A Mistica Em Lispector

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REVISTA CHILENA DE LITERATURA Diciembre 2014, Número 88, 63-76 A MÍSTICA EM AGUSTINA BESSA-LUÍS E CLARICE LISPECTOR Maria Lúcia Dal Farra Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico [email protected] RESUMEN / RESUMO / ABSTRACT Se trata de examinar la aproximación a la condición de mujer en dos escritoras de la misma generación: la brasileña Clarice Lispector (nacida en 1920) y la portuguesa Agustina Bessa- Luís (nacida en 1922). Son objeto de estudio las respectivas novelas que publican en un mismo período: La sibila, de Agustina, es de 1954, y La pasión según G.H., de Clarice, es de 1964. A través de estrategias narrativas y discursivas muy diversas, cada obra se vale de la temática de la naturaleza mística (que envuelve lo femenino) para solapar las bases culturales, estructurales e ideológicas de donde parten, exponiendo la inadaptación al mundo estabilizado y demoliendo el código novelesco. PALABRAS CLAVE: misticismo, mujeres, novela, desasosiego. Trata-se de examinar a abordagem da condição concernente à mulher em duas escritoras da mesma geração: a brasileira Clarice Lispector (nascida em 1920) e a portuguesa Agustina Bessa-Luís (nascida em 1922). São objeto do estudo os respectivos romances que publicam numa mesma faixa temporal: A sibila, de Agustina, é de 1954, e A paixão segundo G.H., de Clarice, é de 1964. Cada obra, através de estratégicas narrativas e discursivas muito diversas, se vale da temática da natureza mística (que envolve o feminino) para solapar as bases culturais, estruturais e ideológicas de onde partem, expondo a inadaptação ao mundo estabilizado e desmanchando o código romanesco. PALAVRAS-CHAVE: misticismo, mulheres, romance, desassossego. This article examines how two female writers from the same generation approach the feminine condition: the Brazilian Clarice Lispector (born in 1920) and the Portuguese Agustina Bessa- Luís (born in 1922). The analysis focuses on two of their novels published in the same time

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Se trata de examinar la aproximación a la condición de mujer en dos escritoras de la mismageneración: la brasileña Clarice Lispector (nacida en 1920) y la portuguesa Agustina Bessa-Luís (nacida en 1922). Son objeto de estudio las respectivas novelas que publican en unmismo período: La sibila, de Agustina, es de 1954, y La pasión según G.H., de Clarice, es de1964. A través de estrategias narrativas y discursivas muy diversas, cada obra se vale de latemática de la naturaleza mística (que envuelve lo femenino) para solapar las bases culturales,estructurales e ideológicas de donde parten, exponiendo la inadaptación al mundo estabilizadoy demoliendo el código novelesco.

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  • REVISTA CHILENA dE LITERATuRAdiciembre 2014, Nmero 88, 63-76

    A MSTICA EM AGuSTINA BESSA-LuS E CLARICE LISPECTOR

    Maria Lcia Dal FarraConselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    [email protected]

    RESuMEN / RESUMO / ABSTRACT

    Se trata de examinar la aproximacin a la condicin de mujer en dos escritoras de la misma generacin: la brasilea Clarice Lispector (nacida en 1920) y la portuguesa Agustina Bessa-Lus (nacida en 1922). Son objeto de estudio las respectivas novelas que publican en un mismo perodo: La sibila, de Agustina, es de 1954, y La pasin segn G.H., de Clarice, es de 1964. A travs de estrategias narrativas y discursivas muy diversas, cada obra se vale de la temtica de la naturaleza mstica (que envuelve lo femenino) para solapar las bases culturales, estructurales e ideolgicas de donde parten, exponiendo la inadaptacin al mundo estabilizado y demoliendo el cdigo novelesco.

    palabras clave: misticismo, mujeres, novela, desasosiego.

    Trata-se de examinar a abordagem da condio concernente mulher em duas escritoras da mesma gerao: a brasileira Clarice Lispector (nascida em 1920) e a portuguesa Agustina Bessa-Lus (nascida em 1922). So objeto do estudo os respectivos romances que publicam numa mesma faixa temporal: A sibila, de Agustina, de 1954, e A paixo segundo G.H., de Clarice, de 1964. Cada obra, atravs de estratgicas narrativas e discursivas muito diversas, se vale da temtica da natureza mstica (que envolve o feminino) para solapar as bases culturais, estruturais e ideolgicas de onde partem, expondo a inadaptao ao mundo estabilizado e desmanchando o cdigo romanesco.

    palavras-chave: misticismo, mulheres, romance, desassossego.

    This article examines how two female writers from the same generation approach the feminine condition: the Brazilian Clarice Lispector (born in 1920) and the Portuguese Agustina Bessa-Lus (born in 1922). The analysis focuses on two of their novels published in the same time

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    period: La Sibila, by Agustina, was written in 1954, and La Pasin Segn G.H., by Clarice, was written in 1964. Through diverse narrative and discursive strategies, these two works explore the mystical nature (which encompasses the feminine condition) in order to address the cultural, structural and ideological grounds from where they are based. By doing so, they expose the inability to adapt to the idea of a stable world and undermine the code of the novelistic genre.

    Keywords: mysticism, women, novel, discontent.

    Para Gilda Oswaldo Cruz: a concertista, a romancista, a ensasta e a amiga

    Uma das mais inquietantes experincias de leitura ficcional a dA paixo segundo G.H. de Clarice Lispector. O livro verdadeiramente insuportvel, no sentido de que estabelece um pacto penoso com o leitor. -lhe solicitado que d a sua mo narradora (para apoi-la, para dar-lhe sustentao) a fim de que ela atravesse, j ento por meio do verbo e do discurso, o inferno (e a glria) que conheceu para que comece um novo talento de existir. Ampar-la nessa contingncia to radical muito desconfortante, e o leitor no pode nem mesmo se relaxar nessa travessia de inesperados e desculturalizados incidentes. Deveras: ao iniciar o romance, ele ingressa numa temperatura mxima que vai conserv-lo, sem descanso, no mesmo grau de ansiedade at o final. Em regime de mxima intensidade, o persistente clmax no oscila e vai tensionando a linha narrativa quase a ponto de esgar-la. Conhece, ento, o leitor de Clarice Lispector que este sim o verdadeiro livro do desassossego.

    Diversa receptividade ter ele aquando da leitura de Agustina Bessa-Lus. O romance A sibila, ao contrrio, permite que ele se instale no bembom, no aconchego de uma linguagem (digamos) materna1, que parece agasalh-lo e ritm-lo na narrao de histrias pitorescas do povo, que avivam costumes antigos, crenas, expresses e linguajar populares, para a transmisso de uma herana cultural, no colo da qual ele se sente seguro e protegido. Mas

    1 A expresso de Silvina Rodrigues Lopes (1989), que a utiliza para designar a linguagem da consolidao e do hbito que Agustina aparentemente professa, com o intuito de abrir nela um movimento de desterritorializao o que revela, afinal, a linguagem de Agustina como (sou eu que concluo) uma linguagem madrasta.

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    nem tudo transcorre em bero esplndido. Um ou outro tropeo parecer se dever, no entanto, a um vocabulrio castio do Norte de Portugal, de onde emergem a autora e sua sabedoria ancestral, e, talvez, sinuosidade das oraes muito alongadas. Atravs de encaixes subordinados e coordenados, estas proliferam a narrativa e a irradiam por diferentes tempos e paragens numa escrita em tapearia aberta, no dizer de Eduardo Loureno, num fluxo contnuo do pensamento, maneira da dure bergsoniana, como a v Maria Alzira Barahona (1968)2. Agustina no tem compromisso algum com o tempo, que usa como mola para saltar e retornar de uma para diversas pocas ao longo de mais de cem anos, numa especulao constante que vai varando esse tecido e se abrindo em mltiplas hipteses.

    O estilo de Clarice j bem outro: frases curtas, fragmentadas, cortantes, discurso que avana em caleidoscpio semntico e que se esfora por traduzir a si mesmo continuamente, valendo-se de fecundos intervalos de sentido ou de meandros de significados cada vez mais disparatados ou desconcertantes. O que causa ao enredo uma estranheza ambulante j que, parecendo no gerar novos episdios, a trama no se encontra de fato emperrada, mas antes fincada numa expanso que se aprofunda, em lugar de se espalhar, condensao que a vai fertilizando com ressonncias imprevistas. Porque a acstica de sensaes machuca e implode, com novas nervuras, a face do que se diz, transmutando-a em outra e outra superfcie, em moto contnuo.

    No caso do romance a que me refiro, a ao escassa; e o tempo linear, embora marcado por rigorosa e precisa anotao de horas, , entretanto, quase nulo3. E isso porque o presente do discurso, que o tempo da escrita, se realiza no denso testemunho do que ontem se passou, a fim de que a narradora possa seguir imediatamente em frente, visto que luta, a partir de ento, contra a esperana e o adiamento que esta implica.

    J a efabulao de Agustina , em tudo, diversa. Abundante, ela transborda, no sentido de que se prolifera em aes, comentrios e aforismos, numa espcie

    2 Sobre o tempo em Agustina, ver tambm Magalhes (1987).3 Sobretudo uma das onze categorias agenciadas por Clarice sobre a obra romanesca

    tradicional, e indicadas por Lcia Helena (1997), parece referendar perfeitamente este romance. Visto que ele apossa-se livremente de uma srie de modalidades de textualizao, de fragmentos e runas culturais de referncia histrica e bblica, com que elabora uma nova geografia da imaginao e do esprito atravs da intertextualizao deste material (107).

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    de didasclia que aponta para onde olhar o leitor e no que reparar4. Repleto de pequenos detalhes e afeito a mincias que, acompanhando a fala de um personagem, podem dilatar-se infinitamente, o entrecho se permite tambm desviar-se na direo do mais nfimo componente. E vai, assim, povoando alentados pargrafos, numa profuso de oraes incrustadas umas nas outras5.

    Uma personagem, por exemplo, ao se despedir de uma segunda, se prepara para dialogar com aquela que est a seu lado, e que se acha entretida numa outra funo: no caso, cear. Ora, a narradora de Agustina segue no s essa pessoa ao lado, como vai mais alm, detendo-se nos motivos que ilustram a porcelana que ela segura na mo, a ponto de tambm dar vida cena estampada na tigela do caldo que ela toma. Assim temos que, Quando ele partiu, ela meneou vrias vezes a cabea, calada; depois, com o seu trejeito de mo sacudido e quase irnico, que ela empregava por acirrado hbito e que lhe servia para testemunhar desdm e, sobretudo, esconder o seu pensamento real, dirigiu-se moa, que ceava, cabisbaixa e esmoendo boroa na malga, em cujo bojo uma espcie de S. Tiago com tiara de Pope parecia prestes a lanar-se num galope glorioso abaixo do seu pedestal (Bessa-Lus 138).

    J Clarice pratica muitas vezes uma linguagem que passa rimbaudianamente por un long, immense et raisonn drglement de tous les sens o que obriga o leitor a se apoiar sobre um territrio movente e minado6. No 22 segmento do romance, por exemplo, G.H., numa das mltiplas alegorias, rouba o cavalo de caa do Rei do sab, visto que procura a danao como uma alegria. E durante todo o tempo, na noite enquanto dorme, ao entardecer ou de madrugada, o ginete respira chamando-a, porque o trote continua nela. O cavalo conduz seu pensamento, se pensamento, ela questiona,

    esta hora entre latidos. Os ces latem, comeo a entristecer porque sei, com o olho j resplandecendo, que irei. Quando de noite ele me chama para o inferno, eu vou [...] Correm atrs de ns cinqenta e trs flautas. nossa frente uma clarineta nos alumia. E nada mais me

    4 Ins Pedrosa repara acertadamente que os limites que apuram em Agustina a conscincia do infinito (20 mulheres 67).

    5 Em outro texto, Ins refere o inacabamento voluntariamente esperanoso nos romances de Agustina (A orquestra 15).

    6 As indicaes sobre Rimbaud dizem respeito celebre carta dirigida por ele a Paul Dmeny, conhecida como Lettre du Voyant, e que data de 15 de maio de 1871. E tambm se espraiam pela sua obra potica, notadamente por Une saison en enfer.

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    dado saber. De madrugada eu nos verei exaustos junto ao regato, sem saber que crimes cometemos at chegar a madrugada7. Na minha boca e nas suas patas a marca do sangue. O que imolamos? De madrugada estarei de p ao lado do ginete mudo, com os primeiros sinos de uma Igreja escorrendo pelo regato, com o resto das flautas ainda escorrendo dos cabelos (Lispector 128).

    No preciso frisar: os dois exemplos que venho de citar evidenciam que cada autora solicita do seu leitor um comportamento especfico. H, de um lado, a escritora brasileira, que age quase perversamente, partilhando com ele um acontecimento impossvel e dilacerante para a comunicao do qual ela precisa fabricar uma linguagem; e h, de outro, a escritora portuguesa que o traz para o seu regao e que o vai acalentando com histrias to saborosas quanto arrebatadoras.

    Mas diante de tal desigualdade de tratamento, com razo o leitor se perguntar o que leva a serem to distintas duas romancistas contemporneas, nascidas quase no mesmo ano (Clarice de 19208, Agustina de 1922), criadas na provncia (Clarice em Alagoas, no Nordeste Brasileiro; Agustina em Vila Me, no entre Douro-e-Minho, Norte Portugus), adaptadas depois em grandes capitais (Clarice no Rio de Janeiro; Agustina em Coimbra e no Porto), escrevendo seus romances na mesma dcada (A sibila de 1954; A paixo segundo G. H. de 1964) e que usam a mesma lngua para se comunicarem. Por que deve ele se acautelar com Clarice e se entregar Agustina? Por que fica apreensivo com uma enquanto outra se rende?

    A pergunta intil pois que, ao fim e ao cabo, ele convir que tanto uma quanto outra fazem um mesmssimo trabalho de sapa, solapando as bases culturais, estruturais e ideolgicas de onde partem este o grande elo a uni-las afinal. Clarice trabalha em aparncia de maneira pouco misericordiosa

    7 Alfredo Bosi, em Histria Concisa da Literatura Brasileira, anota que Clarice articula a experincia metafsica por que passa em A paixo segundo G.H. valendo-se do verbo ser e de construes sintticas anmalas que obrigam o leitor a repensar as relaes convencionais praticadas pela sua prpria linguagem (Bosi 425). Este bem o caso da estranheza que causa ao leitor o eu nos verei exaustos, constante do trecho citado.

    8 Ndia Battella Gotlib, reconhecidamente a mais importante estudiosa da vida de Clarice, dedicada ensasta de sua obra, depois de contracenar os dados controversos acerca da data de nascimento da escritora (discordncia, alis, fomentada pela prpria Clarice), conclui que quando ela chegou ao Brasil, desembarcando no colo de seus pais em Macei, em fevereiro de 1921, tinha 2 meses (Gotlib 63).

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    e direta, enquanto Agustina tem um modo mais matreiro de seduzir o leitor, desenvolvendo uma sutil insdia da linguagem. Agustina desmonta, num hibridismo suspeito, os universos fechados de que trata, na tentativa de desviar a verdade dos arquivos para o errante da verdade, como percebe Silvina Rodrigues Lopes (A alegria 16).

    E o nosso leitor concluir que os dois procedimentos to diversos no passam de simples estratgias de persuaso... para que as matrias de que elas se ocupam possam atingir, com eficcia, esse interlocutor. Vejamos.

    O feixe de motivos que anima tanto um quanto outro romance parece ser semelhante. Observo que em ambos topamos com uma temtica de natureza mstica envolvendo a esfera do feminino.

    No caso de Clarice, G.H. ter um momento de revelao do que a sua vida bem constituda de escultora burguesa (e dos impasses que a cercam), quando penetra no insuspeitvel universo do outro9. Ou seja: quando, inopinadamente, ingressa na existncia que se desenvolvera na surdina, paralelamente sua, debaixo do seu teto, no quarto agora vazio de Janair, a ex-empregada da cobertura do prdio de classe mdia alta carioca, nos pncaros da qual o romance transcorre10.

    O relevo geogrfico no gratuito, j que esse primeiro espanto, que ilumina G.H. a si mesma a partir de outra perspectiva, ser o trampolim inicial para o mergulho nas profundezas do seu ser, nas razes da existncia que compartilha com toda a matria. E nesse instante que comea, tambm rimbaudianamente, a sua saison en enfer.

    Porque, ultrapassando esse estgio inaugural de um autoconhecimento apenas psicolgico, G.H. ser arremessada a uma experincia mstica de descida ao caos primordial, numa desintegrao da sua identidade, numa morte inicitica que, todavia, a revivificar e a situar em harmonia com a Natureza, com o Cosmos, com Deus. D-se, ento, simbolicamente, a reintegrao dela ao estado originrio do Homem, e o conhecimento revelado de que tudo o que tem no seu - ela mesma pertena do desconhecido. Ao final dessa operao mstico-esotrica, G.H. encontrar em si a mulher de

    9 Este outro pronunciadamente o diferente de G.H. - Janair a estrangeira: negra, subtrada, muito bela (tem traos e postura de rainha africana, como s agora nota G.H.), representante da favela que, de cima, da sua cobertura, G.H. vislumbra em baixo. De resto, Janair achatada como um baixo-relevo preso a uma tbua (Lispector 40).

    10 bom de notar que Janair quase um anagrama de rainha...

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    todas as mulheres (Lispector 174): eis como, ento, um tema se enrosca no outro; eis como a mstica, em Clarice, desemboca no feminino11.

    Mas tal ritual s processado merc da participao de um ser primitivo, testemunha do imensurvel tempo: a barata12. este inseto que empiricamente G.H. se obriga a provar, numa comunho difusa entre o sabath e a missa negra13, num ritual que desafia a nusea e a nojo. Por meio dessa recusa aculturao, ela ingressa, por fim, na reviso radical de tudo o que compe o nosso mundo civilizado: o Amor, o Tempo, a Verdade, a Maternidade, a Dor, Deus a Linguagem14. Sim, porque se tal penoso processo s existe medida que pronunciado, o nomear tem de implicar uma alquimia do verbo, j que para conhecer algo to colado coisa, a designao torna-se impedimento, distanciando o contacto direto com a ela15.

    11 Raimunda Bedasee, que estuda a Violncia e ideologia feminista na obra de Clarice Lispector (1999), conclui a respeito deste romance que Clarice representa um modelo extremamente positivo da, e para, a mulher contempornea. Tal modelo que, segundo ela, no incorpora esteretipos femininos e assume pulses ditas masculinas, como a violncia, ou como a independncia, est de acordo com o desenho feito por Janair, onde so representados um homem e uma mulher, o que significa a falta de lugar atribuda a G.H. tanto sexualmente quanto na sociedade, por exercer a profisso de escultora e pela independncia que possui o que faz com que G.H. no pertena a lugar algum. Em outras palavras, G.H. rene caractersticas da androginia (106). E a androginia, como a concebe Jacques Vidal, significa, afinal, que lentiret de la condition humaine est masculine et feminine (Vidal 371).

    12 Benedito Nunes comenta que o aparecimento da barata vem consumar o processo subterrneo e fatal da desagregao de G.H. que j se iniciara quando sua vida comeara a ser esvaziada da sua personalidade ao entrar no quarto de Janair, onde lhe aparecem os contrastes inconciliveis da existncia (Nunes 1973).

    13 Cf. o inspirado texto de Berta Waldman.14 Alfredo Bosi, num dos traos precisos com que revela os autores estudados na sua

    Histria Concisa da Literatura Brasileira, considera esta obra um romance de educao existencial, e que o monlogo de G.H. decreta o fim dos recursos habituais do romance psicolgico. Por isso mesmo apreende no enfrentamento da narradora com a barata um salto do psicolgico para o metafsico. E acrescenta, citando Lvy-Bruhl, que a diferena entre a mente primitiva e a civilizada se d em termos de participao, de integrao dos plos, para a primeira, e de distncia para a segunda (Bosi 424-425).

    15 Vilma Aras indica que o reconhecimento, uma vez assumido, impede a aventura e impele ao fabrico de uma cartilha que reinstaure a harmonia quebrada pelo excesso, ultrapassagem da medida humana provvel caminho que Clarice buscar em Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres, onde a comunho agora feita atravs do corpo amoroso, numa longa e minuciosa cerimnia de iniciao, evitando-se o abismo que G.H. no recusou mas que terminou numa instruo (Aras 49).

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    E por essa razo que o romance se perfaz como um obsediante tateio da linguagem16. preciso reinvent-la, verg-la para que ela d conta dessa evidncia, de modo a que possa transmitir tal absoluto, esse apogeu de ignorncia que consiste no nada, no neutro, no caos, no vazio, no opaco, na mudez, no inexpressivo, no inumano - na falncia de todos os valores da esttica, da tica e da metafsica17. De modo que a paixo constante no ttulo da obra, mostrando-se ao longo da narrativa uma experincia mstica, acaba por se transmutar, em Clarice, numa operao ontolgica18. E a maneira de comunicao empregada por G.H. no pode ser seno a de uma linguagem sonmbula, de uma espcie de tosca e impossvel traduo de sinais, de uma linguagem de toques telegrficos (telepticos?), de algo como uma transcrio fontica, um grafismo um murmrio. De modo que ela s pode nomear negando, exercitando obsessivamente a contradio e o oxmoro, que est na base dessa linguagem19, visto que descobre esta pequena coisa: falar mudo20.

    Em Agustina, como um dom inato, uma predestinao, revelada sobretudo aps uma morosa doena adolescente de Quina, senhora da Casa da Vessada21, que a qualidade de conselheira, de fora espiritual ligada ao sobrenatural nela se manifesta. Mas a florao dessa predisposio de

    16 Em Clarice Lispector: mulher macho, sim senhor!, Ftima da Silva salienta que, de uma maneira geral, os personagens de Clarice no s questionam a linguagem mas refletem sobre o ato criador.

    17 Carlos Mendes de Sousa esclarece que o neutro, o insosso equivaleriam quilo que est prximo de Deus na tradio mstica (A relao 171). Ver tambm deste autor o recente e alentado volume publicado no Brasil: Clarice Lispector. Figuras de escrita (2011).

    18 Cf. Olga de S (2004).19 Na anlise deste romance, Benjamin Moser (2009) conclui que o resultado obtido

    por Clarice que talvez possa ser chamado de espinosismo mstico ou atesmo religioso, o seu mais rico paradoxo at ento (Moser 38).

    20 Cf. Yudith Rosenbaum (2004). Talvez o incmodo e torturante comportamento de leitura a que tenho referido se deva ao fato de que G.H., segundo Rosenbaum, ao abrir-se para o ilimitado, distancia-se do mundo construdo e partilha da lgica dos paradoxos, que na verdade o campo do Real (como quer Lacan), do impossvel de ser figurado. Ela se aproxima perigosamente da experincia psictica, que seria a irrupo crua do Real sem a rede simblica que o sustenta; habitar uma trama sem contornos, sem limites, onde a linguagem compartilhada no alcana. (Rosenbaum 267, o grifo meu).

    21 Catherine Dumas afirma que em A sibila lesprit des lieux se situe dans cet espace unissant la Maison et la terre possde, cette quinta anime par lesprit fminin alli leau. (Dumas 65).

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    abertura para o impalpvel e para o iluminado est associada, em Agustina, ao desenvolvimento de outras qualidades que, no romance, realizam o valor feminino. como se cada mulher tivesse em si uma sibila dormente, que preciso despertar.

    A conversa atual entre os primos Germana e Bernardo, trs anos aps a morte de Quina, abre e fecha, como uma moldura, o romance de Agustina. E a narrativa vai se ocupar, saltitantemente, da gerao feminina da Casa da Vessada, onde o casal se encontra, propriedade atual de Germa de todos da Casa, a nica descendente22. Germa guarda etimologicamente no seu nome o germe dessa Casa de mulheres, e, por um golpe do acaso, tambm o sobrenome da matriarca, a sua av23. Se, como diz a narradora, os nomes das casas transmitem-se pelos filhos vares e os costumes so herana das mulheres, aqui, ambas as prerrogativas sero exercidas pela mulher. Germa, sobrinha e espelho de Quina, parece propagar e levar para adiante, ao final do romance, a aprendizagem acerca dessa fora espiritual feminina que a tia, reedificando a Casa, em tempos afundada pelo desbragamento de pai e irmos, concentrou. De maneira que o romance se encerra acenando para adiante, projetando-se atravs do lastro meritrio que Germa extrai do retrospecto de mais de cem anos (que o corpo do romance), e que tem incio com as mulheres do tempo da sua bisav.

    Naquela poca, era ainda vigente o antema que recaa sobre os rebentos-fmeas. As filhas eram desprezadas pelo pai e criadas em separado dos membros masculinos da famlia, nos casebres dos caseiros esse o caso da me de Isidra. O casamento consistia ento na unio de dois patrimnios, de modo que quando a Casa desanda, tanto Quina quanto sua irm Estina perdem seus pretendentes. Esse duro golpe repercutir para sempre na vida de Quina, que escolhe o respeito em lugar do desejo, alando-se, em seguida como

    22 Vale lembrar que no h exatamente uma hierarquia de personagens. Agustina acompanha as ramificaes entre elas (que pode ser de natureza muito diversa), segue essa imensa famlia, parentes, agregados, amigos, vizinhos, e vai criando o contexto onde Quina aparece, personagem que tambm no a sua nica ocupao narrativa. Por isso mesmo Ins Pedrosa se d conta de que nos romances de Agustina, precisamente porque movidos por um democrtico sentido de composio ou justia, dilui-se a noo de personagem secundria: todas as figuras tm o seu momento de interveno essencial isso o que de imediato torna os seus livros sedutores e acessveis a leitores intuitivos e no-iniciados (A orquestra 15-16).

    23 A idia de Germa como germe tambm est em Monica Rector: A sibila de Agustina Bessa-Lus (s/f).

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    cobiado partido que, todavia, recusa quaisquer investidas, permanecendo solteira por deciso prpria. Caso contrrio o de Estina: sua infeliz escolha h de comprometer os filhos, falecidos por maus tratos do pai, enquanto a filha enlouquece e morre.

    Mulheres h, em contrapartida, que desandam sua vida apenas por prazer em desafiar o nome que trazem (o caso de Isidra) e outras, como a amortalhadeira Domingas, que providencia ela mesma a sua justia, envenenando um a um os maridos e dando fim aos indesejados filhos. Mas aquelas que mais ojeriza causam a Quina so as da sociedade, as fidalgas, cuja intimidade ela conhece: segundo ela, parecem viver como numa cela de loucas, sem pudores, sem moral, sem leis.

    medida que Quina constri sua independncia econmica, entranha-se mais nela a averso aos homens que no ultrapassam a inferioridade que ela fora capaz de vencer. s mulheres, de maneira geral, atribui-lhes uma categoria deprimente, considerando que usam o amor com instinto de ganncia, enquanto parasitas e no companheiras de seus homens, deplorando-lhes a condio de escravas regaladas (Bessa-Lus 117). Por isso, o seu conselho a Germa no pode ser diferente: Menina [...] no te cases nunca. a maior desgraa que pode acontecer a uma mulher (142).

    No por acaso, o lema de Germa ser preferir o perigo embora o tema; odiar a ddiva embora a cobice; ter a conscincia de que aceitar ser vencida; e que a luta um apelo constante, uma necessidade absurda e inapelvel (147). Esta poderia ser tambm a divisa da prpria Agustina que, segundo Silvina Rodrigues Lopes pensa sem temor nem repouso no pensvel e no impensvel, arriscando saltar no escuro todos os muros at hoje estabelecidos (Agustina 30).

    Pois bem. O que importa considerar, em sintonia com o romance de Clarice, que a perspectiva ideolgica implcita no romance de Agustina indica que a aceitao da condio feminina deplorvel, sendo em contrapartida a insurreio da mulher, qualquer que seja ela, um valor poderoso e diferenciador. De todos os atributos que Germa retira de Quina, o mais proeminente o de constatar que ela acusava e defendia com o mesmo denodo de conscincia, como se estivesse sempre do outro lado do muro, fazendo saltos vara por cima dele, por puro desafio (127-128). Afinal, a contradio era o seu profundo contedo humano (128). Era essa fora de esprito o que fazia dela, um ser trivial e sem gnio, uma mulher vaidosa e fraca, com desejo de expanso e de pblico, carente de adulao e de admirao (134) uma

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    mstica, uma sibila. E esse misticismo era humanista, sim, porque era uma revolta; era a rebelio audaciosa e admirvel da sua ignorncia.

    esse exemplo substancial de energias humanas que entre si se devoraram e se deram vida, que Germa reter definitivamente de Quina. E, como a indicar sibilinamente em si mesma tal contradio, no vai-e-vem da cadeira de balano da tia (o seu trono de herdeira), num movimento de ser-e-no-ser muito prprio da contradio, que Germa chega a essas concluses.

    Quanto a mim, concluo, sempre provisoriamente que, seguindo de perto suas personagens, Agustina e Clarice tambm fazem finca-p numa condio paradoxal de entremeio, num estado de periclitncia, de estar beira de, aplicando-se no desmanche do cdigo romanesco, ostentando a inadaptao ao mundo estabilizado, quebrando a rotina literria. No diversamente de Agustina, tambm h, em Clarice, um triunfo da escrita, o assomar da desordem absoluta, de onde nasce a obra que guarda o segredo dos seus enigmas prodigalizando os vestgios que a eles conduzem24.

    Semelhante selo vigora nas personagens de ambas as escritoras, graas fresta que nelas vislumbraram para expressarem os seus valores femininos. No toa que criaram, cada qual no seu prprio registro, uma personagem mstica, visto que o misticismo tornou-se, na histria do Ocidente, o nico lugar onde s mulheres era permitida voz e agncia pblicas (Irigaray, cit. em Ferreira 119).

    Ora, a figura da sibila e de G.H. se manifestam no ponto de clivagem entre o rejeitado e o afirmado, lugar onde tm-se inscrito as mulheres dessa comunidade infigurvel25. As ilusas, as beatas e as alumbradas que, pelo menos desde o sculo XVI, tm representado, merc do vis mstico, um modelo feminino mais desenvolto (e que, por isso mesmo beira tanto emancipao quanto heresia) so certamente as ancestrais destas msticas criadas por ambas26.

    24 Cf. Silvina Rodrigues Lopes: Sobre Agustina Bessa-Lus (2003). Silvina est se referindo Agustina e no Clarice, coisa que eu fao.

    25 O conceito de Teresa Joaquim, que o elucida em A (im)possibilidade de ser filsofa (2001), como ensina Ana Maria Ferreira, na obra citada, considerando que ele expressa mais plenamente a invisibilidade das mulheres. Cf. tambm Teresa Joaquim: As causas das mulheres. A comunidade infigurvel (2006).

    26 Esclareo o significado de tais categorias atravs da citao direta de Ana Maria Ferreira. As ilusas compreendiam as mulheres que viviam fora do controle da Igreja que no as reconhecia como dignas por lhes atribuir vcios no compatveis com o esprito

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    Esse espao intervalar existente tanto em G.H. quanto em Quina, espao que trgua do sistema e empenho em ouvir as vozes interiores que delas irrompe, subverte a ordem simblica e situa-as num patamar fora do controle social. Esse o ponto exterior onde elas se localizam em relao vida; esse o crculo que constroem em torno de si e que ningum pode transpor (como bem se d conta Germa); esse o absoluto a que elas se dedicam (237).

    Porque, em estado de xtase, de transe, apartadas da restante Humanidade, deixando vazar seus sonhos, devaneios, vises, matria mvel e pulsante em puro estado selvagem, o que elas elaboram , antes de constituir-se construo social, uma incandescente e irradiante transgresso27.

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    27 Sigo, com Ana Maria Ferreira, parte de suas concluses (140).

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