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ANÁLISE DAS INTER-RELAÇÕES SETORIAIS DO COREDE VALE DO RIO PARDO/RS, BRASIL Carina Santos de Almeida 1 Lucir Reinaldo Alves 2 Fabiana Funk 3 EJE TEMÁTICO: 8 - Complejos agroindustriales y relaciones intersectoriales. La concentración en el sistema agroalimentario. Mercados y comercialización. Análisis de cadenas. Empresas agroindustriales. RESUMO: Este artigo, sobre a região do Conselho Regional de Desenvolvimento do Vale do Rio Pardo/Corede, no Rio Grande do Sul/BR, objetiva analisar as relações entre os macrossetores Agropecuário, Industrial, Comércio e Serviços, suas condições sociais e econômicas referentes ao início do século XXI. Utilizou-se dados secundários e apontou-se variáveis tais como: Valor Adicionado Bruto/VAB, população ocupada/PO, IDH, Índice de Gini, PIB per capita, dentre outros, de forma a identificar a importância de cada um destes no contexto regional. Além disso, calculou-se os quocientes locacionais/QL's para identificar a especialização de cada macrossetor. De maneira geral, a região apresenta duas formas de espacialização territorial: a primeira aponta os municípios meridionais divididos em médias e grandes propriedades utilizadas para pecuária extensiva e, sobretudo, orizicultura; a outra forma caracteriza- se por municípios com pequenas propriedades e que utilizam, em sua maioria, a mão-de-obra familiar. Nesse sentido, a despeito da região demonstrar um setor agropecuário consistente, apresenta maiores dificuldades na diversificação do setor industrial, haja vista à sua mono-especialização econômica e, historicamente arraigada, na produção e transformação de tabaco, refletindo, pois, num setor de comércio e serviços, basicamente atrelado a esta atividade. Palavras-chave: Desenvolvimento Regional, Corede Vale do Rio Pardo/RS/BR, Inter-relação Setorial. Introdução A região do Vale do Rio Pardo/Corede faz parte das vinte e quatro regionalizações criadas pelo governo estadual e se localiza na porção central do Rio Grande do Sul/BR. Esta região (Mapa 1) é composta por vinte e dois municípios que possuem diferenças substanciais no que se refere ao relevo, geomorfologia, história e economia, porém, apesar da região não se apresentar de forma homogênea, a mesma tem um aspecto que de alguma forma a identifica: a mono-especialização do tabaco, que se manifesta nos macrossetores agropecuário, industrial e comércio e serviços. Esta análise vem a mostrar as disparidades existentes na região no que se refere às condições sociais, mas, sobretudo, as inter-relações setoriais entre os macrossetores agropecuário, industrial, comércio e serviços que evidencia a pouca diversificação econômica e a dependência regional em relação à produção tabagista, que representa o principal produto cultivado, beneficiado e exportado pela região neste início do século XXI. 1 Historiadora, Especialista em História do Brasil, e Mestranda do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Bolsista da CAPES. E-mail: [email protected] 2 Economista pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)/Campus Toledo. Mestrando do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Bolsista da CAPES. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Agronegócio e Desenvolvimento Regional (GEPEC) e do Grupo Dinâmicas Sócio-Econômicas Regionais Comparadas (DISEREC). E-mail: [email protected] 3 Geógrafa e Especialista em Geografia do Brasil pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Mestranda do Programa de Pós- graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Bolsista da CAPES. E-mail: [email protected]

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ANÁLISE DAS INTER-RELAÇÕES SETORIAIS DO COREDE VALE DO RIO

PARDO/RS, BRASIL

Carina Santos de Almeida 1

Lucir Reinaldo Alves2

Fabiana Funk3

EJE TEMÁTICO: 8 - Complejos agroindustriales y relaciones intersectoriales. La concentración en el sistema agroalimentario. Mercados y comercialización. Análisis de cadenas. Empresas agroindustriales.

RESUMO: Este artigo, sobre a região do Conselho Regional de Desenvolvimento do Vale do Rio Pardo/Corede, no Rio Grande do Sul/BR, objetiva analisar as relações entre os macrossetores Agropecuário, Industrial, Comércio e Serviços, suas condições sociais e econômicas referentes ao início do século XXI. Utilizou-se dados secundários e apontou-se variáveis tais como: Valor Adicionado Bruto/VAB, população ocupada/PO, IDH, Índice de Gini, PIB per capita, dentre outros, de forma a identificar a importância de cada um destes no contexto regional. Além disso, calculou-se os quocientes locacionais/QL's para identificar a especialização de cada macrossetor. De maneira geral, a região apresenta duas formas de espacialização territorial: a primeira aponta os municípios meridionais divididos em médias e grandes propriedades utilizadas para pecuária extensiva e, sobretudo, orizicultura; a outra forma caracteriza-se por municípios com pequenas propriedades e que utilizam, em sua maioria, a mão-de-obra familiar. Nesse sentido, a despeito da região demonstrar um setor agropecuário consistente, apresenta maiores dificuldades na diversificação do setor industrial, haja vista à sua mono-especialização econômica e, historicamente arraigada, na produção e transformação de tabaco, refletindo, pois, num setor de comércio e serviços, basicamente atrelado a esta atividade. Palavras-chave: Desenvolvimento Regional, Corede Vale do Rio Pardo/RS/BR, Inter-relação Setorial.

Introdução

A região do Vale do Rio Pardo/Corede faz parte das vinte e quatro regionalizações criadas

pelo governo estadual e se localiza na porção central do Rio Grande do Sul/BR. Esta região (Mapa

1) – é composta por vinte e dois municípios que possuem diferenças substanciais no que se refere

ao relevo, geomorfologia, história e economia, porém, apesar da região não se apresentar de forma

homogênea, a mesma tem um aspecto que de alguma forma a identifica: a mono-especialização do

tabaco, que se manifesta nos macrossetores agropecuário, industrial e comércio e serviços.

Esta análise vem a mostrar as disparidades existentes na região no que se refere às condições

sociais, mas, sobretudo, as inter-relações setoriais entre os macrossetores agropecuário, industrial,

comércio e serviços que evidencia a pouca diversificação econômica e a dependência regional em

relação à produção tabagista, que representa o principal produto cultivado, beneficiado e exportado

pela região neste início do século XXI.

1 Historiadora, Especialista em História do Brasil, e Mestranda do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional da

Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Bolsista da CAPES. E-mail: [email protected] 2 Economista pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)/Campus Toledo. Mestrando do Programa de Pós-graduação

em Desenvolvimento Regional da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Bolsista da CAPES. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Agronegócio e Desenvolvimento Regional (GEPEC) e do Grupo Dinâmicas Sócio-Econômicas Regionais Comparadas (DISEREC). E-mail: [email protected] 3 Geógrafa e Especialista em Geografia do Brasil pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Mestranda do Programa de Pós-

graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Bolsista da CAPES. E-mail: [email protected]

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Mapa 1: Municípios que integram a região do Corede Vale do Rio Pardo

Fonte: Laboratório de Geoprocessamento da Universidade de Santa cruz do Sul - UNISC

Breve caracterização histórica do povoamento regional

A região tem como o município mais antigo Rio Pardo, fundado em 1769, sendo que o

primeiro mapa do Estado gaúcho de 1809, elaborado após a consolidação das fronteiras nacionais

brasileiras em virtude das disputas e hostilidades entre portugueses e espanhóis – Guerra

Guaranítica (1753-1756), Tratado de Madri (1750) e Tratado de Santo Ildefonso (1777) – aponta

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como os quatro municípios mais antigos do Estado Rio Grande, Porto Alegre, Santo Antônio e Rio

Pardo, visto que este último abrangia metade do atual Rio Grande do Sul (PESAVENTO, 1997).

O município de Rio Pardo foi fundado pelos portugueses por se encontrar geopoliticamente

bem localizado, na confluência de dois rios, adentrando o território continental em direção a

fronteira brasileira com os espanhóis. Os rios navegáveis eram responsáveis pelo deslocamento,

assim, a região do Vale do Rio Pardo ficava ligada a capital provincial Porto Alegre,

consequentemente, todo o povoamento deste Corede se deu a partir da chegada de migrantes e

imigrantes na cidade de Rio Pardo. O Vale do Rio Pardo teve cultural e historicamente a influência

de indígenas da tradição Tupi-Guarani, que habitavam a região antes mesmo do descobrimento do

Brasil (1500), a região teve uma redução jesuítica chamada de Jesus-Maria, fundada pelo padre

jesuíta espanhol Pedro Mola em 1630 e destruída pelo bandeirante Rapouso Tavares (RIBEIRO,

1993; HOELTZ, 1997). A partir do século XVIII se estabeleceram na região portugueses,

fundando a fortaleza Jesus-Maria-José (1754), da qual se originou o povoado de Rio Pardo, sendo

consequentemente tragos escravos africanos para o trabalho na vila e nas estâncias de sesmarias

concedidas aos portugueses e descendentes.

Por fim, houve a incursão de imigrantes de origem germânica e italiana que se direcionaram

ao centro e ao norte da região, sendo que a primeira colônia fundada para assentar imigrantes

germânicos foi Santa Cruz Sul em 1849, atualmente capital regional do Vale do Rio Pardo,

enquanto os italianos chegaram ao final do séc. XIX e início do séc. XX e se situaram no extremo

norte da região. Assim, os municípios mais antigos do Vale do Rio Pardo são os localizados na

porção sul da região, todos os outros vieram a se desenvolver a partir da chegada de contingentes

populacionais ao porto de Rio Pardo através do rio Jacuí.

ANÁLISE SOCIOECONÔMICA DA REGIÃO DO COREDE VALE DO RIO PARDO

Num primeiro momento foram agregados os índices de população, taxa de analfabetismo,

densidade demográfica, coeficiente de mortalidade infantil, expectativa de vida, PIB per capita e o

IDH dos municípios. Num segundo momento, considerou-se o Valor Adicionado Bruto/VAB dos

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municípios para os macrossetores, expressos a partir de mapas, para então apontar especificamente

os indicadores da economia sobre a agropecuária (setor primário), indústria (setor secundário) e

comércio e serviços (setor terciário). Neste sentido, esta análise se embasou nos dados do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística/IBGE (2000), do Atlas do Desenvolvimento Humano (2000),

da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul/FEE-RS e do Quociente Locacional

dos três setores econômicos da região, fornecidos pelo Centro de Pesquisas em Desenvolvimento

Regional/CEPEDER-UNISC (PAIVA, 2004), assim, verificou-se as perspectivas de

desenvolvimento econômico, os principais produtos geradores de trabalho e renda, a existência de

alguma cadeia produtiva, os segmentos com ociosidade e os problemas a serem enfrentados pela

região.

1. Alguns apontamentos sobre os indicadores sociais e econômicos da região do Corede Vale

do Rio Pardo

O Vale do Rio Pardo apresenta uma população total de 417.330 habitantes, conforme os a

estimativa da FEE (2005). Dentre os vinte e dois municípios que compõe o Vale do Rio Pardo

onze são considerados de pequeno porte conforme o número de sua população. Atualmente a

maior cidade, considerada o pólo da região do Vale do Rio Pardo, é Santa Cruz do Sul. A região

como um todo, e principalmente a capital regional teve um considerável processo de urbanização,

atingindo o desenvolvimento econômico na segunda metade do século XX, sobretudo a partir da

intervenção do capital internacional que injetou investimentos no macrossetor industrial e

possibilitou à região e à cidade ser uma referência na produção e beneficiamento do tabaco no

Brasil. Ressalta-se que o tabaco é o principal produto de exportação produzido na região neste

limiar de século XXI.

Os municípios que integram o Vale do Rio Pardo em sua maioria não possuem grandes

extensões territoriais, com exceção dos municípios meridionais historicamente mais antigos, de

distribuição de sesmarias, colonização luso-brasileira e africana, com relevo mais regular e plano –

se comparados aos outros municípios da região. Na região, existem municípios que possuem os

menores índices de analfabetismo na região como Santa Cruz do Sul, com taxa de 4,71%, e outros

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com índices inferiores ao do Estado do Rio Grande do Sul, como Tunas, com 20,22% de

população analfabeta.

Tabela 1: Indicadores sociais e econômicos dos municípios do Corede Vale do Rio Pardo

Fonte: Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul, FEE/RS.

No que se refere ao coeficiente de mortalidade infantil, a região apresenta municípios em

boas e outros em péssimas condições, tomando como parâmetro o índice do Estado gaúcho. O

Produto Interno Bruto/PIB per capita do Estado do Rio Grande do Sul, para o ano de 2006

(FEE/RS) foi de R$ 14.227,00. Neste contexto, este indicador socioeconômico aponta que na

região, dentre os municípios com melhores PIB per capita estão os que possuem sua economia

atrelada à produção e, sobretudo, beneficiamento do tabaco, como Santa Cruz do Sul, Venâncio

Aires e Vera Cruz, estes atingem o dobro do PIB per capita estadual.. Enquanto isso, os outros

municípios da região possuem PIB per capita inferiores ou muito inferiores ao do Estado gaúcho.

Nestes últimos casos, existe a predominância do macrossetor agropecuário.

Em relação às características da população que reside na região, 60% são residentes em áreas

urbanas, enquanto que 40% residem em áreas rurais. A princípio dir-se-ia que esta região é

majoritariamente urbana, mas este tipo de resposta somente é possível à medida que além da

população residente, se verifique que tipo de subsistência está pautada estas comunidades, assim,

Município Vale do Rio Pardo/Corede

Popul. Total/hab

(2005)

Área km²

(2005)

Densid. Demogr. hab/km² (2005)

Taxa Analf.

% (2000)

Coeficiente Mortal.

Infantil por mil nasc.

Vivos (2005)

Expect. Vida ao nascer/

anos (2000)

PIB per capita

R$ (2004)

Arroio do tigre 13.151 318,5 41,3 10,91 4,98 72,35 11.459 Boqueirão do Leão 8.314 265,5 31,3 13,95 20,13 71,90 9.443

Candelária 30.536 943,7 32,4 12,63 19,48 71,71 9.104 Encruzilhada do Sul 25.853 3.438,5 7,5 14,71 20,73 70,22 6.982

Estrela Velha 3.825 281,7 13,6 14,05 0,00 71,52 11.933 General Câmara 8.468 494,0 17,1 11,97 12,35 72,74 9.582

Herveiras 3.256 118,3 27,5 13,23 16,95 74,75 9.042 Ibarama 4.166 193,1 21,6 12,09 31,75 69,78 10.749

Lagoa Bonita do Sul 2.700 108,5 24,9 - 20,83 - 11.696 Pantano Grande 11.607 847,6 13,7 13,75 27,52 68,61 10.679

Passa Sete 4.888 304,8 16,0 16,55 27,78 71,71 9.922 Passo do Sobrado 6.326 265,1 23,9 8,67 0,00 72,19 13.206

Rio Pardo 39.295 2.050,5 19,2 11,24 18,79 68,61 9.411 Santa Cruz do Sul 113.988 733,5 155,4 4,71 12,45 69,68 27.653

Segredo 6.911 247,5 27,9 14,85 20,00 69,78 8.688 Sinimbu 10.758 510,1 21,1 10,28 15,50 72,35 10.691

Sobradinho 14.157 130,4 108,6 11,45 4,55 68,51 6.727 Tunas 4.103 218,0 18,8 20,22 0,00 73,01 7.589

Vale do Sol 11.639 328,2 35,5 7,57 7,81 72,35 13.517 Vale Verde 3.553 329,4 10,8 16,36 0,00 71,92 14.654

Venâncio Aires 66.883 773,2 86,5 6,36 7,29 72,35 18.666 Vera Cruz 22.953 309,6 74,1 6,52 33,56 72,35 14.941

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mais adiante quando analisaremos os macrossetores econômicos, veremos que a região tem na

agropecuária seu principal meio de sobrevivência.

Em relação à dicotomia urbano/rural, o economista Veiga (2002) atenta que crer ser a

maioria da população brasileira residente em municípios caracteristicamente urbanos, restando

menos que 19% da população no meio rural, sendo que as estimativas postulam que em 2015

haveria aproximadamente 10% e, que, em 2030, esta desapareceria, é uma ficção. Veiga afirma

que quase um terço da população, 52 milhões de pessoas, vivem em 500 microrregiões

essencialmente rurais, considerando um conjunto total de 600 microrregiões brasileiras. Dessa

forma, antes de fazer qualquer consideração a respeito, devem-se considerar os vínculos da

economia de cada município no contexto regional.

Os municípios da região apresentam pouca oscilação no Índice de Desenvolvimento

Humano/IDH geral, entre o município com pior índice e o com melhor, estão, Passa Sete, com o

pior, com 0,714, e Santa Cruz do Sul – a capital regional –, com o melhor índice e mais próximo

de 1, com 0,817. Abaixo, de forma mais específica estão o IDH dos municípios da região, sendo

que em laranja são os piores índices e em verde os melhores índices municipais.

Tabela 2: Índice de Desenvolvimento Humano/IDH geral, renda e educação dos municípios do Corede Vale do Rio Pardo, em 2000

Municípios VRP/COREDE IDH 2000 IDH Renda 2000 IDH Educação 2000

Arroio do Tigre 0,764 0,664 0,840

Boqueirão do Leão 0,753 0,651 0,825

Candelária 0,756 0,658 0,833

Encruzilhada do Sul 0,760 0,672 0,829

Estrela Velha 0,741 0,648 0,799

General Câmara 0,784 0,684 0,872

Herveiras 0,760 0,633 0,818

Ibarama 0,740 0,641 0,832

Lagoa Bonita do Sul*

Pantano Grande 0,745 0,668 0,840

Passa Sete 0,714 0,575 0,788

Passo do Sobrado 0,769 0,655 0,867

Rio Pardo 0,754 0,687 0,849

Santa Cruz do Sul 0,817 0,767 0,939

Segredo 0,720 0,607 0,808

Sinimbu 0,768 0,651 0,837

Sobradinho 0,753 0,694 0,851

Tunas 0,719 0,573 0,785

Vale do Sol 0,759 0,649 0,840

Vale Verde 0,749 0,646 0,805

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Venâncio Aires 0,793 0,701 0,884

Vera Cruz 0,791 0,681 0,903

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil/PNUD.

* Município sem dados.

Neste contexto, o Índice de Gini (Mapa 2), que mede o grau de desigualdade existente na

distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita, vem a favorecer a compreensão

das condições socioeconômicas dos municípios e, conseqüentemente, da região, visto que

considera algo que nem o IDH e nem o PIB apontam, ou seja, o nível de desigualdade social

existente nos municípios. Assim, entre os municípios da região com melhores condições se

encontram Passo do Sobrado, Pantano Grande, Vale Verde, Candelária, Encruzilhada do Sul,

Venâncio Aires e Sinimbu, em piores condições estão Sobradinho, Rio Pardo e Santa Cruz do Sul.

Assim, municípios como a capital reginal – Santa Cruz do Sul – com um elevado PIB per capita e

melhor IDH geral, de renda e educação, é também um dos piores em distribuição de renda.

Mapa 2: Índice de Gini/2000 – Desigualdade de renda dos municípios do Corede Vale do Rio Pardo

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Fonte: IPEADATA. * O índice de Gini mede o grau de desigualdade na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita, assim, a variação indica que quanto mais próximo for o número de zero, melhor a condição, quanto mais próximo de um, pior a condição.

2. Análise dos macrossetores e o quociente locacional (QL’s) da região do Corede Vale do

Rio Pardo

Para compreendermos melhor a importância de cada macrossetor econômico para a região,

vamos primeiramente apresentar o Valor Adicionado Bruto/VAB dos municípios que compõe o

Vale do Rio Pardo, para posteriormente apresentarmos a medida de especialização da região

(QL’s).

A estrutura do VAB para o ano de 2004 da região aponta que o setor agropecuário agregava

22.73%, o setor industrial 46.55% e o setor de comércio e serviços 30.72%. Assim, na região a

indústria apareceu como o mais expressivo dentre os macrossetores. De acordo com Paiva (2004,

p. 28, 29 e 30) quando o setor industrial aparecer com mais de um quarto do VAB total e/ ou uma

População Ocupada/PO industrial superior a um quinto da PO total, significa que a indústria tem

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peso fundamental para as potencialidades imediatas da região. Neste sentido, Paiva aponta que

regiões e municípios que possuem mais de 30% do VAB gerado pela agropecuária, são

comunidades tipicamente rurais. De qualquer forma, o Vale do Rio Pardo apresenta-se como mais

industrial, o que não pode lhe identificar simplesmente como tipicamente urbano, visto que o setor

agropecuário alcançou 22,73% do VAB total e em alguns municípios, a agropecuária tem maior

valor agregado bruto.

Os municípios do Corede VRP que se apresentam no VAB total com mais de 30% de

participação da agropecuária, indicativo inicial de que são municípios tipicamente rurais, totalizam

dezoito de um total de vinte e dois municípios. A capital regional, Santa Cruz do Sul, seguida

pelos municípios de Venâncio Aires e Vera Cruz, apresentaram maior participação no VAB total

do macrossetor industrial, enquanto que apenas um município, Sobradinho, teve no macrossetor de

comércio e serviços sua maior participação no VAB total. Nos mapas que seguem poderemos

acompanhar a importância dos macrossetores para cada município da região. O mapa 3 apresenta

qual é o VAB que predomina em cada município, já os mapas 4, 5 e 6 apresentam dentre uma

escala de porcentagem expressa através de cores a importância de cada VAB (agropecuário,

industrial, comércio e serviços) na economia dos municípios que compõe a região.

Mapa 3: Participação dos setores agropecuário, industrial e comércio e serviços no VAB total dos municípios do Corede VRP (2004).

Mapa 4: Participação do setor agropecuário no VAB total dos municípios do Corede VRP (2004)

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Fonte: FEEDADOS.

Mapa 5: Participação do setor industrial no VAB total dos municípios do Corede VRP (2004)

Mapa 6: Participação do setor comércio e serviços no VAB total dos municípios do Corede VRP (2004)

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A medida de especialização, chamada de Quociente Locacional (QL) sobre os macrossetores

da economia – produtos produzidos pelos municípios – (PAIVA, 2004), possibilita perceber

aqueles produtos que se destacam na dinâmica socioeconômica regional, assim os QL’s sobre os

macrossetores da economia demonstram a especialização de cada município da região. De um

modo geral, quando os municípios apresentam QL’s abaixo de 1,0, isto significa que a produção se

direciona ao consumo e comércio interno, quando o QL for acima de 1,0, significa que existe uma

especialização por parte do município ou região na produção de tal produto, e quando este QL

ultrapassar 1,5, demonstra que tal produção se direciona ao mercado externo, ou seja, este produto

ultrapassa as fronteiras da região.

Contudo, quando um município ou região apresentar um QL elevado para algum produto,

demonstrando especialização, significa que esta produção apesar de agregar importantes valores

econômicos ao município, não aponta para uma distribuição destes valores no município, visto que

muitas vezes a produção é direcionada ao mercado internacional, não contribuindo para que a

economia gerada seja redistribuída no local ou região. Se existe apenas um produto na região ou

no município capaz de demonstrar um QL elevado, isto significa que existe uma dependência

econômica, indicativo de uma situação delicada para tal município ou região.

Assim, a seguir iremos apontar a importância de cada um dos macrossetores, agropecuária,

indústria e comércio e serviços para a região do Vale do Rio Pardo/Corede, da mesma forma que

os QL’s regionais dos macrossetores da economia.

2.1 Macrossetor agropecuário

O macrossetor agropecuário do Corede VRP para os anos de 2001, 2002 e 2003 teve um

valor adicionado bruto total de R$ 988.463.667, enquanto que o Estado gaúcho no mesmo período

alcançou R$ 16.709.496.000. Assim, a contribuição em porcentagem de participação do Corede

neste setor para o Estado gaúcho foi de 5%, pouco expressiva no contexto estadual. Porém,

significativa para a região, e, sobretudo, para alguns municípios da região que possuem sua

subsistência pautada na agricultura, como se viu nos mapas sobre o VAB total..

12 12

Neste sentido, a tabela abaixo vem a apresentar os QL’s mais expressivos na agropecuária da

região (pecuária, agricultura permanente e agricultura temporária), para tanto, consideramos os

quocientes locacionais superiores a 1,0.

Tabela 3: Quociente locacional (QL’s) do macrossetor agropecuário da região do Corede Vale do Rio Pardo

Agropecuária do VRP/Corede Quociente Locacional - QL’s

Pecuária

Bubalino 3,10

Coelhos 1,10

Mel de Abelha (kg) 1,02

Agricultura Permanente

Erva Mate 1,67

Pêra 1,89

Goiaba 1,30

Noz 2,51

Marmelo 4,50

Agricultura Temporária

Tabaco 6,69

Mandioca 2,49

Feijão 1,73

Batata-doce 1,77

Cana açúcar 1,05

Melancia 4,03

Fonte: CEPEDER/UNISC, FEEDADOS (2001, 2002 e 2003).

No que se refere à pecuária, praticamente todos os municípios da região apresentaram pouca

expressão em produtividade para a pecuária gaúcha. Da mesma forma, sua produção não é

homogênea, pois os municípios meridionais, com extensões territoriais maiores assentam sua

pecuária baseada na criação de bovinos, ovinos, bubalinos, eqüinos, enquanto que os municípios

da porção central e setentrional, com propriedades médias e, sobretudo, pequenas, com mão-de-

obra familiar, assentam sua pecuária na criação de suínos, galinhas, galos, frangos, frangas, pintos,

coelhos, codornas, vacas leiteiras, atividades que não necessitam de grandes espaços físicos. A

medida de especialização (QL’s) apontou que a região possui algum destaque regional na criação

de bubalinos com um índice de 3,1, coelhos com 1,1 e mel de abelha com 1,0. Os outros produtos

não se destacam no contexto regional, servem apenas para o consumo local, não chegam a

ultrapassar as fronteiras regionais.

A agricultura é uma atividade fundamental para a região, visto que o VAB total destacado

anteriormente apontou que dezoito municípios do Corede possuem neste setor sua subsistência

13 13

econômica básica. Em relação aos QL's mais expressivos (acima de 1,0) da agricultura permanente

da região, conforme a tabela 3 destacou, apresentou-se o marmelo como o principal produto, com

um QL de 4,5 – certamente este produto é uma especialidade produtiva e se direciona ao mercado

externo da região, a produção do marmelo atinge ao nível estadual 26,7% da produção total. O

segundo produto da agricultura permanente com algum destaque regional é a noz (fruto seco), com

2,5, que participa com 14,8% da produção gaúcha, em seguida vem a pêra, com QL de 1,8,

contribuindo com 11,2% da produção estadual, posteriormente vem a produção da erva-mate, que

tem o índice de 1,6, atingindo o patamar de 9,8% da produção gaúcha, e, por fim, vem a goiaba,

que representa 1,3 de QL, chegando a quase 8% da produção do Estado do Rio Grande do Sul.

Além dos produtos citados, existem outros produzidos na região e que não chegam a se

configurarem como uma especialidade regional, atendem substancialmente a demanda interna de

consumo.

Em relação à agricultura temporária, conforme é possível observar na tabela 3, os produtos

que apresentam especialização com QL's superiores a 1,0 são majoritariamente o tabaco, com QL

de 6,7, contribuindo para a produção estadual com 39,6% do total, precedido pela melancia, com

QL de 4,0, sendo que a participação regional no contexto estadual é de 23,8%. Ainda apresentam-

se com QL’s expressivos a mandioca, com 2,5 e 14,7%, da produção estadual, seguida pelo feijão,

com QL de 1,7, a batata-doce, com QL de 1,8, e, a cana-de-açúcar, com QL 1,1, porém, estes

últimos três produtos não chegam a participar com 10% cada na produção do Estado. Certamente

estes produtos demonstram a especialização regional ou mesmo a concentração produtiva.

Contudo, a participação regional da agricultura temporária para a produção estadual tem no

amendoim seu principal produto, contribuindo com 50,8% de todo o amendoim produzido no Rio

Grande do Sul. Ainda, a região contribui ao nível estadual com a produção de melão, que participa

com 27,2%, porém o melão quase atinge o QL de 1,0, assim, os produtos que se aproximam deste

patamar, certamente apontam também, em alguns casos, para uma especialização regional.

14 14

2.2 Macrossetores industrial e comércio e serviços: a população ocupada/PO e os QL’s mais

expressivos

O Corede Vale do Rio Pardo se destaca em alguns sub-setores industriais, apresenta,

conforme a tabela 4 um total de 1.305 estabelecimentos e 20.859 empregados no macrossetor da

indústria. A população ocupada/PO na indústria sobre a população ocupada/PO total é de 35,4%.

Assim, a região tem a maioria de seus trabalhadores ocupados no macrossetor de comércio e

serviços, que conforme a tabela 5 atinge o número de 37.965 trabalhadores, representando 64,6%

da população ocupada/PO total da região.

No macrossetor industrial, menos expressivo em população ocupada/PO total da região,

existem alguns sub-setores de atividades (tabela 4) que se destacaram com maior empregabilidade,

o que necessariamente não reflete num QL mais elevado. A fabricação de produtos do tabaco

empregava 5.l51 pessoas – o Rio Grande do Sul possuía um total de 6.029 empregados neste setor,

assim, a maioria dos trabalhadores envolvidos com o tabaco encontrava-se na região do Corede

VRP – , este setor tinha o segundo QL mais elevado, 28,26. A fabricação de calçados de couro,

empregava 2.349 trabalhadores, mas seu QL, ou sua especialização, sequer alcançava 1,0, neste

sentido, apesar do QL não ser expressivo, o sub-setor da fabricação de calçados de couro

empregava um bom número de trabalhadores. As edificações (residenciais, industriais, comerciais

e de serviços) alcançavam um montante de 1.266 empregados e seu QL não era um dos mais

elevados da região, atingiam o índice de 1,2. Dessa forma, percebemos que os sub-setores ou

atividades do macrossetor industrial que mais empregavam trabalhadores necessariamente não

eram as que atingiam os QL’s mais altos, neste sentido, ter um QL destacado não significa que a

atividade gerasse empregos.

Em relação aos QL's mais elevados do macrossetor industrial (tabela 4), acima de 1,5,

destacou-se em amarelo algumas atividades que realmente indicam uma significativa

especialização, e, ainda, as atividades que encontram-se destacadas pela cor laranja, com alto

índice de especialização. Vale destacar novamente que, o fato de existirem sub-setores na indústria

com QL’s elevados, não significou a existência de diversificação e de uma apropriação econômica

15 15

pela região, que acarretaria em mais geração de trabalho e renda, pelo contrário, quanto mais

elevado apresenta-se o QL, menos distribuição de renda existe, maior dependência econômica,

monopólio e, sobretudo, fuga de capitais da região. O exemplo mais evidente é o da fabricação de

motocicletas, que apresentou um QL de 32,07, portanto, o mais elevado da região, porém, este

setor de atividade apresenta somente 1 estabelecimento e apenas 32 empregados totais.

Observamos também que dentre a população ocupada/PO neste macrossetor industrial na

região, 20.859 empregados, poucos mais da metade, 11.215 empregados, estavam ocupados em

sub-setores de atividades que apresentaram significativos QL’s acima de 1,5.

Tabela 4: QL’s superiores a 1,5 por sub-setores de da indústria

Sub-setores da Indústria no Vale do Rio Pardo/ COREDE

Nº estabelecimentos Nº empregados QL

COREDE RS COREDE RS COREDE

Extração de outros minerais não - metálicos 7 37 91 353 8.53

Preparação de carne, banha e produtos de salsicharia não- 5 104 216 4.125 1.73

Processamento, preservação e produção de conservas de legumes 6 46 22 425 1.71

Torrefação e moagem de café 1 31 8 144 1.84

Fabricação de massas alimentícias 5 241 167 3.139 1.76

Preparação de especiarias, molhos, temperos, condimentos... 1 30 0 97 0.00

Fabrç., retificação, homogeneização e mistura de aguardente 4 50 56 362 5.12

Engarrafamento e gaseificação de águas minerais 2 20 41 728 1.86

Fabricação de produtos do fumo 32 58 5.151 6.029 28.26

Confecção de roupas íntimas, blusas, camisas e semelhantes 10 337 88 1.888 1.54

Confecção de peças do vestuário - exceto roupas íntimas, blusas, ca... 63 1.696 991 12.071 2.72

Fabricação de outros artefatos de couro 9 428 310 6.291 1.63

Fabricação de calcados de plástico 1 20 133 1.757 2.50

Desdobramento de madeira 63 1.018 489 7.222 2.24

Fabrç. de artefatos diversos de madeira, palha, cortiça e material ... 4 275 211 2.499 2.79

Edição; edição e impressão de outros produtos gráficos 18 376 162 3.183 1.68

Fabricação de intermediários para fertilizantes 1 6 4 24 5.51

Fabricação de artefatos diversos de borracha 7 175 449 7.048 2.11

Fabricação de embalagem de plástico 8 238 407 6.143 2.19

Fabrç. de artefatos de concreto, cimento, fibrocimento, g 44 662 208 4.223 1.63

Britamento, aparelhamento e outros trab. em pedras (não a 15 270 75 1.456 1.70

Fabricação de cal virgem, cal hidratada e gesso 6 12 66 273 8.00

Fabricação de outros produtos de minerais não-metálicos 9 94 144 694 6.86

Fabricação de outros tubos de ferro e aço 2 21 193 454 14.06

Fabrç. de máquinas e aparelhos de refrigeração e ventilaç 6 113 143 1.933 2.45

Fabricação de máquinas para a indústria metalúrgica - exceto máquin... 3 75 80 1.622 1.63

Fabrç. de fogões, refrigeradores e máquinas de lavar e SE 5 18 791 2.064 12.68

Manutenção e reparação de máquinas e equipamentos de uso industrial 5 32 28 109 8.50

Fabricação de material eletrônico básico 4 89 225 3.577 2.08

Fabricação de cabines, carrocerias e reboques para outros 5 54 87 633 4.55

Fabricação de motocicletas 1 2 32 33 32.07

Fabricação de bicicletas e triciclos não-motorizados 2 6 24 50 15.88

Fabricação de moveis de outros materiais 2 152 123 2.426 1.68

Subtotal dos QL's superiores a 1,5 356 6.786 11.215 83.075

Total 1.305 41.865 20.859 689.934

Fonte: CEPEDER/UNISC, FEEDADOS (2001, 2002 e 2003).

16 16

Tabela 5: QL’s superiores a 1,5 por sub-setores do comércio e serviços

Setores do Comércio e Serviços Classe CNAE/2005

Nº estabelecimentos Nº empregados QL

Corede RS Corede RS Corede

Com. a varejo e por atacado de motocicletas, partes, peça 35 483 111 2.117 2.03

Comércio a varejo de combustíveis 119 2.606 891 19.311 1.78

Represen. comerciais e agentes comércio de matérias-primas... 4 125 30 694 1.67

Represen. comerciais e agentes comércio de produtos aliment... 5 170 30 728 1.59

Com. atacad. matérias primas agrícol. e produt. semi-acabad... 38 836 457 7.861 2.25

Com. atacad. cereais e legumin., farinhas, amidos e féculas 6 276 150 1.499 3.87

Comércio atacadista de carnes e produtos da carne 19 281 140 1.704 3.18

Comércio atacadista de bebidas 23 563 207 3.842 2.08

Comércio atacadista de produtos do fumo 22 74 241 571 16.32

Com. atacad. fios têxteis, tecidos, artefatos tecidos e... 4 139 25 477 2.03

Com. atacad. madeira, material construção, ferragens e fer... 20 593 122 3.096 1.52

Comércio atacadista de máquinas e equipamentos... 1 48 8 115 2.69

Com. varejista de mercadorias em geral... 99 2.041 2.190 51.267 1.65

Com. varejista de mercadorias em geral... 10 328 38 864 1.70

Com. varejista não-especializado, sem predominância de PR 46 837 337 3.845 3.39

Com. varejista de produtos de padaria, de laticínio, frio 61 1.816 336 7.015 1.85

Com. varejista de balas, bombons e semelhantes 9 352 64 970 2.55

Comércio varejista de carnes - açougues 53 917 104 2.004 2.01

Com. varejista de moveis, artigos de iluminação e outros 98 2.817 401 8.904 1.74

Reparação e manutenção de maquinas e de aparelhos eletrod... 39 675 166 2.265 2.83

Fornecimento de comida preparada 34 640 446 9.142 1.89

Transporte rodoviário de passageiros, regular, não urbano 38 792 937 14.690 2.47

Transporte aéreo, não-regular 1 22 8 113 2.74

Atividades de malote e entrega 8 142 62 717 3.34

Outras atividades de concessão de credito 10 258 95 1.282 2.87

Seguros não-vida 8 120 31 643 1.86

Desenvolvimento e edição de softwares prontos para uso 3 52 21 382 2.13

Atividades de contabilidade e auditoria 82 2.306 288 6.710 1.66

Atividades fotográficas 21 353 64 1.086 2.28

Atividades de envasamento e empacotamento... 1 17 8 205 1.51

Ensino médio 14 257 495 11.573 1.65

Educação superior - Graduação e Pós-Graduação 3 73 1.155 20.362 2.19

Atividades de outros profissionais da área de saúde 109 2.293 129 3.297 1.51

Limpeza urbana e esgoto e atividades relacionadas 2 125 369 5.845 2.44

Atividades de organizações políticas 4 74 6 123 1.89

Produção de filmes cinematográficos e fitas de vídeo 3 57 16 291 2.13

Atividades de radio 11 292 243 4.609 2.04

Ativ. de teatro, musica e outras ativ. artísticas e liter 2 93 24 447 2.08

Atividades de agencias de noticias 2 16 2 44 1.76

Lavanderias e tinturarias 14 381 94 2.129 1.71

Atividades funerárias e serviços relacionados 11 238 42 993 1.64

Subtotal dos QL's superiores a 1,5 1.092 24.578 10.583 203.832

Total 5.535 169.453 37.965 1.468.404

Fonte: CEPEDER/UNISC, FEEDADOS (2001, 2002 e 2003).

No que se refere ao macrossetor comércio e serviços (tabela 5) o Corede VRP apresenta

alguns sub-setores que mais ocuparam a população, como administração pública em geral,

comércio varejista de mercadorias em geral, atividades de atendimento hospitalar, comércio

17 17

varejista de artigos do vestuário e complementos, comércio varejista de material de construção,

ferragens e ferramentas, educação superior – graduação e pós-graduação, comércio e varejo de

combustíveis, comércio varejista de outros produtos, restaurantes e estabelecimentos de bebidas,

transporte rodoviário de passageiros, regular, não urbano, atividades de investigação, vigilância e

segurança e outras atividades associativas. Contudo, neste macrossetor não se apresentam muitos

sub-setores de atividade com QL's elevados, assim, tem-se apenas um que atinge 16,32, que é o

comércio atacadista de produtos do tabaco e está destacado na cor laranja.

Por outro lado, os sub-setores que mais empregam são aqueles que possuem QL’s menos

elevados, que circundam 1,5. A população ocupada/PO neste macrossetor alcançou o número

absoluto de 37.965 empregados, dentre os QL’s mais representativos que são os acima de 1,5, o

número de empregados atingiu 10.583 trabalhadores, portanto, a maioria dos trabalhadores

encontra-se ocupados em setores de atividades com menor índice de especialização regional (QL).

Após termos analisados os macrossetores agropecuário, industrial e comércio e serviços, e,

assim, destacado os sub-setores de atividades mais expressivos em cada um dos macrossetores,

percebemos claramente que a região possui uma cadeia produtiva atrelada à produção e

beneficiamento do tabaco. A produção do tabaco na agricultura, a fabricação de produtos do fumo

(tabaco) pela indústria e o comércio atacadista de produtos do fumo (tabaco) apresentaram os QL’s

mais expressivos, ou seja, a especialização regional gira entorno do tabaco. Este é o principal

produto do Corede, a região é mono-especializada no tabaco. Não ficou evidenciado através dos

dados expostos outras especializações que apontassem outras cadeias produtivas na região. Dessa

forma, a região demonstra uma dependência em relação ao tabaco, que pode, na medida em que

este produto vem a sofrer restrições, desencadear numa recessão econômica e, conseqüentemente,

em problemas sociais.

18 18

Considerações Finais

Este trabalho considerou ao longo do texto os aspectos sociais e econômicos da região do

Corede Vale do Rio Pardo, mas, sobretudo, a participação dos macrossetores na economia

regional. O Corede apresentou nos seus diversos dados aqui expostos que os macrossetores da

economia possuem inter-relações. Porém, esta região se caracteriza por duas formas de

espacialização territorial, a primeira aponta os municípios meridionais que se direcionam na

utilização de médias e grandes propriedades, que acabam, pois, desenvolvendo uma agricultura

que dificilmente se emprega em pequenas propriedades, da mesma forma que possui criação de

animais que não se adaptam em pequenos espaços. A outra forma de espacialização territorial do

Corede são os municípios com menores extensões de terras, com pequenas propriedades e que

utilizam em sua maioria a mão de obra familiar.

Na pecuária, o principal produto em destaque foi a criação de bubalino, seu QL regional

atingiu 3,1, afirmando a existência de uma especialização, mas esta atinge uma pequena parte da

população rural, detentora de grandes parcelas de terras. Na parte central e norte da região do

Corede os municípios apresentam uma pecuária de criação de animais de pequeno porte, pouco

expressiva em participação para o setor estadual, contudo, possibilita atender o mercado interno e

regional, portanto não transborda o território regional.

A agricultura permanente da região apresentou poucos QL's que circundam o índice de 1,0 a

1,5, com destaque para a erva-mate, pêra, goiaba e marmelo, estes produtos certamente

transbordam o território, abastecendo o setor estadual, são beneficiados na região, através de

pequenas fábricas familiares que não exigem grande especialização e investimentos.

A agricultura temporária se destaca através do principal produto regional, o tabaco, aliado a

mandioca, feijão, batata-doce e melancia, que contribuem para a subsistência periódica (safras) do

mercado interno, e se direcionam ao mercado externo. Estes produtos se direcionam ao

abastecimento estadual, e no caso do tabaco em folha, 85% é exportado para fora do país.

19 19

A porção central e setentrional do Corede apresenta uma estrutura fundiária mais

igualitária, porém as condições sociais, identificadas através do IDH, do índice de Gini, assim

como do PIB per capita, não apresentam melhores condições que as dos municípios meridionais

de grandes extensões de terras. Verificam-se os casos dos municípios mais industrializados da

região, a capital regional Santa Cruz do Sul, ainda Venâncio Aires e Vera Cruz, que estão

pautados na pequena propriedade, herdeiros da reforma agrária eruropéia4 e que teriam melhores

condições de apresentar menores índices de desigualdades econômicas e, conseqüentemente,

sociais, o que não acontece na pratica de todo. A capital regional, Santa Cruz, é um dos exemplos

de desigualdade social, apresenta o maior PIB per capita regional, seu IDH geral, educação e

renda são os melhores dentre todos os municípios da região, porém, é um dos municípios com

maiores desigualdades em renda segundo o índice de Gini.

Os macrossetores industrial e comércio e serviços apresentam, assim como na agricultura

temporária, os QL's mais altos para o setor do tabaco, seja na fabricação de produtos do tabaco,

como no comércio atacadista. O tabaco, maior especialização regional nos três macrossetores

(QL’s), é quem mais ocupa a mão-de-obra regional, seja na agricultura, seja na indústria ou no

comércio e serviços, porém seu sistema periódico de trabalho (safra) nas industriais e no comércio

e serviços gera um estoque de trabalhadores reservas, que quando não estão trabalhando na safra,

estão desocupados ou desenvolvendo atividades informais.

A região produtora do tabaco, como bem aponta os QL's de agropecuária, indústria e

serviços demonstra que esta atividade é importante especialização regional, porém, como 85% da

produção em folha (tabaco) se direciona ao mercado internacional, os preços do produto e suas

classificações são impostos pelas empresas multinacionais que compram o tabaco (não há

concorrência na comercialização do produto). O sindicato local dos produtores de tabaco se

manifesta sempre modestamente em defesa dos agricultores, existe um controle social exercido

pelas multinacionais, visto que os agricultores antes mesmo de plantar a safra, realizam o contrato

de venda da mesma. A questão do tabaco se configura num dos gargalos regionais, se não o

4 Discussão do campo historiográfico estadual a respeito da imigração de alemães que recebeu terras, ou que

pagou pelo seu lote através da produtividade exigida pelo governo imperial e estadual no século XIX.

20 20

principal, na medida em que a renda gerada pelo tabaco é, no mínimo, 85% apropriada pelo

mercado internacional, sendo que o restante acaba sendo redistribuído internamente.

Ao somarmos os trabalhadores da indústria e serviços chega-se a um total de 58.859 de

população ocupada/PO na região, assim, considerando que o VAB regional aponta a indústria

como a que detém maior porcentagem no VAB total, 41%, e considerando que a PO industrial

atinge 35% da PO total5, as potencialidades regionais estão localizadas no macrossetor industrial.

O número total de empresas na indústria atinge 1.305, o número total de trabalhadores atinge

20.859 empregados, o maior QL como já foi mencionado está na indústria do tabaco, 28,26, o

setor do tabaco emprega na indústria 25% da PO na indústria regional enquanto que na PO total

atinge 9,1%, contudo, a tendência atual é a diminuição dos postos de trabalho em virtude da

mecanização no processo de beneficiamento do tabaco.

Os macrossetorres industrial e agropecuário do Corede Vale do Rio Pardo apresentam certa

diversidade de setores ou atividades, a questão é como propiciar ou incentivar mais ainda a

diversificação econômica, seja ela no macrossetor da indústria, da agropecuária ou mesmo no

comércio e serviços? O setor de atividades mais expressivo na indústria, o tabaco e o calçado

vivenciam uma situação preocupante no Brasil e internacionalmente, assim, depositar todos os

investimentos regionais nestes dois setores de especialização e destaque regionais atualmente pode

gerar ainda mais problemas sociais e econômicos. Faz-se preciso apostar numa agricultura

permanente que minimamente garanta a subsistência familiar, da mesma forma que é necessário

uma nova estrutura agrária nos municípios meridionais.

Por outro lado, a região recebeu um suporte importante neste ano de 2007, foi instalada a

Central de Abastecimento/CEASA, em Santa Cruz, que é abastecida por produtores da região e vai

atender não somente este Corede, mas aos vizinhos também. O Movimento dos Pequenos

Agricultores/MPA através de auxílio federal iniciou a instalação de uma usina de Bioenergia, que

pretende mobilizar a agricultura regional na produção de culturas para a geração de novas fontes

de energia.

5 Ou seja, mais que um quinto (20%), patamar mínimo indicado por Paiva (2004) para perceber a

predominância dos macrossetores na economia regional.

21 21

Assim, a região apesar de se encontrar em uma situação, de certa forma, preocupante em

relação aos macrossetores altamente especializados no tabaco, tem recebido e se mobilizado para

diversificar sua produção agrícola, porém, o setor industrial é o gargalo, ou, a dificuldade, mais

complexa de ser resolvido (a), visto que são praticamente inexistentes ações municipais e estaduais

a fim de diversificar o parque industrial regional em virtude da sua especialização econômica e

historicamente arraigada na produção de tabaco.

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