A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS...

52
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PIRACICABA ÉLICA CANCIAN FELTRAN A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS EXPECTATIVAS DA MATERNIDADE ENTRE ADOLESCENTES Piracicaba 2018

Transcript of A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS...

Page 1: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PIRACICABA

ÉLICA CANCIAN FELTRAN

A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS

EXPECTATIVAS DA MATERNIDADE ENTRE ADOLESCENTES

Piracicaba

2018

Page 2: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

ÉLICA CANCIAN FELTRAN

A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS EXPECTATIVAS DA

MATERNIDADE ENTRE ADOLESCENTES

Orientadora: Profa. Dra. Marília Jesus Batista de Brito Mota

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À

VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO

DEFENDIDA PELA ALUNA ÉLICA

CANCIAN FELTRAN, E ORIENTADA

PELA PROFa. DRa. MARÍLIA JESUS

BATISTA DE BRITO MOTA

Piracicaba

2018

Dissertação de Mestrado Profissional

apresentada à Faculdade de Odontologia de

Piracicaba da Universidade Estadual de

Campinas, como parte dos requisitos

exigidos para a obtenção do título de Mestra

em Gestão e Saúde Coletiva.

Page 3: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,
Page 4: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

A Comissão Julgadora dos trabalhos de Defesa de Dissertação de Mestrado

Profissionalizante, em sessão pública realizada em 24 de Agosto de 2018, considerou a

candidata ELICA CANCIAN FELTRAN aprovada.

PROFª. DRª. MARÍLIA JESUS BATISTA DE BRITO MOTA

PROFª. DRª. MARIA JOSÉ MARTINS DUARTE OSIS

PROFª. DRª. DÉBORA DIAS DA SILVA HARMITT

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de

vida acadêmica do aluno.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Faculdade de Odontologia de Piracicaba

Page 5: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho primeiramente a Deus e Virgem Maria por sempre me abençoar.

Aos meus pais, Wilson e Teresinha, minha mãe que sempre me acompanhou, às minhas

irmãs Edilene e Eliani e meus sobrinhos Vinícius, Maria Eloisi e Ana Clara que sempre me

apoiaram.

A meu marido, companheiro Antonio Marcos Feltran, pelo amor, apoio, incentivo, parceria

e dedicação para que eu pudesse realizar este sonho.

À minha filha Lara, que foi gerada durante o curso e muito me inspirou para concluí-lo e

superar todos os desafios vivenciados nesta etapa da minha vida.

Muito obrigada a todos, que me deram força e motivação para alcançar esta grande conquista.

Que Deus nos abençoe sempre.

Page 6: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

AGRADECIMENTOS

À Universidade Estadual de Campinas; à Faculdade de Odontologia de Piracicaba

FOP-UNICAMP, nas pessoas de seu reitor, o Prof. Dr. Marcelo Knobel, e do diretor da

Faculdade, o Prof. Dr. Francisco Haiter Neto e à Profa. Dra. Karina Gonzales Silvério Ruiz,

Presidente da Coordenadoria dos Programas de Pós-Graduação da Faculdade de Odontologia

de Piracicaba.

Aos docentes do Programa de Pós-graduação em Gestão em Saúde Coletiva da FOP-

UNICAMP que compartilham com muita qualidade e excelência seus conhecimentos e

experiências.

Aos docentes Profa. Dra. Maria da Luz Rosário de Sousa, Prof. Dr. Marcelo

Meneghim; Dra. Maria José Martins Duarte Osis e Dra. Camila da Silva Gonçalo pela

disponibilidade para participar das bancas da 1ª e 2a fase de qualificação dessa dissertação e as

sugestões que enriqueceram nosso trabalho.

As docentes Profa. Dra. Maria José Martins Duarte Osis e Profa. Dra. Débora Dias da

Silva Harmitt, pela participação e contribuições durante a minha Defesa.

A minha orientadora Profa. Dra. Marília Jesus Batista, agradeço pelo carinho,

incentivo, paciência e motivação para o desenvolvimento desta dissertação, além da

contribuição para crescimento acadêmico, profissional e pessoal.

Aos professores Prof. Dr. Antonio Carlos Pereira, Profa. Dra. Luciane Miranda

Guerra, Profa. Dra. Jaqueline Vilela Bulgareli e todos os professores que contribuíram para

minha formação. Muito obrigada pelos ensinamentos, orientação, amizade, apoio, reflexões

ao longo de minha jornada acadêmica.

Ao grupo de estudo “amigos da quali”, Ligia, Pedro, Bruna, Patrícia, Mawusi, Célia

e Silvana que muito colaboraram para análise dos dados e realização da pesquisa.

A meus colegas de turma de Mestrado profissional em Gestão e Saúde Coletiva pelo

compartilhamento de experiências e conhecimento que tanto enriqueceram nossos encontros e

por todo carinho e ajuda que recebi durante essa trajetória.

À Prefeitura Municipal de Divinolândia, por meio de seu Departamento Municipal

de Saúde, pelas oportunidades de campo, as quais foram fundamentais para realização deste

estudo.

À secretária Eliana Aparecida de Mônaco do Departamento de Odontologia Social da

FOP-UNICAMP, pela disposição e ajuda.

Page 7: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

Às voluntárias que aceitaram participar da pesquisa e compartilhar suas respostas que

sem dúvida foram muito importantes.

Page 8: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

“POR VEZES SENTIMOS QUE AQUILO QUE FAZEMOS NÃO É SENÃO UMA GOTA DE ÁGUA NO MAR.

MAS O MAR SERIA MENOR SE LHE FALTASSE UMA GOTA”.

MADRE TERESA DE CALCUTÁ

Page 9: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

RESUMO

O início da atividade sexual nos primeiros anos da adolescência e a alta prevalência de

gravidez na adolescência apontam para a importância em conhecer as percepções das mães

adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência, que foi o

objetivo deste estudo. Esta pesquisa qualitativa foi realizada com mães adolescentes na faixa

etária de 15 a 19 anos que frequentaram a Unidade Básica de Saúde do município de

Divinolândia-SP para realização do pré-natal no período de janeiro de 2016 a outubro de

2017. Foram realizadas 17 entrevistas semiestruturadas, além da aplicação de um questionário

para obter dados socioeconômicos e demográficos. A amostra do estudo foi intencional e seu

tamanho definido por exaustão. As entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra, e as

falas foram analisadas pela técnica de análise de conteúdo com modalidade temática. Foram

identificadas cinco categorias, sendo: (1) Gravidez planejada durante a adolescência, a qual

foi resultado de planejamento prévio em decorrência de relacionamento afetivo estável; (2)

imaginário e realidades da gravidez na adolescência, categoria na qual as mães adolescentes

demonstraram surpresa frente à realidade vivenciada; (3) modificação dos projetos de vida,

com relatos de que a gravidez foi motivo para a interrupção ou adiamento dos seus projetos

de vida; (4) motivação para a gravidez associada ao desejo de mudança de vida e fuga, onde

as mães expressaram suas motivações para a gravidez como possibilidade de reconhecimento,

modificação de sua realidade social, fuga da casa dos pais e conquista de autonomia; (5) rede

de apoio e proteção, considerada como fator de proteção e fundamental para a superação dos

desafios e adaptação à nova condição de ser mãe. As evidências do presente estudo apoiaram

a hipótese inicial, que sugeria que muitas adolescentes engravidavam sem conhecimento dos

desafios que a maternidade prematura apresenta e que as mães adolescentes se surpreendem

(chocam) com uma realidade diferente da qual imaginavam. Porém, apesar de estarem

vivenciando um momento difícil, muitas mães adolescentes parecem lidar bem com a

complexidade inerente à maternidade como uma fase desafiadora para todas as faixas etárias,

e em especial nesta fase da vida, devido à maior vulnerabilidade do contexto psicossocial.

Apesar de a maioria relatar modificação no projeto de vida, o apoio social e familiar foi

fundamental no processo de adaptação à realidade da maternidade.

Palavras-chave: Gravidez na adolescência. Pesquisa qualitativa. Adolescente.

Page 10: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

ABSTRACT

The onset of sexual activity in the early years of adolescence and the high prevalence of

teenage pregnancy pointed out the importance of knowing the perceptions of teenage mothers

about the expectations of teenage pregnancy, which was the objective of this study. This

qualitative research was conducted with teenage mothers between the ages of 15 to 19 years

who have attended the basic health unit of the municipality of Divinolândia-SP for completion

of prenatal care in the period of January to October 2016 2017. 17 semi-structured interviews

were conducted, in addition to the application of a questionnaire to obtain socio-economic and

demographic data. The study sample was intentional and your size defined by exhaustion. The

interviews were recorded and transcribed in full, and the lines were analyzed by the technique

of content analysis with thematic mode. Five categories were identified: (1) planned

Pregnancy during adolescence, which was the result of prior planning as a result of stable

affective relationship; (2) and imaginary realities of teen pregnancy, category in which the

teenage mothers showed surprise front to the reality experienced; (3) modification of the life

projects, with reports that the pregnancy was the reason for interruption or postponement of

their life projects; (4) motivation for pregnancy associated with the desire for change of life

and escape, where mothers expressed their motivations for pregnancy as a possibility of

recognition, modification of your social reality, escape from their parents and achievement of

autonomy; (5) network of support and protection, considered as fundamental and protection

factor for overcoming the challenges and adapting to new condition. The evidence from this

study supported the initial hypothesis, which suggested that many teenagers get pregnant

without knowledge of the challenges that early motherhood presents and that teenage mothers

are surprised (crash) with a reality different from which imagined. However, although they

are experiencing a difficult time, many teenage mothers seem to deal well with the complexity

inherent in maternity as a challenging phase for all age groups, particularly at this stage of

life, due to the greater vulnerability of the psychosocial context. Although most report

modification in the design of life, social and family support was instrumental in the process of

adaptation to the reality of motherhood.

Keywords: Pregnancy in adolescence. Qualitative research. Teenager.

Page 11: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 12

2 ARTIGO: A percepção de mães adolescentes acerca das expectativas e experiências da

maternidade na adolescência.

17

3 DISCUSSÃO

38

4 CONCLUSÃO 40

REFERÊNCIAS 41

APÊNDICES 45

APÊNDICE 1: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

45

APÊNDICE 2: Termo de Assentimento

47

APÊNDICE 3: Roteiro semi-estruturado

48

APÊNDICE 4: Questionário sociodemográfico

49

ANEXOS

ANEXO 1: Certificado do comitê de ética e pesquisa

50

ANEXO 2: Comprovante de submissão do artigo à Revista Ciência e

Saúde Coletiva

51

Page 12: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

12

1 INTRODUÇÃO

Os adolescentes, durante a transição da infância para a vida adulta, sofrem

inúmeras modificações biológicas, cognitivas, emocionais e sociais. Fase esta, marcada

pela adoção de novas práticas, comportamentos, experiências e conquistas, mas que

também representa vulnerabilidade a situações de risco para a saúde como a exposição

ao sexo, que pode ser seguro ou inseguro, ou seja, fase de múltiplas oportunidades e

escolhas que trazem consequências (Brasil, 2013). Portanto, a maneira como o

adolescente vivencia suas experiências, permeado por todo um contexto sociocultural e

ambiental, poderá estar associada a facilidades ou dificuldades no processo de

adolescer.

Os limites etários de acordo com o Ministério da Saúde, o qual segue a

definição de adolescência prescrita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) são

caracterizados pelo período de 10 e 19 anos e compreende como juventude a população

dos 15 a 24 anos (Brasil, 2010). Nessa etapa da vida ocorrem modificações clínicas e

psicossociais, com o surgimento de novos desejos, dúvidas e curiosidades, que se

intensificam com a descoberta do próprio corpo e do prazer sexual, que pode resultar

em maiores possibilidades de ocorrência de uma gravidez indesejada (Ferreira et al.,

2014; Silva et al., 2013). Pesquisar sobre gravidez na adolescência nos desafia a

compreender sobre o processo de iniciação sexual dos adolescentes assim como sua

implicação na vida reprodutiva, além da percepção desse público em relação à gravidez

nessa faixa etária e suas consequências.

De acordo com a pesquisa nacional de saúde do escolar realizada com

alunos do 9º ano do ensino fundamental, 27,5% já tiveram relação sexual alguma vez,

sendo 36,0% do sexo masculino e 19,5% do sexo feminino, dentre as quais 9,0%

relataram já ter engravidado (Brasil, 2015).

Recentemente os estudos e pesquisas do IBGE apontam que a taxa

específica de fecundidade das mulheres de 15 a 19 anos de idade no período entre 2005

e 2015 passou de 76,3 para 59,4 filhos por mil mulheres deste grupo, correspondendo a

uma diminuição de 22,1% no indicador. E o percentual de nascidos vivos de mães

menores de dezoito anos no ano de 2015 foi de 6,25%, sendo a taxa para o município de

Page 13: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

13

Divinolândia-SP, local onde o estudo foi realizado, de 3,28 no mesmo período (Brasil,

2016; SEADE, 2017).

Considerando o total de nascimentos descrito pela Organização Mundial de

Saúde (OMS), cerca de 16 milhões de meninas com idades compreendidas entre os 15 e

os 19 anos e cerca de 1 milhão de meninas com menos de 15 anos dão à luz todos os

anos, sendo a maioria em países de baixa e média renda. As estatísticas mundiais de

saúde de 2014 indicaram que a taxa de natalidade média global entre 15 a 19 anos é de

49 por 1000 meninas (WHO, 2018). Segundo relatório publicado pela Organização Pan-

Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), Fundo das Nações

Unidas para a Infância (UNICEF) e Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA)

referente ao período de 2010 à 2015, o Brasil conta com uma a taxa de 68,4 nascimentos

para cada 1 mil adolescentes, enquanto que a América Latina e o Caribe com 65,5

nascimentos sendo a sub-região com a segunda maior taxa de gravidez adolescente do

mundo, superada apenas pela África Subsaariana (PAHO, 2018).

Embora, de acordo com Secura (2014) a taxa de gravidez entre meninas e

mulheres de 15 a 19 anos de idade tenha diminuído substancialmente ao longo das

últimas duas décadas, a gravidez na adolescência é considerada em muitos aspectos

como um problema de saúde pública persistente, visto que a cada ano, mais de 600.000

adolescentes engravidam, e 3 em cada 10 adolescentes engravidam antes de atingirem

20 anos de idade, sendo que além da gestação elas estão mais expostas às infecções

sexualmente transmissíveis (ISTs), como a AIDS (Brasil, 2013).

Entretanto, há controvérsias sobre a gravidez na adolescência atualmente ser

considerada como um problema de saúde pública visto que esta faixa etária foi durante

muito tempo considerada a ideal para a mulher ter filhos (Heilborn et al., 2002). Porém,

atualmente o novo papel social feminino atribuído pela sociedade contemporânea à

adolescente, com maiores chances no que diz respeito à escolarização, à inserção

profissional, ao exercício da sexualidade desvinculado da reprodução, configuram uma nova

visibilidade quanto à idade ideal para se ter filhos (Heilborn et al., 2002).

Como risco à saúde da adolescente, muitas complicações podem ocorrer

durante a gravidez e parto na adolescência, sendo a segunda causa de morte para

meninas de 15 a 19 anos de idade em todo o mundo, além, de que anualmente cerca de 3

milhões de meninas nessa faixa etária submetem-se a abortos inseguros, contribuindo

para mortes maternas e problemas de saúde duradouros (WHO, 2018).

Page 14: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

14

Em um estudo comparativo das características obstétricas e os resultados de

parto entre as mulheres adolescentes e jovens adultas, totalizando 48.308 partos, a

incidência de hemorragia e as dificuldades intraintestinais foram maiores em

adolescentes (Socolov et al., 2017).

De acordo com alguns estudos, os bebês nascidos de mães adolescentes

residentes em países de baixa e média renda possuem um risco 50% maior de

mortalidade durante a gravidez ou nas primeiras semanas de vida, em relação aos bebês

de mulheres de 20 a 29 anos. Além de apresentarem maior incidência de prematuridade

e baixo peso ao nascer (BPN), os quais, de acordo com uma revisão sistemática são

intensificados quando as gravidezes não são desejadas. O desejo em engravidar foi

considerado um fator importante tanto para o bem-estar da mãe como o da criança

(Shah et al., 2011; WHO, 2018; Santos et al., 2014; Martinez, 2011).

Em um estudo realizado por Costa e Heilborn (2006), constatou-se que o

maior risco de mortalidade perinatal, de BPN e prematuridade foram identificados em

crianças de mães entre 10 a 14 anos, quando comparado com o de mulheres entre 15 e

19 anos, sendo que neste último grupo, os resultados apresentam níveis bastante

próximos aos dos filhos das mães não-adolescentes, além do número de consultas de

pré-natal das gestantes com a faixa de 10 a 14 anos serem menores quando comparados

com o daquelas com mais de 14 anos.

A temática gravidez na adolescência, atualmente consiste em questão

polêmica ao relacionar o exercício da sexualidade e da vida reprodutiva às condições

materiais de vida e às múltiplas relações de desigualdades presentes na vida social do

País. Sendo assim, a gravidez na adolescência resulta de uma pluralidade de

experiências de vida, com diferentes significados, abordados de várias maneiras e com

diversos desfechos (Brasil, 2017).

A gravidez na adolescência quando pensada nos aspectos sociais e

econômicos, pode apresentar impactos. Muitas meninas são obrigadas a abandonar a

escola aumentando a evasão e reprovação escolar, incentivo ao aborto pelo familiar e

companheiro, abandono do parceiro, discriminação social e reduzida oferta de emprego,

visto que uma adolescente com pouca ou nenhuma educação tem menos capacitação

profissional e pode ter menos oportunidades para conseguir um emprego. Também

Page 15: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

15

ocorre com maior frequência em comunidades de baixo nível socioeconômico, menos

instruídas e rurais (Ferreira et al., 2014; WHO, 2018).

Existe um esforço mundial da OMS (WHO, 2018) para a prevenção da

gravidez na adolescência. Porém, estratégias nesta direção poderão ser frustadas caso o

contexto dos adolescentes seja desconhecido ou ignorado. Pois, como constataram Nieto

et al (2012), muitas adolescentes referem planejar a gravidez e o parto. Assim, deve-se

considerar o pressuposto de que a maternidade pode ser resultado de um projeto de vida,

não significando, necessariamente, resultado de atitude irresponsável ou acidental

(Cabral, Oliveira, 2010) como frequentemente é encarado pelos profissionais de saúde e

pela sociedade.

A formação do profissional de saúde, muitas vezes, ainda está pautada na

postura autoritária, devido à concepção hegemônica tradicional biomédica. Entretanto,

torna-se imprescindível que o profissional de saúde assuma um papel ativo na

reorientação das estratégias de cuidado, tratamento e acompanhamento da saúde

individual e coletiva, tendo um olhar centrado na pessoa. Atualmente, muitos

profissionais veem a gravidez na adolescência de forma negativa, e manifestam essa

atitude nas suas ações educativas e/ou no cuidado com adolescente, prejudicando o

estabelecimentode vínculo entre equipe de saúde e usuários (Ferreira et al, 2010).

Ampliar o olhar sobre esta questão de engravidar ou não, usar métodos contraceptivos

ou não e até discutir sobre o comportamento sexual, é fundamental.

Em um estudo realizado por Brandão e Heilborn (2006), também foi

observado que muitas adolescentes relataram conhecimento sobre o uso dos métodos

contraceptivos, embora apresentem o uso impróprio destes métodos, que pode ser por

resultado de atitudes ambíguas em relação gravidez e maternidade durante a

adolescência, como desejar, mas evitar. Portanto, a motivação para a gravidez ainda é

mal compreendida.

É pertinente considerar que o manejo e a introdução dos métodos

contraceptivos são lentos e requerem discussão entre os parceiros, além de

autoconfiança, apoio social, ou seja, características raramente presentes durante a

iniciação sexual nesta faixa etária (Brandão e Heilborn, 2006).

De acordo com Piccinini et al (2008), o processo de constituição da

maternidade inicia-se muito antes da concepção, a partir das primeiras relações e

Page 16: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

16

identificações da mulher, passando pela atividade lúdica infantil, a adolescência, o

desejo de ter um filho e a gravidez propriamente dita e seguirá seu curso após o

nascimento do bebê. Além, da gravidez ser um momento de importantes

reestruturações na vida da mulher e nos papéis que a mesma exerce (Piccinini et al,

2008).

Nesse sentido, a idealização da gravidez permeada pela romantização da

maternidade, frente a realidade vivenciada no período puerperal pode ser bastante

surpreendente para as mães adolescentes, principalmente para as que não contam com

apoio social e familiar para dividir com elas as demandas do puerpério. Portanto, as

repercussões de uma gravidez na adolescência, tal qual suas percepções devem ser

melhor compreendidas (Heilborn et al., 2002).

Sendo assim, optou-se em realizar o presente estudo qualitativo, o qual

possibilita conhecer o universo dos significados, motivos, aspirações, crenças, valores,

atitudes, e consequentemente compreender o significado, o processo, a representação e

as percepções de mães adolescentes sobre a maternidade na adolescência e desta forma,

viabilizar a adoção de estratégias para o cuidado com a saúde da adolescente através da

promoção de saúde, respeitando a autonomia das adolescentes em suas escolhas e

projetos de vida (Lima e Manini, 2016; Turato, 2005; Minayo, 2015).

Diante do exposto o objetivo do presente estudo foi conhecer as percepções

de mães adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na

adolescência utilizando a abordagem qualitativa, partindo-se das hipóteses de que as

adolescentes engravidam sem conhecimento dos desafios que a maternidade na

adolescência apresenta e que as mães adolescentes se surpreendem (chocam) com uma

realidade diferente da qual imaginavam.

Page 17: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

17

2 ARTIGO: PERCEPÇÕES DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS

EXPECTATIVAS E EXPERIÊNCIAS DA MATERNIDADE NA

ADOLESCÊNCIA.

Artigo submetido para publicação ao periódico Ciência e Saúde Coletiva (Anexo 2)

Élica Cancian FELTRAN 1

Jaqueline Vilela BULGARELLI 1

Brunna Verna Castro GONDINHO 1

Pedro Augusto Thiene LEME 1

Luciane Miranda GUERRA 1

Marília Jesus BATISTA1,2

1 Departamento de Odontologia Social, área de Odontologia Preventiva e

Saúde Pública da Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Universidade

Estadual de Campinas (UNICAMP), Piracicaba, SP, Brasil.

2 Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina de Jundiaí.

Page 18: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

18

RESUMO: A alta prevalência de gravidez na adolescência aponta para a

necessidade de conhecer as percepções das mães adolescentes acerca das expectativas e

experiências da gravidez na adolescência, objeto deste estudo. Pesquisa qualitativa

realizada com mães de 15 a 19 anos que frequentaram a Unidade Básica de Saúde em

Divinolândia-SP para realização do pré-natal entre janeiro de 2016 à outubro de 2017.

Foram realizadas 17 entrevistas semiestruturadas e aplicação de questionário

sociodemográfico em amostragem por exaustão. As entrevistas foram gravadas e

transcritas na íntegra, e o material tratado por análise de conteúdo na modalidade

temática. Foram identificadas 5 categorias de análise: (1) gravidez planejada durante a

adolescência; (2) imaginário e realidades da gravidez na adolescência; (3) modificação

dos projetos de vida; (4) motivação para a gravidez associada ao desejo de mudança de

vida e fuga e (5) rede de apoio e proteção. As adolescentes manifestam ideias

relacionadas à desconsideração sobre os desafios que a maternidade apresenta e

relativas à surpresa frente a uma realidade distinta da qual imaginavam. No entanto,

apesar dos relatos apontarem para uma vivência de dificuldades pessoais, com

modificação nos projetos de vida, as mães se confortam perante o apoio social e familiar

recebido, capaz de atenuar e parecem lidar bem com as dificuldades e complexidade

inerentes à maternidade.

Palavras chaves: Gravidez na adolescência; Pesquisa qualitativa;

Adolescente.

Page 19: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

19

ABSTRACT: The high prevalence of teenage pregnancy points to the need

to know the perceptions of teenage mothers about the expectations and experiences of

teenage pregnancy, object of this study. Qualitative research conducted with mothers

from 15 to 19 years who have attended the Basic Health Unit in Divinolandia-SP to

perform between January 2016 prenatal to October 2017. 17 were conducted semi-

structured interviews and questionnaires on demographic sampling exhaust. The

interviews were recorded and transcribed in full, and the material handled by content

analysis on thematic mode. 5 categories have been identified: (1) planned pregnancy

during adolescence; (2) and imaginary realities of teen pregnancy; (3) modification of

life projects; (4) motivation for pregnancy associated with the desire for change of life

and escape and (5) support network and protection. The adolescents manifest disregard

related ideas about the challenges that motherhood presents and surprise a reality

distinct from what is imagined. However, in spite of reports pointing to an experience of

personal difficulties, with modifications in the projects of life, mothers take comfort

before the social and family support received, able to mitigate and seem to cope well

with the difficulties and complexity inherent in maternity.

Keywords: Teen pregnancy; Qualitative research; Teenager.

Page 20: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

20

INTRODUÇÃO

A adolescência é uma etapa da vida onde ocorrem modificações clínicas

e psicossociais, com o surgimento de novos desejos, dúvidas e curiosidades, que se

intensificam com a descoberta do próprio corpo e do prazer sexual, momento a partir do

qual a gravidez torna-se uma possibilidade biológica e social1,2.

Cerca de 16 milhões de meninas com idades compreendidas entre os 15 e 19

anos e cerca de 1 milhão de meninas com menos de 15 anos dão à luz todos os anos,

sendo a maioria em países de baixa e média renda3. As estatísticas mundiais de saúde de

2014 indicaram que a taxa de natalidade média global entre 15 a 19 anos é de 49

nascidos vivos por 1000 meninas3. Segundo relatório publicado pela Organização Pan-

Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), Fundo das Nações

Unidas para a Infância (UNICEF) e Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA)

referente ao período de 2010 à 2015, o Brasil conta com uma a taxa de 68,4 nascimentos

para cada 1 mil adolescentes e figura entre as maiores do mundo4.

A temática da gravidez na adolescência (GA) é envolta por polêmicas ao

relacionar o exercício da sexualidade e da vida reprodutiva às condições materiais de

vida e às múltiplas relações de desigualdades presentes na vida social do País5. Nesse

sentido, a discussão sobre sexualidade e reprodução na juventude deve considerar o

contexto sociocultural, no qual as jovens estão inseridas, pois, GA é produto de uma

diversidade de experiências de vida, com diferentes significados, abordados de várias

formas e com desfechos variados 5,6.

Muitas complicações podem ocorrer durante a gravidez e parto na

adolescência, sendo a segunda causa de morte para meninas de 15 a 19 anos de idade

em todo o mundo, além de anualmente cerca de 3 milhões de meninas nessa faixa etária

sofrem abortos inseguros, contribuindo para mortes maternas e problemas de saúde

duradouros3. Estudos apontam que bebês nascidos de mães adolescentes (MA),

residentes em países de baixa e média renda, possuem um risco 50% maior de

mortalidade durante a gravidez ou nas primeiras semanas de vida, em relação aos bebês

de mulheres de 20 a 29 anos, além da ocorrência de maior incidência de prematuridade

e baixo peso ao nascer (BPN) quando as gravidezes não são desejadas7,3,8,9.

Page 21: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

21

Costa e Heilborn10 constataram que o maior risco de mortalidade perinatal,

de BPN e prematuridade, foi identificado em crianças de mães com a faixa etária de 10

a 14 anos, quando comparado com o de mulheres entre 15 e 19 anos, sendo que neste

último grupo, os resultados apresentaram níveis bastante próximos aos dos filhos das

mães não-adolescentes. Além disso, o número de consultas de pré-natal das gestantes

com a faixa de 10 a 14 anos foi menor quando comparados com o daquelas com mais de

14 anos 10.

A maternidade em qualquer faixa etária pode ser considerada como um

desafio, no entanto na adolescência evidenciam-se distintos efeitos sociais e econômicos

permeados por conflito e não aceitação por parte da família, incentivo ao aborto por

estes ou pelo parceiro, abandono do parceiro, discriminação social e o afastamento dos

grupos de sua convivência11,3. Adicionalmente, o novo papel social feminino atribuído

contemporaneamente à adolescente, com valorização da escolarização, inserção

profissional, e ao exercício da sexualidade desvinculado da reprodução, configura novas

convenções sociais quanto à idade ideal para se ter filhos12.

Os conflitos da gravidez podem gerar impacto social e interferência da

estabilidade emocional da adolescente, principalmente porque esta etapa da vida é

permeada pela insegurança, despreparo, dependência, e infantilidade, ou seja, repleta de

conflitos de identidade peculiares desta fase da vida 11,13,14,15,1,3.

No que se refere à prevenção da gravidez pelas adolescentes deve-se

considerar que existe um grau de conhecimento popularmente difundido sobre o uso dos

métodos contraceptivos6 bem como a possibilidade da gravidez e parto serem

planejados e desejados, ou seja, GA não é, necessariamente, consequência de atitude

irresponsável ou acidental16.

A idealização da gravidez permeada pela romantização da maternidade,

frente à realidade vivenciada no período puerperal pode ser bastante surpreendente para

as MA. Principalmente para as que não contam com apoio social e familiar capaz de

dividir com elas as demandas do puerpério12.

É relevante compreender os fatores que influenciam no processo de

engravidar na adolescência e como as adolescentes encaram esse processo, uma vez que

a gravidez está posta e essas meninas se tornam mães. Estes aspectos são fundamentais

para o desenvolvimento de ações e programas de promoção da saúde centrado na pessoa

Page 22: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

22

voltados para este público alvo. A fim de captar sentidos e significados atribuídos por

essas MA, optou-se pela realização de estudo qualitativo, cujo objetivo foi conhecer as

percepções de MA acerca das expectativas e experiências da GA.

METODOLOGIA

Aspectos éticos

O estudo cumpriu os preceitos éticos da pesquisa com seres humanos, sendo

aprovado junto ao comitê de ética (CEP- FOP/Unicamp) (Anexo 1). O sigilo e o

anonimato foram garantidos e todas as participantes tiveram seus nomes substituídos

pela letra E seguida de um número arábico correspondente à ordem sequencial em que

foram realizadas as entrevistas (E1 a E17) para facilitar as identificações e análises.

Desenho do Estudo

Estudo descritivo e exploratório, com abordagem qualitativa. O método

qualitativo foi escolhido a fim de compreender o universo dos significados, motivos,

aspirações, crenças, valores e atitudes das pessoas que compuseram o estudo17. Os

resultados foram analisados conforme a técnica análise de conteúdo temática proposta

por Gomes18.

Cenário do estudo e participantes da pesquisa

A pesquisa foi realizada na cidade de Divinolândia-SP, município de 11 mil

habitantes e densidade demográfica de 49,01 habitantes/km2. A cidade possui uma

Unidade Básica de Saúde (UBS) de modalidade mista, composta por uma equipe da

Estratégia Saúde da Família (ESF) e UBS tradicional, situada na região central da

cidade, local onde são realizados todos os atendimentos de pré-natal do município. A

pesquisadora, além de aluna de mestrado na área de Saúde Pública, é enfermeira da

Prefeitura Municipal do município há seis anos, e uma das suas atribuições é a

realização dos atendimentos de pré-natal.

Participaram da pesquisa MA cujo critério de inclusão na pesquisa foi de

que deveriam estar com idade entre 15 à 19 anos 11 meses e 29 dias no momento do

parto, ter realizado acompanhamento de pré-natal e o nascimento do bebê tenha

ocorrido no período de janeiro de 2016 à outubro de 2017, além de serem usuárias do

serviço em questão e residentes no município. Critério de exclusão foi a gestante que

Page 23: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

23

não possuía nenhum filho no momento da entrevista, mesmo estando dentro da faixa

etária definida, e residir em outro município.

Previamente foi realizado um levantamento por meio do Sistema SIS Pré-

natal web, de todas as gestantes na faixa etária definida, cadastradas e acompanhadas

pela UBS. Foram encontrados 33 cadastros de GA e verificados quais já haviam parido

o bebê. Verificou-se que não havia nenhum cadastro no sistema de adolescentes com

idade de 14 anos ou menos no período estipulado. A partir desta listagem, foi realizada

busca individual do endereço, telefone com intuito de convidá-las para a entrevista.

Coleta e organização dos dados

Os dados foram coletados no período de novembro de 2017 a janeiro de

2018, sendo o tempo decorrido após o parto compreendido entre 2 meses à 1 ano e 11

meses. Foi utilizado um roteiro de entrevista semiestruturada. Inicialmente um convite

foi feito às participantes em potencial e, sendo aceito, foram agendados horários para

realização da visita domiciliar e apresentação ao Termo de Consentimento Livre

Esclarecido (TCLE) e Termo de Assentimento, quando necessário. A entrevista foi

realizada pela própria pesquisadora.

Utilizou-se um roteiro semiestruturado (Apêndice 3) sobre a experiência da

GA, suas expectativas e dificuldades encontradas, sendo a questão disparadora:

“Poderia me contar como foi sua gravidez?”, além da aplicação de um questionário

sociodemográfico (Apêndice 4). A duração média das entrevistas foi de 5 minutos. Foi

realizada uma entrevista piloto com uma adolescente e observada a necessidade de

ajustar uma questão, por apresentar dificuldade de compreensão pela entrevistada.

As entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra pela pesquisadora, o

número de sujeitos foi definido por exaustão, ou seja, foram entrevistadas todas as MA

elegíveis para o estudo dentro dos critérios de inclusão19,20. Assim, foram finalizadas as

entrevistas e os dados foram complementados com anotações em diário de campo, que

continham anotações livres da pesquisadora quanto ao contexto e a linguagem corporal

das adolescentes durante a entrevista.

Análise dos dados

Foi utilizada técnica de análise de conteúdo temática18. Inicialmente adotou-

se o procedimento de editoração, composto por transcrição na íntegra das entrevistas e

análise do diário de campo, em seguida realizadas leituras exaustivas das transcrições,

Page 24: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

24

releituras e levantamento de impressões, momento que permite a apropriação do

conjunto e das particularidades do material, assim como o levantamento dos

pressupostos iniciais e verificação dos núcleos dos sentidos. Na sequência, foi realizada

a categorização e sub categorização. Posteriormente foi feita a apresentação e discussão

da análise para os pares, pesquisadores de um grupo de pesquisa qualitativa, e assim, a

definição das categorias através do refinamento do material. Após validação das

categorias pelos pares, foi elaborada a síntese interpretativa, com diálogo entre os

temas, objetivos, questões e hipóteses da pesquisa 18,19.

RESULTADO E DISCUSSÃO

Das 33 GA cadastradas, participaram do estudo 17, uma vez que cumpriram

os critérios de inclusão. No momento do estudo 7 ainda estavam gestantes e não tinha

tido filho, 1 abortou, 01 não estava em casa no momento da visita e 7 residiam em outro

município. Dentre as adolescentes entrevistadas, duas realizavam trabalho remunerado,

três estavam na segunda ou terceira gestação (Quadro 1). Das dezessete, quatro

continuavam estudando e a renda mensal familiar referida era de no máximo dois

salários mínimos. Ao considerar as idades dos bebês, havia uma variação de 2 meses a 1

ano e 11 meses, de forma que as MA vivenciavam fases distintas do período pós parto,

o que traz perspectivas variadas em relação à maternidade. Duas entrevistadas estavam

vivenciando a maternidade pela segunda ou terceira vez, o que também pode diferenciar

das respostas quanto às expectativas das mães que a vivenciavam pela primeira vez.

Em relação ao estado conjugal, a maioria das adolescentes (doze) referiram

união consensual, duas eram casadas e duas estavam solteiras. A gravidez foi planejada

por cinco entrevistadas, sendo que duas relataram desejo do parceiro em ter um filho,

sem mencionar se este também era desejo dela, fato também encontrado no estudo de

Hoga21, onde muitas adolescentes relatam não tinham a intenção de se tornarem mães,

porém, com intuito satisfazer o desejo de seus parceiros, que queriam se tornar pais,

haviam engravidado.

No que se refere ao conhecimento sobre os métodos contraceptivos, todas

referiram conhecer vários métodos, citando o anticoncepcional oral, preservativo, coito

interrompido, DIU, Diafragma e anticoncepcional injetável. No entanto, a grande

maioria fazia uso irregular ou não os utilizavam por motivos variados, dentre eles:

Page 25: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

25

esquecimento; relato de ter recebido orientação profissional que não poderia engravidar;

vergonha de comprar na farmácia ou buscar o anticoncepcional na UBS, além de não

considerar que poderiam engravidar naquele momento.

Inúmeros são os fatores responsáveis pela GA, sendo um deles o não uso ou

uso incorreto dos métodos contraceptivos, que é importante estratégia nos programas

preventivos. Foi observado no presente estudo, que os jovens conhecem os métodos

contraceptivos, o que corrobora com Nieto et al 22. Porém, a vergonha e o fato de não

imaginar a possibilidade de engravidar foram barreiras relatadas ao uso desses métodos.

Nesse sentido, empoderar a mulher para a autonomia em relação ao próprio corpo,

incluindo o direito a sexualidade, pode ser uma estratégia que contribua para melhor

adesão aos métodos contraceptivos, podendo assim prevenir a gravidez indesejada, uma

vez que maiores graus de autonomia poderiam favorecer a adoção de práticas

contraceptivas consistentes. A questão religiosa, que muitas vezes atribui culpa à

sexualidade, também pode ter influenciado na questão da “vergonha”, o que seria

coerente ao fato de 13 das entrevistadas afirmarem pertencimento religioso.

As falas foram analisadas e surgiram cinco categorias com os seguintes

temas: (1) Gravidez planejada durante a adolescência, (2) Imaginário e realidades da

gravidez na adolescência, (3) Modificação dos projetos de vida, (4), Motivação para a

gravidez associada ao desejo de mudança de vida e fuga, (5) Rede de apoio e proteção.

Quadro 1. Características das adolescentes no momento da entrevista.

Identificação Idade Idade

do

bebê

Estado

civil

Renda

familiar

(salário)

Ocupação Escolaridade Na

escola

Presença

do

parceiro

Religião Gravidez foi

planejada?

E1 17 5 m Casada 1 Dona de

casa

Ensino

fundamental

completo.

Não Sim Não

informou

Sim

E2 18 9 m União

consensual

1-2 Dona de

casa

Ensino médio

completo

Não Sim Católica Não

E3 16 3 m União

consensual

< 1 Dona de

casa

1 ano do

ensino médio

Não Sim Católica Não por ela, mas

sim pelo

parceiro.

E4 19 3a,

1a 9m

União

consensual

1 a 2 Estudante

e dona de

casa

Cursando

Ensino médio

Sim Sim Católica Não, nenhuma

E5 17 10 m União

consensual

< 1 Dona de

casa

Ensino

fundamental

completo

Não Sim Católica Não

E6 17 3 m União

consensual

< 1 Dona de

casa

Cursando 2

ano do ensino

médio

Sim Sim Católica Sim

E7 16 1a 5m União

consensual

Não

informou

Dona de

casa

Ensino

fundamental

incompleto

Não Sim Não

informou

A primeira não,

mas o segundo o

parceiro queria

(está gestante).

Page 26: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

26

E8 20 5a, 3a,

1a 8m

Casada 1 Dona de

casa

1 ano do

ensino médio

Não Sim Católica A primeira não,

mas a segunda e

terceira sim.

E9 20 1 a União

consensual

1 a 2 Dona de

casa

Ensino médio

completo

Não Sim Católica Não

E10 20 1a 1m Solteira 1 Vendedora Ensino médio

completo

Não Não Católica Não

E11 16 1a 7m União

consensual

1 Vendedora Cursando 3

ano do ensino

médio

Sim Sim Católica Não

E12 16 10 m Solteira 1 a 2 Estudante Cursando 3

ano do ensino

médio

Sim Não Católica Não

E13 19 6 m União

consensual

1 Dona de

casa

Ensino

fundamental

completo

Não Sim Católica Não

E14 19 6 m União

consensual

1 a 2 Dona de

casa

Ensino médio

completo.

Não Sim Católica Sim

E15 19 3 m União

consensual

< 1 Dona de

casa

Ensino

fundamental

incompleto

(5 série)

Não Sim Evangélica Sim

E16 15 2 m União

consensual

1 a 2 Dona de

casa

Ensino

fundamental

incompleto

(6 série)

Não Sim Não

possui

Não

E17 20 1a11m União

consensual

1 Dona de

casa

Ensino médio

completo

Não Sim Não

possui

Não

Gravidez planejada durante a adolescência.

Uma das ideias acerca da GA é associada ao planejamento prévio, em

decorrência de relacionamento afetivo estável, sendo que algumas falas ilustram o

desejo do parceiro e a submissão da MA em atender a esse desejo:

[...] eu e meu marido, a gente planejou desde o começo. (E6)

O dela não, aconteceu né. Agora desse aqui (está gestante) ele queria, por

que ele queria um menininho. O pai dele. (E7)

[...] já era uma gravidez que eu tava esperando, eu queria mesmo, já tinha

parado de tomar remédio, tudo, já tinha ido atrás do médico. Então não foi uma coisa

que aconteceu. É que a gente já queria mesmo, já fazia dois anos que eu já tava casada

e ai a gente já resolveu ter um filho. (E14)

O planejamento da gravidez corrobora o resultado de estudo realizado por

Nieto et al.,2012, no qual 27,6% das adolescentes referiram que suas gestações foram

planejadas. Também foram encontrados outros motivos como o desejo de ficar grávida,

fato de que o outro filho já estava crescendo, vontade de ter uma companhia, crença de

que estava na hora, reatamento do casal e idade do parceiro 23.

Page 27: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

27

Vincular a GA automaticamente à um fato indesejado, inconsequente,

desastroso, irresponsável e impulsivo dos jovens, é um equívoco, considerando que

algumas gestações na adolescência são desejadas, consequências dos distintos projetos

de vida, especialmente quando acontece no final da adolescência, entre 17 e 19 anos

24,23,16.

O acolhimento e vínculo duradouro são considerados decisivos na relação

de cuidado entre profissional de saúde e usuários, pois favorecem a construção da

autonomia perante responsabilização compartilhada e pactuada, corroborando com a

capacidade de compreensão e atuação sobre si mesmos e sobre o mundo que em que

vivem25. Assim, recomenda-se na atenção à saúde de adolescentes que sejam

enfatizados esses elementos, em relação à adolescente gestante.

A autonomia da adolescente em tomar decisão de maneira livre e

responsável sobre o seu corpo e sua vida deve ser valorizada e respeitada pelos

profissionais envolvidos tanto no planejamento das ações dos serviços de saúde como

no atendimento dessas usuárias, visto que os adolescentes estão em processo de

construção de si, aprendendo a se tornar pessoas adultas por meio das relações com os

pais, pares e parceiros afetivo-sexuais 6.

Imaginário e realidades da gravidez na adolescência.

As MA demonstraram surpresa frente à realidade vivenciada, muitas não

imaginavam que enfrentariam as dificuldades de adaptação e cuidado com o bebê,

cansaço, privação de sono e interrupção dos estudos às quais foram submetidas após o

nascimento do bebê, evidenciando assim a contradição entre a expectativa, o imaginário

e a realidade experimentada:

Pensei que fosse fácil, mas não é. [...]Eu pensei que não ia ter cólicas, essas

coisas... (E1)

Ah, eu achei que ia ser um pouquinho mais fácil assim né, mas é um

pouquinho mais difícil, né. (E7)

É não saber nada. [...] que a gente tá diferente do que a gente planejou. [...]

Eu achava que ia ser bem mais tranquilo. (E4)

O neném chora, o neném toda hora quer mama, machuca o peito, é bem

difícil! Não foi o que eu esperava! Eu fui bem surpreendida nesse sentido. (E10)

Page 28: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

28

Foi diferente do que eu pensava, por que no começo ela não mamava, eu

não consegui amamentar ela... no final assim do primeiro mês de vida dela eu quase

entrei em depressão... por que eu ficava aqui sozinha, minha mãe tinha ido embora.

Então não foi do jeito que eu pensava, já foi diferente. (E14)

Mães adolescentes com filhos de idades variadas se queixaram de

dificuldades. A fase puerperal é compreendida por intensas modificações de adaptação a

uma nova situação associada a alterações psico-orgânicas, juntamente com o processo

de involução dos órgãos reprodutivos à situação pregravídica, além do estabelecimento

da lactação e ocorrências de intensas alterações hormonais na mulher 26. Nesse sentido,

talvez a exacerbação dos sentimentos inerentes da fase puerperal não tenham um tempo

previsível para ser amenizado, se caracterizando por uma fase de adaptação, variações

hormonais, associado ao contexto sócio-cultural, que impactam nas reações e no

convívio social.

Os depoimentos relatados pelas gestantes pode ser compreendido como um

momento de crise existencial, sendo a adolescência uma fase composta por uma rápida

passagem da situação de filha para a de mãe27. No entanto, sabe-se que

independentemente da idade, o período pós-parto é uma fase desafiadora e a transição à

maternidade pode ser imprevisível, estressante e modificar a autoconfiança da mãe no

cuidado com o filho28.

Algumas observações durante as entrevistas foram registradas no diário de

campo: durante a entrevista com a adolescente E3, ao relatar sobre as dificuldades e

expectativas, depois de uma longa pausa, seus olhos lacrimejaram. O mesmo aconteceu

com as entrevistadas E4, E10, E14 e E15 que também se emocionaram ao falar das

dificuldades, o que evidencia a grande carga simbólica mobilizada pelos relatos.

[...] no começo é meio difícil, né. Por que dá muito medo [...] ás vezes a

gente pensa uma coisa e acaba sendo outra [...] (E6)

O medo ao prestar os cuidados também foi considerado como uma

dificuldade vivenciada, além da expectativa ser distinta da realidade. A possibilidade de

imaginar características para o bebê relaciona-se com a história passada e atual da

gestante, mas também com sua capacidade de representar os comportamentos que o

bebê lhe oferece 29.

Page 29: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

29

O cuidado materno pode ser considerado para algumas adolescentes uma

função bastante desafiadora, principalmente nesta etapa da vida, permeada pela

insegurança, o despreparo, a dependência, e a infantilidade, ou seja, os conflitos de

identidade peculiares dessa fase da vida contribuem para que as mesmas possam sentir-

se pouco competentes no cuidado com seus bebês 15.

(...) A noite me dava desespero eu acho que eu estava entrando em depressão, por que

começava a escurecer já me dava aquele desespero por que eu sabia que eu não ia

dormir à noite inteira. Foi bem difícil. (E10)

Várias foram as dificuldades descritas pelas MA neste estudo, e

frequentemente foram relacionados ao desespero, cansaço, sono comprometido,

privação da vida social e da liberdade, despreparo e inexperiência para cuidar da criança

associado ao desejo em cumprir bem o papel de mãe. A simultaneidade de sentimentos

vivenciados pelas mães adolescentes são características que também foram encontradas

no estudo de Zagonelli, et al., permeados por satisfação e acúmulo de encargos pelos

diferentes papéis assumidos, assim como impedimento de realizar atividades que antes

da gravidez conseguiam fazer, além da falta de convívio social, horas de sono,

dedicação exclusiva ao filho, os quais tornava a experiência diferenciada, porém

prazerosa 28.

Modificação dos projetos de vida

As MA relataram que a gravidez foi motivo para a interrupção ou adiamento

de seus projetos de vida.

[...] em relação mais do estudo, por que sempre, eu vou estar adiando, né.

Acho que essa é a maior dificuldade pra mim, por que eu gostava muito de estudar, eu

sempre fui bem na escola [...] eu tinha todo um plano pra esse ano estudar e me formar,

mas eu vi que vai adiar um pouquinho, mas... Eu tô começando a aceitar já. (E2)

[...] com a idade que eu tinha, eu tava querendo cumprir meu estudo, a

minha meta. (E4)

Ah, era difícil criar! E eu era uma criança e cuidar de outra era difícil, né.

Ai tinha que parar, larguei mão dos estudos pra cuidar da criança, parei de trabalhar.

Só pra cuidar da criança. (E8)

Page 30: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

30

Então é bem difícil ser mãe sozinha e muita responsabilidade, por que eu

deveria estar estudando, mas não... Estou cuidando de um bebê. É bem difícil! (E10)

Conforme observado por meio dos relatos, a interrupção dos estudos e

alteração dos projetos de vida afeta as adolescentes, queixa mencionada por jovens

mães em outros estudos como um dos principais efeitos sociais negativos relacionados à

GA13, 30.

A maternidade modificou o cotidiano das adolescentes entrevistadas neste

estudo, sendo relatadas noites mal dormidas, interrupção dos estudos e vida profissional.

Em um estudo realizado em Curitiba, as adolescentes relataram que se arrependeram,

mesmo em situações de gestações planejadas, comentando que se pudessem voltar atrás

teriam feito diferente13.

Vários são os motivos que culminam em abandono da escola30, as

adolescentes atribuíram o fato às dificuldades financeiras, falta de apoio da família ou

ausência do pai da criança e, não contando com esse apoio, as adolescentes são

obrigadas a assumir toda a responsabilidade no cuidado à criança30.

Contudo, observa-se a modificação do projeto de vida vinculada às perdas

interpretadas como interrupções que poderão ou não ser retomadas futuramente. Para

algumas adolescentes, interromper os estudos significava adiar ou até mesmo excluir

sonhos que tinham na vida 21. Com base nos achados deste e dos estudos mencionados,

pode-se afirmar que as expectativas das gestantes adolescentes em relação ao futuro

dizem respeito principalmente à questão educacional e profissional.

De acordo com Ximenes Neto, et al14 frequentemente a GA ocasiona a

destruição de planos, além de protelar os sonhos, favorecendo a ocorrência de (des)

ajustamento social, familiar e escolar, podendo favorecer a depressão e em muitos casos

resultar em tentativa de aborto ou suicídio. Contudo, as demandas da maternidade serão

mais ou menos penosas dependendo dos recursos e da rede de apoio social disponíveis,

e assim, tanto mulheres adultas como adolescentes, primíparas ou multíparas,

necessitam de pessoas que compartilhem estas demandas e as apoiem para que

consigam se fortalecer e superar as dificuldades encontradas neste período 16.

Motivação para a gravidez associada ao desejo de mudança de vida e fuga

Page 31: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

31

As adolescentes expressam suas motivações para a gravidez como

possibilidade de reconhecimento, modificação de sua realidade social, fuga da casa dos

pais e conquista de autonomia, além da motivação de vida como o desejo de ser mãe.

[...] eu não sabia o que era ir no shopping, meu pai não deixava eu sair de

casa, mas ai agora depois que eu casei, depois que eu tô morando junto com o pai da

minha filha que eu tô saindo mais de casa [...] Então, foi aonde que eu comecei a

namorar foi aonde que eu quis parar de estudar, foi aonde eu já falei: a eu quero ser

mãe e ai foi vim, entendeu? (E5)

Ah... eu não fico sozinha em casa...tenho uma companhia boa... que ai eu

brinco com ela também, vamos andar.(E7)

A fuga do convívio com familiares também foi citado e entendido como

uma motivação para a gravidez.

[...]foi bom que eu saí daquela vida que eu tava, também. Sei lá eu... tava

muito desanimada, sabe assim... eu não sei explicar. É... quando eu tava na casa do

meu pai, da minha mãe assim sabe sem ter ele eu não era bem, ai depois que eu tive ele

foi mudando minha vida. Parece que subiu sei lá o que, eu tô mais bem. (E16)

O desejo de ter uma casa para morar, representava a possibilidade da

liberdade para fazer tudo o que não era possível fazer morando na casa dos pais ou dos

parentes, fato também encontrado no estudo de Hoga21, logo o fato de ficar grávida, foi

considerado como uma “solução” para os problemas enfrentados pelas adolescentes no

contexto familiar.

Na literatura foram encontrados outros estudos acerca da motivação para

GA, referindo que as atitudes para com a gravidez são mal compreendidas, e os

significados atribuídos a ela podem ser distintos para cada pessoa, dependendo da sua

inserção familiar e social, assim como o uso impróprio de contracepção podendo

resultar de atitudes ambíguas ou positivas em relação a gravidez e maternidade na

adolescência 22, 21.

O desejo de engravidar surge como a concretização de um projeto

idealizado de ter um filho. Contudo, o desejo de tornar-se independente, mulher e adulta

é confrontado com a angústia pela perda de proteção, expressando as vulnerabilidades

próprias da fase em desenvolvimento 31.

Page 32: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

32

Rede de apoio e proteção

Os relatos nesta categoria apontam para a importância da rede de apoio e

proteção neste momento, seja da própria família, do parceiro e de sua família e dos

amigos. Em algumas das falas, essa rede de pessoas foi considerada como um efeito

protetor e também fundamental para a superação dos desafios e adaptação à nova

condição de ser mãe:

[...] mas o que me ajudou muito é que já tinha meninas grávidas dentro da

escola, então isso me tranquilizou bastante [...] eu tive apoio das duas famílias, né,

tanto da minha quanto do pai dela, então foi bem tranquilo, foi bem aceitável. (E2)

Se não tiver ninguém pra apoiar, pra ajudar, pra te incentivar, você não

vai, você pensa em desistir. Mas eu tive o apoio da família do meu marido e foi aonde

eu consegui me estabelecer e estabilizar, então eu consegui cuidar deles com ajuda

deles, da minha família. (E4)

A inexperiência para o cuidado com o bebê também é um desafio para as

jovens mães, uma vez que cuidar do filho foi considerado como um aprendizado diário,

uma busca pela superação e até mesmo uma afirmação da condição de mãe:

A gente é novo não sabe exatamente muito bem como é que cuida. [...] tem

umas coisa que eu não sei, mas a mãe explica pra mim. (E3)

A relevância da rede de apoio também foi considerada essencial em outro

estudo para que as jovens mães aprendessem a cuidar dos filhos e estivessem atentas às

suas necessidades30. Porém, em algumas circunstâncias as adolescentes não podem

usufruir dessa rede, uma vez que se sentem envergonhadas, culpadas e têm dúvidas

quanto ao seu futuro e ao de seu filho, sentimentos muitas vezes resultados do modo em

que são tratadas 24.

Após o encerramento da entrevista com a com a entrevistada E16, a mesma

perguntou se poderia esclarecer algumas dúvidas, e no decorrer desses esclarecimentos

a pesquisadora pode observar a carência de informação sobre sua saúde sexual e

reprodutiva, além da decepção que a mesma demostrava em relação ao seu parceiro,

principalmente pela falta de apoio durante o período puerperal, sendo que todas essas

observações foram registradas no diário de campo. Vale ressaltar que dentre todas as

entrevistadas, duas haviam rompido o relacionamento com o pai da criança, porém,

Page 33: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

33

muitas que estavam em união estável também não contavam com apoio do parceiro para

os cuidados com o bebê.

O estudo apresentou limitações, pois abrangeu algumas adolescentes que

possuíam mais de um filho e possivelmente tinha uma percepção diferente daquelas que

vivenciavam a maternidade pela primeira vez. Além, de que as entrevistas foram

realizadas com mães vivenciando fases distintas do pós-parto, o que também pode ter

influenciado nas percepções. E também pelo fato de ser estudo qualitativo e

exploratório, o qual impossibilita fazer inferências para a população como um todo.

Também foram encontradas algumas dificuldades para realização deste

estudo, pois durante algumas visitas domiciliares quatro adolescentes não estavam

sozinhas em casa, haviam outras pessoas em cômodos próximos ou que passavam pela

sala no momento da entrevista e pode ter havido um viés das informações e interferido

nas respostas fornecidas pelas mesmas.

Acredita-se que o presente estudo contribuirá para que ocorram melhorias

nas ações educativas pelos profissionais de saúde, permitindo que ações intersetoriais

possam acontecer de modo complementar, considerando a subjetividade do adolescente,

com ações educativas contemporâneas, evitando somente a transmissão bancária, mas

sim que ocorra de forma que possa gerar reflexões sobre a gravidez e suas

consequências, visando o empoderamento principalmente da adolescente na tomada de

decisão.

Espera-se que os resultados despertem o interesse pela realização de novos

estudos acerca do período puerperal para todas as faixas etárias, principalmente durante

a adolescência e colabore com a inserção deste assunto durante os encontros, grupos e

atendimentos realizados no pré-natal, visto que a maternidade ainda é um assunto que

envolve muitos mitos, além de ser bastante romantizada e também é um tema de grande

invisibilidade na sociedade, o que impossibilita a disseminação real das informações

inerentes a essa fase tão complexa.

Pressupõe-se também, que o estudo oferecerá um subsidio para que os

profissionais de saúde possam repensar sobre suas abordagens e práticas profissionais

em relação aos adolescentes nas UBS.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Page 34: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

34

As evidências do presente estudo colaboraram para o desenvolvimento dos

objetivos e hipóteses iniciais. Foi possível ampliar a compreensão sobre a vivência da

maternidade repleta de expectativas e sentimentos relacionados à realização de um

sonho, aprendizado, crescimento pessoal, além dos diversos desafios. Apesar de estarem

vivenciando um momento difícil, muitas MA parecem lidar bem com a complexidade

inerente à maternidade, principalmente quando contam com suficiente apoio social.

Espera-se que os resultados deste estudo corroborem com estratégias e

programas de saúde destinados à população jovem, que visem não só prevenir a

gravidez não planejada, como também ofertar suporte à adolescente ou ao casal perante

o desejo de engravidar, além, de apoiar o período puerperal, visto que é sentido como

um período crítico na vida das mães.

Colaboradores

ECF trabalhou na concepção do estudo, coleta e análise de dados e redação do artigo;

JVB, BVCG, PATL e LMG participaram da análise de dados e revisão do artigo; MJB

trabalhou na concepção do estudo e delineamento da pesquisa e revisão do artigo.

REFERÊNCIAS

1. Ferreira EB, Veras JLA, Brito SA, Gomes EA, Mendes JPA, Aquino JM. Causas

predisponentes à gestação entre adolescentes. Revista de pesquisa cuidado é

fundamental On line. 2014 Out-dez. [acessado em 2018 mar 12]; 6(4): [cerca de 9 p.].

Disponível em: http://www.redalyc.org/pdf/5057/505750770024.pdf

2. Silva AAA, Coutinho IC, Katz L, Souza ASR. Fatores associados à recorrência da

gravidez na adolescência em uma maternidade escola: estudo caso-controle. Cad Saúde

Pública 2013; 29(3): 496-506.

3. World Health Organization. El embarazo en la adolescencia. 23 de febrero de 2018.

[acesso em 2018 Jun 21]. Disponível em: http://www.who.int/es/news-room/fact-

sheets/detail/adolescent-pregnancy

4. Organización Panamericana de la Salud, Fondo de Población de las Naciones Unidas y

Fondo de las Naciones Unidas para la Infancia. Acelerar el progreso hacia la reducción

del embarazo en la adolescencia en América Latina y el Caribe. Informe de consulta

técnica 29-30 agosto 2016. Washington, D.C., Estados Unidos de América. 2018

[acesso em 2018 Jun 18]. Disponível em:

Page 35: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

35

http://iris.paho.org/xmlui/bitstream/handle/123456789/34853/9789275319765_spa.pdf?

sequence=1&isAllowed=y

5. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações

Programáticas e Estratégicas. Proteger e cuidar da saúde de adolescentes na atenção

básica [recurso eletrônico]. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde,

Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Brasília: Ministério da Saúde,

2017. 234 p. [acesso em: 2018 Jul 19]. Disponível em:

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/proteger_cuidar_adolescentes_atencao_basic

a.pdf

6. Brandão ER, Heilborn ML. Sexualidade e gravidez na adolescência entre jovens de

camadas médias do Rio de Janeiro, Brasil. Cad Saúde Pública. 2006 jul; 22(7):1421-30.

7. Shah PS, Balkhair T, Ohlsson A, Beyene J, Scott F, Frick C. Intention to become

pregnant and low birth weight and preterm birth: a systematic review. Matern Child

Health J. 2011; 15(2):205–16. [acessado em 2018 Jun 20]. Disponível em:

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20012348

8. Santos NLAC, Costa COM, GB, Almeida AHV. Gravidez na adolescência: análise de

fatores de risco para baixo peso, prematuridade e cesariana. Cien Saúde Coletiva. 2014;

19(3): 719-26.

9. Martinez EZ, Roza DL, Guimarães MCG, Bava C, Achcar JA, Fabbro ALD. Gravidez

na adolescência e características socioeconômicas dos municípios do Estado de São

Paulo, Brasil: análise espacial. Cad. Saúde Pública. 2011 mai; 27(5):855-67.

10. Costa TJNM, Heilborn ML. Gravidez na adolescência e fatores de risco entre filhos de

mulheres nas faixas etárias de 10 A 14 E 15 A 19 ANOS em Juiz de Fora, MG. Revista

APS. 2006 jan/jun; 9(1): 29-38.

11. Silva NND, Chaves LN, Chaves LN, Rego AD, Araújo DB. Análises de parto em

adolescentes e repercussões perinatais em uma maternidade pública na Amazônia.

Adolesc. Saúde. 2018 Jan/mar;15(1):50-57.

12. Heilborn ML, Salem T, Rohden F, Brandão E, Knauth D, Víctora C, Aquino A,

McCallum C, Bozon M. Aproximação socioantropológicas sobre a gravidez na

adolescência. Horizontes Antropológicos. 2002 Junho; 8(17): 13-45.

Page 36: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

36

13. Taborda JA, Silva FC, Ulbricht L, Neves EB. Consequências da gravidez na

adolescência para as meninas considerando-se as diferenças socioeconômicas entre elas.

Cad Saúde Colet. 2014; 22(1): 16-24.

14. Ximenes Neto FRG, Dias MSA, Rocha J, Cunha ICKO. Gravidez na adolescência:

motivos e percepções de adolescentes. Revista Brasileira de Enfermagem. 2007 Maio -

junho; 60(3):279-285.

15. Guedes PCW, Marques TB, Assunção CFD, Silva MA, Barbosa LNF. Representação

social, ansiedade e depressão em adolescentes puérperas. Rev. SBPH. 2012 Jan/jun;

15(1).

16. Cabral FB, Oliveira DLLC. Vulnerabilidade de puérperas na visão de Equipes de Saúde

da Família: ênfase em aspectos geracionais e adolescência. Rev Esc Enferm USP. 2010;

44(2):368-75.

17. Minayo MC, Gomes SFDR. Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. 34 ed.

Petrópolis: Vozes; 2015.

18. Gomes R. Análise e interpretação de dados de pesquisa qualitativa. In: Minayo MCS,

organizadores. Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes; 2015.

p. 79-108.

19. Fontanella BJB, Luchesi BM, Saidel MGB, Ricas J, Turato ER, Melo DG. Amostragem

em pesquisas qualitativas: propostas de procedimentos para constatar saturação teórica.

Cad Saúde Pública. 2011 Fev; 27(2):389-394.

20. Fontanella BJB, Ricas J, Turato ER. Amostragem por saturação em pesquisas

qualitativas em saúde: contribuições teóricas. Cad Saúde Pública. 2008 Jan; 24(1):17-

27.

21. Hoga LAK. Maternidade na adolescência em uma comunidade de baixa renda:

experiências reveladas pela história oral. Rev Latino Am Enferm. 2008 Mar/Abr; 16(2):

280-6.

22. Nieto CA, Moreno GP, Abada ML, Martos JS y Olalla LR. Motivaciones para el

embarazo adolescente. Gac Sanit. 2012; 26(6):497–503.

23. Belo MAV e Silva JLP. Conhecimento, atitude e prática sobre métodos

anticoncepcionais entre adolescentes. Rev Saúde Pública. 2004; 38 (4):479-87.

Page 37: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

37

24. Pariz J, Mengarda CF, Frizzo GB. A Atenção e o cuidado à gravidez na adolescência

nos âmbitos Familiar, Político e na Sociedade: uma revisão da literatura. Saúde Soc.

2012; 21(3):623-36.

25. Jorge MSB, Pinto DM, Quinderé PHD, Pinto AGA, Sousa FSP, Cavalcante CM.

Promoção da Saúde Mental – Tecnologias do Cuidado: vínculo, acolhimento, co-

responsabilização e autonomia. Cien Saúde Colet . 2011; 16 (7): 3051-60.

26. Patine FS, Furlan MFFM. Diagnósticos de enfermagem no atendimento a puérperas e recém-

nascidos internados em alojamento conjunto. Arq Ciênc Saúde. 2006;13(4):202-8.

27. Moreira TMM, Viana DS, Queiroz MVO, Jorge MSB. Conflitos vivenciados pelas

adolescentes com a descoberta da gravidez. Rev Esc Enferm USP. 2008; 42(2):312-20.

[acessado em 2018 Jun 07]. Disponível em: http://www.scielo.brpdf/reeusp

/v42n2/a14.pdf.

28. Zagonelli IPS, Martins M, Pereira KF, Athayde J. O cuidado humano diante da

transição ao papel materno: vivências no puerpério. Revista Eletrônica de Enfermagem.

2003;5(2):24–32. [acesso 2008 Jul 18]. Disponível em: http:/www.fen.ufg.br/revista.

29. Piccinini A C, Ferrari AG, Levandoswski DC, Lopes RS e Nardi TC. O Bebê

imaginário e as expectativas quanto ao futuro do filho em gestantes adolescentes e

adultas. Universidade São Marcos São Paulo, Brasil. Interações. 2003 Jul/Dez;

VIII(16):81-108.

30. Santos RCAN, Raimunda MS, Queiroz MVO, Jorge HMF, Brilhante AVM. Realidades

e perspectivas de mães adolescentes acerca da primeira gravidez. Revista Brasileira de

Enfermagem [Internet]. 2018; 71 (1): 73-80.

31. Albuquerque Souza AX, Nobrega SM, Coutinho MPL. Representações sociais de

adolescentes grávidas sobre a gravidez na adolescência. Psicologia e Sociedade. 2012;

24(3): 588-596.

Page 38: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

38

3 DISCUSSÃO

A relevância do presente estudo foi conhecer as percepções, expectativas e

experiências acerca da maternidade na adolescência, e verificada a necessidade de

continuar estudos que compreendam melhor o papel social da adolescente grávida, visto

que algumas entrevistadas demostraram o desejo da gravidez e a união com o parceiro

como fuga do ambiente familiar. Existem esforços para reduzir a gravidez na

adolescência, mas estes esforços devem ser mais embasados na realidade das

adolescentes e nas percepções que as mesmas têm do processo de se tornarem mães,

esta compreensão pode ser de grande relevância na elaboração de estratégias e políticas

de saúde.

O presente estudo possibilita uma reflexão aos profissionais de saúde quanto

às suas abordagens e práticas profissionais em relação aos adolescentes nas UBS, visto

que a formação profissional ainda está pautada na postura autoritária, se contrapondo às

reais demanda do Universo da Atenção Primária em Saúde, ou seja, a vivência, o modo

como os profissionais veem a gravidez na adolescência está intimamente relacionado ao

desfecho dos trabalhos educativos, assim como o estabelecimentode vínculo entre

equipe de saúde e usuários.

Considerar o universo de percepções das mães adolescentes possibilita

observar que estratégias de prevenção, uso de métodos contraceptivos, estratégias de

empoderamento da menina e estímulo de perspectivas de futuro podem sensibilizar mais

as adolescentes a esperar o momento mais adequado para uma gravidez.

De acordo com estudo realizado percebe-se na fala de algumas adolescentes

que a gravidez aconteceu sem conhecimento prévio dos desafios que a maternidade,

principalmente precoce apresenta, os quais envolvem aspectos físicos, emocionais e

culturais, além da não aceitação pela sociedade.

Page 39: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

39

Na percepção das adolescentes em relação às expectativas e dificuldades da

gravidez houve relatos de falta do conhecimento e experiência em cuidar do bebê,

privação do sono, cansaço constante, interrupção dos estudos e projetos de vida.

Portanto, convidar a adolescente para o diálogo e incentivá-la à reflexão

possivelmente permitirá que a mesma expresse seus sentimentos e desejos e assim

auxiliá-las no processo de tomada de decisão das prioridades em suas vidas, visto que

muitas relataram com pesar a interrupção dos estudos e projetos de vida.

O maior impacto que as adolescentes relataram foi a surpresa de que com o

nascimento do bebê, tudo era diferente que elas imaginavam que seria, portanto, o

imaginário foi totalmente distinto da realidade vivenciada, a qual foi permeada por

muita dificuldade de adaptação, além da restrição ao ambiente domiciliar devido à

demanda que o bebê exige.

Notou-se também um grande desejo em cumprir bem o papel de mãe,

assumir suas responsabilidades, além do envolvimento afetivo com o bebê. Sendo a

rede apoio fundamental para que a adolescente consiga superar esses desafios.

Diante disto, o estudo contribui para que ações preventivas e intersetoriais

possam ser articuladas, programadas e realizadas em rede pelos serviços oferecidos pelo

município, como acesso ao lazer, cultura, esporte possibilitando não somente a

ampliação de informações mas principalmente momentos para troca de experiência e

reflexões sobre essa temática. Permite também que profissionais de saúde e educação

aprimorem a educação em saúde, não de forma a transmitir informações, mas sim

envolver os adolescentes a compartilhar suas experiências, desejos, propiciando

reflexão e empoderamento permitindo assim que eles sejam capazes planejar

efetivamente seu futuro.

Page 40: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

40

4 CONCLUSÃO

As evidências do presente estudo apoiam a expectativa inicial, a qual

sugeria que muitas adolescentes engravidavam sem conhecimento dos desafios que a

maternidade prematura apresenta e que as mães adolescentes se surpreendem (chocam)

com uma realidade diferente da qual imaginavam, mesmo aquelas que relataram que

gravidez foi planejada e desejada.

Constatou-se que para essas mães adolescentes a vivência da maternidade é

repleta de expectativas e sentimentos, e o quanto as suas percepções e experiências

sobre sua maternidade são relatadas como a realização de um sonho, aprendizado,

crescimento pessoal permeada por diversos desafios da maternidade e apesar de estarem

vivenciando um momento difícil, muitas mães adolescentes parecem lidar bem com a

complexidade inerente à maternidade principalmente quando contam com apoio social.

A maternidade demonstrou ser um evento muito significativo na vida delas,

e possivelmente está relacionada ao desejo prévio de ser mãe favorecendo assim o seu

desenvolvimento e sua identidade social, como observado em alguns relatos.

Compreender estes aspectos pode auxiliar estratégias de abordagem da

gravidez e sexualidade na adolescência prevenindo que este acontecimento de forma

não planejada.

Page 41: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

41

REFERÊNCIAS*

1. Brandão ER, Heilborn ML. Sexualidade e gravidez na adolescência entre jovens

de camadas médias do Rio de Janeiro, Brasil. Cad Saúde Pública. 2006 jul; 22(7):1421-

30.

2. Brasil. Ministério da Saúde. Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e

Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Diretoria de Pesquisas

Coordenação de População e Indicadores Sociais. Pesquisa Nacional de Saúde do

Escolar: 2015; 2016 132 p.

3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de

Ações Programáticas e Estratégicas. Proteger e cuidar da saúde de adolescentes na

atenção básica [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à

Saúde, Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. – Brasília: Ministério da

Saúde; 2017 234 p. [acesso 2018 Jul 19]. Disponível em:

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/proteger_cuidar_adolescentes_atencao_basic

a.pdf

4. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção em Saúde. Departamento de

Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde

de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde. / Ministério da

Saúde, Secretaria de Atenção em Saúde, Departamento de Ações Programáticas

Page 42: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

42

Estratégicas, Área Técnica de Saúde do Adolescente e do Jovem. – Brasília: Ministério

da Saúde, 2010. 132 p. ISBN: 978-85-334-1680-2

5. Brasil. Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Diretoria de Pesquisas Coordenação de

População e Indicadores Sociais. Estudos e pesquisas, Informação demográfica e

socioeconômica n. 36. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida

da população brasileira: 2016; Rio de Janeiro, 2016 146 p.

6. Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística - IBGE Diretoria de Pesquisas Coordenação de População e

Indicadores Sociais. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2012. Rio de Janeiro 2013.

7. Brasil. Ministério da Saúde. Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e

Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Diretoria de Pesquisas

Coordenação de População e Indicadores Sociais. Pesquisa Nacional de Saúde do

Escolar: 2015. Rio de Janeiro, 2016 132 p.

8. Cabral FB, Oliveira DLLC. Vulnerabilidade de puérperas na visão de Equipes de

Saúde da Família: ênfase em aspectos geracionais e adolescência. Rev Esc Enferm USP.

2010; 44(2):368-75.

9. Costa TJNM, Heilborn ML. Gravidez na adolescência e fatores de risco entre

filhos de mulheres nas faixas etárias de 10 a 14 e 15 a 19 anos em Juiz de Fora, MG.

Revista APS. 2006 jan/jun; 9(1): 29-38.

* De acordo com as normas da UNICAMP/FOP, baseadas na padronização do

International Committee of Medical Journal Editors - Vancouver Group. Abreviatura dos

periódicos em conformidade com o PubMed.

Page 43: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

43

10. Ferreira EB, Veras JLA, Brito SA, Gomes EA, Mendes JPA, Aquino JM. Causas

predisponentes à gestação entre adolescents. Revista de pesquisa cuidado e fundamental

on line. Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2014 Out/dez; 6(4):1571-79.

11. Ferreira RC, Fiorini VML, Crivelaro E. Formação profissional no SUS: o Papel

da Atenção Básica em Saúde na Perspectiva docente. Revista Brasileira de Educação

Médica. 2010; 34(2): 207-15.

12. Governo do Estado de São Paulo. Fundação Sistema Estadual de Análise de

Dados (SEAD). Portal de Estatísticas do Estado de São Paulo. 2017 [acesso 2018 maio

15]. Disponível em: https://www.seade.gov.br/

13. Heilborn ML, Salem T, Rohden F, Brandão E, Knauth D, Víctora C, Aquino A,

McCallum C, Bozon M. Aproximação socioantropológicas sobre a gravidez na

adolescência. Horizontes Antropológicos. 2002 Junho; 8 (17): 13-45.

14. Lima JLO, Manini MP. Metodologia para análise de conteúdo qualitativa

integrada à técnica de mapas mentais com o uso dos softwares NVIVO e FREEMIND.

Inf., Londrina. 2016 Set/dez; [acesso em 2018 jan 13]. 21(3):63-100. Disponível em:

www.uel.br/revistas/informacao.

15. Martinez EZ, Roza DL, Guimarães MCG, Bava C, Achcar JA, Fabbro ALD.

Gravidez na adolescência e características socioeconômicas dos municípios do Estado

de São Paulo, Brasil: análise espacial. Cad. Saúde Pública. 2011 mai; 27(5):855-67.

16. Minayo MC, Gomes SFDR. Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. 34

ed. Petrópolis: Vozes; 2015.

17. Nieto CA, Moreno GP, Abada ML, Martos JS y Olalla LR. Motivaciones para el

embarazo adolescente. Gac Sanit. 2012; 26(6):497–503.

Page 44: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

44

18. Organización Panamericana de la Salud, Fondo de Población de las Naciones

Unidas y Fondo de las Naciones Unidas para la Infancia. Acelerar el progreso hacia la

reducción del embarazo en la adolescencia en América Latina y el Caribe. Informe de

consulta técnica 29-30 agosto 2016. Washington, D.C., Estados Unidos de América.

2018 [acesso em 2018 Jun 18]. Disponível em:

http://iris.paho.org/xmlui/bitstream/handle/123456789/34853/9789275319765_spa.pdf?

sequence=1&isAllowed=y

19. Piccinini CA, Gomes AG, Nardi T, Lopes RS. Gestação e a Constituição da

Maternidade. Psicologia em Estudo. 2008 Jan/Mar; 13(1):63-72.

20. Santos NLAC, Costa COM, GB, Almeida AHV. Gravidez na adolescência:

análise de fatores de risco para baixo peso, prematuridade e cesariana. Cien Saúde

Colet. 2014; 19(3): 719-26.

21. Secura GM, Madden T, McNicholas C, Mullersman J, Buckel CM, Zhao Q,

Peipert JF. Provision of No-Cost, Long-Acting Contraception and Teenage Pregnancy.

The N Engl J Med. 2014 Oct; 371(14): 1.316-23.

22. Shah PS, Balkhair T, Ohlsson A, Beyene J, Scott F, Frick C. Intention to become

pregnant and low birth weight and preterm birth: a systematic review. Matern Child

Health J. 2011; 15(2):205–16. [acesso 2018 Jun 20]. Disponível em:

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20012348

23. Silva AAA, Coutinho IC, Katz L, Souza ASR. Fatores associados à recorrência

da gravidez na adolescência em uma maternidade escola: estudo caso-controle. Cad

Saúde Pública. 2013; 29(3): 496-506.

24. Socolov DG, Iorga M, Carauleanu A, Ilea C, Blidaru I, Boiculese L, Socolov R.

Pregnancy during Adolescence and Associated Risks: An 8-Year Hospital-Based

Page 45: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

45

Cohort Study (2007–2014) in Romania, the Country with the Highest Rate of Teenage

Pregnancy in Europe. Hindawi BioMed Research International. 2017; Article

ID9205016, 8 pages. [acesso 2018 Abr 05]. Disponível

em:https://doi.org/10.1155/2017/9205016

25. Turato ER. Métodos qualitativos e quantitativos na área da saúde: definições,

diferenças e seus objetivos de pesquisa. Cad Saúde Pública. 2005; 39 (3): 509-14.

26. World Health Organization. El embarazo en la adolescencia. 23 de febrero de

2018. [acesso 2018 Jun 21]. Disponível em: http://www.who.int/es/news-room/fact-

sheets/detail/adolescent-pregnancy

APÊNDICES

APÊNDICE 1- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Introdução: Estamos realizando uma pesquisa pela Faculdade de

Odontologia de Piracicaba – FOP, que tem o seguinte título: “Gravidez na adolescência:

uma pesquisa qualitativa”. As pesquisadoras deste estudo são Élica Cancian Feltran,

enfermeira e Marília Jesus Batista de Brito Mota. Convidamos você se foi gestante e

tem entre 18 e 19 anos para participar, ou caso seja responsável pela adolescente que

ficou grávida e é de menor idade, solicitamos a sua autorização para que ela participe.

Justificativa: Considerando o comportamento sexual cada vez mais cedo e

a alta taxa de gravidez na adolescência constatamos a necessidade de conhecer a

motivação e impacto de uma gravidez na adolescência, além do conhecimento sobre os

métodos que evitam a gravidez.

Objetivo: O objetivo deste estudo é conhecer a motivação das gestantes

adolescentes em relação à gravidez, além do conhecimento sobre os métodos que

evitam a gravidez e impacto de uma gravidez na adolescência.

Procedimentos e Metodologias: Você poderá participar desta pesquisa

após assinar este documento. Para o estudo será realizado a aplicação de um

questionário com questões pessoais, que você deve responder de forma sincera, pois não

existem respostas certas ou erradas, e todas as informações sobre a identidade das

participantes serão sigilosas. As entrevistas serão gravadas em gravadores portáteis,

sendo que as gravações serão manipuladas e ouvidas somente pelas pesquisadoras, que

farão a passagem das falas da entrevista para o papel. Após conclusão desse processo

(transcrição, análise dos dados e conclusão da pesquisa) todas as gravações serão

apagadas.

Possibilidade de inclusão em grupo controle: Não haverá grupo controle,

pois, todos voluntários participarão igualmente da entrevista.

Page 46: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

46

Métodos alternativos para obtenção da informação: Não há métodos

alternativos para obtenção das informações pretendidas.

Descrição de desconfortos e riscos: A pesquisa não apresenta riscos, visto

que se trata de uma entrevista, porém, durante a entrevista poderá surgir reflexões sobre

ser mãe na adolescência e gerar desconfortos, portanto, se necessário a entrevistada será

encaminhada para atendimento psicológico na Unidade Básica de Saúde. Em caso de

constrangimento e/ou desconforto a senhora terá total liberdade para não participar da

atividade proposta de entrevista.

Descrição dos Benefícios e vantagens diretas ao voluntário: Não há

remuneração, benefícios e ou vantagem direto a participante.

Forma de acompanhamento e assistência ao sujeito: O pesquisador se

compromete a fornecer quaisquer informações que o (a) Senhor (a) achar necessária.

Forma de contato com os pesquisadores ou com o CEP: Em caso de

dúvida ou alguma outra questão que queira conversar com a (s) pesquisadora (s), entre

em contato pelo telefone (19) 982024546 ([email protected]) ou na Unidade

Básica de Saúde de Divinolândia. Em caso de dúvida quanto aos seus direitos como

sujeito de pesquisa entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade

de Odontologia de Piracicaba (Avenida Limeira 901 – Areião, Piracicaba, SP), e-mail:

[email protected] ou site http://www.fop.unicamp.br/cep/index.htm ou ainda pelo

telefone/fax (19) 2106-5349.

Garantia de esclarecimentos: As participantes poderão receber os

esclarecimentos que se fizerem necessários com os pesquisadores responsáveis, relativos

aos objetivos da pesquisa e a utilização das informações, bem como a garantia de que

suas identidades não serão reveladas.

Garantia de recusa à participação ou saída do estudo: as participantes terão a liberdade de sair da pesquisa a qualquer momento sem que haja qualquer

penalidade ou prejuízo ao seu atendimento nesta unidade de saúde.

Garantia de sigilo: A voluntária tem garantia de não ser identificada, pois

será mantido o caráter confidencial das informações referentes à sua privacidade.

Garantia de ressarcimento: Não haverá ressarcimento de gastos para os

participantes da pesquisa uma vez que a pesquisadora estará na Unidade Básica de

Saúde para sua consulta de rotina, local onde ocorre os atendimentos de saúde

independentemente da realização da pesquisa, portanto, o gasto que o indivíduo teria

para transporte até a UBS para atendimento seria o mesmo caso o indivíduo não

participe da pesquisa.

Previsão de indenização e de medidas de reparação: Não está prevista

qualquer forma de indenização visto que não há gastos ou riscos físicos. Se necessário a

entrevistada será encaminhada para atendimento psicológico na Unidade Básica de

Saúde.

Garantia da entrega de via: O participante receberá uma cópia deste

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que possui 2 folhas.

Esperando contar com sua gentil colaboração, desde já agradecemos. Em

caso de dúvidas ou maiores esclarecimentos, a qualquer momento da pesquisa, entrar

em contato com a Profa. Dra. Marília Jesus Batista de Brito Mota (11-39641014) ou

enfermeira Élica Cancian Feltran (19-982024546). Todas as páginas do TCLE serão

rubricadas ou assinadas pelo pesquisador e participante.

Consentimento livre e esclarecido:

Page 47: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

47

Eu, __________________________________________________________, portador

do RG______________________ e CPF____________________________, telefone

______________________certifico que tendo lido o documento acima exposto e,

suficientemente esclarecida, estou plenamente de acordo em participar da pesquisa

permitindo a realização da entrevista. Estou ciente que os resultados obtidos serão

publicados para difusão do conhecimento científico e que a identidade do voluntário será

preservada. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas.

Por ser verdade, firmo o presente.

Divinolândia - SP, Data: ______/_____/________ .

Nome do participante: ___________________________________________

Assinatura do (a) responsável: _____________________________________

Assinatura da pesquisadora: ______________________________________

1ª via – Pesquisadora

2ª via – Voluntária

APÊNDICE 2: TERMO DE ASSENTIMENTO

Gravidez na adolescência: uma pesquisa qualitativa

O objetivo desta pesquisa é conhecer como é a experiência de se tornar mãe

na adolescência, por isso estamos convidando para participar da pesquisa entre

adolescentes de 12 a 19 anos que já passaram pela experiência de ser mãe. As

pesquisadoras deste estudo são Élica Cancian Feltran, enfermeira e Marília Jesus Batista

de Brito Mota, dentista.

Se você quiser participar, você deverá entender os objetivos da pesquisa,

concordar e assinar este termo e depois realizaremos uma entrevista, ou seja, faremos

algumas perguntas pessoais sobre o processo de ser mãe durante a adolescência. Essa

entrevista será gravada e depois todas as informações serão escritas, porém, a sua

identidade será preservada e ninguém que estiver lendo a pesquisa saberá que é você,

portanto, pedimos que você responda as perguntas de forma sincera, pois não existem

respostas certas ou erradas, todas são importantes. Quando todo o processo estiver

concluído essas gravações serão apagadas e nenhum áudio será divulgado.

A pesquisa não oferece riscos físicos, por se tratar de uma entrevista,

porém, durante a entrevista você poderá pensar sobre algumas situações e se sentir

desconfortável, se isso acontecer com alguma pergunta fique a vontade para não

respondê-la. Também precisaremos da autorização dos seus pais ou responsáveis, mas,

se você não desejar fazer parte da pesquisa, não é obrigada, até mesmo se seus pais

concordarem. Nada mudará no seu atendimento na Unidade Básica de Saúde e se disser

"sim" agora, poderá mudar de ideia depois, sem nenhum problema.

Você não terá nenhum gasto para participar da pesquisa e também não

receberá nenhum valor em troca, sua participação é voluntária e não terá nenhum

benefício direto com a pesquisa. Caso tenha alguma dúvida e queira que eu explique

mais detalhadamente, por favor, peça que pare a qualquer momento e eu explicarei. Se

precisar conversar com as pesquisadoras ou com o Comitê de Ética em Pesquisa- CEP

da FOP deixo os contatos: Élica (19) 3663-8100 ramal 205, [email protected]

Page 48: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

48

ou no Posto de Saúde de Divinolândia e Profa. Dra.Marília (11)3964-1014. Comitê

FOP-Unicamp, Av Limeira 901 CEP13414-903, Piracicaba–SP, (19) 2106-5349,

[email protected] e www.fop.unicamp.br/cep.

A participante receberá uma cópia deste Termo de Assentimento assinada

pela pesquisadora.

Eu,__________________________________________________________, portador do

RG _______________________ e CPF _________________________, telefone

_______________ entendi que a pesquisa é sobre gravidez na adolescência e que

participarei de uma entrevista, certifico que realizei a leitura do documento acima

exposto e, minhas dúvidas foram esclarecidas. Estou plenamente de acordo em participar

da pesquisa permitindo a realização da entrevista. Estou ciente que os resultados obtidos

serão publicados e a identidade da voluntária será preservada e que este Termo será

assinado pela pesquisadora e participante.

Por ser verdade, firmo o presente. Data: ______/_____/____.

Assinatura: __________________________________________________

APÊNDICE 3: ROTEIRO SEMI-ESTRUTURADO

Poderia me contar como foi sua gravidez?

Essa gravidez foi planejada?

As expectativas que você tinha com a gravidez foram correspondidas enquanto

mãe?

Quais as dificuldades de ser mãe na sua idade?

Você imaginava que passaria por estas dificuldades?

E se soubesse das dificuldades, você desejaria engravidar?

O que foi melhor que você esperava?

Poderia me contar se você conhece dos métodos contraceptivos?

Encontrava alguma dificuldade para conseguir e usar os métodos

contraceptivos?

Page 49: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

49

APÊNDICE 4: Quetionário Sóciodemográfico

Questionário

Nome: ________________________________________________________________

Endereço: ______________________________________________________________

Identificação: __________________

Escolaridade: ___________________ Está frequentando a escolar? ( ) sim ( ) não

Data de Nascimento: _____________ Idade: __________ Estado civil: _____________

Data de nascimentvo do Bebê: ______________Tipo de parto: ____________________

Presença do parceiro ou outro significativo: ___________________________________

Renda familiar: ( ) < que 1 salário mínimo ( )1 à 2 salários ( )3 a 4 salários ( ) outro

Ocupação: _____________________________ Religião: ________________________

Assinatura da participante: ________________________________________________

Data: ____/____/________

Page 50: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

50

ANEXOS

Anexo 1 - Certificado do Comitê de Ética em Pesquisa

Page 51: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

51

Page 52: A PERCEPÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES ACERCA DAS …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335773/1/... · adolescentes acerca das expectativas e experiências da gravidez na adolescência,

52

Anexo 1 – Comprovante de submissão do artigo à Revista Ciência e Saúde

Coletiva