Abismo Humano 12

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ABISMO HUMANO 2012 n.º12 ENTREVISTA O Claustro

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E, cheios de espanto, contemplam essa cabeça coroada que, em silêncio, colocou para sempre o rosto humano na balança das estrelas. Rainer Maria Rilke

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ABISMO HUMANO2012

n.º12

EntrEvista O Claustro

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xEquipa EditorialAndré Consciência • João Diogo • Albano [email protected]íniosMyspace: www.myspace.com/abismohumanoFórum: http://s13.invisionfree.com/AbismoHumanoRádio Abismo Humano: http://radioabismohumano.blogspot.com

Editorial ..........................................................2manifEsto .......................................................4CaptaçõEs imaginárias .......................6 Pixie Vision .................................................6 Matthew Dutton ....................................14 TTF Cakes .................................................22 Fritz Artz ...................................................26 João Pereira de Matos ..........................29 Gaele ..........................................................31 Pugoffka-sama .......................................36 A.Mimura ................................................. 40 Betta Artusi ............................................. 44 Inês Guerreiro ........................................ 46 João Paca ................................................. 48 Elfic Wear ..................................................50 Mater Lacrymarum ............................... 60 José Silva...................................................62labirintos prosaiCos ....................68 Conto Cruel do Terror Quotidiano .. 68 Dormência a Cavalo no Mediterrâneo Norte ..............................69flauta dE pã ...................................... 70 Andreia Carvalho Gavita .....................70 Poética da Mulher Debruçada Sobre O Poço ....................73arautos sonoros ........................... 74 Entrevista a O Claustro .........................74 Bukakke S.T.N. - Bathory Legion .......75 Korvustronik - Contra a Crueldade Animal ................76

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A Associação de Artes “Abismo Humano” dedica-se ao apro-veitamento da tendência artís-tica presente nas novas cama-das jovens e a integrar, junto da arte, os valores locais, bem como ao entretenimento, edu-cação e cultura de forma a ocu-par os espaços livres na dispo-sição dos seus associados. Para tal a associação compromete-se a contactar vários artistas, tanto

na área da pintura, da literatura, escultura, fotografia, cinemato-gráfica, ilustração, música e artesanato, de forma a expor as suas obras tanto num jornal de lançamento trimestral, consagrado aos sócios, como na organização de eventos, como tertúlias, exposições, festas temáticas, concertos e teatros. A associação das artes compromete-se igualmente a apoiar o artista seu colabo-rador, com a montagem de, por exemplo, bancas comerciais e com a divulgação do trabalho a ser falado, inclusive lançamen-tos, visando assim proteger a arte do antro de pobreza ingrata e esquecimento que tantas vezes espera as mentes criativas após o seu labor.

Os eventos, que são abertos ao público, servem inclusive o propósito de angariar novos sócios, sendo que é privilégio do sócio, mediante o pagamento da sua quota, receber o jornal da associação, intitulado de “Abismo Humano”. Este jornal possui o objectivo de divulgar as noticias do meio artístico bem como promover os muitos tipos de arte, dando atenção à qualidade, mais do que à fama, de forma a casar a qualidade com a fama, ao contrario do que, muitas vezes, se pode encontrar na literatu-ra de supermercado. Afiliada às várias zonas comerciais de cariz artís tico, será autora de promoção às mesmas, deixando um es-paço também para a história, segundo as suas nuances artísticas, unindo a vaga jovem ao conhecimento e à experiência passada.

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1. O Abismo Humano compromete-se a apresentar a sapiência, o senso artístico, e o cariz cultural e civilizacional presente no gótico contemporâneo tanto como nas suas raízes passadas.

2. O Abismo Humano toma o compromisso de mostrar o que têm tendência a permanecer oculto por via da exclusão social, e a elevar o abominável ao estado de beleza, sempre na condição solene e contemplativa que caracteriza o trabalho da inteligência límpida e descomprometida.

3. O Abismo Humano dedica-se a explorar as entranhas da humanidade, e é essencialmente humanista, ainda que esgravatando o divino, e divino é o nome do abismo no humano.

4. O Abismo Humano é um espaço para os artistas dos vários campos se darem a conhecer, e entre estes, preferimos as almas incompreendidas nos meios sociais de maior celebridade.

5. O Abismo Humano é um empreendimento e uma actividade da Associação de Artes, e por isso tomou o compromisso matrimonial para com as gémeas Ars e Sophia, duas amantes igualmente sôfregas (impávidas), insaciáveis (de tudo saciadas) e incondicionais (solo fértil à condição).

6. O Abismo Humano compromete-se a estudar o intercâmbio da vida e da morte, da alegria e da tristeza, do amor partilhado e da desolação impossível, das quais o Abismo Humano é rebento.

7. Como membro contra-cultura, o Abismo Humano dedica-se à destruição da ignorância que cresce escondida, no seio das subculturas, cobrindo-as à sombra do conformismo e da futilidade.

8. Retratamos a tremura na mão do amor, a noite ardente, e a dança dos que já foram ao piano do foi para sempre.

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† Captações imaginárias †

Artista: Pixie Vision

Sinto as relações entre as pessoas muito intensamente. Gosto de brincar com emoção e conforto. O estúdio é um santuário. Incenso arde à porta. Batias suaves giram enquanto nos começamos a conhecer. Cedo a minha atenção vai para que roupas e cores brincaremos e cria-se o momento. Um delicioso frenesim ocorre. Chamo-lhe “A Zona” onde a experiência se torna fluída. Semeio a noção do céu e do oceano para que possam partilhar mais ainda e projectar a sua beleza, alegria, desejo. Nada é calculado ou previsível. Cada sessão é diferente. Não tenho formula, truques... apenas considero todas as experiências novas.

“Faz-me bela...” uma mãe de quatro pede-me. O seu amigo escreve-me em segredo dias depois a dizer-me quão importante a sessão foi para ela, quão desesperadamente ela queria SENTIR-SE bela, não apenas parecer bela. Senti isto vindo dela assim que nos conhecemos. Tornamo-lo em ferocidade. Somos ambas a trabalhar através do medo... essa é a psicologia de fotografar pessoas. O seu medo é a sua exposição. Cada pessoa mede instantaneamente o que me mostrarão, o que me esconderão... Um grande e relevante sorriso, olhos abertos e assustados... Quase todos os meus clentes começam a sessão assim, sempre a segurar o fôlego. Todos parecem precisar de permissão para o soltar, para serem eles próprios, para brilhar... O meu medo é mais fácil de perceber. Será que esta pessoa me deixará entrar? Capturarei o momento em que é a mais brilhante? Estarei a aproveitar da melhor maneira o equipamento, as luzes, os ângulos, as cores, as roupas? Entrar nas pessoas é-me natural. Procuro derrubar barreiras mais rápido a cada sessão consecutiva.

Numa recente sessão, a energia de uma irmã tornou-se inadequada enquanto a sua irmã mais velha brincava perante as minhas lentes. Chamei a outra irmã com a intenção de mostrar-lhe a sua ligação, o seu amor... mas os seus medos brilharam através dela... Ela fitou-me, fitou depois a irmã, e chorou. Escondi-me atrás das luzes enquanto isto tomava lugar, observando, aguardando... Sem olhar pela câmara capturei a imagem com a emoção que buscava... amor de irmãs... O seu choro cresceu e eu sugeri que se sentasse debaixo da minha árvore mágica... Abri a porta vermelha, abracei-a e libertei-a da sala, para se recompor... Depois a bebé começou a chorar... e a sua mãe levou-a para fora do estúdio, para a árvore. Então o seu esposo viu a imagem das irmãs e chorou... Olhamos um para o outro de olhares húmidos e pedi-lhe que deixasse também a sala. Vi-me sentada no chão sozinha no seio de uma sessão... Que intensidade... Tudo a crescer do amor e do medo... Bebemos chá, a maquilhagem foi novamente aplicada, a bebé dormiu e mais momentos foram capturados. É para estas sessões que vivo... De facto, quase todas as sessões são sessões para as quais vivo.,,

Na fotografia, encontrei forma de levar as pessoas à felicidade... para além da criatividade, isto é o que mais amo sobre a fotografia. O feedback parece mostrar-me que faço as pessoas sentirem-se melhor com elas próprias, amarem-se mais... se este é o trabalho da minha vida, aceito-o.

e-mail: [email protected] www.facebook.com/MDuttonArtWebsite: www.pixievision.com

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Fotógrafo: Matthew Dutton

Matthew Dutton vive e trabalha em Hixson, Tennessee. Fora da sua prática de estúdio, Matthew trabalha como especialista de arte no Rock City Gardens. Ele é licenciado pela Universidade do Tennessee em Chattanooga e está a fazer uma pós-graduação em Escultura 3D, na BFA.

Como elemento integrante na equipa de Eventos Especiais ba Rock City, Dutton constrói adereços que ajudam a estabelecer esteticamente uma ligação do parque com os diferentes eventos mantidos pela Rock City durante todo o ano. Ele constrói gnomos para as diferentes zonas do parque como também restaura e reconstrói os antigos gnomos e personagens dos contos de fadas para as vinhetas do parque.

O seu trabalho artístico inclui tanto pintura como técnicas de escultura. Actualmente, Matthew está a trabalhar com um grupo interessante de peças de escultura que incorpora um senso simultâneo de atracção e repulsa. Estas esculturas conjuram emoções com curiosidade mórbida e têm influências de artistas como Patricia Piccinni e Ron Pippin. Matthew Dutton expôs em inúmeras galerias e festivais incluindo o 4 Bridges Arts Festival em Chattanooga, Tennessee e numa exposição individual no Lowe Art Mill em Huntsville, Alabama.Matthew ganhou vários prémios incluindo o Best no Show at the Fire Fly Fine Art Festival em Dickson, Tennessee e Award of Excellence na Cress Gallery em Chattanooga, Tennessee. Dutton aprendeu estúdio para vários artistas famosos do sul e ensinou arte no Hunter Museum of American Art durante vários anos. Matthew Dutton está envolvido em várias vertentes da comunidade artística local incluindo o evento 2011 HATCH, onde ele e um grupo de artes instalaram algumas esculturas públicas em Chattanooga. Dutton está envolvido em inúmeros projectos de murais, construções para performances teatrais e acontecimentos artísticos em redor da sua cidade.

O estilo de vida preenchido de Dutton permite-lhe obter constantemente novos níveis de elevação artística através da exploração de materiais e desenvolvimento da técnica.

e-mail: [email protected]/MDuttonArtGallery representation: www.consortiumgallery.com

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Artista: Cristina Lopes

Web: www.facebook.com/TTFCakes

Mail: [email protected]

Da vontade e desejo de fazer um bolo para uma amiga descobriu-se uma paixão e, há quem diga, um dom. Cada trabalho é realizado com um amigo em mente, cada detalhe tem um significado especial. E porque a vida é feita de pequenos detalhes a TTF Cakes tenta no seu melhor e à sua maneira pôr um sorriso na cara de todos.

Design original de Little Cherry Cake Companywww.facebook.com/littlecherrycakecompany

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Artista: Fritz

Lost in The Dark Void, colors are Nightmares

Olhando o pôr do sol achei bonito o que via e tirei uma foto, foto essa que se converteu neste trabalho, através de iluminações, contrastes e distorções, nasceu este trabalho que se intitula de Neon Dreams, nada mais que uma visão que tive, e simplesmente usei o que tinha no momento, pois a arte flui como um rio e o momento é importante, pois se fosse pensado fazer, seria diferente, assim, e quase como que escolhido pelas cores, e inebriado pela contemplação visual do todo num flash, algo novo foi criado, e é com grande gratidão que partilho com todos vós leitores, estas imagens, grato pela Luz, por vezes Negra.

Web: www.facebook.com/pages/Fritz-Artz

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Neon Demon

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Neon Entity, Shalahkk

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2 de Copas

9 de Copas

3 de Ouros

Dama de Ouros

Artista: João Pereira de Matos

De forte ou fraca figura & presença o que importa, ou, o que seja d’importar, é o gosto e a virtude de fazer e de dizer, d’existir a plenos pulmões, fígado e mente, no labor de uma ideia, feita carne, de material matéria transmutada, transconsubstanciando-se, por tanto (e não é pouco) o ideal ideado em coisa viva e respirante d’esperança no porvir. Eis o desiderato, o animus e a mater de qualquer, que seja, mas que dê pão, força e vontade.

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Joker

Rei de Espadas

Joker definitivo

Valete de Ouros

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Como são os pássaros quando passam a voar

Artista: Gaele

Bio: olhares.sapo.pt/gaele

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Play

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Lolit

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s. Tit

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Rosa aberta das Guelras

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Artista: Pugoffka-sama

Sou uma fotografa da Ucrânia (Kiev). Faço fotografia há cerca de quatro anos. Faço Cosplay e personagens de ficção originais. Para mim, a arte é uma oportunidade de expressar o mundo cá dentro e torná-lo tangível para que possa ser partilhado. Isto aplica-se com exactidão às sessões com personagens originais.Tudo começou quando consegui a minha primeira câmara. Foi interessante constatar que uma câmara não vê tanto quando o olho humano, e dependendo das configurações que escolhes, a fotografia muda drasticamente. Nesse momento senti que era isto que queria seguir. Mas também adoro desenhar, desde criança, no entanto nessa área sou inferior em perícia, por isso passei a usar o desenho apenas para decorar as fotos. Normalmente adiciono sombras e tintas. Pode-se dizer que combino, de vez em quando, dois tipos de arte, a fotografia e a pintura. Por vezes ajudo os meus amigos, nas suas sessões, com decoração, tenho aprendizagem na costura e na decoração, e recentemente interessei-me pela filmagem. Não se pode dizer que tenha escolhido apenas fotografia. Sou fotografa e um pouco de decoradora, pintora, operadora, etc.Uma das minhas sessões favoritas foi recente, uma sessão a Mulan. A ideia base desta sessão fotográfica era o cavalo, vivo. Por várias horas conduzimos pelos vários clubes de equitação em Kiev à procura de um cavalo possante e negro. Quase exaustas e prontas a voltar para casa avistámos um cavalo solitário num campo que vinha mesmo a calhar.Primeiro tivemos receio de o abordar, mas o cavalo era muito amigável e estava satisfeito por tirar fotos com a nossa Mulan. Como faço cosplay, sei antecipadamente que tipo de temperamento é preciso para o modelo. Quando se trabalha com um bom profissional não é difícil porque são bons actores. Se o personagem for original, procuro falar com o modelo e em diferentes momentos da conversa capturo os aspectos dele que preciso, seja um aspecto mais soturno ou um sorriso, tristeza ou felicidade. Por vezes eu própria sou modelo, por isso percebo o que um homem sente quando frente às lentes. A regra principal - não podes estar tenso.

email: [email protected]

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H.R.Giger Quixote (ink on paper 29,5x25cm)

Artista: A. Mimura

Artista: www.expositionmimura.blogspot.pt

A. Mimura nasce em 1831, casou-se com Elizabeth Nádasdy. Passou os últimos anos da sua vida em Sárvár na Hungria, repartindo-os entre esta localidade e São Petersburgo, na Rússia. A vida de A. Mimura é inseparável da sua personalidade colérica e exótica. Tal temperamento é visível nas suas obras.

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No title (ink on paper 29,5x25cm.)

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Tit. Fucker (mix technic on paper 29,5x25cm.)

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tit. Small Priapus (ink on paper 29,5x25cm.)

tit. Painter with Model (ink on paper 29,5x25cm.)

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Artista: Betta Artusi

Web: bettaartusiart.wordpress.comFacebook: BettaArtusiArtTwitter: bettaartusiartG+: tinyurl.com/apowsbl

A Arte... move-me. A minha alma conecta-se com os pedaços e encaixa-os. Capturo esses momentos e trago-os a vós. A Arte... é a minha alma. E com esta alma inspiro e torno-me inspirada. A Arte... é aquilo a que todos aspiramos a criar e esta arte fala uma multidão de linguagens.A Arte... é tudo o que sou e, orgulhosamente, tudo o que me deverei tornar.

Desde John Lennon a Tears - e literalmente tudo o que existe entre ambos - quando a italiana e extraordinaria Elisabetta Artusi pousa o pincel, os seus personagens começam-se a parecer um pouco... demasiado reais. Porém não é isto que a faz única. Enquanto as paixões de muitos outros artistas surgem de trabalhos queridos e perto dos seus corações, Betta chega mais longe - e nunca às custas da personalidade. Como resultado, nos últimos quinze anos ela conquistou nome dentro e em redor de Veneza, a sua cidade natal, atendendo aos pedidos de clientes com o mesmo cuidado, qualidade e precisão - e gosto! - com que um cozinheiro de elite prepara a vossa refeição perfeita. Os clientes de todo o mundo concordam: Betta Artusi precisa apenas de segurar o seu pincel, e a magia começa a fluir. A única questão é o que gostariam de ver!Sintam-se à vontade para a contactar para originais, comissões, cópias e merchandise em [email protected]

Também disponível para criar capas de álbuns ÚNICAS, ilustrações de livros e imaginários que adequadamente reflictam a vossa imagem e mensagem!

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Artista: Inês Guerreiro

Blog: mythiksessions.blogspot.comWorld Art Friends: worldartfriends.com/pt/users/inesofiaPictify: user/inesguerreiro969

Ines G, Agnes Moon, IGarcia reunem-se a uma e uma só pessoa: Inês Guerreiro. Houve talvez um impulso inconsciente e espontâneo assim quase como que le motiv exquisit na existência de diferentes cognomes para as várias faces ou abordagens na arte: escrita e pintura.

A escrita é para mim uma espécie de cúmplice sem-pre presente desde muito cedo, podia dizer que se foi metamorfisando ao longo do tempo e assumindo várias formas, particularidades, vidas diferentes seja na abordagem, na expressão, bem como na forma.

A pintura... essa surge recentemente na sequência de uma necessidade de explorar outras áreas criativas, outras formas de expressão e como (mais um) escape transbordante à fúria dos dias. É fruto de uma ima-gem, uma ideia e vontade que começaram a fervilhar e à qual pelo menos 2 ou 3 quadros tinham que ser concretizados. A verdade é que essas ideias ganharam corpo mas a seguir vieram outras tantas.

Em traços gerais está (quase) tudo dito e tanto ainda ficará por dizer. Mas como, muitas vezes, as palavras de outros servem melhor o efeito de nos descrever ou ilustrar, deixo-vos apenas com duas que mais se aproximam da verdade da Inês Guerreiro no que é e faz dentro e para o que talvez se possa chamar de Arte:

“Não sou nada.Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.” Fernando Pessoa (Álvaro de Campos - in Tabacaria)

“Art should comfort the disturbed and disturb the comfortable” César A. Cruz (?)

Links na Escrita:

- Sombrias Miragens (livro editado oficialmente em Janeiro 2011 que reune uma selecção de textos e poemas de 1999 a 2009 - disponível em formato físico e ebook): http://www.worldartfriends.com/store/923-ines-guerreiro-sombrias-miragens-0882.html

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O amor pode matar mas matar-nos assim por dentro mas sem permitir que nada em nós morra.

Um dia, um dia cruzámos o olhar e o tempo parou como as vozes que se abraçavam do outro lado da linha todos os dias, várias vezes por dia, horas...

Um dia, um dia achei conhecer-te desde sempre e não havia nada estra-nho na estranheza da cumplicidade.

Estivemos sempre juntos, naquele dia, no anterior e no outro... e agora, agora sinto-te a meu lado ainda a sussurar o silêncio de carinhos e beijos lângui-dos no meu corpo inerte de cansaço e amor, completamente desarmada por ti em ti. Dois estranhos da terra do nunca que nunca foram estranhos não são. Não somos.

Naquele dia o mundo parou e nós parámos com ele, achei eu que sem-pre pensei jamais cair nas malhas do amor.

Ainda sinto o teu toque, vejo-te ainda a olhar para mim numa espécie de implorar “não vás” em silêncio. Não quero ir. Não quis sair e queria tanto, queria por me ser tão difícil não querer virar as costas para nunca mais te ver. Eu sabia. Tu sabias. Não quisemos saber. Sonhámos juntos mundos a dois, a três num espaço de pequenos nadas que te dei a dar tudo de mim, a dar-me a ti assim de mão beijada como quem dá uma esmola a um pedinte desconhecido no meio da rua e vira costas mas fica presa ao momento, à face desconhecida a revelar intimidade, a familiaridade de um ser único que nos completa e desperta curiosidade. Que-remos ficar. E ficamos. Fiquei eu. Ainda hoje me pergunto se ficaste, se foi tudo forjado, fingido, manipulado ou apenas fruto da minha imaginação.

Sonhei contigo o que nunca me permiti sonhar com ninguém. Sonhei contigo noite e dia, dias eternos. A voz a tua voz, o riso, a leviandade das palavras, a intensidade da força que nos unia ao escândalo de sermos um sem sermos nada um no outro a teimarmos sermos maiores que a força que nos separava, separa... e dói. Dói tanto como a morte e queria poder voltar a dizer-te que serei tua para sempre, que não consigo amar mais ninguém como te amei a ti, como te amo, e sinto raiva, raiva de mim. Não te vou dizer nada, apenas te direi como naquele outro dia em que tiveste um momento de... de fraqueza? solidão? falsidade nova-mente? Manipulação? E disseste outra vez levianamente “há momentos em que a saudades apertam. mas agora precisava mesmo era do teu aperto. esse leve doce e longo abraço que me tem acompanhado, onde um beijo seria uma sin-cope desafinada bem vinda.” e em que te respondi na mentira que me corrói por dentro “Foram tempos que já passaram, onde só a memória dos mesmos ficou...” MENTIRA. Como podia eu dizer-te que te amo? A ti que nunca me amaste, que me forjaste e eu deixei que o fizesses assim como quem se senta num banco de uma estação a ver os comboios a passar e desconhecidos, mares de faces desconheci-das a caminhar em compassos desconcertados. Há nisto tudo uma harmonia e ao mesmo tempo uma consciência de que a vida nos foge por entre os dedos das mãos se o permitirmos, se nos permitirmos a ficar ali, sentados. Meros especta-dores da nossa vida.

Ainda sinto o teu toque, o teu braço nas minhas costas, a suavidade e o calor dos teus lábios a percorrerem cada centímetro da minha face a desfalecer de ternura, a querer ser mais sem querer por medo de saber o que sabia tão bem, que nunca mais nos iamos voltar a ver. Quis ficar, ir contigo, fugirmos juntos - para onde não importava. - Nada interessava a não seres tu. Tentei seguir a minha

vida. Tu seguiste a tua. Distantes cada vez mais distantes como só a ternura pode saber o que é a ferida que me sangra no peito e não consigo amar. Não te consigo amar e continuo a amar-te. Tenho medo de não voltar a ser capaz de amar.

Sabes, tive medo de nós. Depois veio aquela repulsa de ti, um amor-pró-prio sobrevivente que fazia com que me levantasse todas as manhãs e decidisse voltar a mimar-me como tu um dia fizeste. Agora a repulsa abandonou-me, o medo de nós deixou de fazer sentido, o nós não deveria fazer sentido. Não faz. Ontem não, hoje não, amanhã não. Não quero querer por querer sem que queira-mos querer sermos melhores do que fomos e quero querer saber que assim teria de ser, longe do nós a fazer sentido num sentido sem explicação traduzido em momentos de fraqueza que serão ternura descarada a ser força maior que me move a parar dentro de mim.

Sempre achei que o caminho - sabes, o nosso - seria assim. Um e um nunca serão dois números juntos.

Sempre achei que tudo era um sonho, mas queria-o para mim.Sempre achei que no fim te irias sentir completo nos braços de outra pessoa e

eu passaria a fugir de abraços como fujo de ti.Sempre achei que algum dia tudo isto faria sentido, mas ainda não faz.Sempre achei que vou viver com isto cravado em mim, e sei que em ti. Mas

isso não importa, já nada mais importa nesta história que fomos nós.

E pensei que um dia te poderia mostrar estas palavras mas neste momento não acho certo. Levantar poeira lágrimas e furtar-te a alegria e a vida assim a sentir-me ladra do teu coração. Vou-me dei-xar estar contigo em mim, a fazer parte de cada gesto meu, da imagem reflectida no espelho, do simples acto de beber um café (lembras-te que me disseste que às vezes levavas os dedos ao nariz depois de beberes café apenas para guardares o seu cheiro. Gostavas disso), dos beijos que sinto queimarem-me a pele, do abraço sufocante que levou parte de mim, do auto-toque (isto inventaste tu para mim, mas também o fazias), de te ver por todos os cantos da cidade e sentir o coração a saltar-me do peito na iminência de nos voltarmos a cruzar algures, e de me sentir estúpida e tão conscientemente crédula de que já não te conheço, e vou rever a tua fotografia a querer à força guardar a tua imagem, do que eras quando fomos... quando não fomos nada na verdade.

Mas sabes... já não conheço os traços do teu rosto, nem o teu andar, nem a tua forma de colocares as pernas quando estás parado, nem o carinho imenso do teu olhar em mim, das faíscas do nosso olhar que iluminavam a noite, nem da tua voz, do teu sorriso, do formato da tua boca, do calor da tua nuca, o toque da tua pele, do teu cheiro que ficou em mim dias sem fim... e das tuas gargalhadas de Muttley.

Mas sabes... sei que vou saber que és tu. O coração não mente, nunca mente. E mesmo à distância imensa que nos separa nunca estivemos longe nem um só segundo.

A um amor que não foi, que foi um quase nada quase tudo. Uma ilusão a fazer-se passar por real desmascarada no reflexo do espelho onde me olho todos os dias de manhã... fugazmente sem te ver.

A incógnita de nós

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† Captações imaginárias †

Artista: João Paca

web: www.flickr.com/photos/joaopacaweb: www.twitter.com/windows2worldweb: www.facebook.com/joaopaca

Modelo: Soraya Moon

Comecei a fotografia em 2009. Tenho ainda muito a aprender, mas passo a passo, lá chegarei...

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† Captações imaginárias †

Artista: Angélica

Web: www.lilianapinho.pt.vuWeb: www.facebook.com/pages/Angélica-Elfic

O meu nome é Angélica e a Elfic Wear surgiu na minha vida em 2009 com a necessidade de eu tornar em realidade todas as personagens que habitam dentro de mim.

Desde pequena que crio roupas e acessórios para mim, pois muitas vezes não conseguia encontrar artigos que gostasse. Isso mais tarde conduziu-me a criar a marca Elfic Wear dando origem a inúmeras personagens e a um leque variado de vestuário alternativo. Os mundos fantásticos do Tim Burton, Final Fantasy, Hans Zimmer, Einstein e outras personalidades que admiro, são a minha maior referência a nível de inspiração.

Cada peça que crio é única e elaborada artesanalmente, assim quem a adquire fica com algo especial feito por mim. Não possuo qualquer curso relacionado com moda, mas sim uma grande paixão pelo meu trabalho e uma vontade constante de conseguir realizar peças mais elaboradas , com melhor qualidade que me façam sentir orgulho pelo caminho que escolhi. Para a construção das roupas e acessórios uso materiais muito variados que vão desde o couro, diversos tecidos, peças de carpintaria e mecânica, mas sempre tendo em conta o impacte ambiental e respeitando a Natureza.

Sejam bem-vindos ao meu mundo, ao mundo Elfic!

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† Captações imaginárias †

Artista: Mater Lacrymarum

Web: www.facebook.com/mater.lacrymarum

Todos os pensamentos são os meus pensamentosE todos os fragmentos da minha percepçãoSão absolutos em si mesmos.Todo o conhecimento provém de mim.A consciência e a inconsciênciaSão as facetas unificadas da minha Vontade.

Sou a Água da Vida e a Estrela da ManhãE sou o Caos AbissalOnde elas brilharam.

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† Captações imaginárias †

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† Captações imaginárias †

Artista: José Silva

Web: caminhodecura.weebly.com

Somos o articular de dimensões, e por vezes temos a oportunidade de ver a nossa mente com o seu dialogo interior, como se estivessemos de fora, e percebemos que não somos essa conversa, olhamos o corpo e também estamos para ele como uma camara de filmar está para o filme. De que serve contar então a nossa história, o nosso conjunto de mitologias, de herois que pretendemos ser, e pretender que nos encontremos nessa periferia do nosso verdadeiro ser?

Por que não antes convidar cada ser a reunir-se no núcleo do que verdadeiramente somos?

2.ª Porta

Corpo Sonhador

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† Captações imaginárias †

Creation Chaos

Evolução da Consciência

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† Captações imaginárias †

Fazendo o Sonho

Orca

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† Captações imaginárias †

Poder Pessoal

Questionar

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† Captações imaginárias †

Terei Escolha

Tradição Amazónica

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† Captações imaginárias †

Upward Spiral

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† Labirintos Prosaicos †

É uma rua comprida e muito inclinada. Todos os dias a atra-vesso. Os carros têm de a descer devagar, de tão inclinada que é. Naquele dia, esta semana, eu ia atravessar quando olhei para cima e vinha um carro a descer, ainda ao longe, mas mais depressa do que é costume, pelo que preferi esperar que passasse. A rua é longa, ainda demorou uns segundos, e fiquei no passeio à espera. Olhei para baixo. Estavam dois pombos a uns metros, a depenicar no passeio. Um pombo e uma pomba. Sei por causa da coloração das penas. E o carro a descer, em longos, longos segundos. Tempo para tudo. O pombo, parvo do pombo, começa a andar para o meio da rua sei lá porquê, como se fosse Deus quem lhe tivesse dito: olha, vais fazer um teste, avança. A pomba ficou no passeio, a depenicar. Eu fiquei a ver. Tempo para tudo.

A besta do carro também viu o pombo. Não podia não ver o pombo. E continuou por ali abaixo, como se nada fosse. Nem sequer abrandou. Não vinha nenhum carro atrás, nem nenhum carro à frente. Nenhuma razão para não abrandar. A besta estava com pressa. Não tive tempo de atravessar e obrigar a besta a parar, por-que já ia abaixo do lugar onde eu estava. A besta passou por cima do pombo, puft!, um monte de carne e penas, o que vivia já não vive, matou e andou, e nem sequer abrandou. Nem sequer viu como eu fiquei a olhar, petrificada de raiva, não apenas raiva, mas Ira, a pen-sar que um de nós não é humano. Ou eu não sou humana ou a besta não é humana. Não podemos ser ambos humanos. É impossível.

Olhei para a pomba. Tinha ficado petrificada também, olhando, de olhos estupefactos, o cadáver. Naquele momento pareceu-me ver na pomba um momento de lucidez que sobrevém aos animais de maneira diferente do que acontece às pessoas, pois não é verbalizável, mas se fosse seria assim: o meu companheiro desfeito no asfalto!

Estava atrasada mas não me consegui mexer. Demorei a recom-por-me do que tinha visto. Porque eu não sou da mesma espécie da besta no carro, que nem abrandou. Eu petrifiquei. Não sei quanto tempo, petri-fiquei. Os meus olhos na pomba, a uns metros, aterrorizada. Só quando eu saí do meu transe, e me mexi, e dei um passo, ela abriu as asas e levantou voo. Sei lá se naquele momento consciente de que o companheiro não ia atrás dela. Possivelmente não consciente, o que é uma bênção dos seres irracionais.

Quando regressei, à noite, já não sobrava nada da carne e das penas. Havia só uma mancha amarela. Ninguém diria o que aquilo tinha sido.

As bestas que passaram a seguir também não se importaram de ficar com cadáver nos pneus. Passaram, sem abrandar, e continuaram em frente, todas sujas de morte.

katrina a gótikaWEB:

gotikka.blogspot.pt/2012/09/conto-cruel-do-terror-quotidiano.html

Conto cruel do terror quotidiano

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† Labirintos Prosaicos †

O mar dourado lambendo areias vermelhas, estaria eu talvez com a cabeça em marte e os pés apontados para o leve frio da çgua sob um violino nu.

Paisagens é o nome dado ao conjunto de coisas que estão para lç do olhar, estéticas ou em movimento, tudo o que as mãos querem tocar e converter em música eterna...mas nada permanece, verdadeiramente, por onde passamos jamais voltaremos a passar e a memória, essa é turva e engana-nos com sombras, esconde o que julgamos ter. Esfrego o corpo como se tivesse sarna para que a pele se irrite, coço-me como os loucos à procura de um pouco de calor no meio destas sombras, no meio destas cores adversas que só eu con-sigo alucinar, aqui de lébios tremidos à espera de uma ocasião para voltar a dizer o que sinto, vezes sem conta, para lé de um papel ou de um gesto de mimo, à espera, gentilmente, de um barulho de relógio que me faça lembrar que sou destemido e posso gritar.

O mar, ali, sussurando elevadamente os segredos dos plane-tas que visito ao sonhar, as viagens que sublimam a minha prisão feita de universos paralelos; o mar hipnotizando-me como um guia para que eu dê passos que sejam em frente, para a frente, de frente - mergulhar.

Nasci, sei que vim ao mundo em sangue e choro, o primeiro acto de terceiros foi dar-me a conhecer a dor. Tive um nome, sei que o tive porque me chamavam muitas vezes, tantas quantas necessérias para fixar o virar de cabeça automético quando ouvia, mesmo quando não era para mim o chamamento mas para outro com o mesmo nome que eu. Porque tivera eu um nome se era comum? Porque o tivera se diziam que era o único assim?

Uma boca em desuso, só serve para beber e comer o sustento de cada dia, o corpo como um meio de transporte leva-me daqui para ali sem um destino traçado. Creio que se houvesse um destino era ortogonal para que os trajectos fossem grades desenhadas, as curvas só fazem sentido se quem o escrevesse tivesse aos seus lábios levado o mais puro tinto. Se houvesse um destino não haveriam grandes homens para grandes coisas, qualquer homem serve para fazer seja o que for, escravos de uma submissão indiscutível a uma voz que mais ninguém ouve.

Poderia até descrever outros sentidos e orgãos num grande lista, quem faz listas é mais importante, mas sou anónimo e canso--me de escrever quando penso que a conclusão já está tirada mesmo que o texto pareça a meio. Resta-me dizer que procuro descobrir se vivo ou se vivi...

Dormência a cavalo no Mediterrâneo Norte

alfa lucian

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† Flauta de Pã †

No livro dos mortos vermelhosAn

dréia

Carv

alho G

avita

habitoescarlate.blogspot.pt/

PARANÓICO de infinito,atento à demonologia interior,o servo de um diário niilista confabula:

é fácil observar o comportamento das bestase seguir o opostopara o caminho da redençãomas e a besta, no espelho do homem,poderá redimir-se?

não mais, enquanto, porém:

o coração, esta máquina de apontar blasfémias alheias,faz o julgamento egípcioenrubesceravermelhado como um serrotena polpa de um algodoeiro

seu drama dadaístaavança sobre os bestiárioscomo um inflado balãobranco e volátilno improviso do final dos tempos

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† Flauta de Pã †

HeliotropiaAn

dréia

Carv

alho G

avita

habitoescarlate.blogspot.pt/

soror noite quando me encantaatravessa a monarca terrena, megera anã.bebe o azeite das lamparinas com olhos de vilã.

o vulto arenoso, em lótus de morcego, escurece o mundo gesso:a salaonde por horasafioteço

soror noite quando me encanta

despe o hábito plenário, bem-visto ao dia mantra ordinário.a farda encarna contornovítreo de almagesto embrionário:a valaonde por horasensolaroavesso

quando soror noite apócrifa, inúteis o credo e o terço.em coma ilusória,quiróptera, lua de hóstia:nigroresplandeço

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† Flauta de Pã †

Octovisão de teslaAn

dréia

Carv

alho G

avita

habitoescarlate.blogspot.pt/

me fitomefisto luciferinonas anáguas de abbadon

faraó em transerisco na pálpebraondulatórialinhalápis lazúli

e um universodesapareceno cerne damaquiagem

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† Flauta de Pã †

Poética da Mulher debruçada sobre O Poço

Luiza

Nun

es

Enchia as mãos de lírios e despejava lírios no interior

dos vasos. Como se morrer fosse sufocar vasilhas

de corolas sanguíneas de flores

(tristes gladíolos soprados de lua)

ou amarrar poemas na esqualidez dos dedos.

Recordo: liquefazia os olhos de plácidos oceanos

– o corpo ressumava as tardes em que se afogara

nas bordas insidiosas dos espelhados poços.

Em que tecera epitáfios nas lágrimas das

pálpebras.

Maligna, pálida, estelar – a mulher embalava o vento

no coração despedaçado. Levava o luto frio

na ondulação dos cabelos.

www.facebook.com/luizaeapalavra

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† Arautos Sonoros †

João Maia Henriques

Vocalista de O Claustro

ENTREVISTA A ....

O Claustro é um projeto artístico/musical que visa permitir aos seus compositores um espaço propício à expressão, à vulnerabilidade e à transcendência.

1. Olá João, O Claustro vai apresentando ao vivo e nas gravações de vídeo disponíveis uma coleção de temas. Estes temas conduzem a um álbum? E se sim, como será?Cumprimentos André, estes três temas eram para constituir um primeiro EP. Mas por circunstâncias fora do nosso controlo acabaram por ser apresentadas no formato demo agora conhecida como MEDO. É do nosso intuito que estes sejam relançados, em conjunto com outros temas, como um álbum.

2. Existe algum “ritual” para que se sintam criativos nas vossas composições?Não existe qualquer ritual. Apenas química entre as pessoas. A composição entre nós é algo muito cru e barulhento. Começamos com algo – que até a nada se pode assemelhar – e vemos onde vai dar.

3. Podes falar um pouco de cada um dos membros da banda?Pouco posso dizer, para além de que são, todos eles, pessoas com quem me dá um grande prazer fazer música.

4. Porque escolheram o estilo progressivo?Eu sei que isto vai soar a mais do mesmo mas nós não sentimos afiliação com nenhum estilo em particular. Achamos o progressivo mais abrangente. E com os temas que temos, a puxar para os 10 minutos, sentimos que esta era uma maneira de nos catalogarmos sem o fazer.

5. Escreves os teus poemas ao detalhe ou vão-se construindo nos ensaios? Vem primeiro a letra ou a música? Como sentes o teu processo interpretativo em palco?Os poemas muito raramente se iniciam nos ensaios. Normalmente dou grandes passeios e isso ajuda-me a ter os pensamentos no sítio certo. Depois é só escrever. Podemos começar um tema a partir dai ou encaixa-lo em algo que já está feito. Não há nenhuma regra. O meu processo interpretativo resume-

se à procura de um espaço onde me possa tornar vulnerável. É um processo catártico que aconselho a todos.

6. Nas tuas letras, se tivesses um tema principal, qual pensas que seria?O desejo de algo melhor.

7. Consideras-te uma pessoa espiritual?Considero-me uma pessoa que empreende na sua sensibilização.

8. O que dirias se comparássemos O Claustro a Pink Floyd numa versão mais agressiva e apocalíptica? Ou como descreverias a música de O Claustro?Não consigo afastar-me assim tanto do quadro para descrever a música d’O Claustro mas ser comparado a Pink Floyd é sempre um grande elogio.

9. De onde vem a tua imagem? Em que se inspira?Na vulnerabilidade do ser humano.

10. Que bandas ouves mais?Neste momento? Swans, Tool, Sinistro, Nas e Queens of the Stone Age.

11. Qual o teu vocalista favorito?Tenho vários. MJK, Michael Ghira, Marshal Mathers, Trent Reznor, GG Allin, Brian Hugh Warner, Jonathan Davis etc, etc..

12. Porquê a música? E o que mais te influenciou antes de O Claustro e depois de O Claustro?Porque me habituei a ter música em vez de pessoas.

13. Planos para o futuro?Levar O Claustro para a frente.

14. Obrigado pelo teu tempo e paciência.Obrigado eu!

Pode proceder-se à audição da demo em:http://abismohumano.bandcamp.com/album/medo

Bukkakke S.T.N. - Bathory Legion

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† Arautos Sonoros †

Bukkakke S.T.N. - Bathory Legion

Bukkakke S.T.N. não é um álbum que eu possa comparar ao trabalho de outro projecto, ainda que seja bem identificável o seu género. É, ao mesmo tempo, se o ouvinte for atento aos temas, o mais perturbante álbum que ouvi no registo, e é por isso mais que digno do seguinte artigo.

intro - the nethermindInvadidos por uma bateria desregulada e imersa em estática, cavalgamos para a Nethermind. A faixa funciona como uma sintonização da percepção a um estado receptivo ao que nos aguarda no restante álbum. Inquietação. Turbulência com rasgos lúcidos de emoção.

transmissionUma vez na Nethermind começa assim a transmissão do Bukakke S.T.N.Uma melodia lenta e tenebrosa deixa à espreita uma qualquer presença suspeita no fundo. Este som lembra o focinho de uma criatura indesejada a farejar, depois com rasgos em que a percebemos num todo, até que, por fim, a entidade etérea encontra-se frente a frente connosco, hálito com hálito, e uma voz feminina, como que querendo comunicar uma mensagem dos gelados confins do espaço, não encontra satisfação.

anechoic fleshAnechoic é o nome dado à isolação de uma sala destinada a absorver por completo ondas sonoras e electromagnéticas, sendo também isolada do ruído externo. Isto significa que o espaço nesta sala resulta numa sensação de abertura ao infinito. Se imaginarmos este conceito aplicado às pulsões angustiadas da carne, obtemos de facto a descrição das sensações emitidas por este tema.

lust- the spell lullabyO som visceral e interno dos gemidos de um homem no interior de um fluxo escuro e abafado de ar, traz-nos Lust - The Spell Lullaby. A faixa torna-se cada vez mais agitada até que o gradual e exausto silêncio da voz humana se afigura o mais perturbante dos elementos.

transfigurationO álbum continua num registo agressivo entre o noise e o dark ambient, o noise a intensificar a componente de dark ambient e o dark ambient a intensificar a componente noise. Então uma melodia ao mesmo tempo doce e aterrorizante viola-nos a alma já antes despida e atira-nos à dissecação e ao apodrecimento para a habitação de uma determinação sombria.

inhumana - the silence towersO ambiente torna-se mais húmido. O teclado mais clássico. E as torres do silêncio bailam translúcidas entre uma neblina de nuvens carregadas.  

opus omnia - Chaos acoustic pianoO título é bastante descritivo da composição. Este é o registo naoclássico do presente álbum, conseguido com brandura e com um encaixe emocional corrido e sem quebras. O álbum mostra assim um sarcástico romancear do medo.

anticristianesimo alchemico militante VA sonoridade saturada e arranhada deste tema, em graves muito graves e agudos sibilantes, leva-a a ser a faixa de noise mais dura e vulcânica em Bukakke S.T.N., em que o denso artista Emme Ya participa. 

Se tem problemas cardiacos, não aconselhamos.

n2 s4pir N2 S4PIR fecha a presente obra. Só quando o tema termina é que nos apercebemos da sensação de que estavamos num pesadelo.Dentro do registo duro, directo e minimalista, este álbum, que não é fácil de ouvir, deve ser apresentado como um dos principais exemplos.

review de: André Consciência

pontuação: 9/10

Editora: Alchemic Sound Museum (FR) / Format: CDr / Cat. # asmprod03

Tracklisting:1 Intro – The Nethermind2 Transmission3 Anechoïc Flesh4 Lust – The Spell Lullaby5 Transfiguration6 Inhumana – the Silence Towers7 Opus Omnia ( Chaos-acoustic piano )8 Anticristianismo Alchemico Militante V9 N2 s4pire

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† Arautos Sonoros †

Texto retirado da KorvusWiki

ENTREVISTA A ....

A compilação Korvustronik 1 - “Contra a crueldade animal” (v/a), é uma compilação musical digital com vários artistas da Korvustronik em parceria com a Associação de Artes Abismo Humano em que o propósito é a de promover a luta contra a crueldade praticada em animais, como o próprio nome indica. Um

dos temas fundamentais nesta compilação é a contestação contra a tourada como espectáculo bárbaro, principalmente a tourada de morte, praticada em Espanha e em outras zonas do globo.

A compilação tem data marcada para o dia 9 de Abril de 2013

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Sempre com vista ao raro, a Abismo Humano em parceria com a Korvustronik apresentam o primeiro trabalho dentro do estilo em Portugal. 

Shadows of nothing nasceu da renuncia existencial, para expressar toda a revolta e toda a escuridão, a inexistência do amanhã, um mundo paralelo para o qual somos arrastados e do qual não nos conseguimos esconder. É após a travessia do vazio que surge a liberdade.

Uma viagem psicologicamente revoltante e desconfortável que dará carne ao macabro mundo de advent Mechanism.

http://abismohumano.bandcamp.com/album/shadows-of-nothing

“Advent Mechanism is portuguese Rock / Industrial band formed by Navras.

After the loss of his last band, he decided to work alone fulltime and gather some musicians for the gigs and EP recording.

Inspired by his favorite 1 man band, Velvet Acid Christ ( and many others like Korn, Akira Yamaoka, Portishead etc... ) he decided to create, altough hard these days, something fresh and new.

When you start entering the mood and the world of advent Mechanism you start realizing that the world is not what it seems and reality is an illusion, and before you notice, you are submerging to an unknown place, a place that lives within you, a place where nothing exists, and when you come from that place your eyes will never see the same again.”

Download inclui tema bónus “Eyes of Serenity” e várias páginas de artwork, posters e material promocional da banda.Para comprar o EP em formato físico, no valor de 6,50 euros, contactar [email protected]

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© 2013