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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº 1437 Junho/2013 Gurjão - PB As estratégias da família Nóbrega para convivência com o Semiárido Suelithon Borges da Nóbrega, mais conhecido como Sussú e Rivanda Farias da Silva, são casados há 24 anos e têm duas filhas, Suziane e Silmara. Desde que casaram moram na comunidade Pascácio, município de Gurjão no cariri paraibano, em uma terra que foi herdada dos avós de Sussú. “A terra sempre foi usada para plantar e criar”, garante Sussú. No começo eram 2 vacas, 4 cabras e algumas galinhas, para ter leite e ovos para o consumo da família. Eles contam que chegaram a lucrar até 100 sacas de milho por ano, além de feijão e outros produtos que cultivavam em consorcio. Em 2010 e 2011, a família se especializou na produção de leite “A gente tinha 12 vacas e 50 cabras. tirava uns 100 litros de leite de cabra e vendia pra associação e o queijo vendia uns 50 quilos. Eu até ganhei troféu com os bichos na Festa do Bode na Rua em Gurjão”. Mas com a seca e a cochonilha, a criação animal foi enfraquecendo. “Rapaz, eu saia uma hora da tarde pra ir queimar espinho pra eles, não tinha outro comer. Aí a gente teve que diminuir a quantidade de animais, não tinha mais como segurar. A gente vendeu as vacas e as cabras”, diz Sussú. De fato animais como estes, exigem o uso de ração comprada o que torna a produção muito cara. A família, no entanto, continuou persistindo e criando estratégias de convivência com o Semiárido. Desde 2010, Dona Rivanda já vinha experimentando plantar fruteiras e fazer hortas ao lado da casa, com a água de um antigo cacimbão cavado pelo avô de Sussú ha uns 80 anos. Ela conta que aos poucos foi encontrando “um jeitinho de cuidar das plantas, os vizinhos diziam que não dava certo, mas a gente foi botando um pé de côco aqui, outro de limão ali e aos poucos o quintal ficou cheio”. A família ampliou a plantação para o local onde ficava o curral das cabras, atrás da casa. Suziane e Suelithon mostram fartura na mesa Rivanda e Suelithon no quintal de casa

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº 1437

Junho/2013

Gurjão - PB

As estratégias da família Nóbrega para convivência com o Semiárido

Suelithon Borges da Nóbrega, mais conhecido como Sussú e Rivanda Farias da Silva, são casados há 24 anos e têm duas filhas, Suziane e Silmara. Desde que casaram moram na comunidade Pascácio, município de Gurjão no cariri paraibano, em uma terra que foi herdada dos avós de Sussú.

“A terra sempre foi usada para plantar e criar”, garante Sussú. No começo eram 2 vacas, 4 cabras e algumas galinhas, para ter leite e ovos para o consumo da família. Eles contam que chegaram a lucrar até 100 sacas de milho por ano, além de feijão e outros produtos que cultivavam em consorcio.

Em 2010 e 2011, a família se especializou na produção de leite “A gente tinha 12 vacas e 50 cabras. tirava uns 100 litros de leite de cabra e vendia pra associação e o queijo vendia uns 50 quilos. Eu até ganhei troféu com os bichos na Festa do Bode na Rua em Gurjão”. Mas com a seca e a cochonilha, a criação animal foi enfraquecendo. “Rapaz, eu saia uma hora

da tarde pra ir queimar espinho pra eles, não tinha outro comer. Aí a gente teve que diminuir a quantidade de animais, não tinha mais como segurar. A gente vendeu as vacas e as cabras”, diz Sussú. De fato animais como estes, exigem o uso de ração comprada o que torna a produção muito cara.

A família, no entanto, continuou persistindo e criando estratégias de convivência com o Semiárido. Desde 2010, Dona Rivanda já vinha experimentando plantar fruteiras e fazer hortas ao lado da casa, com a água de um antigo cacimbão cavado pelo avô de Sussú ha uns 80 anos.

Ela conta que aos poucos foi encontrando “um jeitinho de cuidar das plantas, os vizinhos diziam que não dava certo, mas a gente foi botando um pé de côco aqui, outro de limão ali e aos poucos o quintal ficou cheio”. A família ampliou a plantação para o local onde ficava o curral das cabras, atrás da casa.

Suziane e Suelithon mostram fartura na mesa

Rivanda e Suelithon no quintal de casa

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Paraíba

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Realização Patrocínio

“Hoje tem jerimum, quiabo, cebola, côco, banana, jamelão, goiaba, maracujá, melancia, pinha, limão, graviola e caju”, conta a filha Suziane.

A água usada para irrigar o quintal vem do cacimbão que tem duas nascentes, uma mais profunda de água salobra e outra mais rasa com água doce, com apenas 3 metros de uma pra outra. A água salobra é usada para dar de beber aos animais da comunidade e para uso doméstico e é essa água que a família usa nas plantas. A água doce é usada pra beber.

A mesa da família tem fartura e quase tudo que é consumido vem do quintal e ainda se vende alguns produtos, como limão e ovos. Rivanda e Sussú comemoram os bons resultados: “Esse tempo todinho ninguém nunca experimentou essa água pra plantar. Teve vizinho que pensou que a gente tava doido. Mas tá aí a prova, pra todo mundo ver”.

A dedicação, a força de vontade e a resistência são fortes virtudes dessa família que tem conseguido driblar as dificuldade e desenvolver iniciativas e ações de convivência na região semiárida. Suziane, filha do casal, ensina que “tem que plantar, ter esperança e insistir porque não é tudo que se consegue da primeira vez. A gente plantou várias fruteiras aqui e morreram, mas se tivesse desistido não tinha nada disso aqui”.

Com o conhecimento e as experiências da família, acumulados ao longo dos anos, e a chegada da Cisterna Calçadão, através do Programa Uma Terra e Duas Águas, desenvolvido pela ASA, a família projeta intensificar e fortalecer a produção agrícola associada à criação animal que ainda mantêm com galinhas, gansos, ovelhas e algumas cabras soltas na caatinga. Sussú afirma que “com certeza a gente não vai parar de produzir mais não. A gente vai aumentar a produção e pretende começar a vender nas feiras. Um quilo de goiaba mesmo, hoje, custa quase 5 reais”e complementa, “a gente ta vendo se consegue a palma resistente a cochonilha pra voltar a criar bicho. Tem que tocar os dois, não pode é ficar parado”.

É resistindo e lutando que a família de Sussu e Rivanda, assim como outras famílias agricultoras camponesas, vão com sabedoria produzindo

alimentos, valorizando o que a natureza oferece e cultivando vida no Semiárido Brasileiro.

Os troféus de Suelithon

O Cacimbão de Pascácio

As cabras criadas pela família