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    CIP-Brasil. C a t a l o g a ~ o n a f o n t eSindicato Nadonal dos Editores de livros RJ.

    L624A6 ed.

    Lerner JaimeAcupuntura urbana J Jaime Lerner. - 6 ed.

    Record 2012.- Rio de Janeiro:

    ISBN 978-85-01-06851-41. Renova. ao urbana. 2. Planejamento urbano. I. Titulo.

    03-1791 COOCOU307.76316.74:711.4

    Copyright Jaime lerner 2003

    Todos os direitos reservados.Proibida a reprodu\ao. armazenamento ou transmissao de partes destelivro, atraves de quaisquer meios, scm previa autoriza\ao por escrito.Este livra foi revisado segundo 0 novo Acordo Ortognifico da lingua Portuguesa.Direitos exclusivos desta edi\ao reservados pelaDlSTRIBUIDORA RECORD DE SERVIC;OS DE IMPRENSA SRua Argentina 171 - Rio de Janeiro, RJ - 20921-380 - Tel.: 2585-2000Impresso no BrasilISBN 978-85-01-06851-4Seja um leitor preferencial Record.cadastre-se e receba informa\oes sobre nossos

    EDlTOR nLI Dlan\amentos e nossas promO\oes.Atendimento e venda direta ao leitor:[email protected] ou (21) 2585-2002

    I n t r o d u ~ a o

    Os coreanos em Nova YorkoVelho Cinema NovoA e c u p e r a ~ a o de um rioA cidade proibidaCaliNao fazer nada com urgencia

    round the clock ou A cidade 24 horasGentileza urbanaAcupuntura pela musicaContinuidade evidas sons as cores e os cheiros da ruaUma boa reciclagemGente na ruaSmart car smart bus

    umario

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    Compromisso de solidariedade 51Voce conhece a cidade onde vive?

    ou Desenhe sua cidade 53Instruc;oes para fazer uma acupuntura urbana 57Ocio criativo x mediocridade laboriosa 59Autoestima. uma boa acupuntura 63Luz e boa acupuntura 65Aquapuntura 67ocartao de mobilidade 71fco clock 73Arborizac;ao 75Memoria produzida 77De parques, prac;as e monumentos 79oguia de uma pagina 83Colesterol urbano 85Predios com dignidade 87Acupuntura do silencio 89amblas e galerias 93

    Picada rapida nao doi 95Trompe l oeil 99Carta a Fellini 1 1Como achar uma pessoa numa cidade 1 3A presenc;a de urn genio 1 7Mercados e feiras 109Urn balcao de bar 113Amor acidade 119

    n t r o d u ~ a o

    Sempre tive a ilusao ea esperanC;a de que. com uma picadade agulha. seria possivel curar doenc;as. 0 principio de re-cuperar aenergia de urn ponto doente ou cansado por meiode urn simples toque tern a ver com a revitalizac;ao desteponto e da area ao seu redor.

    Acredito que algumas magias da medicina podem, edevem. ser aplicadas as cidades, pois muitas delas estaodoentes, algumas quase em estado terminal. Assim como amedicina necessita da interac;ao entre medico e paciente,em urbanismo tambem epreciso fazer acidade reagir. Cutu-caruma area de tal maneira que ela possa ajudar a curar,melhorar, criar reac;oes positivas e em cadeia. Endispensa-vel intervir para revitalizar fazer organismo trabalhar deoutra maneira.

    Muitas vezes indago a mim mesmo por que determina-das cidades conseguem fazer transformac;oes importantes

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    epositivas. Encontro inumeras evariadas respostas, mas umadelas me parece comum a todas estas cidades inovadoras:porque nelas se propiciou urn c o m e ~ o urn despertar. E0que faz uma cidade reagir.

    Sabemos que planejamento eurn processo. Por me-Ihor que seja, nao consegue gerar t r a n s f o r m a ~ o e s imedia-tas. Quase sempre euma centelha que inicia uma ~ o e asubsequente p r o p a g a ~ a o desta a ~ a o Eo que chamo de umaboa acupuntura. Uma verdadeira acupuntura urbana.oque se poderia classificar como exemplos de uma boaacupuntura urbana? A reciclagem da Cannery, em Sao Fran-

    c i ~ \ : o 0 Pa rque GOell, em Barcelona. s vezes, euma obraque propicia uma m u d n ~ cultural, como foi caso doCentro Pompidou, em Paris, do Museu de Bilbao, de FrankGehry, ou ainda a e s t a u r a ~ a o da Grand Central Station, emNova York.

    Outras vezes, a acupuntura urbana vem por meio de urntoque de genialidade, como a piramide do Louvre. a recu-

    p e r a ~ a o do Porto Madero. em Buenos Aires. e conjuntoda Pampulha, de Oscar Niemeyer, em Belo Horizonte. Coi-sas pequenas, como Paley Park, em Nova York. Ou gran-des obras. como as do Instituto do Mundo Arabe, de JeanNouvel. em Paris. e Museu do Holocausto, de Ubeskind,em Berlim.Em alguns casos, as i n t e r v e n ~ o e s se dao mais por n e c e s ~sidade que por desejo. para recuperar feridas que propriohomem produziu na natureza, como as pedreiras. Com

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    tempo, estas feridascriaram uma outra paisagem. 0 aprovei-tamento destas paisagens e das corre\oes do que homemhavia feito de errado eacupuntura de excelentes resulta-dos. Urn exemplo claro, Otimo. ea Opera de Arame, emCuritiba.Ou ainda a retirada da freew y em Sao Francisco.

    Alias, os sistemas de transporte geraram boas acupun-turas urbanas pelo mundo. Elas estao presentes nas belasentradas das seculares esta\oes do metro de Paris. nas es-

    t a ~ o e s de Norman Foster, em Bilbao. enos tubos do Siste-ma Expresso, em Curitiba.

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    Os coreanos em Nova York

    Nem sempre acupuntura urbana se traduz em obras. Emalguns casos. e a ntrodu

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    esses coreanos desconhecidos e seus pequenos comerciosajudam a fazer uma boa acupuntura urbana em Nova York.Melhor do que qualquer programa de animat;ao culturalpoderia fazer.

    Muitos destes pontos hoje presentes em Nova York lem -bram que representava para Paris mercado de les Hailesde madrugada. Durante decadas ele foi corat;ao da cidade,fazendo pulsar a vida de varias gera\oes. Ou lembram osmercados que funcionam a noite inteira em varias cidadesdo mundo. Ainda em Paris, na rue de Seine com a rue de Bucci,uma pequena feira e uma tradi\ao que tempo nao apaga.

    Exemplos orientais tambem nao faltam, como 0 me rca-do de peixe de Toquio e sua atividade febril muito antes deo sol nascer. Sao lances acontecendo na venda de polvosimensos, arraias-gigantes, numa reuniao de pessoas empolgadas e entregues atarefa de fazer acontecer dia que seaproxima.

    Tambem costumo dizer que toda essa gente que trabaIha de madrugada forma uma equipe de atendentes de umacidade que nao pode parar de respirar. Eles constituem averdadeira Unidade de Terapia Intensiva da cidade.

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    Velho inema Novo

    -E fundamental que uma o ~ acupuntura urbana promovaa manutent;aO ou resgate da identidade cultural de umlocal ou de uma comunidade. Muitas cidades hoje necessi-tam de uma acupuntura porque deixaram de cuidar de suaidentidade cultural. Um triste exemplo disso e desapare-cimento dos cinemas municipais.

    No passado, os cinemas representaram para as pessoaso espa\o magico da fantasia, da musica, da utopia, da rea-lidade, do sonho, da esperant;a. Eforam tambem um pontode encontro fundamental para a cidade.

    Os cinemas influenciaram gerat;oes inteiras, nao so noaspecto cultural. Eram locais onde as pessoas se encontravam, discutiam, se divertiam e, frequentemente, levavamessas discussoes para outros pontos da cidade. 0 cinemadifundiu a moda, a literatura, a dant;a, a musica, a historia.

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    Nada supera 0 cinema na possibilidade de registrar epocasimportantes de cada nat;ao.

    Essas salas de cinema contaram e fizeram historia. Masem grande parte das cidades do mundo elas estao desapa-recendo. 0 velho cinema de cada cidade vem sendo adaptado para outras atividades dando lugar a supermercadostemplos etc. Em muitos locais 0 cinema tradicional foisubstituido pelas salas de shopping centers mas isto e outra historia.

    A memoria da cidade e 0 nosso velho retrato de familia.Assim como nao se rasga um velho retrato de familia, e 0velho Cinema faz parte desteretratode familia, nao s podeperder um ponto de referencia tao importante para nossaidentidade.

    No estado do Parana comet;amos a recuperar os velhoscinemas municipais. Procuramos dota-Ios do que ha de maismoderno em equipamentos para termos condit;oes de criarcircuitos do cinema nacional e do cinema de arte muitasvezes relegados pelas redes de cinemas de shoppings.

    Na verdade 0 Velho Cinema Novo e um programa querefort;a a nossa identidade cultural. Euma acupuntura urbana que tenta curar-nos da perda da memoria e da nossaidentidade.

    A r e c u p e r ~ o e urn rio

    Minha chegada a Seul embora fosse a primeira vez pare-cia nao oferecer surpresas. Mais uma antiga cidade asiaticaimpulsionada por uma impressionante vitalidade, crescen-do vertiginosamente na sua modernidade. Tanto que naoparecia retratar seus mais de 800 anos.

    Mais uma demonstrat;ao do fazer rapido. em suas imensas avenidas e freeways chegando a um centro caotico ondeas pessoas tem que atravessar passagens subterraneas su-bindo edescendo para simplesmente cruzar uma rua. Ja oscarros passavam por um asfalto perfeito, quase como sdeslizassem por um tapete vermelho.

    Assim foram construidas e destruidas muitas cidadesdando privilegio aos carros. Cidades belas historicas compredios e palacios magnificos em sua arquitetura, cercadospelos automoveis nossos dragoes.

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    A primeira surpresa em Seul foi a de sermos chamadospara referendar uma i n t e n ~ a o pouco comum na maioria dascidades. A prefeitura pretendia reservar boa parte do espa

    para a onibus de Curitiba", criando em varias regioesda cidade a rede de transporte coletivo ja batizada de BRT .Bus Rapid Transit).

    A surpresa maior: a governo de Seul quer eliminar ummacarronico sistema de vias elevadas no centro da cidade erecuperar um riacho, a Cheonggyecheon, que recebia asaguas que degelam nos morros. 0 riacho, imaginem, foraenterrado decadas atras para que nao se visse a degrada

    ~ a o e a p o l u l ~ a o deste corrego e sua v i z i n h a n ~ a Em cimadele foram construidas as vias elevadas.

    A n t e n ~ a o agora e fazer a local voltar a ser a que era.com a e c u p e r a ~ a o do rio e a e v i t a l i z a ~ a o da area ao longodele. 0 projeto ecaro (custa muito corrigir uma grande asneira), mas a entusiasmo do prefeito esua equipe egrande.A n t e n ~ a o deles etambem abrir s p a ~ o s para as pedestrescity friendly for people). No momenta em que chegamos,

    nos mostraram as projetos. Todos tem uma leitura muitoclara. 0 desenho da cidade esta claro, as morros, a rio revi-talizado. Quer dizer, a cidade esta na c a b e ~ a deles. Nao te-nho duvida de que logo todos as projetos serao realizados.

    Em Seul tambem tive a privilegio de conversar com umadas pessoas mais conhecidas da cidade, Young-Oak Kim, umfilosofo formado em Harvard que depois deixou a universi-dade para cursar medicina. Ao voltar, a professor Kim

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    ensinou filosofia durante dais anos num programa superpopular na Coreia do SuI. Eum homem muito famoso, queagora resolveu ser reporter de temas importantes. Nossaconversa euma c e l e b r a ~ a o Tanta coincidencia nos pensamentos e na simplicidade. sintese da filosofia oriental.

    Ele me faz um desenho da cidade. Ea que me impressiona mais: ele e a cidade. a significado de cada regiao. decada l o c a l i z a ~ a o f de cada nome, de maneira muito simplese concisa. Ah, se as cidades tivessem menos vendedores decomplexidade e mais filosofos

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    iIillI i 'W.

    cidade proibida

    A historia nos conta que Pequim e uma das cidades maisantigas do mundo. No inicio do seculo IN, foi transforma-da em duas cidades, separadas por muros. A cidade interiorabrigava a antiga Cidade Imperial, cercada por um muro dedez quil6metros. Era a Cidade Proibida", onde os fossosdefiniam os palacios dos imperadores. 0 ultimo deles, Pu-Yi,foi deposto em 1911 e expulso da cidade em 1924.

    Mas a Pequim de hoje esta descaracterizada. Nao se vemais mar de bicicletas que fazia parte da paisagem deantes. Eem cada bicicleta havia uma pessoa ou mais. Erauma cidade das pessoas.

    Hoje, Pequim e mais um acampamento de predios mo-dernissimos. cercados de estruturas viarias enormes,freewayse os conceitos antigos de aneis. radiais etc. Na rosca formada pelo segundo e terceiro aneis, um CSD (CenterBusiness District . Euma cidade rodoviaria.

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    Junto a "Cidade Proibida" eas suas areas mais pr6ximas,aparece a textura de trechos pequenos da velha cidade. Umacidade que hoje s6 se reconhece nos filmes ou nos livros.

    Pequim precisa de uma acupuntura para voltar a ocu Calipar 0 lugar de destaque que merece no mundo. Menos ro- .dovias, mais cidade, mais gente, mais bicicletas. Talvez estaseja a acupuntura necessaria. Trazer de volta 0 onibus e arua. Marcar a paisagem com suas e s t a ~ o e s . Talvez seja outra acupuntura necessaria. Que audacia Querer fazeracupuntura nos chineses

    ' . ~ ."Uma brisa corn hora marcada. De noite, a p r a ~ a qut voceavista. A cidade e segura, tranquila, casais narnorando e

    c r i a n ~ a s correndo pelos passeios. Ern alguns lugares voceve a alma da cidade. A parteantiga, as cores, as c a l ~ a d a sanimadas pelo som distante de urna salsa.

    Pena que urn pouco da identidade da cidade tenha seperdido com as avenidas rnuito grandes, urn exagero desuperdimensionamento. Para atravessa-Ias. 3 vai voce subindo e descendo pelas passarelas.

    De repente. um shoppin enter antigo, nao fechado,com v e g e t a ~ a o interna, um grande parque. 0 som vern dealguem tocando ao vivo. sem equipamento eletronico. Nadade som canalizado empurrando as pessoas.Calor muito forte, mas, as quatro e rneia, cinco horasda tarde, uma brisa agradflvel torna conta da cidade. Seriamos deuses soprando. Afinal.

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    Mas a boa arquitetura uma casa que visito. 0 arquiteto Benjamin Barney projetou uma casa com pouco mais deseis metros de largura e com um patio. Alias, a casa umpatio com varias varandas. al\adas.

    Talvez nessa cidade a boa acupuntura seja fazer maiscoisas pequenas. Acentuar a rio, que uma beleza r e deixara brisa soprar. Voltar-se para esse divino sopro como paraum sol de fim de tarde numa praia carioca.

    Chevere

    ao fazer nada com urgencia

    Em minha phmelra gestao como pretelfo de Curitiba, numadas primeiras decisoes que precisei tamar. recebi um abaixo-assinado de uma associa\ao de moradores que continhaum pedido muito estranho. A solicita\ao era para que aprefeitura nao fizesse nada naquela vizinhan\a.

    Oeterminei ao Secreta rio de Obras que verificasse estasitua\ao. Oescobrimos que a pedido. apesar de insolito. ti -nha uma origem logica. A prefeitura estava realizando obrasna regiao - corre\ao deperfis nas ruas nao pavimentadas- e a receio dos moradores era de que as maquinas acabassem cobrindo com terra um pequeno olho-d agua.

    omeu despacho no processo foi laconico. mas decisivo:n l Secretaria de Obras. nao fazer nada. com urgencia . s

    ,.\ ~ vezes. na vida de uma cidade amea\ada par decisoes que

    l podem prejudica-Ia, necessaria nao fazer nada, comurgencia.

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    Trinta edois anos depois, em lisboa, pego urn carro paradar uma volta e a primeira pessoa que vejo na cidade eAlvaro Siza Vieira, arquiteto respeitadissimo e requisitadono mundo inteiro. Seria a mesma coisa que sair pela pri-meira vez no Rio de Janeiro e encontrar Oscar Niemeyer. Eali estava Siza Vieira, tranquilo inspecionando uma obra.Genios aparecem, muitas vezes, sem a lampada magica.

    Vejo as colinas, lindas colinas, e 0 Tejo. Nos jornais, no-ticias sobre novos projetos para Usboa. Tuneis, viadutos, aExpo 98 deixou contribuic;6es, mas era uma area decadenteque foi renovada.

    Na Usboa da v ~ r i i d da liberdade do Rode); das Coli:::nas, talvez a melhor acupuntura seja nao fazer nada, comurgencia.

    PS.: Que tal uma pequena ousadia: pintar 0 elevadorSanta Justa com cor de zarcao?

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    round the lo kaucid de 4 hor s

    No Z6calo, centro hist6rico da Cidade do Mexico, num fimde tarde, comec;o a sentir 0 medo de desaparecer na mul-tidao. Uma inundaC;ao de gente. 0 maior numero ede ven-dedores ambulantes, que procuram garantir 0 seu dia a dia,numa subsistencia dificil. E a pergunta que se faz nessasmegacidades e como conciliar setor formal com infor-mal. As respostas ate agora sao infrutiferas e injustas.

    Entao, por que nao promover a convivencia entre 0 se-tor formal do comercio estabelecido com 0 informal? A deiaque me ocorre e de se estabelecer urn acordo de horarios.

    Os ambulantes poderiam iniciar suas atividades depois1.- das seis da tarde, trazendo mais vida acidade ap6s 0 hora-i rio comercial tradicional. E rariam tambem rna s seguranc;aI 5

    I

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    ao seu redor. Urn setor ajudaria 0 outro pois ambos man-teriam 0 comercio local sempre a todo vapor.

    Afinal 0 comercio ambulante em suas varias modali-dades, e uma institui\ao tao antiga quanto a cidade. Vejama feira livre, por exemplo. Durante determinado horadonuma determinada regiao, a feira livre se estabelece bernmais cedo que 0 comercio normal, e mais tarde toda suaestrutura e retirada rapidamente. Isso funciona tao bernUma estrutura m6vel que vern cedo e vai embora. Algumascidades, como Xangai, Hong Kong e Curitiba tern feira no-turna. Sao pontos de encontro muito agradaveis, numa horamais solta.

    Aqui a acupuntura acontece no pulso do rel6gio.

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    Gentileza urbana

    Ha alguns anos, urn grupo de gente muito legal de BeloHorizonte. entre elas meu velho amigo Valerio Fabris, con-seguiu impor respeito entre as pessoas com atitudes queestimulavam 0 amor pela sua cidade. Cada gesto neste sen-tido e uma gentileza urbana.

    Desde entao, surgiram periodicamente ac;oes e ideiascriativas que refletem a consciencia das pessoas de que agentileza urbana e indispensavel na vida da cidade.

    Ja ficou famosa a hist6ria da vaquinha da rua Leopol-dina, uma escultura no meio do passeio publico que foiadotada pelos moradores de Belo Horizonte. Ha algumtempo ela foi atacada por vandalos e quase destruida. Urncidadao atravessou a cidade com urn balde de areia e ci-

    mento e a refez. Volta e meia a vaquinha aparece de caranova, com cores novas, contribui\oes do povo que delatanto gosta.

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    - ' ... " ; ; . F . ~ ~ ; ; " ' ' : . .

    No bairro Sao Geraldo, uma dona de casa montou umpresepio na sala. Era nao fecha aporta e recebe com simpatia quem quer conhecer seu presepio. Em o u t r ~ bairro deBelo Horizonte, a equipe de lixeiros trabalha sempre cantando. Assim a capital mineira foi ganhando a r a d i ~ a o dagentileza urbana.Existem pessoas que exercem sua atividade com prazerou que sinalizam para a cidade a sua alegria.

    Oscar Niemeyer, ao colocar suas esculturas nas areiasda praia do Lerne, fez uma grande gentileza urbana.

    Em Curitiba, um dentista, ao encerrar seu expediente detrabarho, vai a janCia toca'r seu pistom. ','

    Em Porto Alegre, uma emissora de radio tem uma vitrine na rua da Praia. As entrevistas sao acompanhadas pelopovo. 0 convite para voce colocar suas ideias na vitrine euma verdadeira gentileza urbana.

    Quando eu trabalhava no Rio de Janeiro, havia na equipeum bom designer. Um dia, que jamais esquecerei, ele veiopara escritorio vestido de p a l h a ~ o . Sentou-se diante daprancheta e trabalhou dia inteiro silenciosamente, comosempre fazia. No fim do expediente, ele nos contou que apartir daquele dia nao viria mais trabalhar porque resolverafazer que sempre sonhara: ser p a l h a ~ o de circo. Tinha feitoum curso sem contar para ninguem. Naquele momento,recebeu os primeiros aplausos.

    Ha alguns anos, fui ouvir trio de Heldo Milito, um craque da bossa nova. Como voces percebem, isso faz muito

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    tempo. Mas nao esqueci um gesto de verdadeira gentilezaurbana. Depois do show, dono do bar, ao ver que eu estava tendo dificuldades para conseguir um taxi aquela hora,levou-me no seu carro ate a porta do hotel.

    Em Maripa, uma pequena cidade no oeste do Parana, aprefeitura plantou orquideas nas ruas. A flor e tao bonitaque a p o p u l ~ o devolveu agentileza do governo com outragentileza urbana: ninguem mexe nas orquideas.

    Em Roma, hfl uma outra bela historia de gentileza urbana, que me foi contada por Domenico de Masi, grande equerido amigo. Todas as sextas-feiras, um grupo de mora

    ---. ,- dores oe um edificio d a ~ cidade organiza uma e x p o s i ~ a o de'um quadro de um pintor no elevador do predio. Voce sobee vai admirando a obra. Mas a gentileza nao para por ai:voce desce pela escada evai tocando acampainha dos apartamentos. Cada morador esua familia falam do quadro, contam historias do artista, oferecem cafe. Toda semana mudao quadro, com um artista diferente. Essa gentileza urbanaerealmente muito bonita.

    Em Salvador, Carlinhos Brown mantem uma escola demusica numa favela. Aos sabados, ele promove verdadeirosconcertos no local. Uma empresagrava CD do show eolucro das vendas vai para os moradores.

    Meu genro Bas conta-me ahistoria dos jardins f1utuanI tes dos limpadores de janelas de predios em Nova York. Nas plataformas usadas para a limpeza dos vidros, um arquiteto teve a deia de colocar caixas de plantas e flores, que assim

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    ficariam estacionadas , tornando-se jardins flutuantesdiante dos apartamentos. Uma gentileza inesquecivel.

    Nos idos de 80, a cidade de Curitiba decorava todos osonibus na epoca de Natal. A e c o r ~ o com arvores de temas natalinos, com suas luzinhas, era uma grande gentilezacom as pessoas que tinham que trabalhar no dia de Natal.Com os onibus percorrendo a cidade, a gentileza tambemestendia a alegria do Natal a toda a popula\ao.

    As vezes agentileza urbana se reflete numa pessoa, comoo ja falecido publicitario Sergio Mercer. A morte de SergioMercer foi um momenta muito triste na vida de Curitiba.i-Iumem deexcelente carater, publicitario talentoso, donode um texto primoroso. Esses comentilrios sobre ele eramcomuns em Curitiba inteira.

    Mercer era um curitibano especial. Ele era acara e pensamento da cidade. Sabia tudo sobre musica, literatura, eraum grande critico, mas um amigo sempre leal. Alem de tudo,tinha um outro dom extraordinario: era um afinador de conversas. Se papo na roda caminhava para um assunto chato,Mercer corrigia rumo, e afinava para um tema melhor emais agradilvel.

    Ele tinha mania de orquestrar, fazer arranjos em qualquer momento. Adorava tango e tinha um bandoneon imagil)ario. Voce poderia ve-Io tocando , ate com a faixa develudo no joelho.

    Acidade toda no enterro, relembrando a figura querida.Um primo dele me encontra e entrega-me um CD, com tre

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    chos de um cantor de tango, conseguido a duras penas:Tinha reservado para dar ao Mercer mas, na falta dele, que

    ria que voce, como um de seus melhores amigos, guardasse.lembrei-me de que tambem tinha com prado uma an

    tologia sobre tango, que reservara para dar ao Mercer. Saiodo cemiterio com um peso no cora\ao.Antes de voltar para casa, passo num restaurante paralevar alguma coisa, pois ninguem tinha vontade de saiLEncontro a Monica Rischbieter com uns amigos, todostristes, pois tambem tinham ido ao enterro. Ocorreu-me,entao, presentear Monica com livro que pretendia dar . ' ;- , . . . 'aoMercer.

    Tambem me veio a ideia de lan\ar Dia Nacional doMercer, em que cada pessoa daria um presente a um amigo. dia e 6 de mar\o, data em que Curitiba perdeu estegrande amigo. Como nao poderiamos mais presentearMercer, fica a homenagem a ele como um dia de se presentear amigos.

    Seria uma grande gentileza urbana, algo que Mercersempre fez pela cidade.ojogador Vampeta, da sele\ao brasileira, fez um ato deextrema gentileza com sua cidade, a pequena Nazare dasFarinhas, na Bahia. Certa vez, ele estava na cidade e pediram-Ihe uma ajuda de 20 reais porque telhado do cinemaestava caindo. Vampeta foi ver predio, que estava em estado lastimavel. Eum predio historico. 0 Cine Rio Brancoera um dos mais antigos do pais, de 1927. Vampeta com

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    prou cinema e restaurou predio. Dizem que a inaugura\ao foi a maior festa da historia de Nazare, ate com a presen\a de Ronaldinho.ocinema nao da lucro. Vampeta paga os funcionariosdo proprio bolso. Alem das sessoes de cinema, 0 local oferece oficinas de teatro e arte para mais de 80 crian\as defavelas. Vampeta nem gosta de cinema, mas nao hesitou emfazer esta gentileza urbana aos moradores de sua cidadenatal.

    iIi

    cupuntura pela musica

    rn Aritonina, cidade l i t o r ~ n e do Parana, existe um pratotipico que ecozido numa panela de barro lacrada com pirao.Euma delida chamada barreado. Em sua versao mais tradidonal, aabertura da panela eprecedida de fog os de artificio.Mas que deixa momento ainda mais bonito e hino deAntonina, cantado na hora de retirar 0 selo da panela.

    Cada cidade tem 0 seu gesto, e a sua musica. Algumasddades tem mais de uma musica, que imediatamente nosprojetam a paisagem local. Copacabana , Corcovado ,Garota de Ipanema , Cidade Maravilhosa .

    Roma, Chicago, Nova York, Sao Francisco, todas estascidades tiveram musicas que se tornaram universais porque as celebravam. Ao ouvi-Ias, voce faz imediatamente aleitura da cidade.

    Quando se fala em tango ou em Carlos Gardel, imediatamente nos lembramos de Buenos Aires. Voce ate pode

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    Z. c i t : t 4 ' . ; l , b ~ : , . , ; :~

    assistir a um belo espet:kulo de tango em qualquer lugar Ha cam;oes que quando falam de uma cidade parecemdesenhar a cidade para voce. A musica faz surgir uma fotopois companhias de muita qualidade fazem tumes pelo grafia da cidade na sua mente.mundo mas nada se com para ao tango em Buenos AiresMas foi de Antonio Carlos Jobim a melodia que fez apois ali e seu b e r ~ o Esteja onde estiver tango sempre cidade parecer melhor. Eparecendo melhor fica melhor.carregara sangue portenho.

    osamba e uma das marcas da cultura do Rio. Etemosbons sambistas por todo pais. Mas quando chega Car-naval,o lugar do samba e a avenida. Enisso Rio de Janeiroe imbativel, pois produz na avenida a maior opera do mundo com mais de 80 mil protagonistas.

    Quando uma musica ou um ritmo assumem a dentidadede uma cidade ou de um pais pod em criar uma boa acu-puntura urbana. Ela pode ser constatada no cotidiano comoo barulho da caixa de fosforos no boteco da esquina cariocaa percussao nas c a l ~ a d a s da Bahia ou hip-hop nos apare-Ihos gigantes carregados pelos african-americans nas ruas I1os Estados Unidos. i:Ha c a n ~ o e s que sao verdadeiras acupunturas. Algumasdelas passaram aser tatuagens: Gilberto Gil Caetano VelosoMilton Nascimento Dorival Caymmi e Vinicius deram coras cidades enos impregnaram para sempre.Edificil imaginar a Bahia sem Caymmi Joao GilbertoGil e Caetano; e dificil sentir Minas sem a musica de MiltonNascimento.

    Etambem e dificil captar Brasil sem Villa-lobos ou AryBarroso.

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    ontinuidadeevid

    c1

    ',-Muitos dos grandes problemas urbanos ocorrem por faltade continuidade. 0 vazio de uma regiao sem atividade ousem moradia pode se somar ao vazio dos terrenos baldios.Preenche-Ios seria boa acupuntura.

    Eimportante tarnbem incluir a fun\ao que falta a determinada regiao. e s6 existe a atividade economica e faltagente, eessencial incentivar a moradia. Se que ocorre eafalta de atividade. importante e incentivar os servir;os.

    Se um terreno vai ficando vazio. e importante trazeralguma coisa para aquele local. a alguns anos, ao sentirdesaparecirnento de alguns cafes, que eram verdadeirospontos de encontro instalarnos na area de pedestres deCuritiba urn cafe provisorio.

    terre no, quando vazio, tem que ser preenchido imediatamente. de preferencia com alguma atividade de animar;ao. Defendo ate a possibilidade de se instalarem estruturas

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    provisorias para consolidar algumas atividades ate que surjam novos projetos. Eaacupuntura das novas estruturas atra-y s da i n s t a l a ~ a o de estruturas portateis. que possam sercolocadas no local ate para garantir vida. revitalizar uma regiao, gerando a u n ~ a o urbana que esteja faltando.

    Se fa Ita atividade. se falta lazer durante anoite, traz-seuma estrutura de lazer. Se, por outro lado, estava faltandomoradia. devem-se trazer moradias. Mas tudo isso rapida-mente, quase instantaneamente.

    A mlstura d e f u n ~ 6 e s eimportante. Ea continuidade doprocesso efundamental. Continuidade evida.

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    s sons as cores eos cheiros da rua

    ovended or ambulante muitas vezes eca\ado pelos fiscaisburocraticos. Epena, pois ele nao eapenas um comerciante,s vezes, reconhe\o atuando de forma ilegal. Mas ele deve

    ser visto com olhos mais generosos. dada a amplitude desua a t u a ~ a o

    Na verdade, vendedor de ot og em Nova York, deagua de coco no Nordeste, as vendedoras de acaraje naBahia, homem que grita olha mate nas praias do Rio.as vendedoras de frutas no Caribe, com suas bacias na cabe\a, todos tern um componente de identidade muito forte.Eles acrescentam som, cheiro, a cor, e isso faz com quenossa identidade se sustente.

    Durante anos morei em frente a uma fabrica de bola-chas no bairro Cabral. em Curitiba. Cada dia da semanaera produzido um tipo de bolacha. Quinta-feira, por exemplo.

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    . de bolacha de coco, e a regiao inteira sentia aqueera dla. o90stoso.Ie chel r .. f h t d . t f . d .fabricaJa ec ou, mas 0 aqum a- elra am asmto 0da bolacha de coco. a na parte sui da cidade, todochelro h d M l - deJ1tia 0 c elro 0 atte eao sen 0 abncado. MUImun d 5

    A historias semelhantes das suas cidades.tos tern .afiador de fa cas, 0 vendedor de frutas, os servu;oso dos e prestados em domidlio, 0 grito das mancheanuncl a'orJ1aleiros, alguns desses sons talvez tenham desa-tes d ~ S d da cidades: . ,'.,. . " ;.

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    Ate mesmo vale do rio I g u a ~ u com suas cavas, queacabaram poupando estado inteiro de urn desastre ambiental. Quando houve derramamento de oleo no rio I g u a ~ u ,foi atraves dessas cavas que se foi represando 0 oleo. Naona primeira, nem na segunda, mas na decima cava de areiao derramamento foi estancado e, a partir dai, foi realizadourn intenso trabalho de limpeza. Mas e redesenho destascavas, que foram transformadas em filtros, que esta limpando rio. 0 que eram essas cavas? Uma ferida que ho

    , mem criou n:; paisagem.Mas foi uma ferida transformada em s o l u ~ a o Os novos

    desenhos dessas cavas estao devolvendo vida ao rio I g u a ~ u

    uma antiga fabrica de chocolate, a Ghirardelli, e uma fabrica de enlatados, a Del Monte, que virou a The Cannery.As duas foram recicladas no final dos anos 60 etornaram-se

    a t r a ~ o e s do tradicional Fisherman s Wharf.A partir dos anos 70, as reciclagens c o m e ~ r m a acon- 'tecer no mundo inteiro com projetos brilhantes, comoteatro do Sesc em Sao Paulo, e outros na Europa, principalmente as e s t a ~ o e s de trem em Londres.

    Em 1971, Curitiba transformou urn antigo paiol de pol, vora num p e q ~ e n o teatro - 0 Teatro Paiol. L()go depois, umaantiga fabrica de cola virou Centro de Criatividade.

    Tambem merecem ser citados 0 Porto Madero, emBuenos Aires, eparte da E s t a ~ a o J u l i o Prestes, em Sao Paulo,transformada numa magnifica sala de concertos.

    Bons e maus exemplos aconteceram. 0 mais importantefoi resultado conseguido com a e v i t a l i z a ~ a o de locais antes abandonados que ganharam, na maioria das vezes, importantes equipamentos culturais. Foram otimas acupunturas.

    Mais recentemente. verdadeiras feridas feitas pelo homem na paisagem, como pedreiras e x p l o r a ~ o e s de cavasde areia, acabaram se transformando em parques, teatros.Mais uma vez Curitiba inovou. com a Opera de Arame, aPedreira Paulo Leminski e s p a ~ o para shows e apresenta-~ o e s ao ar livre com capacidade para mais de 80 mil pessQas)esucessivos parques que retratam a o n t r i b u i ~ a o das variasetnias avida da cidade.

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    ,!lIIIt 43

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    F

    ente n rua

    ' ,;.11' ~ f ; 7'

    t s vezes. fico observando como uma gota de melado vai jun-, tando as formigas. Ou como. num bar ou armazem de urn bairrof bern pobre. a luz e a animac;ao atraem as pessoas. Mas saof principalmente as pessoas que atraem s pessoas. 0 homem er ator eespectador desse espetaculo diario que ea cidade.I Uma boa acupuntura e ajudar a trazer gente para a rua.criar pontos de encontro e. principalmente. fazer com quet cada func;ao urbana catalise bern 0 encontro entre as pes-f soas. Urn terminal de transporte. por exemplo. nao precisa se assemelhar a uma estac;ao rodoviaria. Ele tambem pode1, ser urn born ponto de encontro.

    Em Estrasburgo. na Franc;a. os desenhos dos terminais edo bonde (TRAM) criaram pontos de encontro agradabilis-simos. Em Seul. vi uma estac;ao de metro que tinha recreac;aoinrnntil em uma de suas areas de circulac;ao. inclusive com

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    urn pequeno planetario. Em Curitiba, terminais com capacidade para 500/800 mil passageiros/dia sao p r a ~ a s agradaveis.

    Quanto mais se entender a cidade como i n t e g r a ~ a o def u n ~ o e s de renda, de idade, mais encontro, mais vida ela tera.o desenho do e s p a ~ o publico e importante. A Place delaBourse, em Lyon, a P l a ~ a del Sol, em Barcelona, aGammeltorv,em Copenhague, a Tsukuba Centre Square, no Japao, e aPioneer Courthouse Square, em Portland, sao magnificosexemplos de como criar bons e s p a ~ o s pubHcos eao mesmotempo gerar lima t r n s f o r m ~ o positiva numacidade.

    Par estudante na rua tambem e fundamental. Em mui-tos lugares, estudante e segregado do e s p a ~ o da cidade,cercado por estruturas que se convencionou chamar decampus universitario. s vezes, e s p a ~ o etao vazio que eum verdadeiro matus universitario.logo ele, estudante,que precisa conviver mais com a cidade para ter uma visaomais generosa da sociedade. Senao, ele vai receber gotasde i n f o r m a ~ a o de uma sociedade com a qual pouco convi-ve. Ja imaginaram uma Sorbonne fora de Paris, ou Columbiafora de Nova York, ou Berkeley desgrudada da cidade? Ou aUniversidade de Heidelberg, a Faculdade de Direito de SaoPaulo, longe da malha urbana?

    Mesmo com as estruturas centralizadas de alguns campie possivel trazer setores para dentro da cidade, principal-mente os ligados a semin:hios, atividadesculturais etc. Ouentao levar a cidade para os campi.

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    Smart car smart bus

    f Muitas sao as discussOes sobre 0 transporte do futuro. AIttIr discussao maior e centrada no automovel do futuro e as

    fei ras do automovel sao cada vez mais a v a n ~ a d a s . Vi, ha unstres anos, uma e x p o s i ~ a o no MoMA que procurava explo-rar aspecto de tecnologia edo desenho do carro do futuro.

    Mas verdadeiro smart car ainda nao apareceu. Quando ele e a v a n ~ a d o no design n:'io e a v a n ~ a d o no engine . Eos carros que tern um motor evoluido, hibrido em r e l a ~ a oas varias possibilidades de energia, nao sao a v a n ~ a d o s no

    f design. Emais, os que sao adequados acidade, menores, comi baixa velocidade, nao sao em r e l a ~ a o aestrada. Ora, se hanecessidade de dois carros, por que nao pensar os dois numcarro so, carro+bike, ou ainda urn carro de estrada que te-nha urn carro urbano no porta-malas.osmart bus ja existe. Eaquele que tern algumas condi-

    ~ a e s essenciais. Pista exclusiva (nao necessariamente pin-

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    tada, mas um e s p a ~ o proprio) e requencia maxima na ope-r a ~ a o Embarque e desembarque no mesmo nivel, com pa-gamento da tarifa antes de entrar no onibus elinhas diretasintercaladas.

    Nao tenho duvidas de que transporte dofuturo e desuperficie. Mais rapido de implantar, custo ate 100 vezesmenor por quilometro, e que pode ser perfeitamente integrado as linhas de metro existentes. 0 caminho e dar ao6nibus a mesma (ou melhor) performance que um metro,

    ou seja, metronizar'a superficie ,A smart bike tambem ja temos. Ea que nao se mistura

    com 0 trMego normal, nem atrapalha a c a l ~ a d a Eabicicletaem seu proprio caminho, ao longo dos rios, canais, t r a ~ a d o sferroviarios. Mas sera uma smart bikese for possivel utilizala como um guarda-chuva: abrir eusar quando necessario.osmart taxi e que menos concorre com 6nibus o

    metro, E e 0 que da mais alternativa ao cidadao. Isso significa que ele nao poderia competir com os outros meios detransporte. 0 smart taxi o que alimenta transporte publico, entregando passageiro no ponto do sistema maisproximo, evitando a procura do mesmo e s p a ~ o e do mesmoitinerario. Para ser alimentado, ele tera que participar datarifa integrada. Quem diria, 0 taxi como socio do transporte publico,osmart pedestrian e que pode usar tudo, inclusive os

    estacionamentos de automoveis, utilizando para isso um

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    cartao de mobilidade. 0 pedestre sm rt vai exigir, comoconsumidor, equipamentos, lojas e e r v i ~ o s que tambemestejam a sua d i s p o s i ~ a o para seu conforto. Mas terao queser smart shops smart movie theatres.E smart reader e que nao joga este livro fora.

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    - r

    M h i l f " ~ ~ ' , " , . , ~ ~ .

    Irrr

    ompromisso de solid ried de

    '+ I .... l ,

    Pode-se fazer boa acupuntura urbana com um profundocompromisso de solidariedade? Ha decadas convivemos comas consequencias de injustas desigualdades sociais, que acabam marginalizando parte da p o p u l a ~ o de baixa renda nascidades. A papelada produzida com diagnosticos, seminariose simposios sobre esse problema daria para cobrir boa parte das favelas do mundo.

    Em geral, a p o p u l ~ a o marginalizada vive em morrose fundos de vales. Foi asaida que encontraram para a falta de alternativas. Como levar infraestrutura a essasareas, como resolvero problema do lixo que, acumulado, polui e as vezes acabasoterrando seus habitantes? Como resolver os problemas deemprego, e0 mais terrivet, 0 problema da violencia eda droga?Algumas cidades, como Curitiba, conseguiram resolvero problema do lixo com os programas de compra do lixo outroca por vale-transporte.lsso funciona ha mais de 13 anos.

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    ---- r""Ha uns 25 anos, propus uma solw;ao para se levar infra-

    estrutura a avela. Atraves do corrimao das escadarias selevaria agua e luz, fazendo com que os canos e tubos en-trassem pelo telhado, pela janela. 0 esgoto seria canalizadonos cantos dasescadarias. Tudo muito simples, mas com uma .unica c o n d i ~ a o : nao mexer no terreno.

    Areas de lazer nos patamares. que tambem receberiamsetores de s e r v i ~ o s e e l a ~ o e s do morador com sua cidade.Quanto ao emprego, a proposta e a zona franca na favela.

    ,-, "",,.-,,.,..,.,,livrar dos impostos todas as industrias e s e r v i ~ - a s q u e gerarem empregos dentro da favela. 1550 propiciaria uma aproxi-

    m ~ o com restante da cidade pela troca de s e r v i ~ o s ; essasatividades c o m e ~ r i m nas bordas dos morros e fundos devale. Tudo isso, com certeza, ajudaria a diminuir aviolencia.Para haver s e g u r n ~ nas favelas e fundamental gerar Itividades nas areas mais densas enos patamares. A insta-

    l a ~ a o de restaurantes, comercio, pontos de s e r v i ~ o s ilumi-n ~ o e outros equipamentos urbanos euma forma de fazerisso e prom over a n t e g r a ~ a o . A subida ao morro pela inte-

    g r a ~ a o social e boa acupuntura urbana. Rapida, sem maisdiagnosticos e grupos de estudo.

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    Voce conhece cidade onde viveouDesenhe sua cidade

    Uma boa acupuntura urbana seria provocar conhecimentode cada um sobre sua cidade. Quantas pessoas, na verdade,conhecem a sua propria cidade? Dificilmente alguem respeita que nao conhece. Mas como respeitar se voce naoentende sua cidade?

    Desenhe sua cidade. Fiz essa proposta durante uma palestra em Cali para mais de 200 jornalistas, no Dia do Jor-nalista. Ate que ponto, mesmo aqueles que escrevem,comentam diariamente sobre acidade. tem uma visao glo-bal desta?

    odesafio que coloquei para os jornalistas foi no sentidode que nao interessa somente analisar se prefeito daquelacidade e bom ou nao. Qual valor para a cidade dos noti-ciarios sobre aquilo que acontece de ruim. sobre as defi-

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    ciencias? Queria que alguns deles me dissessem de que maneira estariam realmente ajudando sua cidade com seu trabalho.

    Mas como voce pode melhorar sua cidade se nem mesmoa conhece? 0 que voce faz pela sua cidade. se nem ecapazde desenha-Ia? Ai eque esta ponto mais importante. Nosaprendemos a conhecer a cidade por meio de algumas ruase referencias. Os mapas. que poucos conhecem, nao temmais que t r a ~ a d o das ruas. u s6 fui conhecer os rios daminha cidade quando comecei a trabalhar como arquitetono D e p ~ ~ t a r r i ~ ~ t o de Urbanismo. . . ' '

    Acontece a mesma coisa em r e l a ~ a o aos mapas dos estados (ou provincias) de um pais. 0 que se conhece e umdesenho politico dos municipios. um q u e b r a - c a b e ~ a cujas

    p e ~ a s s e encaixam para formar um estado, um pais. Mas esseestado, esse pais, possuem um desenho que nada tem avercom esse q u e b r a - c a b e ~ a . Eo desenho de seus rios, seus morros, os degraus dos planaltos, as cadeias de montanhas ondeestao os recursos naturais etc.

    Claro que quem nao enxerga isso tende a receber esseconhecimento atraves de outros poucos. Mas nao ea mesmacoisa. Desenhe asua cidade. F a ~ a uma maquete de seu estado.

    Desenhe seu pais.Ha algum tempo, como governador. comecei uma cam

    panha que tinha a i n t e n ~ a o de fazer com que todos ajudassem a preservar os rios.ja que grandes fatores de polui

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    - r[(Jfi!

    _ Ji, ..-r . , " fn s t r u ~ o e s p r f zer umcupuntur urb n

    Nao esquecer que acidade e cem,irio do encontro. Gregariapor defini

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    Pensar numa cidade sedimentada ecomo procurar seudesenho escondido. Estranha arqueologia que vai revivendoantigas edifica\oes, ruas, pontos de encontro dando novasfum;;oes avalores que nos eram caros. Ecomo descobrir numcaleidosc6pio aquele desenho perdido que vai possibilitarencontro.Ecomo dar novo conteudo aeste desenho, consolidando-o com transporte de massa, com usa do solo e coma ossatura vi,firia que, quando integrados numa s diretrizdef::-:ema- estrutura de clc:>dmelllu de uma cidade.

    o autom6vel ea nossa "sogra mecanica". Temos quemanter boas rela\oes com ela, mas ilao podemos deixarque ela comande as nossas vidas. Epreciso saber se relacionar com autom6vel, mas nao ser escravo dele.

    As ruas sao cenarios prontos, caros demais para servir aapenas uma fun\ao. Por isso, podem e devem ter um usamultiplo e escalonado no tempo.

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    cio cri tivoxmediocridade laboriosa

    Epossivel fazer as coisas certas antes das coisas erradas?Segundo um principio universalmente consagrado, a mediocridade laboriosa as vezes ganha da criatividade pregui\osa. Porque, para quem nao se questiona. para quem naoexerce constantemente a autocritica dos seus atos, sempreemais facil executar ideias recebidas.

    A mediocridade laboriosa, os vendedores de comp exidade, os acumuladores de dados desnecessarios e as pesquisas infindaveis e nao conclusivasganham cada vez maisespa\o. Mas, as vezes, apenas um gesto criativo euma acupuntura tao poderosa que faz avan\ar.

    Quando estavamos implantando em Curitiba uma dasmelhorias importantes de seu sistema de transporte eraimperioso conseguir-se 0 embarque no mesmo nivel. A pri

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    meira batalha era conseguir fazer um onibus biarticulado,um onibus com grande capacidade. Tinhamos que convencer os fabricantes de chassis que isso era posslvel, e quehaveria mercado para isso.Consegui com Karlos Rischbieter, ex-ministro da Fazenda eex-membro do Conselho da Volvo, uma reuniao coma diretoria da Volvo, em Gotemburgo, Suecia. Montamos umestudo que fazia uma a v a l i a ~ a o das cidades que teriamnecessidade de s o l u ~ o e s de superficie e um estudo de via

    . bilidade..ttcnicp p.ara mostrar("omo [sso ppderia funcionarem Curitiba.

    Qual nao foi nossa surpresa ao vermos que uma poderosa estrutura como aquela nao tinha rnais que uma pastade recortes de jornais sobre transporte de massa. Foi umavergonha para eles. Tanta vergonha tiveram que, dois meses depois, vice-presidente veio ao Brasil comunicar-meque estavam dispostos a o m e ~ a r a desenvolver chassi emCuritiba, on line com a equipe de Gotemburgo.

    Desenvolvido chassi. teste era feito de madrugadapara ver se funcionaria com aquele comprimento nas nossasruas e canaletas exclusivas paraonibus. 0 biarticulado eraum baita onibus; carregava 270 suecos (e 300 brasileiros).Foi uma grande vitoria.

    Mas importante tambem era conseguir agilidade nopagamento da passagem e no embarque. Para isso, era i.ndispensavel que passageiro pagasse antes de entrar noonibus e que embarque se desse no mesmo nivel da pla

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    r.r

    taforma. 0 pagamento foi facilmente resolvido, com umacatraca na entrada da e s t a ~ a o - t u b o . Ja a p e r a ~ a o de embarque tambem tinha que ser perfeita, para manter a agilidade e evitar acidentes. Portanto, era essencial um impecavelencaixe entre onibus e tubo.

    onumero de s o l u ~ o e s complexas e caras que tentaramnos vender foi grande. Uma delas era fazer a p r o x i m a ~ a odo 6nibus ao tuba de embarque por meio eletr6nico. Todasas s o J u ~ o e s que nos apresentavam eram extremamente caras,Tao caras qwmtoo custo da propr i3 frota

    Ate que arquiteto Carlos Ceneviva chamou motorista que era chefe de o p e r a ~ o e s Roberto Nogari, e perguntou se ele seria capaz de encostar 6nibus na e s t a ~ a otubo com a porta exatamente na plataforma de embarque.omotorista nao titubeou e encostou perfeitamente.

    Ceneviva perguntou se ele e os demais motoristas eramcapazes de repetir sempre aqueJa o p e r a ~ a o com a mesmaprecisao. 0 motorista deu a o l u ~ a o de imediato. Urn pequeno risco feito no vidro do onibus e outro pequeno riscona e s t a ~ a o - t u b o . Quando os dois coincidiam, estava feita a

    o p e r a ~ a o . com p e r f e i ~ a o . agilidade e s e g u r a n ~ a para os passageiros. 0 sistema funciona ha 11 anos e nunca houve urnso acidente.

    Foi uma acupuntura criativa e uma grande vitoria sobre a mediocridade laboriosa.

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    Autoestima uma boa acupuntura

    ; : ; ; , , ~ , 4 .

    Ate onde voce gosta da sua cidade? Geralmente voce gostade sua cidade porque nasceu nela. Mas 0 que voce acha dasua cidade? Voce a conhece, sente-se parte dela? Ou aspessoas que projetam a tragedia ja 0 influenciaram a talponto que voce tern certeza de que nao ha rna is solw;ao,que a sua cidade ea que tern a pior infraestrutura, a maisviolenta. a mais injusta? Ainda mais se for uma cidade grande, onde sao grandes os problemas e fica mais facit justificaressa f r u s t r a ~ a o pe/a escala.

    Mas aescala nada tern a ver com a inviabilidade de umaproposta. Nem a falta de recursos. 0 mais importante eavisao correta, e uma competente e q u a ~ a o de corresponsabilidade.O que enecessario eurn cenario, ou uma ideia. urndesenho desejavel. E todos - ou a grande maioria - vaoajudar a fazer. Ai, nesse exato momenta de r e a l i z a ~ a o . aautoestima da p o p u l a ~ a o faz a cidade a v a n ~ a r .

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    . a: > .

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    Joinville, em Santa Catarina, decidiu transformar-se numcentro de excelencia para a a n ~ a . 0 prefeito encampou aluta da J6 Braska Negrao para levar a cidade uma filial doBale Bolshoi de Moscou, e addade inteira trabalhou para isso.Montreux, na S u i ~ a por uma iniciativa de Claude Nobis,passou a ser sede de urn dos festivais mais importantes dejazz do mundo. e acidade inteira vive esse momento.

    Nova Jerusalem, em Pernambuco, ao encenar a Paixaode Cristo em varios locais, criou uma grande autoestima na

    t-- cidadeje tambem'ft01>ovobrasileiro.. ,... \Provocar a autoestima euma acupuntura fundamen-

    tal. Assim aconteceu com 0 transporte urbano e com a sol u ~ a o do lixo em Curitiba. Assim aconteceu em Bilbao, naEspanha, com Museu Guggenheim e todas as suas novasconquistas.

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    uz e boa cupuntur

    J3 se tern falado que identidade eum componente impor-tante de qualidade de vida. Que conhecer a cidade e respeita-Ia e tambem fazer parte dela. A partir de 1971, Curitiba

    c o m e ~ o u a e f o r ~ r seu desenho esua hierarquia viaria pe/ai 1 u m i n a ~ a o publica. Isto e 0 sistema de i 1 u m i n a ~ a o publicapassou a refon;ar, a e a l ~ a r a estrutura basica da cidade.

    Pelo tipo e ntensidade da luz. voce podia saber onde estava. Luz de sOdio 400W) definia as vias estruturais, onde haviao transporte de massa. As linhas alimentadoras tinham fuzescom outras tonafidades, e quando voce chegava ao centro,dentro do anef central, a 1 u m i n a ~ o era tambem de sOdio.

    A feitura da ddade era extremamente facil e ajudavaa proprio morador aconhece-Ia melhor.lnfelizmente, mesmo seguida durante anos, essa leitura c o m e ~ a se descaracterizar, mas foi uma acupuntura excelente .

    . Muitas cidades tern usado a l u m i n a ~ a o publica para fazerboa acupuntura. Em Roterda, na Holanda, aSchouwburgplein

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    I I ~ . : .

    e transformada num grande palco urbano em que os pr6prios usuarios podem modificar a luminac;ao publica, e carater da prac;a transforma-se com efeitos que fazem espac;of1utuar. Em Amsterda, as luzes das pontes refletem seus arcos nos beJos canais. Alias, toda acidade fica refletida na agua.Na RathauspJatz, em St. Polten, Austria, a iluminac;ao valoriza espac;o, a prac;a. Mas e na Place des Terreaux, em Lyon,na Franc;a, que se conseguem efeitos fascinantes ao se trabalhar com luz eagua, refletindo as fachadas de toda aarea.

    Mas, e neon:que, a'noite e a pr6pria mensagerr. soltano ar? Em Sao Paulo, nos anos 70, propusemos urn tratamento com neon no Vale do Anhangabau. Seria uma acupunturade neon.

    Durante projeto Rio Ano 2000, apresentamos umaproposta em que a ideia era criar calc;adas em forma deondas na Barra da Tijuca, realc;adas nas bordas pelo neon, eiluminar a praia e as ondas do mar dramaticamente.

    Havia uma epoca, em Paris, em que voce podia marcarhora para iluminar alguns monumentos. Bastava ligar paraurn departamento da cidade, dizer local ehorario, pagar umataxa pelo servic;o, e voce tinha Iuz propria" para destacaruma parte da cidade, ou determinado monumento, para umapessoa de quem voce gostasse.

    Nada e mais bonito do que 0 Cristo Redentor iluminadono alto do Corcovado. Tao lindo que a propria muska-deTom Jobim ja dizia: "dajanela ve-se Corcovado, Redentor que lindo "

    quapuntura

    Ha decadas, ao assistir aurn filme de Jeanne Moreau que sepassava numa cidade da Franc;a. encantei-me com essa cidade. Em Annecy. os canais eram parte da vida, tao normaisno cotidiano dessa cidade, e encontravam outra paisagemencantadora: a do lago Taillories.

    ssa imagem permaneceu tao forte na minha lembranc;aque, anos depois, ao desembarcar em Genebra para participar de urn encontro sobre qualidade de vida em Arc-etSenans (antigas Salinas Reais de Claude-Nicolas Ledoux). aotomar urn taxi do aeroporto para acidade, vi uma placa quedizia: nnecy 32 km Minha decisao foi rapida. Minutosdepois estava andando pelos canais de Annecy. a procurado local exato que tinha gravado na memoria. Fiquei doisdias num pequeno hotel em frente.

    Eu estivera em Veneza anos antes e ja havia me emocionado com a paisagem, com a historia e com encanto

    7

    ,. .

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    de uma cidade que e patrimonio da humanidade. MasVeneza tambem e urn cenario que acrescenta turistas dernais asua gente. Annecy e uma Veneza caseira.

    Mas nao quero falar das cidades em que a agua ternpresenc;a tao forte como Rio de Janeiro Hong Kong. Berna.Amsterda Genebra. Foz do Iguac;u. Quero me referir as cidades que usa ram a agua para fazer acupuntura urbana.Ou melhor aquapuntura.

    E tambem de cidades que engessaram seus canais.- cobrinim os rios criaram desastres a m b i e n t a i s ~ C i d a d d i q u e .

    deram as costas aos rios e que continuaram a descaracteriza-Ios. transformando-os em locais de inundac;oesesgoto e lixo. Em atitudes de nao reconhecimento de riosque fizeram sua historia.

    Mas existem cidades como Seul que esta restaurandorio Cheonggyecheon. Como Curitiba. que transforma 0 Iguac;unum projeto de limpeza das suas nascentes ate a foz. Nao enecessario que esses rios e canais sejam grandes. Em Parisrecuperou-se 0 antigo Canal de S. Martin. que marcava aParis dos anos boemios. Em Freiburg na Alemanha os espac;os do centro sao ligados pela reintegrac;ao do antigo sistema de pequenos canais - biickle - com pouco mais de3 centimetros que sao uma marca constante nos espac;ospublicos. Ou ainda em Lyon na Place des Terreaux on.de aagua e a luz fazem urn pas de deuxtao bonito num cenario singular.

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    Inesquecivel para mim foi ter revalorizado os lagos dosrios Belem Barigui Iguac;u e das Pedreiras. Entretanto amais bonita de todas as aquapunturas foi aquela realizadapor Coppola no filme No fundo do corat;ao One from theheart), em que ele faz projetar nas ruas molhadas de umacidade falsa neon de uma Las Vegas que tambem e artificial. 0 resultado foi maravilhoso: uma acupuntura falsanuma cidade falsa.

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    .

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    c rt o e mobilid de

    1 . '

    Acupuntura nem sempre e uma t r n s f o r m ~ o fisica. Asvezes euma boa ideia que pode mudar para melhor a vidade uma cidade. As grandes cidades enfrentam problemas de

    c i r c u l ~ o terriveis e aconsequente d e g r d ~ o que apreo-c u p ~ o excessiva com autom6vel acarretou.

    Mesmo as cidades que reagiram a esta nefasta tenden-cia e deram prioridade ao transporte publico que fizeramcair uso excessivo do autom6vel ainda enfrentam essesproblemas porque costume vido de querer chegar asareas mais densas ainda continua.

    Cidades como Paris e ondres que possuem redes com-pletas de metro e sistemas de transporte em superficie dequalidade ainda tem percentuais elevados de uso do auto-m6vel. 0 que fazer com esta parcela da p o p u l ~ o que in-siste no autom6vel?

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    Londres tomou aprimeira medida radical, com acobran~ a de pedagio para entrada de automoveis no centro, eachoque a ideia de reduzir 0 acesso de carros ao centro poderase repetir em muitos lugares.

    Nada contra 0 automovel. A ideia e usa..;lo adequadamente. Nao deixar que ele inviabilize a cidade. Acho que agrande s o l u ~ a o para isso sera a r i a ~ a o de um cartao demobilidade.ocartao, pre-pago, pode ser usado em todos os deslo

    - 1 U ' ~ camentostlentrodacidade. Desde 0 estacionamento na p e r t ~feria do centro, onde se deixa 0 automovel epega-se 0 metroou 0 onibus, tambem pagos com 0 mesmo cartao, que podeservir inclusive para taxi.

    A o l u ~ a o para uma mobilidade mais racional e a integ r a ~ a o de todos os meios de deslocamento. 0 segredo enaopermitir que carro, taxi, onibus, sistemas de transporte desuperficie, metro compitam no mesmo itinerario. 0 cartaode mobilidade, ao exigir n t e g r a ~ a o rapida para que a alternativa seja boa, transforma cada pessoa em dono de umBMW - bus minibus walking ou bus metro, walking.

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    co clock

    , ....... . , ' ~ : J ' I ' . ; ~ I "':: ~ \ . ' o

    Mais uma ideia que nao exige t r a n s f o r m a ~ a o fisica, mas simsolidariedade ao proxi mo eas futuras gera\oes. Tem-se tentado muito motivar as p o p u l a ~ o e s no mundo inteiro com 0desenvolvimento sustentavel. Mas s explicar;oes sao confusas, ora academicas, ora panfletarias, e nelas nao hci conhecimento, apenas entusiasmo.

    As pessoas, muitas vezes, acham que nao ha nada a fazer, eentram no clube dos que projetam a tragedia. A midianao ajuda porque tambem projeta os prognosticos catastrMicos, como se as coisas continuassem sem pre assim. Mascomo mudar se as pessoas nao sabem 0 que fazer?

    Veja, e tao simples. Se voce quer ajudar 0 meio ambiente,nao basta voce se sentir como se fosse um paciente terminal. Comece com duas coisas muito simples: separe 0 seulixo organico do reciciavel e use menos 0 seu autom6vel.Voce estara poupando energia, estara salvando arvores e

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    contribuindo para seu pais ficar menos de pendente dosoutros. Poupe mais e desperdice menos.

    Por isso proponho a cria\ao de urn eco lo k para cadacasa. Eurn rel6gio marcador para registrar a propor\ao da-quilo que voce gasta em rela\ao ao que poupa. Se a propor-\ao e maior que 1 voce esta contra seu pr6ximo contrao meio ambiente pois esta gastando mais do que poupa.Se voce nao poupa nada e urn irresponsavel po is mar-cador do eco lo k vai registrar infinito 0 indice da

    - . I t , . i r r ~ s p o n s a b i l i d a d eEse seu eco do k marcar indice da irresponsabili-

    dade havera puni\ao imediata. Voce nao tera direito defalar baboseiras sobre meio ambiente no bar com os ami-gos. Nem podera ser presidente de ONG.

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    r b o r i z a ~ a o

    ' ,

    A vegeta\ao pode ser uma boa acupuntura urbana. Cida-des que as vezes nao tern grandes atrativos em determinadasregioes mudam radicalmente quando sao arborizadas. Mui-tas cidades conseguem ganhar unidade por meio da ve-geta\ao intensa.

    Xangai tem arvores a cada quatro metros em todas asruas. Alem da paisagem e da sombra que produzem saoapoios importantes para os bambus que vestem as roupaspostas para secar. Sao verdadeiros espantalhos de roupa ebambu.

    Alguem poderia imaginar que seria aorla do Rio sem asarvores nas suas ruas transversa is? Arvore eacupuntura quecura a dor da ausencia de sombra de vida de cor de luz.Curitiba plantou um milhao de arvores em men os deduas decadas. 0 come\o foi urn gesto de verdadeira genti-leza urbana. Para garantir a rriga\ao de todas estas peque-

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    IolJ . -.

    nas chvores plantadas nas ruas, foi solicitado apoio da pop u l a ~ a o . a governo municipal l a n ~ o u uma campanha quedizia: A prefeitura da a sombra e voce, a agua fresca.

    Em muitas cidades, os conjuntos habitadonais sao aridospor causa da uniformidade e pela ausencia de a r b o r i z a ~ a o .Durante a x e c u ~ a o de programas habitacionais, que primayam pela d i v e r s i f i c a ~ a o por meio da mistura de renda, a ci-dade de Curitiba, alem de plantar arvores nas ruas, pedia acada morador que escolhesse aarvore frutifera de seu quintal.o desenho-dasruas naspodia d ~ n u b r nenhumadasarvores existentes, e as vias eram desviadas das arvores. Amania de se fazer terra arrasada em toda u r b a n i z a ~ a o novaacabou.

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    emoria produzida

    A Hist6ria e como um estilingue Quanto mais fundo vocepuxa, mais longe voce a l c a n ~ a , dizia Aloisio Magalhaes.

    Identidade, autoestima, sentimento de pertencer, tudotem a ver com os pontos de referenda que uma pessoapossui em r e l a ~ a o asua ddade

    Nao canso de repetir que na minha rua tinha tudo. An-dava econfirmava a hora no rel6gio da E s t a ~ a o Ferroviaria.Quando nao, era apito da fabrica ao lado de minha casaque anundava a hora. au cheiro do Cafe dos Ferrovi

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    alfaiataria ao lado. As maquinas do jornal em frente ou osnumeros do circo ali perto.O hotel chique as esta\oes deradio predio da prefeitura as orquestras do ClubeCuritibano.

    Tudo isso pode parecer nostalgico mas nao se apaga. Equando nao existe? Fabrica-se? Nao vai-se buscar. Algumacoisa que vai resgatar um momento e alavancar outros.Acupuntura da memoria?

    Nos Estados Unidos a cidade de sao Francisco fez istocontando a historia dos locais descritos nos livrosde DashiellHammett ou nos filmes de Humphrey Bogart. Ea memoriada fic\ao.

    ~ , -

    oRio de Janeiro tambem com a historia da bossa novaonde come\ou primeiro show Beco das Garrafas a ruaNascimento Silva os bares.

    Os artistas de qualquer epoca sempre vao ajudar. Elescantarao eescreverao sobre lugar. Pessoas vao reunir issomais tarde sedimentando em novas historias.

    Em San Juan Porto Rico uma placa marca local ondepela primeira vez se preparou uma pifla colada. Na Paris deHemingway Ritz sera sempre tao importante quanto osmonumentos da cidade.

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    De parques p r ~ s e monumentos

    Para uma pra\a voce vai; num parque voce se perde. Umapra\a as vezes e para voce ver que esta em volta; umparque e para voce ver que esta dentro dele.

    Nao e simples assim. Pra\as e parques sao como qua-dros: dependem muito da moldura. Emportante saber comqual trabalhar.

    Mais dificil eo passe partout. Algumas pra\as precisamde moldura pequena e de um grande passe partout.

    Ealguns parques vazam pela cidade sem moldura nempasse partout. Que palavra mais apropriada.

    Uma pra\a tem que ter entradas. Elas sao abertas a to-dos mas com entradas elas parecem ser especiais para voce.

    Elas sao pequenas epodem pertencer a milhoes. s vezessao enormes e parecem nao pertencer a ninguem.Fechadas abertas cercadas cobertas que as caracte

    riza e sentimento de pertencer.

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    A Place des Vosges, em Paris, sem duvida pertence aocasario em volta magnifico.

    oGramercy Park, em Nova York, cercado de edificios,mantem uma estreita l i g a ~ a o com a entrada dos predios.As p r a ~ a s cobertas dos predios nova-iorquinos per- .tencem a milh6es. Sao pequenas, mas abrigam e s p a ~ o sdignos.

    Uma grande p r a ~ a num grande ensemble nos arredoresde Paris. ou num conjunto habitacional no Brasil, nos da a

    ~ : , ~ s e r i s a ~ a o de nao pertencer a ninguem.Ja as pequenas p r a ~ a s italianas nos deixam fazer parte,

    e se incorporam imediatamente anossa memoria.Uma das menores r a ~ s do mundo, aPlace de Furstenberg.

    em Paris, da a sensa\ao de so pertencer a voce.Que dizer dos parques. Imensos, superocupados, como

    o Golden Gate Park, em Sao Francisco, cheio de equipamen-tos e t r a ~ o e s

    Os que servem de moldura apaisagem natural comodo Aterro do Flamengo, no Rio, ou os parques franceses quecriam pe rspectivas para monumentos. como das Tuilleries.

    Ou os que sao emoldurados pelos predios que circundam, como Central Park, em Nova York.

    Os parques para todos, como os parques ingleses, ouaqueles definidos por catedrais de arvores, como JardimBotanico, no Rio, ou m a c i ~ o s de candelabros, as araucariasdo Parque Barigui, em Curitiba.

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    Ainda os que me agradam sao os patios pequenos, comoos dos pequenos hoteis franceses, entre eles patio do Hotelde l Abbaye ou do Relais Christine, em Paris.

    Os patios espanhois com suas fontes que vao pingandominutos ou patio do Pelourinho, em Salvador, que terncor e cheiro.

    Nao gosto de monumento de gente que nao tenha afeto, ou dos que estao muito acima do povo, com frases quepretendem defender povo.

    Sou partidario de uma boa acupuntura de 3feto ~ m oa ideia do Allan Jacobs, famoso urban designeramericanoque propos uma rua de estatuas, on de cada urn poderia homenagear amigos e parentes, pagando pelas mesmas. Assim,voce pode, desde ja, passar belos momentos em companhiade futuros monumentos.

    Importante tambem sao os bustos, nao s pode descuidardeles. Em Curitiba a comunidade polonesa queria retribuiracidade pela cria\ao do Bosque do Papa, em homenagem avisita de Joao Paulo II acapital paranaense. Resolveramencomendar a uma assistente de Pietro Bardi uma escultura do papa.

    Em uma data importante la estavamos, governador eeu, como prefeito presentes a i n a u g u r a ~ a o Abanda tocando, urn imenso paneau cobria a estatua, que ate aquelemomento nao era conhecida.

    A banda agora toca com suspense. Ao rufar dos tambores, sobe painel e aparece a estatua do papa. Foi urn

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    horror. 0 papa parecia um Exu com seus olhos de resinasintetica. Foi um deus nos acuda.

    Nem a tentativa de socorro da banda deu certo. Umavelhinha polonesa seguida de um sequito furioso, brandiasua sombrinha como uma baioneta pronta para acabar com .o responsavel pela obra.

    Os momentos de canflito e concilia\ao da comunidadepolonesa tiveram seus lances de apreensao. Parecia umaassembleia das Na\oes Unidas. Uma comissao veio pedir-me3 retiradada estatua que recusei. Como poderia \ : c e n ~surar uma obra artistica?

    Depois de algumassemanas consegui uma solu\ao salomonica. Tenta ria mos usar uma vegeta\ao que encabrisse aestatua e a comunidade polonesa nos daria um relevo paraser fixado numa das placas. Com cuidado de que relevodesta vez fosse parecido com 0 papa.

    Parecia que problema estava resolvido. Aestatua seriacamuflada eo medalhao em relevo marcaria avisita do papase nao tivesse ocorrido um milagre junto aestatua. A not[-cia do milagre se espalhou e 0 povo s quer as gra\as daestatua. E medalhao esta la,completamente esquecido.

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    gui de um p gin

    Durante anos cultivei 0 habito de em cada cidade em cadaviagem fazer desta um guia de uma pagina. 0 objetivo eranao perder tempo nos poucos dias que ficava na cidadepara saber que existia que acontecia de novidade queera bom. As vezes em dois ou tres dias em Nova York ouParis perdia grande parte do tempo para me informar.

    Nesse guia eu desenhava 0 mapa da cidade em um doslados da folha. Isto e a maneira como eu entendia a cida-de. No verso colocava a agenda com hoteis restauranteshorarios e locais de exposi\oes, e outras coisas que naopoderia deixar de ver como concertos ou espetaculos.

    Logo alguns amigos come\aram a pedir meu guia em-prestado. Na volta de suas viagens eles me devolviam umac6pia acrescentando que tinham encontrado de novidade.Eassim guia ia sendo constantemente atualizado.

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    Nao podemos nos esquecer das c r i a n ~ a s , que tambemmerecem um guia de uma pagina. Ele pode ser a capa docaderno escolar, onde as crianr;as teriam 0 mapa da cidade,eo que e mais importante: iriam conhece-Io. No outro lado olesterol urbanodo guia, as crianr;as poderiam ter a r e l a ~ a o das coisas deque mais gostam na cidade, e trocar essas i n f o r m a ~ o e s comseus colegas. Ou ainda 0 mapa do estado em relevo, umapequena maquete na qual poderiam entender 0 seu estado,seus principais rios e acidentes geograficos. Este guia seria

    "-mais utit-do'QUC! aprender para que serve 0 Maximo. . j v i s o r ~ , r ,1-',,< ~ : ~ . ,Comum para 0 qual ate hoje nao encontrei e x p l i c a ~ a o .

    Qual e aboa acupuntura para excesso de colesterol urbano?Bem, primeiro vamos explicar 0 que eessa d o e n ~ a . Colesterolurbano e 0 acumulo, em nossas veias e arterias, do uso excessivo do autom6vel. Isso afeta 0 organismo eate a mentedas pessoas. Logo elas c o m e ~ m a pensar que tudo se re-solve com 0 autom6vel. Preparam entao acidade s6 para 0autom6vel. Viadutos, vias expressas... e as emissoes de ga-ses dos carros.

    A o l u ~ a o : usar menos, evitar 0 uso do autom6vel quan-do houver boa alternativa de transporte coletivo nos itine-rarios de rotina.E0 bom colesterol.

    Mas pensar a cidade em f u n ~ a o do autom6vel e outroproblema. 0 shopping center fora da cidade induz a faltade exercicio, impede a caminhada pela cidade.

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    Eseparar as fun

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    spredios modernos, nao. Simplesmente terminamacrescidos de estranhas ediculas, caixas-d agua, antenas deN caixas de elevadores, exibindo suas entranhas.

    Quando muito uma cobertura egoista bem tratada ouum novo piso falso, uma piscina, para favorecer um privilegiado. Nao ha neles senso de comunidade, de pertencer,que os grandes predios tiveram. Por isso, acho que os predios antigos prestam uma reverencia acidade, nas suasferentes epocas.

    lot Urn Chrysler Building; um Crowne Building uma esta~ o de trem inglesa, todos eles tem esse compromisso. Qualo compromisso do predio moderno? Negar-nos a entrada,esconder lado publico, e reservar-se a poucos.

    Na volta, suas entranhas, ou seu egoismo.No seu imediatismo. candidata-se a e m o l i ~ o humana,

    porque transformar-se em sucata nao aflige.

    cupuntura do silen io

    As cidades tem seus sons. Em muitas delas, som naturalda cidade dificilmenteeouvido, pois ha uma invasao sonora,com rufdos que se misturam ao som da cidade. Epena. 0som natural faz parte da identidade da cidade.

    live uma experiencia maravilhosa em Ferrara, na Italia.Euma cidade que me da a certeza de que existe a possibilidade de um silencio que nos permite ouvir os sons da cidade. Ou seja. nao e um silencio total mas a ausencia deuma v i o l ~ o dos sons da cidade.

    Ouvem-se as conversas, ouvem-se os sons do ambienteda cidade. Isto s6 aumenta a beleza de Ferrara, uma cidadetradicional hist6rica com uma das mais antigas universidades da Europa. Ha muitos jovens em Ferrara, existem ateareas bastante animadas, mas. mesmo assim, pode-se ouvira cidade. Sao sons reais, sem mistura, som puro de umacidade viva. Ferrara tem seu som em estado puro.

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    ; ~

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    osom de uma cidade nao tem a ver com a sua escala,nem com a ausencia de barulho. Barcelona e uma cidadebarulhenta, mas este e 0 seu som em estado puro. Eumafaena normal. 0 som das ramblas das conversas, faz parteda identidade da cidade. Na barulhenta Barcelona tambemexiste um silencio que nos permite ouvir 0 som da cidade.

    Os exemplos de Ferrara e Barcelona falam de dias nor-mais. Tratam do som que faz parte do dia a dia das cidades.Mas hi cidades que, em certos dias, dias especiais, tambem

    1 1 ~ ' t @ m ~ . e 5 f ~ . i a is.M.ompa nn. M (). som. nestes, dias,. nestascidades, e um momento magico.

    No dia do Yom Kippur em Jerusalem, pode-se ouvir 0som deste momento magico. Pouco a pouco, a cidade valsilenciando, os ruidos diminuem, nao ha mais sons, apenassussurros.

    Os carros paramo Nao ha poucos carros, como num fimde semana ou feriado. Nenhum Nenhum carro. s ruas va-zias. Adultos e crian\as caminham nas pistas dos autom6-veis. Os carros, todos estacionados, como se estivessemabandonados. Nada de barulho de caminhoes, onibus, caminhonetes, nada de motores, nada, absolutamente nadarola sobre as ruas.

    Ha um grande sussurro na cidade e as pessoas andamsilenciosamente, cal\ando tenis ou alpargatas. Nada que fa\abarulho. Ha uma vontade imensa de se passear pelas ruas,sem medo dos antigos ocupantes. s conversas produzemuma especie de murmurio. Um santo sussurro.

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    No Dia do Perdao tudo para em Jerusalem. Em outrascidades ha um pequeno movimento, mas em Jerusalem tudopara mesmo. Euma lei que todos respeitam, religiosos ounao. Velhos, jovens, crian\as caminham para as sinagogas,carregam seus livros, outros ja vestem seus taleisim na rua.

    Grupos de jovens conversam sentados na rua. A saidada sinagoga se estende pelas ruas, a conversa\ao dura horase horas. Deixando de lado a religiao, de repente voce se daconta de que e um grande papo.

    ' ~ . ; p ~ , , ' RUa5'stnf e::lrrosme fazem'pensi:I( na ideia 'de'uma gre-ve de carras. Um acordo que todos os moradores de todasas cidades do mundo deveriam fazer para saber como ascidades ficam melhores sem os carros. Que 0 silencio eim-portante como qualidade de vida, ate para selecionar meIhor os sons da cidade.o Yom ippur vai terminando. Aguarda-se 0 aparecimento da primeira estrela. s pessoas van se encaminhandopara 0 imenso patio do Muro das Lamenta\oes, aespera dosom do shofar. Trombetas que fizeram derrubar muralhasagora tocam para um povo que ancorou sua identidadeneste muro. Algumas pedras. Por milenios estas pedras fo-ram referenda.

    Em Istambul hci um momento magico diario. No fim datarde, quando os mu\ulmanos inkiam suas ora\oes ao pardo sol, faz-se um silencio repentino. 0 silencio que permiteapenas que seja ouvido 0 som da cidade nesta hora especial.

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    :':," .

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    Euma t r a n s f o r m a ~ a o instantanea e incrivel. Uma me-tropole movimentada dinamica. com quase 10 milhOes dehabitantes de repente silencia. Uma voz ecoa por todos osminaretes da cidade. Quve-se a sucessao dos sons dosminaretes. Neste momento 0 som da cidade eacomunica

    ~ a o da fe.Uma boa acupuntura do silencio epermitir que som

    normal das cidades possa ser ouvido. Fazer silencio paradepurar verdadeiro som. Afinar som da cidade. Meu

    h

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    Sim existem outras cidades que tem musicos mimicose magicos nas ruas. Existem mas em nenhuma delas istoacontece com tanta frequencia.

    Parece um filme, cada pedac;o de r mbl ja e em si umgrande bazar.

    Todas as cidades tem galerias. Algumas muito simpleslojas de um lade e de outro, outras grandiosas. como a gateria Vittorio Emanuele em Milao. E0 ponto de encontromais bonito da cidade. Ou como a galeria das lojas GUM

    k,-.. em M o s r o u t o o . ~ e r . i a . t a f a y e t t e esta umaloja de-dtlilar .tamentos em Paris.

    Mas a cidade que tem 0 maior e 0 mais variado numerode galerias e mesmo Paris. As galerias Vivienne e Colbertinterligadas, sao magnificas. Assim como a Passage des Panoramas perto da Bourse. 0 que me encanta nessas galeriasnao esomente 0 fato de serem antigas ecobertas. Ea qualidade das lojas 0 detathe as vitrines. Ah sim evender rendasfitas, enfeites de bolos caixas de musica com a mesma dignidade de quem vende as coisas mais preciosas do mundo.

    Mas a maior arma e a mais pesada encontra-se nas galerias da prac;a do Palais Royal: os guerreiros dos exercitosde soldadinhos de chumbo la estao. Ate as condecorac;oesvoce pode comprar nessas lojas e sair mais enfeitado quemarechal em dia de desfile.

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    Picada rapida nao d i

    : .-c r-J t ' '11._, , ;,,,, .; l- '

    Na acupuntura, 0 importante eque a picada seja rapida.Nao se pode imaginar acupuntura com a agulha sendo

    introduzida com pressaes demoradas e dolorosas. Logo aacupuntura exige rapidez na picada precisa.

    A mesma coisa acontece com a acupuntura urbana. Foiassim que em Curitiba, em 1972 implantou-se a primeirazona de pedestres. Essa operac;ao foi feita em 72 horas.

    Ainda me lembro de que ao divulgar 0 projeto, a reac ao dos comerciantes foi contraria e muito forte. Sabiamosque a ideia era de dificil execuc;ao pois a obra poderia serinterrompida por demandas judiciais. Era imperioso que 0trabalho fosse rapido muito nipido. A previsao dada petemeu secreta rio de Obras era de no minimo, alguns meses.Insisti na rapidez e no prazo de 48 horas. Tenho certeza deque fui considerado louco. Ate que 0 secreta rio procuroume e disse que a obra seria possivel em um meso Recusei

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    . ~ : :

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    novamente. e assim iam aparecendo novas propostas paraaexecu\ao do projeto: preparar antes mobilia rio; turmasespeciais para fazer os pisos em cada quadra.o tempo foi sendo reduzido ate que secretario chegou ao limite: uma semana. Relutei e consegui um acordo .para um prazo de 72 horas. Come\ariamos numa sexta-feiraanoite e entregariamos a obra apopula\ao na segundafeira anoite.

    Caso povo nao aprovasse a mudan\a. sempre pode, , riamos rest abelecer d q u e ~ h a v l a C:intes Mas era- necessar ioque a popula\ao visse a obra completa. Eassim foi feito.

    No dia seguinte ainaugura\ao. um dos comerciantes queencabe\avam um abaixo-assinado contra projeto apresentou-me um novo pedjdo: que as obras continuassem eabrangessem mais regioes.

    A Opera de Arame. que aproveitou espa\o de umaantiga pedrejra. foi executada em 6 dias. A inten\ao naoera bater recordes. mas ha obras que. por razoes especiais,tem que ser rapidas. No caso da Opera de Arame , a razaoera nao perder a oportunidade de realizar um Festival Internacional de Teatro. Uma disputa politica entre 0 governador e os patrocinadores fez com que ele proibisse arealiza\ao do festival no Teatro Guaira, 0 principal da cidade.Surgiu entao a necessidade de executar a obra da Opera deArame a tempo de ser asede do festival. Come\amos no dia15 de janeiro.

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    Dois meses depois, no dia 18 de mar\o, inauguramosteatro. Para que aobra fosse executada em tao pouco tempo, trabalhamos s6 com um tipo de material, tubos de a\o.S6 usamos uma concorrencia para a mao de obra. Foi umaodisseia.

    Outra obra executada muito rapidamente foi Parquedo Passauna, que precisava ser concluido antes que um novogoverno tomasse posse. 0 governador da epoca era tambem politicamente contrario, mas entendia a necessidade

    . : . ~ ~ . da prote\ao dos mananciais, fizemos um parque en 28dias,antes mesmo do tempo de um levantamento topografico. Tudo foi decidido eexecutado na obra. A UniversidadeLivre do Meio Ambiente tambem foi um recorde, executada em dois meses.

    Mais recentemente, NovoMuseu, ou Museu OscarNiemeyer, foj executado em cinco meses. Voces podemimaginar como e complexa uma obra como essa, mas -nhamos apossibilidade de reciclar um antigo predio de OscarNiemeyer, magnifico e audacioso projeto dos anos 6 transformado em Secretarias de Estado.

    Transformar um espa\o burocratico num espa\o destinado a criatividade, i d e n t i d d e ~ arte, design, arquitetura e cidades era importante. Mais uma vez era necessariaa rapidez.

    E 0 museu esta ai, revelando a genialidade de OscarNiemeyer, numa obra cujo custo, 12 milhoes de d6lares. emuitissimo inferior a uma franquia do Guggenheim.

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    A rapidez dessas acupunturas tinha ur objetivo: evi-tar que a nercia dos vendedores de complexidade. da mes-quinhez e da politica inviabilizasse momentos e obrasfundamentais

    V;

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    rompe l oeil

    s vezes. a cidade recorre ao que efalso para salvar ver-dadeiro. Eo caso de tapumes de obras que mostram comoficara ur predio depois de restaurado.Foi 0 que aconteceu na r e s t u r ~ o da Madeleine. emParis. Os paineis que encobriam as obras mostravam umaMadeleine ate mais bonita que a verdadeira.

    Outro exemplo fantastico de trompe l oeil e a e c o r ~ oilusionista da nave e do domo da Igreja de Gesu. em Roma.acrescentada ur seculo depois. Ou na greja de Santo naciode Loyola. onde a cupula projetada e nao construida foicoberta com ur trompe l oeil. numa falsa perspectiva.

    Em Berlim durante a reforma da Porta de Brandemburgo.foram instalados tapumes gigantes para esconder a obra.Neles eram colocadas imagens da cidade. para se criar umaperspectiva diferente

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    Um trompe l oeil que nao ajuda a cidade eo shoppingcenter, com as mesmas lojas, os mesmos logos, 0 que naopermite que voce identifique em que cidade esta. Este erealmente um trompe l oeN que nao ajuda.

    Mas uma boa vitrine pode ser um belo trompe / oeN. Naoconhe\,o cidade que tenha vitrines mais lindas que Paris. Ecomo ver um desfile de cores.

    Tudo tem vitrine, do hotel mais simples as lojas maissofisticadas. Eum passeio pelo mundo de quem se esfor\,a

    ... c 1*lftrmestrar'

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    filme. a convite seria feito por personagens fellinianos emvarias partes da cidade. au seja, Curitiba seria descrita paraFellini em seu vocabulario.omovimento dos dias seguintes foi de cria\ao intensa.a filme foi concluido. A cena final acontecia na propria pedreira, com pintor italiano Franco Giglio dando uma pernaccia aos diretores de cinema.

    Equem entregaria acarta? 0 proprio Giglio, que, diziam,era conhecido de Fe ini. S6 que, a essa altura, a diversao de

    ' 0 fazer,n.fjlme.er.a.;tangrandeque ja nos tinhamos esquecidode

    Mas a missao exigia prosseguimento ate fim. Ehi sefoi nosso Franco Giglio com sua Rose para a sua DolceAqua, atendendo a urn chamado da familia.

    A timidez do amigo Franco Giglio, no entanto, nuncapermitiu que filme-carta fosse entregue. Alguns anosdepois faleceu sem completar a tarefa.

    Mas grande auditorio da pedreira foi feito e, ao lado,em outra pedreira, construimos a Opera de Arame.

    Acredito que Fellini nunca soube que a vontade dehomenagea-Io criou uma acupuntura tao bonita.

    Ah. filme arta Fellini ganhou premios em variosfestivais de cinema.

    V /:: > " , . .

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    Tivemos a sensaC;ao de que era s6 gritar Franco Giglio"e 0 encontrariamos. Franco, Franco Giglio, a gritar pelasestradas.

    Alguns minutos depois, estamos em frente a uma ponte medieval de pedra. Ja do outro lado, damos 0 primeirogrito: Franco, Franco Giglio " Um garoto vem correndo:pintore brasiliano? No bar do Pastio.

    Dentro do bar, uma nevoa de fumo, 0 barulho agrada-vel de hom ens bebendo e conversando. Nosso segundo gri

    ~ i ; : , . ~ - ~ . , ' , ,- , .: .

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    A p r e s e n ~ a e urn genio

    ~ . - . " ' : f t ~ ~ . . ; , . :; c .,....- ._:... ,'-_T'F ,'''.:'' t ~ . , : : . , . r . t . > , _ 'C ' ~ ; . " ~ - . ~

    Claro que a presem;a de genios marcou a vida de muitascidades importantes do mundo.

    Nas cidades italianas isto e incontavel, com os grandesmestres renascentistas como Michelangelo Da Vinci TicianoBotticelli.

    Mas em nenhuma delas se sente a p r e s e n ~ a do geniocomo em Barcelona. Nao ha muitas obras de Gaudi na ci-dade. 0 Parque Guell aCasa Mila a Igreja da Sagrada Fami-lia a Casa Batllo a Casa Vicens.

    No entanto, Barcelona respira Gaudi. Ele parece estarem tudo, mesmo nas obras que nada tern aver com ele. Em-bora 0 meu genio preferido em Barcelona seja Domenecq.

    No Rio Oscar Niemeyer nao tern muitas obras. A Obrado B e r ~ o , 0 predio do Ministerio da E d u c a ~ a o , 0 Museu deArte Contemporanea de Niteroi, mas 0 Rio eOscar Niemeyer.

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    Etambem Millor eVinicius de Moraes eAntonio CarlosJobim e Cartola e Burle Marx.

    Belo Horizonte tern mais obras de Niemeyer. Tern aPampulha entre outras mas Belo Horizonte nao eOscarNiemeyer.

    Curitiba ePoty. Porto Alegre eMario Quintana. A BahiaeCaymmi Gil e Caetano.

    Podem tentar racionalizar qualquer cidade mas urngenio e necessario.

    Cidades ptecisarride tudo. Mas eborn saber q u ~ urngenio enecessario.

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    ercados e feir s

    Por que sera que urn mercado atrai tanto a gente? Muitase x p l i c a ~ o e s : a gente gosta de ver gente. mercado e taoantigo quanto a cidade a gente gosta de ver os outros fa-zendo a mesma coisa a gente gosta de ver comida agentegosta de ver preparo manuseio.

    Com a o d e r n i z ~ o das cidades com a l o b a l i z a ~ a oc o m e ~ m o s a receber e comprar coisas embaladas demaisprontas demais em e s p a ~ o s acabados demais. Nao vemosmais as coisas em estado puro. Por isso a nostalgia de verprodutos frutas verduras carnes pescados em estado na-tural nos atrai.ozoologico contemporaneo nao vai ser mais aquele quetern leoes girafas. o n ~ a s pelicanos mas urn e s p a ~ o que te-nha galinhas bois porcos patos marrecos e carneiros..

    Por que mercado a Boqueria em Barcelona eurn dosmelhores do mundo? Porque elindo com seus vitrais colo-

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    ridos. e a maneira como os produtos sao apresentados eatraente. As carnes, as frutas e as verduras tern ate cheirode frescor; tudo isso se transfere para os vendedores. quesao muito alegres. E e born sentir isto logo de manha. Urncafe da manha num lugar dentro do mercado e inesquecivel.

    Todos nos ficamos cansados de ver as coisas iguais demais.urn shopping normal nos exclui da cidade, com suas lojas taoiguais a ponto de voce nao saber em que cidade esta.

    Mas as feiras e mercados sempre foram pontos de refe-r ~ n c i a n u ' m a ' C i i f a a e ~ ' ~ . ~ . , ' . ~ , ' ,

    Paris ficou pior depois que demoliram Les Hailes deBalthard. Nada conseguiu recompor a vida que 0 "ventrede Paris" proporcionava.

    Mas nao precisamos ir tao longe. Mercado de SaoPaulo e urn mercado importante. E icani melhor ainda de-pois de sua r e s t a u r a ~ a o eda r e v i t a l i z a ~ a o de toda a area doParque Sao Pedro, que ja estao previstas.oMercado Municipal de Curitiba nao tern tanta tradi-~ a o . mas e urn born mercado.

    A nostalgia que nordestino tern de sua regiao fez comque surgisse no Rio uma feira tao atraente quanto qualquerfeira ou mercado do Nordeste.

    Em Amsterda, 0 Albert Cuyp Markt. nas segundas pelamanha, Noorder Markt e Waterlooplein no quarteiraQjudaico sao bons como qualquer mercado europeu. A Feske-korka, em Gotemburgo. Suecia. e uma beleza de mercado,

    mas nao iguala a diversidade do Grande Bazar de Istambul,ou 0 Bazar de Especiarias, ja com caracteristicas diversas.

    Eo que dizer desse mundo que e 0 mercado de peixesde Toquio? Nos parecemos mergulhadores sem escafandronesse imenso mar de peixes e polvos na terra.

    Mas nada supera a riqueza. prazer da compra, de re-gatear, de urn soukarabe. Normalmente, as ruelassao muitoestreitas, que leva os comerciantes a se sentarem do ladode fora da lojinha. Com 0 pouco e s p a ~ o que sobra, voce e

    . ,0brigado.aoOlhariJara l!!llladg e para outro. :omerciante.,,ja conseguiu 0 que queria: prender a sua a t e n ~ a o . Ai voceesta perdido, vai acabar comprando. Agora, fa\a como eles,fa\a disso urn prazer. Enas cidades ou quarteiroes arabesque a atividade comercial nos traz urn molho de identidade.

    o tempo. que sempre adiciona novas camadas acivili-za\ao existente, tern a nostalgia da coisa bruta, que Ihe per-mitia entrar, concluir, fazer alguma coisa.

    Por isso. a moda mais sofisticada procura locais maisrusticos, menos acabados, para se sobressair, ate para serfotografada.

    E0 homem procura. no mercado. encontrar seu proxi-mo, fazendo a mesma coisa em locais animados.

    omercado euma acupuntura de identidade numa epocaque muitas cidades se descaracterizam.

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    _ ~ . , l .

    rn balcao de bar

    Apoio s e n s ~ o de conforto mente desperta sao reflexosde uma boa acupuntura.

    Por isso um bom baldio de bar e importante. Os espa-nhois costumam dizer que e born ter uma boa barra.

    Um balcao e importante em qualquer momento emqualquer lugar do mundo. Desde antigo armazem ondese compravam as coisas de casa e se aproveitava baldjopara uma boa conversa uma tabelinha de aperitivo antesde chegar em casa aos sofisticados bares das h ppy hoursnas grandes cidades.

    Pequeno grande redondo importante alem do pro-duto da bebida e da comida e a tolerancia e a compreen-sao do barman Das champaneriasde Barcelona aos irish barsde Nova York ou ao bote co do Rio todos precisam ter essesentimento de solidariedade. A paciencia para ouvir histo-rias repetitivas que na sua casa j nao aguentam .

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    a

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    Qual 0 melhor balcao? Um balcao de boteco do Rio tema informalidade, a cumplicidade eo sentimento de celebra-t;ao. De que? Nao sei. Talvez celebrar a amizade de quemainda nao conhece os defeitos do outro.

    Penso