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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM MESTRADO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM ÁREA DE CONCENTRAÇÃO LINGUÍSTICA TEÓRICA E DESCRITIVA MARAÍSA DAMIANA SOARES ALVES A ALTERNÂNCIA ENTRE O PRETÉRITO PERFECTO SIMPLE (PPS) E O PRETÉRITO PERFECTO COMPUESTO (PPC) EM MONTERREY E CIUDAD DE MÉXICO: UMA ANÁLISE SOCIOLINGUÍSTICA NATAL/ RN 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE LETRAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM

MESTRADO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO LINGUÍSTICA TEÓRICA E DESCRITIVA

MARAÍSA DAMIANA SOARES ALVES

A ALTERNÂNCIA ENTRE O PRETÉRITO PERFECTO SIMPLE

(PPS) E O PRETÉRITO PERFECTO COMPUESTO (PPC) EM

MONTERREY E CIUDAD DE MÉXICO: UMA ANÁLISE

SOCIOLINGUÍSTICA

NATAL/ RN

2018

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MARAÍSA DAMIANA SOARES ALVES

A ALTERNÂNCIA ENTRE O PRETÉRITO PERFECTO SIMPLE

(PPS) E O PRETÉRITO PERFECTO COMPUESTO (PPC) EM

MONTERREY E CIUDAD DE MÉXICO: UMA ANÁLISE

SOCIOLINGUÍSTICA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como

parte dos requisitos para a obtenção do título de

Mestre em Linguística.

Orientadora: Professora Drª Shirley de Sousa Pereira

NATAL/RN

2018

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de

Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA

Alves, Maraisa Damiana Soares.

A alternância entre o pretérito perfecto simple (PPS) e o pretérito perfecto compuesto (PPC) em Monterrey e

Ciudad de México: uma análise sociolinguística / Maraisa Damiana Soares Alves. - 2018.

110f.: il.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas,

Letras e Artes. Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem. Natal, RN, 2018.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Shirley de Sousa Pereira.

1. Sociolinguística. 2. Pretérito Perfecto Simple. 3. Pretérito Perfecto Compuesto. 4. PRESEEA. 5.

Monterrey (Nuevo León). 6. Ciudad de México (México). I. Pereira, Shirley de Sousa. II. Título.

RN/UF/BS-CCHLA CDU 81'27

Elaborado por Ana Luísa Lincka de Sousa - CRB-15/748

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MARAÍSA DAMIANA SOARES ALVES

A ALTERNÂNCIA ENTRE O PRETÉRITO PERFECTO SIMPLE

(PPS) E O PRETÉRITO PERFECTO COMPUESTO (PPC) EM

MONTERREY E CIUDAD DE MÉXICO: UMA ANÁLISE

SOCIOLINGUÍSTICA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como

parte dos requisitos para a obtenção do título de

Mestre em Linguística.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________

Profa. Dra. Shirley de Sousa Pereira

Orientadora – UFRN/UFPE

______________________________________________

Profa. Dra. Tatiana Maranhão de Castedo

Examinadora externa – IFPB

______________________________________________

Prof. Dr. Carlos Felipe da Conceição Pinto

Examinador externo - UFBA

NATAL/RN

2018

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Dedico este trabalho a Maria da Luz Soares da Silva

(minha mãe) que sempre esteve a meu lado, a Pedro

Santino Alves (meu pai, in memoriam) que me

ensinou que a educação era o bem mais precioso de

um ser humano, ao meu marido Amaury Sérgio da

Silva pela incansável companhia e apoio e a meus

filhos Gabriel, Gabrielly e Grazielly que enchem

minha vida de cor.

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AGRADECIMENTOS

Começar a escrever numa página em branco causa desespero e muitas vezes o

sentimento de fracasso...parece que não vamos conseguir expor tudo o que lemos e tantas

reflexões que desenvolvemos durante o tempo de estudo. Muitos devaneios passam por

nossa mente, mas manter-nos perseverante contribui para que esses medos sejam

vencidos e as ideias possam fluir e assim sair do nosso imaginário e se materializar em

letras que possam decodificar o que se passa em nossas mentes.

Uso essas palavras para tentar expressar o que foram esses 24 meses de dedicação

ao mestrado e, com isso, agradecer às pessoas que foram extremamente significativas

nesse processo. Primeiramente, agradeço a Deus pela vida, por ter sido minha fortaleza e

por ter me encorajado quando eu pensei que não seria mais capaz.

A minha mãe, que tanto batalhou para me educar e fazer com que eu me tornasse

uma pessoa íntegra, que quase todos os dias me ligava para saber como estava o trabalho.

Obrigada, mãe, por cada semente de amor que a senhora plantou na minha vida, sem a

senhora nada disso teria sido possível.

Aos meus irmãos Maisa e Pedro Paulo, pelo afago nos momentos precisos.

Ao meu amado marido Amaury Sérgio da Silva, que sempre apoiou minhas

decisões e esteve a meu lado quando eu parecia não conseguir. Você foi fundamental

nesse processo, pois estava sempre me dando a mão e me ajudando a levantar quando eu

não conseguia me sustentar diante das dificuldades.

Aos filhos que a vida me deu: Gabriel, Gabrielly e Grazielly. Vocês sempre

alegraram meus dias mais difíceis, quando eu estava angustiada, chegavam com um

abraço, um sorriso ou até mesmo um “mamãe”, que fazia tudo isso valer muito a pena.

Ao IFRN, pelo afastamento durante parte do mestrado, que possibilitou o avanço

da minha pesquisa.

A la Universidad de Nuevo León por disponibilizar los datos del corpora

PRESEEA- Monterrey. ¡Muchas gracias!

Al Proyecto PRESEEA por desarrollar una investigación tan grandiosa que

posibilita generar distintos estudios en el mundo a partir de los datos disponibilizados

en su sitio.

À minha orientadora, que me guiou nessa tarefa de forma tão iluminada e

tranquila, com sua doçura, tudo isso pareceu ser mais fácil do que na verdade foi. Existem

pessoas no mundo que entram na nossa vida para nos mostrar que, com dedicação, mas

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mantendo a leveza e o bom humor, tudo é possível, e você, professora Dra. Shirley de

Sousa Pereira, foi uma dessas pessoas. Muito obrigada!

Ao professor Dr. Carlos Felipe Pinto, por ser tão generoso e sempre disponibilizar-

se a me ajudar, seja com o envio de textos, seja com as reflexões que impulsionaram ainda

mais a escrita deste texto. Muito obrigada!

À professora Dra. Tatiana Maranhão de Castedo, por na graduação despertar em

mim o desejo de estudar a diversidade da língua espanhola. Tenha certeza que uma

sementinha foi plantada naquela época e este trabalho certamente é fruto de sua motivação

em inquietar os seus alunos a buscar outros horizontes. Muito obrigada!

À professora Dra. Ilane Ferreira Cavalcante, minha mãe acadêmica, por sempre

me estender a mão e me ensinar os caminhos pelos quais devo trilhar. Desde que entrou

na minha vida, me mostrou, com seu exemplo de dedicação, seriedade e

comprometimento a verdadeira missão acadêmica: fazer a diferença! Ahh, mas sem

esquecer de dar a vida pitadas de bom humor que fazem os dias ganharem uma doçura

necessária para não enlouquecermos. Muito obrigada por tantos ensinamentos!

Ao professor, amigo e cunhado Allan Robert da Silva, por me ajudar na

quantificação dos dados e na elaboração das tabelas e gráficos. Muito obrigada pelo

tempo desprendido, sua contribuição foi de extrema importância neste texto.

A um anjo, o professor Felipe Morais de Melo, que eu conheci no meio desse

processo, mas que me ajudou tanto, sem nunca sequer ter me visto. Sua busca incansável

por textos do México colaborou demais com minha pesquisa. Muito obrigada!

Aos amigos resilientes, o que dizer deles, Juzelly e Júlio. Nossas terapias em grupo

sempre me deram muita motivação e entusiasmo para enfrentar o mundo inexplicável da

investigação. A força da nossa amizade contribuiu para que, a partir dos erros cometidos,

eu percebesse que não era preciso vê-los como momentos de fraqueza apenas, mas que

serviam de exemplo e combustível para motivar os meus próximos passos.

Aos filhos - amigos que a academia me presenteou: Patrícia Farias, Juliana

Fernandes e Carlos Rilke. Obrigada pela preocupação e por emanar tanta energia positiva

sempre na minha vida, vocês deram leveza a esse árduo processo.

Aos tantos amigos que sempre se preocuparam com o andamento do meu trabalho

e mandavam energias positivas, mensagens de motivação ou que ofereciam ajuda de

alguma forma. Não vou conseguir citar todos, mas agradeço o estímulo que me deram:

Carla Falcão, Monick Munay, Tacicleide, Lenina, Wigna, Bruno Rafael, Girlene,

Neylane, Verônica, Jussara, entre tantos outros que são exemplos para mim.

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Aos amigos interestaduais Liliane, Susana, Rodrigo e Josinaldo. Vocês adoçam

minha vida nos momentos mais amargos e difíceis, o laço que nos une transpõe a barreira

geográfica.

À Alessandra Santa Rosa, obrigada pela revisão do texto, você entrou na minha

vida há tão pouco tempo e já se faz tão presente que nem tenho como explicar.

Às queridas Suyanne e Ana Mércia, companheiras de mestrado, entramos juntas

neste barco e graças a Deus vamos finalizar juntas. Foi muito bom compartilhar com

vocês as dificuldades e os medos que iam surgindo, assim nos fortalecemos a cada dia e

agora podemos dizer, enfim, CONSEGUIMOS.

A todos vocês, MUITO OBRIGADA!

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La escala de proximidad o lejanía es mucho más

segura en nuestras representaciones del pasado que

en las del porvenir. Los recuerdos se suceden en

nuestra memoria con escalonamiento preciso, en

tanto que las acciones venideras son siempre más o

menos borrosas e inciertas (GILI GAYA, 1980)

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RESUMO

As múltiplas formas de dizer a mesma coisa estão presentes nas diferentes línguas e é

uma atribuição da Sociolinguística conceber essa característica inerente ao sistema

linguístico. Tomando em consideração essa realidade, os estudos da Variação e da

Mudança Linguística refletem a heterogeneidade da língua que subjaz os fatores

condicionantes sociais percebidos nas diferentes variedades de uma língua

(WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006 [1968]). Neste estudo, interessa-nos investigar

essas diversas formas de falar que, a partir de suas delimitações próprias, moldam as

comunidades linguísticas estabelecendo suas normas. Com base nesses preceitos, esta

pesquisa, de natureza quantitativa e qualitativa, tem como objetivo geral descrever e

analisar a variável dependente forma pretérita perfeita do espanhol, através das variantes

pretérito perfecto compuesto (PPC) e o pretérito perfecto simple (PPS) com o intuito de

identificar a alternância entre essas formas em dois dialetos do México, na cidade de

Monterrey e na Ciudad de México. Para tanto, foram selecionadas 36 entrevistas

sociolinguísticas, sendo 18 de cada cidade, a partir do corpus linguístico PRESEEA –

Proyecto para el estudio sociolinguístico del español de España y de América. Para a

análise, partimos da conceptualização das formas pretéritas, assim como da possível

diferenciação tempo-aspectual que possa existir entre o PPC e PPS, conforme apontam

Cartagena (1999), Lope Blanch (1992), Moreno de Alba (2002). Em seguida, foram

considerados os fatores condicionantes tanto linguísticos quanto extralinguísticos. Como

fatores linguísticos, tivemos: a) a presença e/ou ausência de advérbios que indicam

anterioridade ao ponto zero da enunciação; b) a presença e/ou ausência de advérbios que

indicam simultaneidade ao momento da enunciação. Os condicionantes extralinguísticos

constituem: c) idade; d) escolaridade; e) localidade e f) sexo. Os resultados obtidos na

análise das 3644 ocorrências das formas pretéritas (em que 3174 foram eventos marcados

com o PPS, enquanto 470 com o PPC) apontaram para uma predominância do PPS,

inclusive com a presença do ADVs que estabelece vínculo atual do falante ao momento

enunciativo, revelando uma variação da forma ADVs+ PPC substituída pela forma ADVs

+ PPS; assim, a temporalidade relacionada ao ponto zero da enunciação, que deveria

remeter à forma prototípica PPC, foi expressa pelo emprego do PPS, demonstrando como

a variação está em evidência nas entrevistas examinadas. Ademais, os dados apontaram

para a necessidade de um futuro estudo classificativo das formas sob a ótica léxico-

semântica, com o propósito de definir se a variação que ocorre no México é ocasionada

pela temporalidade estabelecida nos contextos enunciativos ou pela aspectualidade verbal

expressa pelos eventos.

Palavras- chave: Sociolinguística; pretérito perfecto simple; pretérito perfecto

compuesto; PRESEEA; Monterrey; Ciudad de México;

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ABSTRACT

THE ALTERNATION BETWEEN THE SIMPLE PAST PERFECT (SPP) AND THE

COMPOUND PAST PERFECT (CPP) IN MONTERREY AND CIUDAD DE

MÉXICO: A SOCIOLINGUISTIC ANALYSIS.

The multiple ways of saying the same thing are present in the different languages and it

is an attribution of Sociolinguistics to conceive this inherent characteristic of the linguistic

system. Taking into account this reality, the studies of Variation and Linguistic Change

reflect the heterogeneity of the language that underlies the social conditioning factors

perceived in the different varieties of a language (WEINREICH; LABOV; HERZOG,

2006 [1968]). In this study, we are interested in investigating these diverse forms of

speech that, from their own delimitations, shape the linguistic communities establishing

their norms. Based on these precepts, this research, of quantitative and qualitative nature,

has as general objective to describe and analyze the dependent variable past perfect form

of the Spanish, through the compound past perfect variants (CPP) and the simple past

perfect (SPP) in order to identify the alternation between these forms in two dialects of

Mexico, in Monterrey City and in Ciudad de México. For this reason, 36 sociolinguistic

interviews were selected, 18 of each city being based on the linguistic corpus PRESEEA

– Proyecto para el estudio sociolinguístico del español de España y de América. In order

to reach this goal, we started from the conceptualization of the past forms, as well as the

possible time-aspectual differentiation that may exist between the CPP and SPP, as

pointed out by Cartagena (1999), Lope Blanch (1992) and Moreno de Alba (2002). Then,

there were considered the linguistic and extralinguistic conditioning factors. As linguistic

factors, we had: a) the presence and/or absence of adverbs that indicate anteriority to the

zero point of the enunciation; b) the presence and/or absence of adverbs that indicate

simultaneity at the time of enunciation; the extralinguistic conditioners are: c) age; d)

schooling; e) locality and f) sex. The results obtained in the analysis of the 3644

occurrences of the past forms (in which 3174 were events marked with SPP, while 470

with CPP) pointed to a predominance of SPP, including the presence of ADVs that

establishes the speaker's current link to the enunciative moment, revealing a variation of

the form ADVs + CPP replaced by the form ADVs + SPP; thus, the temporality related

to the zero point of the enunciation, which should refer to the prototypical CPP form, was

expressed by the use of SPP, demonstrating how the variation is evident in the examined

interviews. In addition, data pointed to the need for a future classificatory study of forms

under the lexical-semantic perspective, with the purpose of defining whether the variation

occurs by the temporality established in the enunciative contexts or by the verbal

aspectuality expressed by the events.

Keywords: Sociolinguistics; simple past perfect; compound past perfect; PRESEEA;

Monterrey; Ciudad de México.

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RESUMEN

LA ALTERNANCIA ENTRE EL PRETÉRITO PERFECTO SIMPLE (PPS) Y EL

PRETÉRITO PERFECTO COMPUESTO (PPC) EN MONTERREY Y CIUDAD DE

MÉXICO: UN ANÁLISIS SOCIOLINGÜÍSTICO

Las múltiples formas de decir una cosa están presentes en las diferentes lenguas y es una

atribución de la Sociolingüística concebir esa característica inherente al sistema

lingüístico. Por considerar esa realidad, los estudios de la Variación y del cambio

lingüístico reflejan la heterogeneidad de la lengua que subyace los factores

condicionantes sociales percibidos en las distintas variedades de una lengua

(WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006 [1968]). En este estudio, nos interesa

investigar esas diversas formas de hablar que, por medio de sus propias delimitaciones,

delinean las comunidades lingüísticas estableciendo sus normas. Basado en estos

preceptos, esta investigación, de naturaleza cuantitativa y cualitativa, presenta como

objetivo general describir y analizar la variable dependiente forma pretérita perfecta del

español a través de las variantes pretérito perfecto compuesto (PPC) y el pretérito

perfecto simple (PPS) con el propósito de identificar la alternancia entre esas formas en

dos dialectos de México, en la ciudad de Monterrey y en la Ciudad de México. Para eso,

fueron elegidas 36 encuestas sociolingüísticas, con 18 de cada ciudad, a partir del corpus

lingüístico PRESEEA – Proyecto para el estudio sociolingüístico del español de España

y de América. Para lograr esa finalidad, partimos de la conceptualización de las formas

pretéritas, así como de la posible diferenciación tiempo-aspectual que pueda existir entre

el PPC y el PPS, de acuerdo con los estudios de Cartagena (1999), Lope Blanch (1992),

Moreno de Alba (2002). Enseguida, fueron considerados los factores condicionantes tanto

lingüísticos como extralingüísticos. Como factores lingüísticos, tuvimos: a) la presencia

y/o ausencia de adverbios que indican anterioridad al punto cero de la enunciación

(ADVa); b) la presencia y/o ausencia de adverbios que señalan simultaneidad al momento

enunciativo (ADVs); los condicionantes extralingüísticos constituyen: c) edad; d) nivel

de escolaridad; e) localidad y f) sexo. Los resultados obtenidos en el análisis de los 3644

registros de las formas pretéritas (en que 3174 presentan eventos señalados con el PPS,

mientras 470 con el PPC) apuntaron para una predominancia del PPS, incluso con la

presencia del ADVs que establece vínculo hodiernal del hablante al momento

enunciativo, relevando una variación de la forma ADVS + PPC sustituída por la forma

ADVs + PPS; de ese modo, la temporalidad relacionada al punto cero de la enunciación,

que debería evocar la forma prototípica PPC, fue expresada por el empleo del PPS,

demostrando como la variación está en evidencia en las entrevistas analizadas. Además,

los datos señalaron la necesidad de un estudio posterior clasificativo de las formas bajo

la óptica léxico-semántica, con el fin de definir si la variación que ocurre en México es

originada por la temporalidad establecida en los contextos enunciativos o por la

aspectualidad verbal expresada por los eventos.

Palabras clave: Sociolingüística; pretérito perfecto simple; pretérito perfecto compuesto;

PRESEEA; Monterrey; Ciudad de México

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 - Ocorrências de PP por cidade .....................................................................80

Tabela 02 - Ocorrências de PP associadas ou não a ADV..............................................82

Tabela 03 - Ocorrências de ADVa associadas aos PP.....................................................84

Tabela 04 - ADVs associado aos PP vs cidade...............................................................85

Tabela 05 - Nível de escolaridade: associação entre os PP e o ADVa............................89

Tabela 06 – Nível de escolaridade - PP associados aos ADVs.......................................90

Tabela 07 - Cruzamento entre idade e uso dos PP..........................................................95

Tabela 08 - Cruzamento entre faixa etária, uso dos PP e ADVa....................................97

Tabela 09 - Cruzamento entre ADVs e PP associados ao sexo.......................................98

Tabela 10 - Cruzamento entre ADVa e PP associados ao sexo.......................................99

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 - Ocorrências de ADVa x ADVs na totalidade de eventos..........................83

Gráfico 02 - Ocorrências de ADVa associadas ao PP e o nível de escolaridade............88

Gráfico 03 - nível de escolaridade vs PP por cidade.......................................................91

Gráfico 04- ADVs associado aos PP por idade...............................................................94

Gráfico 05 - Faixa etária: PP vs ADVs...........................................................................95

Gráfico 06 - cruzamento entre sexo, PP e cidade............................................................98

Gráfico 07 - cruzamento da variável sexo: PP e cidade..................................................99

Gráfico 08 - ocorrências de PP por cidade....................................................................101

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 – Dados gerais: Ciudad de México ..............................................................70

Quadro 02 - Dados gerais: Monterrey.............................................................................71

Quadro 03 - Quantitativo de ocorrências de PPS e PPC por cidade...............................72

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADV – Advérbio

ADVa – Advérbio temporal de anterioridade

ADVs – Advérbio temporal de simultaneidade

ALFAL – Associação de Linguística e Filologia da América Latina

PILEI – Proyecto Interamericano de Linguística y Enseñanza de Idiomas

pp – Particípio

PP – Pretéritos Perfectos

PPC - Pretérito Perfecto Compuesto

PPS – Pretérito Perfecto Simple

PRESEEA – Proyecto para el estudio sociolinguístico del español de España y de

América

SADV – Sem advérbio

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Sumário

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 18

CAPÍTULO 1 - OS ESTUDOS DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA ............................... 23

1.1 A VARIABILIDADE DA LÍNGUA E SUA HETEROGENEIDADE ........... 26

1.2 OS PROBLEMAS DA VARIAÇÃO E MUDANÇA ..................................... 28

1.3 AS VARIEDADES DO ESPANHOL NUMA PERSPECTIVA

DIALETOLÓGICA .................................................................................................... 30

CAPÍTULO II - AS FORMAS PRETÉRITAS DO ESPANHOL: PPC vs. PPS ........... 36

2.1 ORIGEM E FORMAÇÃO DO PPC ..................................................................... 36

2.2 A RELAÇÃO ASPECTO- TEMPORAL NAS FORMAS PP DO ESPANHOL 41

2.2.3 A temporalidade verbal .................................................................................. 41

2.2.4 A aspectualidade dos verbos .......................................................................... 43

2.3 CARACTERÍSTICAS DO PPC vs PPS ............................................................... 48

2.3.1 O pretérito perfecto compuesto – PPC - segundo as gramáticas .................. 48

2.3.2 Pretérito perfeito simples (PPS) ..................................................................... 54

2.3.3 A presença dos marcadores temporais – ADVs vs. ADVa ............................ 56

CAPÍTULO III - UM PANORAMA DO ESPANHOL MEXICANO ......................... 59

3.1 A FORMA PRETÉRITA NO MÉXICO: UMA QUESTÃO ASPECTUAL? ..... 63

CAPÍTULO 4 - PERCURSO METODOLÓGICO ........................................................ 69

4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS DADOS .................................................................. 71

4.2 A VARIÁVEL DEPENDENTE ........................................................................... 75

4.3 AS VARIÁVEIS INDEPENDENTES ................................................................. 76

4.3.1 O traço – marcador temporal de anterioridade (ADVa) ................................. 77

4.3.2 O traço – marcador temporal de simultaneidade (ADVs) .............................. 77

4.3.3 O traço – nível de escolaridade ...................................................................... 78

4.3.4 – As variáveis sexo e idade ............................................................................ 79

4.3.5 A localidade: variação dialetal ...................................................................... 80

CAPÍTULO 5 - DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS .......................................... 82

5.1 AS OCORRÊNCIAS DE PPS vs. PPC- O UNIVERSO DOS DADOS .............. 82

5.2 – O TRAÇO - ADVÉRBIO TEMPORAL ........................................................... 83

5.2.1 Advérbios de anterioridade associados aos pretéritos - ADVa vs. PP ........... 86

5.3 AS VARIÁVEIS EXTRALINGUÍSTICAS ......................................................... 90

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5.3.1 O nível de escolaridade no uso dos PP ........................................................... 90

5.3.2 A variável faixa etária .................................................................................... 96

5.3.3 A variável sexo ............................................................................................... 99

5.3.4 Variedade dialetal ......................................................................................... 102

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 105

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 107

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INTRODUÇÃO

A expressão da sociedade por meio da linguagem passou a ser o cerne de estudos

linguísticos a partir da década de 1960. Com a propulsão dos estudos labovianos (2008

[1972]) a língua passou a ser considerada como um sistema organizado e heterogêneo

conduzido pela perspectiva social, que influencia diretamente nos processos de variação.

Ao ponderarmos esse atributo da língua, deparamo-nos com as variedades que

constituem um idioma e portanto são envoltos pelas múltiplas formas de falar de cada

comunidade, possibilitando que os falantes possam expressar-se de diferentes maneiras

para expressar um mesmo sentido (LABOV, 2008 [1972]).

Cada comunidade linguística apresenta suas diferentes normas, que corroboram

com essa heterogeneidade, e é pensando nisso que temos, como ponto de partida, estudar

uma variedade da língua espanhola, a mexicana, com o propósito de analisar como duas

formas pretéritas, o pretérito perfecto compuesto (PPC) e o pretérito perfecto simple

(PPS), são usadas em um corpus de fala em duas cidades do México, Monterrey e Ciudad

de México.

Para compreender como esse fenômeno ocorre nessas cidades, buscamos um

corpus de fala representativo de cada cidade. Por isso, exploramos o corpus

sociolinguístico PRESEEA - Proyecto para el estudio sociolinguístico del español de

España y de América -, que contempla diferentes variedades do espanhol americano e

peninsular. Este projeto envolve diversas universidades, as quais aderiram à pesquisa com

o propósito de construir um corpus que seja representativo das comunidades hispânicas.

Partimos dos pressupostos teórico-metodológicos dos estudos da Variação e da

Mudança Linguística que entendem a língua revestida de formas diferentes, que

coexistem e que são representativas de uma comunidade de fala (WLH, 2006[1968]).

Aliada a essa concepção, fundamentamo-nos também na dialetologia, que busca

classificar essa heterogeneidade com base nos dialetos de cada comunidade linguística do

ponto de vista geográfico; enquanto a Sociolinguística busca classificar a variação a partir

dos aspectos sociais que constituem cada comunidade.

Nesse sentido, a intenção desta pesquisa é verificar se ocorre diferença de

variação entre duas cidades / regiões de um mesmo país, uma vez que o nosso interesse

repousa em analisar a variação social e geográfica que está atrelada à variação linguística

dessas comunidades de fala. Por isso, optamos pelo corpus PRESEEA, que está

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organizado em diferentes níveis de escolaridade, faixas etárias e sexo, fatores que, por

sua vez, estão agrupados por cidade.

O fenômeno ora investigado trata da variação entre as formas pretéritas perfeitas

do espanhol – pretérito perfecto compuesto e pretérito perfecto simple. Essas formas são

equivalentes, segundo Cartagena (1999), já que estabelecem uma relação de anterioridade

ao momento da enunciação e ambas são perfectivas, ou seja, expressam ações concluídas

antes do enunciado ser proferido.

A variação linguística, definida por Labov (2008[1972]) como a coexistência de

formas diferentes que expressem um mesmo significado, é o que fundamenta este trabalho

para a delimitação da variável escolhida, as formas pretéritas perfeitas do espanhol, PPS

e PPC. A seleção desse fenômeno, dessa variável dependente1, ocorre pelo alto índice de

ocorrências na conversação de maneira espontânea, fator fundamental para que possa ser

esquematizada a partir de contextos não– estruturados (LABOV, 2008 [1972]). Portanto,

a seleção da variável aqui investigada se explica pela ocorrência significativa do

fenômeno presente em entrevistas sociolinguísticas, pois, naturalmente, os informantes

costumam narrar eventos de diversos âmbitos da sua vida, o que possibilita verificar o

uso das formas pretéritas do indicativo, nas cidades de Monterrey e Ciudad de México.

Por entender que a língua é representativa de uma sociedade, este trabalho tem

como intuito descrever e analisar as variações entre as formas de uso do pretérito, PPC e

PPS, na língua falada destas duas cidades do México, Monterrey e Ciudad de México.

Acreditamos, portanto, que este estudo possibilitará reflexões sobre o uso dessas formas

e, nessa perspectiva, poderá colaborar para o desenvolvimento de outras pesquisas sobre

o tema.

Os estudos da variação e da mudança linguística situam a língua como o cerne da

sociedade, portanto indissociável de uma comunidade de fala. Essa relação intrínseca é

percebida pelos aspectos sociais refletivos através dos diferentes usos da língua. Por isso,

não há como pensar em estudar um fenômeno linguístico sem considerar os fatores

condicionantes que possibilitam a heterogeneidade presente na língua (LABOV, 2008

[1972]).

Por possibilitar essa representação da comunidade de fala, pretendemos buscar (a

partir do estudo do PPC x PPS nas duas cidades do México, anteriormente citadas) as

1 Conceito que iremos detalhar no capítulo teórico, mas, grosso modo, compreende-se como uma variação

que pode ser alterada de acordo com fatores externos, como a idade, sexo, escolaridade, nível social, ou

seja, é dependente de fatores sociais.

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possíveis variações no uso dos pretéritos. Convém aclarar que a forma PPS expressa ações

pontuais, realizadas no passado e sem relação com o momento enunciativo; enquanto a

forma PPC expressa ações finalizadas que apresentam relevância na atualidade do falante

(cf. Cartagena, 1999).

Para o alcance desse fim, serão considerados fatores condicionantes tanto

linguísticos quanto extralinguísticos. Como fatores linguísticos temos: a) a presença e/ou

ausência de advérbios que indicam anterioridade ao ponto zero da enunciação (ADVa);

b) a presença e/ou ausência de advérbios que indicam simultaneidade ao momento da

enunciação (ADVs); os condicionantes extralinguísticos constituem: c) idade; d)

escolaridade; e) sexo e f) localidade.

No entanto, essa pressuposição de que as formas PPS e PPC são variantes, não é

vista de forma igualitária por estudiosos da língua espanhola. Autores como Lope Blanch

(1992), Moreno de Alba (2002), Airoldi (2004) defendem que a aplicação entre as duas

formas ocorre de forma diferenciada no México, sendo definida por uma questão

aspectual, de completude da ação para o PPS e de ação durativa, inacabada para o PPC,

divergindo do que defende Cartagena (1999).

Com base nesses pressupostos, pretendemos descrever o espanhol mexicano

refletido em duas comunidades de fala (Monterrey e Ciudad de México), pelo viés das

entrevistas sociolinguísticas, buscando perceber quais as semelhanças e as diferenças na

aplicação dos pretéritos PPC e PPS nesses dialetos.

Como hipótese geral do trabalho, defendemos que ocorre variação das formas

pretéritas no espanhol do México, porém não sabemos se a temporalidade ou a

aspectualidade influenciam na escolha por uma das formas: a) PPS com advérbios de

simultaneidade; b) PPC com aspecto imperfeito; c) PPC substituindo o PPS; d) PPC com

advérbios de anterioridade. Para tentar contestar essa suposição, topicalizamos as

seguintes questões:

1) As duas variantes PPS e PPC se fazem presentes nas entrevistas

sociolinguísticas do México – Ciudad de México e Monterrey?

2) A presença dos advérbios temporais influencia no uso de uma das variantes?

3) As variáveis independentes linguísticas e extralinguísticas são significativas no

uso de uma das formas?

4) Que diferenças são percebidas entre as ocorrências da Ciudad de México e de

Monterrey?

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Com o intuito de responder a essas questões, temos como objetivo geral deste

trabalho descrever e analisar a variável dependente, a forma pretérita perfeita do espanhol,

através das variantes PPC e PPS, em entrevistas sociolinguísticas das cidades de

Monterrey e Ciudad de México.

Como objetivos específicos:

a) Identificar e descrever as formas pretéritas perfeitas presentes no corpus

PRESEEA – Ciudad de México e Monterrey;

b) Verificar a presença de advérbios temporais de simultaneidade (ADVs)2 e

anterioridade (ADVa) presentes no corpus e como eles contribuem para a variação;

c) Analisar de que modo as variáveis independentes (ou fatores condicionantes)

contribuem para que ocorra variação no uso das formas.

d) Examinar se ocorre diferença de uso entre as localidades estudadas.

Para responder a tais questionamentos, o nosso trabalho está organizado da

seguinte maneira:

No capítulo 01, trazemos uma apresentação teórico-metodológica sobre os

preceitos labovianos, especificando as questões referentes à variação e mudança, os

problemas percebidos no estudo da variação e como a dialetologia pode contribuir com o

nosso trabalho.

No capítulo 02, explicitamos o fenômeno linguístico sobre o qual nos debruçamos,

e para isso buscamos caracterizar/descrever a variável dependente elencada, formas

pretéritas perfeitas do espanhol, explicando cada uma das variantes que consideramos

(PPS e PPC), a partir de um panorama histórico e, em seguida, apresentamos as diferenças

tempo-aspectuais a que se dedicam os estudos para aproximar e diferenciar os usos de

cada uma das formas. Além disso, apresentamos uma classificação gramatical de cada

uma das formas.

No capítulo 03, apresentamos um panorama do espanhol mexicano, retratando as

separações dialetais realizadas no México e alguns estudos sobre as formas PPS e PPC

nesse país, que consideram essas formas com um teor aspectual diferente.

No capítulo 04, indicamos o percurso metodológico realizado para alcançar os

objetivos aqui propostos, apresentando a metodologia adotada, assim como a descrição

dos corpora das duas cidades e das variáveis independentes (ou fatores condicionantes)

escolhidas.

2 As nomenclaturas aqui utilizadas, ADVa e ADVs, foram baseadas no trabalho de Oliveira (2007).

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No capítulo 05, traçamos uma análise dos dados com base nas variáveis

independentes, verificando sua possível interferência na variável dependente – formas

pretéritas perfeitas.

Por último, arrolamos nossas conclusões.

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CAPÍTULO 1 - OS ESTUDOS DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

A Sociolinguística é uma teoria incorporada à Linguística que tem como cerne

analisar a língua em uso nas diferentes comunidades de fala, relacionando aspectos

linguísticos e sociais. A língua, a partir do seu aspecto concreto, é o que motiva as

pesquisas sociolinguísticas, considerando o seu teor heterogêneo, que antes era

desconsiderado nos outros campos da Linguística.

Os estudos sociolinguísticos ganharam amplitude a partir da década de 1960, com

as pesquisas de Labov (2008 [1972]), quando investigou a fala dos habitantes da ilha de

Martha’s Vineyard, Massachussetts. O autor passou a fundamentar a variabilidade da

língua como fonte de estudo em suas pesquisas, considerando o caráter heterogêneo e, ao

mesmo tempo, sistemático da língua. Além de atrelar as mudanças linguísticas aos

fenômenos sociais, denominados fatores condicionantes extralinguísticos, tais como

idade e escolaridade, que corroboram na tendência de uso de certas formas em oposição

a outras.

Esses fundamentos da teoria sociolinguística variacionista ou sociolinguística

laboviana, que relacionam a variabilidade da língua atrelada aos aspectos sociais, foram

difundidos por Weirinch, Labov e Herzog (2006 [1968], doravante WLH), reafirmando a

interdependência entre língua e sociedade, isto é, apontando que, com o movimento de

transformação que ocorre em uma comunidade de fala, consequentemente a língua varia.

A partir desse pensamento de integração entre língua e caráter social, os estudos da

sociolinguística variacionista ou sociolinguística laboviana ganharam força no século

XX, quando os autores passaram a defender que um indivíduo pode produzir um mesmo

enunciado com determinada intenção comunicativa de múltiplas maneiras, e são essas

diferentes formas de dizer que configuram a variação linguística.

Nesse período, diferentes estudos realizados sob essa perspectiva foram essenciais

no estabelecimento de um modelo teórico-metodológico de “um sistema ordenadamente

heterogêneo em que a escolha entre alternativas linguísticas acarreta funções sociais e

estilísticas, um sistema que muda acompanhando as mudanças na estrutura social” (WLH,

2006 [1968], p. 99). Essa proposta traz à luz a percepção do entrelaçamento entre

sociedade e língua, pois a evolução ou alterações sociais são diretamente refletidas nos

diferentes contextos comunicativos, sejam eles por variações estilísticas, sociais ou

diatópicas.

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Esses diferentes tipos de variações podem ser compreendidos da seguinte forma:

as variações estilísticas contemplam os diferentes estilos em que um mesmo falante

emprega a língua, adequando ao contexto comunicativo. Conforme Macedo (2012, p. 59),

“os falantes possuem um repertório linguístico que pode variar dependendo de onde se

encontram e com quem falam”.

A variação social, também conhecida como diastrática, conforme dito

anteriormente, está relacionadas a questões como a idade, gênero, nível de escolaridade e

nível socioeconômico, verificando como esses fatores podem influenciar na seleção

linguística dos falantes.

A variação diatópica ou variação regional, ou ainda geográfica, é “a responsável

por podermos identificar, às vezes com bastante precisão, a origem de uma pessoa pelo

modo como ela fala. Através da língua, é possível saber que um falante é gaúcho, mineiro

ou baiano, por exemplo” (COELHO et al, 2015, p. 38). Os autores esclarecem de que

forma os estudos sociolinguísticos fortalecem essa identificação:

O aparato teórico-metodológico da Sociolinguística nos equipara para

que possamos sair de um nível impressionístico (e, às vezes, caricato)

da variação geográfica e descobrirmos quais são exatamente as marcas

linguísticas que caracterizam a fala de uma região em relação à de outra.

Em geral, itens lexicais particulares, certos padrões entoacionais e

certos traços fonológicos respondem pelo fato de que falantes de

localidades diferentes apresentem dialetos (ou seja, variedades)

diferentes de uma mesma língua (COELHO et al, 2015, p. 38).

Dito isso, convém refletir sobre as possibilidades que a Sociolinguística oferece

às relações entre língua e sociedade, avaliando, investigando, desde as diferentes

variedades regionais a questões de estilística que permeiam a linguagem nos seus

diferentes grupos, buscando uma sistematização do aparente caos linguístico a que se

referia Sausurre (1990) em seus pressupostos linguísticos.

Nesse sentido, a nova concepção de estudar o aparente “caos” da fala e analisar a

língua influenciada pela sociedade diversificou o âmbito de investigações da

Sociolinguística, que ampliou o escopo de estudos para questões relacionadas ao “contato

entre línguas, ao surgimento e extinção linguística, multilinguismo e variação e mudança”

(MOLLICA, 2012, p. 10).

Portanto, a Sociolinguística tem como principal finalidade estudar a “variação,

entendendo-a como um princípio geral e universal, passível de ser descrita e analisada

cientificamente. Ela parte do pressuposto de que as alternâncias de uso são influenciadas

por fatores estruturais e sociais” (MOLLICA, 2012, p. 09-10).

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Essas unidades estruturais e sociais são construídas dentro de cada comunidade

linguística em que se apresentam diferentes sistemas que coexistem e que são

determinados pelos diferentes grupos sociais: o sistema linguístico dos jovens, dos

médicos, das pessoas escolarizadas, do sexo feminino, por exemplo. De acordo com WLH

(2006), esses diferentes sistemas confluem para o estabelecimento de determinadas

propriedades, pois:

oferecem meios alternativos de dizer “a mesma coisa”: ou seja, para

cada enunciado em A existe um enunciado correspondente em B que

oferece a mesma informação referencial (é sinônimo) e não pode ser

diferenciado exceto em termos de significação global que marca o uso

de B em contraste com A (WLH, 1968 [2006], p. 97).

O sistema linguístico possibilita essa multiplicidade de formas que está

diretamente associada às significações atribuídas por seus falantes, aos diferentes

contextos comunicativos, e é essa diversidade de formas de dizer que propicia a mudança

linguística ao longo do tempo. No entanto, para que ocorra a mudança linguística é

preciso que antes haja variabilidade da língua, o que possibilita que formas concorrentes

busquem se estabelecer nas comunidades linguísticas.

Essas formas diferentes que mantém uma mesma significação em um determinado

contexto é o que possibilita a diversidade linguística, “meios alternativos de dizer a

“mesma coisa” (WLH, 2006, p. 97). No entanto, os fatores condicionantes

extralinguísticos, ou variáveis independentes sociais que delimitam os usos da língua

associados aos diferentes contextos (supostamente disponíveis a todos os falantes de um

idioma) não ocorre na prática. Quando pensamos nas diferentes classes sociais,

percebemos que pessoas com um nível de escolaridade mais baixo não têm acesso às

mesmas estruturas linguísticas e lexicais que uma pessoa que está em um nível de

escolaridade superior. Por essa razão, questões como conhecimento de mundo e

escolaridade influenciam diretamente no repertório linguístico do falante:

[...] alguns falantes podem ser incapazes de produzir enunciados em A

e B com igual competência por causa de algumas restrições em seu

conhecimento pessoal, práticas ou privilégios apropriados ao status

social, mas todos os falantes geralmente têm a capacidade de interpretar

enunciados em A e B e entender a significação da escolha de A ou B

por algum outro falante (WLH, 1968 [2006], p. 97).

A reflexão exposta por WLH nos faz perceber que, de acordo com o nível social,

pode haver limitações enunciativas pelos falantes, pois pessoas com diferentes níveis de

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escolaridade e sem acesso a determinados contextos podem não ter domínio de alguns

usos vistos como “padrões”. Entretanto, isso não os impossibilita de compreender

determinados significantes adotados por outros falantes.

Para compreender melhor essas múltiplas formas da língua que estão vinculadas

às variáveis sociais, trataremos, na próxima seção, sobre o que dizem os estudos

sociolinguísticos acerca da heterogeneidade linguística.

1.1 A VARIABILIDADE DA LÍNGUA E SUA HETEROGENEIDADE

Conforme defendido pelos estudos sociovariacionistas, a organização da língua é

o que permite que suas regras sejam alteradas de forma gradativa, apesar do seu caráter

heterogêneo. As mudanças ocorrem o todo tempo, porém há várias etapas para que tais

mudanças se estabeleçam neste complexo sistema ordenado que é a língua.

De acordo com WLH (2006[1968], p. 104), “um código ou sistema é concebido

como um complexo de regras ou categorias inter-relacionadas que não podem ser

misturadas aleatoriamente com as regras ou categorias de outro código ou sistema”. Logo,

cada língua é estabelecida e delimitada por regras internas que não são as mesmas de

outra língua ou código.

Sendo assim, “o modelo de um sistema ordenadamente heterogêneo em que a

escolha entre alternativas linguísticas acarreta funções sociais e estilísticas, um sistema

que muda acompanhando as mudanças na estrutura social” (WLH, 2006[1968], p. 99).

Por consequência, existe uma unidade linguística que é determinada culturalmente na

constituição das línguas e sua evolução, suas alterações refletem as mudanças nas

configurações sociais que ocorrem diacronicamente.

No entanto, mesmo sendo única em cada idioma, essa constituição não ocorre de

forma homogênea, mas sim envolta de heterogeneidade que deixa transparecer as

características de cada comunidade linguística. Podemos compreender, portanto, que a

composição da língua por subsistemas está intrinsecamente organizada por regras que

refletem os aspectos socio-culturais de uma comunidade de fala:

reconhecer a língua como uma realidade essencialmente social que,

correlacionada com a multifacetada experiência econômica, social e

cultural dos falantes, apresenta-se em qualquer situação, como uma

realidade heterogênea, como um conjunto de diferentes variedades

(FARACO, 2005, p. 67).

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Essa realidade heterogênea, envolta por aspectos sociais contemplados na língua,

apresenta um conjunto de subsistemas que se alternam de acordo com um conjunto de

regras coocorrentes. No interior de cada um desses subsistemas, encontramos variáveis

dependentes que concorrem a uma mesma função, a um mesmo uso dentro da língua.

Assim, se pensarmos no pretérito perfecto simple na América vs. o pretérito perfecto

compuesto na Espanha, temos duas formas3 que são concorrentes em subsistemas

diferentes, mas que pertencem a uma mesma língua.

Coelho et al (2015) evidencia o cerne da Sociolinguística:

são as regras variáveis da língua, aquelas que permitem que, em certos

contextos linguísticos, sociais e estilísticos, falemos de uma forma, e,

em outros contextos, de outra forma – ou seja, que alternemos duas ou

mais variantes (formas que devem ter o mesmo significado

referencial/representacional e ser intercambiáveis no mesmo contexto)

(COELHO et al, 2015, p. 60, grifo do autor).

Portanto, em um sistema em variação, a variável dependente é constituída por

formas coexistentes que expressam o mesmo significado ou que expressam o mesmo

valor dentro de um mesmo contexto. Essas diferentes possibilidades de dizer a “mesma

coisa”, numa outra configuração, são chamadas de variantes. Assim, para que haja uma

variável é preciso que existam duas ou mais formas concorrentes. Acerca disso, Mollica

(2012) explicita que uma variável:

é concebida como dependente no sentido que o emprego das variantes

não é aleatório, mas influenciado por grupos de fatores (ou variáveis

independentes) de natureza social ou estrutural. Assim, as variáveis

independentes ou grupos de fatores podem ser de natureza interna ou

externa à língua e podem exercer pressão sobre os usos, aumentando ou

diminuindo sua frequência de ocorrência (MOLLICA, 2012, p. 11).

Portanto, uma variável dependente sempre será influenciada por diferentes grupos

de fatores que motivem a escolha por uma das formas coexistentes, que podem ser

ocasionadas por diversos fatores, desde fenômenos internos à língua até fenômenos

externos como o nível de escolaridade, por exemplo.

Apesar disso, Lavandera (1977 apud COELHO et al, 2015, p. 64) critica a

proposta laboviana de ampliar os estudos para outros níveis da linguagem, além do

fonológico, expressando que “cada forma tem um significado, o que bloquearia a

variação”. Com base nisso, Labov:

3 A concorrência das formas pretéritas será tratada no capítulo II.

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relativiza a noção de “mesmo significado”, ao estabelecer que o

conceito de variável linguística deveria ser aplicado a “dois enunciados

que se referem ao mesmo estado de coisas e que têm o mesmo valor de

verdade” (entendendo “estado de coisas” como “significado

representacional” (COELHO et al, 2015, p. 64, grifos do autor).

Essa ampliação conceitual possibilitou um avanço e ampliação nos trabalhos

sociolinguísticos voltados para variação morfossintática e variação discursiva, as quais

antes estavam limitadas ao nível fonológico (COELHO, 2015).

Outro aspecto estudado pela sociolinguística variacionista, atrelada à variação, é

a mudança linguística: um processo percebido de “forma lenta e gradual”, nunca de

maneira abrupta, que tampouco se faz presente de forma “global e integral”, pois atinge

partes da língua e não o seu conjunto. Ao pensarmos na coexistência de duas variantes

concorrentes de uma variável, uma delas pode possibilitar que haja ou não uma mudança

na língua, porém vários fatores precisam ser analisados para verificar esse fenômeno

(FARACO, 2005).

Contudo, o ato da mudança não ocorre corriqueiramente. O processo, como dito,

é lento e, em determinados fenômenos, a ocorrência de variantes pode ser uma variação

estável ou, caso contrário, uma mudança em progresso (MOLLICA, 2012,). Por isso, é

indispensável que haja a análise detalhada de uma quantidade significativa de dados da

fala para que se possa alcançar uma representatividade da comunidade linguística

investigada.

Para compreender e tentar situar nosso objeto, trataremos, na próxima seção, os

problemas relacionados à variação e mudança da língua para posteriormente discutir

sobre a etapa em que nosso fenômeno em estudo se encontra.

1.2 OS PROBLEMAS DA VARIAÇÃO E MUDANÇA

Como mencionado no tópico anterior, para investigar o processo de mudança

linguística, ou até mesmo para que se possa verificar se está ocorrendo uma mudança ou

se trata-se de uma variação estável, é necessário considerar a observação de fatores

linguísticos, sociais e pragmáticos a fim de identificar o estágio em que se encontra o

fenômeno; se é uma variação estável ou se há uma mudança em curso.

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No entanto, para analisar tal efeito sobre a língua, é preciso ainda considerar

alguns problemas que enviezam esse processo, são eles: os fatores condicionantes, a

transição, o encaixamento, a avaliação e a implementação, que serão explicados a seguir,

com base em WLH, 2006[1968]):

1) Os fatores condicionantes, a restrição – este problema busca compreender quais

os fatores que condicionam o processo de mudança. Busca-se identificar de que forma os

fatores linguísticos e sociais influenciam, limitando o processo de mudança.

2) A transição – o problema aqui apresentado trata do movimento de coocorrência

de formas, do momento em que a variável apresenta duas ou mais variantes que

competem na tentativa de uma se sobrepor à outra; porém, é importante salientar que elas

também podem coexistir na comunidade sem que haja prevalência, apenas estabelecendo

o teor de variação da língua. Além disso, ao avaliar em alguns subsistemas de uma língua,

o traço arcaico/ inovador4, pode-se perceber a mudança em curso, quando são encontrados

elementos linguísticos do passado perdidos na atualidade.

3) O encaixamento - para que seja considerado em processo de mudança, o

fenômeno precisa estar encaixado ao sistema linguístico em sua totalidade. Esse problema

está dividido em dois aspectos, o encaixamento na estrutura linguística e na estrutura

social. Quanto ao primeiro, necessita ultrapassar os limites de um idioleto5, e que sua co-

ocorrência esteja disponível à comunidade de fala com função bem definida para cada

variante; com a covariação de elementos linguísticos e extralinguísticos. As variantes

podem estar num continuum em que seus usos sejam determinados pelos contextos e que

oscilem de acordo com cada situação. Quanto ao segundo, precisa estar encaixado no

contexto mais amplo da comunidade, com diferentes elementos sociais e geográficos

compondo sua estrutura.

4) A avaliação – deve ocorrer a observação dos dados variáveis, de maneira

subjetiva, analisando os diferentes estratos sociais, no intuito de verificar se há a

ocorrência da mudança com a prevalência do fenômeno em alteração. E sua verificação

não deve ocorrer a partir da estruturalidade da língua, mas dos fatores extralinguísticos.

5) Implementação – esse problema, que define o último passo para a mudança ou

para a sua constatação, verifica desde aspectos da língua até questões sociais. Parte da

mudança no comportamento social de aceitação do fenômeno, ou de sua expansão pelos

4 No subitem explicitaremos a oposição arcaico vs inovador. 5 No subitem 1.3 explicitaremos o conceito de idioleto.

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diferentes níveis e faixas etárias, assim como sua significação linguística em toda a

comunidade de fala.

Com base nos problemas apresentados, podemos perceber que o processo da

mudança passa por um trajeto longo e lento que se inicia com a difusão da variável por

um grupo de falantes, avançando por sua difusão a outros grupos, até ganhar uma

consciência social na comunidade e se estabelecer na língua, em detrimento da outra

forma concorrente.

Neste trabalho, pretendemos observar se é possível identificar em que

“problemas”/ processos podemos inserir o fenômeno das formas perfeitas que estamos

estudando, PPS e PPC. Para tanto, além dos grupos de fatores sociais, buscaremos refletir

como a variação dialetológica influencia nesse encadeamento. Por isso, no próximo

subitem, apresentaremos as variedades do espanhol, a partir desta perspectiva: a

dialetológica.

1.3 AS VARIEDADES DO ESPANHOL NUMA PERSPECTIVA DIALETOLÓGICA

As línguas são constituídas por subsistemas denominados de variedades

linguísticas, como afirmado anteriormente. E essas variedades podem ser divididas por

diferentes óticas: do ponto de vista social, quando consideramos as variedades diastráticas

(idade, sexo, escolaridade), do ponto de vista regional, as variedades diatópicas (países,

estados, cidades), e do ponto de vista dos contextos de enunciação, temos as variedades

estilísticas (apropriação da linguagem de acordo com as diferentes situações

comunicativas).

Ao nos voltarmos para a língua espanhola e toda a sua diversidade, diante de 21

países que a têm como língua oficial, não podemos desconsiderar as variedades

diatópicas. Essa multiplicidade de vozes que constitui a língua espanhola não pode ser

analisada apenas considerando os aspectos sociais, mas vislumbrando a geografia que

também determina as escolhas dos falantes e constitui a variedade diatópica ou regional.

Por esse motivo, recorremos à dialetologia que tanto desenvolve estudos regionais

e constroi atlas geográficos, buscando uma delimitação das fronteiras linguísticas entre

os diferentes dialetos. Zamora Munné e Guitart (1982) especificam o objeto de estudo da

dialetologia:

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La dialectología es aquella parte de la lingüística que estudia la

heterogeneidad de las lenguas, es decir que observa y explica el hecho

de que las lenguas no sean homogéneas, sino que estén compuestas de

un mayor o menor número de dialectos, más o menos diferentes entre

sí (ZAMORA MUNNÉ; GUITART, 1982, p. 09).

O que se pode observar, com o exposto, é que a heterogeneidade a que se dedica

a Sociolinguística também está no bojo da dialetologia, buscando identificar quais

dialetos estão presentes numa língua e como suas fronteiras estão delimitadas

geograficamente a partir dos aspectos linguísticos.

Se as duas teorias consideram a heterogeneidade da língua, o que as difere? O que

seria um dialeto? A dialetologia se preocupa com os dialetos enquanto a Sociolinguística

estuda a língua? Há uma diferença entre língua e dialeto? Ao pensar numa comunidade

linguística como cada uma dessas abordagens pode corroborar nos estudos da diversidade

linguística?

Para tenta responder essas indagações, partiremos do conceito micro para

esclarecer de que forma essas duas teorias podem caminhar “de la mano”:

Se puede decir que cada individuo habla un idiolecto (el castellano o

español de don Luis, el de la abuela Consuelo, el del joven Alberto) y

ese conjunto de idiolectos, con poca variación entre sí, forman el

dialecto de una zona geográfica (el castellano o español de Andalucía,

Salamanca, Cuba, San Juan de Puerto Rico). El conjunto de dialectos

regionales forman lo que usualmente se denomina una lengua (inglés,

francés, catalán, gallego, español, alemán). Por lo tanto, siguiendo estas

definiciones todos hablamos un idiolecto, pertenecemos a un grupo

dialectal y el dialecto forma parte de una lengua histórica y común

(SILVA-CORVALÁN, 1989 apud RAMIREZ, 1996, p. 38).

As conceituações acima nos fazem refletir sobre a teia que constitui a

configuração da língua. A partir do pressuposto do idioleto, ou seja, cada indivíduo

apresenta uma forma própria de falar, com suas peculiaridades e de acordo com as

diferentes situações comunicativas e o conjunto de pessoas que têm um falar “próximo”

constitui um dialeto. Ao passo que a junção de todos os dialetos de uma comunidade

linguística concebe uma língua.

Conflui para essa ideia de dialeto a declaração de Zamora Munné e Guitart

(1982):

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la forma historicamente determinada de la lengua de un grupo que

ocupa un espacio geográficamente definible. En este sentido no puede

establecerse una distinción entre hablantes de lengua frente a hablantes

de dialecto. Todo el mundo habla algún dialecto, y una lengua no es

más que la suma de sus dialectos (ZAMORA MUNNÉ; GUITART,

1982, p. 17).

Na dialetologia, o conceito de língua parte do individual para o coletivo.

Considera-se que os usos individuais unidos geram os dialetos e a congregação desses

dialetos constituem a língua, um processo considerado inverso ao pensamento

saussuriano, pois parte de uma unidade menor, o idioleto inerente a cada falante, que,

unido a um determinado grupo, produz um dialeto e os diferentes dialetos integram o que

chamamos de língua (MORENO FERNÁNDEZ, 2009).

Outra perspectiva sobre os conceitos de dialeto e língua é propagada por Alvar

(1996), a partir de um viés histórico, que posiciona uma diferenciação da seguinte

maneira:

La diferencia entre literaria y dialecto es, pues, un concepto histórico o,

por mejor decir, derivado de la historia. Por razones distintas (políticas,

sociales, geográficas, culturales), de varios dialectos surgidos al

fragmentarse una lengua hay uno que se impone y que acaba por agostar

el florecimiento de los otros. Mientras el primero se cultiva

literariamente y es vehículo de obras de alto valor estético, hay otros

que no llegan nunca a escribirse, y si lo son, quedan postergados en la

modestia de su localismo. Mientras el primero sufre el cuidado y la

vigilancia de una nación, los otros crecen agrestemente (ALVAR, 1996,

p. 07).

Segundo o autor, uma língua para tornar-se língua precisa de uma amplitude e

uma disseminação na comunidade de fala, ganhando força e propiciando uma produção

literária que seja representativa da comunidade. Nesse momento, ocorre a diferenciação

do dialeto para a chamada “língua nacional”, quando a comunidade se vê representada

nos diferentes meios de comunicação e difusão dos aspectos culturais que são gerados

pela própria comunidade. No tocante à delimitação dos conceitos que regem a

dialetologia, Moreno Fernández (2009) remete aos limites geográficos que definem os

dialetos, afirmando que não é tão simples quanto parece, pois há várias nuances que

dificultam sua precisão:

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sus limites son imprecisos, cuando no confusos, o de que resulta

imposible la caracterización exclusiva de los ámbitos geolinguísticos

que configuran una lengua. En realidad, la geografía de la lengua

española muestra unos caracteres ideales para entender todos los

problemas teóricos que plantea el concepto de dialecto: dentro del

español existen variedades desarrolladas a partir del castellano antiguo;

algunas de estas variedades conviven con otras cuyos orígen se remonta

al latín; en otros casos la convivencia se produce con lenguas de la

misma familia o de familias diferentes; las fronteras dialectales son

borrosas; y muchos rasgos lingüísticos son compartidos de forma

desigual por hablas diferentes (MORENO FERNÁNDEZ, 2009, p. 57).

Como vimos, os dialetos não são formados apenas pelo molde de uma nação, mas

dentro de suas fronteiras. Vários aspectos corroboram com a construção de um dialeto,

assim, em um país, temos as diferenças que vão desde as regiões até as comunidades de

fala definidas por grupos de falantes específicos, como de zonas rurais e urbanas, por

exemplo.

[...] dialecto es toda manifestación real del sistema linguístico abstracto

que es la lengua, de manera que la lengua española está integrada por

una gran variedad de dialectos nacionales y de subdialectos regionales,

comacarles, locales y aun individuales – idiolectos -, cada uno de los

cuales, por su parte, estará integrado por dialectos socioculturales

diversos (LOPE BLANCH, 2002, p. 26)

Um dialeto tem como objetivo caracterizar uma localidade, mas necessitamos ter

em mente que não há uma unidade em sua totalidade. O que ocorre, na verdade, é a

predominância de características que definem determinado dialeto de uma cidade ou de

uma região, mas outros eventos linguísticos podem estar presentes numa língua que é tão

mutável e heterogênea.

Essa pluralidade da língua possibilita análises sob diferentes óticas. Olhando para

a perspectiva dialetológica, percebe-se que “estudia la diversidad geográfica de la lengua;

se fija en comunidades que se definen por el espacio que ocupan”; enquanto a

sociolinguística corresponde a “estudiar las variedades de lengua […] las variedades

socialmente determinadas, las normas que regulan el uso social de la lengua, las

consecuencias de poseer una u otra variedad […]” (ZAMORA MUNNÉ e GUITART,

1982, p. 24).

Como vimos, uma língua é constituída de vários dialetos e não podemos omitir

essa informação em nossos estudos. Portanto, para que possamos analisar como um

fenômeno linguístico se apresenta em uma língua, precisamos esclarecer que nosso

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corpus é formado por dois dialetos diferentes, um da Ciudad de México e outro de

Monterrey, dialetos que fazem parte da variedade linguística do espanhol mexicano.

Sob essa ótica, não podemos tratar do espanhol mexicano como se todas as

subáreas apresentassem as mesmas características, já que estamos falando de

comunidades de fala que se diferem, seja por questões culturais, seja por questões

geográficas, já que a constituição de uma língua ocorre da união de vários eventos como

citado por Moreno Fernández (2009), sejam eles por contato entre outras línguas ou pelas

escolhas que a própria comunidade vai realizando diacronicamente.

Lope Blanch (1993) apresenta a importância de um estudo filológico baseado nos

preceitos sociolinguísticos:

El filólogo deberá tratar de determinar cuáles son las actitudes del

hablante que mayor repercusión tienen en la vida del idioma, que más

regularmente alteran o condicionan su estructura, para dedicar a ellas

su particular atención, como a factores verdaderamente relevantes

dentro de la organización y desarrollo de la lengua como sistema (LOPE

BLANCH, 1993, p. 24, grifos nossos).

Esse entrelaçamento entre as atitudes dos falantes e as alterações e/ou

condicionamento na língua é o que motiva nosso estudo, buscando perceber quais os

fatores que corroboram para as diferenças dialetais dentro da língua espanhola, no nosso

caso, na variedade do espanhol mexicano. Pois a Sociolinguística possibilita descobrir e

mostrar com suficiente detalhe os elementos de caráter social que influenciam nessas

possíveis alterações da língua (LOPE BLANCH, 1993).

Por entender que tanto a dialetologia quanto a sociolinguística são relevantes para

nossa pesquisa, pelo teor geográfico e social, consideraremos as palavras de Ramirez, as

quais nos embasam:

Cada disciplina amplia nuestros conocimientos sobre la variación

lingüística a través del tiempo, el espacio y las personas. La

dialectología, con sus estudios de las variaciones inter e intrarregionales

(geolinguística) y los nuevos enfoques relacionados con la variación

social (dialectología social y dialectología urbana), nos ofrecen valiosa

información de la lengua en la sociedad. La sociolinguística de la

sociedad (multilinguismo social, estudios del bilinguismo, lenguas en

contacto y en conflicto, actitudes linguísticas y comunidades de habla)

y la sociolinguística de la lengua (estudios cuantitativos de

variacionismo probabilístico, gramáticas en contacto, etnografía de la

comunicación y análisis del discurso) aportan otros importantes datos

acerca del comportamiento de la lengua y los hablantes (RAMIREZ,

1996, p. 48).

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A união desses dois marcos teóricos só pode colaborar para o enriquecimento de

nossa pesquisa, pois vislumbraremos como o fenômeno ocorre intrarregionalmente e se

ocorre variação nos diferentes níveis sociais (idade, sexo e nível de escolaridade),

permitindo que façamos uma descrição contundente dos dados analisados.

Com base nesses pressupostos, pretendemos apresentar como ocorre a alternância

das formas pretéritas, PPC e PPS, no espanhol mexicano refletido em duas comunidades

de fala (Monterrey e Ciudad de México), pelo viés das entrevistas sociolinguísticas. Para

tal fim, propomos uma comparação entre as duas cidades, buscando perceber quais as

semelhanças e as diferenças na aplicação desses pretéritos nos dialetos mencionados.

Contudo, para que possamos analisar os dados, no próximo capítulo tentaremos

caracterizar os aspectos que determinam cada um desses pretéritos.

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CAPÍTULO II - AS FORMAS PRETÉRITAS DO ESPANHOL: PPC vs. PPS

Neste capítulo, pretendemos apresentar as diferenças e semelhanças entre as

formas pretéritas PPC e PPS. Para isso, partimos da conceituação histórica e do processo

de gramaticalização da perífrase haber + participio (pp) que originou a forma verbal PPC.

Ademais relatamos as diferentes atribuições dessa forma até chegar ao seu uso atual.

Em seguida, relatamos a questão tempo-aspectual que possibilita as relações de

proximidade e distanciamento das formas, além de apresentar como cada uma das formas

é vista sob a ótica gramatical e a influência dos marcadores temporais associados a cada

uma das formas pretéritas, PPS e PPC.

2.1 ORIGEM E FORMAÇÃO DO PPC

O sentido atribuído às palavras ganha nova significação com o passar do tempo,

influenciado socialmente e impulsionado pela necessidade comunicativa de cada época.

Assim ocorreu com a perífrase do espanhol haber + participio, que apresentava diferentes

finalidades no espanhol clássico, e evoluiu para a forma verbal haber conjugado +

participio (he cantado) devido à necessidade de novas funções comunicativas que lhe

foram atribuídas.

Conforme Rodriguez Molina (2004), a primeira estrutura citada está presente no

castelhano antigo, assim como no período medieval, marca das demais variedades de

romances, o que nos elucida sobre a importância do sentido estabelecido naquela época

pelo uso dessa perífrase. O autor explicita que outros usos eram atribuídos ao verbo haber:

para expressar posse em várias acepções; em construções resultativas transitivas ativas

e para usos impessoais.

É necessário ressaltar, porém, que o sentido unificado do verbo habere +

participio (construção latina) não era percebido inicialmente, ou seja, o verbo e o

partícipio tinham acepções isoladas. Somente ao longo do tempo, essa formação passou

a expressar um sentido único:

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En latín, el verbo habere, unido a cierto tipo de participios, indicaba el

resultado de la acción significada por el verbo: habere y el participio

funcionaban como unidades léxicas independientes que conservaban

plenamente su significado referencial. Por el contrario, en español

actual el verbo haber se ha gramaticalizado como auxiliar temporal: la

construcción entera hace referencia a la anterioridad verbal, no denota

ya necesariamente un valor resultativo y ha rigidizado su estructura

sintáctica, de modo que haber y el participio no son ya unidades

independientes (RODRIGUEZ MOLINA, 2004, p. 170).

Em confluência com as afirmações de Rodriguez Molina (2006), Azofra Sierra

(2006) discorre que a natureza de possessão desta forma, PPC, vai se extinguindo até

tornar-se apenas uma forma auxiliar:

El perfecto compuesto del español tiene su origen en la construcción

latina de habeo + CD + participio de perfecto referido a ese objeto y

concordando con él, por ejemplo en epistolam scriptam habeo; en su

origen, el significado sería ‘tengo escrita una carta’, con valor

resultativo. En la evolución posterior, el participio tiende a agruparse

con haber, que a su vez va perdiendo progresivamente su valor de

posesión, se desemantiza y se gramaticaliza hasta convertirse en simple

auxiliar (AZOFRA SIERRA, 2006, p. 152-153, grifos nossos).

Assim, ocorreu de maneira pragmática uma alteração de sentido, pois, unidas, as

formas habere + particípio apresentavam teor resultativo de uma ação que estava

categorizada pelo verbo, mas quando isoladas mantinham integralmente o seu valor

referencial. No entanto, houve uma redução do significado do verbo habere à composição

de auxiliar das formas compostas, ou seja, acompanhava o particípio para sintetizar um

único sentido, perdendo o caráter de independência léxica do passado.

A forma haber, empregada na perífrase (haber + particípio), corroborou na

constituição dos diferentes tempos compostos da língua espanhola, atribuindo novos

sentidos, de forma gradual, e corroborou também para delinear as formas perfeitas do

espanhol, conforme afirmado na Nova Gramática da Real Academia Espanhola (RAE):

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los tiempos compuestos tienen su origen en una perífrasis verbal

resultativa que pasó a denotar anterioridad con respecto al punto de

referencia correspondiente. Según este proceso, el valor que

corresponde a HE CANTADO es el de anterioridad a un punto de

referencia situado en el presente. Este valor entra en claro conflicto con

el correspondiente a CANTÉ, que es el de anterioridad al punto del

habla[…] Existe coincidencia casi general en que la forma HE

CANTADO expresa la persistencia actual de hechos pretéritos,

mientras que la forma CANTÉ denota hechos anteriores al momento

del habla, pero relacionados con él (RAE, 2009, p. 1721, grifos do

autor).

Com a evolução da perífrase verbal, surge o valor de anterioridade, que passa a

fazer parte da composição temporal dos pretéritos, tanto do pretérito perfeito composto

quanto do simples. A oposição estabelecida entre esses tempos trata do momento da

enunciação, uma vez que estabelece um elo entre a forma he cantado com o presente,

apesar da ação ser perfectiva; enquanto a forma canté delimita ações que antecedem o

momento da enunciação, sem vincular sua ação ao tempo atual.

No período medieval, percebeu-se o traço aspectual de término do evento, de

completude da ação, o caráter perfectivo, indicando a finalização de uma ação. De igual

modo, a forma haber + particípio passou a estabelecer anterioridade em relação às ações

realizadas, ou seja, ao mesmo tempo que determina a completude dos eventos designa

anterioridade a um ponto do presente (cf. RAE, 2009).

As ideias expostas pela RAE confluem para a explicitação feita por Cartagena

(1999, p. 2944), sobre a mudança semântica ocorrida na época clássica quando a forma

haber + particípio “começa a expressar ação concluída imediatamente anterior ao

presente gramatical ou de maior distância temporal, mas cujo resultado guarda certa

importância para o sujeito até o momento da palavra”.

Todas essas significações contribuíram para os valores atuais do PPC. Rodriguez

Molina aponta 03 características inerentes ao PPC surgidas dessa evolução: o teor de

anterioridade, já que “todo tiempo compuesto expresa un evento previo al punto de

referencia temporal”; a marca de perfectividade, do ato de realização do evento, pois

“implica un límite temporal ya que indica um evento perfectivo delimitado, esto es,

acabado”; e a relevância presente, que ‘aproxima’ a ação de atualidade, pois “el evento

previo denotado por el tiempo compuesto es relevante para los participantes del discurso”

(RODRIGUEZ MOLINA 2004, p.173).

Esse limite temporal, remetido por Rodriguez Molina (2004, p. 173), está

relacionado a duas situações diferentes: quando “um evento télico alcança seu ponto final,

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falamos de limite material”, ou seja, quando ocorre a culminação do evento, a concretude

da ação; ou quando tratamos de limite temporal, “quando um evento, não necessariamente

télico, se encontra delimitado temporalmente”, já que um evento não télico pode ser

definido como uma ação que ocorre de forma contínua, sem uma culminância, como por

exemplo, correr.

O desenvolvimento de sentido, e até mesmo de função, adquirido pela perífrase

que passa a ser uma construção verbal, é produzida pelo processo de gramaticalização, a

partir do mecanismo de reanálise6. Em que o processo de gramaticalização é “um

processo irreversível e gradual e em geral unidirecional, de enfraquecimento do

significado referencial das formas e aquisição de um significado gramatical mais

abstrato” (COMPANY COMPANY, 2010, p. 38).

Desse modo, para que ocorresse uma nova conceituação do termo aqui

investigado, houve uma mudança progressiva de um significado que inicialmente era de

teor resultativo, haber + pp, considerado uma perífrase, até atingir a forma verbal he

cantado, em que a união desses verbos gera um sentido único que estabelece

anterioridade; perfectividade do evento e relevância presente das ações representadas.

No entanto, para se alcançar esse estatus mais geral de gramaticalização, esse

processo se utilizou da reanálise, que, segundo Langacker (1977, 57-58 apud

COMPANY COMPANY, 2010, p. 37), significa:

el cambio en el estatus funcional de una forma o construcción sin que

necesariamente se produzca un cambio en la manifestación externa

formal, fónica, de la forma o construcción en cuestión. Un reanálisis es

una reinterpretación de las relaciones estructurales y semánticas que

una forma o construcción contrae con otras y supone un cambio en su

estatus categorial. Es una de las causas fundamentales, si no es que la

causa, de la creación de nuevas categorías en la gramática de una

lengua.

Portanto, o processo de reanálise retrata a mudança ocorrida com a construção

haber + pp, pois a forma dessa perífrase não sofreu alteração, mas sim uma modificação

para a categoria gramatical, sendo assimilados novos valores a sua configuração. Esse

processo de gramaticalização, de transformação de uma perífrase em uma categoria

gramatical, com novos valores, pode apresentar nuances diferentes quando voltamos à

história e verificamos diacronicamente os dados.

6 O termo adotado, reanálise, busca representar a forma que foi atribuída no espanhol, reanálisis, e que é

fundamentada segundo os preceitos expostos por Company Company (2010).

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No período medieval, durante o processo de ressignificação desses valores, o PPC

apresentava dois valores no nível semântico-referencial: a) valor de pretérito abierto,

em que: “la acción verbal tiene inicio en el pasado pero continúa vigente en el presente;

b) valor de pretérito anterior al presente, cuando la acción verbal se inicia y se

concluye en un pasado próximo al momento del habla” (COMPANY COMPANY, 1983,

p. 240, grifos nossos).

A percepção desses valores da forma he cantado foram identificados por

Company Company em um estudo diacrônico do espanhol antigo (com textos dos séculos

XII ao XV)7. Com base nos dados investigados, ela define o 1) valor de pretérito abierto:

Conserva haber en este caso huellas de su significado originario de

presente. Cuando el pretérito perfecto compuesto tiene valor de

pretérito abierto, la acción verbal se inicia en el pasado pero continúa

abierta en el momento del habla y en algunos casos puede perdurar en

el futuro (COMPANY COMPANY, 1983, p. 254, grifos nossos).

Além desse valor, a autora assinalou que o PPC também foi percebido com o 2)

valor de pretérito anterior ao presente: “la acción verbal se inicia y se concluye en el

pasado, pero este pasado, que marca el límite de la acción, está próximo al momento del

habla (COMPANY COMPANY, 1983, grifos nossos).

A investigação de Company Company nos revela que o PPC já apresentava

matizes diferentes no espanhol antigo. Nos estudos de Company, a autora mostra

claramente o uso do PPC com duas funções diferentes no espanhol, entre os séculos XII

e XV, e provavelmente essas funções se expandiram pelos diferentes continentes, sendo

usados por diferentes critérios na Península e na América.

Esses dois valores apresentados por Company Company são percebidos em

diferentes variedades do espanhol. No México, conforme exposto por Lope Blanch

(1962), o caráter aspectual do PPC é “aberto”, enquanto na Espanha é utilizado com uma

forma polissêmica, sendo empregado tanto na forma de pretérito “anterior” quanto na

forma “aberta”.

Para o autor, quanto à diferenciação de uso entre o PPS e PPC entre a Península e

a América, “la oposición definitiva se basó, en América, en distinciones

fundamentalmente aspectuales (perfectiva la forma simple, imperfectiva la compuesta),

7 Os textos utilizados foram: Poema de mio Çid, Crónica general de Alfonso X, Libro de Apolonio; El

libro del cavallero Çifar; Libro de buen amor; Corbacho; La Celestina e diversos documentos notariais

(COMPANY COMPANY, 1983, p. 235).

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mientras que, en España – en la norma castellana – se basó sobre todo en diferencias de

carácter temporal (remoto o próximo)” (LOPE BLANCH, 1962, p. 95).

A partir dos pontos elencados por Lope Blanch (1962) e Company Company

(1983), no próximo tópico, faremos uma descrição da caracterização aspecto-temporal,

para tentar situar os pretéritos PPC e PPS. Essa descrição objetiva nos levará à reflexão

sobre o aspecto das duas formas, PPC e PPS, no México, para verificar se elas mantém

esse aspecto temporal como diferenciador ou se há um mudança aspectual de sentido

entre os dois tempos.

2.2 A RELAÇÃO ASPECTO- TEMPORAL NAS FORMAS PP DO ESPANHOL

Nesta seção trataremos das relações aspecto-temporais que envolvem as formas

pretéritas do espanhol. Para tanto, realizamos uma divisão entre a conceituação de

temporalidade dos verbos, em seguida a conceituação de aspectualidade e como os

estudos envolvendo o conceito aspecto-lexical podem influenciar na compreensão dos

eventos, ou seja, na efetivação das ações.

2.2.3 A temporalidade verbal

Entender as relações de temporalidade contribui para que possamos nos situar no

momento em que ocorre uma determinada ação e consequentemente perceber o sentido

temporal estabelecido pelas formas verbais do espanhol, aqui investigadas.

A ideia de tempo linguístico, no espanhol, coincide com o tempo cronológico, ou

seja, o tempo das ações, dos acontecimentos e da sucessão de suas realizações. De acordo

com Benveniste (1965) apud Rojo e Veiga (1999), o momento da enunciação é chamado

de ponto zero, e é esse ponto ou esse momento que determina a simultaneidade das ações.

Além disso, tal autor considera que essa simultaneidade está num contínuo que apresenta

fatores anteriores e posteriores ao ponto zero da enunciação.

O

A S P8

8 Retirado de Rojo e Veiga (2009, p. 2874) gráfico 44.1. El tiempo verbal. Los tiempos verbales.

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Conforme o gráfico apresentado, existe um ponto zero da enunciação que é

simultâneo às ações, e, ao mesmo tempo, nesse contínuo cronológico ocorrem momentos

de anterioridade ao ponto zero e de posterioridade que podem se distanciar ou se

aproximar do evento enunciado, apresentando que os eventos não acontecem de maneira

estática no tempo, mas que deslizam por esse contínuo.

No entanto, nem sempre é possível considerar o ponto de origem, o ato

enunciativo, como o ponto de origem temporal. A temporalidade de uma conversa

telefônica é diferente de um e-mail, pois a enunciação ocorre no momento de “escrita” do

enunciador, porém será enunciado pelo interlocutor, ocorrendo em tempos diferentes

(ROJO e VEIGA, 2009).

Essa temporalidade linguística funciona como cerne das construções verbais, pois

elas estão inseridas em tempos distintos, como no contínuo apresentado anteriormente.

Logo, ocorre uma distribuição entre presente, passado e futuro que apresenta nuances

relacionadas a proximidade e distância comunicativa vinculadas ao momento da

enunciação.

Esses critérios de temporalidade espacial foram utilizados por Bello (1995[1951])

para categorizar os tempos verbais, denominando o pretérito perfecto compuesto de ante-

presente, pois estabelece uma relação com a atualidade, e o pretérito perfecto simple

apenas de pretérito, uma vez que as ações perfectivas não estabelecem relação com a

atualidade.

Segundo alguns autores, essa temporalidade estabelecida pelo ponto zero de

enunciação é o que difere os tempos pretéritos em seu aspecto perfectivo. Conforme

Alarcos Llorach (1970), quando se usa as duas formas para expressar uma mesma ação,

como “leer un libro”, não se diferem por questões aspectuais, mas sim por uma questão

temporal:

Leí un libro frente a he leído un libro indica un mayor alejamiento de

la acción con respecto al punto de vista del que habla, pero en los dos

casos el aspecto de la acción es el mismo: perfectivo. Igualmente no

cambia el aspecto de la acción en las dos formas leí mucho y he leído

mucho, que expresan una acción iterativa, sino que sentimos una

diferente expresión temporal (ALARCOS LLORACH, 1970, p. 19-20).

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Portanto temos dois tempos verbais que manifestam temporalidades diferentes, no

contínuo enunciativo. Desse modo, o PPS indica um maior distanciamento do momento

enunciativo, enquanto o PPC simboliza uma proximidade temporal relacionado ao

“ahora” do falante. Essa equivalência exposta por Alarcos Llorach, de sentido aspectual

análogo entre as duas formas pretéritas, será discutida no próximo item do trabalho, para

que possamos refletir essas relações de forma contundente.

2.2.4 A aspectualidade dos verbos

O primeiro pensamento sobre a aspectualidade é: o que é o aspecto? Para que

serve? Contribui para identificar o sentido de um contexto ou está relacionado com a

flexão dos verbos? O aspecto se refere à ideia de como um evento ocorre ou se

desenvolve. Pensar na constituição dos eventos e como eles são descritos de acordo com

cada predicado é o que vai nos mostrar sua realização.

A conceptualização do termo aspecto “se ha usado normalmente para aludir a la

información (o al conjunto de informaciones) que un predicado proporciona sobre la

manera en que se desarrolla y distribuye un evento en el tiempo” (DE MIGUEL, 1999, p.

2980) 9. Dessa forma, o que vai determinar o aspecto de um evento é a maneira como ele

se desenvolve. No entanto, essa classificação aspectual apresenta um contínuo que desliza

por nossos olhos, já que uma denominação como essa não é tão simples de se realizar. É

preciso perceber o tipo de evento, como ele ocorre e ao mesmo tempo buscar a sua

compreensão temporal para saber qual a sua finalidade.

Ao remeter à natureza aspectual dos eventos, De Miguel (1999) arrola os

diferentes tipos de descrição de eventos que podem ser:

implicando um cambio (por ejemplo, en el caso de madurar); o la

ausencia de cambio (por ejemplo, en el caso de estar verde); alcançando

un límite (por ejemplo, llegar) o careciendo de él (viajar); de forma

única (por ejemplo disparar) o f) repetida (ametrallar); g) de forma

permanente (ser español), habitual (cortejar) o intermitente (parpadear)

(DE MIGUEL, 1999, p. 2979).

Desta forma, diferentes são as possibilidades de nomear um evento, dada a sua

natureza aspectual. Essas definições dos eventos, ou melhor, como se configura um

9 Para ver as diferentes classificações da natureza aspectual e de sua temporalidade, sugerimos consultar

De Miguel. O aspecto léxico, 1999.

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sentido atribuído a um evento, transportam consigo a extensão temporal do evento, que

pode ser caracterizada da seguinte maneira (DE MIGUEL, 1999):

- pode representar um período não delimitado no tempo: ser inteligente

- um intervalo delimitado no tempo: no caso de madurar;

- um instante: explotar;

- sobre a fase do evento descrito: o início (florescer); a fase média (envejecer) ou a fase

final (morir);

- pode representar a intensidade com que o evento tem lugar: peinar (evento de

intensidade neutra), repeinar (intensivo); atusar (atenuativo);

Vale salientar que o termo aspecto, que se considera como descrição do verbo e a

sua duração na efetivação da ação, surgiu nos estudos das línguas eslavas, conforme:

Aspecto (fr. aspect, usado por Ph. Reiff desde 1829). Categoría

descriptiva del verbo, relativa a la mayor o menor duración en el tiempo

y al cumplimiento de la acción descrita. La categoría fue inicialmente

señalada en el ámbito de las lenguas eslavas por los humanistas

checoslovacos y por los gramáticos rusos; en ruso ha sido traducido

como vid glagóla (primera documentación en 1619), el término éidos

de la gramática griega, que indicaba en realidad la derivación de una

categoría mayor, la „especie“, lat. species. De la gramática de las

lenguas eslavas la noción ha sido adoptada en la lingüística general por

los indoeuropeístas alemanes, sobre todo G. Curtius que había estado

en Praga y que usaba aún el término Zeitart, opuesto a Zeitstufe (Die

Bildung der Tempora und Modi im Griechischen und Lateinischen

sprachvergleichend dargestellt, Berlín 1846); el término Aspekt entra

en alemán sólo bajo la influencia del francés. La clasificación de los

tipos de aspecto no es cerrada y los que indicamos a continuación son

los más frecuentes usados en varias lenguas: habitual, conativo,

imperfectivo, incoativo, ingresivo, iterativo, perfectivo, puntual,

resultativo.“ [CARDONA, p. 29 apud FERNÁNDEZ LÓPES, 2017)10

As formas de externar um evento podem ocorrer de diferentes maneiras,

dependendo da comunidade linguística que se esteja estudando. No caso do espanhol:

10 Disponível em: <http://hispanoteca.eu/Lexikon%20der%20Linguistik/ao/ASPECTO.htm>, acesso em

10 de dezembro de 2017.

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[...] la información puede venir proporcionada por las unidades léxicas

cuando funcionan como predicados. En concreto, los verbos – los

predicados por excelencia – son portadores, por el propio contenido

semántico de su raíz, de información relacionada con el modo en que

tiene lugar el evento que describen (con o sin límite, con o sin duración,

de forma única o repetida, etc.) (DE MIGUEL, 1999, p. 2981).

Essa noção léxico- semântica é o que define o modo de ação do evento, expressa

por seu sentido, e essa significação é externada pelos verbos que expressam valor

semântico na origem da palavra, permitindo a descrição de um evento, seja por sua

natureza, que possibilita o limite do ato, ou por estabelecer a duração da ocorrência, por

exemplo.

A definição do conceito de aspecto léxico não é determinada em comum acordo,

devido às diferentes formas que são atribuídas ao aspecto, dependendo da língua. A

concepção de aspecto é aplicada tanto para a noção básica como para a categoria verbal

que em algumas línguas se manifesta (HOLT, 1943 apud DE MIGUEL, 1999).

De Miguel (1999) ressalta que um dos fatores que mais tem contribuído para esse

desacordo sobre o aspecto é o fato de que certas línguas – em especial as eslavas, de onde

procede o termo aspecto, tradução do russo vid – contam com uma realização visível e

regular da informação aspectual, enquanto que outras – por exemplo, as línguas romances

– carecem em geral de uma manifestação morfológica ou sintática regular. Por esse

motivo, prefere utilizar o termo aspectualidade para referir-se ao campo semântico dos

significados aspectuais.

2.2.4.1 O aspecto léxico

A definição de diferentes classes de verbos de acordo com os eventos apresentados

foi delimitada inicialmente por Aristóteles. Na época, Aristóteles percebeu que

determinados verbos denotam que chegaram a seu ponto final – kinesis (como construir,

llegar, nacer) enquanto outros verbos não necessitam de um ponto final, os energeia

(trabajar, ver, viajar). O caráter desses verbos é definido por apresentarem, por

estabelecerem a função de completude ou de imperfeição – já que o evento continua

vigente (DE MIGUEL, 1999). De acordo com a distinção básica estabelecida por

Aristóteles:

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El evento, denotado por fumar no está delimitado: no precisa acabar

para tener lugar, puesto que al mismo tiempo que uno está fumando, ha

fumado. En cambio, fumar sí denota un evento delimitado cuando se

construye con un complemento directo (CD) como en fumar un cigarro:

el evento finaliza ahora precisamente cuando finaliza el cigarro […]

Puede decirse, entonces, que en este caso la raíz verbal no es la

responsable única de la información aspectual referida a la ausencia o

presencia de límite interno en el evento (DE MIGUEL, 1999, p. 2985).

Quando ocorre um evento em que seu fim não é delimitado, significa que ele

poderá continuar vigente: “Ello indica que el evento descrito por llegar no está completo,

realizado, hasta que no alcanza su final, mientras que el denotado por trabajar no implica,

no menciona un fin, tiene lugar sin necesidad de acabar (DE MIGUEL, 1999, p. 2982)”.

Desse modo, se afirma que o aspecto do verbo é uma característica imposta por seu

desenvolvimento.

El aspecto léxico, en fin, es la información sobre el evento (por ejemplo,

sobre si es delimitado o no delimitado) que proporcionan las unidades

léxicas que actuan como predicados. No solo los verbos sino cualquier

unidad léxica que actue como predicado puede proporcionar

información de tipo aspectual (DE MIGUEL, 1999, p. 2983).

Sendo assim, as unidades léxicas que constituem os predicados também definem

o aspecto verbal, ou seja, a partir da informação contextual do enunciado, podemos inferir

o sentido que o aspecto verbal apresenta. Adjetivos como polido e mexicano predicam

uma propriedade inerente ao sujeito que independe da experiência imediata de qualquer

evento. Quando acompanhados do verbo ser definem o caráter não perfectivo do evento;

enquanto associados ao verbo estar, definem um caráter perfectivo (DE MIGUEL, 1999).

El aspecto léxico del verbo puede ser modificado por la información

que aportan otros participantes en el predicado (el sujeto y los

complementos) y otros elementos como los modificadores adverbiales

de tiempo y lugar, la negación y la propia información temporal-

aspectual de la forma en la que la raíz del verbo aparezca flexionada.

(DE MIGUEL, 1999, p. 2985)

Sobre a definição e o sentido em sua manifestação morfológica, é possível dividir

os aspectos gramaticais sob três categorizações aspectuais:

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García distingue, antes que nada, el aspecto léxico (o modo de acción)

del gramatical, el que aquí importa y que es noción semántica de

manifestación morfológica. Identifica tres aspectos gramaticales: el

perfectivo o aoristo (“nos permite ver toda la situación, desde su

principio hasta su fin”); el imperfecto (“nos permite ver una parte

interna de la situación y no el principio y el fin”); el perfecto (“lo que

nos muestra son los resultados de un evento”). En la morfología, el

imperfecto está representado por el presente y el tiempo imperfecto; el

perfecto simple es la forma más representativa del perfectivo (o aoristo;

las formas compuestas con haber son ambiguas y pueden expresar tanto

lo perfecto como lo perfectivo (o aoristo) (MORENO DE ALBA, 2002,

p. 78).

A construção de sentido de um aspecto léxico vai além dos limites internos do

verbo. A confluência dos elementos que constituem um enunciado, como os advérbios,

por exemplo, tanto de tempo, como de lugar e de negação, pode alterar o sentido aspectual

do verbo.

La estrecha relación existente entre el tiempo y el aspecto es

consecuencia del hecho de que ambas nociones tienen que ver con la

temporalidad de los eventos verbales, si bien ortorgan a esta un

tratamiento diferente. En efecto ‘el tiempo’ es una categoría deíctica:

localiza el evento verbal en un tiempo externo, orientándolo bien en

relación con el momento de habla, bien en relación con el tiempo en

que tiene lugar otro evento. El aspecto, en cambio, se ocupa del tiempo

como una propiedad inherente o interna del propio evento: muestra el

evento tal y como este se desarrolla o distribuye en el tiempo, sin hacer

referencia al momento del habla (DE MIGUEL, 1999, p. 2989).

Cabe mencionar que a aspectualidade e temporalidade caminham juntas,

definindo e estabelecendo os sentidos aspectuais dos verbos e que, além disso, esses

sentidos podem ser alterados, modificados por outros elementos como os advérbios ou os

sujeitos da oração. Se separarmos essas duas características, teremos que o aspecto, em

sua essência, é uma propriedade inerente aos verbos, mostra como o evento se

desenvolve; enquanto a temporalidade tenta situar, delimitar ou não a ocorrência de um

evento no tempo, porém há um contínuo que pode aproximar ou distanciar a realização

do evento na enunciação do falante.

Para tentar desvendar o teor aspectual dos tempos PPS e PPC, faremos, na

próxima seção, um panorama sobre as classificações dessas duas formas, que, segundo as

gramáticas, expressam realizações perfectivas.

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2.3 CARACTERÍSTICAS DO PPC vs PPS

Faz-se necessário conhecer a construção atual do pretérito perfecto compuesto do

espanhol, assim como do pretérito perfecto simple (ou indefinido), para que possamos,

na análise dos dados, entender o porquê dessas construções estarem entrelaçadas a

determinadas funções pragmáticas.

Algumas características gerais foram expressas no item 2.1 deste trabalho, como

a partir da evolução da forma haber + pp, o paradigma verbal do PPC passou a sintetizar

anterioridade ao momento da enunciação, caráter perfectivo e relevância ao momento

atual. Contudo, esses traços remetem a funções aplicadas a diferentes situações

comunicativas.

Esses tempos verbais apresentam características que são semelhantes, mas

também expressam diferenças entre si. No entanto, quando tratamos da sua aplicação em

contextos reais de fala, percebemos que a utilização desses tempos ganha uma nova

função ou até mesmo ocorre a preferência por um dos tempos verbais em detrimento do

outro. Antes de esclarecermos sua aplicação a contextos reais de fala, veremos o que

dizem as gramáticas sobre suas especificidades.

2.3.1 O pretérito perfecto compuesto – PPC - segundo as gramáticas

A construção morfológica constituída pelo verbo auxiliar do espanhol haber unida

a um verbo em particípio é o que representa o PPC, he cantado, e essa composição está

revestida de significados que definem esse tempo verbal:

[...] el participio posee cierta libertad sintáctica en los tiempos verbales,

suelen tenerse en cuenta varios argumentos para mantener los tiempos

compuestos en los paradigmas de flexión verbal, aunque, em principio,

su estructura (haber +participio) podría dar a entender que se asimilan

plenamente a las perífrasis verbales. El primero es el hecho de que el

participio de los tiempos compuestos es invariable en género y número

sea cual sea el sujeto […] El segundo argumento a favor de integrar los

tiempos compuestos en los paradigmas morfológicos es el hecho de

que, si los tiempos compuestos se eliminaran de la conjugación para

agruparse con las perífrasis verbales, ocuparían un grupo aislado dentro

de esas unidades y se alejarían indebidamente de los tiempos verbales

simples. Sin embargo, presentan muchas afinidades con ellos (RAE,

2009, p. 1678).

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Logo, percebemos que a inserção do PPC aos paradigmas verbais, junto com os

tempos simples, se distanciam das perífrases verbais, já que a forma do partícipio é

invariável, tanto em gênero quanto em número, e por suas características aspectuais serem

semelhantes às formas simples, tratando-se do PPC e do PPS, por exemplo.

A delimitação ocorrida historicamente do PPC, conforme visto no item anterior,

faz-nos perceber seu traço de anterioridade, empregado nas ações perfectivas, apesar de

ganhar uma ampliação temporal em alguns contextos de uso. O autor Gili Gaya (1980)

reafirma essas características em seus estudos sintáticos:

El participio precedido de un verbo auxiliar conjugado forma frases

verbales de significación perfectiva. El sentido perfectivo de la acción

así expresada, tiende a evolucionar hacia la representación de un

“tiempo” anterior en el cual se produce la perfección o terminación del

acto. Por esto la idea del pretérito, o de la anterioridad temporal,

acompaña al significado perfectivo y a veces se sobrepone a él, como

ha ocurrido en la historia de la conjugación española (GILI GAYA,

1980, p. 115).

Essa mudança de sentido propiciada pela perífrase resultativa é o que determina o

traço de atualidade do PPC ou que, nas palavras de Gili Gaya (1980, p. 159), “quedó la

perífrasis convertida en un tiempo pasado que se halla en relación con el presente”. Desse

modo, a ação está concluída, mas estabelece relação com o presente. Conforme os

exemplos abaixo:

(1) Hoy hemos ido de excursión a Toledo11.

(2) Este año ha aumentado el número de turistas en España.

(3) Esta semana no he hecho ningún circuito.

Os exemplos listados apresentam esse traço de atualidade defendido pelos autores

aqui elencados, o que evidencia uma manutenção do uso do PPC com a qualidade de ação

concluída anterior ao momento atual, mas que estabelece relação temporal com a

atualidade. Esse traço de atualidade é explicado por Cartagena da seguinte maneira:

11 Os exemplos 1, 2 e 3 utilizados nesta seção foram retirados de MORENO GARCÍA, C. Temas de

gramática: nivel superior. Madrid: SGEL, 2001.

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El significado fundamental de esta forma es indicar que una acción se

realiza antes del punto cero que nos sirve de referencia para medir el

tiempo, pero dentro del ámbito que tiene como centro la coexistencia o

simultaneidad de dicho punto con el momento del habla. Dicho de otro

modo, he hecho no significa acción simplemente ocurrida fuera del

ámbito de nuestro presente, sino en relación directa con este

(CARTAGENA, 1999, p.2941).

A relação direta com a atualidade expressa pelo PPC, apresentada no item 2.2.3,

sobre o ponto zero de enunciação, é defendida por Cartagena (1999) para explicar a

significação do PPC, em que entende como essencial marca dessa forma verbal a sua

efetivação, no continuum temporal, antes do ponto zero, ou seja, antes da enunciação.

Entretanto, considera o falante dentro do âmbito temporal enunciativo, estabelecendo

uma relação com o presente:

El proceso referido pertenece al ámbito del presente, porque “la acción

se realiza en presencia del hablante”, para formularlo en los términos

en que la gramática latina define el perfectum praesens o “perfecto

propiamente tal”. En este valor no se trata tanto de que la acción sea

inmediatamente anterior al punto cero desde donde se mide el tiempo,

sino más bien de que existe en ese punto un resultado o consecuencia

suya: ej. En este momento se le ha caído el peine a tu prima

(CARTAGENA, 1999, p. 2941, grifos do autor).

De acordo com o autor, o processo expresso pelo PPC pertence ao espaço temporal

do presente, já que a ação é realizada diante do falante que é o enunciador do evento.

Contudo, a imediatez desse processo não é a marca crucial desse valor expresso pelo

evento, mas ele traz consigo um resultado ou consequência que é sentida e/ou percebida

pelo falante nesse continuum de atualidade que reflete o passado.

Portanto percebemos que, para Cartagena, a repercursão do evento atinge a

atualidade do falante que se encontra no presente. Desse modo, o PPC expressa uma ação

que pode ter início no passado e ser refletida no presente, posicionando o enunciador no

ponto zero do continuum enunciativo. Logo, essa ação gerada no passado ecoa no

contexto atual do falante. Confluem com esse pensamento as ideias de Gili Gaya sobre o

espanhol atual:

En español moderno significa la acción pasada y perfecta que guarda

relación con el momento presente. Esta relación puede ser real, o

simplemente pensada o percibida por el que habla. Por esto nos

servimos de este tiempo para expresar el pasado inmediato (he dicho =

acabo de decir) u ocurrido en un lapso de tiempo que no ha terminado

todavía, p. ej.: esta mañana me he levantado a las ocho; este año ha

habido buena cosecha; durante el siglo presente se han escrito

infinidad de novelas (GILI GAYA, 1980, p. 159).

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Para Gili Gaya, assim como para Cartagena, a ação passada e finalizada externa

um passado imediato que preserva uma relação com a atualidade do falante, com o

presente. A hodiernidade, segundo esses autores, determina a aplicação do PPC. Ao

inserir os eventos dentro desse limite temporal, as ações são projetadas para o presente

dos falantes.

Outro fator que corrobora com o uso do PPC, estabelecendo esse vínculo entre

ações finalizadas e a atualidade do falante, pode ser associado ao uso de verbos

permanentes (como oír, ser, ver) - que significam a existência mesmo após o execução

da ação - associados a advérbios como siempre e toda la vida, conforme os exemplos

abaixo (CARTAGENA, 1999):

(4) Siempre ha sido médico.

(5) Toda la vida he oído los tangos de Carlos Gardel.

Os exemplos 4 e 5 ilustram as afirmações feitas por Cartagena, ao passo que

relacionam a natureza do verbo a determinados advérbios (ou marcadores temporais)12

como motivadores pela escolha do uso do PPC. Os verbos permanentes associados aos

marcadores siempre e toda la vida sugerem continuidade dos eventos que tiveram seu

ponto de partida no passado, mas continuam vigentes na atualidade dos falantes.

Para Alarcos Llorach (1970, p. 32), o PPC “siempre designa una acción que se

aproxima al presente gramatical, esto es que se produce en el ‘presente ampliado13’, en

un período desde un punto del pasado hasta el ‘ahora’ en que se habla o escribe”. Dessa

forma, o uso desse tempo verbal, que expressa uma ação concluída no passado, sempre

estará subordinado a ações que tenham um vínculo com o presente.

Ademais, Alarcos Llorach vincula o uso dessa forma pela significação implícita

na ocorrência - mesmo sem um marcador temporal que anuncie o tempo verbal - de um

“hasta ahora” associada a ações durativas ou iterativas, ou seja, ações que expressam

duração no tempo ou que são repetitivas, recorrentes.

(6) ¡Yo no lo he herido!14

(7) Carlos ha visto esta película tres veces.

12 Mais adiante será detalhada a influência dos advérbios ou marcadores temporais na utilização dos dois

pretéritos. 13 O presente ampliado defendido por Alarcos Llorach é determinado subjetivamente pelo falante, quando

da avaliação da ação com vínculo ao presente e por isso se opta ou não pelo PPC, de acordo com o

entendimento subjetivo do falante. 14 Exemplo retirado de Alarcos Llorach (1970, p. 30).

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No exemplo 06, podemos perceber o caráter durativo expresso pela construção

temporal (yo no lo he herido) compondo um sentido de duração até o momento da

enunciação ou ao presente ampliado. Enquanto no exemplo 07, a opção pelo PPC ocorre

pela reiteração do evento realizado (ha visto...tres veces), confluindo para a afirmação de

Alarcos Llorach sobre a natureza dessas ações.

Alarcos Llorach (1970) também faz referência à utilização recorrente do PPC em

interrogações, enfatizando o caráter de indefinição determinado pelo questionamento

realizado, que normalmente não estabelece em que ponto do passado a ação ocorreu, o

que produz um enunciado a partir do momento em que a pergunta é feita.

Em oposição aos investigadores apresentados até o momento, Lope Blanch

problematiza o sentido do aspecto entre os dois pretéritos, PPC e PPS. O autor afirma

que, de forma diversa ao que se ratifica sobre a diferença temporal entre esses tempos, o

emprego do uso do PPC é definido por uma questão aspectual, diferente do PPS: “El ante-

presente no ha caído en desuso en América, sólo que se emplea, como lo ha mostrado

para el español de México, con un valor diferente muy semejante al del portugués actual,

el de tiempo durativo, reiterativo aún presente” (LOPE BLANCH, 1961 apud

CARTAGENA, 1999, p. 2947).

Cartagena (1999) critica essa classificação feita por Lope Blanch, afirmando que

a maior parte dos usos de ante-presente que se apresentam no espanhol americano também

correspondem à norma peninsular, sendo eles:

1)[…] tiempo imperfectivo, durativo, reiterativo, presente; 2) […]

‘imperfectividad latente’, acciones particulares efectivamente

concluídas en el pasado, pero que el hablante interpreta como

repetibles; 3)[…] imperfectividad latente según Moreno de Alba, se

niega una situación para el pasado, que aún puede ocurrir en el futuro;

4) […] valor perfectivo, pero que expresan relevancia afectiva

(CARTAGENA, 1999, p. 2949, grifos nossos).

Abaixo, exemplos que representam cada uma dessas funções de acordo com a

classificação apresentada pelo autor.

8) Hay que reconocer el valor con que ha procedido siempre15.

9) Es la única exposición que he hecho.16

10) Todavía no ha llegado.

15 Os exemplos 08, 10 e 11 são de Lope Blanch (1961 apud CARTAGENA, 1999). 16 Exemplo de Moreno de Alba (1978 apud CARTAGENA, 1999).

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11) Y cuando ya estaba en plena carretera, ¡me he llevado un susto…!

A tese de Lope Blanch, defendida também por Moreno de Alba, fundamenta que

o aspecto do verbo no PPC é de caráter imperfeito, ou seja, expressa ações durativas,

reiteiradas, presentes, portanto inacabadas. Cartagena apresenta essa descrição do

espanhol mexicano e afirma que:

Si aceptamos las descripciones de Lope Blanch y Moreno de Alba,

debemos aceptar también la existencia de un ‘perfecto imperfecto’ de

igual valor en el español peninsular y en el canario y limitar la

diferencia en el uso de la forma compuesta al contexto de anterioridad

inmediata […] (CARTAGENA, 1999, p. 2949).

Cartagena questiona a característica apresentada e defendida pelos autores Lope

Blanch e Moreno de Alba, e defende que se o PPC for considerado como imperfecto,

assim também deve ser visto o PPC na Península. Defende ainda que a oposição entre os

usos das duas regiões se deve ao uso da forma composta em contextos de anterioridade

imediata, utilizado na Península, enquanto se utiliza o PPS no México para os mesmos

contextos de imediatez. Após essa reflexão sobre o sentido entre as regiões apresentadas,

Cartagena nega a possibilidade de imperfeição do PPC e defende a ocorrência de uma

confusão sobre os conceitos:

Recordemos que la perfección gramatical indica simplemente que una

acción verbal ha terminado, acabado antes del momento cero del habla,

es decir, se refiere al punto en que el tiempo de la situación concluye,

independientemente de las implicaciones derivadas del tiempo de foco

o validez del referido proceso, que dependen fundamentalmente del

valor léxico del verbo y/o del significado oracional y co(n)textual. Por

esto solo algunos verbos, a saber los de estado – y todos los ejemplos

de Lope Blanch corresponden a verbos de este tipo desde el punto de

vista léxico u oracional – conllevan regularmente, a menos que el

contexto lo niegue, la implicación de que el referido proceso dura hasta

el presente o más allá de sus límites (CARTAGENA, 1999, p. 2950).

Segundo a reflexão de Cartagena, a perfeição nada mais é que a conclusão de uma

ação antes do momento enunciativo e que a determinação do processo da ação depende

do seu sentido lexical ou de seu contexto oracional. O autor ainda aponta que os

exemplos de Lope Blanch são todos com verbos de estado que possuem uma carga

semântica que ecoa na temporalidade presente ou que ultrapassa esses limites.

Com base nessa explanação, questionamo-nos: se o valor lexical ou o valor

contextual pode corroborar na compreensão do processo, o aspecto verbal não sofreria

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alteração? Se o PPC apresenta uma concepção durativa ou de repetição não estaria se

afastando da ideia de conclusão do evento? Se o autor afirma que há um teor de

imperfeição latente, que é mantida nas orações negativas, essa ação não seria imperfeita?

Retomaremos esses questionamentos mais adiante. Passemos às diferenciações do PPS

vs. PPC.

2.3.2 Pretérito perfeito simples (PPS)

As nomenclaturas dadas a essas formas mudam de autor para autor. Entretanto, a

exposição de suas características convergem para um mesmo sentido e uma mesma

separação temporal. Lenz, por exemplo, denomina as formas PPC como compuesta e

PPS como pretérito, expondo suas diferenças na referência abaixo:

el efecto o resultado de la acción indicada por este tiempo (la forma

compuesta) persiste y guarda cierta importancia hasta el presente,

mientras la acción indicada por el pretérito se dá simplemente como

un fenómeno transitorio, sucedido en tiempo pasado, que sólo se

relaciona con otros fenómenos que le procedieron o siguieron, como un

momento del pasado que no se pone en relación con el momento en que

se habla ni con la persona que habla (LENZ, 1925 apud ALARCOS

LLORACH, 1970).

Em concordância com Lenz, distinguimos como marca de divergência entre as

duas formas sua relação temporal com a atualidade, uma vez que o PPS é determinado

por uma ação ocorrida no passado sem relação temporal com a atualidade do falante;

enquanto o PPC é usado para expressar ações realizadas no passado que apresentam um

elo com o presente.

Outra denominação dada ao PPS é de passado absoluto, definido por Gili Gaya

(1980) como um tempo sem vínculo com outras ações, ou seja, suas ações são

independentes de outras e, quando empregadas com verbos perfectivos, reproduzem a

anterioridade total da ação, remetendo assim ao traço de pontualidade das ações pretéritas.

[...] Nos servimos de este tiempo para las acciones pasadas

independientes de cualquier otra acción. Es la forma absoluta del

pasado. Con verbos perfectivos expresa la anterioridad de toda la

acción; con los imperfectivos la anterioridad de la perfección. Si

decimos, por ejemplo, la moza abrió la ventana, toda la acción de abrir

la ventana es anterior al presente; pero en ayer supe la noticia nos

referimos al momento en que mi saber llegó a ser completo o perfecto,

lo cual no se opone a que ahora y después siga sabiéndola (GILI GAYA,

1980, p. 157).

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Contemporaneamente, mas confluindo para as afirmações de Gili Gaya, a RAE

(2009) concebe como características do PPS sua relação dêitica ou referencial, ou seja,

sua temporalidade, distanciando o momento da enunciação da ação realizada; seu aspecto

perfectivo, quando das ações concluídas, terminadas, e seu caráter mórfológico, simples,

sem a composição de um verbo auxiliar que possibilite estabelecer a temporalidade atual

ao PPS. Assim, a forma canté “introduz ações, processos ou estados que se atribuem no

passado a pessoas ou coisas em particular” (RAE, 2009, p. 1742).

Esses atributos que definem o PPS, desde o caráter dêitico de anterioridade,

introduzidos por Andrés Bello (1950) – motivo pelo qual o denominou apenas como

pretérito por considerar que não expressa nenhuma relação com o momento atual – até

seu teor perfectivo, de ação concluída, finalizada, pontual e o seu caráter morfológico,

que expressa unicamente sua forma, sua estrutura gramatical constituída por apenas um

verbo, sem o emprego de verbo auxiliar, que é característica dos tempos compostos,

corroboram na delimitação da ação pretérita do PPS.

Uma atribuição importante à aplicação do PPS é a sua associação aos predicados

télicos (que expressam consecuções e realizações), ou seja, ações que terminam após o

alcance de sua finalidade, como por exemplo: Los chicos llegaron; Comí un chocolate.

No entanto, esse tempo também pode ser utilizado com predicados atélicos, quando há

uma dedução que os fatos ocorreram, mesmo sem haver uma delimitação temporal.

Exemplos: trabajaron muchas horas; escribieron cartas (RAE, 2009).

Os verbos (llegaron e comí) representam as atribuições dadas ao PPS, tanto por

sua anterioridade ao ponto zero da enunciação, logo estabelencendo uma ação pontual e

finalizada, como da ação télica, impulsionando o uso dessa forma verbal que se efetiva,

finalizando um ato junto a sua efetivação no processo.

Gili Gaya (1980) expõe que a ação de completude determinante do PPS, pode

simbolizar um outro sentido em determinados contextos:

Este significado “puntual” que se refiere a la perfección del acto, puede

centrar totalmente la atención del que habla y dar lugar a expresiones

en las que se olvida su condición de pretérito. Cuando en un viaje en

tren va acercándose a la estación en que vamos a apearnos, podemos

decir ¡ya llegué!, en una especie de anticipación mental. Así se explica

la frase chilena Me fui, pronunciada antes de irse, para denotar la

inminencia de la acción, anunciando la perfección de la resolución

tomada sin atender al tiempo en que se produce (GILI GAYA, 1980, p.

157, grifos do autor).

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Essa mudança de sentido atribuído ao PPS é um exemplo de como a língua é

mutável e pode ser ressignificada nas diferentes variedades de um idioma. Essa

particularidade ilustra como os sentidos atribuídos a questões linguísticas nos dizem

muito mais do que uma simples ocorrência, revelam-nos a heterogeneidade da língua que

se faz presente nos diferentes âmbitos fonético/fonológico, morfológico, sintático e

lexical. No capítulo 03, faremos um panorama do espanhol mexicano, por considerar as

especificidades dessa variedade. Antes descreveremos a influência dos advérbios

temporais (ou marcadores temporais) na evocação dos pretéritos.

2.3.3 A presença dos marcadores temporais – ADVs vs. ADVa

Antes de apresentarmos o vínculo estabelecido entre os marcadores temporais e

os pretéritos, PPC e PPS, primeiramente, precisamos esclarecer as convergências e

divergências entre essas duas formas pretéritas:

a) semejanzas: ambos indican una relación de anterioridad respecto del

momento del habla, ambos indican acciones perfectas, terminadas antes

del momento del habla; b) diferencias: la forma simple indica la mera

anterioridad respecto del momento del habla, del cual se separa

constituyendo un ámbito própio en el pasado, distinto de la actualidad

del hablante. La forma compuesta, en cambio, indica anterioridad

dentro del ámbito del presente, perteneciendo por tanto a la actualidad

del hablante (CARTAGENA, 1999, p. 2944-2945).

Essa temporalidade externada pelas formas pretéritas pode ser modificada pelos

advérbios temporais. Alguns estudiosos exprimem que a aplicação das formas PPS e PPC

costuma estar associada a diferentes marcadores temporais/ advérbios que situam

temporalmente às ações realizadas por esses pretéritos.

No siempre la forma verbal aparece por sí sola, encerrando en sí misma

toda la unidad expresiva, sino que las más de las veces va modificada

por adverbios, por complementos de diversa especie, que alteran no

solo su significado semántico, sino también sus relaciones temporales,

aspectuales o modales (ALARCOS LLORACH, 1970, p. 19).

Desse modo, convém explicitar que os ADV dão novos contornos aos enunciados,

possibilitando uma alteração semântica, assim como alteração nas relações temporais e

aspectuais das formas verbais.

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Quando nos remetemos aos advérbios simultâneos à enunciação (ADVs),

referimo-nos aos marcadores que estabelecem uma relação de temporalidade atual ao

ponto zero do ato de fala. Portanto, esses marcadores evocam a utilização, segundo as

gramáticas, do PPC, tempo que expressa relação com a atualidade do falante.

Alarcos Llorach detalha essa relação:

se emplea el perfecto compuesto con los adverbios que indican que la

acción se ha efectuado en un período de tiempo en el que se halla

comprendido el momento presente del que habla o escribe: hoy, ahora,

estos días, esta semana, esta tarde, esta mañana, este mes, todavía no,

etc; (ALARCOS LLORACH, 1970, p. 24).

Assim percebemos que a presença de advérbios como aún, todavía contribui para

a efetivação do uso do PPC, ou melhor, evoca a sua utilização na medida em que remete

às ações do momento atual e induz à sua utilização. Esses advérbios sinalizam situações

que devem estar vigentes até o momento da enunciação, isto é, ações que ocorreram mas

persistem na atualidade, posto que seus efeitos repercutem até o momento da fala,

processo este denominado pela RAE de interpretação resultativa prospectiva (RAE,

2009).

Em oposição aos ADVs, os advérbios de anterioridade (ADVa) anunciam uma

separação entre ato realizado e momento temporal, há uma desvinculação entre a ação e

a temporalidade. Conforme Alarcos Llorach:

se emplea el perfecto simple con los adverbios que indican que la acción

se produce en un período de tiempo en el que no está incluído el

momento presente del que habla: ayer, anoche, el mes pasado, aquel

día, un día, hace años, entonces, etc.[…] Por ello, cuando narramos

algo se emplea el perfecto simple, dado que la narración coloca los

hechos en el pasado absoluto (ALARCOS LLORACH, 1970, p. 25).

Ou seja, esses advérbios estabelecem uma separação entre a atualidade do falante

e a efetivação da ação, o fato ocorre numa temporalidade que é anterior ao momento da

enunciação, portanto sem vínculo com a atualidade do falante.

Alarcos Llorach (1970) relata que, na presença de marcadores temporais que

indicam duração ou repetição, é possível fazer-se uso das duas formas pretéritas, sendo

que com “la forma compuesta indica que la acción se ha producido repetidamente o dura

hasta el presente, y la simple indica que la acción tuvo un término en el pasado”.

Essas nuances que deslizam das normas gramaticais e buscam uma vida própria

nas comunidades de fala podem ser indícios de mudança nos sentidos verbais conferidos

pelas formas PPC e PPS, nas diversas comunidades linguísticas que têm o espanhol como

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língua oficial. Para adentrar com mais propriedade a variedade linguística a que estamos

nos dedicando neste trabalho, vamos investigar com mais afinco o espanhol mexicano no

próximo capítulo e entender o que se diz sobre essas formas, nessa variedade diatópica

do espanhol.

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59

CAPÍTULO III - UM PANORAMA DO ESPANHOL MEXICANO

A concepção de que há uma diferença entre o espanhol americano e o espanhol

peninsular é propagada com frequência. No entanto, o que não fica claro é que os

contrastes vão além dos blocos americano e peninsular. Quando se pensa numa língua, é

preciso recordar que ela é constituída de inúmeros dialetos que simbolizam os aspectos

socioculturais de cada comunidade de fala.

Wagner (1949 apud LOPE BLANCH, 1992, p. 313) se refere à América como um

suposto bloco ‘homogêneo’ que se caracteriza por: “su firme conservadurismo, su básica

rusticidad o vulgarismo, su colorido amerindio, su originario arcaísmo y su parcial

andalucismo. Segundo esse autor, há mais semelhanças na vasta América do que em

regiões que estão lado a lado na Península.

Entretanto, Lope Blanch (1992) questiona essa generalização feita sobre o

espanhol americano, pontuando que:

[...] su homogeneidad o uniformidad – necesita ser matizado en gran

medida. Si lo que se quiere decir es que los hispanoamericanos pueden

todavía entenderse entre sí cualquiera que sea su procedencia nacional,

ello es indiscutiblemente cierto. Todos seguimos hablando –

juntamente con los españoles – una misma lengua. Pero de ahí a decir

que el español de la enorme América es sólidamente homogéneo media

un abismo o, al menos, una buena barranca. Y sostener que las

diferencias lingüísticas que pueden existir entre dos regiones alejadas

de América serán siempre menores que las que existen entre dos valles

vecinos de Asturias podría ser ya simple dislate (LOPE BLANCH,

1992, p. 316).

Ao considerar o espanhol americano como um bloco fechado e homogêneo,

rejeita-se a diversidade inerente à língua espanhola. Todavia, existe uma unidade

linguística entre os falantes do espanhol, os falantes de uma mesma língua, mas é

necessário conceber que essa língua é múltipla e portanto diversa, com variações dentro

dos diferentes dialetos que a constituem.

Essa fragmentação entre América e Península, que se realiza habitualmente, não

representa a gama de variedades que comporta a língua espanhola. As aproximações e

diferenciações linguísticas e culturais ocorrem entre os continentes, dentro de cada

continente, nas subregiões e, além disso, subdivisões inseridas nos dialetos tanto

peninsulares quanto americanos. Sobre o espanhol americano, Fontanela de Weinberg

(1992) esclarece:

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[...] no podemos hablar legítimamente de que se trate de una entidad

dialectal que se oponga en bloque al español europeo. La conclusión es

que entendemos por español americano una entidad que se puede

definir geográfica e históricamente. Es decir, es el conjunto de

variedades dialectales del español habladas en América, que comparten

una historia común, por tratarse de una lengua trasplantada a partir del

proceso de conquista y colonización del territorio americano. Esto no

implica desconocer el carácter complejo y variado de este proceso y sus

repercusiones lingüísticas […] (FONTANELLA DE WEINBERG,

1992, p. 15).

Ou seja, a América representa uma multiplicidade de variedades dialetais as quais

constituem o espanhol que representa esse continente. Cada variedade, com seus traços

fonético-fonológicos, morfológicos e lexicais, vai sendo moldada e valorada de acordo

com as configurações sociais de cada dialeto. A exemplo disso, podemos dizer que a

variedade do espanhol mexicano apresenta determinadas características que são próprias

dessa comunidade e que suas representações da língua refletem também a influência dos

aspectos sociais que são analisados como fatores extralinguísticos, mas que corroboram

diretamente na construção de sentidos de estruturas linguísticas.

Vale salientar que, na língua espanhola em que se presencia inúmeras variedades

linguísticas, apesar de compartilhar uma história comum, essas variedades criam suas

próprias normas dentro de cada dialeto. E, na construção dessas normas, buscam sua

representação social. No âmbito de cada comunidade linguística - confluindo com esse

pensamento de diversidade linguística - existem várias normas que norteiam os usos de

diferentes grupos sociais e geográficos, por exemplo. Faraco explicita a função da norma

numa comunidade de fala:

[...] para designar os fatos de língua usuais, comuns, correntes numa

determinada comunidade de fala. Em outras palavras, norma designa o

conjunto de fatos linguísticos que caracterizam o modo como

normalmente falam as pessoas de uma certa comunidade, incluindo [...]

os fenômenos em variação (FARACO, 2008, p. 40).

Portanto, nas comunidades linguísticas há a presença de diferentes normas que

instituem uma língua. Nos diferentes grupos, suas “normas” são as representações do falar

das pessoas, de como elas se comunicam linguisticamente. No entanto, essas normas são

envoltas por aspectos sociais que corroboram na sua constituição:

Page 61: A ALTERNÂNCIA ENTRE O PRETÉRITO PERFECTO SIMPLE PRETÉRITO …€¦ · pretérito perfecto compuesto (PPC) e o pretérito perfecto simple (PPS) com o intuito de identificar a alternância

61

Como as normas são, em geral, fator de identificação do grupo,

podemos afirmar que o senso de pertencimento inclui o uso de formas

de falar características das práticas e expectativas linguísticas do grupo.

Nesse sentido, uma norma, qualquer que seja, não pode ser

compreendida apenas como um conjunto de formas linguísticas; ela é

também (e principalmente) um agregado de valores socioculturais

articulados com aquelas formas (FARACO, 2008, p. 41).

Isto é, ao pensarmos numa determinada comunidade linguística, não podemos

separar as formas linguísticas dos aspectos socioculturais, pois os valores adquiridos por

essas formas são definidos pelas configurações sociais que compõem cada dialeto, cada

lugar. Esse imenso continente americano, repleto de dialetos, de variedades linguísticas

representativas de diferentes povos, certamente expressa muito de sua cultura por meio

da língua.

Desse modo, ao nos voltarmos para a variedade mexicana, com seus mais de 100

milhões de habitantes, sendo a nação hispânica com o maior número de habitantes, não

podemos pensar que existe uma única norma que rege essa variedade. Contudo, há uma

confluência de fatores que denominam a variedade mexicana, e é o conjunto das normas

definidas nos diferentes grupos e regiões que nos faz conhecer essa variedade. Lope

Blanch (2002, p. 26) trata desse assunto: “El concepto de norma lingüística es un

concepto absolutamente relativo; que cada dialecto posee una o varias normas

particulares, propias, válidas todas ellas dentro de sus diversos límites geográficos o

socioculturales”.

Para Martín Butragueño (2014, p. 1353), existe a necessidade de diferentes

estudos geolectais do espanhol mexicano, que apresentem uma análise detalhada dos

dados de natureza variacionista. O autor considera que “a variação sintática e morfológica

pode oferecer uma ampla escala, de tal modo que os dados mexicanos apenas adquiram

amplo sentido quando percebidos num marco hispânico mais amplo”.

Em consonância com o entendimento de Butragueño, sobre a necessidade de

trabalhos que investiguem questões sintático-morfológicas, buscamos realizar um estudo

sobre as formas pretéritas do espanhol. No entanto, de forma preliminar, dado o pouco

tempo para a realização detalhada de uma ampla escala do fenômeno que estamos

investigando, mas conscientes de sua representatividade nas comunidades de fala

analisadas.

Conforme apresentado por Martin Butragueño (2014), comumente, as

investigações dialetológicas consideram os aspectos fonético-fonológicos como ponto de

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partida para sua classificação. Desse modo, diferentes estudiosos se debruçaram sob essa

perspectiva, a fonético-fonológica, com o intuito de caracterizar as regiões dialetais do

México, assim como de outras áreas da América.

Com base na asserção das diferentes normas que constituem as variedades do

espanhol na América, trataremos de especificar alguns aspectos do espanhol mexicano.

Para isso, partimos das divisões dialetais dentro do México, estabelecidos por Henriquez

Ureña (1921) e Lope Blanch (1996).

Uma das primeiras divisões foi realizada por Henriquez Ureña (1921), que

apresentou uma separação da América em 6 regiões, situando o México no primeiro grupo

e definindo-o com cinco subdivisões, sendo elas: “o território hispânico dos Estados

Unidos, o norte da República mexicana, a altiplanície do centro; terras calientes, a

península de Yucatán e a América Central”. Essa primeira divisão apresentada por Ureña

buscou expor as ocorrências de fenômenos que representassem as realizações fonéticas e

lexicais dessas regiões, conforme o ponto de partida apresentado por Martín Butragueño

para as motivações de uma divisão nos estudos dialetais.

Posterior a essa classificação, baseado nos estudos que impulsionaram a criação

do atlas linguístico mexicano, Lope Blanch (1996) propõe uma separação dialetal no

México em que amplia para 10 o número de zonas, sendo elas:

1) a Península de Yucatán;

2) o Estado de Chiapas;

3) Tabasco;

4) As falas veracruzanas de terras baixas, de corte caribenho;

5) a fala do altiplano oaxaqueño, próxima do centro;

6) todo o altiplano central com a Ciudad de México;

7) Costa de Oaxaca y Guerrero, que se prolongam para o norte do Pacífico;

8) dialetos do noroeste desde Sinaloa a Chihuahua, Sonora e Baja California;

9) Falas do altiplano sepentrional;

10) Falas do noroeste: Tamaulipas e Nuevo León.

Ocorre mencionar que, posterior a essas divisões, outros autores como Serrano e

Moreno Fernández (apud MARTÍN BUTRAGUEÑO, 2014) também realizaram

propostas de subdivisões do México. No entanto, vamos nos limitar às divisões expostas

por Henríquez Ureña (1921) e Lope Blanch (1996). Neste estudo, mencionamos as

subdivisões desses autores com o intuito de apresentar como a proposta inicial de Ureña

era muito limitada, apesar de inovadora, dada a imensidão territorial do país. E nos

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detivemos a proposta de Lope Blanch, pois contempla a nossa investigação que está

limitada em apenas duas zonas, não sendo necessário uma maior ampliação de subáreas

do español mexicano.

Contudo, tendo consciência das nuances existentes entre as zonas dialetais, Lope

Blanch evidencia que essa subdivisão é passível de mudanças e que provavelmente

existem outras subdivisões dentro de cada região devido a sua extensão, sendo necessária

uma amplitude maior nos estudos geolinguísticos que possibilitem uma classificação mais

detalhada do espanhol mexicano.

O espanhol mexicano apresenta traços de inovação, apesar de ser visto com uma

roupagem arcaica, ou seja, houve uma recategorização de sentido às formas existentes

desde o século XVI. Company Company especifica essa característica do espanhol

mexicano:

el español de México, es según creo, un dialecto engañoso: es

conservador por fuera, en sus formas, pero es innovador por dentro, en

los valores que le asigna a esas formas. […] los hablantes

recategorizaron, reinterpretaron esos recursos para aportar nuevas

valoraciones acordes con nuevas necesidades comunicativas y con una

nueva visión del mundo (COMPANY COMPANY, 2000, p. 17).

Esse caráter inovador apontado por Company Company é identificado nos estudos

de Lope Blanch (1992) sobre as formas canté e he cantado do espanhol, quando apresenta

uma diferenciação dos estudos gramaticais normativos que definem a diferenciação entre

os tempos como um fenômeno meramente temporal. O autor apresenta em seus estudos

que, no México, a motivação pela utilização entre os tempos é diferente da variedade

peninsular.

3.1 A FORMA PRETÉRITA NO MÉXICO: UMA QUESTÃO ASPECTUAL?

Conforme apontado no segundo capítulo, Company Company, em seus estudos

sobre o PPC, identificou, em 1980, que essa forma apresentava duas funções diferentes:

uma de pretérito abierto e outra de pretérito anterior, o que pode evidenciar as possíveis

diferenças atuais, percebidas entre os estudiosos sobre essa forma verbal. Lope Blanch

(1989) reafirma o caráter “inovador” do espanhol mexicano, defendido por Company

Company (1983), expressando que o afastamento do valor dos pretéritos perfeitos em

relação ao espanhol peninsular ocorreu há alguns séculos:

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64

Algo semejante sucede en el caso de la distribución de las funciones de

los pretéritos simple y compuesto —formas canté y he cantado—,

diferente en el español de México con respecto al de España. No se trata

tampoco en este caso de que la norma culta mexicana se haya alejado

de la española o hispánica general, sino de diferente evolución,

castellana y mexicana, a partir de un estado de cosas aún no bien

delimitado dentro de la norma lingüística existente en el siglo XVI,

cuando las formas canté y he cantado no había alcanzado aún una

distribución bien definida de sus funciones respectivas (LOPE

BLANCH, 1989, p.1225)

Essa ressignificação, segundo Lope Blanch (1992), sobre as formas canté e he

cantado do espanhol, ou atribuição dos valores que vão definindo as variedades da

Espanha e do México, apresenta uma diferenciação dos estudos gramaticais normativos

que a definem como um traço meramente temporal. O autor apresenta em seus estudos

que, no México, a motivação pela utilização entre os tempos é diferente da variedade

peninsular:

en México, en cambio, la forma simple expresa acción perfecta,

acabada, cumplida, aunque sea en un pasado inmediato (“¿Te hiciste

daño?”), en tanto que la compuesta hace referencia a una acción

imperfecta o reiterada, inacabada, a un pasado que llega al presente y

puede prolongarse hacia el futuro (LOPE BLANCH, 1992, p. 615,

grifos nossos).

Em outras palavras, o que remete à forma composta no México é seu aspecto

imperfeito, inacabado; enquanto a forma simples é aplicada para as ações finalizadas,

ocorrendo um distanciamento em relação à norma espanhola, quando se usa o PPC para

ações acabadas, no passado imediato.

Essa averiguação, apresentada por Lope Blanch17, sobre a imperfeição aspectual

do tempo perfeito motivou diferentes estudos. Desde a investigação histórica de Company

Company (1980) à autora Airoldi (2004), que faz menção a essa investigação de Lope

Blanch e considera a relevância em introduzir a dimensão dialetal ao

estudio de una de las oposiciones más ricas en el subsistema de las

formas pasadas del modo indicativo [...], destaca algunas de las

peculiaridades más interesantes de las diferencias funcionales que

permiten contrastar, a nivel de frecuencia y distribución contextual, el

empleo del pretérito simple y compuesto en las diversas modalidades

del español (AIROLDI, 2004, p. 85-86).

17 O primeiro estudo de Lope Blanch sobre as formas pretéritas no México data do ano de 1961, porém

não conseguimos ter acesso ao texto original.

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De acordo com Lope: “siempre que el fenómeno verbal se presente como

terminado, como concluído, se usa el pretérito simple, sea cual fuere el momento del

pasado en que haya alcanzado su perfección” (LOPE BLANCH apud AIROLDI, 2004,

p. 86). Portanto, para uma ação concluída, como “Semana pasada llovió mucho o hoy

llovió mucho”, utiliza-se o PPS. Enquanto o PPC é empregado em ações durativas ou

iterativas, a primeira com ações que apresentam continuidade e a segunda com ações que

se repetem, ou seja, estabelecem um aspecto de imperfeição, o contrário do que sua

nomenclatura expressa. As ações se iniciam no passado, porém apresentam relação com

o presente e ainda podem projetar-se para o futuro.

Sob essa perspectiva, Moreno Burgos (2015) realiza um estudo comparativo entre

o PPC e o PPS na Espanha e no México. Nele, o autor afirma que o PPC é uma forma

polissêmica no espanhol peninsular e essas formas sobrepõem-se ao PPS. Aponta ainda

que essa função atribuída ao PPC não é percebida nas variedades americanas, já que se

costuma optar pelo uso do PPS na América em contextos nos quais na Península se usa o

PPC. Enquanto se costuma ouvir hoy he comido pasta (na Espanha), se escute hoy comí

pasta (no México). No entanto, o autor expõe que a forma PPC não está excluída no

México, mas que é movida por uma semanticidade diferente:

una caracterización adecuada de las citadas formas requiere considerar

la complejidad del fenómeno en su totalidad, lo cual supone admitir que

no debe ser esperable que el español se hable de manera completamente

uniforme en una comunidad lingüística tan amplia como es la hispánica

[…] Defenderemos por tanto que la diferente distribución del PI y el

PPC responde a estadios evolutivos dispares. Esto es, en el español

estándar peninsular la segunda de estas formas posee un significado

polisémico, ya que puede expresar tanto aspecto Perfecto como

aspecto Aoristo. Esta peculiaridad está descartada en las variedades de

Latinoamérica, dado que estas remiten únicamente al Perfecto

(MORENO BURGOS, 2015, p. 94-95, grifos nossos).

Logo, o autor nos mostra como essas formas são variantes entre essas duas

regiões, ocorrendo uma sobreposição do PPC vs. o PPS na Península, em contextos

aoristos, fato que se dá com o uso do PPS na América. A variação dessas formas implica

em possibilidades tempo-aspecto verbais que são mutáveis, dada a imensidão dos países

de língua espanhola e consequentemente as admissões e modificações que são

internalizadas por cada variedade linguística.

Moreno de Alba (2002) reconhece que há coincidências de uso do PPC entre as

diversas modalidades do espanhol. Com exceção do Altiplano boliviano, onde o PPC

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substituiu a forma simples, inclusive para tratar de fatos totalmente passados e

desvinculados do momento de enunciação do falante. Mas destaca que boa parte dos usos

do PPC peninsulares são empregados no México na forma simples.

O autor afirma ainda que tanto a variedade espanhola quanto a mexicana

coincidem em empregar o PPS, quando se trata da expressão de passado fora do “ahora”,

e o PPC para indicar “passados ainda presentes”. As divergências, segundo Moreno de

Alba (2002), ocorrem quando se faz referência a fatos passados e terminados dentro do

momento enunciativo e “passados resultativos”. No primeiro, o uso mexicano prefere a

forma simples para expressar um fato como hoy llegué tarde a mi trabajo vs. hoy he

llegado tarde a mi trabajo (Espanha); o uso do simples é frequentemente utilizado em

casos como el municipio construyó um gran puente, mas é possível perceber a ocorrência

de “ha construido”.

Moreno Burgos (2015) apresenta que as diferenças semânticas do uso das formas

entre Espanha e América são aplicadas sob perspectivas diferentes. Portanto, apresenta

os exemplos abaixo para esclarecer essas diferenças:

(3) Joe Torre estaba tan emocionado ayer que abandonó el “Yankee Stadium” con su

sucio y sudado uniforme de los Yanquis aún puesto. Y hoy estuvo tan ocupado que no

contestó las dos primeras llamadas del presidente Clinton para felicitarlo [crea:

México]18.

(4) En esta profesión subes y bajas, y no puedes olvidarlo. Por cada día maravilloso que

pasas tienes que decirte: hoy ha estado bien, pero mañana todo puede ser horrible [crea:

España].

en sus usos temporales (esto es, con interpretación aspectual de

Aoristo), el PPC aparece con complementos hodiernales; es decir,

con aquellos que incluyen el momento del habla. En el caso de que

aparezcan complementos prehodiernales, se emplea el PI. Esta regla

no se cumple en México […] Nuestra tesis es considerar que los casos

como los de (4) reflejan un proceso de gramaticalización más avanzado

que el de (3), mediante el cual se prevé que la forma compuesta pase a

sustituir completamente a la simple tal y como se atestigua en francés o

en italiano (MORENO BURGOS, 2015, p. 98).

18 Os exemplos 3 e 4 foram retirados de Moreno Burgos (2015, p. 98).

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De acordo com o exposto, o PPC, considerando seu emprego nas duas regiões,

Espanha e México, apresenta usos divergentes. Quando ocorre a presença dos

complementos adverbiais que expressam a atualidade temporal, ou seja, evocam a forma

composta, tal regra não se aplica ao México; enquanto na Espanha há uma tendência à

generalização do uso do PPC. O que evidencia o caráter tempo- aspectual distinto entre

as duas comunidades de fala.

Outro ponto desenvolvido por Moreno Burgos é sobre o valor do PPC na América,

mais especificamente no México. Associando o seu uso ao valor semântico: estar +

gerúndio, que estabelece um vínculo aspectual e modal dos valores. De acordo com

Moreno Burgos (2015, p. 111), o que o falante mexicano faz “es cancelar el estado

negativo perteneciente al momento del habla y, en su lugar, introducir el valor modal de

la perífrasis, lo cual bloquea la perfectividad. Um exemplo utilizado por Moreno Burgos

(2015) para explicitar sua tese sobre o aspecto do PPC no espanhol mexicano é o seguinte:

(16) Esta semana se ha trabajado en el asunto, aunque hoy es feriado en EE.UU. La

siguiente semana se reanudarán las evaluaciones y hay incluso probabilidades de que se

pudiera elegir a un comprador de esa compañía [CREA: México]19

En (16) se predica lo siguiente: se trabajó y se trabaja en el asunto, lo

cual aparece sintetizado mediante el PPC. Esto es, la forma ha trabajado

no expresa una lectura temporal con interpretación de Aoristo, sino que

se trata más bien del aspecto Perfecto: en el momento del habla se

predica en términos estativos sobre una situación que ya se dio en el

pasado (MORENO BURGOS, 2015, p. 109-110).

Conforme a afirmação feita, ocorre um bloqueio na perfectividade, empregando o

uso do PPC atrelado ao contexto enunciativo. A ideia de continuação expressa tanto pelo

marcador temporal que indica uma ação que não está terminada, mas que segue vigente

ao momento enunciativo. Moreno Burgos (2015) apresenta alguns aspectos que

corroboram para a utilização dessa ação contínua expressa pelo PPC: a) que os

marcadores temporais contribuem para o sentido de reiteiração expresso pelos verbos

em PPC; b) quando um determinado elemento oracional se encontra no plural.

Airoldi (2004, p. 93) expressa que a atribuição dada a essas formas do PPC na

variação diatópica ocorre por preferências de uso na concretização dos fatos. Estabelece

ainda que as divergências dialetais são determinadas principalmente por diferenças

19 CREA: México (apud MORENO BURGOS, 2015, p. 109-110).

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quantitativas nos índices de uso de frequência de cada uma das categorias funcionais do

valor de perfeito. Especificamente as ocorrências que indicam tendência imperfeita

(perfeito de persistência e de experiência) “são comuns em todas as variantes do

espanhol”.

Ainda segundo a autora, ao contrário, os usos de sentido perfectivo, de completude

da ação (perfectivo resultante e de pasado recente) se expressam na norma peninsular

preferencialmente com a forma composta. Enquanto que, na modalidade mexicana:

[…] para expresar esos valores, se recurre a esta forma sólo cuando el

estado resultante subsiste o es realmente pertinente en la actualidad del

hablante, o cuando el que habla desea actualizar o enfatizar hechos

pasados. En cambio, se prefiere la forma simple para significar

cualquier acción perfectiva, sea em el pasado distante o em la cercanía

del momento de la enunciación (AIROLDI, 2004, p. 93).

A forma PPC no México é utilizada em contextos de continuidade, de persistência

das ações, refletidas na atualidade do falante; já a forma simples é empregada em qualquer

ação de teor finalizado, seja próximo ou distante do momento da enunciação.

A conclusão a que chega Moreno de Alba (2002) sobre a imperfeição do pretérito

é que, na língua espanhola, “o PPC não é sistematicamente perfectivo”, ou seja,

finalizado, concluído, porque não se manifesta com o mesmo valor aspectual em todos

os seus dialetos. Ao contrário, “o valor imperfectivo está presente em todas as variedades

do espanhol e no México essa característica é predominante”.

Por essa razão, pretendemos verificar se esse caráter aspectual pode ser percebido

no corpus oral. Partimos da pressuposição de que as formas são variantes no México,

contudo somente os dados vão nos mostrar quais as possibilidades de emprego dessas

formas verbais nas cidades de Monterrey e Ciudad de México. No próximo capítulo,

exporemos os passos para a realização desta pesquisa.

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69

CAPÍTULO 4 - PERCURSO METODOLÓGICO

Esta pesquisa possui caráter quantitativo e qualitativo, tomando como base os

pressupostos teórico-metodológicos labovianos, os quais visam explicar os fenômenos

linguísticos atrelados aos aspectos sociais, ou, de outra forma, explicar como as variáveis

independentes interferem nos aspectos linguísticos. Ademais, apoiamo-nos numa

abordagem dialetológica, com o intuito de perceber como uma diferente área geográfica

pode criar suas próprias normas e ressignificar determinados aspectos linguísticos.

A escolha por um estudo quantitativo “não é produzir números (por exemplo,

medidas estatísticas para resumir dados), mas identificar e explicar fenômenos

linguísticos” (GUY E ZILLES, 2007, p. 31). Nosso propósito com a delimitação de um

corpus que seja representativo de duas comunidades de fala, sendo assim socioletal e

dialetal, consiste em descrever como o fenômeno das formas PPS e PPC funciona nestas

comunidades linguísticas, Monterrey e Ciudad de México. Portanto, nossa pesquisa

também é de cunho qualitativo e descritivo, pois faremos tanto uma descrição como uma

análise dos dados coletados, a fim de percebermos as influências dos fenômenos sociais

e dialetais nas cidades estudadas.

Para tanto, buscamos um corpus que pudesse atender ao nosso objetivo, pois,

conforme Sardinha (2000), a especificidade do corpus contribui para delimitar sua

representatividade, já que não é possível uma amostra de todas as possibilidades de uma

língua. Por isso, fizemos uma seleção de entrevistas sociolinguísticas que apresentassem

maior ocorrência do PPS e PPC, para que pudéssemos obter dados suficientes para

descrever o emprego desses tempos verbais na língua oral das referidas cidades, sem

pretender, obviamente, esgotar todas as possibilidades de uso.

Nesse sentido, Sardinha (2000) ressalta a importância dos dados diferentes que

são encontrados no corpus, pois, segundo o autor, os traços localizados em uma maior ou

menor frequência em uma determinada situação comunicativa revelam que a variação de

uma língua não ocorre de forma aleatória, mas que apresenta uma padronização:

Quando se diz que a variação não é aleatória, na verdade, está se

afirmando que a linguagem é padronizada (‘patterned’). A

padronização se evidencia pela recorrência, isto é, uma colocação,

coligação ou estrutura, que se repete significativamente, mostra sinais

de ser na verdade um padrão lexical ou léxico-gramatical. A linguagem

forma padrões que apresentam regularidade (se mostram estáveis em

momentos distintos, isto é, tem freqüência comparável em corpora

distintos) e variação sistemática (correlacionam-se com variedades

textuais, genéricas, dialetais, etc) (SARDINHA, 2000, p. 29).

Page 70: A ALTERNÂNCIA ENTRE O PRETÉRITO PERFECTO SIMPLE PRETÉRITO …€¦ · pretérito perfecto compuesto (PPC) e o pretérito perfecto simple (PPS) com o intuito de identificar a alternância

70

Assim, para verificar a utilização de um determinado traço da língua é necessário

que a sua recorrência seja observada de forma empírica, a fim de observar se ela está

“padronizada” dentro do corpus analisado ou, em um âmbito maior, em diferentes

corpora, até fazer parte de forma integral da língua. Com esse intuito, partimos de um

corpus oral, para verificar se e como ocorre variação entre as formas pretéritas perfeitas

do espanhol.

Seguindo esse fio condutor, utilizamos neste trabalho um corpus que advém do

Proyecto para el Estudio Sociolingüístico del Español de España y América

(PRESEEA). Tal projeto teve início em 1996 (1993), no XI Congresso Internacional da

Associação de Linguística e Filologia da América Latina (ALFAL), e na última década

do século XX começou a se desenvolver.

O surgimento desse corpus decorreu da necessidade de um estudo que

contemplasse as falas populares das cidades hispânicas, já que o corpus existente até o

momento (o macrocorpus da norma culta das principais cidades da Espanha e América,

inserido no projeto PILEI – Proyecto Interamericano de Lingüística y Enseñanza de

Idiomas) não contemplava as comunidades de fala presentes no mundo hispânico, sob os

diferentes aspectos sociolinguísticos (idade, sexo, escolaridade) (MORENO

FERNÁNDEZ, 2006).

A partir da constituição de uma metodologia que seria base para as investigações

que comporiam esse Projeto, a partir de 1998, as equipes de trabalho foram aderindo à

pesquisa, tendo início com a Universidade de Alcalá, a Universidade de Valência e o

Colégio do México. Com a continuidade de encontros no ALFAL, outras equipes foram

somando-se ao PRESEEA, que apresenta atualmente 42 equipes de trabalho divididos

entre América e Espanha.

Em termos de avanços nas pesquisas, as 42 equipes que atuam no PRESEEA

encontram-se em estágios diferentes das investigações. Algumas já coletaram as

entrevistas, fizeram as transcrições e os materiais estão disponíveis para que possam ser

analisados; enquanto outras ainda estão na fase de coleta dos dados, pois as equipes foram

adentrando ao projeto gradativamente, isto é, nem todas começaram a participar dele na

mesma época. É interessante ressaltar também que os corpora apresentam delimitações

“universais” que foram definidas pela coordenação geral do projeto, como os níveis de

idade, sexo, escolaridade; o tratamento dos dados (confidencialidade e anonimato);

apresentação e publicação no site do projeto (PRESEEA, 2011).

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71

Dentre os diferentes corpora dialetais que estão disponíveis para investigação,

selecionamos o do México, diante da disponibilidade dos dados de duas cidades de um

mesmo país estarem publicados para análise. Com o propósito de delimitar nosso campo

de estudo, dado o pouco tempo destinado a uma pesquisa de mestrado, limitamo-nos a

comparar dialetologicamente duas cidades do México – Monterrey (capital do estado

mexicano de Nuevo León, nordeste do país) e Ciudad de México (capital do país),

mantendo-nos nas fronteiras geográficas desse país. Com o objetivo de verificar se há

variação entre as formas pretéritas de uma cidade para a outra, ou se, ao contrário, o

emprego dos pretéritos se mantém similar, já que ambas as cidades são próximas

geograficamente.

4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS DADOS

Conforme dito anteriormente, para a composição do corpus aqui investigado,

foram selecionadas 18 entrevistas, tanto de Monterrey quanto da Cidade do México, com

base em critérios sociais (idade, nível de escolaridade e sexo), estabelecendo apenas uma

composição que fosse equivalente nas duas cidades, o mesmo número de entrevistados

de acordo com as variáveis independentes que serão elencadas.

Os dados coletados são baseados em três variáveis sociais: sexo/ gênero, idade e

nível de escolaridade. A variável sexo está dividida entre homens e mulheres; a variável

idade está dividida em três gerações:

grupo 01, composta por falantes entre 20 e 34 anos;

grupo 02, participantes entre 35 e 54 anos;

grupo 03, entrevistados acima de 55 anos.

Com relação ao nível de escolaridade, o projeto realizou a divisão em três grupos:

a) os que compõem o grupo 01, com ensino primário: analfabetos, sem estudo, ou

que têm até 05 anos de escolarização, apenas;

b) o grupo 02, entrevistados com nível de escolaridade secundário, formado por

pessoas que estudaram entre 10 e 12 anos; e

c) o grupo 03, constituído por pessoas com ensino superior, as quais frequentam

ou frequentaram a Universidade, e pessoas com mais de 15 anos de escolarização.

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72

Abaixo apresentamos um quadro-resumo com os dados sociais dos entrevistados

das duas cidades, selecionados a partir do corpus disponibilizado pelo PRESEEA. De

cada cidade, selecionamos 18 entrevistas, divididas com base nos seguintes critérios: 6

informantes de cada nível de escolarização (1- primário, 2- secundário, 3- superior),

dentre o total de informantes; também foram selecionados 6 representantes de cada faixa

etária (1 – 20-34 anos; 2- 35-54; 3- acima de 55 anos), sendo 9 homens e 9 mulheres,

divididos nas categorias anteriores.

Quadro 01 – Dados gerais: Ciudad de México

Nº DE

ENTREVISTAS

NIVEL DE

ESCOLARIDADE

FAIXA

ETÁRIA

SEXO

01 alta - superior 01 homem

02 alta – superior 01 mulher

03 alta - superior 02 homem

04 alta - superior 02 mulher

05 alta – superior 03 homem

06 alta – superior 03 mulher

07 secundária 01 mulher

08 secundária 01 homem

09 secundária 02 homem

10 secundária 02 mulher

11 secundária 03 homem

12 secundária 03 mulher

13 primária 01 homem

14 primária 01 mulher

15 primária 02 homem

16 primária 02 mulher

17 primária 03 homem

18 primária 03 mulher

Fonte: dados coletados do PRESEEA – México, adaptados por nós (2018)

Page 73: A ALTERNÂNCIA ENTRE O PRETÉRITO PERFECTO SIMPLE PRETÉRITO …€¦ · pretérito perfecto compuesto (PPC) e o pretérito perfecto simple (PPS) com o intuito de identificar a alternância

73

Quadro 02 – Dados gerais: Monterrey

Nº DE

ENTREVISTAS

NÍVEL DE ESCOLARIDADE FAIXA

ETÁRIA

SEXO

01 alta - superior 03 mulher

02 alta – superior 03 homem

03 alta - superior 02 mulher

04 alta - superior 02 homem

05 alta – superior 01 mulher

06 alta – superior 01 homem

07 secundária 03 mulher

08 secundária 03 mulher

09 secundária 02 homem

10 secundária 02 mulher

11 secundária 01 homem

12 secundária 01 mulher

13 primária 01 homem

14 primária 01 mulher

15 primária 02 homem

16 primária 02 mulher

17 primária 03 homem

18 primária 03 homem

Fonte: dados coletados do PRESEEA – México, adaptados por nós (2018)

Além das variáveis sociais: idade, nível de escolaridade, sexo, é possível

categorizar os grupos numa pós-estratificação, relacionada às condições do lar e situação

econômica. Entretanto, esses fatores não serão considerados neste trabalho.

Os dados coletados pelo PRESEEA nas diferentes comunidades de fala que fazem

parte do projeto, seguem essa divisão e formam o corpus para investigação, de modo que

possam ser comparados entre os diferentes grupos dialetais do espanhol. Por isso, a

delimitação das variáveis é a mesma para possibilitar uma equiparação entre as

informações.

A quantidade de dados coletados está relacionada com o número de habitantes de

cada comunidade de fala. As comunidades que apresentam entre 500 mil e um milhão

têm uma amostra de 54 informantes. Em cidades que apresentam um número maior de

habitantes, a amostra gira em torno de 72 a 108 falantes (MORENO FERNÁNDEZ,

2006).

As cidades escolhidas para serem investigadas apresentam 108 entrevistas cada.

Contudo, para esta pesquisa foram selecionadas 18 entrevistas de cada cidade, totalizando

36 entrevistas que serão analisadas e comparadas dentro dos parâmetros sociais

mencionados anteriormente (sexo, idade e escolaridade) e levando em conta o fator

Page 74: A ALTERNÂNCIA ENTRE O PRETÉRITO PERFECTO SIMPLE PRETÉRITO …€¦ · pretérito perfecto compuesto (PPC) e o pretérito perfecto simple (PPS) com o intuito de identificar a alternância

74

dialetal, além dos fatores linguísticos que serão considerados em nossa análise. A

quantidade de entrevistas aqui selecionadas foi determinada pelo grande número de

ocorrências de PPS e PPC, não havendo tempo hábil para que uma maior quantidade de

dados fosse contabilizada e analisada, neste momento.

Assim como ocorre a divisão dos grupos para estabelecimento dos entrevistados,

também há uma delimitação dos temas abordados nas entrevistas. Os temas são

saudações, o tempo, o lugar onde vive, família e amizade, costumes, perigo de morte,

anedotas importantes na vida, desejo de melhoria econômica (MORENO FERNÁNDEZ,

2006); ou seja, há também uma padronização temática com o propósito de manter a

equidade entre as entrevistas.

Diversos trabalhos no campo da fonética têm sido desenvolvidos com base em

corpus oral, porém poucos trabalhos têm explorado as possibilidades que os corpora orais

apresentam em possíveis análises gramaticais e discursivas (LAVANDERA, 1984 apud

MORENO FERNÁNDEZ, 2006). Por esse motivo, esperamos que nosso trabalho possa

contribuir para as pesquisas que consideram o emprego dos elementos gramaticais a partir

de corpus oral.

Convém mencionar que as análises foram limitadas aos quarenta minutos de

duração, com o intuito de estabelecer uma equivalência quantitativa entre as entrevistas.

Na cidade de Monterrey, esse fator foi facilmente identificado, pois tivemos acesso à

delimitação do tempo registrado no corpo das entrevistas. Todavia, na Ciudad de México,

não havia essa identificação. Por isso, optamos por avaliar até a página 20 de cada

entrevista, como limite para manter a equidade entre os dados (quando não estabelecido

o tempo da conversa).

Em termos quantitativos, o número de ocorrências nas entrevistas da Ciudad de

México da forma PPS foi de 2030, enquanto do PPC foi de 272 casos. Nas entrevistas

extraídas da cidade de Monterrey, foram identificadas 1144 ocorrências de PPS, e 198

eventos de PPC, conforme quadro 03 abaixo:

Quadro 03 - Quantitativo de ocorrências de PPS e PPC por cidade

PPS PPC

Cidade

s

Cidade do

México

2030 272

Monterrey 1144 198

Totais 3174 470 Fonte: dados coletados do PRESEEA – México, adaptados por nós (2018)

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75

Para a efetivação desta pesquisa, fizemos um levantamento do corpus das duas

cidades pesquisadas, selecionamos as entrevistas para serem quantificadas e tabuladas,

em seguida fizemos a descrição das ocorrências e análise dos dados. Dessa forma, o

percurso metodológico foi realizado a partir das seguintes etapas:

1) delimitação do fenômeno linguístico, verificando a possível alternância das

formas PPS e PPC do espanhol num corpus de fala;

2) escolha das cidades a serem investigadas;

3) delimitação das variáveis independentes:

a) verificação da presença e/ou ausência do advérbio/marcador temporal de

simultaneidade;

b) verificação da presença e/ou ausência de advérbio/marcador temporal de

anterioridade;

c) reflexão sobre a relação marcador temporal vs. forma pretérita;

d) identificação do fenômeno pelos níveis de escolaridade;

e) análise da faixa etária na escolha do PPC;

f) observação da influência do sexo;

g) observação dialetal.

Para a contabilização desses dados e cruzamento de informações entre as

variáveis, utilizamos o programa estatístico SPSS com o intuito de viabilizar e facilitar a

compreensão das informações obtidas, tendo em vista a elevada quantidade de dados que

temos.

4.2 A VARIÁVEL DEPENDENTE

As variantes concorrentes que são investigadas nesta pesquisa são consideradas

formas diferentes de se referir a um mesmo sentido, portanto, com o mesmo valor de

verdade. Conforme os estudos labovianos (2008 [1972]), a língua em sua

heterogeneidade pode ser representada de diferentes maneiras para expressar um mesmo

sentido.

Dessa forma, partimos do estudo comparativo das variantes PPS e PPC que,

segundo Cartagena (1999), representam os pretéritos de ação perfectiva do espanhol e

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sinalizam um mesmo sentido aspectual, diferindo-se pela questão temporal. Em

concordância com os exemplos a seguir:

(01) ya termi<palabra_cortada/> / ¿ENCONTRARON al señor?

(PRESEEA_MONR_HMP_091)20.

(02) no / no sé / yo no lo HE VISTO (PRESEEA_MONR_HMP_091).

(03) pero es que un día antes de/ un día antes de irte/ me también me

dijo él// y además/ pues <~ps> sí era una maqueta grande// y

supuestamente urgía/ bueno/ sí urgía/ pero ya ves que está ahí/ [ni la

HAN OCUPADO] ((PRESEEA_ ME-042-31H-99).

(04) […] él también EMPEZÓ esta profesión/ igual que uno/ como/

ayudante// poco a poco/ pues <~pus>/ FUE aprendiendo/

APRENDIÓ// LLEGÓ el momento en el que (carraspeo)/ sus

expectativas <~espectativas>/ FUERON a más/ se <~se:>/ se

AVENTÓ un como/ ¿cómo se puede decir?/ a lo grande/ a ser este/

contratista/ afortunadamente/ pues <~pus>/ le HA IDO/ no tan bien

que digamos/ pero sí le/ HA IDO bien/ porque HA TENIDO sus

varios tropiezos// pero sí este/ pues <~pus> HA SALIDO/ o sea él

sabe/ sa- salir adelante/ en ese sentido/ y pues/ nosotros ahorita

<~orita>/ mi hermano y yo pues <~pus> estamos en el plan de/ echarle

la mano/ ayudarle (PRESEEA_ME-275-22H-06)21.

4.3 AS VARIÁVEIS INDEPENDENTES

As variáveis independentes foram consideradas, nesta análise, com o objetivo de

verificar de que forma a dimensão social pode influenciar nas escolhas linguísticas. Para

Guy e Zilles (2007, p. 75), essas “escolhas é que são determinadas (ou talvez restringidas)

pela identidade social e pela experiência linguística prévia do falante”.

Portanto, para este trabalho, serão consideradas as seguintes variáveis

independentes:

a) presença e ausência do marcador temporal de anterioridade;

b) presença e ausência do marcador temporal de simultaneidade ao momento da

enunciação;

c) idade;

d) escolaridade;

20 As descrições, entre parêntesis, do corpus utilizado, seguem o padrão estabelecido pelo PRESEEA, a

abreviatura do país: MONR (Monterrey); ME (Ciudad de México), em seguida o código referente aos

fatores sociais: sexo, escolaridade e idade, e por último o código representativo da catalogação dos dados. 21 Os dados estão transcritos conforme os originais apresentados no projeto PRESEEA.

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77

e) sexo; e

f) cidade.

4.3.1 O traço – marcador temporal de anterioridade (ADVa)

No corpus em estudo, identificamos as ocorrências dos marcadores temporais,

com a intenção de analisarmos se há uma influência desses traços associados aos usos das

formas PPC e PPS. O traço “marcador temporal de anterioridade” foi percebido 174

vezes, sendo desse total, 81 em Monterrey e 93 na Ciudad de México. Abaixo algumas

ilustrações dos ADVa:

(05) entonces mi mamá los viernes / EMPEZARON a ir yo creo que

ya tienen como<alargamiento/> / cinco años o más que hace comida/

cada viernes (PRESEEA_ MONR_ HMP_067).

(06) bueno/ yo una enfermedad muy rara que VI FUE/ hace/ en

privado hace/ doce años/ un síndrome de sobreexposición por

radiación (PRESEEA_ME-138-32H-01).

(07) sí/ FUE un niño de/ el primer caso de sida en pediatría// FUE en

el ochenta y siete (PRESEEA_ME-138-32H-01).

(08) lo<alargamiento/> / de las perforaciones también EMPEZÓ hace

cinco años más o menos (PRESEEA_ MONR_ HMP_050).

(09) hace diecisiete años / o sea / vendía en el suelo / andaba en el suelo

vendiendo / en las playas / en / e<alargamiento/> / HE IDO a / a muchas

partes de México (PRESEEA_ MONR_ HMP_050).

4.3.2 O traço – marcador temporal de simultaneidade (ADVs)

Quanto ao traço marcador temporal de simultaneidade, identificamos um total de

314 ocorrências, das quais 168 foram observadas nos dados da Ciudad de México e 146

no corpus de Monterrey. Abaixo, apresentamos alguns exemplos dos ADVs encontrados.

(10) en general los dos sectores en el / en la colonia Cumbres / yo siento

que pos siempre HA SIDO muy tranquilo (PRESEEA_

MONR_HMP_025).

(11) eso / este año nos TOCÓ a m<[i]>hija y a mí <énfasis> todos los

monos (PRESEEA_ MONR_HMP_055).

(12) pero sinceramente/ últimamente sí/ sí lo HE PENSADO/ y sí

deseo (PRESEEA_ME-248-31M-05).

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78

(13) Entonces <~tos> siempre ESTUVE rodeado de mi familia en

todos los aspectos (PRESEEA_ME-271-21H-06).

4.3.3 O traço – nível de escolaridade

A variável independente “nível de escolaridade” foi quantificada com o objetivo

de verificar se o período de anos estudados interfere ou influencia na escolha pelo uso de

uma das formas analisadas. Por isso, foram separados três grupos:

a) os que compõem o grupo 01, com ensino primário: analfabetos, sem estudo, ou

que têm até 05 anos de escolarização, apenas:

(14) así como que en ese aspecto/// a mí no me provoca confli-/

conflicto/ porque siempre HE TENIDO// mucha relación con/

varones// hermanos (PRESEEA_ME-248-31M-05).

(15) y sí se podía jugar futbol/ pero ahora ya no ya le ECHARON

(PRESEEA_ME-114-12H-00).

(16) yo siempre tenía ganas de estudiar y nunca me METIERON

(PRESEEA_ME-306-11M-07).

b) o grupo 02, entrevistados com nível de escolaridade secundário, formado por

pessoas que estudaram entre 10 e 12 anos:

(17) pues sí/ él también EMPEZÓ esta profesión/ igual que uno/

como/ ayudante// poco a poco/ pues <~pus>/ FUE aprendiendo/

APRENDIÓ// LLEGÓ el momento en el que (carraspeo)/ sus

expectativas <~espectativas>/ FUERON a más/ se <~se:>/ se

AVENTÓ un como/ ¿cómo se puede decir?/ a lo grande/ a ser este/

contratista/ afortunadamente/ pues <~pus>/ le HA IDO/ no tan bien que

digamos […] (PRESEEA_ME_275-22H-06).

(18) se le venía la sangre por la naricita / <énfasis> y yo corrí<[a]> a la

clínica </énfasis> / y / y le hablab<[a]> a un taxi / siempre ANDUVE

en taxi (PRESEEA_ MONR_HMP_055).

c) o grupo 03, constituído por pessoas com ensino superior, as quais frequentam

ou frequentaram a Universidade, ou seja, pessoas com mais de 15 anos de escolarização:

(19) así como que en ese aspecto/// a mí no me provoca confli-/

conflicto/ porque siempre HE TENIDO// mucha relación con/

varones// hermanos/ amigos (PRESEEA_ ME-248-31M-05).

(20) e<alargamiento/> / la colonia / e<alargamiento/> / nunca HEMOS

TENIDO problemas de ningún tipo por ejemplo de vandalismo // o / o

que sea un sector (PRESEEA_MONR_HMP_025).

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79

4.3.4 – As variáveis sexo e idade

Com relação às variáveis idade e sexo, observaremos se há distinção nas diferentes

faixas etárias, assim como se entre homens e mulheres há uma prevalência do uso de

uma das formas. As ilustrações referentes às variáveis “idade” e “sexo” serão expostas

na seção de análise de dados, juntamente com os gráficos e tabelas realizadas a título de

apresentação e comparação dos dados. Abaixo uma amostra das ocorrências:

a) sexo - homem vs mulher:

(21) HE APRENDIDO un poquito a lidiar un poco más con las

mujeres// ajá// y HE APRENDIDO a lidiar un poco con/ con las

mujeres porque// ya ves que ni con mis hermanas/ LIDIÉ (PRESEEA_

ME-248-31M-05).

(22) pues sí/ él también EMPEZÓ esta profesión/ igual que uno/

como/ ayudante// poco a poco/ pues <~pus>/ FUE aprendiendo/

APRENDIÓ// LLEGÓ el momento en el que (carraspeo)/ sus

expectativas <~espectativas>/ FUERON a más/ se <~se:>/ se

AVENTÓ un como/ ¿cómo se puede decir?/ (PRESEEA_ ME-275-

22H-06).

b) idade – esse critério foi dividido, de acordo com a orientação dos dados

PRESEEA, em três grupos:

grupo 01, composto por falantes entre 20 e 34 anos:

(23) por decir/ para mí no HA SIDO/ HA SIDO un poco complicado//

porque/// todavía tengo así como que muchas eh/ proyectos/ ¿no?/ así/

a futuro/ quiero hacer todavía/// miles de cosas (PRESEEA_ME-248-

31M-05).

(24) ha de ser una desesperación porque yo orita yo estoy bien / pero

yo PASÉ por una racha que / te da una desesperación horrible de <cita>

<énfasis> ¿qué hago?</énfasis> / necesito traer dinero para mi familia

/ para mis hijos </cita> <ruido= “perro ladrando”/> (PRESEEA_ MONR_HMP_008).

grupo 02, participantes entre 35 e 54 anos:

(25) y papá es de San Pedro de las Colonias pero // chicos se

VINIERON para<[a]>cá (PRESEEA_MONR_HMP_055)

(26) entonces también nos condiciona a que seamos// sí pero/ de ahí

en fuera nuestro hospital HA SIDO un hospital que/ como todos/

tienen sus// altas y bajas/ ¿no?/ de momento/ el hospital (PRESEEA_

ME-138-32H-01)

grupo 03, entrevistados acima de 55 anos.

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80

(27)Y este/ y no creas/ también le su-/pues<~pus> le SUFRIMOS y no

porque cuando/mientras/eh/ TRABAJAMOS al lado de esos jefes que

me ENSEÑARON (PRESEEA_ME-282-23H-06).

(28) y<alargamiento/> / me<alargamiento/> / me<alargamiento/> / me

HAN ESTA<[D]>O metiendo / primero me / METIERON a trabajar

en / Filosofía y Letras // después me <sic> trajieron </sic> al centro de

idiomas / y del centro de idiomas me MANDARON aquí

(PRESEEA_MONR_HMP_076).

4.3.5 A localidade: variação dialetal

Conforme expusemos, para a organização deste corpus, selecionamos duas

cidades que pertencem ao México e estão em duas zonas dialetais diferentes, conforme

Lope Blanch (1996), uma no altiplano central, a Ciudad de México, e a outra pertencente

às falas da zona noroeste, Nuevo León, em que analisamos as ocorrências coletadas em

sua capital, Monterrey. A proposta de análise dialetal compreende verificar as similitudes

e dessemelhanças entre as cidades, comparando os usos dos pretéritos– PPS vs. PPC. Na

esteira desse raciocínio, detalharemos os dados coletados em cada cidade.

4.3.5.1 Monterrey

O corpus disponibilizado pela Universidad de Nuevo León, vinculada ao projeto

PRESEEA, apresenta uma coletânea de 108 entrevistas, determinada pela quantidade de

habitantes da região, em conformidade com as orientações do PRESEEA, explicitadas

na seção 4.1. Dessas entrevistas, 18 foram selecionadas, a fim de contabilizarmos e

identificarmos como o fenômeno investigado se realiza nessa comunidade de fala. Em

seguida, quantificamos as ocorrências, que totalizaram 1144 eventos com PPS e 198

eventos com PPC, distribuídos entre falantes de diferentes sexos, escolaridades e idades,

informações que serão apresentadas com mais detalhes no próximo capítulo.

4.3.5.2 Ciudad de México

Do corpus PRESEEA, da Ciudad de México, também foram selecionadas 18

entrevistas distribuídas entre falantes de idade, sexo e escolaridade diferentes, conforme

apresentados no quadro 01. Após a identificação e contagem dos dados, foram

observadas 2030 ocorrências de PPS e 272 ocorrências de PPC. Além desse

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81

quantitativo, foram controlados os números de ADVa e ADVs, como também

observarmos de que forma eles podem impulsionar a variação entre essas formas

pretéritas.

Vale ressaltar que, no próximo capítulo, incluiremos também na análise o

cruzamento entre as diferentes variáveis independentes apresentadas neste capítulo.

Page 82: A ALTERNÂNCIA ENTRE O PRETÉRITO PERFECTO SIMPLE PRETÉRITO …€¦ · pretérito perfecto compuesto (PPC) e o pretérito perfecto simple (PPS) com o intuito de identificar a alternância

82

CAPÍTULO 5 - DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Neste capítulo, apresentaremos os dados observados nos corpora das duas

cidades, Monterrey e Ciudad de México, partindo do fenômeno a variável das formas

pretéritas perfeitas do espanhol, tendo como variantes o PPC e o PPS.

Para tanto, conforme especificado no percurso metodológico, foram analisadas as

influências das variáveis independentes (ou fatores condicionantes) sexo, idade,

escolaridade e presença e/ou ausência dos advérbios de simultaneidade e de anterioridade

na escolha de uma das variantes.

Iniciaremos com uma breve descrição das ocorrências sem a presença dos

advérbios temporais.

5.1 AS OCORRÊNCIAS DE PPS vs. PPC- O UNIVERSO DOS DADOS

Para Guy e Ziles (2007, p. 81), “uma hipótese será mais verossímil se basear em

mais dados e se for na direção sugerida pela proporção”. Por isso, ao olharmos para nossa

amostra, observamos que o corpus consta de 3174 ocorrências de PPS, sendo 2030 da

Ciudad de México e 1144 da cidade de Monterrey; enquanto a amostra de PPC totaliza

470 eventos, em que 272 foram percebidos na primeira cidade e 198 na segunda.

Com base nesses dados, podemos inferir que eles são significativos das

comunidades que estamos investigando, ao observarmos a quantidade de ocorrências

percebida no corpus. A tabela abaixo ilustra esse quantitativo:

Tabela 01 - Ocorrências de PP por cidade

Ciudad de

México

Monterrey

PPS Total 2030 1144

Percentual 88,19% 85,25%

PPC Total 272 198

Percentual 11,81% 14,75%

Fonte: autoria própria (2018)

Os dados demonstram um alto índice de ocorrências do PPS tanto em Monterrey

quanto na Ciudad de México. Ao observar o total de eventos, os dados nos indicam que,

em Ciudad de México, ocorre 89% de eventos com o PPS, e 11% com o PPC, revelando

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83

uma alta frequência de uso do pretérito simples nos dados de fala do PRESEEA dessa

cidade.

Em Monterrey, da totalidade dos eventos, 86% são realizados fazendo uso do PPS,

enquanto 14% dos dados mostram a aplicação do PPC nessa comunidade linguística, o

que nos faz perceber uma sutil diferença entre os usos das formas, considerando a

totalidade dos eventos. Contudo, constatamos uma prevalência do PPS nas duas cidades

analisadas. Conforme alguns exemplos abaixo:

(29) porque<alargamiento/> / pues mi / mi esposo ENCONTRÓ

trabajo[…] mi hermano EMPEZÓ a trabajar y a estudiar (PRESEEA_ MONR_HMP_008).

(30) este<alargamiento/> / que teníamos años de no vernos / y me

INVITÓ a la casa de uno de ellos (PRESEEA_ MONR_HMP_076).

(31) sí/ sí sí/ yo ESTUVE anteriormente en lo que es/ la/ oficina

de atención primaria (PRESEEA_ ME-138-32H-01).

(32) ya/ lo PRACTIQUÉ y ya/ hasta ahorita a la fecha (PRESEEA_

ME-114-12H-00).

Os dados mostram o emprego do PPS nos corpora investigados representando

essa prevalência da forma simples. Os exemplos aparentam sinalizar, mostrar ações

finalizadas anteriores ao ponto zero enunciativo, a que se remetem os autores

apresentados no segundo capítulo. No entanto, não observamos o valor contextual de

cada evento a que se refere Cartagena (1999), que nos daria mais indícios sobre uma

possível diferenciação ou aproximação da forma composta no México.

5.2 – O TRAÇO - ADVÉRBIO TEMPORAL

Outro passo elencado em nosso estudo foi o cruzamento entre a presença e/ou

ausência de um advérbio temporal (ou marcador temporal) associado a algum dos

pretéritos, PPS e PPC. A tabela seguinte mostra a totalidade de eventos e a presença e/ou

ausência desses advérbios. Ao cruzarmos o fenômeno agregado ou não a um ADV,

apreendemos os seguintes resultados:

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84

Tabela 02 - Ocorrências de PP associadas ou não a ADV

Ocorrências de PP com e sem advérbio Cidade Totais

Ciudad de

México

Soma

Monterrey

Soma

Presença de ADVa 93 81 174

Presença de ADVs 168 146 314

Ocorrência sem advérbio - SADV 2042 1108 3150

Fonte: autoria própria (2018)

Isto posto, observamos que, das 3644 ocorrências - somados todos os eventos de

PPS e PPC-, 3150 foram aplicadas sem a presença de um ADV. Abaixo ilustramos com

alguns exemplos do corpora:

(33) también todos son HAN SIDO problemas chicos (PRESEEA_

ME-300-13H-07).

(34) no / porque definitivamente / e<alargamiento/> / HA VENIDO

mucha gente de otras partes </ruido_fondo (PRESEEA_

MONR_HMP_101).

(35)¿no no te lo DIJE? (PRESEEA_ ME-300-13H-07).

(36) yo recuerdo que <ruido = “golpe” /> / en / que mi casa / EMPEZÓ

siendo u<alargamiento/>n / un tejabán / y que / a medida que PUDO

papá<alargamiento/> / e<alargamiento/> / juntar un capital / PUDO / ir

/ e<alargamiento/> construyendo <ruido = “golpe” /> / construyendo

(PRESEEA_ MONR_HMP_101).

(37) se / se GOLPEÓ / en el accidente se <sic>golpiaron</sic> unos

ca<alargamiento/>rros (PRESEEA_MONR_HMP_077).

(38) entonces/ puede ser que se haya perdido la carta y/ no LLEGÓ

(PRESEEA_ME-110-22M-00).

(39) me HA GUSTA<[D]>O mucho trabajar / vivir / ganar dinero

porque me gusta mucho el dinero <ruido = “motor como de licuadora”

/>aquí pa<[r]><[a]>la casa para / pa<[r]><[a]>traer aquí a la casa / para

comer y así (PRESEEA_MONR_HMP_077).

Esses dados representam uma pequena amostra das ocorrências SADV

identificadas no corpus. Contudo, para que pudéssemos efetivar uma análise a fim de

definir os motivos dessa preferência de uso, sem os marcadores temporais, precisaríamos

considerar o teor de cada um dos mais de 3.000 eventos do corpus, não sendo possível

para este trabalho, dado o pouco tempo disponível. No entanto, os dados nos mostram

que há uma tendência, uma generalização de uso do PPS, quando comparamos o

Page 85: A ALTERNÂNCIA ENTRE O PRETÉRITO PERFECTO SIMPLE PRETÉRITO …€¦ · pretérito perfecto compuesto (PPC) e o pretérito perfecto simple (PPS) com o intuito de identificar a alternância

85

quantitativo de eventos SADV + PPS: 2808; enquanto registramos 337 ocorrências

SADV + PPC na amostra, indicando uma propensão para uma preferência pela forma

simples.

Quanto as ocorrências com a presença de advérbios foram contabilizadas um total

de 488, sendo 174 associadas a ADVa e 314 associadas a ADVs. Das ocorrências com

ADVa, 93 casos foram percebidos na Ciudad de México e 81 em Monterrey; enquanto as

ocorrências com ADVs: 168 foram observadas na primeira cidade e 146 na segunda,

conforme a tabela 01 apresentada na subseção 5.1 e o gráfico abaixo:

Gráfico 01 - Ocorrências de ADVa x ADVs na totalidade de eventos

Fonte: autoria própria (2018)

O gráfico 01 ilustra as ocorrências mencionadas com a presença de ADV,

considerando as variáveis independentes: a) presença do marcador temporal de

anterioridade; b) presença do marcador de simultaneidade; vs. c) cidade analisada. Essa

separação por cidade nos ajuda a quantificar os dados de cada corpus, apresentando um

panorama geral da presença dos ADV com os PP tanto na Ciudad de México quanto em

Monterrey. Por isso, nas próximas subseções, faremos uma separação dessas variáveis

independentes ADVa e ADVs para detalhar as ocorrências nas cidades, na tentativa de

observar traços das variedades investigadas.

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86

Conforme visto na subseção 2.2.3, as gramáticas normativas correlacionam o

emprego das formas pretéritas perfeitas (PP) a advérbios que anunciam uma

temporalidade relacionada ao momento enunciativo ou separada dele. Assim, os ADVa

evocam o uso do PPS determinado pela anterioridade da ação ao momento da enunciação,

ou seja, ao ponto zero; enquanto os ADVs determinam o uso do PPC estabelecendo uma

relação temporal de atualidade às ações concluídas. Vejamos o que os dados nos mostram.

5.2.1 Advérbios de anterioridade associados aos pretéritos - ADVa vs. PP

Neste item, abordaremos a presença do ADVa atrelado a cada um dos pretéritos.

A tabela 03 nos apresenta os dados em cada variedade dialetal:

Tabela 03 - Ocorrências de ADVa associadas aos PP

ADVa

+PPS

ADVa +

PPC

Soma Soma

Cidad

e

Ciudad de

México

90 3

Monterrey 75 6

Total 165 9

Fonte: autoria própria (2018)

Percebemos, conforme a tabela 03, nos casos investigados, que a frequência do

marcador de anterioridade associada ao PPS é alta. Das 174 ocorrências de ADVa, 165

estão relacionadas com o uso do PPS, sinalizando uma associação do ADVa a essa forma

pretérita, nas entrevistas analisadas. O que pode ser um indicador da preferência da forma

PPS pelos falantes entrevistados. Os exemplos abaixo refletem essa tendência pelo uso

do marcador de anterioridade associado ao PPS:

(40) sí / el año antepasado / como le digo no lo PUSE22

(PRESEEA_MONR_HMP_092).

(41) yo lo CONOCÍ a él porque <~porque:> en la secundaria/ una de

mis mejores amigas/ me PIDIÓ que fuera su chambelán (PRESEEA_

ME-271-21H-06).

22 O diálogo trata sobre colocar a árvore de Natal.

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87

(42) y él me AYUDÓ bastante/ como para/ para llegar ahí donde/ donde

yo LLEGUÉ en/ en ese/ en ese tiempo (PRESEEA_ ME-275-22H-06).

(43) pero pu<e>s yo en ese tiempo pu<e>s yo le DIJE a dios

(PRESEEA_ MONR_HMP_001).

Os exemplos apresentados expõem alguns dos marcadores de anterioridade

encontrados nas duas cidades (el año antepasado, en la secundaria, en ese tiempo). Com

base neles, percebemos que os eventos analisados conservam o traço de anterioridade,

evocando o PPS na quase totalidade das ocorrências com o ADVa. O que conflui para os

estudos que associam o ADVa ao uso do PPS, como apresentado no capítulo 02, do uso

de marcadores temporais que indiquem a separação do momento enunciativo às

atividades realizadas pelos falantes.

5.2.3.2 Advérbios de simultaneidade associados aos pretéritos

A junção entre os ADVs e os PP foi quantificada na tabela 04, comparando as

ocorrências em cada cidade:

Tabela 04 - ADVs associado aos PP vs cidade

ADVs +

PPS

ADVs +

PPC

Soma Soma

Cidade Ciudad de México 115 56

Monterrey 85 61

Total 200 117

Fonte: autoria própria (2018)

Com base nisso, observamos os demais 11,53% dos registros com a presença de

advérbio. Esses dados nos explicitam a associação do PPS aos dois tipos de marcadores

temporais; conforme dito, a quase totalidade dos ADVa está associada ao uso do PPS nas

entrevistas averiguadas. Na tabela 04, do total de ocorrências com ADVs, percebemos

que houve uma associação com o PPS em 200 registros, o que sinaliza uma variação do

PPS quando, em princípio, deveriam evocar o uso do PPC.

Os exemplos 11 e 13, “eso / este año nos TOCÓ a m<[i]>hija y a mí <énfasis>

todos los monos”/ “Entonces <~tos> siempre ESTUVE rodeado de mi familia en todos

los aspectos”, são mostras da ocorrência de marcadores que indicam simultaneidade mas

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88

que foram empregados com o PPS, expressando ações que não fazem parte da

temporalidade do falante, assim como os dados abaixo:

(44) pero PERDIERON como siempre </cita> / pos como que

no ¿verdá<[d]>? <ruido_fondo> <observación_complementaria

= “televisión encendida” (PRESEEA_MONR_HMP_101).

(45) pero / no le PAGÓ nunca <ruido = “bolsas

(PRESEEA_MONR_HMP_101).

(46) no pos / sólo dios me PUSO en mi sentir / porque pu <e>

<alargamiento/> s / nunca nunca FUI drogadi<c>to

(PRESEEA_MONR_HMP_001).

(47) en mi cabeza nunca PASÓ la idea de tener novio///

(PRESEEA_ ME-248-31M-05).

(48) como que siempre me TOCÓ// y nadie me las/// IMPUSO/

nadie me DIJO/ “tú tienes que cocinar/ tú tienes que// ser tutora

de tus hermanos/ tú tienes que ayudarme con tu abuelita”/ o lo

que fuera/ ¿no?/ (PRESEEA_ ME-248-31M-05).

(49) ahorita ya le QUITARON el medicamento/ que ya no le

pueden dar nada (PRESEEA_ME-123-21M-01).

(50) ahora sí se CANSARON/ pero bien contenta// porque

<~porque:> ACOMPAÑAMOS a mi mamá/ era nuestro gusto/

era lo que queríamos/ acompañar a mi mamá (PRESEEA_ ME-

276-23M-06).

(51) pero hoy le PREGUNTÉ y no se acuerda (PRESEEA_

ME-276-23M-06).

(52) y ahora sí se VINO to<[d]>a la carga <[a]> mí / de

administrar (PRESEEA_MONR_HMP_031).

Nos exemplos 44 e 48 a presença do ADV siempre aliado aos verbos (perdieron,

me tocó) propiciam uma ideia de reiteração do evento, os verbos estão expressos em PPS,

contudo aparentam indicar uma “imperfeição”, dado o teor de repetição produzida pelo

contexto enunciativo.

Nos exemplos 45, 46 e 47 temos uma ação que até o momento parece continuar

“vigente”, com a presença do advérbio nunca associado aos verbos (pagó, fui, pasó) que

expressam ações que até o momento estão em aberto, pois o advérbio evoca uma ação

que não foi finalizada até o momento atual.

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89

No exemplo 49 temos a presença do marcador ahora (no diminutivo - ahorita)

expressando uma ação concluída em um passado recente.

Esses exemplos produzem ainda mais dúvidas sobre a alternância das formas PPC

e PPS, apontando para uma variação da forma PPS com o sentido de “imperfeição” que

os autores mexicanos apresentam para o PPC. Por isso, reiteramos a necessidade de uma

análise futura, geral dos verbos, em seus contextos, e não apenas de uma das formas, para

que possamos afirmar com segurança sobre o teor aspectual ou temporal dessas formas

no México.

A variabilidade do fenômeno se faz presente no corpus analisado, expressa pelas

variáveis independentes linguísticas. Ao observamos os marcadores temporais (ahora,

hoy, este año e siempre), percebemos que a temporalidade que deveria remeter ao PPC é

negada pela preferência do PPS, demonstrando como a variação está em evidência nas

entrevistas examinadas.

O percentual de eventos que encontramos no corpus oral das duas cidades do

México divergem dos dados de Oliveira (2007), que observou a variável temporal como

um dos aspectos a serem analisados no uso dos PP, assim como propusemos. Em seu

trabalho, a autora identificou 100% dos casos com a presença do Advérbio de

simultaneidade associado ao PPS, em um corpus que contemplava a língua escrita,

analisada em jornais. Percebemos, no nosso corpus, uma divergência no tocante à

presença dos ADVs, pois apresentam um percentual de 25,27% de eventos sinalizados

pelo PPC com a presença desse advérbio.Essa diferença pode ser resultado do tipo de

corpus analisado, pois o texto escrito, normalmente, tende a ser mais formal, o que

possibilita uma linguagem mais próxima da norma gramatical. No entanto, nosso estudo

não se deteve a verificar esses liames entre um corpus escrito e um corpus oral.

Moreno de Alba (1972), em um estudo da língua falada no México, verificou

entre os falantes cultos a frequência de verbos e constatou que os verbos em pretérito

perfeito simples costumam atingir um percentual de 10% na totalidade de todos os tempos

verbais do espanhol; enquanto o PPC atinge um percentual de 2,56% . Segundo o autor,

o motivo dessa baixa frequência é a característica aspectual do PPC, assim como afirma

Lope Blanch (1992), durativa e reiterativa, produzindo uma oposição ao espanhol falado

na Espanha. No entanto, os exemplos 11 e 13 (siempre estuve, este año nos tocó) nos

indicam variação da forma PPC, sendo substituída pelo PPS, pois se considerarmos o

aspecto durativo desta forma, conforme o que expõem esses autores, a ação de estar com

a família é durativa, assim como o segundo exemplo, pois a realização do evento de fazer

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90

“os monos” ainda não foi finalizada, logo deveria ser aplicado o PPC, o que não ocorre

nos casos mencionados.

Contudo, convém atentar que os dados de fala nos quais se deteve Moreno de Alba

consideravam apenas a norma culta, ou seja, as pessoas com maior nível de escolaridade,

o que nos motiva a investigar se no corpus que estamos avaliando há essa tendência de

reiteração, nos diferentes níveis de escolaridade. Vejamos nas próximas seções.

5.3 AS VARIÁVEIS EXTRALINGUÍSTICAS

Após analisarmos as variáveis independentes linguísticas, deteremo-nos às

variáveis extralinguísticas que foram observadas na nossa pesquisa. Iniciaremos com o

nível de escolaridade dos falantes:

5.3.1 O nível de escolaridade no uso dos PP

Nesta subseção comparamos os diferentes níveis de escolaridade: primário,

secundário e superior, com o emprego das formas estudadas: PPC (he cantado) e PPS

(canté). Com o intuito de verificar se a quantidade de anos estudada, pelos falantes,

interfere na preferência por uma das formas.

5.3.1.1 O nível de escolaridade associado aos PP e a presença do ADVa

Iniciamos as comparações ilustrando as ocorrências analisadas de acordo com o

nível de escolaridade dos informantes, associando os dados gerais das ocorrências com

ADVa:

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91

Gráfico 02 - Ocorrências de ADVa associadas ao PP e o nível de escolaridade

Fonte: autoria própria (2018)

Os dados nos mostram uma prevalência do advérbio de anterioridade relacionado

ao PPS (canté), quando contabilizados todos os dados, sem fazer distinção entre as

cidades. Do total de dados do corpora, verificamos que houve uma prevalência do uso do

PPS nos três níveis de escolaridade, sendo que entre as pessoas com nível de escolaridade

primário e secundário esse percentual atingiu 97% do total. Contudo, as pessoas com

nível superior apresentaram uma maior tendência ao uso do ADVa associado a um PPC

(he cantado), com 9,52% das ocorrências.

Em seguida, fizemos uma separação dos dados, comparando as ocorrências

encontradas em cada nível junto com o percentual referente de cada cidade:

Tabela 05 – nível de escolaridade: associação entre os PP e o ADVa

Fonte: autoria própria (2018)

Cidade

Ciudad de México Monterrey

ADVa +PPS ADVa + PPC ADVa +PPS ADVa + PPC

Soma % Soma % Soma % Soma %

Escolaridade Primário 21 95,5 1 4,5 16 100 0 0

Secundári

o

43 100 0 0 29 93,5 2 6,5

Superior 26 92,9 2 7,1 30 88,2 4 11,8

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92

O cruzamento realizado entre os diferentes níveis de escolaridade, associado ao

uso dos PP, combinado à presença do advérbio de anterioridade, nos mostra que nos

níveis primário e secundário, os percentuais de ocorrências de ADVa unidos ao PPS são

altos nas duas cidades, sendo quase 100% da totalidade tanto em Monterrey quanto na

Ciudad de México. Os dados contabilizados do nível superior apontam para uma variação

de 11,8% em Monterrey, nos casos em que os ADVa foram associados ao PPC, o que

representa uma inovação, já que estes advérbios, conforme dito anteriormente, de acordo

com as gramáticas, evocam ações representadas pelo PPS (canté).

Além dessas ocorrências, identificamos outras 09 de PPC associado a ADVa,

quando a ação não tem relação de simultaneidade temporal, definida ou delimitada por

um marcador temporal de anterioridade. Um fato interessante é que, dos 09 casos

encontrados, 06 ocorreram entre pessoas com nível superior, o que corresponde a 66%

das ocorrências identificadas, revelando uma tendência à variação do PPC entre pessoas

com um grau de escolaridade maior

(53) Las últimas aguas pues <~pus> nos las HEMOS PASADO así

(PRESEEA_ME-114-12H-00).

(54) hace diecisiete años / o sea / vendía en el suelo / andaba en el suelo

vendiendo / en las playas / en / e<alargamiento/> / HE IDO a / a muchas

partes de México (PRESEEA_MONR_ HMP_050).

Os advérbios de anterioridade presentes no corpus (hace diecesiete años, las

últimas aguas) apresentam uma variação do uso do PPC ao invés do PPS quando

relacionam ações que estão concluídas e não estabelecem relação temporal atual,

distanciando-se do que estabelece as normas gramaticais da língua espanhola. Importante

frisar que estas ocorrências foram identificadas entre pessoas com nível superior, ou seja,

é necessário investigar que fatores poderiam ter “desviado” o uso da norma entre falantes

com um nível de escolaridade alto.

5.3.1.2 O nível de escolaridade no uso das formas PP com o ADVs

A tabela abaixo considera o emprego dos PP com os advérbios de simultaneidade,

que expressam ações dentro da atualidade do falante, relacionando-os ao nível de

escolarização dos entrevistados:

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93

Tabela 06: Nível de escolaridade - PP associados aos ADVs

Cidade

Ciudad de México Monterrey

ADVs + PPS ADVs + PPC ADVs + PPS ADVs + PPC

Soma % Soma % Soma % Soma %

Escolaridad

e

Primári

o

30 68,2 14 31,8 23 62,2 14 37,8

Secundári

o

44 65,7 23 34,3 23 62,2 14 37,8

Superio

r

41 68,3 19 31,7 39 54,2 33 45,8

Fonte: autoria própria (2018)

Ao compararmos a presença de ADVs com o emprego dos PP, verificamos os

seguintes resultados: na Ciudad de México houve uma equivalência de variação entre os

três níveis de escolarização. Conforme vimos no capítulo II, o ADVs deve ser empregado

com a forma PPC (he cantado). No entanto, nesta cidade, do total de ocorrências

encontradas, o ADVs foi empregado com a forma PPS (canté) em mais de 65% das

ocorrências; enquanto os eventos registrados com o PPC giraram em torno dos 31% entre

os níveis primário e superior, e 34% no nível secundário. O que revela uma preferência

do uso do PPS, mostrando uma predominância do tempo simples na Ciudad de México.

No que concerne aos dados da cidade de Monterrey percebemos um percentual de

62% (tanto no nível baixo quanto no nível intermediário) do emprego do PPS associado

ao ADVs, o que eleva o número de casos de ADVs ao PPC em 37, 8%. Ou seja, o uso da

forma padrão foi percebido em um percentual maior em Monterrey. E esse número foi

ainda mais significativo quando analisadas as ocorrências do nível superior, pois foram

totalizados 45,8% dos eventos com o emprego da forma he cantado. Esses resultados nos

levam a conclusão que há uma variação de quase 50% entre a forma padrão e a forma

inovadora entre as pessoas com o maior nível de escolaridade em Monterrey.

O conjunto de gráficos abaixo apresenta esses dados comparativos entre os níveis

de escolaridade, uso das formas associado ao ADVs em cada cidade:

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Gráfico 03 – nível de escolaridade vs PP por cidade

Fonte: autoria própria (2018)

Os gráficos, assim como a tabela, nos mostram que houve variação pretensa a

inovação nos 3 níveis de escolaridade. A evocação de uso do PPS com o advérbio de

simultaneidade é percebido tanto no nível primário, quanto no nível secundário e no

superior. Contudo, o nível superior, em Monterrey apresentou uma maior ocorrência da

forma convencial ADVs + PPC com 45,8% dos dados. Abaixo, alguns exemplos ilustram

esses afirmações:

a) nível de escolaridade primário:

(55) nunca me HAN ROBADO (PRESEEA_MONR_HMP_001)

b) nível de escolaridade secundário:

(56) y HE VIVIDO toda mi vida // en / en Monterrey

(PRESEEA_MONR_ HMP_018).

c) nível de escolaridade superior:

(57) ey / una persona que / en una bicicleta ¿ve<[r]>dá<[d]>? / lo

MATAMOS se / se GOLPEÓ / en el accidente se

<sic>golpiaron</sic> unos ca<alargamiento/>rros y

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95

no<alargamiento/> fue un problema grande y BATALLAMOS

par<[a]>arreglar y / es el / es el problema más grande qu<[e]>HE

TENIDO en mi vida (PRESEEA_MONR_HMP_077).

Os exemplos abaixo mostram ocorrências do PPS unidas a presença dos ADVs

(traço inovador).

(58) pero ahora PUSIERON globos / rojo con negro

(PRESEEA_MONR_ HMP_067).23

(59) hace poquito se FUERON a Puerto Rico que HUBO una// cada

año hacen una// no sé si cada año específicamente el mismo grupo

(PRESEEA_ME-055-32M-99).

(60) pero nos reuníamos todos los niños / y siempre nos

FESTEJARON los cumpleaños (PRESEEA_ MONR_ HMP_067).

(61) pues <~pus> no/ la niña siempre se PORTÓ muy noble/ FUE/

TUVO muchos/ tiene muchas ganas de vivir// FUE muy noble/ muy

noble/ a pesar de que de momento caía en coma/ duraba// un mes en

coma/ dos meses en coma (PRESEEA_ ME-138-32H-01)

Ao observar os exemplos e voltarmos às definições apresentadas por Cartagena

(1999) e por Lope Blanch (1989, 1992), constatamos que esses eventos confirmam a

hipótese de ações finalizadas, uma vez que mesmo com um marcador temporal de

atualidade que indicaria o uso do PPC, há a aplicação do PPS.

Com relação aos exemplos que foram apresentados mais acima, 11 e 13, e

refletindo sobre a diferença aspectual que Lope Blanch (1992) e Moreno de Alba (2002)

apresentam, não seria uma evidência de variação da forma PPS pelo PPC, atendo-nos ao

fato de que as orações expressam ações continuativas? Precisaríamos fazer uma análise

de todas as ocorrências para chegar a conclusões mais detalhadas, o que não será possível

neste trabalho.

Os eventos sem a presença de marcador temporal (que não aparecem no gráfico)

totalizam 337 casos. Por isso, faz-se necessário pensar quais fatores corroboram para o

seu emprego: se os critérios estabelecidos por Lope Blanch (1992) sobre o caráter

aspectual de reiteração e continuidade para o uso do PPC; ou o tempo subjetivo, implícito

na mente do falante, estabelecido por Alarcos Llorach (1970). O corpus nos mostra

que a presença dos ADVs (nunca, toda mi vida) evoca o uso do PPC e estabelece seu

23 Os exemplos 65 e 66 foram extraídos de entrevistados com nível de escolaridade superior, istó é, com

mais de 15 anos de estudo.

Page 96: A ALTERNÂNCIA ENTRE O PRETÉRITO PERFECTO SIMPLE PRETÉRITO …€¦ · pretérito perfecto compuesto (PPC) e o pretérito perfecto simple (PPS) com o intuito de identificar a alternância

96

vínculo com a temporalidade do falante, permitindo que a ação concluída seja atualizada

ao momento presente.

5.3.2 A variável faixa etária

Outra variável independente ou extralinguística observada em nossa análise foi a

faixa etária dividida em três grupos: a) grupo 1 – de 20 a 34 anos; b) grupo 2 – de 35 a 54

anos; e c) grupo 3 – acima de 55 anos. Na próxima subseção faremos uma separação das

ocorrências por idade e ADV associados aos PP.

5.3.2.1 Faixa etária associada as ocorrências de PP e ADVs

No gráfico 04 retratamos o emprego dos dados em cada um dos grupos de idade:

01, 02 e 03. Este gráfico apresenta a somatória de todas as ocorrências identificadas nos

corpora:

Gráfico 04 - ADVs associado aos PP por idade

Fonte: autoria própria (2018)

Ao examinarmos o gráfico 04, percebemos que há uma diferença entre os três

grupos de faixa etária: no grupo 01, a variação do uso do PPS associado ao ADVs

substituindo a forma que deveria, segundo a gramática normativa, acompanhar o PPC

ultrapassa metade dos casos, contabilizando 54,81%. No grupo 02, a variação é ainda

maior, atingindo 71,13% dos casos e no grupo 03, em 67,06% dos casos ocorre variação.

Portanto, podemos considerar que há uma significativa variação entre os três níveis

etários, havendo uma tendência maior de variação entre as pessoas dos grupos 02 e 03,

enquanto o grupo 01 há uma aquiparação entre as ocorrências de PPS e PPC associadas

ao ADVs.

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Para ilustrar e verificar se essa variação é mais forte em uma das cidades, fizemos

cruzamentos a partir da variável social idade e os usos das formas pretéritas, PPS e PPC.

A tabela 07 representa o encadeamento entre a idade e o uso dos PP:

Tabela 07 - Cruzamento entre idade e uso dos PP

Fonte: autoria própria (2018)

O gráfico 05 ilustra esses percentuais nas diferentes faixas etárias do corpus:

Gráfico 05 – Faixa etária: PP vs ADVs

Fonte: autoria própria (2018)

A tabela com os quantitativos e a ilustração dos gráficos, entre as diferentes faixas

etárias, representam o uso das formas em cada uma das cidades analisadas. Em Ciudad

Cidade

Ciudad de México Monterrey

ADVs + PPS ADVs + PPC ADVs + PPS ADVs + PPC

Soma % Soma % Soma % Soma %

Idade 20 a 34 anos 45 60 30 40 29 48,3 31 51,7

35 a 54 anos 43 78,2 12 21,8 26 61,9 16 38,1

Acima de 55

anos

27 65,9 14 34,1 30 68,2 14 31,8

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de México, ao compararmos os diferentes grupos etários, percebemos uma significativa

diferença: no grupo 1 ocorre a preferência da forma ADVs associada ao PPS em 60% dos

eventos, enquanto a forma ADVs + PPC é percebida em 40% dos dados. No grupo 02, a

forma ADVs + PPS foi percebida em 78% das ocorrências, enquanto a junção de ADVs

+ PPC resultou 21,8% dos eventos. Por último, no grupo 03 a forma ADVs + PPS

totalizou 66% dos casos, enquanto o ADVs + PPC representou 34% dos dados. Estes

dados nos revelam uma maior preferência pela forma PPS, mesmo associada a um

advérbio de simultaneidade. Contudo, entre os três grupos, percebemos um quantitativo

maior no grupo 02, pois quase 80% das ocorrências que apresentam o ADVs são

empregadas com a forma canté (PPS). Outro traço importante é o emprego da forma

padrão entre os mais jovens com um percentual de 40% dos dados.

Com relação aos dados de Monterrey temos no grupo 01, uma equivalência entre

as formas, sendo 51,7% para ADVs + PPC (he cantado), e 48,3% para ADVs + PPS

(canté); já no grupo 02 ocorre variação de 38% para o uso do ADVs + PPC, enquanto que

o ADVs + PPS é empregado em 62% das ocorrências; no grupo 03 o valor das ocorrências

de ADVS + PPC diminui para 32% dos casos, enquanto o ADVs + PPS cresce para 68%.

Esses números expressam que quanto maior a faixa etária, em Monterrey, maior a

preferência pelo uso do PPS associado a um advérbio de simultaneidade; na faixa etária

mais jovem, percebemos que os falantes utilizam, de forma numericamente equivalente,

as duas construções. Não há como definir, especificamente, o que leva as diferentes faixas

etárias utilizarem uma ou outra forma, com base nessa análise inicial, sendo necessário

um estudo mais contextual do uso de cada forma dentro das entrevistas analisadas.

Ao compararmos os dados das duas cidades, percebemos que o grupo 01 de

Monterrey tende a ser mais normativo que o grupo 01 da Ciudad de México. No tocante

ao grupo 02, verificamos uma maior do uso da forma ADVs + PPS na Ciudad de México

com 78% das ocorrências. Com relação ao grupo 03, as cidades apresentaram valores

aproximados de variação, sendo 65% das ocorrências de ADVs + PPS na Ciudad de

México e 68% em Monterrey. Tal informação nos impulsiona a investigar, em outro

momento, a frequência dos verbos que estão sendo empregados nessa forma para

verificar se há um caráter continuativo expresso nas funções verbais ou se ocorre outro

tipo de evento.

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5.3.2.2 Faixa etária associada as ocorrências de PP e ADVa

Dando continuidade a análise dos dados relacionados a faixa etária, separamos as

ocorrências de advérbios com as formas pretéritas, por grupo de idade, e obtivemos os

seguintes resultados:

Tabela 08 - Cruzamento entre faixa etária, uso dos PP e ADVa

Cidade

Ciudad de México Monterrey

ADVa +PPS ADVa + PPC ADVa +PPS ADVa + PPC

Soma % Soma % Soma % Soma %

Idade 20 a 34 anos 30 93,8 97,4 6,3 20 90,9 2 9,1

35 a 54 anos 37 97,4 1 2,6 30 90,9 3 9,1

Acima de 55

anos

23 100 0 0 25 96,2 1 3,8

Fonte: autoria própria (2018)

Conforme a quantificação dos dados, percebemos uma relação mais normativa do

uso da forma ADVa + PPS. Em Ciudad de México, no grupo 01 foram registrados 94%

dessas ocorrências, no grupo 02: 97% e no grupo 03: 100% dos casos, ou seja, verificamos

a predominância da forma pretérita canté associada aos advérbios de anterioridade. Em

Monterrey, 90% das ocorrências mostraram uma preferência por essa construção verbal

nos grupos 01 e 02, enquanto no grupo 03 registramos 96% das ocorrências. A partir

desses dados, podemos concluir uma predominância da forma ADVa + PPS nos

diferentes grupos etários, apresentando uma baixa variação da forma ADVa + PPC nas

cidades analisadas.

5.3.3 A variável sexo

Nesta seção, apresentaremos tabelas e gráficos que representam as ocorrências

percebidas através desta variável social independente, dividida entre homens e mulheres.

5.3.3.1 A variável sexo encadeada entre o uso dos PP e ADVs

Abaixo, temos a representação do uso das formas pretéritas atreladas ao ADVa

em cada sexo, simbolizados na tabela 09 e no gráfico 06:

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Tabela 09 - Cruzamento entre ADVs e PP associados ao sexo

Cidade

Ciudad de México Monterrey

ADVs + PPS ADVs + PPC ADVs + PPS ADVs + PPC

Som

a

% Soma % Soma % Soma %

Sexo Masculin

o

43 66,2 22 33,8 39 54,9 32 45,1

Feminino 72 67,9 34 32,1 46 61,3 29 38,7

Fonte: autoria própria (2018)

Gráfico 06 - cruzamento entre sexo, PP e cidade

Fonte: autoria própria (2018)

Ao compararmos o sexo dos falantes e o uso das formas pretéritas asssociadas aos

ADVs, na Ciudad de México, percebemos uma equivalência nos valores entre homens e

mulheres. Do total, 66% dos homens utilizaram a forma ADVs + PPS, enquanto 68% das

mulheres a utilizaram. Enquanto isso, a variante ADVs + PPC foi empregada por 33,8%

dos homens e 32% das mulheres. Desse modo, não percebemos diferenças significativas

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101

na separação de uso entre homens e mulheres, porém o que prevalece entre esta variável

é o emprego da forma inovadora PPS + ADVs.

Em Monterrey houve uma diferenciação maior entre homens e mulheres e o

emprego das formas associadas ao ADVs. Do total, 55% dos homens fizeram uso do

ADVs + PPS, enquanto 45% preferiu a forma convencional ADVs + PPC. O quantitativo

de mulheres que empregou a forma mais “inovadora” ADVs + PPS foi de 61%, enquanto

39% fez uso da forma ADVs + PPC. Esses dados revelam que há um uso mais

convencional entre os homens de Monterrey, dentre os grupos analisados, e que a maior

diferença quantitativa ocorre nesta cidade. De todo modo, o uso da forma PPS associada

ao ADVs prevalece nos dois sexos: masculino e feminino, mostrando a predominância da

forma simples nessas cidades.

5.3.3.2 A variável sexo encadeada entre o uso dos PP e ADVa

A seguir, apresentamos os dados referentes aos PP e os ADVa ilustrados através

da tabela 10 e do gráfico 07:

Tabela 10 - Cruzamento entre ADVa e PP associados ao sexo

Cidade

Ciudad de México Monterrey

ADVa +PPS ADVa + PPC ADVa +PPS ADVa + PPC

Som

a

% Soma % Soma % Soma %

Sexo Masculin

o

59 98,3 1 1,7 26 86,7 4 13,3

Feminino 31 93,9 2 6,1 49 96,1 2 3,9

Fonte: autoria própria (2018)

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102

Gráfico 07 - cruzamento da variável sexo: PP e cidade

Fonte: autoria própria (2018)

Com base nas ilustrações, podemos perceber que houve uma sutil diferença nos

dados da Ciudad de México, com 98% das ocorrências de ADVa +PPS entre os homens

e 94% entre as mulheres. Com relação a Monterrey, identificamos uma maior divergência

de uso das formas: 87% dos homens utilizaram a forma ADVa + PPS enquanto 13% fez

uso da forma “inovadora” ADVa + PPC; já as mulheres utilizaram a forma ADVa + PPS

em 96% das ocorrências.

No entanto, fator que não podemos desconsiderar é prevalência da forma simples

tanto nos falantes do sexo feminino quanto nos falantes do sexo masculino. O que sinaliza

uma preferência no uso do PPS tanto na forma convencional ADVa + PPS quanto na

forma “inovadora” ADVs + PPS.

5.3.4 Variedade dialetal

Nesta seção, pretendemos apresentar um comparativo entre as cidades de

Monterrey e Ciudad de México, avaliando a variável linguística independente ADV unida

ao uso das formas pretéritas.

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103

5.3.4.1 O encadeamento entre as cidades e o uso dos PP

Durante a análise fizemos um comparativo das variáveis independentes por

cidade, por pensar que, desta forma, elucidaríamos as principais diferenças e semelhanças

no uso das formas pretéritas nos corpora investigados. Por isso, na tabela 01, da página

81, apresentamos que o percentual total na Ciudad de México de ocorrências do PPS foi

de 88%, enquanto do PPC 12%. Na cidade de Monterrey, os dados coletados

apresentaram um percentual de 85% de ocorrências de PPS e 15% de ocorrências de PPC.

Esses dados demonstram um alto índice de ocorrências da forma simples (PPS)

nas duas cidades, quando comparados os números de eventos identificados ao total

contabilizado em cada cidade. Abaixo o gráfico explicita esses valores:

Gráfico 08 - ocorrências de PP por cidade

Fonte: autoria própria (2018)

Do total de ocorrências quantificadas em cada cidade, incluindo os valores com

a presença ou não de marcadores temporais ou advérbios temporais - os ADV,

observamos os seguintes resultados.: das ocorrências quantificadas, observamos que em

cerca de 80% dos dados, em média, em cada uma das cidades, houve a aplicação do PPS

sem a presença de um marcador temporal.

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O percentual de ocorrências de uso do PPS sem a presença de advérbio,

comparando as duas cidades, foi aproximado, visto que na Ciudad de México 88% dos

casos ocorreram dessa forma, enquanto 85% dos eventos foram identificados em

Monterrey. Tal constatação aponta a necessidade de um estudo futuro com o propósito de

analisar cada evento demarcado no corpus e ver sua função léxico-semântica aplicada aos

contextos reais de fala.

A partir da comparação entre as duas cidades, percebemos que, na Ciudad de

México, a forma PPC ocorre em 77% dos eventos sem a presença de um marcador

temporal; a presença de um ADVs foi registrada em 21% dos dados, enquanto o ADVa

associado ao PPC apareceu em apenas 1% das ocorrências.

Em Monterrey, a ocorrência do PPC sem o ADV foi percebida em 66% dos casos;

em 30% dos eventos, foi registrada a presença de um ADVs; já na presença de um ADVa,

esse registro foi de apenas 3% da totalidade dos registros.

Houve uma tendência, em Monterrey, a um maior uso do PPC associado ao ADVs,

30% dos casos, enquanto Ciudad de México apresentou um percentual médio de 21% dos

casos. No entanto, para perceber se ocorre uma variação aspectual das formas, como

proposto por Lope Blanch (1989, 1992) e Moreno de Alba (2002), seria necessário

analisar semanticamente cada um dos eventos associados ao PPC, neste corpus, não sendo

possível essa tarefa para este trabalho. Por enquanto, detivemo-nos a identificar a possível

alternância entre as duas formas e verificar a ocorrência quantitativa que os dados

apresentam.

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105

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos estudos realizados sobre as formas pretéritas perfeitas do espanhol,

PPS e PPC, observamos a coexistência entre essas formas nas duas cidades analisadas,

Monterrey e Ciudad de México, a partir do corpus PRESEEA. Todavia, apesar das duas

formas estarem presentes no corpus oral analisado, há uma predominância de uso da

forma PPS, inclusive com a presença de marcadores de simultaneidade, que remetem ao

uso do PPC. Assim, esses advérbios estão sendo empregados com o PPS, o que aponta

para a ocorrência do fenômeno de transição, defendido por WLH (2006 [1968]), com a

forma PPS em prevalência na totalidade dos eventos, 88% dos registros.

A partir da análise da presença do ADVa e do ADVs, podemos concluir que o

advérbio de anterioridade mantém o traço conservador de emprego do PPS, conforme

orientado nas gramáticas normativas; enquanto o ADVs sinaliza uma inovação, de acordo

com os índices percebidos quanto a sua utilização com o PPS, ao invés do PPC.

Esses dados nos inquietam a analisar, futuramente, os eventos nas duas formas,

PPS e PPC, em seus contextos, visto que percebemos a variação da forma PPS em

contextos de uso do PPC marcado pelo teor “imperfectivo” que é defendido por alguns

autores. O que nos mostra uma variação do PPS em substituição do PPC. Para tanto, é

necessário uma análise léxico-semântica dos verbos para verificar como ocorre essa

alternância entre as formas.

As variáveis independentes extralinguísticas idade e escolaridade apresentaram

uma significativa ocorrência de variação, apontando uma inovação. No fator

condicionante idade, identificamos variação elevada entre os três níveis considerados,

quando cruzamos o fator idade vs. presença de ADVs associada ao PPS, atigindo um alto

percentual entre as pessoas dos três grupos.

Ao comparar as duas cidades, percebemos que na Ciudad de México o grupo 02

apresentou um percentual mais elevado do uso inovador da forma PPS + ADVs, com 78%

das ocorrências. Enquanto em Monterrey, os valores foram crescentes de acordo com a

elevação da idade (grupo 01 – 48%; grupo 02- 62% e grupo 03 – 68%), revelando a

manutenção do padrão normativo entre os mais jovens, o que nos inquieta a tentar

compreender os motivos por esse uso normativo entre os mais jovens, tendo em vista que

nos demais grupos a variante inovadora foi mais perceptível.

Sobre a variável escolaridade, observou-se uma alternância entre as formas, com

uma tendência para o uso do PPS. Entretanto, entre as ocorrências de ADVa relacionadas

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106

ao PPC, o que revela um traço inovador, identificamos, entre as pessoas com nível de

escolaridade superior, um maior índice, apontando um percentual de 9,52%.

Quanto à variável independente extralinguística sexo, os dados apontam para uma

variação de 13% entre os homens de Monterrey no emprego da forma convencional,

indicando o uso de ADVa + PPC. Mesmo com esse resultado, se mantém predominante

o uso do PPS nos diferentes grupos de fatores analisados, ou seja, há uma equiparação

entre pessoas de ambos os sexos, demonstrando uma preferência pelo uso do PPS.

De acordo com os gráficos e tabelas expostas, percebemos que o número de

ocorrências de PPS sem a presença de marcador temporal foi elevado, dado o quantitativo

dos dados verificados, ratificando a preferência pelo uso do PPS em detrimento do PPC.

Para conclusões mais detalhadas sobre a aplicação desse tempo verbal, é necessária uma

análise do aspecto verbal que indique os contextos em que esse tempo é aplicado.

Os resultados apontam que a condicionante linguística presença do ADVs exprime

um traço inovador no corpus em questão, pois, do total de ocorrências de ADVs, 63%

evocaram o uso do PPS, o que se afasta da normativa e indica a variação da forma PPS

associada ao ADVs no corpus.

Portanto, esse traço inovador nos impulsiona a dar continuidade ao estudo, a fim

de verificar, dentre os eventos associados ao ADVs, tanto a forma PPS quanto a forma

PPC, o que os dados linguísticos têm a nos mostrar sobre essa variação. E além disso,

tentar compreender os eventos de PPC que se mantêm presentes no corpus para entender

se o aspecto verbal influencia na manutenção dessa forma verbal no corpus, conforme

defendido por Lope Blanch (1992).

Com base nessa explanação, questionamo-nos: se o valor lexical ou o valor

contextual pode corroborar na compreensão do processo, o aspecto verbal não sofreria

alteração? Se o PPC apresenta uma concepção durativa ou de repetição, não estaria se

afastando da ideia de conclusão do evento? As respostas a essas perguntas não poderão

ser respondidas neste estudo, mas nos impulsionam a dar continuidade em estudos

futuros, na tentativa de analisar o aspecto verbal do PPC e do PPS aplicados aos contextos

de fala em Monterrey e na Ciudad de México.

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