tendo-asconvertido em entrepostos para o tráfico de escravos. Em 1641 a Companhia das Índias Holandesas estabeleceu-se na ilha de Bioko, semconsentimento português, centralizando ali temporariamente o comércio de escravos atéque os portugueses voltaram a fazer sentir a sua presença em 1648, substituindo aCompanhia holandesa por uma própria Companhia de Corisco dedicada também aotráfico, construindo uma das primeiras edificações europeias na ilha, o forte de PontaJoko. Portugal vendeu mão-de-obra escrava desde Corisco, à França (cerca de 49.000escravos), à Espanha e à Inglaterra, entre 1713 e 1753. Teve sempre a colaboração dealgumas etnias como os bengas, para esse comércio, desde que não interviesse naspolíticas internas do país. Esta ilha foi portuguesa desde 1474 até Março de 1778 (tratados de San Ildefonso - 1777e del Pardo - 1778) quando foi entregue a Espanha bem como o direito de comerciar nogolfo da Guiné entre o rio Níger e o Ogooué, em troca da Colónia do Sacramento noBrasil.

Page 28: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 28 de 89 ::

Os espanhóis ocuparam a ilha entre 1778 a 1780, e depois abandonaram a mesmaregressando a Montevideu. Os ingleses ocuparam a ilha entre 1827 e 1832 para lutar contra o tráfico e fundaramPort Clarence, depois Santa Isabel e hoje Malabo. Voltaram em 1840. Os espanhóisregressaram em 1843. Em 13 de Setembro de 1845 a rainha Isabel II (de Espanha) autoriza a transferência paraa região, de todos os negros e mulatos livres de Cuba, que o desejassem, mas poucosaceitaram naquela altura. Em 1861 por Ordem Real, a Ilha é transformada numa prisão espanhola. Em Outubro porOrdem Real os negros emancipados de Cuba, mesmo contra vontade seriam obrigados aembarcar da mesma forma. São 260 que se vão juntar aos prisioneiros políticos que jáestavam na ilha. Em 1937 o rei Moka de Bioko é preso pelas autoridades espanholas. A parte continental (Rio Muni) é protectorado em 1885 e colónia em 1900. Em 1909 todas as colónias espanholas do golfo da Guiné, formaram os TerritóriosEspanhóis do Golfo da Guiné ou Guiné Espanhola. Em 1960 tornaram-se provínciasultramarinas a saber: Fernando Póo e Rio Muni. Em 1968 a Guiné Equatorial foi declarada independente. 3.e.5 - O Manicongo O Reino do Congo ou Manicongo foi um reino africano localizado no golfo da Guiné noterritório que hoje corresponde a parte de Angola, Cabinda, parte das Republicas doCongo, e parte do Gabão. Na sua máxima dimensão estendia-se desde o Atlântico a oeste,até ao rio Cuango a leste e do rio Oguwé, no actual Gabão a norte, até ao rio Cuanza asul. Era um reino que existia desde o séc. XIII.

Page 29: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 29 de 89 ::

Fig . 11 - Magnífica carta do Golfo da Guiné cobrindo os reinos referidos. A capital era M’Banza Kongo rebaptizada pelos portugueses para São Salvador do Congoapós os primeiros contactos com os missionários católicos no séc. XVI. Passou a MbanzaKongo em 1975. Pertenceu ao Bispado de S. Tomé quando este foi fundado, em 1534. A carta régia de 21 de Novembro de 1493 autorizava os moradores de S. Tomé aresgatarem livremente mercadorias, incluindo escravos, na terra firme “desde o rio Reale a ilha de Fernando Pó até toda a terra de Manicongo.” Capítulo 4 - Flora de S. Tomé e Príncipe e plantas importadas O clima em S. Tomé e Príncipe é do tipo equatorial-oceânico, dominado por movimentossazonais baixas pressões equatoriais, pelos ventos da monção sul, pela corrente quentedo Golfo da Guiné e sofre a influência do relevo insular. A altitude máxima é de 2.024mna ilha de S. Tomé e de 948m na ilha de Príncipe. A temperatura média é de 25º C aonível do mar e tende a diminuir com a altitude.

Page 30: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 30 de 89 ::

Fig.12 - Ocá diferente5

Fig.13 - Embondeiro6

Fig.14 - Eritrinas para sombra7

Para cima dos 1.500 m a temperatura média é de 13,5º C.A amplitude média anual é pequena, isto é varia entre 6º a 7ºC. A pluviosidade variaentre 100 e 700 mm/ano. A humidade relativa é elevada rondando os 80 a 90%. O grau deinsolação é de cerca de 1.760 h/ano nas duas ilhas e vai diminuindo com a altitude,atingindo menos de 1.000 h/ano à cota 500m. Existem duas estações secas: (épocas mais frescas)- gravana, mais extensa 4 meses de Junho a Setembro;- gravanito, é mais curta 2 meses em Janeiro e Fevereiro. A época das chuvas, nos restantes 6 meses do ano, de Março a Maio e Outubro aDezembro. É caracterizada por violentas trovoadas, temperaturas elevadas e chuvas porvezes concentradas. S. Tomé tem uma vegetação densa e muito viçosa, descendo na maioria dos locaisabruptamente até ao mar, acompanhando as diferentes formas do terreno.

Page 31: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 31 de 89 ::

Fig.15 - Mamão ou papaia8

Fig.16 - Café em flor9

Fig.17 - Fruta Pão10

De relatórios antigos podemos ler: Valentim Fernandes informa que “toda esta ilha he cheia de arvores e differenciadas dasnossas, salvo figueyras e parreyras”; Piloto Anónimo11 escreve que a ilha tem “vegetação exuberante” e “Palmeyras toda a ilhahe cheia e dam boas tamaras. E tirã muyto vinho das palmas”. Acima dos 1.400m encontram-se como vegetação natural os “Obó”. Entre os 1.400m e os800m , floresta de altas árvores, e fetos, lianas, musgos e orquídeas. Abaixo dos 800m ailha de S. Tomé está ocupada pela cultura do Café, do Cacau, das Bananas, dos coqueirose outras culturas.A parte norte da ilha de S. Tomé, com fraca precipitação é zona de savana, predominandoas gramíneas e embondeiros, característica de zonas áridas. Em determinadas zonas no sul da ilha de S. Tomé predominam “capoeiras” (formaçãosecundária resultante do abandono do homem de locais outrora cultivados onde avegetação se refez).

Page 32: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 32 de 89 ::

Fig.18 - Pimenta

Fig. 19 - Flora endémica de S. Tomé, banana ecana.

Fig. 20 - Café em flor12 Fig. 21 - Café em fruto. A vegetação da Ilha do Príncipe é semelhante à da ilha de S. Tomé, predominandorubiáceas, euforbiáceas e orquídeas, notando-se a ausência de leguminosas. Nesta ilha, quase toda a floresta primária que não foi desbravada para a produção deculturas alimentares, foi quase totalmente destruída em 1906, quando da campanhacontra a doença do sono. Na ilha de Príncipe não existem savanas.

Page 33: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 33 de 89 ::

Fig.22-A - Matabalas raiz

Fig. 22 - Matabala

Continua-se a exportar cacau e em 1999 chegou a 7% do PIB. O cacau ocupa 25.000 ha, ocoqueiro 8.000 ha, o café está com fraca produção, e a palmeira demdem ocupa 3.500hectares. Como culturas de subsistência existem:- banana, matabala13, mandioca, batata-doce e milho. S. Tomé e Príncipe foi sempre um entreposto de comércio de escravos e em consequênciaentreposto de plantas. Os navios negreiros abasteciam-se de boas águas e dosmantimentos que careciam e completavam a sua carga de escravos. A época dosdescobrimentos foi o grande acontecimento que marcou os últimos anos do séc. XV econstitui uma das formas de globalização, pois teve como cenário a circulação depessoas, plantas, sementes, propágulos14, mercadorias e capitais. S. Tomé e Príncipe tem cerca de 130.000 habitantes, 63% da população é rural, taxa demortalidade infantil 60% e a esperança de vida é de 65 anos.

Page 34: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 34 de 89 ::

Fig. 23 - Cacau em Flor

Fig. 24 - Cacau verde aberto

As culturas em S. Tomé e Príncipe foram variando ao longo do tempo. Assim distinguem-se as seguintes épocas: 1ª Época (agricultura de subsistência) - iniciada no séc. XV coincidente com o início dopovoamento com portugueses da Europa, madeirenses, judeus e estrangeiros, sendopreciso alimentar esta gente com os alimentos encontrados nas ilhas mas também comnovas culturas. Logo a seguir ao descobrimento, aparecem a figueira, a videira, omarmeleiro, os citrinos, a maior parte sem conseguirem multiplicar-se. Tentou-se também o trigo, o centeio e a cevada e da mesma maneira falhada. Parece quea bananeira já existia na ilha.

Fig. 25 - Cacau maduro 15 Fig.26 - Fruto do Cacau já maduro16

2ª Época (cana sacarina) - desde finais de séc. XVI (1590) até meados do séc. XVII(1650),com a produção da cana sacarina, originária do sueste asiático. Foi cultivada no norte e

Page 35: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 35 de 89 ::

nordeste de S. Tomé e no Príncipe aparece mais tarde. Parece que os espanhóis quiseram cultivar a oliveira, o pessegueiro e a amendoeira,conseguiram belas árvores mas sem frutos. O coqueiro foi introduzido com êxito, tambéma mandioca e a batata-doce, ambas originárias da América tropical. Os inhamesoriginários do continente africano e outros da Ásia, foram não só a principal cultura desubsistência dos habitantes da época, mas também serviram de aprovisionamento aosnavios que iam a S. Tomé e Príncipe carregar açúcar. As hortaliças como couves, rábanos, cebola entre outras depois de semeadas crescem empoucos dias e são muito boas, mas a semente que produzem não presta para semear. O gengibre foi uma das primeiras especiarias a ser conhecida pelos europeus, e levadapara S. Tomé e Príncipe pelos portugueses onde se produziu muito bem, sendo levadopara o Brasil, mas a sua produção ultrapassou as necessidades pelo que as autoridadesproibiram as sementeiras no Brasil e em S. Tomé e Príncipe , concentrando toda a suaprodução na Índia. O Ocá, árvore de grande porte chegando aos 50 metros de altura, tem a sua origemmuito contestada, podendo ser de origem sul-americana.

Fig. 27 - Apanha do cacau

Fig. 28 - Quebra do cacau com gancho

3ª Época (declínio da agricultura) - Durante esta época nenhuma cultura é introduzidanas ilhas, e decorre nos séc. XVII e XVIII. Foi a época do comércio de escravos sendo aagricultura uma actividade meramente subsidiária.

Page 36: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 36 de 89 ::

Fig. 29 - A “quebra” e extracção das sementesdo cacau (em Rio do Ouro)

Fig. 30 - Secadouro do cacau ao sol

Nesta época, muitos fazendeiros preferiam lucrar com o tráfico de escravos e com ocontrabando com estrangeiros do que trabalharem na agricultura. Assim, foramperdendo as propriedades e os escravos para uma nova elite de S. Tomé, os Pardos. 4ª Época (café e cacau) - Desde meados do séc. XIX com o café e com o cacau iniciou-seuma nova época de prosperidade em S. Tomé e Príncipe. O café foi introduzido no Brasilem 1727 e nos fins do séc. XVIII introduzido em Cabo Verde e S. Tomé sendo nestearquipélago introduzido em 1789. Somente em 1832 se dá início do Ciclo do Café comexportação de cerca de 100 toneladas. Pouco antes da independência foram exportadas43 toneladas de café.

Fig. 31 - Os grãos de cacau o verdadeiro “ouro” de S. Tomé e Príncipe. A partir de 1890 o cacau impõe-se como cultura lucrativa e manteve-se até aos nossos

Page 37: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 37 de 89 ::

dias. O cacaueiro é originário da América do Sul e foi introduzido na ilha de Príncipe em 1822 por JoséFerreira Gomes, casado com Maria Correia (referida em 8.f.6).

Fig. 32 - Rosas de porcelana17

Fig. 33 - Flor endémica18

Nas figuras 21 a 28 apresentam-se algumas imagens de flores exóticas existentes em S.Tomé e Príncipe bem como na figura 25 a palmeira de leque que eu só conhecia deTimor. Lendariamente a orientação dos ramos desta árvore seria segundo a direcçãoNorte-Sul, mas tal não deve ser verdade.

Fig. 34 - Flor papagaio19 Fig. 35 - Rabos de macaco20

Em 1857 tentou-se a introdução nas ilhas STP de tabaco, mas não houve grande interessena sua cultura. Em 1864 o Dr. Welwitsch introduziu exemplares de Cinchona Pahudiana (uma espécie

Page 38: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 38 de 89 ::

quineira) utilizada no combate às febres. No entanto a produção do quinino de síntesearruinou essa cultura. O Dr. Welwitsch classificou uma planta no deserto de Mossâmedesque ficou com o seu nome - A Welwitschia Mirabilis.

Fig. 36 - Palmeira de LequeFig. 37 - Flor21

Fig. 38 - Árvore Florida22 Fig. 39 - Framboesas em S. Tomé23

No Diário de Notícias de 13 de Novembro de 2010, apareceu uma importante notícia deautoria de Filomena Naves, relatando que uma equipa de investigadores portugueseschefiada pela etno-farmacóloga Maria do Céu Madureira que é investigadora do InstitutoSuperior de Saúde Egas Moniz, teria conseguido produzir um preparado muito simples eacessível, utilizando solvente orgânico, que contém 30% do composto activo de umaplanta chamada “Girassol-macho ou Tithonia diversifolia”. Teve ajuda de Sum Pontes umcurandeiro que tem trabalhado com a equipa da Dr.ª Madureira e que tem usado estaplanta contra a Malária. Tanto a planta Girasol, como o curandeiro são nativos de S.Tomé.

Page 39: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 39 de 89 ::

Fig.40 - A planta de S. Tomé esperança contra a malária. Capítulo 5 - Escravatura, Trabalho e Roças Almada Negreiros, grande estudioso do arquipélago, de onde era natural, escreveu:“Aqui, em S. Tomé e Príncipe, vinham navios de todas as nações coloniais queandavam no tráfico da escravatura”. 5.a - Coio de escravos Durante séculos as ilhas de São Tomé e de Príncipe foram mesmo um coio24 demalfeitores que mercadejavam escravos. Os Negreiros ou Esclavagistas, comerciavam avenda e transporte de escravos de África para as Américas do Norte e do Sul, a partir dosagora chamados Gabão, Camarões, Nigéria, Benin, Togo, Gana e Angola. Um escravo eraum ser humano que ficava na condição de ser propriedade de outro ser humano. Erapróprio do escravo estar sujeito a trabalho compulsório em benefício do proprietário semter sido tomado em consideração o seu livre consentimento. O escravo tinha a condiçãode “coisa” e não de pessoa, não tendo sequer direito à vida. Esta condição de escravaturapodia resultar da derrota na guerra, da sanção de um crime, de dívidas e da força dospoderosos. Durante milhares de anos a escravatura foi ditada sobretudo por razõeseconómicas, por má utilização dos animais domésticos e pela ausência de máquinas.

Page 40: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 40 de 89 ::

Fig. 41 - Edifício ainda existente em Lagos, Portugal, onde se mercadejavam escravos. Contribuiu decisivamente para a abolição da escravatura o advento da era da máquina ea verificação de que o trabalho em regime de liberdade é mais rendoso que no regimeanterior. Por isso, a Inglaterra que primeiramente desenvolveu a Era Industrial, searvorou em paladina da abolição e fiscal da existência da escravatura, mas somente nospaíses onde ela ainda se praticava e não nas colónias inglesas. Apesar de ser contra a dignidade da pessoa humana e portanto, antinatural, aescravatura só foi abolida (no Ocidente) em meados do séc. XIX, continuando porém aexistir em países do Próximo e Médio Oriente25. A falta de mão-de-obra local nas colónias portuguesas, francesas e inglesas, originou noséc. XVIII que o Marquês de Pombal determinasse que o envio de escravos para o Brasilfosse prioritário sobre todos os outros países importadores de escravos. No entanto, no reino de Portugal desde 20 de Março de 1580 a 25 de Fevereiro de 1869(cerca de 290 anos) foram publicados mais de 20 decretos, leis e outros documentosdeterminando a abolição parcial ou total da escravatura. Mas foi uma longa luta nemsempre vitoriosa face aos interesses dos senhores dos escravos.

Page 41: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 41 de 89 ::

Fig. 42 - Modo de segurar escravos, para que não fugissem. Na África Oriental Alemã (actual Tanzânia) a abolição teve lugar em 24 de Dezembro de1904 Na Inglaterra puritana e cabecilha destes movimentos abolicionistas, a escravatura durouaté 1 de Janeiro de 1928 na costa da Guiné, nomeadamente na Serra Leoa. As feiras onde se negociavam escravos, conhecidas por Pumbas, eram frequentadas peloscomerciantes de escravos, que assim eram conhecidos por Pombeiros. 5.b - Tráfico Negreiro

Fig. 43 - Escravo doméstico sendo castigado pelo seu senhor.

Page 42: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 42 de 89 ::

Em 1471 os navegadores portugueses iniciaram a exploração económica, sistemática e deforma integrada do Golfo da Guiné.Cerca de 1480 os portugueses estabeleceram os primeiros contactos com o reino doCongo. A feitoria-fortaleza da Mina que depois ficou conhecida como Elmina, juntamente com afortaleza de Ugató (Gwato ou Ughoton), no reino de Benim, esta instalada só em 1486.Estas duas fortalezas eram complementares. Os mercadores que levavam o ouro a S.Jorge da Mina exigiam em troca, entre outras mercadorias, escravos, que era possíveltrazer da área de Benim, por escambo26 de panos e manilhas de cobre, primeirodirectamente, depois através da Ilha de S. Tomé. Ao arquipélago de S. Tomé e Príncipevai ser de facto atribuído um importante papel no complexo comercial que Lisboa tentavaorganizar no golfo da Guiné. A nomeação de um capitão donatário, membro da pequena nobreza, era uma soluçãopolítico-adimnistrativa de ressonâncias senhoriais que já tinha sido utilizada nos outrosarquipélagos atlânticos. Assim o monarca cedia a particulares, com carácter hereditário,extensos domínios, bem como privilégios, lucros económico-financeiros e atribuições desoberania, em troca de colonização do território. No caso de S. Tomé, atendendo à localização, à abundância de água e de madeira e àfertilidade do solo, esperava-se criar uma próspera colónia de povoamento, em que acurto ou médio prazo a mão-de-obra importada de África seria substituída por populaçãomestiça, sendo constantes desde o início os incentivos à miscigenação. A ilha devia passar a ser uma escala segura para os navios que da Mina, regressavam àEuropa e eventualmente para outras viagens com destino à África Austral e à Índia. Além disso, pretendia-se que fosse a base de apoio às feitorias da costa de África, querem termos de defesa quer de abastecimentos de géneros alimentares destinados àsguarnições portuguesas e ao aprovisionamento dos navios negreiros. Tal projecto sóparcialmente foi realizado. Foi difícil a fixação de europeus, face ao meio naturalparticularmente hostil, à propagação de doenças tropicais, em particular a Malária. Ailha foi criando a fama de “cemitério de europeus” e em consequência funcionários oueclesiásticos, incluindo governadores e bispos, uma vez nomeados para S. Tomé,procuravam, por todos os meios e recorrendo a todos os argumentos, adiar a partida equando não o conseguiam, esforçavam-se para que a sua estadia no arquipélago selimitasse ao estritamente necessário. E o comportamento mais corrente enquanto aípermaneciam, era, como seria de prever, tentar enriquecer o mais possível no períodomais curto possível. Em 1536 apareceram alguns voluntários, eram “cristãos novos” fugindo da Inquisição. Alarmado com esta possibilidade D. Sebastião em 1569 proíbe a fixação de cristãos novos

Page 43: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 43 de 89 ::

em S. Tomé. Outro contingente de povoadores era constituído por degredados, alguns condenadosdirectamente pelos tribunais a penas mais ou menos longas de degredo em S. Tomé ouno Príncipe, e outros, homens e mulheres, aceitavam ver comutada a pena de morte aque estavam destinados, pelo degredo permanente no arquipélago.Os monarcas portugueses D.João II e D. Manuel I concedem amplos privilégios tanto agovernantes como a governados.

Fig. 44 - Castigo de escravo fujão ou recalcitrante. O Tronco. Os poderes concedidos aos capitães donatários, com poderes judiciais muito alargados,tendo Álvaro de Caminha recebido “toda a jurisdição cível e crime da dita ilha, nãoreservando para nós (o rei) coisa alguma de justiça de morte de homem e talhamento demembro”, dando-lhe o poder de nomear, o que não era comum “os oficiais de fazenda ede justiça”.

Fig. 45 - O estivamento (arrumação) dos escravos nos navios negreiros. Os povoadores dada a lonjura das ilhas em relação ao continente, tinham entre outrosprivilégios, licença para comerciarem todas as mercadorias (salvo o ouro e algumas mais)em determinados sectores da costa africana, dispondo de isenções fiscais importantes.Em 1493, a carta régia de 21 de Novembro, fomentava a venda de mantimentosproduzidos na ilha, autorizava os moradores de S. Tomé a resgatarem livremente

Page 44: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 44 de 89 ::

mercadorias, escravos incluídos, na terra firme, “desde o rio Real e a Ilha de FernandoPó até toda a terra de Manicongo (rio Zaire). Em 1500 estes privilégios foram extensivos aos residentes na Ilha de Príncipe. Desde1511 que os navios de S. Tomé, como aliás os navios do Príncipe, frequentavam já a barrado rio Congo ou Zaire. Mas entre 1520 e 1530, quando o tráfico de escravos seintensifica, as mesmas embarcações passam a aportar com regularidade o mesmo rio. Até esta data os escravos que chegavam a S. Tomé destinavam-se quase exclusivamente asatisfazer as necessidades internas ou a ser reexportados para a Europa, o que não setraduzia em totais muito significativos. Um aspecto particular da memória, onde se confunde a escravização dos importados comuma suposta escravização dos nativos (na ilha), releva da sua enunciação pelossantomenses que, (…), parecem assumir as mágoas da opressão vivida outrora nas roças,como se eles não tivessem estado entre os importadores de mão-de-obra, trabalhandopara o estado colonial e sobretudo como se não se tivessem demarcado dos serviçais (dasroças)27. Como, por outro lado, a actividade açucareira de S. Tomé estava no seu auge, com maisde meia centena de engenhos e uma produção de mais de 2.000 toneladas, tornava oarquipélago no maior produtor mundial de açúcar. Tal sucesso deve-se à facilidade deobtenção de mão--de-obra escrava e à possibilidade de rápida substituição dos trabalhadores que morriamou fugiam para o interior da Ilha, para refúgios que os brasileiros por analogia chamamde Quilombos. Em 1519 S. Tomé passa a ter o exclusivo de resgate de escravos com destino a S. Jorgeda Mina e em 1525 a Ilha começa a ser um dos principais fornecedores de escravos paraas Antilhas e para outros portos das Índias Espanholas., nomeadamente Cartagena eVera Cruz.

Page 45: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 45 de 89 ::

Fig. 46 - Navio Negreiro Os navios que faziam a ligação entre S. Tomé e o Congo, eram de pequena tonelagemmas podiam carregar pelo menos 400 peças (escravos). A tripulação, incluindo o maismodesto marinheiro, não deixava de carregar escravos à sua conta e o capitão e o pilotopodiam por vezes levar, em seu nome, algumas dezenas, certamente servindo de testasde ferro a investidores ocultos. Os membros do clero, residente em S. Tomé …, estãosempre presentes na armação, chegando em 1525 o padre Diogo Gonçalves, a embarcarno navio Conceição, 124 peças, o segundo lote mais numeroso da embarcação. Os santomenses interessados no tráfico de escravos já não são apenas europeus brancosmas também os naturais das ilhas brancos, mestiços e negros forros que de uma formaou de outra se envolvem no negócio. São os grandes fazendeiros das roças do açúcar mastambém os médios e os pequenos proprietários, os funcionários político-administrativoscom o governador à cabeça, os religiosos, etc.

Page 46: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 46 de 89 ::

A partir de 1586 os capitães generais passam a ser chamados de governadores, porinfluência de Espanha. Saliente-se, a propósito, a diferença prevalecente entre livres (forros) e escravos, emlarga medida coincidente com a diferença étnica e de origem, uma inferência autorizadapelo facto dos escravos em meados do séc. XIX serem quase todos indivíduosimportados28. 5.c - Portugal e o tráfico da escravatura O problema da escravatura anda ligado ao da expansão dos povos europeus, dosportugueses e espanhóis, mas também de franceses, holandeses e ingleses. Já haviaescravos na Europa e fora da Europa, antes dos portugueses chegarem à África. O problema consiste, não propriamente na existência de escravos e de escravatura, massim no estabelecimento do tráfico regular de escravos entre a Europa e África, semmotivo de guerras, isto é, o tráfico regular, comercial como se na verdade se tratasse deum produto qualquer, como a malagueta, ou peles e não de homens. No séc. XVI ia o tráfico assumir proporções colossais com a introdução de mão-de-obranegra na América. A iniciativa foi dos espanhóis quando verificaram a impossibilidade deutilizar a mão-de-obra indígena para as culturas próprias das zonas tropicais. No séc. XV a escravatura era tão legítima como qualquer outro tipo de comércio. Era umimperativo económico inelutável (Roberto Simonsen): “só serem empreendimentosindustriais, montagens de engenhos, custosas expedições coloniais, se a mão-de-obrafosse assegurada em quantidade e continuidade suficientes. E por esse tempo e nessaslatitudes só o trabalho forçado proporcionaria tal garantia.” A Companhia de Cacheu e Cabo Verde29 foi uma empresa monopolista, fundada emPortugal no contexto das reformas económicas de D. Luís de Menezes, sob o reinado deD. Pedro II de Portugal. Os seus objectivos eram promover o comércio de tecidosmanufaturados, marfim e escravos, entre a costa da Guiné e o Arquipélago de CaboVerde e a do Brasil. Foi criada por Alvará Régio de 3 de Janeiro de 1690. O curto período de sucesso queconheceu prendeu-se ao facto de ter conseguido o monopólio do comércio de escravospara a América espanhola no período de 1696 a 1703. Nesse ano tendo a coroa deixadode lhe renovar o contrato de exploração, os prejuízos acumularam-se, o que conduziu aoabandono da Capitania de Bissau em 1707, sendo o forte de Bissau arrasado na ocasião. Em 1690 a Companhia de Cacheu e Cabo Verde foi instalada na Ilha de Príncipe, com oobjectivo de for-necer escravos às colónias espanholas30.

Page 47: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 47 de 89 ::

Os espanhóis já importavam escravos negros para a América desde 1511. Calcula-se queem 1600 houvesse uns 20.000 negros escravos na Baía e Pernambuco. Em meados doséc. XVII haveria no Brasil 40.000 escravos, mais 23.000 importados pelos holandesesquando ocuparam a parte norte do Brasil. Segundo Roberto Simonsen teriam sido importados 350.000 negros, e nos séc. XVIII eXIX cerca de 2.950.000. Os Holandeses que ocuparam a Mina para terem um porto seguro negreiro, levavam aosestabelecimentos portugueses e espanhóis da América a maior parte dos seus negros,porque não necessitavam deles nas Guianas. A própria Inglaterra em 1713, exigira deEspanha como condição de paz, que lhe fosse concedido o “assiento”, ou seja o“monopólio” para introduzir os escravos de que Espanha necessitava, nas ÍndiasOcidentais, com exclusão de espanhóis ou quaisquer outros (fornecedores)31. 5.d - Roças e Cacau Entre 1890 e 1900 S. Tomé e Príncipe foi um exemplo de prosperidade dosempreendimentos coloniais graças à monocultura do cacau. Tal se ficou a dever àfertilidade das terras florestais virgens desmatadas e trabalhadas de forma intensivapelos crescentes contingentes de mão-de-obra resgatada no continente africano e quenão era repatriada. As roças beneficiavam da condição política e jurídica diferenciada da mão-de-obra, cujaprestação laboral estava legalmente regulamentada. A condução das roças e a definição das relações sociais nas roças eram deixadas aocritério dos roceiros. Nos primeiros anos do séc. XX começaram a nascer problemas norecrutamento de braços. Angola dificultou tais recrutamentos pelo que se prosseguiu arecrutar moçambicanos e cabo-verdianos. Foi aproveitada uma época de grande seca emCabo Verde em 1903, para encaminhar trabalhadores desta colónia para S. Tomé erespectivas roças. No entanto o seu recrutamento evidenciou as debilidades das roças ecolocou dificuldades inusitadas aos roceiros, porque os esquemas habituais de inserçãopara os angolas, eram desajustados para os cabo-verdianos, cuja importação alterou arelativa quietude nas roças.

Page 48: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 48 de 89 ::

Fig. 47 - Roça Rio do Ouro, agorachamada de Agostinho Neto

Fig. 48 - Roça Água-Izé

Estes passaram a alardear intenções de recorrer às autoridades, quando não serebelavam. O controlo dos roceiros sobre as autoridades públicas facilitava ofuncionamento nas roças.

Fig. 49 - Roça em altitude (com amenatemperatura)

Fig. 50 - Roça de Monte Bom Em finais do séc. XIX era comum opinar sobre a inferioridade congénita e cultural daraça negra, da mesma forma que também dava relevância a modelos de rígidahierarquização das relações sociais nos territórios coloniais. Em 1910, com a importaçãode braços, que não de Angola, começaram a enredar-se as linhas até então trilhadaspelos roceiros, forçados, mau grado a sua crença na sua superioridade racial e social, areaprender a comandar grupos de proveniência diferente. Fosse como fosse os roceiros estavam habituados a usarem práticas coercivas, que

Page 49: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 49 de 89 ::

dificilmente alijariam de um momento para o outro numa época de prosperidade firmadano trabalho intensivo. Nesta época, as fissuras no poder induziam, não à violência, mas à manifestação de carizlaboral acompanhadas de pedidos de intervenção das autoridades. Para os roceiros,atingidos nos seus interesses, e para as autoridades, muitas vezes dependentes oualinhadas com aqueles, tal recusa ao trabalho era apenas motivada pela aversão doafricano ao trabalho, numa leitura óbvia em razão dos preconceitos raciais. Para os serviçais, esta forma de resistência traduzia uma leitura própria das obrigaçõescontratuais, por vezes atinente a forçar a mobilidade horizontal ou o repatriamento, quepara alguns deles representaria um substancial ganho. Ao arrepio do inflamado discursosobre o “ódio racial ou a selvajaria do negro”, para as roças os maiores danos eram osinfligidos, não pelo assassinato de um ou outro empregado, mas pela resistênciaquotidiana passível de perturbar o labor. No segundo semestre de 1903, cabo-verdianos,individualmente ou em grupo, foram com frequência enviados para as obras da fortalezade S. Sebastião por, alegadamente, sem justificação, se recusarem ao cumprimento doscontratos, isto é, a trabalhar (forçadamente).

Fig. 51 - Machila para transporte do Administrador da Roça. Na verdade, ocasionalmente a recusa de trabalhar revelou-se persistente e prejudicial àdisciplina nas roças, levando os roceiros, em desespero de causa, à rescisão do contrato eas autoridades a deportar os cabo-verdianos para outros territórios, principalmente paraAngola e Moçambique. Dos cabo-verdianos chegados em 1903 vários sabiam ler eescrever, contando-se entre eles um escrevente de tabelião. Ademais a alfabetização doscabo-verdianos era incómoda, pois nem todos os europeus seriam alfabetizados.

Page 50: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 50 de 89 ::

Fig. 52 - Distribuição das áreas das roças em S.Tomé, em 193232, já depois dolevantamento geodésico de Gago Coutinho. A comunicação com o exterior das roças desagradava aos roceiros, porquanto entre as

Page 51: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 51 de 89 ::

causas diminutivas da eficácia da protecção legal dos serviçais, se contavam asocialização restrita às roças e o fraco domínio da língua. A não fluência no portuguêspodia inibir parte dos serviçais da apresentação das queixas na Curadoria. Quando haviamotins nas roças, e normalmente contra a vontade dos roceiros, a intervenção dasautoridades era rara. Em 1904, a actuação de um delegado do curador no Príncipe,primava pelo pouco ou nenhum apoio aos roceiros.

Fig. 53 - Chegada dos “serviçais” para as Roças, por via marítima. Para assuntos relativamente graves, este delegado reenviava para a roça os cabo-verdianos sem o menor correctivo, e ainda chamava a atenção dos roceiros pelo modocomo tratavam os serviçais. Para os roceiros, o problema residia no apoio do delegado do curador aos serviçais, poissegundo eles, nada podiam esperar do delegado do curador, porquanto ele pública etaxativamente afirmava reconhecer no mais boçal cabo-verdiano, inteligência ecompetência superiores às de todos os europeus da ilha (Príncipe)33. E se calhar até eraverdade! Na Roça Rio do Ouro, que se situa ao norte da ilha de S. Tomé, estendendo-se como amaior parte das Roças desde as montanhas até ao mar, encontram-se várias culturas deacordo com a altitude, sendo a palmeira e o coqueiro nas terras baixas do litoral,existindo nas terras mais altas o café, e nas encostas intermédias o cacau.

Page 52: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 52 de 89 ::

Fig. 54 - Dia de pagamento, com formatura como no pagamento do “pré” no exército. Ainda nesta Roça tomámos conhecimento34 com a “sede” e com dez outras dependências.Vimos a antiga residência do administrador, habitações dos empregados do tempocolonial, no meio um edifício de escritórios e do outro lado o “centro tecnológico” comarmazéns e oficinas. Depois a sanzala onde moravam todos os trabalhadores no tempo colonial, e ainda ohospital, e a capela. A roça dispunha de 3.200 hectares de terras cultivadas, num total de5.000 hectares de área total. A produção mais importante era o cacau que é um forte arbusto que chega a atingiralguns metros de altura. Requere um cuidadoso trabalho de manutenção, à sombra deárvores de grande porte, que o terreno seja adubado anualmente, regularmente capinado(com o machim), e que o arbusto sofra uma poda periódica e uma sulfatagem. Todas asacções referidas incluindo a “colheita” são tarefas masculinas. Depois procede-se à “quebra” da cápsula do cacau com machim, e extrai-se manualmenteas sementes internas envolvidas numa substância branca e gomosa, são metidas numcesto e enviadas para o “centro tecnológico”,são metidas em grandes caixas de madeira

Page 53: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 53 de 89 ::

durante 5 dias para fermentar (trabalho feminino). No final deste tratamento cada bagotem já o aspecto definitivo que faz lembrar uma pequena fava de cor castanhaavermelhada e o sabor característico do cacau. Passando agora por uma máquinaseleccionadora são eliminadas as impurezas, os bagos partidos, os fragmentos de casca,procedendo-se então à embalagem para o transporte. Esta Roça dispunha de um portoprivativo onde embarcava o cacau para exportação. Seguem imagens de instalações de algumas roças e de um comboio da roça Água-Izé.

Fig. 55 - Roça Bela Vista Fig. 56 - Comboio da Roça Água-Izé

Fig. 57 - Roça Bombaim Fig. 58 - Roça S. João dos Angolares 5.e - O Trabalho Indígena e as Colónias Portuguesas Das muitas queixas que eram apresentadas contra o facto de Portugal manter trabalhoobrigatório nas colónias, nenhuma se refere a que se mantinha o trabalho escravo. A lei sobre o trabalho indígena vem desde 14 de Outubro de 1914, tendo as suas bases

Page 54: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 54 de 89 ::

sido estabelecidas muito antes por António Enes e Oliveira Martins…. Eram os indígenas nas colónias portuguesas obrigados, como aliás são todos osportugueses, a certas prestações de trabalho, prestações essas de que se podiam remirmediante um pagamento que a lei estipula. Quando refervia a campanha contra as ilhas de S. Tomé e Príncipe o recrutamento paraessas ilhas foi praticamente interrompido, de modo que as grandes plantações que aliexistiam não se desenvolveram e estiveram em risco de morrer por falta de mão-de-obra.Tratava-se do ano de 1925. Notar que tais queixas foram apresentadas por alguém que teve conhecimento de umapequena revolta que tinha tido lugar na Guiné, e que afirmou que a mesma era devidaaos maus-tratos em S. Tomé!35... Santa ignorância!

Fig. 59 - Anúncio da CNN sobre a governante alemã. Mas a ignorância de certas elites ainda hoje tem lugar cativo, mesmo nos “média”internacionais. Se não, atentemos para a imagem junta, em que a CNN anuncia aos quatro ventos queÂngela Merkel teve um atraso na sua deslocação, e foi obrigada a aterrar na capitalportuguesa, ou seja em Lisboa, que como a figura indica fica muito perto de S. Tomé ePríncipe, no golfo da Guiné. Capítulo 6 - População e Habitantes 6.a - População original

Page 55: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 55 de 89 ::

Fig. 60 - A Ilha de S. Tomé nos primeiros mapas com indicações em francês, e latim.Note-se a representação do relevo no interior da ilha e a indicação de alguns engenhosde açúcar36. Na altura do descobrimento as ilhas do arquipélago eram desertas e naturalmente foramconsideradas como mais uma “escala” para apoio às naus que desenvolviam os contactoscom a costa africana, caso se afastassem demais de terras. Mesmo a navegação junto àcosta era perigosa pela existência de muitos acidentes e baixios que dificultavam anavegação. Assim, uns pontos de apoio longe da costa africana até eram um benefíciopara os navegadores juntamente com o facto de as águas de S. Tomé serem boas, para sefazer “aguadas”. Desse modo, seja quem for que descobriu as duas ilhas e mais tarde Ano Bom, levou anova ao Reino, tendo o Rei D. João II mandado colonizar todas elas a partir de 1486. O arquipélago de S. Tomé e Príncipe foi ocupado pelos portugueses na última década doséc. XV. A capitania abrangia as ilhas de S. Tomé, Príncipe, Fernando Pó e Ano Bom. Asduas últimas foram entregues à coroa espanhola cumprindo tratados assinados em 1777e 1778, sem terem sido exploradas efectivamente pelo governo português. A proximidade daquelas ilhas com o litoral ocidental africano fez com que rapidamente se

Page 56: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 56 de 89 ::

transformassem em importantes entrepostos comerciais do norte do Atlântico. A ilha de S. Tomé serviu como um laboratório tropical. Ali, as plantas, animais, técnicasagrícolas e homens foram adaptados à realidade dos trópicos e à produção do açúcar37. Avida económica das ilhas, viria a ser implementada pelo fortalecimento do tráfico deescravos pois os navios negreiros procuravam os seus portos em busca de víveres e deescravos para completar as suas cargas. Segundo o foral da capitania já no séc.XVI os moradores foram autorizados acomercializar com navios estrangeiros e com a costa de África. Devido à procura de diferentes mantimentos usados no abastecimento de navios e àpermuta com a costa africana, passaram a ser produzidos na ilha, arroz, milho, mandioca,inhame, banana, azeites, algodão, gengibre, entre outros. Havia também algunsmoradores que possuíam embarcações dedicadas ao comércio com a costa africana. Face ao progresso da ilha, o Rei tornou-a capitania régia em 1522. Em 1525 a vila de S.Tomé foi elevada a Cidade. A população livre da capitania era maioritariamente mestiça(os pardos). As ilhas não eram habitadas quando da sua descoberta, e a sua primeira população foiconstituída por poucos brancos livres, um grande número de degredados e centenas decrianças judias cujos pais haviam sido mortos ou expulsos da Península Ibérica. Tambémforam introduzidos muitos escravos levados da costa africana. No entanto o alto índice demortalidade que atingia principalmente a população branca levou a coroa a conceder,ainda nos primeiros anos de ocupação a liberdade às escravas domésticas e aos seusfilhos e dois anos depois aos homens escravos. Na figura 1 distinguem-se entre outros nomes o de Fazendas de Anna Chaves, deFrancisco Coimbra, de diversos engenhos de água, o local da Citade (cidade de S.Tomé) edo Forte Velho. 6.b - Locais de Povoamento38

A escolha para a localização dos primeiros núcleos populacionais em S. Tomé e Príncipesofreu necessariamente a influência de factores geográficos como o clima, o relevo, aexistência de cursos de água e a vegetação. A expansão da população foi-se dando àmedida que as plantas foram introduzidas nas ilhas.

Page 57: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 57 de 89 ::

Fig. 61 - Outro mapa holandês da ilha de S. Tomé. Primeira fase - (1480/1550)Chegados os colonos a S. Tomé, desembarcaram em Água Ambó, junto a Ponta Figo, e alierigiram algumas barracas e cultivaram as terras próximas. Pouco depois reconhecendoa capacidade da baía em que agora se acha a cidade, mudaram as suas residências, tendoconstruído uma capela e voltaram a cultivar as terras anexas. Nesta povoação, segundoinformações do Piloto Anónimo, existiam 600 a 700 fogos e pelo meio da povoação corriaum regato de água conhecido por Água Grande.

Fig. 62 - Água Ambó ou Anambó39. Segunda fase - (1550/1650)

Page 58: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 58 de 89 ::

Fig. 63 - Pormenor da cidade de S. Tomé na sua baía de Anna Chaves (1664)40. Desde meados do séc. XVI a meados do séc. XVII e coincidindo com a produção da canasacarina e com o início do comércio de escravos, vindos da costa africana, a cidadenabaía de Ana Chaves, tornou-se importante. Terceira fase - (1650/1790)Abandonadas todas as culturas e entrada em decadência, a população concentrou-se emzonas sobranceiras à cidade, aparecendo as capoeiras e as ruínas de antigos engenhos deaçúcar. Em S. Tomé a população concentrava-se no quadrante nordeste e no Príncipesomente em algumas regiões no litoral. Quarta Fase - (1800/1975)Introduzidas as culturas do café e do cacau com a subsequente organização das Roçasunidades agrárias típicas, que eram constituídas por um núcleo central, com um vasto terreiro, em torno doqual se situavam a casa do administrador, a sanzala, o hospital, diversos armazéns, etc.

Page 59: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 59 de 89 ::

Nas proximidades cultivavam-se árvores de fruto para assegurar sustento a homens eanimais. O cacau desenvolve-se protegido pelas robustas eritrinas, árvores sombreadores (comoem Timor as “Madre del cacau” protegem dando sombra aos cafezeiros). As roças produziam principalmente bens de exportação e como se entendiamdirectamente com a Europa a com África, a cidade de S. Tomé no início do séc. XX entroutambém em decadência. Apareceram então os Filhos da Terra, mulatos honrados e casados, que obtiveram umaposição social de destaque nas duas ilhas. 6.c - Grupos41

Entre 1500 e 1600 (séc. XVI) havia em S. Tomé três grupos diferenciados:- os escravos;- os angolares;- o grupo dirigente, constituído por: • agricultores • comerciantes • grandes proprietários de engenhos • artífices • funcionários portugueses • castelhanos • franceses • genoveses • mulatos filhos da terra. A ruína do açúcar leva ao abandono da ilha e os agricultores embarcam para o Brasil.

Page 60: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 60 de 89 ::

Fig. 64 - Pirogas em uso em S. Tomé e Príncipe. Entre 1600 e 1800, (séc. XVII) a população branca desapareceu praticamente e o mestiçopassou a ser o elemento dominante. Em 1769, um comerciante da Baía, Joaquim Inácioda Cruz, declarava que o mau clima de S. Tomé havia extinguido de tal modo os brancos,que não restavam na ilha senão dez a doze indivíduos. Acrescentava que os mulatos e ospretos crioulos iam-se acostumando a viver sem os brancos e a ocuparem os lugares quea estes tinham pertencido. Por essa razão, quando lá aparecia algum branco, se não o matavam com feitiços,”não lheacudiam prontamente com os remédios ao uso da terra ao tempo de lhe dar a doença, aque chama carneirada, para logo morrerem.” Na segunda metade do séc. XVIII os dois grupos sociais mais relevantes na estruturasocial de S. Tomé eram: - os moradores livres (brancos, mulatos, negros alforriados ou forros); - os escravos. Em 1801 (início do séc.XIX) o elemento preponderante da população é o mestiço, mas anotícia da prosperidade do café e do cacau e a tradição de fertilidade dos solos atraíramnovos proprietários, na grande maioria europeus. Perante a abolição total e imediata da escravatura em 1785, a crise de mão-de-obraacentua-se. Como a população era constituída principalmente por forros e angolares edevido à sua aversão ao trabalho agrícola, todos se consideravam homens livres, deixoude haver trabalhos nas roças, pelo que se introduziu o regime de contratados que no fimdo contrato deveriam ser repatriados se o desejassem. Oriundos de diversas regiões de África como:- Libéria;- Serra Leoa;

Page 61: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 61 de 89 ::

- Angola;- Cabo Verde;- Moçambique. Os contratados eram denominados de Serviçais, não tinham, nem os seus descendentes,direito de lavrar a terra por conta própria e muito menos possuir terrenos. E eramportanto os únicos indivíduos que trabalhavam nas roças. Os forros eram os únicos negros que possuíam pequenas parcelas de terreno - as glebas. Trabalhavam preferencialmente em empreitadas em escritórios, oficinas e instalaçõessanitárias das roças. As roças pertenciam principalmente a companhias portuguesas.

Fig. 65 - Escravos em S. Tomé A ilha de Príncipe foi povoada nos mesmos moldes que S. Tomé mas os seus habitantessão conhecidos por monkós. Volvendo os olhos para o passado reconhece-se que em consequência das condiçõesclimatéricas, não foi fácil a tarefa da colonização da Ilha porque muitas vidas seperderam, a testemunhar o preço por que Portugal adquiriu para seu património uma dasmais lindas e ricas regiões do globo.

Page 62: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 62 de 89 ::

Em 1540 a população da ilha foi aumentada com um grande número de naturais deAngola que seguiam como escravos para o Brasil e conseguiram salvar-se a nado emconsequência de o navio ter naufragado ao sul da ilha, nos rochedos chamados de “ SetePedras”. Instalaram-se num local que agora se chama “S. João dos Angolares”. A população branca aumentou na segunda metade do séc. XIX (1850…) por se tercomeçado a desenvolver a Agricultura. Grande número de naturais de Angola, Moçambique e de Cabo Verde, foram introduzidospara serviçais nas Roças, mas só durante o tempo dos contratos de prestação de serviços. “A intriga naquelas idades já vomitava a infernal peçonha com que infeccionou os novoscolonos e os seus sucessores, tanto assim que repetiam queixas sobre queixas aos pés doreal trono, acusando-se reciprocamente dos mais atrozes crimes. Eles não só se constituíam soberbos e intratáveis, mas também queriam afectarindependência e soberania à testa dos imensos escravos de que dispunham. Mortes,incêndios, assaltos, raptos, roubos, forças contra os oficiais públicos, desprezo contra osgovernadores ou capitães, tudo era posto em prática pelos poderosos habitantes de S.Tomé, verdadeiros régulos e tiranos do seu país. As suas riquezas lhes fizeram cometerinauditas crueldades e actos de rebelião, que só a cobardia ou o interesse deixavam ficarimpunes. Entre outros arbitrários procedimentos conta-se o da rejeição de umgovernador, a quem entregaram (prorata) todos os soldos e interesses que poderia fazerno decurso do seu governo, despedindo-o com afectada urbanidade e verdadeirodesprezo, como muito moço para governar homens tão barbados como os moradores deS. Tomé. Mas não só os particulares cometiam excessos; mesmo os oficiais públicos eramtambém disso acusados principalmente os escrivães e tabeliães, que abusavam dos autos,livros e mais papéis para beneficiarem os seus amigos e perderem os seus contrários. Eos próprios juízes mandavam capturar os acusados mais para satisfazer a empenhos doque por princípios de justiça. Os costumes tinham-se depravado a tal ponto que as maisegrégias pessoas da ilha arrastavam um trem de concubinas, ou conservavam o seuharém.”42

A decadência da marinha de guerra portuguesa, que teve início no reinado de D.Sebastião, originou um ataque contínuo às colónias portuguesas por piratas franceses,ingleses e holandeses. S. Tomé foi flagelado desde 1567. São importantes as lutas em que se envolveram as classes dominantes da terra, lutasessas que se desenvolveram durante quase todo o século XIX. Foram constantes efrequentes as desordens, rixas e intrigas que sustentaram entre si os diversos partidos,muitas vezes com recurso à mão armada, todos pretendendo governar e nenhumquerendo submeter-se. São os mais importantes:

Page 63: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 63 de 89 ::

A luta entre o clero e os governadores que começou em 1593, com a chegada de D.Fernando de Menezes, governador nomeado por El-Rei. O Bispo D. Francisco de VilaNova incompatibilizou-se com ele, porque pretendendo estender a sua jurisdição, ogovernador se opôs. O prelado lançou contra ele a Excomunhão que decretou em 26 deAgosto de 1594 acto que teve grandes consequências e abalou seriamente os alicerces dacolónia. Os naturais indígenas, andavam profundamente descontentes com a suacondição e maus-tratos que recebiam e aspiravam por vingança. O espírito de revoltafervilhava neles e estavam à espera, apenas, do primeiro momento favorável e de umchefe para desencadearem a insurreição. Forneceu-lhes o pretexto a luta em que se envolveram o bispo e o governador pela causaacima referida, e o chefe apareceu na pessoa de um negro conhecido por Amador,valente e dotado de grande firmeza de alma. Mas não eram só os negros que mantinham as intranquilidades na Colónia. Os brancos,autoridades e particulares provocavam continuamente dissensões, precipitando com elasa decadência da ilha, que durante os dois primeiros séculos da sua ocupação viveu emopulência e em prosperidades contínua. Reinaram ali a partir do séc. XVII, com raras e curtas interrupções, até à segunda metadedo século XIX, a anarquia, a corrupção, a intriga e a desordem.

Fig. 66 - Antiga escrava 6.d - População desde 1820

Page 64: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 64 de 89 ::

Diz-se que na ilha chegaram a existir mais de 100.000 escravos e 3.000 pessoas brancas;mas em 1820 segundo Cunha Mattos, existiam no distrito da Cidade e nas suas fazendasos seguintes habitantes:

Freguesias Homenslivres Mulheres LivresEscravosEscravasTotais

Cidade 900 1.188 1.460 1.420 4.968SS Trindade 274 254 11 4 543Santa Ana 120 119 10 14 263Santo Amaro 123 129 3 1 256Santa Maria Madalena 64 64 2 – 130N.Sª Guadalupe 148 153 2 1 304N.Sª das Neves 13 21 85 88 207S.João dos Angolares Freg. De Santa Ana(a) 162 170 – – 332Soma 1.804 2.098 1.573 1.528 7.003 (a) Monta a população dos angolares, de que apenas metade é baptizada e pertencem aoDistrito da Freguesia de Santa Ana Este mapa foi organizado por Cunha Mattos, no ano de 1814 sobre relações nominais,segundo ele diz, muito aproximadas à exactidão. Causa admiração a progressivadecadência da população da ilha. Pelo censo do ano de 1770, então existiam 20530 almas. Em 1789 existiam 13220, a diminuição conta-se quase toda no número dos escravos queforam morrendo ou passaram para o Brasil. Dos 7003 habitantes de S.Tomé existiam 21brancos puros, 35 quase brancos e 184 pardos. Entre 1830 a 1926 a população variou conforme mapa seguinte43: POPULAÇÃO DE S. TOMÉ E PRÍNCIPE1830184418781895EuropeusIndígenasServiçais de AngolaServiçais diversos

10 08912 75318 26630 0001 50012 50014 5001 500

(a)

(b)

Page 65: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 65 de 89 ::

1900BrancosMulatosIndígenasServiçais

42 1301 18728019 15321 510

1909EuropeusChinasTongasIndígenasServiçais contratados (ind. 4000 Nativos)

64 2212 000506 98719 65135 533

1914EuropeusServiçaisNativos

53 9691 40132 81719 751

1921EuropeusServiçaisNativos

58 9441 08038 69719 167

1926EuropeusServiçaisNativos

51 4051 24231 20018 963

(a) S. Tomé: 7017; Príncipe: 3072.No referente unicamente à Ilha do Príncipe existem os seguintes dados sobre a suapopulação entre 1940 e 2001: Percentagem da população Ano População do Príncipe, em relação à do arquipélago 1940 3.124 5,2 % 1950 4.402 7,3 % 1960 4.544 7,1 % 1970 4.593 6,2 % 1981 5.255 5,4 % 1991 5.471 4,7 % 2001 5.966 4,3 % Embora gradualmente a população do Príncipe tenha vindo em valor absolutoaumentando, mas comparando com o valor global do arquipélago, houve uma subida nasdécadas de 50 a 70, voltando a diminuir após a independência (1975), tendo agora ovalor mais baixo. Pelo Censo de 1981 a população de S. Tomé e Príncipe é 95.500 habitantes. 6.e - Carácter, Usos e Costumes do Povo44

Page 66: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 66 de 89 ::

O carácter dos habitantes de S. Tomé tem analogia com o dos naturais dos países de queprocedem. Os europeus são activos e amantes do trabalho, os descendentes dos minas edos benins são diligentes e asseados. Os angolas e cabindas são muito inferiores aos benins e minas; os calabares e gabões sãopreguiçosos e nada limpos. Os brancos nascidos na ilha são pela maior parte indolentes,desleixados e inimigos de aplicações sérias; os pardos gostam de ostentar de ricos e bempoucos há que sejam melhores do que os brancos. Em geral todo o povo é hospitaleiro, fanático, supersticioso e não faz ideia da verdadeirareligião (a católica). Ainda praticam várias cerimónias africanas como os banquetesfúnebres; o fazer patentes os sinais de virgindade das mulheres que se casam, acreditamna eficaz virtude de vários dentes, unhas de animais, pedras, paus, cabelos e outrascoisas para fazerem o homem invulnerável, voar por cima das árvores e passar por baixoda terra; têm medo incompreensível de feiticeiros e feiticeiras, que fizeram pacto com odiabo e desgraçada é a mulher velha que se encontra com alguma panela com folhasinfundidas por que está certa de morrer apedrejada ou ser lançada ao mar com umapedra no pescoço; acreditam na eficácia das missas e luzes votivas à imagem do PadreEterno da Igreja de SS Trindade e a pessoa contra quem se aplicam as missas morrefumada (inchada); e a pior é que muitos eclesiásticos aplicam estas missas ainda queconheçam o nenhum efeito delas; seria um nunca acabar se eu contasse as superstiçõesdo povo não humilde, mas também do da classe superior se não temesse que merespondam que em Portugal, no Brasil e em todas as colónias que ora pertencem à coroaportuguesa existem quase os mesmos fanatismos e superstições da Costa da África. Acredita-se em bruxas, feiticeiras e mágicos e a maior parte da gente mística e aindamuita da fina anda com breves da Marca, evangelhos de S. João, luvinhas de SantaBárbara, santos lenhos, e outras mexerufadas como preservativos de mortes repentinas,raios e coriscos, terramotos e naufrágios. Os franceses, os ingleses e outras nações que se proclamam mais ilustradas do que osportugueses também acreditam no Rei Artur transformado em Corvo, Purgatório de S.Patrício, Abade Paris, Príncipe Hohenlohe, etc. Os homens de S. Tomé vestem-se à portuguesa; algumas mulheres fazem outro tanto,mas as mulheres ordinárias embrulham-se em um pano que lhes serve de mantéu ecobrem-se com outro à semelhança das mouras pobres; mas trazem camisas e as que sãocasadas infalivelmente usam de um lenço à roda da cabeça ao qual dão o nome de Coroado Matrimónio - e felizmente as mulheres casadas da ilha são de tal modo circunspectas efiéis aos seu maridos, que mui rara é aquela que quebra a tal Coroa do Matrimónio, istoé, que comete adultério. Nos dias de festas e noivados todas as mulheres e homensandam ataviados limpamente, calçados (o que é um martírio) e de chapéu-de-sol. Nestesdias fazem-se grandes banquetes em que se como e bebe largamente, mas em um silêncioe tanto vagar que causa admiração. Já se vê que os Santos a quem fazem as festas devemter a menor parte; poucas velas, pouco incenso, mas bom presente para o padre que diz a

Page 67: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 67 de 89 ::

missa. Nesta ilha não há luxo em casas nem nas pessoas, todavia uma casaca ordináriaimporta em tanto como um vestido completo em Portugal ou no Brasil; tem acontecidocomprar-se um chapéu armado por 60$000 réis; um côvado de pano por 30$000 réis e omais em proporção.

Fig. 67 - Os Filhos da Terra, desenho de 1944 A comida ordinária dos europeus é carne de porco que é excelente e galinhas, poucasvezes vaca ou carneiro e muitas ocasiões comem peixe que é saborosíssimo. O maiorporco custa 5$000 réis, uma galinha 80 réis, um carneiro 1$200 réis, uma cabra 800 réis;o peixe é mui barato assim como todos os géneros comestíveis do país mas porcontrapeso compra-se por 40 a 60$000 réis uma barrica de farinha de trigo de 6 arrobas;o açúcar a 12$800, o vinho a 2$400 a garrafa, as vezes mais e poucas vezes menos. Em S.Tomé há muito boas cozinheiras de fogão e de forno e excelentes doceiras e pasteleiras. A gente mais pobre alimenta-se com o jaquente45 e peixe fresco, salgado ou seco, masadmira que sendo a maior parte do povo mui limpo nos seus vestidos e na comida, façam

Page 68: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 68 de 89 ::

uso de peixe muitas vezes já corrupto e cheio de bichos e que sobre tudo estimem otubarão a que chamam Gandum46, quando está podre e então o comem com muito azeitede palma e pimenta malagueta em quantidade enorme. No país a embriaguez raras vezesaparece porque o vinho e a aguardente chegam a mui alto preço; não acontece assim como vinho de palma o qual sendo bebido em grande quantidade esquenta e quando oshomens chegam a ficar perturbados são faladores insuportáveis. A sobriedade na comida é quase constante excepto em ocasiões de festas; entãocomeçando o jantar ou ceia na melhor ordem acabam à vezes como glutões e no fim detudo põem-se a rezar. A gente de São Tomé gosta muito de cumprimentos obsequiosos quando se encontram;então perguntam “como está o amigo, como está o senhor, a senhora, este, aquele, osfilhos e a gente mais moça quando pedem a bênção põem a mão direita sobre o peitodizendo - seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo.” Os compadres e as comadres abraçam-se muitas vezes. Quando se entra em uma casaolha-se logo para o oratório e em falta dele vendo-se algum painel na parede, ainda queseja uma paisagem, ou qualquer outra figura, fazem o sinal da cruz e se quem entra émulher ajunta ao sinal da cruz uma mesura e depois faz o seu cumprimento ao dono dacasa. Quem janta é que diz - Bom Proveito - àquele que não come. As danças que se usamsão lundus47 e outros jogos do corpo quase sempre lascivos e são acompanhados porviola, palmadas, pancadas de paus no chão ou com tabaques48. C. Mattos diz que nunca ouviu uma boa voz enquanto residiu em S. Tomé e que tinharazão o Governador inglês Dalzel, quando disse na sua História do Dagomé, que osmúsicos da Catedral de S. Tomé cantavam pelo nariz. Não há rapaz algum que nãosoubesse de cor inumeráveis orações, o intróito, prefácio e outros cânticos da Igreja, poisque o estado que mais apetece o povo desta ilha era o eclesiástico, que lhe dá grandehonra entre os seus e alguns interesses. Antigamente a maior parte dos eclesiásticos eram brancos de Portugal; a decadência dailha levou ao sacerdócio muitos pretos e com eles o esquecimento da literatura. Isto nãoquere dizer que falta gente que não sabe escrever; os rapazes da cidade todos lêem eescrevem mal; alguns aprendem tanto latim que basta para entender uma lição doBreviário. O Professor de gramática latina, o Cónego Silvestre Pereira dos Santos, preto instruído evigário da Freguesia da Conceição vencia 30$000 réis de ordenado e por isso tal paga talensino. Além deste eclesiástico existiam mais alguns que entendiam a sua missa poucomais ou menos e não ignoravam alguns casos de Bom Larraga49. Não há mestre público de primeiras letras e só existia na terra uma senhora chamada D.Domingas Pinto que escrevia o seu nome. Também existia um Mestre de Capela daCatedral que não obstante ignorar os primeiros signos da música, ensinava os meninos

Page 69: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 69 de 89 ::

de coro e mais de 60 estudantes que na catedral e outras igrejas faziam o serviço deCapelães Cantores. 6.f - Figuras ligadas a S. Tomé e Príncipe: “Aqueles que da lei da morte se vão libertando”, por bem ou mal fazer. 6.f.1 - Descobridores Foi atribuída a descoberta a João de Santarém e Pedro Escobar, cavaleiros da casa d’ElRei tendo como pilotos, Martim Fernandes, de Lisboa, e Álvaro Esteves, de Lagos.

Fig. 68 - Pêro Escobar

Fig. 69 - João de Santarém

6.f.2 - Rei Amador Este escravo deu origem a um acontecimento histórico que Cunha Matos50 descreveuassim: Falecendo no Hospital da Misericórdia um homem português que se achava negociando

Page 70: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 70 de 89 ::

na ilha, foi João de Oliveira, Tesoureiro dos Defuntos e Ausentes à enfermaria paraproceder ao inventário dos bens que o morto para ali havia conduzido. O Provedor daSanta casa opôs-se à entrada do Tesoureiro, alegando os antigos privilégios dela;seguiram-se contestações que obrigaram ao Provedor a dar conta do sucesso ao Bispo D.Fr. Francisco de Vila Nova, o qual reputando-se superior do Tesoureiro dos Ausentes, deuordem para que fosse preso. O Ouvidor Henrique Luís e a Câmara opuseram-se àsdeterminações do Bispo e com o auxílio do Governador D. Fernando puseram o tesoureiroem liberdade. Ressentido o Bispo deste procedimento, muniu o Governador e Justiçaspara lhe entregarem o preso; e porque o não fizessem, pôs interdito na ilha em o dia 26de Agosto de 1594 pelas 3 horas da tarde. Desde esse tempo ficou o Bispo em guerracrua contra o Governador; e porque o prelado fosse azedando os espíritos e D. Fernandoquisesse sustentar o carácter que lhe tocava, puseram-se os povos em dois partidosseguindo a gente branca e a parda e a preta abastada as partes do Governador e ospretos miseráveis e os escravos a do Bispo. Entre os escravos existia um chamadoAmador Vieira pertencente a Bernardo Vieira, assistente no Bairro do Espalmadouro, omais oriental da cidade, o qual recebeu este nome por ser o lugar onde se espalmavam(limpavam dos limos sobre a areia) e ainda hoje se espalmam os navios, deixando-os emseco sobre a praia abrigada, até ficarem limpos, calafetados e breados (?).

Page 71: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 71 de 89 ::

Fig. 70 - O Rei Amador, actual herói santomense. Portanto a origem da palavra Espalmadouro apontada pelo autor do Santuário Mariano éfalsa, pois o lugar sempre se chamou Espalmadouro e como tal foi apontado na cartarégia de 29 de Outubro de 1566, vinte e nove anos da rebelião do preto Amador. Ospretos de S. Tomé chamam com efeito ao lugar - Palmado - e não - Pramadouro - como dizo Padre Fr. Agostinho de Santa Maria, porque no dialecto da ilha que é a línguaportuguesa corrompida e mistura de palavras de vários idiomas da Costa da África - Pláou Prá significa Praia, e Plamadô quer dizer Espalmadouro; nem os pretos podempronunciar as sílabas - douro - pois que em lugar delas dizem - dô - . Verdade é que se oshabitantes quisessem dizer - Praia do Amador - expressariam esses nomes por meio deum só - Pla ou Pramadô - conforme a índole do seu dialecto; e foi isto o que deu motivo(juntamente com a ignorância da história da ilha) ao autor do Santuário Marianopersuadir-se de que o nome do Espalmadouro teve origem nos acontecimentos do pretoAmador (agora herói nacional de S. Tomé e Príncipe), quando aliás o termoEspalmadouro é português castiço apontado pelos nossos filólogos como substantivo doverbo espalmar, isto é, aplanar e alisar com a palma da mão e com efeito a praiachamada Espalmadouro em S. Tomé junto à Capela da Senhora de Belém ou do Bom

Page 72: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 72 de 89 ::

Despacho de que fala o Santuário Mariano, é limpa e lisa como a palma da mão e aí seespalmam as embarcações. O preto Amador colocou-se à frente da insurreição a favor do Bispo turbulento, queinsensível às pendentes desgraças viu que os insurgidos logo que quebraram as cadeiasda escravidão miraram a um alvo mui diferente do que se lhe havia figurado. No dia 9 deJulho de 1595,puseram-se em execução os planos tenebrosos que desde muitos dias seachavam concertados. Amador acompanhado de um grande número de pretos livres eescravos, declarou-se Capitão e nomeou seu Tenente o preto Lázaro, escravo deBernardo Coelho e para Alferes o preto Domingos, de alcunha o Preto, escravo de AfonsoRodrigues. Ás dez horas da manhã do referido dia, marcharam para igreja da Freguesia daSantíssima Trindade, onde cortaram as cabeças a todas as pessoas brancas que estavamouvindo missa. Logo depois Amado arrombou o Sacrário, espalhou pelo chão as sagradasformas e deitando vinho de palma na píxide e deu de beber a seus associados de quemexigiu juramento de exterminarem toda a gente branca. Feito isto chamou à sua presençao Padre Matias Luís, Cura da Freguesia e ordenou que um dos rebeldes o sentasse emcima do altar. O preto Álvaro, Tenente do Amador era conhecido deste padre e desejando salvá-lo,pediu ao Chefe da revolta que lho entregasse para o degolar juntamente com o sacristãoa quem já tinha mandado procurar. O Amador satisfez ao preto Álvaro e a vida do cura edo sacristão ficaram salvas, por havê-los feito ir de noite para a cidade. Cometidas estas atrocidades dentro da igreja marcharam os rebeldes para o engenho (deaçúcar) de Pedro Álvares Freire; mataram e queimaram o cadáver, casas e engenho eremeteram mulher e a sogra para a cidade por assim o pedir o Tenente Álvares. O PedroÁlvares Freire era um dos excomungados pelo Bispo. No dia 11 de Julho queimaramtodos os engenhos e fazendas da Parte do Dolegue, Ubua, Budo, e Praia Prata e puseramfogo no engenho Pantufa, a meia légua de distância da cidade. O Governador D.Fernando de Menezes, vendo estas grandes desordens mandou armar o povo e remeteubandeira ao Bispo para ser benzida. O Bispo conhecendo então que o Amador o enganarabenzeu a bandeira, com a qual saiu alguma gente a atacar os rebeldes que ainda existiamna Pantufa. O Amador mostrou-se melhor estratega do que D. Fernando, porquanto indoas forças deste procurar os rebeldes, vieram eles por outro caminho a atacarem a cidade.O Governador observando a manobra do inimigo, montou a cavalo e com pouca gente quelhe restava, saiu-lhe ao encontro na Feira Velha, dentro da cidade e aí travaram combateem que o Amador perdendo muita gente viu-se obrigado à retirada. As forças reaistiveram 3 homens brancos mortos e muitos feridos. O Amador reuniu a sua gente na Cruzda Índia e daí se marchou para o distrito da Trindade quando viu que chegava o Bispo emuitos clérigos montados e dispostos ao combate. O Governador mandou picar aretaguarda dos negros pelo capitão João de Pina até ao sítio de Água Alta; e eles (osrebeldes) quando fugiram roubaram toda a roupa das lavadeiras de Água Grande docaminho da Trindade e mataram uma égua do dito João de Pina.

Page 73: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 73 de 89 ::

Chegadas as coisas a este ponto, quis o Bispo desfazer os agravos que havia praticado epara isso chamou à Sé o Governador e todos os excomungados, fez-lhes uma longaexortação no dia 12 de Julho, absolveu-os e levantou o interdito fulminado; era tarde oMal estava feito por um Bispo inconsiderado. O Amador nesse mesmo dia queimou todosos engenhos da Freguesia da Madalena e os do Distrito de Água Sabão (Água éequivalente a Ribeira no dialecto de S. Tomé). O Amador por estes ensaios conheceu ser capaz de mais algumas coisas e por isso no dia13 tomou o extraordinário título de - Capitão General de Guerra, Rei nomeado absolutocom poder de dar liberdade a todos os escravos e de criar Titulares para a sua Corte -.Com este brilhante título pôs-se à testa de toda a sua gente e no dia 14, sexta-feira deJulho, pela manhã desceu à cidade para matar os brancos que (ainda) nela se achassem. O Governador, Bispo e o povo armado saíram ao encontro dos rebeldes que foram batidoscom alguma perda, havendo da parte das forças realistas a morte de António Carvalho,escravo de Leonor Luís. O Amador recolheu-se junto à igreja da madre de Deus e dividiu as suas tropas em 4grupos; achando-se assentado em uma cadeira no sítio do Cubelo; o 1º Corpo debaixo dasordens do negro Lázaro o intitulado Conde marchou no dia 16 para a cidade pela Rua deSanto António; o 2º Corpo comandado pelo preto Sebastião e composto de negrosangolas veio pelo Mato dos Bois; o 3º Corpo atacou pelo caminho da Conceição debaixodas ordens de um preto cujo nome não aparece e era escravo de André Gomes Pereira; o4º Corpo veio pela Rua de S. João debaixo do comando de Domingos Preto, escravo deAfonso Rodrigues de que já se falou. Este Domingos mandou queimar toda a Rua de S. João; as casas da Rua da Praia situadasem terreno que o mar já consumiu e ficavam por detrás da igreja de S. João até a boca doRegato da Ponte de Lucumi. Também foram queimadas as casas da Apolónia FernandesTristão. Como o Governador tinha recebido notícia deste ataque mandou colocar artilharia nasprincipais entradas da cidade e saiu a acometer os rebeldes que por temor ou por ordemse recolheram novamente ao Cubelo. Até agora tinha-se o Governador conservado nadefensiva, erro fatalíssimo que por vezes pôs a cidade à borda do precipício; deliberando-se a mudar o sistema ordenou no dia 23 de Julho que o capitão Cristóvão de Aguiar e oAlferes Jerónimo de Sá marchassem a surpreender uma guarda rebelde postada naFazenda da Água Grande de André Fernandes, no Caminho da Trindade; os espias doGovernador diziam que os rebeldes não conservavam sentinelas e marchando portanto ocapitão com uma espécie de certeza de feliz êxito, ficou enganado quando se ouviram osbrados de um preto que estava postado sobre a frente do corpo inimigo o qual logo se pôspronto a combater, como efectivamente o fez até que sendo morto o Comandante CondeSilvestre, escravo de Rui Dias, foram desbaratados os rebeldes e fugiram em desordempara o alojamento do chamado Rei Amador. O preto que estava de sentinela avançada efoi aprisionado chamava-se Gungu.

Page 74: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 74 de 89 ::

O Amador mostrou o maior sentimento pela morte do seu Conde Silvestre e jurou vingá-lono sangue de gente da cidade. Para esse fim aprontou um corpo de 5000 homensdivididos em 4 corpos e no dia 28 de Julho saiu do Cubelo para a cidade. O Governador D.Fernando tinha-se preparado para responder ao ataque, assestado mais numerosaArtilharia nas bocas das ruas em que haviam trincheiras assim como em outros lugaresque julgava acessíveis a um assalto. O Amador conservou consigo um dos quatro corpos.O 2º debaixo das ordens do preto Cristóvão foi destinado para atacar a cidade peloCaminho da Praia Pequena; O Corpo comandado pelo negro Adão da Praia Preta, haviade atacar pelo Campo dos Bois; e ao Domingos Preto com o 4º Corpo destinava-se aoataque pela Rua de S. João. O Amador conduziu todos os corpos para o Campo de Santo António e depois de osrevistar e animar ao combate, fê-los marchar para os pontos de ataque. As forças do Governador montavam a pouco menos de 5000 homens e por isso eramquase iguais em número, mas muito mais bem armados e disciplinados, por seremcompostos de gente branca e a melhor preta e parda, com alguns escravos. Às 10 horasda manhã o preto Domingos atacou a Rua de S.João junto à Igreja e sendo repelidodesfilou pela direita e foi atacar a trincheira elevada por detrás da Igreja da Conceiçãoonde existiam 8 peças de Artilharia, cujo fogo obrigou os negros a retirarem-se para aCruz da Índia. A coluna que atacou pela Praia Pequena o Bairro do Espalmadouro foitambém batida, acontecendo outro tanto à do Campo dos Bois e à do Amador queacometeu pela Rua da madre de Deus e foi rechaçado. As tropas negras tinham ordem dereunir-se na Cruz da Índia em caso de não entrarem na cidade. O Governador D.Fernando aproveitou a ocasião e foi carregando os negros, mas encontrou o Amadorformado em linha com o seu corpo de reserva ao qual se reuniram os outros corpos quetinham entrado no assalto. A batalha foi muito renhida e durou por espaço de 4 horas;como porém o Amador visse o grande estrago que sofriam os seus soldados, mandoutocar a retirada e foi para o seu alojamento na Fazenda, agora chamada de António Vazda Freguesia da Trindade. O Governador por motivos que se ignoram não atacou ospretos como lhe aconselharam os seus oficiais; contentou-se com o que tinha feito erecolheu-se à cidade. No exército real houve 85 mortos e um grande número de feridos, no do Amadormorreram 200 homens e ficaram feridos e prisioneiros mais de mil praças. O chamadoConde Lázaro entrou no número de mortos. Durante a batalha andou o Amador correndoas fileiras e animando as tropas assentadas num palanquim rodeado pela sua guardacomposta dos negros mais valentes que existiam no exército. Os rebeldes em desafogo daderrota que sofreram foram queimar e destruir todos os engenhos, fazendas, igrejas,casas e choupanas que pertenciam às pessoas que estavam na cidade e assim deram cabode mais de 200 engenhos grandes e pequenos durante o tempo da sua rebelião. O Governador que não pôde aprisionar ou matar o preto Amador durante a guerrabárbara que este lhe fazia, procurou havê-lo à mão por via de traidores. Ele pôs a preço acabeça do Amador e o Capitão Domingos que não cumprira o seu dever no ataque da Ruade S. João e por isso ficara fora da graça do General rebelde, urdiu uma conspiração,

Page 75: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 75 de 89 ::

surpreendeu o Amador, e foi levá-lo a D. Fernando de Menezes que em um alto cadafalsoo mandou fazer em quartos no dia 4 de Janeiro de 1596. Assim terminou a vida o preto que em 18 dias passou do cativeiro ao trono, organizou umexército, devastou e destruiu para sempre uma ilha riquíssima e florescente, atacou oGovernador da colónia que tinha forças mais numerosas e mostrou-se menos estratégicodo que um escravo miserável; a traição pôs termo à sua existência e se com efeito eledefendesse uma melhor causa, se não cometesse as horrorosas atrocidades da Igreja daTrindade, o nome do preto Amador entraria na classe dos heróis mais distintos na arte defascinar os homens, assim como agora pode ser colocado na primeira linha daqueles quese fizeram famosos pelas suas barbaridades. O preto Amador só figura no SantuárioMariano por um incidente, devendo aliás aparecer na grande lista dos famosos malvados. [É um texto um pouco comprido, mas com importância histórica que convém deixarregistado.] 6.f.3 - Brigadeiro Cunha Mattos

Fig. 71 - Raymundo José da Cunha Mattos Com D. João VI Regente, e por aviso de 6 de Abril de 1796. Raimundo José da CunhaMattos, foi nomeado para seguir para S. Tomé, como furriel do regimento de artilharia demarinha. Lá chegou em 15 de Agosto de 1797 a bordo da fragata “Cisne”. Permaneceunestas ilhas durante 19 anos. Promovido a alferes foi nomeado em 1 de Setembro de 1797 comandante da guarnição(governador de fortaleza) de São Sebastião, em S. Tomé. Promovido a tenente passou aacumular com a fortaleza o comando da companhia de Artilharia de S. Tomé. Em 2 de Fevereiro de 1805 partiu para Lisboa por ordem do governador Gabriel Franco

Page 76: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 76 de 89 ::

de Castro, regressando a S. Tomé em 30 de Agosto em companhia do novo governadorCoronel Luís Joaquim Lisboa. Foi promovido a capitão em 1807. Em 1809 era governador da Fortaleza de S. António da Ponta da Mina na Ilha doPríncipe. Em 20 de Novembro de 1811 chegou a S. Tomé ordem para ser nomeadoProvedor da Fazenda. Também ocupou os cargos de Feitor da Alfandega e Provedor dosFeitos. Em 1814, promovido a Tenente Coronel no Rio de Janeiro, voltou a S. Tomé. Em 1815governava a Fortaleza de S. Sebastião data em que escreveu a sua obra CorografiaHistórica das Ilhas de S. Tomé, Príncipe, Ano Bom e Fernando Pó. Em 27 de Julho de 1815 foi nomeado Capitão Mor (Governador) da Ilha de S. Tomé cargoque exerceu até 1816, passando nesse ano para o Brasil como inspector de Trens daCapitania de Pernambuco. Em 1831 já Brigadeiro. Raimundo J. C. Mattos, seguiu D. Pedro IV tendo tomado parteem 1832 no Cerco do Porto. Regressou ao Brasil em 1833 onde, no ano seguinte énomeado Comandante da Escola Militar e vogal do Conselho Supremo Militar. Em 1835ascendeu a Marechal de Campo.51

6.f.4 - Primeiro Barão de Água-Izé, João Maria de Sousa e Almeida52

Fig. 72 - Primeiro Barão de Água-Izé Na história das ilhas de S. Tomé e Príncipe, essencialmente agrícolas, entre os homensde maior valor figura o nome de João Maria de Sousa e Almeida. Além de agricultor

Page 77: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 77 de 89 ::

nestas ilhas, foi negociante em Benguela, governador desse distrito e militarmente muitoconsiderado. A Rainha D. Maria II e El-Rei D. Luís deram-lhe provas de muito apreço.Sousa e Almeida deixou em documentos a sua “Memória” que escreveu a respeito dacultura do cacau e que fez publicar no Boletim Oficial de S. Tomé em Janeiro de 1858. Devido à sua teimosia a exportação de cacau que em 1826 era nula, passou para 11.000toneladas em 1899. João Maria de Sousa e Almeida, primeiro Barão de Água-Izé, nasceu em 12 de Março de1816 e faleceu em S. Tomé em Outubro de 1869, vítima de febre biliosa hematúrica,contando 53 anos. Em Angola participou na Guerra do Dombe Grande sendo promovido a Tenente-coronel, sendo-lhe conferido o grau de cavaleiro da Torre e Espada. Fixou-se em S. Tomé na Praia-Rei em 1855 que mais tarde tomou o nome de. Água-Izé. Pelos serviços prestados à comunidade recebeu a comenda da Conceição, e El-Rei D. Luís deu-lhe o foro de fidalgo da casa real. Em 1844 é-lhe concedida a comenda deCristo e em 1868 o título de Barão. Nas comissões e cargo que serviu zelosamente, nunca o barão de Água-Izé aceitouremuneração alguma. 6.f.5 - Viana da Mota 53

Fig. 73 - José Viana da Mota José Viana da Mota, era natural da ilha de S. Tomé, tendo nascido em 22 de Abril de1868, sendo filho de José António da Mota, que nesta ilha se estabelecera como

Page 78: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 78 de 89 ::

farmacêutico e filho de sua mãe Inês de Almeida Viana da Mota que era santomense. Foipara o continente europeu com apenas um ano de idade vivendo alguns anos em Colares.Como se sabe foi um pianista famoso nacional e internacionalmente. Estudou noConservatório de Lisboa sendo os estudos patrocinados pelo rei D. Fernando e pelaCondessa de Edla. Em 1882 parte para Berlim onde, custeado pelos reis mecenas,continua durante três anos os estudos de piano e composição. Faleceu em 1948 emLisboa. 6.f.6 - Maria Correia54

Fig. 74 - Coronel de 2ª Linha, José Ferreira Gomes. Viveu de 1788 a 1861 e foi a princesa negra mais rica da Ilha de Príncipe. Nos últimosanos do séc. XVIII, o período da cultura da cana sacarina foi prejudicado pelodesenvolvimento do Brasil e pelos constantes ataques dos franceses entre 1706 e 1799.Nesse período a ilha de Príncipe conheceu um período áureo de grande esplendor. Privilegiada pela sua situação geográfica a ilha abastecia em água e comedorias todos osnavios negreiros que rondassem as costas do Golfo da Guiné, e servia de entreposto devenda e arrecadação de escravos neste negócio excepcionalmente rendoso, donde a ilhase tornou um recanto abastado onde se vivia abastadamente. Maria Correia Salema Ferreira era natural do Príncipe, onde nascera em 1788, filha domajor de milícias António Nogueira (brasileiro) e de D. Ana Maria de Almeida, também

Page 79: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 79 de 89 ::

nativa da ilha. Casou em 1812, com 24 anos, com o capitão de ordenanças José FerreiraGomes (brasileiro), filho do Capitão-mor Vicente Gomes Ferreira e de D. Josefa Maria daConceição. Ferreira Gomes fixou-se na ilha quando da proclamação da independência do Brasil, erahomem viajado e, além de proprietário agrícola, era também armador de naviosdestinados ao melhor negócio no tempo, o tráfico de escravos. Ferreira Gomes introduziuna Ilha de Príncipe em 1822 o cultivo do cacau cuja planta trouxera do Brasil e quefrutificou ali pela primeira vez na sua roça Sinaló. Depois alongou a experiência às outras ilhas de S. Tomé, Fernando Pó e Ano Bom, entãojá não dependentes de Portugal, mas sob a influência de S. Tomé e Príncipe. Foi Cavaleiro da Ordem de Cristo e obteve o título honorífico de Moço-fidalgo da CasaReal. Morreu aos 56 anos em 1837 como Ouvidor Geral Substituto e coronel dasOrdenanças. A sua viúva mandou gravar na lápide sepulcral do finado o seguinte: Involta (sic) em pranto, em dor, e agonia,Traçou a triste esposa lutuosa,As cinzas do esposo saudosa,Este epitáfio sôbre a campa friaAqui jazem os restos de um consorte,Exemplo de bondade e de ternura,Baixou dos mortos à mansão escura;Deixando a inerme esposa entregue à sorte. Maria Correia voltou a casar e faleceu em 1861, e foi enterrada no cemitério do Bom-Fim. Viveu opulentamente sendo a pessoa mais rica da ilha. Mantinha dois palácios apetrechados e com pessoal permanente, onde alternadamenteresidia, um na roça Ribeira Izé e outro no Simaló junto da cidade. Era dona das roças:- Simalí- O que Boi- Pico ou Praia Velha- Ribeira Izé- O que Onça- Quinta- O que do Rosário- Sillu- Portinho- O que capa- Praia Salgada

Page 80: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 80 de 89 ::

- Ribeira das Agulhas- Praia Ubá e Praia Rei

Fig. 75 - Como o postal antigo indica, aqui estão as ruínas do palácio de Maria Correia,sendo a foto de cerca de 1910. Possuía casas na cidade:- no Simaló- na Rua da Quitanda- na Rua Direita dos Prazeres- no Largo da Sé Era dona ainda de:- 376 escravos- Jóias numerosas e de muito valor- Alfaias de prata- Baixelas- Móveis e roupas riquíssimas O mais interessante do seu espólio, foi a sua Biblioteca avaliada na altura da morte do 2ºmarido, em 80$000 réis, valor fabuloso para a época. De lendas viveu sempre rodeada, mas para proteger os seus negócios consta que D.Maria Correia convidava sempre os oficiais dos barcos ingleses que reprimiam aescravatura (feita pelos outros países que não pela pura Inglaterra…) regiamente osbanqueteava e entretanto descarregava os seus escravos numa praia oposta da ilha semgrandes problemas. 6.f.7 - Almada Negreiros - Pintor

Page 81: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 81 de 89 ::

Fig. 76 - Auto-retrato de Almada Negreiros José Sobral de Almada Negreiros, nasceu em S. Tomé em 7 de Abril de 1893, filho dotenente de cavalaria António Lobo de Almada Negreiros e de Elvira Bristot Sobral,natural de S. Tomé. Passou a sua infância em S. Tomé na Roça Saudade. Depois da morteda mãe foi interno no Colégio de Campolide (jesuíta). Foi apoiante do Estado Novo eadmirador de Salazar. Fez imensas obras desenhadas e pintadas encomendadas pelogoverno. Recebeu muitos prémios pelos seus trabalhos artísticos e foi condecorado pelasua acção em prol da arte. Morreu em Lisboa em 14 de Junho de 1970. Era pai do arquitecto Almada Negreiros companheiro do autor, no Colégio Militar, ondeteve o nº 144. Este serviu como oficial miliciano no Regimento de Artilharia AntiaéreaFixa em Queluz, como alferes sob o comando do autor. 6.f.8 - Governador Gorgulho Dois anos depois de o autor ter passado em S. Tomé, pela primeira vez e antes da suasegunda passagem em 1956, se bem que a vida na colónia sempre tivesse sidotumultuada, não pensei que fosse possível o que depois aconteceu. Preparava-se o “Planode Fomento” sendo polémico o povoamento e a fixação de mão-de-obra em S. Tomé. Havia um movimento destinado a:

Page 82: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 82 de 89 ::

1– garantir o nivelamento perante a lei de todas as populações vivendo em S. Tomé e aaplicação da lei a todos sem excepção; fossem europeus, nativos-forros, nativos-angolares, nativos-tongas, angolares, moçambicanos e caboverdeanos; 2 - garantir uma população agrária livre.

Fig. 77 - Governador Carlos Sousa Gorgulho em exercício em S. Tomé em 1953. As grandes roças, dependentes dos nativos em regime de trabalhos contratados (leia-seserviçais), viam assim o seu futuro comprometido. Para agravar, existia uma criseinternacional na venda do cacau. O alarme foi dado pelo aparecimento de cartazes escritos em dialecto (julgo que crioulo)dizendo: “Vamos cortar a cabeça do governador, matar todos os brancos e ficar com as mulheresdeles”55. De notar que foi assim que o pessoal do “Rei Amador” tinha feito no séc. XVI. Apopulação ficou aterrorizada. Não se sabe quem colocou os cartazes mas não é de excluirque tenham sido os senhores das roças já que objectivamente, os cartazes serviram paraesmagar um movimento de progresso e proporcionar um novo ciclo de repressãooferecendo trabalho quase escravo às roças. O Governador de S. Tomé, Carlos Gorgulho56, reage de imediato. A capacidade militar éreduzida, 180 militares dos quais 10 brancos portugueses e 100 nativos de S. Tomé. Estes últimos são deslocados para não comprometerem o desenrolar dos acontecimentos. O comandante da Polícia, capitão Salgueiro Rego, não concorda com o plano dogovernador e é colocado em prisão domiciliária sendo poucos dias depois embarcadopara Lisboa.

Page 83: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 83 de 89 ::

Sucede-lhe no comando da polícia o Tenente Santos Ferreira, que concordava com ogovernador. Formam-se milícias e mais de 600 homens partem para as matas e vilas, para travar umaeventual revolta. Segundo consta a ordem do governador era: “Deita essa m… ao mar para evitar mais chatices”.

Fig. 78 - Alguns sacrificados aos acontecimentos. Parece que houve mortes entre os nativos, chegando a afirmar-se que teriam chegado àscentenas. Passados os acontecimentos, o capitão Clodomir Alvarenga toma posse do comando dapolícia de S. Tomé, procedendo-se então e durante três anos a investigações ejulgamentos. Alvarenga viria a afirmar “aquilo tratou-se de uma tentativa de extermínio e eraimpossível que Salazar, sempre tão bem informado, o desconhecesse.” Em 1956 o Governo Português encerra as investigações e tudo é coberto por um véu desilêncio.No entanto na época de Gorgulho foram concedidas regalias sociais (abonos de família,subsídio de renda de casa, assistência médica gratuita…) aos funcionários públicos, foidesenvolvido um amplo projecto urbanístico, foram criadas assim várias infra-estruturascomo a Escola de Artes e Ofícios, o Colégio Liceu, etc.

Page 84: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 84 de 89 ::

Fig. 79 - Vivenda para funcionário, de muitas construídas no governo de Gorgulho. No fim do seu primeiro mandato os nativos enviaram uma representação a Lisboa commais de 2.000 assinaturas pedindo a recondução do governador no cargo. Também foramconstruídas no seu mandato várias residências na avenida marginal, o mercadomunicipal, um dispensário anti-tuberculoso, os aeroportos de S. Tomé e do Príncipe, umestádio desportivo, o cinema Império e algumas Pousadas. 6.f.9 - O exílio do Dr. Mário Soares Diz o Dr. Mário Soares em Julho de 2008: “Em 1968, inesperadamente, fui preso no meu escritório de modesto advogado, emLisboa e enviado dois dias depois para S. Tomé, como deportado, por tempoindeterminado e sem julgamento prévio, por um acto de puro arbítrio do ditador Salazar,documentado pela escrita e pela assinatura do próprio, em despacho num processoorganizado pela PIDE, que teve também o visto do Ministro do Interior do tempo. Nessaaltura, S. Tomé servia como base de uma operação ultra-secreta de apoio, quase diário,de armas e munições aos insurrectos do Biafra, na luta contra a independência daNigéria. O Governador, Silva Sebastião, um militar probo apercebeu-se do inconvenienteda minha deportação, que atraiu a S. Tomé as atenções dos meios europeus jurídicos,políticos (como a Amnistia Internacional que me declarou “ o preso do ano”), mediáticose em consequência, também para a “operação” Biafra, ou seja: a intervenção de umGoverno Colonialista europeu contra um Estado Africano Recém-independente. OGovernador advertiu Salazar, mas não o convenceu.

Page 85: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 85 de 89 ::

Fig. 80 - Dr. Mário Soares já presidente da República Portuguesa. Respondeu-lhe que o meu caso tinha a ver exclusivamente com a delegação da PIDE, emS. Tomé e que a ele Governador, só competia ignorar-me em absoluto. O que de factoaconteceu, até à queda do Ditador, no Forte de S. João do Estoril, onde passava férias. Passei assim, quase todo o ano de 1968 bastante isolado e permanentemente vigiado, diae noite, em S. Tomé, Cidade. 1968 foi um ano singular porque para além do despertar deÁfrica, contra os últimos vestígios do colonialismo, foi o ano de Maio de 68, umarevolução emancipadora e cultural de grande amplitude, que não só abalou a França deDe Gaulle, mas teve repercussões por toda a Europa. Mas foi também o ano da invasãoda Checoslováquia de Alexander Dubceck, pela URSS, que anunciou por forma já muitoevidente, o declínio e as incontornáveis contradições do Império Soviético. No meu canto em S. Tomé armado de um simples transístor, que me fez chegar,clandestinamente, por artes mirabolantes, o meu saudoso amigo Pedro Monjardino,grande médico e anti-fascista convicto, fui seguindo, como pude, a evolução daquele anode viragem e começando a tecer a teia que me conduziria, um ano depois do meuregresso a Lisboa, ao exílio em França, à criação clandestina do Partido Socialista emBad Münstereifel, em 1973. Foi em S. Tomé também que no dia em que foi anunciada a

Page 86: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 86 de 89 ::

queda de Salazar e o consequente hematoma cerebral, comecei a escrever o que seria omeu livro, editado em França, Portugal Amordaçado57. O que o Dr. Mário Soares não informa é que a sua estadia na ilha de S. Tomé não foi umadeportação como deseja fazer crer, mas sim uma estadia por conta do Estado Português,onde o mesmo senhor andava à vontade e inclusivamente foi autorizado a advogar, dondetirou proveitos de que não fala. Julgo que permaneceu um ano na ilha, o que não é penaque seja de considerar. Porque razão o Dr. Mário Soares quando chegou a S. Tomé, com residência fixa, e nãodeportado, foi apresentar cumprimentos às autoridades locais, o Governador, oPresidente da Câmara Municipal e o Comandante Militar? Tais delicadezas julgo eu, éque lhe permitiram passar a desempenhar as funções de advogado-consultor do GrupoCuf em S.Tomé 58. 6.g - Linguajar (dialectos) A linguagem é a manifestação dos pensamentos por meio de sons articulados, e emsentido figurado é tudo o que exprime os nossos pensamentos, sejam o gesto, a palavra, aescrita, a pintura, a escultura que nos permite comunicar com outros seres. Em S. Tomée Príncipe coabitam vários idiomas nacionais, e vários crioulos são tidos como línguamaterna. O desenvolvimento dos vários crioulos assenta no português de quinhentosevolucionado com o tempo, ao qual se sobrepuseram palavras de origem africana. Na ilha de S. Tomé fala-se o forro, o angolar, o tonga e o monco além do português. Oforro ou santomense é um crioulo de origem portuguesa que derivou da antiga línguafalada pela população mestiça e livre das cidades. Os Forros, falam o santomé, crioulo mais falado pela população santomense. Os Angolares falam o angolar. Os Tongas, consoante a sua origem:- tonga “n’gola” com origem em Angola ou em Moçambique;- crioulo de Cabo Verde.Consta que no séc. XVI naufragou perto da ilha um barco de escravos angolanos, muitosdos quais conseguiram nadar até à ilha e formar um grupo étnico à parte. Há cerca de78% de semelhanças entre o forro e o angolar. O tonga é um crioulo com base no português e em outras línguas africanas. É falado pelacomunidade descendente dos “serviçais”, trabalhadores trazidos sob contrato de outrospaíses africanos, principalmente de Angola, de Moçambique e de Cabo Verde. Na ilha do Príncipe fala-se principalmente o monco ou principense, que é um outro

Page 87: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 87 de 89 ::

crioulo de base portuguesa e com possíveis acréscimos de outras línguas indo-europeias.Outra língua falada no Príncipe e também em S. Tomé é o crioulo cabo-verdiano, trazidopelos milhares de cabo-verdianos que emigraram para estas ilhas no séc. XX paratrabalharem na agricultura. Na ilha de Príncipe o crioulo é o lunguyé ou lungu d’yé. O português corrente em S. Tomé e Príncipe guarda muitos traços do português arcaicona pronúncia, no léxico e até na construção sintáctica. Era a língua falada pela populaçãoculta, pela classe média e pelos donos das propriedades (Roças). Actualmente é oportuguês falado pela população em geral, enquanto que a classe política e a altasociedade utilizam o português europeu padrão, muitas vezes aprendido durante osestudos feitos em Portugal59. O português é a língua materna de muitos santomenses. Tendo um estatuto privilegiadopor ser o idioma oficial, é a língua da administração e de ensino e é também a língua depromoção social e de socialização nas zonas urbanas. No século XIX Cunha Mattos dizia: “O idioma de S. Tomé é o português corrupto ao qual misturam muitos termos daslínguas da Costa da África; destes talvez não passem de oitenta os que se usam, àexcepção dos nomes de aves e vegetais que não existiam em Portugal. Eu mostro alguns termos não portugueses que se introduziram no dialecto de S. Tomé:Budo............ PedraMian-mian ...... Coisa brilhanteNe.-ne.......... Coisa muito claraAbua............ Cerca. Escusado é ajuntar outros. Os termos portugueses desfigurados são quase todos osoutros e apontarei alguns para mostrar que a alteração procede dos órgãos da voz, poisque os pretos não pronunciam com facilidade diversas letras do alfabeto (usado emPortugal)Qué............. CasaPé.............. Pai (?)Muela........... MulherAzul............ ZuroVermelho........ VlêmêPraia........... Plá ou PlêIgreja.......... GiezaVinho........... VinOs animais distinguem-se nas suas espécies e sexos pelas palavras Homem ou Mulher.Por exemplo o cão ou cachorro, chama-se caçô home e a cadela caço muela. O boi, boêhome e a vaca boê muela. O cavalo é cabalo homem e a égua cabalo muela e assim todosos mais excepto o galo e a galinha aos quais se dá o nome de: galo e gaiãn.”Sendo o português uma língua plural com variantes internas e em contacto com outras

Page 88: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 88 de 89 ::

línguas, é ainda uma língua cada vez mais plural e mestiça, sem com isso perder a suaunidade essencial. * Tenente-coronel de Artilharia. Professor Efectivo de Topografia e Geodesia daAcademia Militar, Lisboa; Professor e Criador do Curso de Engenharia Topográfica noInstituto Politécnico de Beja, Professor de Topografia e Desenho Topográfico da Escolade Formação e Aperfeiçoamento do Instituto Geográfico e Cadastral em Lisboa, ProfessorConvidado da Universidade dos Açores para as cadeiras de Topografia e DesenhoTopográfico, em Ponta Delgada, e Professor de Topografia da Universidade Lusófona emLisboa.  1 Embarcação pequena de dois mastros e uma só coberta. É próprio para o combate oupara dar caça. 2 Navio grande de guerra que servia para transporte de tropas. 3 Navio de guerra de força imediatamente inferior à nau. 4 Desanimar, desapontar. 5 Foto Cristina Barroso 2009. Aparece na zona NE da ilha. 6 Foto Cristina Barroso 2009. 7 Foto Cristina Barroso 2009. 8 Foto Cristina Barroso 2009. 9 Foto Cristina Barroso 2009.10 Foto Cristina Barroso 2009.11 Piloto desconhecido do séc. XV.12 Foto Cristina Barroso 2009.13 Tubérculo parecido com a batata-doce, mais duro que a batata, e maior [colocasiaesculenta (L.) schott].14 Órgão de propagação unicelular, autónomo, como nas hepáticas, classe de plantas queantigamente se supunha curar as doenças de fígado.15 Foto Cristina Barroso 2009.16 Foto Cristina Barroso 2009.17 Foto Cristina Barroso 2009.18 Idem.19 Foto Cristina Barroso 2009.20 Idem.21 Idem.22 Foto Cristina Barroso 2009.23 Foto Cristina Barroso 2009.24 Abrigo de malfeitores ou de gente suspeita, segundo o dicionário geral da línguaportuguesa do Dr. Artur Bívar - 1ºvolume - pág.770.25 Enciclopédia Fundamental Verbo - pág. 534.26 Trocas mais ou menos comerciais.27 O Império Africano séc. XIX e XX - Augusto Nascimento - Centro de Estudos Africanose Asiáticos. IICT Lisboa 2000 Pag.96.28 O Império Africano séc.XIX e XX - Augusto Nascimento - CEAA-IICT Lisboa 2000

Page 89: As Ilhas do Equador - II Parte

Revista Militar N.º 2518 - Novembro de 2011, pp 1347 - 1430.:: Neste pdf - página 89 de 89 ::

Pag.98.29 http://pt.wikipedia.org/wiki/Companhia_de_Cacheu_e_Cabo_Verde.3 0 B o l e t i m G e r a l d a s C o l ó n i a s n º 3 9 8 - 1 9 5 8 ;http://www.historia.uff.br/curias/modules/tinyd0/.31 Manuel Murias, 1938, Revista 48, Pelo Império.32 Boletim Geral das Colónias, VIII-085 Apenso de legislação Colonial nº 85ª - Vol. VIII,1932, 29 pags.33 Augusto Nascimento. Centro de Estudos Africanos e Asiáticos. IICTropical, 1999.34 Na visita do Colégio Militar em 1951.35 General A. Freire de Andrade, 1925, BGC nº3. Catana para roçar a vegetação, donde onome de Roça.36 Pe. António Ambrósio - Subsídios para a história de S. Tomé e Príncipe - 1984.37 Luís Felipe Alencar 2000.38 Iolanda Trovoada Aguiar, Instituto Superior de Agronomia de Lisboa - 2000.39 Foto de Cristina Barroso, 2009.40 Arquivo Histórico Ultramarino - Cartografia manuscrita, S. Tomé, nº170.41 Iolanda Trovoada Aguiar - Instituto Superior de Agronomia de Lisboa - 2000.42 Raimundo José da Cunha Mattos - Corografia Histórica das ilhas de S. Tomé, ePríncipe, Ano Bom e Fernando Pó - 1776-1839.43 Pe. António Ambrósio - Subsídios para a História de S.T. Príncipe 1984.44 Cunha Mattos, Compêndio Histórico das Possessões de Portugal na África, já muitoreferido.45 Jaca vulgar.46 Gandulo, vadio, tratante, aquele que come do alheio e guarda o seu.47 Dança de pretos.48 Tambores.49 Moralista Lagarra.50 Compêndio Histórico das Possessões de Portugal na África, 1835.51 Revista de Artilharia - 1932 - nº 89 - Coronel Ferreira Lima.52 Viana de Almeida - 1968 - B.G.C. nº 515.53 Maria Josefina de Sousa Pinto - 1968 - B.G.C. nº 521-522.54 Maria Correia a princesa negra do Príncipe - Colecção Pelo Império, nº104 - AgênciaGeral das Colónias - Autor - José Brandão Pereira de Melo.55 [Acontece que em Timor, onde me encontrava em 1967, também apareceram cartazesdizendo, “esta noite vai haver muito sangue, etc…”. Criteriosamente a polícia sob ocomando do Capitão Mimoso, esperou para ver e nada aconteceu. Tinha sido umabrincadeira de alunos do liceu, uma garotice.]56 Conheci-o como Brigadeiro Gorgulho, tendo sido antes comandante da Escola Práticade Artilharia em Vendas Novas.57 Textos Mário Soares - Quarenta anos depois - 2008.58 S. Tomé e Príncipe - Ecos de Ontem e de Hoje - Dra. Otilina Silva, 2006.59 Adelardo A. D. Medeiros - 2006 - http://www.linguaportiguesa.ufrn.br/pt_3.4.e_s.php.