0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila...

32
0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until very recently, the first Kalocene human occuparian of Norrhe-r Porrugal (irk-os-Mantes and Beira Alraprovincer) was thoughc ro have been undertaken by the builders of rhe maor megaliths kna~vnin the region, which have been dared ro the firrr halfof rhe 4rh millenium cal BC. In che lasr few years, some Early Neolirhic rites have been found and dared to the beginning of the 5th milleniwn. Recent work carried out in the Lower Cba Valley by PAVC (C6a Valley Arrhaeological Park) reamsdou~edtherecopitian of twosices dated rotherme period: QuebradasandQninra da Torrinha (Vila No= de For C6a). The first complerely excavared in 1996-97, while the Neolirhir layer of rhe larter was cerred in 1997. Theabsenceoflrlesolirhicconrearsamongtl~emorerhan70prehisroricsiressofardiscm~ery in rhe region srrangly indicacer rhe inmducrion of a full rNeolirhic padtagen, including onicaprids, <ere&, ceramics and polished stone. The arrival of rhese early farmers ro this then uninhabiraredregion,probablyresdtmgFroma~om~lense~of~mall-~~alemigradons from Andalucia and rhe Ebro basin, rook place only a few centuries afrer their rettlemcnr in chose areas. Quebradax and Quinca daTorrinha may have been part of a serrlemenr sysrem fearuring specialired,reasonal highland occupations. Boch sires are locared inplareaux berween450- 500 metres a.s.1. and close ro winter rtreamr.The small stre of pots, rhe presence ofsome projecrile poinu and rhe recoveryofan aviraprine tooth ar Quebradas suggest a pasroral exploiradonofrhe highlands complemented byhunung.The dircoveryof alarge number ofgrindingrronesar Quinca daTorrinha onrheorherhand, indicamsan arcuparionbased on planr processing (wild and/or caltivared). Some rock art of subn-alistic style seems co have been made byrhere eady Farmerr. --~".c<-.~*~~;T~~,- :,ETz,-6.:. :A . R'E 5 re ha pouior anos, o ptimeiro powamento holocCnico do Norderte de Porrugal (i'rk- -or-Monres e Beira .Urn) parecia rer sido levado a rabo pelor conrrmrores dos lnlin~uor megditos conhecidor nesras regiiies, or quais r&m vindo a ser dacadar da ptimeiia merade

Transcript of 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila...

Page 1: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO

Until very recently, the first Kalocene human occuparian of Norrhe-r

Porrugal (irk-os-Mantes and Beira Alraprovincer) was thoughc ro have been undertaken

by the builders of rhe maor megaliths kna~vnin the region, which have been dared ro the

firrr halfof rhe 4rh millenium cal BC. In che lasr few years, some Early Neolirhic rites have

been found and dared to the beginning of the 5th milleniwn.

Recent work carried out in the Lower Cba Valley by PAVC (C6a Valley Arrhaeological Park)

reamsdou~edtherecopitian of twosices dated ro the rme period: QuebradasandQninra

da Torrinha (Vila No= de For C6a). The first complerely excavared in 1996-97, while

the Neolirhir layer of rhe larter was cerred in 1997.

Theabsenceoflrlesolirhicconrearsamongtl~emorerhan70prehisroricsiressofardiscm~ery

in rhe region srrangly indicacer rhe inmducrion of a full rNeolirhic padtagen, including

onicaprids, <ere&, ceramics and polished stone. The arrival of rhese early farmers ro this

then uninhabiraredregion,probablyresdtmgFroma~om~lense~of~mall-~~alemigradons

from Andalucia and rhe Ebro basin, rook place only a few centuries afrer their rettlemcnr

in chose areas.

Quebradax and Quinca daTorrinha may have been part of a serrlemenr sysrem fearuring

specialired,reasonal highland occupations. Boch sires are locared inplareaux berween450-

500 metres a.s.1. and close ro winter rtreamr.The small stre of pots, rhe presence ofsome

projecrile poinu and rhe recoveryofan aviraprine tooth ar Quebradas suggest a pasroral

exploiradonofrhe highlands complemented byhunung.The dircoveryof alarge number

ofgrindingrronesar Quinca daTorrinha onrheorherhand, indicamsan arcuparionbased

on planr processing (wild and/or caltivared). Some rock art of subn-alistic style seems

co have been made byrhere eady Farmerr.

- - ~ " . c < - . ~ * ~ ~ ; T ~ ~ , - :,ETz,-6.:... : A . R ' E 5 re ha pouior anos, o ptimeiro powamento holocCnico do Norderte de Porrugal (i'rk-

-or-Monres e Beira .Urn) parecia rer sido levado a rabo pelor conrrmrores dos lnlin~uor

megditos conhecidor nesras regiiies, or quais r&m vindo a ser dacadar da ptimeiia merade

Page 2: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

.ansadnl axe a so~!~!~oau s!euo!2eI!qeq so1xa1uo2 anus e2!%gouo~~ o e 3 e l a ~ ~ o ~ ap e~!ieiuai ex!ampd ernn a eo3 oveg op oZpue oJpgoaN op 1emiTn2 apeppuap! 'e!rnouo~a 'o~uaureonod ap emaTs!s op o!as ou oe5unj :saoS!nq!i~uo> s e ~ o n r n e ~ ~ o d e arnq Je ap so!i!s salsa srenb se e n d se~!~rnalqold sep soi~adse ?ln>s!p e l n ~ o ~ d 2 ( ~ I ~ O I O U O ~ J a solaped '@palem elnqnr, 'sopez~pa~ soq~!qem 'o@wue~drn!) equ:.rlo~ ep elu!nQ ep a srpe~qano sep oe je~exa ep sopeqnsal so eiuasa~de olxai alsa

.e~p!goau a~uam~a~ai\!urnsa.~d apep! a p m 3 o x q op se~!isyesao3e1saj!mw semdpap oa~~odmaiuo~ouernnr~oiuaureo~od wn waJequnrnalsai ap OIJZJ o~ad a '@4ni10d ap ailoN op oeJezp!loau ep oeisanb eu rna1saAal as anb ap e!~ug~odm! elad :saonl senp ~ o d e!reluopd epelap!suor, !oj oe3ene~sa ern3 ' ( ~ 3 zos ap enojqepA ap oqlaJuo2 ou soqme) equ!lroIep eiu!nb a seperqanb 's!op urelpssal s o ~ ! l y s ~ - ? i d SOlXalUOJ sa~anbzp O T U T ~ ~ U O J o a (8661 ' O ~ T ~ N E ~ a k l q n ~ IL661 ''F la d q n ~ !'P.s ' ~ 6 6 1 ' ~ 6 6 1

'.p la o ~ q r z ) soA!ssa?ns sorpqeli ma sope~~lqnd o p ~ s wai saoS2e sessap sopeqnsal SO .soi!p?u! so~!l?~srq-?.~d so3xaluo? ap o l a q u o~sen mn Jepnax e opu!~ ma1 e g op apA op o~!%oloanb.~v anbled op saprp!&!ne srp o~penb on sopa!pal e>!%?loanb~e oehadso~d ap s0qpqe.11 s o

.re>!qoau rapepFnmo3

se~!am!~d sass e epeporse amled e>r!pnl=uqns od!~ ap anradru are ~ m n Z l v

.(ro>!~samop nola s u a % ~ [ a s ) s~i.la%an rosznmrap oxuaurerram~d ou upeaseq oe5edn3o

e m elrpu! 'ope1 ouno ~ o d ' e q q ~ o L ep mulnb e u epnod alpad ma rgm ap olampu

apue~8 mn apeuaqo3sapV -e5e>epd qeluarualdmo>r!Jaspnbe'o!~ea!rza~ o p p ~ o a n d

opjem~dxaee>!pu! sepe~qanb FPU ouyde>!~o ap aloap mn ap eqo>ax e a (soqn?ruoa%)

pv? lo~d ap seluod ap e5msazd e 'rose* sop saomalmp mp!mpar qr .--nu! serFq!r

ap omnf a .mu.= rorlam OOS-OS* so anua ~e3o;l ap m ! a p e l d ma,? ma sopez!p>o~

o q s a so!,!$ so soqmv .reqe reua> rrp qez!ppadsa p o n s op5edwo e -pu! anb

omawo~odapoma~r?s u n a p ~ x e d o q a ~ la> o e ~ a p o d e q o ! n o ~ q e > u ! n b ~ a ~ p p e ~ q a n b sy

.n>qa op epeq eu

'almur(anenold'a e!mppuveo ura%!~o mo, apnlndtueeuanbadap sa~5e~%!ur ap oxaldmo?

orra~ord om ap opezpsal a r a ~ o n p q seal? ma oxra-apqelra aas op v~odap sop??

s d p reuade n 4 n ~ a . m %pe>!qerap oplua 'oz!4a~ ? mo~red-o%e rapep!unmo> selrap

epe&q> v -rpqod elpad a rn-123 '-a~a> 'sau!~de>!no opynpm 'maldmo, ao?qaau

aloxda om ap oe5npoou! e p ara~?d!r( e azuamauoj ara%nr ~ ( r j on rope>lj!luap! 7:

~ o ~ y ~ ~ r ! q - ~ ~ d s o ~ ~ s ~ ~ a p ~ m s 0 a n u a 0 3 ~ ~ 0 ~ a 1 ~ ~ ~ n ~ 0 0 3 ~ a n b p b a p o ~ ~ a ~ 1 ~ 3 a 1 p 0 ~ ~ ~ p ~

2661

ma opepuos op!s opudas op o?qoau [an" o opua l '~6-966~ ma opcnmra !oj o~!amyd

- ( ~ 9 3 ZOJ ap em,q e[!A) PFIIOL ep elu!nb a 'ppe~qanb :opopad asrap so!>!r s!op ap

oeje3g!luap!eure~!l~ad (~~~d)~?j0p~p~0p0>~?l0anb~anbredopFJlU~32~SOqpqpJ~

'39 p, " ? p 1\ op O""! OE m1uoma1 %%"a Yy.", SRep

~ l m 0z"UZ 03!l![O>N Op SO!>!$ SO-OXap W I O J ' S O m $0-p SON .3g p7 O F ? p N O p

Page 3: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

2. Quebradas

0 sicio das Quebradas (Fig. 1, n.O 1) foi descoberto em Janeiro de 1996. Uma descrigio pormenorizada das condig6es de implantagio, da escratigrafia e da interpretaqao funcional da ocupagso pr6-hist6rica foi jipublicada (Aubly etal., 1997, p. 183-194), pelo quese repetirzo aqui apenas os seus aspectos principais.

Fig. I Loraliia$io das Quebradas (n." I) e da Quinra daTorrinha ( n . O 2) na C m a hlirarde Portugal (Folha 151, 1994), corn as seguinte~ coordenadas geogificas: Quebradas: 40° 59" 43' Lar. N, 7O 10" 30' Long. IY Qlllnca da Tominha: 40° 58.' 54' Lac N. 7 O 09" 39' Long w.

Traca-se de uma mancha de materiais de superfkie (cerimicas e, sobretudo, pedra lascada) que ocupa uma pequena irea aplanada junto i ribeira das Chis, afluente da ribeira dos Piscos (Fig. 2). Verificou-se desde Logo que parte considerivel destes materiais estava em posigio secundiria, pelo que a irea eventualme~lte preservada seria reduzida. Um dos principais faccores de perturbagio Foi a agriculrura cerealifera traditional (cenceio) praticada at6 aos anos 60 do presente sPculo. 0 coberto vegetal destes terrenos, agora incultos, 6 composto por mato rasteiro e giestais, sendo o pascoreio de ovinos e caprinos a unica actividade produtiva

Page 4: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

Wp. z Quebrads. 0 sino rsti implmrado na &ea aplanada no ienrro da bru , andc se pode e b i e w a ~ uma v~arurn hranca; a

nbrirads C h b come no vale que atraverra a imasem.

A primeira incerven~50 no 1

local data da sua descoberta e $0'

consistiu em recolhas de super- ficie. Em Outubro de 1996 rea- ,> -

3,

lizaram-se sondagens de 1 mZ a intervalos regulares numa

9'

pequenaireaaplanada, para pre- 7 ,, parar aescavacio em irea, que se ,. realizou um ano depois (Fig. 3). 3.

z4

A escolha desse local para inicio daescavaq50 deveu-se ao facto de ~2

n ser o menos sujeito a processos erosivos.

u\ 25

A escavaczo em irea, reali- F G * I X L I X O P I I . "

zada em fungi0 das camadas X c o i Y ( I naturais, foi efectuada a colhe- rim, com crivagem integral dos sedimentos em crivo demalhade 4 mm e incluiu ainda a coorde- fig. 3 Quebradu. Pknta de ercavqzo, corn indicq;~ dar rondagens

nagzo tridimensional dos mate- realiradas em 1996 (quadrados preenchidos; cf Aubry red, 1997), da ireaaberra em 1997 (delimiradaa r r q o fino) e dos corrcr escrarigrfificos

riais da camada in situ. reprerendas na Fig. 4 (rracos espesros).

Page 5: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

A estratigrafia 6 composta por quatro unidades distintas (Fig. 4):

Camada I : Camada de terra vegetal, com cerca de 3 cm de espessura. Camada2: Antigo horizonte lavrado, de cor castanho-escura, com 20 cm de espessura. 0 s

materiais recolhidos incluern artefactos modemos (pregos, ceriimica a torno) e materiais prC- hist6ricos erodidos.

Camada 3topo: Areias amareladas sem sinais de perturbac50 pelas lavras modernas, com espessura mixima de cerca de 25 an. Na campanha de sondagens (1996) concluira-se que este nivel conteria xartefactos prk-histbricos (cerirnica e pedra lascada) em muito born estado de conservag5on (Aubryetal., 1997,p. 184);no entanto,aescavagZo emirea(1997) permitiuobservar que, em momentos subsequentes Bocupqioneolitica, os seus restos foramsubmetidos a processos de lavagem de baixa energia. Nesta camada recolheu-se o 6nico resto 6sseo de toda a escavacio: uma lamela de dente de ovino ou caprinol.

Camada 3: Dep6sito resultante da degradag50 do granlto de base, composto por um areio grosseiro amarelo e pequenas lajes de granito.

Niosereconheceu qualqueresmuturacorrelacion6vdcomaocupa~~oneolitica.No contacro entreacamada3topo eo granitoalterado (camada3) identificou-se umaconcentragio de caw6es no quadrado J24, aqual foi datada pelo radiocarbon0 de 8.000 2 60 BP (Sac-1527), isto 6 , inicios do VII milknio cal BC (Quadro 4). Esta data significa que se tratam de restos conservados de um paleo-solo e n io de vestigios correlacionaveis com a ocupa~Bo neolitica do local, constatagio que 6 corroborada pela pr6pria posicio estratigrifica do material.

Page 6: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

2.3. Materiais arqueoldgicos 2.3.1. Ccr2mica

A contabilizagzo da cerimica permitiu desde logo confirmar as deduq6es expostas atris acercadas perturbaqces p6s-depos~cionaissofridas pel0 sitio,n%o sb atravks darelagio numirica entre estae a pedralascada (claramente favorivel a liltima), como cambkm atravis da verificaczo . . de que as peps da carnada 3topo d m um indice de decora@o (9%) superior i s das camadas 1 e 2 (2%) e da superficie (1%). Dado que nZo h i qualquer razio para crer estarmos perante uma sucess5o de ocupag6es distintas, este padrio s6 pode estar relacionado com o maior rolamento e desgaste das superficies daspeqas dos niveis superfiaais. Poroutro lado, os fragmentos cerimicos fabricados a torno surgem sempre na superficie do terreno ou nas camadas revolvidas pela agricultura, salvo rarissimas excepg6es (Quadro 1).

Quebradas 1 I? 1837 I 6 125 33 2011 2125

Quinca da Torrinha 0 240 1 24 4 269 269

Os2011 fragmentos decerimicaprk-histbricapermitiramcalcularum nGmero minimo de recipientes (NMR) de 129 vasos, ap6s determinadas as associag6es de fragmentos e feitas as remontagens possiveis a partir dos exemplares corn bordo. Tres pequenos fragmentos de bordos decorados e 19 bordos lisos n i o permitiram qualquer determinag50 e poderio, por via disso, pertencer a um ou outro daqueles vasos. Optou-se por exclui-10s para nzo inflaccionar artificialmente o NMR. A muito elevada f ragmenta~io do material, por seu lado, impede anilises estatisticas detalhadas que permitam a defini~zo rigorosa de formas e o cilculo devolumes. Destemodo, apbs as remontagens conseguidas, foi possivel determinar o perfil em 86 vasos (67 lisos e 19 decorados), calcular o d i h e t r o da abertura em 35 vasos (24 lisos e 11 decorados) e reconstituir graftcamente na totalidade apenas 8 vasos (6 lisos e 2 decorados).

As orientag6es predominantes dos bordos indicam que 57% do NMR das Quebradas sZo fechados. 0 s que permitem a determinagiio de formas revelam uma tipologia que inclui cinco formas principais. Assim, exceptuando 21 vasos do NMR (ou seja, 16% do total) cuja forma C indeterminivel, e que s%o allis todos lisos, os 108 vasos restantes distribuem-se pelos seguintes tipos (Fig. 5):

Ta~as. Sio recipientes com formas semi-el1ps6ides ou em calote de esfera, pouco fundos. sao exemplos as pegas representadas na Fig. 6 Inventariaram-se nove rec~pientes deste tipo decorados e 33 lisos, valores que, somados, petfazem 33% do total do NMR.

Ta~asfechadas. Sio recipientes apresentando as mesmas variacces formais dos anteriores ao nivel do bojo, mas a que o bordo reentrante confere uma formafechada. Szo exemplo os vasos da Fig. 8, n.O 5; Fig. 9, n.O 3; e Fig. 10, n." 5 . Inventariaram-se dois vasos decorados e tres vasos Lisos (4% do total).

Page 7: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

Fig. 5 Frequtndas absolutas dor ripos cerhicor das Quebradaz e Quina da Torrinha, corn indicaeo davaria~zo enrre peps liras e decoradas.

- Hemirfricos. SZo recipientes relativamente mais altos que as t a p s e as t a p s fechadas. Exemplos encontram-se nos vasos da Fig. 9, n.OS 8-9 e Flg. 10, n.O 8. Inventariaram-se oito recipientes decorados e seis Lisos (14% do total).

Esfricos altos. S5o vasos de base esfkrica, com a metade superior cilindrica ou em tronco de cone, de modo a resultar numa forma fechada. Exemplos sZo os vasos da Fig. 7, n.O 4; Fig. 8, n.O 1; e Fig. 9, n.O 4 . 0 inventirio de formas r e h e seis peps decoradas e dez lisas (13% do total).

Esfricos. SZo vasos pouco fechados, podendo apresentar um pequeno colo formado praticamente apenas pelo espessamento da zona do bordo. SZo exemplos as pegas representadas na Fig. 7, n.os 2,3,6-10 e 12. Inventariaram-se seis esf6ricos decorados e 19 lisos (19% do total). - Globulares. SZo vasos de formas esfkricas, muito fechados, apresentando sempre urn colo mais ou menos destacado. E exemplo o n.' 1 da Fig. 7.lnventariaram-se um exemplar decorado e cinco lisos (9% do total).

Page 8: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

Fig. 6 Quebmds. Taps has cam forma coral reconscituida. A peca om o n.O 1 apresenra acabarnenca de superficie por espatularnenro.

Page 9: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

Fig. 7 Quebadar. Vzos lisos corn diQmerro do bordo dereminado: 1. globular, 2., 3.. 6:lO e 12. esfkicos; 4 esf6rico alto; 5 . e

10. c a p ,

Page 10: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

rig. 8 Quebradas. h s o r decoradoa: I . esferico alto corn caneluras cumas mrricais, 2. hemirferico corn fim aneluras subverticais, 3. pequena rap corn fiada de irnpressdes c i r m h e s , 4. esRrico corn duar fiadns dc impressder sub-ovais. 5. t a ~ a

fechada corn caneluras vercicais, 6. erffrico corn d m fiadas de canrluras m ~ n m dirposras na verriul, 7 hemisfiricacorn d u n fiadac horizonrair dr purrcionamentor.

Page 11: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

Fik 9 Quebradas. V s o s decorados: 1. eaf6rico mrn canelum recras vemcair, 2. esF6rico deorado corn punriananienros, 3. t a p fechada corn duas f i d z de irnpressder cuaves, 4. esfeeico alro corn Fiada horironcal de pequenas irnpressaes circulares, 5. esfC-riro corn caneluru. arras, 6. %a corn irnprerrBer circulars largas, 7. hemisfC-rico decorado corn duvs fiadas de irnpreasaes circulars, 8. hernirferico corn Fiada de puncionarnentor .sob fiada de impressBes circulares, 9. hemisRrico corn duas fiadas de puncianrnenros, 10. erfbrico corn impressher sub-ovais

Page 12: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

Fig. 10 Quebradw. Vasos decorador: 1. t a p decorada corn finas ranelura;r vercicais sob rulco paralelo ao bordo, 2. taCn ram impressaer quadran@laros, 3. rapcorn canelurar, diagonair c sulco soh o bordo, 4. raca cam irnpressces sub-ovais, 6. bojo cam rracor incirosveiricair, 7. bojo co~n caneluras cunms. 8. hernisf6rico com caneluras cun.asverricais. 0 vaso corn o n Y 5 P uma mga fechadalisa corn ligeira esrranguhenro junm ao hordo.

Page 13: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

Alguns destes recipientes, como o ilustrado sob o n.O 5 da Fig. 10, apresenmm um ligeiro estrangulamento abaixo do bordo, o que lhes confere um aspecto scarenado,,. Este particularismo parece mais relacionado com criterios decorativos do que formais, pois ocorre indistintarnente em qualquer dos ripos inventariados. Como se phdeverificar, formas carenadas, bases planas ou fundos cbnicos estZo totalmente ausentes no invendrio cerimico das Que- hradas.

As decora~6es esciio presentes em 26% do NMR, incidindo em percentagens praticamente iguais, quer nos exemplares fechados (13%), quer nos abertos (12%). A area do vaso normalmente ocupada com motivos decorativos cinge-se a uma faixa imediatamente abaixo do bordo, corn largura variivel mas em regra inferior a um quarto do total da superficie. As r6cnicas utilizadas podem ser sistematizadas do seguinte modo:

' Impress5es. Presentes em 12 recipientes (9% do NMR), trata-se de impress6es continuas formando linhas paralelas ao bordo, porvezes mrilciplas; hi-as ovais e arredondadas, sendo estas por vezes muito largas (6 exemplo o vaso representado na Fig. 9, n.O 6). - Puncionamentos. Presentes na decoragzo de oico recipientes (6% do NMR), sZo sempre aplicados deformaespacejada(Fig. 8,n.O 7;Fig. 9,11.~2,8e9),nZose tendo,portanto, idenrificado nenhum fragment0 com puncionamentos arrastados (ou nboquique,,).

Caneluras. Adecora@o m l s caracteristicadoconjunto cerimico das Quebradas 6 aaplicagso de caneluras, presences em 13 vasos (10% do NMR). Apresentam largurasvariiveis, siio dispostas navemcal, e podem ser rectas (o que acontece em 4 vasos; Fig. 8, n." 5; Fig. 9, n.O 1; e Fig. 10, n.OE 1 e 10) ou curvas (as mais frequentes, presences em 6 vasos; Fig. 8, n.OS 1,2 e 6; Fig. 9, n." 5; e Fig. 9, n.OS 3 e 8). Em virios exemplares surgem associadas a sulcos largos horizontais localizados imediatamente sob o bordo (Fig. 9, n.OS 1 e 3).

Incir6es. Havendo bojos corn incis6es (Fig. 9, n." 6) , este 6 o grupo decorativo menos representado no NMR: apenas 1 vaso foi decorado corn esta thcnica, o que represents menos de 1% desse total.

Observag6es preliminares indicam queno fabric0 dosvasos se utilizarampredominantemente elementos nzo plasricos quartzosos, de pequenas dimens6es earestas boleadas. As cozeduras sio

- -

quase sempre oxidantes, variando as cores dos vasos entre o alaranjado e o acastanhado. 0 s acabamentos desuperficieeram efectuados principalmenre por alisament0;apenas umvaso (Fig. 6, n." 1) apresenta indicios de ter sido espatulado. Nalguns casos parece ter sido aplicada uma aguada de argila muito fina (Aubry et al., 1997).

2.3.2. Pedra lascada

0 talhe da pedra, inventariado no Quadro 2, assentou quase exclusivamente na exploragZo das rochas acessiveis nas imedia~6es,isto 6 , o quartzo, o quarno translricido e o cristal de rocha, que somam 98% do total. 0 cristal de rocha ocorre poucas dezenas de metros a sul do sitio; o quartzo era extraido de fil6es nos granitos e era transportado para o sitio sob a forma de blocos angulosos. 0 quartzito, por seu lado, esci representado apenas por algumas lascas parcialmente corticais, parte das quais szo restos de seixos fracturados por acgio do fog0 e n5o resultam de actividades de calhe intentional, enquanto as lascas de anfibolito testemunham tarefas de reavivamento de gumes de utensilios em pedra polida.

Page 14: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

TOTAL

Lascas nio corrlcair 5 304 430 161 4 904

Lame 18 1 1 22

I.a<iac rerocadas I 6 4 - I

Lamelas rerocadas 1 1

Entdhes aobre lasca 1 1

Tmncaruras sobre lasca 1

Crescences 1 I 1

Tdh1riii.r 1

Crisras 10

TOT, 985 384

PESC 2827,s 401

0 sflex perfaz apenas 0,5% do peso total das rochas tathadas recolhidas em escavagiio. A grande hererogeneidade do conjunto indicaqueas fontes deaprovisionamento seriam mhltiplas e, a julgar pelanaturezados cbrtices, tratarse-ia de jazidas primirias. Esra rocha chegava ao sitio sob a forma de nlicleos prismiticos (Fig. 11, n.OS 1 e 9), provavelmente jaem curso de explorasZo, os quais eram reduzidos no quadro de uma produg50 lamelat (Fig. 11, n.OS 3-5).

0 s esquemas tkcnicos subjacenres ao talhe do quartzo e cristal de rocha baseiam-re, em proporq6es aparentementesemelhantes, naexploragiio bipolarde pequenos fragrnentos ede lascas, no talhe de nhcleos sobre lasca espessa, e no talhe avulso de fragmentos angulosos. Estes procedimenros visavam a produqZo de lascas de dimens6es aleatbrias, as quais eram utilizadas de forma expedita (em bruto ou corn retoques simples). Ocasionalmente, a explora~iio bipolar do cristal de rocha produziaalgumas lamelas que aparentam ter sido utilizadas sobretudo em bruto.

A tipologia das utensilagens retocadas apresenta urn leque muito restrito (Quadro 2). 0 tipo mais comum 6 a lasca retocada, sendo de assinalar, porem, a recolha de t r t s crescentes fabricados sobre lamelas de silex, cristal e quartzo (Fig. 11, n.OS 6-8).

Page 15: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

Fig. 11 Quebradu. Inddstria licica. I . nrideo prirmirico para lamelas debirado par pressio, 2. frapmcnm proximal de l h i n a parnalmenre conical, 3. lamela de bordon abaridor par reroque abrupta, 4. fragmenro proximal de lamek hrura, 5. fragmenro de lamela de dono, 6.-8. fagmenros de crescenres, 9. n6cleo prirm5rico esgorado, 10. machado em pedra polida. Todas p e w lascadas sio em silex, excepcuado os crescenre5 n.' 7 (aisral de rocha) e n.* 8 (quarao).

Page 16: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

2.3.3. Pedra polida e corn sinais de utiliza~Zo

AlPm de um fragment0 de seixo bruto de quartzito, h i a regiscar tr8s percutores sobre seixo de quartzito e um sobre seixo de xisto (apenas este foi recolhido em escavagio). 0 s materiais em rocha anfibblica polida s&o todos provenienres de recolhas de superficie. Este conjunto 6 compost0 por um fragment0 de machado, cuja forma ori,&al P impossivel de recuperar, e um machado intacto de sec@o quadrangular (Fig. 11, n.O 10). Este encontra-se polido no gume e nas faces superior e inferior. Abandonado com o.gumeligeiramenceembotado, apresen tavarambPmsinais depercuss50, por vezes violenta, em ambas as faces, mostrando que terd sido reaproveitado como bigoma.

3. Quinta da Torrinha

A ocupaqio prbhist6rica da Quinca da Torrinha foi identificada em 1997 nas vizinhan~as daquintacomomesmonome,pertodaconflu~nciadaribeiradoLajiocomaribeiradoZambujal

(Fig. 1, n.O 2). Outrora amanhados para cultivo de cenceio, os terrenos estio actualmente em estado de semi-abandono, existindo hoje apenas algumas oliveiras junto B liltima ribeira. A dispersio de materiais prP-histhricos estende-se por uma irea aplanada e por uma pequena plataforma mais baixa e alongada, delimitada da anterior por muros de retensio de terras. A parte elevada foi designada por Sector11 e a plaraforma por Sector I.

Em roda a extens50 do sitio encontram-se restos de ocupagio calcolirica: cerimica (quase sempre lisa), pontas de seta, liminas de silex e uma base de nidolo de cornosx 0 s paralelos conhecidos emTris-0s-Montes aponram parauma cronologiadaprimeira metade do III milenio cal BC (Sanches, 1992). No Sector I1 acharam-se ainda algumas cerimicas roladas intrusivas, cuja ripologia indica poder rratar-se de residuos de uma ocupa@o neolitica semelhante B das Quebradas. PorCm, na camada basal do Sector 1, sob o actual olival (Fig. 12), conserva-se um nivel neolitico bem presemado, objecto do presence escudo.

Page 17: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

0 Sector I da Quinta da Torrinha s6 pbde ser intervencionado em 1997, pois os terrenos entretanto mudaram de proprietirio e nZo foi possivel obter autoriza~Xo para a continua~Zo dos trabalhos no olival. A estratfgia adoptada repetiu a j6 empregue nas Quebradas, isto P, aberturade sondagens de 1 m deladoaintervalos regulares (1 em cada3 metros) ao longo da fiada E, de modo a localizar o local de maior potencia estratigrifica. Esse local foi identificado entre as fiadas 19 e 25 (Fig. 13). A escava5Xo processou- se em fun@o das camadas naturais, tendo os sedimentos sido integralmente crivados a seco em crivo corn malha de 4 mm. As camadas de topo, remexidas, foram escavadas a p i e picareta; o 6nico nivel preservado foi escavado a pic0 e colherim.

~ i ~ . 13 Quinca daTorrinhz Planu de ercava<io do Serror 1: corn irnplanrac2o das sondagens r e b d a r em 1997 e indiaq20 dos quadrador onde se derecrou o nivel arqueolirgrco do Nmiicico anrigo.

A estracigrafia reconhecida no Sector I f composta por trb unidades disdntas (Fig. 14):

Camada 1: Terras castanho-claras pulverulentas, com blocos ate cerca de 10 cm de comprimento, revolvidas por lavras recentes. Apresenta uma espessura de 20 cm, que se reduz consideravelmente quando sesobrepbe directamente ao xisto de base. 0 conjunto ce rh ico desta camada inclui peps a torno e de fabrico manual (calcoliticas), e apresenta-se em regra muito fragmentado e erodido, facto que i s vezes dificulta a distin~Zo entre os dois tipos de fabrico.

Camada2: Terras castanho-escuras mais compactadas, com blocos de dimensdes superiores a 20 cm ao nivel da base. A sua espessura f muito variivel. Apresenca sinais de ter sido lavrada ( h i blocos com marcas de arado). 0 s materiais cer%micos apresentam as mesmas caracteristicas que os da camada precedence, incluindo tambkm pegs a rorno.

Page 18: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

Fig. I4 Quinra da Toninha Come esrraripitico nor quadrador E25-28.

-

Camada3: Terrasamareladas incorporandoum cascalho milido junto ao topo. Naperiferia da irea escavada (fiada E26-28), a camada 3 embala urn amontoado de grandes blocos (alguns ultrapassando a dezena de kg), aflorando i cota da base da camada2 e apresentando marcas de arado. Este nivel de blocos 6 anterior i ocupas%o pr&-hist6ricado sitio; efectivamente, aphs o desrnantelamenco em escavagio de parce desse amontoado, foi possivel verificar que esse nivel n5o se prolonga sob os blocos. 0 nivel arqueolbgico resume-se aos quadrados E13, E16, El9 e E22 (Fig. 13). Acerimicarecolhidanestacamada, de tipologianeolitica, tem dimens6es superiores i s das camadas sobrejacentes e n%o apresenta qualquer sinal de rolamento, o que indicia uma boa preservag20 contextual. 0 nivel arqueolhgico termina a cerca de 1 m abaixo da superficie, embora a camada 3 se prolongue para cotas mais profundas.

carnada 1

3.3. Componentes artefactilais do niuel neolitico 3.3.1. Cerrimica

~ . . . . . . . ~. ~ . . . . . . . . . . . . . '

. . . . . . . . . . . . . . . .

Na camada 3 da Quinta da Torrlnha recolheram-se 269 fragmentos de ceramics, os quais correspondem a urn NMR ~gua l a 22, sendo que seis fragmentos de bordos nao per-

. . . 1

Page 19: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

mitiram qualquer tip0 de determina~iio e daqueles vasos individualizados nenhum permitiu a reconstituigio total da forma. Assim, foi possivel apenas determinar o perfil em 15 vasos (13 lisos e dois decorados) e calcular o diimetro da abertura em trPs vasos (1 liso e 2 decorados).

Amaior parte dos vasos t tm formas fechadas (55%doNMR), as quais repetem de um mod0 geral as formas identificadas nas Quebradas, bern como a suavariagiio relativa (Fig. 10). Duas diferen~as sio, contudo, de assinalar: por um lado, a inexistEncia de taGas fechadas na Quinta da Torrinha (o que se pode dever i pequenez do conjunto) e, por outro, a presenga de vasos de colo estrangulado (apenas representados por um exemplar).

- Ta~as. Estiio representadas pot sete recipientes, dos quais dois sio decorados. Perfazem 32% do total do NMR, o que as torna no grupo cipol6gico mais numeroso. - Hemisfhicos. Inventariaram-se trks pegas lisas deste tip0 (14% do total).

Esfricos.S50 osegundogmpodevasosmelhor representadonestesitio,comseisexemplares: um decorado e cinco lisos (27% do total).

Esfiricos altos. Apresentam a mesma variagio dos hemisf6ricos: h i apenas t r k vasos lisos (14% do total).

Globulares. Conhecem-se dois exemplares, ambos lisos (9% do total) - Vasosde cola emangularlo. Trata-se do unico vaso deste tipo conhecido at& ao momento; representa somente 4% do total

A semelhan~a do verificado nas Quebradas, assinala-se a ausPncia de formas carenadas, bases planas ou fundos c6nicos. Aanalisemacrosc6picadas pastas indicaque umadas ticnicas de fabric0 dos vasos consistiu na sobreposi~iio de rolos de argila. 0 s elementos n io plisticos

. utilizados s2o essencialmente quartzosos. As pastas contPm quantidades elevadas de mica, o que n i o acontece nas Quebradas. As cozeduras s io sobretudo oxidantes (com cores oscilando encreo bege eo castanho-claro) eo acabamento desuperficie mais frequente eraporalisamento. H i casos de acabamentos por espatulamento, o que conferia superficies alisadas mas com fortes ondula~6es (de que i exernplo o vaso desenhado com o n.O 4 da Fig. 15). 0 almagre i desconhecido.

As decorac6es totalizam 17% do NMR, niio variando em fungio das formas gerais dos recipientes.Efectivamente,apercentagemdeexemplaresfechadosdecorados& muitosemelhante i dos abertos (17%e 20%, respectivamence), resumindo-se aireadecoradaifaixaimediatamellte abaixo do bordo. Conquanto o nurnero de peCas decoradas seja pequeno, as ticnicas utilizadas siio muito variadas e surgem frequencemente associac6es de tecnicas distintas:

- Impress6es. Presentes em dois vasos, consistem em suaves impress6es subcirculares (Fig. 15, n.O 2) e impress6es triangulares profundas (Fig. 16, n.O 1).

Boquique. 0 boquique, ou puncionamento arrastado, surge isolado no fragment0 ilustrado na Fig. 15 (n.O 5) e associadoa motivos incisos num bordo (Fig. 16, n.O 4).

-Incir6es. 0 grosso das decorag6es assenta na aplicacao de incis6es: seja refor~ando mo- tivos obtidos corn outras ticnicas (6 o caso da taga representada com o n.O 1 e do esferico corn espinhas do n.O 4 da Fig. 16), seja aplicadas isoladamente (6 o caso do vaso da Fig. 16, n." 2).

Page 20: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

f i g . 15 Quinra da Tortinha. Cersrnica: 1. erfetico liso, 2. rap dcrorada corn urna tiada de suaver impresr6cr suhcirculares, 3. eafCrico bso,4. esf6rico liso corn acabamenro de ruperficie For e s p a ~ e n r o , 5. bojo decorado corn uCr iiadas de puncionarnenros arrsrados (ou boquique).

Page 21: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

3.3.2. Pedra Iascada

Apedrala~cadadaocupaqZoneolitica (Quadro 3) P compostaporum conjunto largamente dominado pelo quartzo (75%) e o quartzo translucido (12%). A restante percentagem divide- se pelo cristal de rocha (6,5%), quartzito (6%), silex (0,3%) e riolito (0,2%), se excluida a pega em anfibolico referidanaquele quadro. 0 s nficleos dacamada3,aindaqueem pequeno nGmero, indicam que exploraqZo destas matirias-primas se efectuava atravis da debitagem de lascas a partir de n~c l eos prismiticos, no caso do quartzo, e da debitagem de esquirolas e pequenas lamelas a partir de nccleos bipolares, no caso do cristal de rocha, inferkncia que os produtos de debitagem confirmam. As utensilagens s5o muito incaracceristicas; todavia, uma diferenga assinalivel com as camadas sobrejacences,atribuidas ao Calcolitico, P a coral aus6nciadepontas de seta.

Fragmentor

TOTAL GERAL

PESO TOTAL (g)

3.3.3. Pedra polida e corn sinais de utiliuydo

Alim de urn percutor sobre seixo de rochaverde, a pedra pollda e s d represencada nesca camada por tr2s dormentes e dois moventes de m6 em granito. 0 facto de estas cinco pegas serem provenientes de uma escavaqao em que apenas 4 m2 incidiramno context0 arqueol6gico tornaesteconjuntomuitosignificarivonainterpretaqZo funcional do sicio duranceoNeolicicb

Page 22: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

Fig- 16 Quinta daTorrinha Ceiamica: 1. rap decorada corn rrk fiadsr de irnpressrks criangularer prohndas sublinhadu por linhas incisas, 2. w o corn bordo em aba decoado corn incisZIer sobre o Libio, 3. esfirico corn suave depress50 sob o bordo, 4. esferico decorado corn incisces formando urn modva em espinha e denreando a bordo, sublihadas por puncionmencos srrasrados, 5. erfirico dro liso.

4. Inserg50 cultural e periodizaq5o

At6 h i poucos anos eracrivel que o primeiro povoamenro holoc&nico naBeira Alta e Tris- -0s-Montes tivesse sido levado a cab0 pelos construtores dos mais antigos d6lmenes (Senna- Martinez, 1989; Jorge, 1990; Sanches, 1992). 0 panoramanas regi6es espanholas vizinhas nZo era diferente (Delibes e Santonja, 1986; L6pez Plaza, 199 1). Contudo, a descoberta e escavagZo de novos contextos (Carriceiras, Buraco da Pala) e a reinterpretaqZo de outros (Fraga d'Aia, Lavra, Buraco da Moura de S. RomZo e Penedo da Penha) tern vindo a demonstrar aexisttncia de uma ocupa$%o neolitica anterior ao eclodir do Megalitismo, tanto na Beira Alta (Senna- Martinez, 1994) corno emTris-0s-Montes (Sanches, 1997) (Fig. 17).As atribuiq6es cronol6gicas destes contextos resulram de paralelos estabelecidos invariavelmente corn o Neolitico anrigo da Estre~nadura portuguesa ou corn a cultura de las cu.evas andaluza. Algumas da ta~6es de radiocarbono, principalmente no Buraco da Pala, alicer~am essas propostas (Quadro 4). Por outro lado, o facto de as amostras datadas neste abrigo estarem associadas a restos de legu-

Page 23: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

minosas e de cereais demonstra ine- quivocamente a presenGa de uma eco- nomia produtora na regiHo desde o inicio do Neolitico.

Fig. 17 Localiza@o dor sitios do Neolitico antigo referidoa em tcxro. 1. Penedo da Penha, 2. Buraco da Moura de S. Rorn50.3. Fraga d'Aia, 4. Quebradas e Quinra da Torrinha, 5. Buraco da Pda, 6. Peris del Rardd, 7 La Vaquera, 8. La Nogderq 9. La V&

Confato Ref lnb. D.itrri. BP cal AC (2 s i p ) (b) BibLogrrif*~

Quebradas c i ropa 5 n ~ 152- 8000-GU -0a3 G 6LU incdlra

Butaco da Pala basenivel N GrN-19104 5.860 r 30 4.7984.627 Sanches (1997)

ICEN-935 5.840 i 140 5.051-4.363

capo nivel IV ICEN-309 4.730 r 160 3.905-3.032

ICEN-595 4.940 + 160 4.040-3.363

Barrod Alto orIl,c.3 CSIC-726 4.960 5 75 3.950-3.633 Sanches (L992)

F s e c. 3 ICEN-402 8.600 5 80 7.892-7.487 Jorge (1991)

ICEN-406 8.600 t 60 7.863-7.497

h v r a c 3 GAK-10932

GAK-10931

GAK-lo933

UGRA-267

ICEN-76

GAK-10934

B.M.S. Romio UE 11 ICEN- 1258

La Vaquera CSIC-148

La Velilla nivel lnfenor GrN-20327

nivelsupertor GrN-17166

GrN-I7167

Gm-18486

GrN-18487

6.310 + 160 5.5654853 Sanches (1997)

5.990 i 140 5.2294.534

5.870 r 140 5.0644401

5.830 i 90 4.9084.466

6.060 * 60 5.1984.805

6350 i 120 5.477-5.003

8.530 + 120 7.896-7.304 Valem (s-d.)

5.650 * 80 4.703-4.342 Municio (1988)

6.130 + 190 5.4364.579 DelibereZapatero(l992)

5.250 t 50 4.226-3.965

5.200 + 55 4.218-3.822

5.070 r 175 4.319-3.387

5.195 + 115 4.321-3.723

Page 24: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

0 exercicio de comparaqio dos materiais fozcoenses i r i estabelecer-se principalmente com os contextos melhor definidos e que fomeceram o maior numero de artefactos, isto i , o Buraco daPala(Sanches, 1997),0 Penedodapenhaeo BuracodaMouradeS.Romio (Valera,s.d.). Como j i referido anteriormenre (Aubry e Carvalho, 1998), as Quebradas encontram o seu melhor paralelo no primeiro daqueles sitios e a Quinta daTorrinhanos dois &Ititnos.

0 padriio formal da cerimica do Buraco da Pala e do unico nivel de ocupaqgo das Quebradas 6 o mesmo, primando pela raridade ou total inexistcncia de formas carenadas e de fundos espessados. Embora as decoragies sejammais frequentes no abrigo transmontano (44% contra 26% nas Quebradas), a produqiio ceriimica destes sitios tem em comum a baixa express50 das incisdes finas e apresengadecaneluras (isoladas ouassociadas aoutras ticnicas). A cronologia das caneluras i , aliis, o melhor elemento de diagnbstico de uma cronologia antiga dentro do Neolitico regional: no Buraco da Pala, esra decoragio s6 ocorre no Nivel IV, estando ausente nos niveis do Neolitico final e Calcolitico; i tamb&m conhecida em virios monumentos megaliticos, como na SerradaAboboreiraouno dhlmen deMadorras (Sabrosa), porvezes nos nsolos antigosn (Gongalves eCruz, 1994). Estas constatagdes remetem aocupaq%o das Quebradas para o todo o V milenio cal BC ou, menos provavelmente, para inicios do seguinte.

Autilizaqio dos dados da QuincadaTorrinha e s d Bpartida comprometidapela pequenez da amostra exumada. No entanto, a cronologia neolitica dos materiais da camada 3 i inquestionivel dada, por um lado, a suapos i~ io estracigrificarelativa(subjacente aocupaqdes do Calcolitico inicial) e, por outro, os paralelos cersmicos que 6 possivel estabelecer.Ao nivel das formas, destacam-se os vasos com bordos em aba, por vezes denteados; ao nivel das decora@es, verifica-se que estas estio em regra restritas a uma faixa imediatamente abaixo do bordo, incluem a cicnica de hoquique e associam frequentemente motivos impresses e incisos. Nos sitios do Alto Mondego, as asas de dupla perfurag5.0, os fundos cbnicos e os vasos de tip0 agarrafar s io tambim relativamente comuns, estando a execuqzo de caneluras restrita a apenas a urn hnico exemplar provenience do Buraco daMourade S. Rom5o (Valera s.d., Est. V).

0 talhe da pedra nas Quebradas e na Quinta da Torrinha, tipico das industrias do Neolitico antigo (Carvalho, 1998), confirma plenamente escas comparaqdes: as produqdes de lascas e de pequenas lainelas s i o 0s processes mais correntes e os micrblitos em forma de segment0 de circulo s5.o o unico tipo de armadura, estando totalmente ausentes as pontas de seta.

A cronologia do Neolitico antigo destas regides conta com urn numero pequeno de datas disponiveis (Quadro 4). Al&m deste facto, boa parre delas encontra-se ainda afectada pela possivel utilizaqio de carvio fbssil em estruturas de combustao (como parece ser o caso da Lareira 2 da Fraga d'Aia), ou pela dacagio involundria de carvdes (resultantes de inc2n- dios florestais do Boreal ou da remobilizaqZo de paleo-solos) contidos em camadas sedimentares que viriam a receher ocupaq6es do Neolitico antigo (como parece ser o caso da camada 3 da Fraga d'Aia, da U.E. 11 do Buraco daMoura de S. Romiio ou das Quebradas). Provanestesentido iofacto deos carvdesem causaceremsido semprerecolhidos nas camadas basais das respectivas sequtncias. As datas utiliziveis corn seguranqa para determinar a cronologia do Neolitico antigo s50, em suma, as da base do nivel IV do Buraco da Pala (Sanches, 1997) e, com a devida cautela, as mais recentes da Lareira 2 da Fraga d'Aia (Jorge, 1991; Sanches, 1997), as quais se distribuem entre o inicio do V milenio cal BCe aemerggncia das *construgdesdolmenicas complex as^ daBeira Alta, cuja cronologiade edificaqio se situa

Page 25: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

na primeira metade do IV milenio cal BC (mais precisamente entre 4000 e 3600 cal BC, segundo Cruz, 1995). A emerggncia do Megalitismo baliza, portanto, o fim do Neolitico ancigo e consubstancia de diversas formas (econ6micas, sociais e ideol6gicas) umanova fase do desenvolvimento do Neolitico regional, o Neolitico medio. A este period0 correspondem tambkm transformaq6es na cultura material, as quais siio visiveis canto nos esp6lios dolmenicos corno nos aindamal conhecidos contextos de habitat coevos, de que siio exemplo o top0 do nivel IV do Buraco da Pala (Sanches, 1997) ou acamada3 do Sector I1 do povoado do Barrocal Alto (Sanches, 1992).

5 . 0 primeiro povoamento agro-pastoril do Baixo C6a

Ao que tudo indica, toda a Beira Alta e TI&-0s-Montes se encontravam desocupados i epoca da implantaqiio das primeiras comunidades neoliticas. Com efeito, n.50 foi at6 hoje identificado qualquer sitio arqueol6gico que tenha revelado talhe da pedra de tipo mesolitico equivalence ao conhecido nos vales dos principais rios do Sul de Portugal (isto 6, debitagem de lamelas por pressiio ou percussiio indirectavisando a produqiio de utensilagens geometricas atraves da tecnica do microburil). Se se considerar a regiiio do Baixo CBa como exemplo, esta constataqiio 6 particularmente reforgada pelo facto de se tratar de uma area intensa e sistematicamente prospectada e de nenhum dos cerca de setenta sitios prP-hist6ricos j i reconhecidos se incluir naquela categoria. Deve igualmente set posta de parte a hip6tese segundo a qua1 o process0 de neolitizaqiio se teriaproduzido sobre um substrato populational portador de uma indlistrialitica de tipo Epipaleolitico microlaminar (isto 6, indlistrias lamelares cornalcas percentagens de pegasdedorso e utensilagensde fundo comume poucos geom6tricos). Sempre que conjuntos liticos deste tipo foram indiscutivelmente datados na PeninsulaIbPrica, as cronologias obtidas sHo anteriores aos complexes industriais degeometricos (Forteae Marti, 1984185).

0 modelo que postula o termo da ocupaqiio humana na regiHo com o fm do Paleolitico superior, hidez mil anos, talcomo defendido por diversasvezes (por exemplo, Zilhiio et al., 1997, s.d.), poderi contudo subestimar a hip6tese de um prolongamento do povoamento humano durance o inicio do Holoc6nico. Trts factos conduzem a esta ressalva:

1. a existencia de arte rupestre de tipologia epipaleolitica (Baptista e Gomes, 1995), pelo menos em Vale de Cabr6es e na Canada do Inferno; as gravuras em causa encontram evidentes paralelos em algumas representaq6es subnaturalistas no vale do Tejo dataveis estilisticamente dessa epoca (Gomes, 1987);

2. embora a dataqiio de cerca de 10.500 BP, por TL, do nivel magdalenense da Quinta da Barca Sul (Mercier et al., s.d.) venha confirmar a sua atribuiq2o ao Magdalenense final, 6 no entanto possivel que outros conjuntos te5cno-tipologicamente idEnticos no vale do CBa (Olga Grande, Salto do Boi) possam d a t a j i do Pri-Boreal e corresponder, desse modo, aos contextos habitacionais correlacioniveis com a arte de estilo epipaleolitico;

3. o efectivo reconhecimento de contextos epipaleoliticos em regi6es do interior; P o caso do importance sitio da Barca do Xerez de Baixo (Reguengos de Monsaraz), no vale do Guadiana, o qua1 foi datado de 8.640iSOBP (Beta-120607) (Almeida et al., 1999), isto P, de cerca de 7600 cal BC.

Page 26: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

Se se pode argumentar que a prbpria arte epipaleolit~ca do vale do Tejo poderi no futuro viraconfirmar-se como sendo de outracronologia (porexemplo, neolitica, como aliL inicialmente defenderaBaprista, 198 l),adata@o holocPnicadeindustriasde tip0 magdalenensenio P,por&m, iniditanoactual territ6rioportugu@s, tendo ocorridonossitiosdePalheir~esdoAlegra(0demira) e Cabe~o de Porto Marinho V (Rio Maior). Com efeito, a industria em silex do locus nlareira do silexa de Palheirces do Alegra 6, segundo Raposo (1994), de tipo magdalenense; no entanto, carv6es provenientes do ~ v e l in situ correspondente a essa ocupa~50 foram darados de 8.802 + 100 BP (GX-16414), isto P, cerca de 7900 cal BC. No nivel inferior do sicio de Rio Maior, por seu lado, recuperou-se um conjunto litico que, segundo os escavadores do sicio (Marks et al., 1994), & tipicamente do Magdalenense final do ponto de vista tecnol6gico e tipol6gic0, estando, no entanto, associado a carvBes datados de 9.100 * 160 BP (ICEN-688), ou seja, cerca de 8100 cal BC. De acordo com os mesrnos autores, o Epipaleolicico local 56 cerca de 8.500 BP apresenta novas caracreristicas (elevado numero de pequenas lamelas obtidas a partir de araspadeirasa carenadas, parte das quais utilizadas para a producio de lamelas Dufour), as quais estio bem tipificadas no sicio de Areeiro 111. De acordo corn estes dados, o hipotetico povoamento do HolocPnico inicial do CBa poderi estar compreendido entre os 10 000 e os 8000 anos cal BC.

0 quadro assim esbo$adoobriga,em conclus5o,amodelizaroaparecimentodecomunidades plenamente neoliricas em 5000 cal BC como um process0 de coloniza@o de regibes virgens, observaqHo que i actualmente tambPm vilida para todaabaciado D0uro.A cronologiadisponivel para o surgimento do Neolitico no Ocidente peninsularaponta o Centro e Sul de Portugal como as regices mais precocemente neolitizadas, com d a t a de cerca de 5500 cal BC. A cronologia admissivel para a Andaluzia 6 de cerca de 5900 cal BC, se excluidas as altas datas6es de sitios como Nerja ou Dehesilla. Na regi5o candbrica, por seu lado, o Neolitico teve o seu inicio mais tarde, cerca de 4.100 cal BC. Desre modo, a cronologia disponivel para o inicio do Neolitico de Trk-0s-MonteseNto Douro,baseadanas d a t a doBuracodaPalae daFragad'Aia, i perfeitamente comparivel com uma neolicizaqio vinda de Sul, ral como t h vindo a afirmar virios autores (Jorge, 1993; Senna-Martinez, 1994; Sanches, 1997).

A ocupacio neolitica antiga daquelas regices n io esti isolada, antes parece ter sido parte integrantedeum grupo cultural mais~.asto,queseestendeuaolongodabacladoDouroespanhol. Neste sentido concorrem os dados j i disponiveis de contextos como Cueva de lavaquera, Cueva de la Nogalera (Segbvia), Pefia del Bardal (~vi la) ou LaVelilla (Palencia), entre outros. Estes sitios (Fig. 17) evidenciam uma nitida identidade ao nivel da culmra material (por exemplo, Municio, 1988; Delibes e Zapacero, 1996; Iglesias et al., 1996), com 6bvios paralelos nas referidas regiBes portuguesas:

- as formas cersmicas sio simples (globularei, hemisfhricas), apresentando por vezes colos desenvolvidos de tip0 ngarrafa., estando ainda presentes, embora em pequena quantidade, os fundos cbnicos, as peps suavemenre carenadas ou os vasos de paredes rectas;

entre as tPmicas decorativas assumem particular importincia o ~boquique neolicico,, e, sobretudo, os motivos canelados: xEl predominio, en cuando a ttcnlca, sln duda lo manciene el grupo delasincisionesanchas (acanaladurasosurcos),normalmentedispuestasen series paralelas en horizontal, en vertical, en triingulos curvos inversos, etc. (...) Uno de 10s motivos, a nuesrro juicio m5s reperido, es el que conforman 10s trazos acanelados paralelos com impresiones oblicuas marginales, o lo que es lo mismo, asociaci6n impresi6n/acanaladuran (Iglesias et al., 1996, p. 725);

Page 27: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

- 6 relativamente frequenre o acabamenco das superficies dos vasos ser realizado atraves da aplica(-Zo de almagre, procedimento verificado no Penedo da Penha, no Buraco da Moura de S. RomZo e possivelmente nas Quebradas;

o talhe dapedra distingue-se pelapresenqa de nucleos em silex para lamelas e de micr6litos em forma de segmento, e pela utilizaqio preferencial de rochas locais.

A cronologia destes concextos mesetenhos 6 equivalente a dos congeneres da Beira Alta e Tris-os-Montes. Como se pode verificar no Quadro 4, as datas de Cueva de IaVaquera (Municio, 1988) e deLaVelilla (DelibeseZapatero, 1996) indicamqueaocupaqZo desteslocais teriocorrido tambtm essencialmente ao longo do V milenio cal BC.

Sendo admissivel, portanto, que estes sitios fizessem parre de urn unico grupo cultural que se estenderia ao longo da bacia do Douro (e talvez por partes da Sub-Meseta Sul), torna- -seconcebivel que pelo menos parte dasuacomposi~io demogrificainicial tenhasido originiria n i o s6 das regi6es a Sul da Cordilheira Central, como preconizam os modelos actuais, mas tambern do vale do Ebro, regiio onde o povoamento neolitico remonta ao Neolicico cardial (Baldellou ec al., 1989). A ser assim, ganharia alguma compreensio a arte rupestre pintada p6s-glaciar do vale do CBa, a qua1 parece reunir influtncias do Sul e do Lesce peninsulares. Com efeito, os ancropomorfos esquemiticos (por vezes com representaqZo detalhada das msos e dedos em atitude orance), conhecidos na ribeira de Piscos (Muxagata), Abrigo da Ribeirinha(A1mendra) e, principalmente, na Faia (Cidadelhe), sZo idEnticos aos modelos mais difundidos a parcir do Sul e Sudoeste e terio sido execucados entte o Neolicico mtdio/final e o inicio da Idade do Bronze. No entanto, a representaqio semi-esquemitica de uma figura humana no nucleo da Faia (Fig. 18), em tom vinhoso, recorda alguns modelos da pintura levantina. Esta deveri ser, juncamente com os bovideos pintados a ocre (Fig. 19), tambPm da

Pig. IS Fipra aniropom6rfica semi-erqucmirica da Fala (Cidadelhe) em rermell~o vinhoso. it< rip" remelhanrc Barre levanrina.

Fig. 19 Parde bax.idros semi-erquerniricor da Faia (Cidadelhe), pinrador a oclev~rmelho.

Page 28: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

Faia, anterior i s representaqdes esquemiticas e datar, portanto, de uma fase antiga do Neoliticoz.

Resta saber se as diferenqas por vezes existences entre os diversos sitios, como as que discinguem as Quebradas da Quinta da Torrinha, sio o reflex0 de variaqdes regionais, indicios de um desenvolvimento interno, ou se estamos perante um process0 que inclui ambos os fenomenos. A informaqio disponivel n io permite, pela escassez de estratigrafias e de dataqdes absolutas, optar actualmente por nenhuma das hip6teses.

5.2. Povoamento e economia

0 que se comeqaactualmence a descortinar acerca da ocupac2o do Neolitico antigo na Beira Alta e Tris-0s-Montes parece indicar um povoamento materializado em pequenos povoados de arlivre e ocupaq6es emabrigos sob rocha, com importantes diferengas funcionais encre si. Se excluido o sitio das Carriceiras, que os respons6veis pela escavagio verificaram escar muito destruido (Senna-Martinez, 1994), as Quebradas e a Quinta da Torrinha sio, at6 ao momento, os h i c o s locais que poderio fornecer indicaq6es sobre o papel desempenhado pelos habitats de ar livre no Neolitico antigo regional.

A irea onde estiio implantados i uma exrensa rechs granitica, de topografia aplanada, que se desenvolve entre ograben da Longroiva e o vale do C6a, a cotas superiores aos 450 metros a.n.m. (Fig. 1). As caracteristicas climiticas e hidrol6gicas da regiio configuram um ambience actualmente caracterizado por grandes amplitudes t6rmicas, precipitaqio m&dia anual muito baixa e regime hidrol6gico vincadamente sazonal. A reconstituiqio das condiqdes vigentes durance o Neolitico conta ainda, infelizmente, com poucos dados. A informaqio anrracol6gica para a regiio de Tris- -0s-Montes apontaaexisti.nciade taxade caricter predominancemente mediterrineo (Quercus cipo ilex, sobreiro e medronheiro), estando camb6m presences o camalho e o pinheiro bravo (Figueiral, 1994, Est. IV). Em termos globais, o clima desta ipoca ceri sido relativamente seco, favorecendo a expansio davegetaqzo eesler6fila da Qumcetalia ilicis e estando na origem da expansso dos taxa de ecologia termomediterrinea na Serrada Esrrela (Mateus e Queirbz, 1993). Este quadro parece, em suma,repetirascaracteristicasglobaisobservadasactualmente,pemitindoalgumasextrapolaqdes.

0 sitio de Quebradas ocupa uma irea de, aproximadamente, 80x100 metros (Fig. 2), extensso que pode ser considerada reduzida quando comparada com a de outros sitios da mesma ipoca. Porem, em muitos desses locais h i evidPncias de se estar perance palimpsestos de virias ocupagdes culturalmente distintas, facto que niio se regista no sitio fozcoense. A estruturaqiio internado habitat deve ter comportado unidades habitacionais de arquitectura muito simples e leve, verosimilmente cabanas ou quebra-vencos construidos em mat&rias- primas pereciveis. A topografia acidentada do local e a inexisc6ncia de buracos de posce apontam, com efeito, nesse sentido. Por comparagio, note-se que as cabanas do povoado calcolitico do Fumo (Aubry et al., 1997; Aubry e Carvalho, 1998), em Almendra, eram construidas com troncos e rarnagens entrelaqadas assentes em postes e cobertas corn uma camada de barro misturado com areiio. Esta ticnica de construqio implicava um maior invescimento de trabalho, mas conferia uma maior durabilidade a estas estruturas.

A irea envolvente i relativamence aplanada e deveria estar enczo coberta por um solo mais espesso que o actual, possibilitando umaocupaczo de tip0 agricola(o solo foi enrretanco erodido devido i desfloresta(io imposta pela actividade humana). Esta interpretaqso tem, porim, virios 6bices:

Page 29: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

apesar de niio serem testemunho direct0 de priticasagricolas, ainexistenciade elementos de m6s contraria! de certo modo, aquela hipbcese; a corroborar escaobserva@o, e s d a evidencia inversaobtidanaQuintadaTorrinha,ondeoselemencosdem6estiosobejamenterepresentados; - do mesmo modo, salients-se a escassez de instrumentos de gume em pedra polida (rnachados,enx6s), os quais sio normalmenteassociados apdticas de desmataqzo paracriaqio de campos de cultivo;

' o conjunto cerimico niio inclui um numero assinalivel de recipientes volumosos destinados aarmazenamenco de excedentes,sendoo grosso dos recipientes ucilizado, portanto, em hnqdes dombticas quotidianas;

finalmente, a recolha de uma lamela de dente de ovino ou caprino indicia pricicas pastoris; apesar da pequenez da amostra faunistica, 6 sintomitico que no Buraco da Pala, onde se recolheram indicios directos de horticultura e agriculcura, n i o haja evidgncia de exploraqio animal.

A caracterizaqio funcional mais plausivel has Quebradas seri, assim, a de se tratar de um local ocupado pontualmente ou de forma repecida dentro de um ricmo sazonal de exploraqio pastoril dos planaltos da margem esquerda do C5a. A esta ocupaqzo estaria associada a caqa, actividade tescemunhada pela recolha de pontas de projictil em pedra (micr6licos geomitricos).

A ocupaqio neolitica da Quinta da Torrinha, por seu lado, aproveita um declive suave na margem esquerda da ribeira do Zambujal (Fig. 12). A pequenez da Area total ocupada durante ~Neolicicoantigoindicaqueeste sirio terisido ocupado porumgrupo necessariarnente pequeno de individuos, sendo ainda sugerido pelo fraco caudal da ribeira do Zambujal, que hoje secaporcompleto na&poca estival, que essaocupaqzo ceriocorrido no Inverno e implicou autilizaqio deum numero elevado de elementos de m6. Sese tiveremcontao padrzo conhecido em sitios contemporineos doCentro eSul de Portugal,este facto testemunhade formasegura a grande importincia das accividades de processamento de alimencos vegetais, quer estes fossem espontineos ou culcivados.

Aanilise do Buraco da Pala(Fig. 17, n." 5) fornecida por Sanches (1997, p. 58-59) evidencia ocupaq6es multifuncionais recorrentes, de caricter essencialmence dom&stico (preparaqio de alimentos vegetais para consumo local, talhe da pedra e eventual preparaqzo de suporres em madeira para utensilios compostos). As pequenas dimensees do abrigo e o acentuado declive exterior apenas cerio permitido albergar um pequeno grupo humano. A Fraga d'Aia (Fig. 17, n.O 3), por seu lado, 6 um abrigo rochoso muito pequeno, sobranceiro ao profundo vale do Tivora. Esta IocalizacZo particular, associada B presenqa de pinturas, levou Jorge et al. (1988a) aconsiderllo um santuirio. Porim, adificil dara@o das pinturas e o palimpsesto causado pela reduzidapotfnciado dep6sico tornapraticamente impossivel determinar a sua funcionalidade durante o Neolitico antigo. Para as cavidades do Alto Mondego (Fig. 17, n.os I e 2) n io foi apontada qualquer hip6tese interpretativa acerca das actividades pracicadas durante o Neolitico antigo (Valera, s.d.). No entanto, a localizaqio e o esp6lio do Ruraco da Moura de S. Romio sugerem um local de passagem e abrigo no quadro da exploragio pastoril da Serra daEstrela (implantaqzo em ambience montano e de elevada altitude, ralhe de rochas locais, conjunro cerimico sem recipientes de armazenamento); o Penedo da Penha evidencia uma o c u p a ~ i o mais sedentiria e menos especializada funcionalmente ( implanta~io junto ao Mondego em territorio menos moncanhoso, co~l j i~n to cerimico com recipientes verosimil- mente destinados a armazenamento).

Page 30: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

0 s poucos contextos de que se dispAe actualmente no Neolitico antigo daBeira AltaeTris- -0s-Montes parecem, em suma, reflectir um povoamento Levado a cab0 por pequenos grupos humanos com um grau de mobilidade ainda acentuado, dentro de um esquema de <<mobilidade - residencialn. A estracegia dominance assentaria em modifica$6es frequentes de localiza@o dos habitats acompanhada de sucessivos desbravamentos de terrenos para criafgo de campos de culrivo ou depasto. Estes sirios,com efeito, c@msempreem comum:dimensAes reduzidas, mesmo no caso dos sitios de ar livre; existOnciade palimpsestos arqueol6gicos apenas emsituatpes que favorecem aocorrtncia de fenbmenos de reocupagio do mesmo espaGo, isto 6, abrigos rochosos; e o reconhecimento permanenre de umacomponentedomtstica. Comose procurou demonsrrar, esses sitios podem ocasionalmente apresentarum maiorpendorfuncionalem favorde actividades agricolas (caso da Quinta daTorrinha), pastoris e/ou cinegtticas (caso das Quebradas) ou outras, facto que se manifesta na respectiva composi~iio arrefactual. As razAes que condicionam estas variaqdes prender-se-io sobretudo corn o carictersazonal de algumas das actividades econ6micas e corn alguns factores de ordem geogrifica (regime dos cursos de igua, topografia, etc.).

Alguns autores consideram, todavia, que o povoamento tipico do Neolitico antigo mediterrineo assentava na fixa@o das comunidades em auttnticas aldeias equivalentes is do LBK centro-europeu (por exemplo, Binder, 1991; Zilhiio, 1997), de que seriarn exemplo La Draga (Catalunha), Leucate-Corrkge (Languedoque) ou Courthizon (Proven~a). A sua invisibilidade actual resulcaria de duas ordens de factores: preservacZo diferencial (por exemplo, submers.50 dos sicios em resultado de transgress6es marinhas) e escava@o preferencial (que tem incidido sobretudo no estudo de cavidades cirsicas). Sea segunda destas cansas deve ser rejeitada no caso do Baixo CAa, a preservaqio diferencial poded ocorrer e estar dependente da mobilizaqZo dos solos. Estes processos afectam principalmenre, de facto, as ireas onde com mais probabilidade se estabeleceriam povoados daquele cipo: os vales largos nas proximidades de cursos de igua permanentes (onde se depositam os sedimentos arrastados das cerras altas). Esta possibilidade necessita, no entauto, de confirma~.50 furura.

Outro tipo de sitios ainda nZo identificado no Neolitico antigo descas regides sZo os locais de enterramento anteriores aoMegalicismo. Este desconhecimento sugere priticas de enterramento em estrumras de madeira ou em fossas sem qualquer tipo de estrutura adicional. A inexistencia de estruturas positivas e a destrui5.50 dos restos 6sseos devido B acidez dos solos tornam quase impossivel a sua detecq.50 B superficie. Do mesmo modo, a arte correlacionivel com o Neolitico antigo 6 escassa e/ou mal conhecida. Como referido a t rk , 6 possivel que algumas pinturas da Faia (Fig. 18) possam efeccivamente datar desta epoca, i semelhanga das suas congeneres do Levante peninsular. As representa~des de comiformes do Vale da Casa, no Pocinho (Baptista 1983), e de Namorados, em Orgal, porseu lado, deverio datarde umafase que, segundo os dados obtidos no Escoural e no vale do Tejo, seri j i o Neolitico final (Gomes, 199 1).

Page 31: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

1 DcimninscSo dr 6- z~lizadlpm M ~ l l e l O ~ Y ~ ~ c c . r ~ p o ~ ~ ~ ~ c l pdo ~ ~ ~ u d o ~ ~ ~ z o o l 6 ~ c ~ dos s;rio$ da Pr&-%~nar~cmtedoX~dcdoCe~

2 S c w d o mmuniurio purd dr .%rAnio hlartinho Bqrsn.aquun

apdcyo as inio"".c*r pmndv rob.. as q"e.rM dr r r ano l~ l e rp r r i~n d i irrc ",,x$CrC daPil'Hirroiurccmcr d0,d. do c-

ALMEIDA, F.; MAUR~CIO,J.: SOUTO, P ; VALWTE, M J . (1999) -Nov~ppedrmrmpani o d doEpipidridrlhimdo inrpnardmtejdno: noriM

p~rnindrrobrradurabntir&niranqueo~o&&ma &X- & B n u n , rRp\nsrz P ~ r m g u e u d e Arqueologim,21, p. 25-38.

AUBRY, T.; CARVALHO, A. F. (1998) - 0 pomamenro pri-hisrdnco n o d e do Cdb Sinrerp dor rrabalhos do PAVC. (1995-3997). C8av1rZo.

Cullurn r Ciennd. Vila Nova de Faz C d r 0, p. 23~34.

AUBRY, T.; CARVALHO, A. F.; ZILHXO, J. (1997) - Arqueolopk In J. ZILHAO. ed AmrvprmcPrC-HirtdGdo &do Cis. T~abdhhhdc 1995~

1996l.isboa: Minkdno da Culrur4 p. 74-209.

RALDELLOU. V: MESTRE, I.: MARTi, B~:JUAN~CAB.4NRLES.J. (1989) - EIN~oIh i co~n t ip I l a rpMmra@nJmni jgandm~ m Amgb,

CntduMj V&nnnJ. Hucrca: Dipuracidn.

BAFrL5TA.A. M. (19Stl - A Rorhd F - l j S e n ~ & ~ n e & v ~ d o T e j o . Porro: G W .

BAPTLTA, A. M. (1983) - 0 c o m p l ~ o de gmwm do Vale d l Casa OGla N-de Foz C6a). Ar4mI+ Porro. 5, p. 57-69.

BAFIISTA. A M.; GOMES, M. V. (1995) Acre rupcrrce do % d a l e do C d s 1. C m & do inferno. h ime ins Lnprrsr6er In JORGE, V 0.. ed. Dossm C6& Separaa Evpcid do5 Tmbalhor de Anrropolo& L Emologia Porra. 3514, p. 45-1 18.

BINDEIL D., c d (19911 -Urn &mm= & cha,enu NiiIubiqucnnnn. La G m n < h b a r d d Srinl-V&k7hii4. (Alp-Mrn2irnei). P-: CNR5.

CARVALHO. A. F. (1998) - T d k & pulm no Ncoho .map do Ma'+ Cnkdm dnr S o w ZAiree dm Gndeimr (Ememd~ra Ponupe~) . Urn primein

modelo rrmolgm r tipldpril. tishaa: EAh%.

CRUZ, D.J. (1995) - Cronalo$a dos mooumenror com tumulur do Nomsr r pc&sular e da Bcira Alrb EriuloiM-Kstdnror Viwu. 3, p.81-119.

DELIBES. G ; SANTONJA, M.(1986) - ElJ inbrnnamrgd~om inpminnn&S&mdncz. Salamanca. DipurarMn.

DELIBES, G.; ZAPATERO. P (1996) - DP lugar de hsbirari6n a repulcm mannmmral: unr refluihn robre la rrayecrotia d d yarimienro ncolirico

de La Velilla, en Ororno (Prlencia). In I Cm*r&lNmtiti6nln P66itituin Ib+ica (Gdud/B~IInrerr8 1995), I, Rubrkdxrn. I. p. 337-348.

FIGUEIRAL, I. (1994) -A anrracdob-a Porrugal. p r e p r o r rccmrcr e pnpoi\nr. In A m d o ICangren~ & A r p u e o b ~ P m i ~ ~ l a r (Po*

1993). JY [Tmbdbo~&.4nrmpol~@ r Emol@. Pono. 341%4]. Porno: Swiedade Pornyrra de Anrropologiae Emolagia, p. 427448.

FORTEA. 1.; MARTi. 0. (1984/85) - Comsidcraiionei robre lor inidor d d Nrolirico en el Medicer5rteo erpaEolZep+. Salarnana 37-38.

p. 167-199.

GOMFS, M V. (1987) - Amc cuperrre dox& do Tejo. In Am++ no Vidrdo T$o. Li3bo.x TPPC, p. 2143.

GOMES, M. V (1991) - Comiformer e figvar arroriadar dc doir ranruirior mpmes do Sul de Porngal Cron~ lo -p t inrerprewio. Almnnrm

Monrrmor+-Novo. 9, p. 17-74.

GONCALVFS, A. A. H. 8.; CRUZ. D. (1994) - Wrdczdador dor rrabalhos de eicava(io da mame= I de Madarras IS. Louren50 dr Ribapinh30,

Sabrora, Vila Red). In Arrnida SemindG "OMrgalmnno no CenoodePrn~ng~i" (Mongr4al&, 1992) [EmrdrnrdrnrdPrC-HMmr. Vise= 2.1 p. 171-232.

IGLESIAS.]. C.: ROJO, M.A.; ALVAREZ, \I. (1996) - Esrado de kqucrti6n robre cl Neolioro en la Submaem Norre In I Can@s&lNeol~cd (d

Penini*l#ihbico (Gav i /Bc&h 199s). 2, Rub"intum. 1, p. 721-734.

JIMENEZ, P. J.; ALCOLEA. I. 1.: GARCL%. Irl. A.;JI&EZ,J. M (1997) -Nuevor daror robre el Neolitico rnererc6n lapm\inriade Guaddalara

In 11 Con~ao&Aq-l+ Pmin~ukrfZamnm, 1996), il; Zamom Fundacidn Rei Momso Hcnnqucs, p. 33-17.

JORGE. 5 . 0 . (1993) - Habiurr du NColxrhique erdu ChalcoSrhiquc du Nord du P o m ~ a l (n'e - ilc MI& a?,. J.C.). In RANESZ, L; CHEBM, I.;

K4MINSKk L: PA\I~KO\,A, C. (edl - Arfp~rfpduXIIr Co+ b r ~ ~ m I d ~ S i l o ~ c ~ r P r i h ~ ~ ~ ~ q ~ ~ r f p ~ r f p ~ P m t ~ h ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ (Bratis(dvd. 1991). 2.

BrarLla\.r UISPP, p. 495-500.

JORGE. YO. (1991) Novor dador robrc a F q a d'Aia (Pnndr~ da Beic- 5. Joao da Perquura). Trabnlhoide ~nnnpaIn@ 2 Ebolngco. P o n o 31.

p. IRI~lRS.

Page 32: 0s sitios de Quebradas e de Quinta - DGPC · 0s sitios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz C6a) e o Neolitico antigo do Baixo C6a ANTONIO FAUSTINO CARVALHO Until

JORGE,V.O.;BAI?ISTA,A.M.;JORGE,S.O.:S.WCHES, hl.J.;SRVA,E.J.L;SRVhM.;mH4.A.L. (1988s)-Oabr ipcom pinruras

mpesrce da Fragad'Ai~ Arquml@ 18, p. 109-130.

JORGE, V. 0 . : B.APIISTA,A. M.; SANCHES. M. J. (198Sbl -A Fnga Mia (Par.-der da %ira -5. Jose da Pelqueira): ane ruprrtrc r ocupaqIo pr6-

-hiri6rira Tn A n a h CoMqujo &Arqycola.qia doN~mwruPmznrulnr(Pmta 1987). I , , [TrdbbIhor&Anrmp,ol~~~ rEmolagLi. Poiro. 28:l-21. Porro:

Smiedadc Pormguesa de Anrropnlogine Emologiq p. 201-233.

LOPEZ PLAZA, S. (1991) Apmximari6n a1 pbl-irnm dc la Prehirrona rnienre cn la pmvincia de Salamanca In DelPdhlicmn iuHiItdtin.

Salamanm h l w o . p. 4919.

MARKS. A. E.; BICHO, N. F.; ZILH;\O, J.; FERRING, C. R (1994) -Upper Pleismene P m h i r m ~ in Pormguese Grremadum rcrulrr of

preliminary rereaich]ounJaff~ldIW71~71~71~7l~. 21:1, p. 5368.

MARTI, 8.; HERNANDEZ, M. (1988) - ElMzolii Volm&. Anmpa.weimIhrm rnafmnl. Valrntir Scrvei d'lnvesrigacid Pcehisrbtia.

MATEUS,/. E; Q-OZ P. F. 11993) - 0 s &or da wgewdo quaremiria em Pormgal: conrenor, balanqo dc rrsulndor, perrpxdt,as In G.S.

CARVALHO. G. S.: FERXEIRA A B.,SENNA-h4&RThEZ.J. C.; &. - 0 &-'noon PonqnL Bslnnprpmpmuds. Lkbol.4PEQ p. 105-13L

MERCTER, N.; VALLADAS, H.; FROGFT, L: .AUBRY. T 1s.d.) - Dararion par rhmnoluminsrrnm m) dc prcrnencr palColirhiqurs de Is vallee

du C 6 r r<rdratr pr&liminaires. In CoNaqe& la Csrnmiiuan I~ldrI'WSPP:lerpmm;mhommernadmv.&lo P&rn~uleI%~re p& Movn de

For C6u 1998). no prelo.

MUMCIO, L. (1988) -El Neolitico en k M s r r a C E n d Fapf ink In LOP*, P., ed. - ElNmIr%mm m Qn*. Madrid C A d n , p. 299-328.

PALOMINO, A. L.: ROJO, M. A (1997) - Dn nuew yacirnimro ncolirico dc habirxibn infmrumular rEl Two drl Omr, en San Manin de

Vddcraduev (2-O-). In I1 Cang7ero&Ang~la@ Pminlulur (Zarnon, 1996), 11. &mar= Fundacidn Rei Afonro Hrnriques, p. 249256.

REBANDA. N. (1991) - 0s nabdhor d r q u e d ~ r o s c h 10mp11.11de dnn npmr do Cdd LirLwr IPPAR

RIBERO, 0.; LAUTENSACH. H.: DAVEAU, S. (1987) Cmgr~mgr@ & Pmhrgd. 0 ritmodrrrirrmr npnirnirp. Lkbor S1 daCorrs

ROJAS.JM.:VILLA,J.R (1996) - Una inhvrnaudn indir4dual dc 6poca neolirica en Villrrnry~r de Calarnva (Ciudad Real). -1 Congrsa del

~ea l i t rca lo ~emiririrla 1bin~1 (~od / & I h 1995)~. 2, ~ u b n i a n m , p. ~09.~18.

SANCHES, h4.J (1992) -PrZ-H&inn mrmizno Plonolto Mrmd&(Le?edr Trbbb-Monrrr). Porro, GEAP.

S.WCHE.5. M.J. (1997) - K H i m 5 G i d m e & T r b ~ ~ A 4 m r n r A l m D m m . OAb+doBmzmda P& no conrum m p m l , 2 xvk, Porco. Sotiedade

Puroiyuera de Anrropelogia ia Emologia

SENNA-MARTIPIW.., J.C. (1989) - P & H , * ~ M ~ ~ ~ ~ P & ~ r n a d o n r i d r o r ~ l r a ,uon&p. ~lpmorroam'&&hspmr urn m a d ~ d ~ ~ ~ ~ ~ u b ~ r d . 3 volr.,

Lirboa, Faiuldnde de Lmasda Unikerridadade de k b b T e de Dauro-enro poliropiadh

SENNA-MART&XZ. J.C. (1994) - hlcgalirisrno. habicar e rociedader: a batia do M6dio e Alro M a n d e p no onjunco da Bcin Alra (E. 5200 - - 3.000 AP). Tn Anor& Srmindrindri "0 hindrigIhbmo no C m w & Po~ugd"(bI~ngi.aldp 1992) [E~brddd%-Ni,?&rcor Viscv 21, p. 15-30.

SNR'ER, hl.: FSIMER, PI. (1993) - Radiocarbon calihrarion program 1993: RN 3.0. U o r n r b o n . 35, p. 215-230.

VALERA, A. C. (3.d.) - A neoliti~a@n da back inmriorda Mondqo. In A Pr&Hmjnn nn Bnm IntPdr (Tondele 1997). EmrdorArq~eal+~~. Vireu. 6,

no prrlo.

ZlLHqO, J. (1997) - Mantime pianeeicolonisadon in rhe Early Ncolidiic ofrhe trrrr h l&ramr . r an .T~~d~g the model against the widencr.

Porndo oNvkouanlu PrlmImhk,a Neolrtikin Enrol;mk r S l y m i 24. p. 1942.

ZlLHAO, J.; AURRY. T; CAR\'ALHO, A. F.;ZAMBUJO. G.; ALMEIDA, F (1995) - 0 rido q u m l 6 g i r o palmlicico do Salco do Boi (Cardinq

S a r a Comba. Vila Nova dr For Cbs). In VO.JORGE, 4. - DorrimCG. Sepmra Especial dot Tabalhor dr Anrropolagca e Ernologia Pono.

354, p. 167-194.

ZILHXO, J.: AUBRY, T.: CARVALHO, A. E; BAPIISTA, A. hl.: GOMES, M. V; MEIFSLES; J. (1997) -The rack a n of the Ciu Vaile!. (Parrugal)

aid irr arcbaealagi~al concert: iimr rerulrr of iurrenr mrc~rrl~JmmalofEnmpean AxhhhIam. 51. p 7-49.

ZILm0.J . ; AUBRY. T.: BXPTLSIA. A. M.; C.AR\jALHO. A F.; GOhIES, M. \I ME1RELES.J. (~ .d , ) - A n lups i r r cr dialogic de la V d i r dii

CAa (Parrugal). Prerntrr bllan. In Prrharoim n An,bmpolcp b lcd~imnPmnr . no prelo.